Filosofia 4
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FILOSOFIA
AULA 4
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CONVERSA INICIAL
Nesta aula, estudaremos o processo de construção dos direitos humanos. Observaremos que,
antes mesmo da adoção, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização
das Nações Unidas (ONU), houve uma série de construções filosóficas e eventos históricos políticos
inaugurados no século XVII que passaram a formular os chamados direitos naturais e individuais.
Esses elementos envolveram reflexões e lutas em nome de liberdades, direitos políticos e o que hoje
Para isso, primeiro veremos as influências e heranças dos autores contratualistas dos séculos XVII
e XVIII, elaboradores do direito natural e base para a compreensão dos direitos humanos. No Tema 2,
discutiremos o Iluminismo do século XVIII e as Revoluções Burguesas; no Tema 3, abordaremos
aspectos políticos do idealismo alemão de Kant e seu conceito de dignidade humana, sendo que
todas estas correntes contribuíram em maior ou menor grau para a construção do direito moderno e
para a elaboração da Declaração dos direitos humanos no século XX, que será debatida no Tema 4.
Por fim, no Tema 5, analisaremos a crítica marxista aos pensamentos iluminista, contratualista e
A construção moderna do que vem a ser a humanidade e os direitos remete primeiro à herança
deixada pelo pensamento de Maquiavel (1469-1527) no século XVI. Na obra O príncipe, escrita em
1513, porém apenas publicada em 1532, após a morte do pensador, Maquiavel deu um contorno
mais realista à política e à observação do ser humano, tomado como naturalmente avarento,
individualista e sem interesse pelo bem comum. A novidade do pensamento de Maquiavel foi
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estabelecer a noção de que a política é uma arte humana, que independe de qualquer explicação
seguintes, entre eles os contratualistas. Maquiavel demonstra que devemos entender a autonomia da
política, pois ela é resultado do jogo de forças entre os indivíduos, bem como os modelos políticos
devem ser tomados sempre como construções humanas.
compreendermos de que forma ele foi determinante ao lado do Iluminismo francês do século XVIII e
do idealismo alemão do século XIX para a construção do que hoje entendemos como direitos
humanos. Mas o que caracteriza o contratualismo? Vamos estudar o assunto com maior
profundidade..
1778). Estes pensadores apresentam interpretações bem diferentes do que vêm a ser os direitos
naturais ou mesmo os modelos políticos defendidos, conforme veremos mais adiante. O que há de
comum entre suas ideias é a distinção entre direito e lei. Os direitos têm origem e remetem à
natureza. Estão presentes universalmente nos indivíduos desde o seu nascimento. Por serem naturais,
consideram que alguns desses direitos não podem ser usurpados ou infringidos. São exemplos
desses direitos a liberdade, a igualdade e o direito à vida e à segurança. Os direitos correspondem ao
que se define como estado de natureza, de modo que eles não surgiram da sociedade e muito menos
das convenções humanas. Já as leis são criadas pelos indivíduos, resultado de convenções, acordos
ou contratos, e têm como objetivo promover a sociabilidade, a segurança e a paz. As leis existem no
estado civil, caracterizado pela existência de um Estado que organiza a vida social. Portanto, o direito
é natural; a lei é humana. Os pensadores contratualistas apresentam divergências sobre como foi a
passagem do estado de natureza (sem leis, reis, Estados, governos ou sociedade) para o estado civil,
ou seja, sob quais condições o contrato que deu origem à sociedade e ao Estado teria sido
elaborado.
