Aad 69

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doi: 10.20396/lil.v0i44.

8657793

DOSSIÊ COMEMORATIVO

AAD-69: UMA OBRA FUNDADORA E A


CONSTRUÇÃO DE UM NOVO OBJETO
Há um acontecimento discursivo maior no domínio da análise de
discurso que festejamos neste ano: os 50 anos da publicação, pela
editora Dunod, de Paris, do livro fundador de Michel Pêcheux
Analyse Automatique du Discours. Este acontecimento tem sido
festejado por nós de várias maneiras. Antes de tudo, em nosso
cotidiano de pesquisadores da linguagem, por darmos um lugar
importante à leitura deste, e de outros textos do autor, e reconhecer,
nesta obra, um forte instrumento na formação de analistas de discurso.
De forma mais direta, decidimos, na revista Línguas e
Instrumentos Linguísticos, fazer um dossiê, em um número, que se
torna assim especial, da revista, com artigos de conhecidos analistas
de discurso no Brasil, para compor este dossiê.
O mérito do autor já é conhecido e reconhecido não só, mas,
sobejamente, no Brasil, onde tem produzido uma reflexão sobre a
linguagem que a ele se filia em suas múltiplas consequências.
Retomadas, reelaborações, deslocamentos se dão, tanto nos textos do
autor, assim como em textos de nossos pesquisadores em análise de
discurso. Vale mencionar que a prática da análise de discurso, assim
concebida, passou a se chamar materialista, para se distinguir das
variedades epistemo-pragmáticas e funcionalistas, que também têm
seu desenvolvimento não só no Brasil como em outros lugares.
Mais do que falar sobre este acontecimento discursivo
extensamente, o melhor é apresentar os artigos que aqui se conjugam
para falar dele.
No artigo “A Análise de Discurso é Possível?”, na esteira da
história das ideias discursivas, faço, pois, neste texto-homenagem a
Michel Pêcheux, uma exposição do que considero marcos importantes
de sua reflexão e de constituição da ciência que é fundada em Análise
Automática do Discurso. Destaco, assim, os muitos movimentos de

Líng. e Instrum. Linguíst., Campinas, SP, n. 44, p. 135-137, jul./dez. 2019


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Eni Puccinelli Orlandi

busca, compreensão, explicitação, retomadas e deslocamentos,


produzidos pelo autor.
Freda Indursky em “AAD-69: O marco histórico de um discurso
fundador” acompanha o percurso traçado por Michel Pêcheux na obra
“Análise Automática do Discurso”, observando o modo como o autor
produziu esta obra fundadora. A autora dá ênfase ao trajeto teórico
empreendido pelo autor no estabelecimento de um novo objeto de
análise, o discurso, no domínio dos estudos da linguagem.
Guilherme Adorno, no artigo “Algoritmizar a língua?
Automatização, informatização, materialismo discursivo”, procura ler
uma história da “Análise Automática do Discurso”, a fim de
compreender o funcionamento das dificuldades e dos obstáculos
decorrentes dos procedimentos automáticos na elaboração da teoria
discursiva.
Cristiane Dias põe em questão a leitura e interroga a automatização
sobre o que ela, enquanto processo discursivo, pode fazer
compreender a propósito da constituição dos sentidos, sobre o
discurso e sobre a maquinaria dos sentidos, no artigo “O sentido da
automatização na análise de discurso: sobre a maquinaria dos
sentidos”.
Maraisa Lopes apresenta o Sinalário de Análise de Discurso em
seu processo de produção que visa abrir possiblidades de leituras
da/sobre a análise de discurso na comunidade surda. Em “Da AAD-69
ao sinalário: leituras da/sobre a análise de discurso”, a autora discorre
sobre esse processo, mostrando a formulação dos sinais de Ideologia,
Posição-sujeito e Michel Pêcheux.
Mariza Vieira da Silva em “Análise de discurso: um percurso de
leitura e de gestos de interpretação” examina como os sentidos de
linguagem são determinados pelos sentidos de comunicação em livros
didáticos, chamando a atenção para o funcionamento da administração
das possibilidades de interpretação de textos.
Em “As formas discursivas e a ameaça comunista”, Bethania
Mariani, trabalha, sobretudo, com o conceito de formas discursivas
remissivas, apresentado por Pêcheux em 1969, para analisar os
processos de produção de sentidos em torno das palavras comunismo,
comunista e esquerda, na discursividade política brasileira.
Suzy Lagazzi se dedica em “Entre o amarelo e o azul: a história de
um percurso” a traçar uma análise, tendo como ponto de ancoragem a

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DOSSIÊ COMEMORATIVO
AAD-69: UMA OBRA FUNDADORA E A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO OBJETO

“composição material”, trabalhada na relação entre a capa e os contos


do livro “No seu pescoço”, de Chimamanda Ngozi Adichie. A autora
dá a ver a potência do dispositivo de leitura proposto por Pêcheux à
medida que procede às análises do funcionamento da resistência
simbólica.
Sérgio Freire em “Da Análise Automática do Discurso ao discurso
do sujeito do desejo: reflexões psicanalíticas sobre a teoria do
discurso de Michel Pêcheux” propõe um percurso de leitura em torno
da ligação do Discurso com a Psicanálise.
Por fim, Helson Flávio da Silva Sobrinho encerra este dossiê com
a resenha de “Análise Automática do Discurso (1969)” intitulada
“AAD-69: uma referência incontornável”. Em seu texto, o autor
destaca que a apreciação desta obra fundadora demanda uma
retomada de memórias históricas de práticas científicas e políticas e,
ao mesmo tempo e sobretudo, requer uma reflexão sobre a atualidade,
tendo como horizonte a possibilidade de “arriscar dar novos passos
em direção ao futuro, em estreita relação crítica com nosso tempo
histórico”.

Eni Puccinelli Orlandi

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