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Figura 1 – Hobbes (1588-1679), em sua obra O Leviatã, afirma ser o homem lobo do próprio homem
De acordo com o pensamento político de Hobbes, em sua obra O Leviatã (2003), publicada em
1651, o estado de natureza é visto de forma negativa. Trata-se de uma condição caótica devido à
ausência de Estado, autoridade, leis e governo, sendo caracterizada pela guerra de todos contra
todos. A natureza forneceu aos indivíduos dois direitos: a liberdade (que inclui a possibilidade de
tudo poder fazer, inclusive empregar violência deliberada contra semelhantes) e o direito à
autoconservação ou vida, sendo possível agir de todas as formas para que os indivíduos se
mantenham vivos. Por isso, o filósofo considera que os indivíduos se caracterizariam pela expressão
“o homem é lobo do próprio homem”. Na visão de Hobbes, a liberdade deve ser limitada com a
sociedade civil, enquanto o direito à vida ou autoconservação deve ser protegido quando da
Para Hobbes, no estado civil e com a constituição do Estado, deve-se proteger o direito à vida
ou à segurança. Esta perspectiva exclui a manutenção da liberdade no estado civil, pois, embora seja
um direito natural, pode representar um ato deliberado contra o outro, como matar ou usurpar
objetos. Hobbes considera, desse modo, que o direito natural à liberdade deve ser limitado. Defende
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o absolutismo monárquico como forma de garantir o monopólio do soberano (ou do rei) nas
decisões políticas, a fim de controlar e usurpar a liberdade dos súditos com a intenção de evitar ao
máximo o eventual retorno ao estado de natureza, ou seja, a guerra de todos contra todos.
Figura 2 – John Locke (1632-1704) é o pai do liberalismo político por considerar a propriedade
privada um direito natural. Além disso, foi pioneiro na reflexão sobre a imposição de limites ao
Estado, de modo a preservar os direitos naturais, como a igualdade, liberdade e propriedade
Na obra Dois tratados sobre os governos civis, publicada no ano de 1689, Locke se opôs à visão de
Hobbes sobre o estado de natureza, pois, ao invés de observar a guerra de todos contra todos,
afirma que haveria uma relativa paz. Além disso, enquanto Hobbes avalia a liberdade natural como
negativa, Locke a tomava como um elemento positivo e relacionado ao direito de ir e vir, à liberdade
de pensamento e à posse sobre o próprio corpo, não podendo nenhum indivíduo ser escravizado ou
usurpado de sua liberdade ou integridade física. O filósofo considera ainda que o pacto social que
deu origem ao Estado e aos governos foi criado pelos indivíduos com o objetivo de preservar ainda
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mais, sob a forma de leis, os direitos fornecidos pela natureza (propriedade privada, igualdade e
liberdade).
Por estes motivos, John Locke é considerado pai do liberalismo político, corrente que se opõe ao
absolutismo monárquico defendido por Hobbes. O liberalismo político compreende que o direito
natural à liberdade está presente na liberdade de expressão (política e religiosa), na autoridade que
cada indivíduo tem sobre seu corpo (propriedade privada) e ao que permite a manutenção desse
mesmo corpo, como no caso da propriedade da terra. O liberalismo promove limites ao Estado em
nome da defesa das liberdades e dos direitos individuais. Dessa forma, liberdade, igualdade e
propriedade privada constituem direitos invioláveis, cuja origem é o estado de natureza. Assim, tais
respectivamente publicados nos anos de 1755 e 1762, defende como direitos naturais a liberdade e a
igualdade. São elementos positivos e considera que esses direitos devem ser preservados no estado
civil. Rousseau questiona os pensamentos de Hobbes e Locke por meio do argumento que gira em
Para Hobbes, conforme vimos, no estado de natureza predomina a guerra de todos contra todos
e a ideia de que o homem é lobo do próprio homem. Para Rousseau, ao contrário, o estado de
natureza é considerado um estágio positivo da história da humanidade, devido ao fato de que o
filósofo francês concebe o “bom selvagem”. Nessa perspectiva de Rousseau, os indivíduos nascem
livres, iguais e vivem felizes no estado de natureza. O que retirou os seres humanos do estado de
natureza e os conduziu à corrupção em direção ao estado civil foi a invenção da propriedade privada.
Aqui encontramos a crítica de Rousseau a Locke, pois este último considera a propriedade privada
um direito natural, enquanto, para Rousseau, a propriedade não é um direito, mas uma elaboração
o verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado o terreno, lembrou-se
de dizer “isto é meu”, e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos
crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que,
arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘evitai ouvir esse
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impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a
Em O contrato social, Rousseau procura realizar um novo contrato que seja capaz de afirmar os
direitos naturais, a liberdade e a igualdade. Eles seriam possíveis no estado civil com o que o filósofo
designou como vontade geral. Trata-se de uma espécie de democracia direta, da qual todos
participam, incluindo mulheres, e na qual há a abolição da escravidão. O povo deve estar reunido em
assembleia, de forma a constituir o poder soberano por meio de seu corpo político. Trata-se da ideia
de que o governo apenas é legítimo quando o povo exerce sua vontade geral.
Luzes, devido ao Iluminismo e à Revolução Francesa, foi possível levar ao fim os privilégios do clero e
da nobreza feudais. Antes disso, com a Revolução Gloriosa (1688), na Inglaterra, ocorreu a ascensão
da burguesia ao poder por meio da consolidação de sua hegemonia no parlamento e limitação dos
e em princípios liberais.
O Iluminismo desenvolveu concepções relevantes e que influenciam a cultura ocidental até hoje.
Entre os elementos defendidos por essa corrente estão a confiança no progresso mediante o
desenvolvimento técnico, científico e industrial, a separação entre religião e Estado, a defesa de
Dessa forma, foram desenvolvidos os direitos naturais nas legislações desses países. A
do governo federal, de modo que sua principal função passou a ser garantir e proteger direitos como
privacidade dos cidadãos. Na França, a revolução de 1789 deu origem à Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, que estabeleceu como universais e invioláveis os direitos individuais, que
tiveram como base os debates dos pensadores contratualistas, conforme abordamos no tema
anterior.
dos direitos humanos. Kant foi um pensador alemão contemporâneo à Revolução Francesa, que
herdou, desse movimento filosófico francês do século XVIII, o otimismo em relação ao progresso da
Kant pertence à corrente denominada como idealismo alemão. Influenciado pelo Iluminismo, o
aperfeiçoamento da humanidade. Será diante dessa perspectiva que Kant desenvolverá o conceito de
dignidade humana, conforme veremos adiante. Entre os séculos XVI e XVIII, a ciência e a filosofia
moralidade, tarefa que seria realizada principalmente por Kant. Trata-se de promover a razão na
história e na moralidade; Kant foi um dos primeiros pensadores alemães a se declarar iluminista.
Em sua obra Fundamentação metafísica dos costumes, publicada em 1785, Kant apresenta a
valorização da razão moderna aplicada ao direito, à indústria e à ciência. Seu raciocínio objetiva
estabelecer como dever moral a adoção de princípios racionais que devem ser difundidos de forma
universal à humanidade. Esses princípios são sintetizados na seguinte máxima kantiana: “Age como
se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal” (Kant, 2009, p.
245).
Assim como os iluministas, Kant possui convicção dos benefícios da razão humana.
Compreendeu que não é preciso medir as consequências do uso da razão no campo moral e jurídico,
tendo em vista que a própria racionalidade por si só promoveria o bem-comum, ou seja, ele se refere
à noção de que tudo o que emana da razão é, necessariamente, benéfico aos seres humanos.
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A formulação do conceito de dignidade humana por Kant, presente em sua obra Fundamentação
igualdade naturais. Para Kant, a dignidade humana está atrelada ao problema do que é um valor, de
modo que ela pode ser negociada ou mesmo substituída por qualquer outra coisa.
A dignidade humana expressa o direito de viver e pensar livremente, assim como o respeito pela
liberdade alheia. Kant toma a dignidade como um fim em si mesmo, pois fornece a autonomia e
fortalece a vida em sociedade. Kant anseia uma forma de comportamento universal e fraterna, que
encontra na dignidade humana o exercício do bom uso da razão em público e politicamente.
No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço,
pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de
todo o preço, e, portanto, não permite equivalente, então ela tem dignidade. (Kant, 2009, p. 82)
A concepção moral kantiana de dignidade diz respeito à autonomia do sujeito, pois ele é visto
como dotado de consciência e liberdade; zela pela igualdade jurídica e o aprimoramento da
humanidade. Porém, a análise dessa premissa de Kant poderia conduzir a vários questionamentos,
como: O que se entende de fato como sendo a dignidade humana? Ela seria igualmente válida em
todas as épocas e sociedades? Não seria apenas um ponto de vista europeu, idealista e iluminista?
Seria realmente um valor universal, ou meramente burguês? Essas perguntas também aparecerão no
pensamento de Karl Marx, e serão estudados no Tema 5.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) é outro pensador idealista alemão a avaliar com
Estado burguês. Na obra Fenomenologia do espírito (1807), ele concebe que a Revolução Francesa e
as expansões napoleônicas teriam conduzido a humanidade ao que definiu como sendo o “fim da
história”. Hegel, ao ver Napoleão Bonaparte invadir sua cidade na Alemanha, teria percebido “o
Para este pensador, o fim da história se dá com a realização do espírito absoluto no mundo.
Trata-se do fim dos conflitos entre os seres humanos (Hegel dirá que é o fim da dialética entre o
senhor e o escravo), pois, a partir de então, com a Revolução Francesa e as expansões napoleônicas
pela Europa, todos os seres humanos passariam a gozar de liberdades individuais e igualdade
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jurídica, não havendo mais margem para a tirania dos reis ou a superstição das religiões. O raciocínio
de Hegel revela não somente o otimismo diante de sua época e dos progressos racionais; remete
também a uma concepção na qual o mundo ocidental teria alcançado seu apogeu. Esta concepção
será igualmente questionada por Karl Marx (estudaremos esta crítica no Tema 5).
Figura 3 – No ano de 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou a Declaração
Estudaremos agora a Declaração Universal do Direitos Humanos, formulada pela ONU em 1948,
iluministas e kantianos por meio de uma análise detalhada de alguns dos artigos da declaração.
bem-estar e coletivo, com a intenção de produzir universalmente princípios fraternos entre os seres
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Artigo 1º - Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de
razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. (ONU,
1948)
alemão. Podemos perceber este caráter no art. 2º do documento, quando revela a adoção dos
direitos humanos a todos os indivíduos, seja qual for o gênero, credo, posição ideológica, condição
todos devem ser tratados da mesma forma, assim como obter proteção legal que garanta a todos os
Artigo 7º - Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos
têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e
contra qualquer incitamento a tal discriminação.
[...]
Artigo 10º - Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e
obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.
(ONU, 1948)
O direito natural à liberdade presente nas reflexões de Locke e Rousseau estão presentes no 18º
art.. Lembremos que, segundo Locke, as leis e o Estado devem zelar pela proteção à liberdade de
pensamento. A Declaração... da ONU compreende que essa liberdade está inserida no direito
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Artigo 18º - Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;
este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de
manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado,
pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. (ONU, 1948)
Declaração Universal do Direitos Humanos diz respeito à propriedade privada. A filosofia de Locke
parte do princípio de que o direito ao próprio corpo representa a primeira propriedade natural de
cada indivíduo. Tudo aquilo que é empregado com a intenção de garantir a existência desse corpo,
como a terra em que se trabalha ou a casa onde se vive, passam a ser considerados extensões da
propriedade privada. O art. 17º do documento da ONU explicitamente demonstra a influência do
pensamento de Locke:
Artigo 17º - Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito à propriedade [...] Ninguém pode ser
promove uma adaptação do conceito de vontade geral de Rousseau em direção à noção de vontade
universalidade do direito de participar das decisões políticas, porém por meio da eleição de
representantes. Assim, governos apenas são reconhecidos como legítimos pela ONU se referendados
democraticamente por sua população. Caso contrário, veremos governos tirânicos ou ditatoriais que
agem contra os chamados direitos humanos, pondo em risco a liberdade política e a igualdade
jurídica:
Artigo 21º - A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve
exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual,
com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. (ONU,
1948)
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Foi possível observar, com esta breve explanação, a relevância de se estudar o contratualismo, os
Neste Tema vamos nos dedicar à análise da crítica que Marx (1818-1883) faz aos princípios
universais do contratualismo, Iluminismo e idealismo alemão. Marx é um pensador anterior à
elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de modo que não se trata de realizar a
oposição entre marxismo e direitos humanos, senão a certos princípios defendidos no interior das
correntes filosóficas desenvolvidas entre os séculos XVII e XVIII. Vale dizer que muitos marxistas hoje
As obras Crítica da filosofia do direito de Hegel (1843); Manifesto do Partido Comunista (1848),
escrita em parceria com seu amigo Engels; e O Capital (1867), demonstram contradições do discurso
problemas sociais. Durante o século XIX, Marx verificou que trabalhadores viviam em condições de
pauperismo. Seus salários eram suficientes para garantir condições adequadas de existência. Além
igualdade jurídica (que privilegiava apenas a classe economicamente dominante, a burguesia) jamais
A pobreza generalizada da classe trabalhadora fez com que Marx desmitificasse os discursos
otimistas frente aos logros das revoluções burguesas e do Iluminismo. Exemplos disso são as críticas
a afirmações como as de Kant, que julgava que havíamos alcançado a “paz perpétua” e “a dignidade
humana”, ou a Hegel, fiel à ideia de que havia sido promovido o “fim da história” com o fim dos
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conflitos humanos, sobretudo entre senhores e escravos. Essas visões acabavam por deturpar a
realidade. Marx designa com o conceito de ideologia essas formas de interpretação da realidade.
A ideologia se caracteriza em Marx como o mascaramento da realidade, com falsas ideias que
Segundo Marx, o Iluminismo e as revolução burguesas não puseram fim aos conflitos no interior
das relações humanas. Na visão marxista, a sociedade liberal e capitalista deu origem às lutas de
classes entre burgueses e proletariado. A burguesia é definida com base na propriedade privada dos
meios de produção (terras, máquinas, fábrica, ferramentas, ou seja, tudo o que é necessário para
garantir o processo de produção); o proletariado, por sua vez, é caracterizado pela venda da força de
trabalho (que pode ser braçal ou intelectual), correspondendo, portanto, à classe trabalhadora.
A crítica de Marx à concepção de propriedade privada de John Locke (que acreditava ser ela um
direito natural) está fundada na avaliação de que a referida propriedade está concentrada e sob o
sociedade burguesa. Por isso, Marx, ao defender o socialismo, propõe o fim da propriedade privada,
de modo a torná-la coletiva ou de posse estatal. O objetivo desse procedimento seria compartilhar
entre todos os trabalhadores as riquezas oriundas dos processos produtivos, agrícolas e industriais,
classes. Ao lado de Engels, Marx afirma, em seu Manifesto do Partido Comunista “A história de toda
sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes” (Marx; Engels, 1977, p. 25). A
verdadeira história da humanidade (ou o fim da história da exploração) será originada a partir da
promoção da emancipação do gênero humano por meio de uma revolução promovida pela classe
trabalhadora. Seria, na visão de Marx, o fim dos dominadores e dos dominados e a realização da
liberdade humana.
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NA PRÁTICA
Pesquise em jornais, revistas e sites de defesa de direitos individuais textos, matérias ou artigos
que permitam identificar casos de violações contra os direitos humanos, sobretudo de segmentos
sociais minoritários. Nos últimos anos, temos visto problemas de discriminação e violência em
relação aos direitos da população LGBTQIA+, da população negra, dos indígenas, pessoas com
deficiências (PcDs), mulheres, entre outros.
Depois de realizar a pesquisa, procure debater em grupo quais são as situações mais comuns e
arbitrárias. Elabore um relatório, observando quais direitos presentes na Declaração Universal do
Direitos Humanos da ONU foram infringidos. Em seguida, reflita sobre quais medidas ou políticas
poderiam ser adotadas para que os direitos humanos dos grupos sociais investigados sejam
respeitados.
FINALIZANDO
No Tema 1 estudamos a corrente filosófica desenvolvida entre os séculos XVII e XVIII, conhecida
como contratualista ou jusnaturalista. Observamos a defesa dos chamados direitos naturais e a forma
com que autores como Hobbes, Locke e Rousseau analisam quais direitos naturais devem ser
preservados e protegidos pelo Estado na condição civil.
revoluções burguesas no que diz respeito ao emprego da razão e aplicação dos direitos individuais.
Foi possível observar como esses movimentos históricos contribuíram também na constituição do
idealismo alemão, estudado no Tema 3, sobretudo com as filosofias de Kant e Hegel. Evidenciou-se a
e kantianos no interior da Declaração Universal dos Direitos Humanos, elaborada pela ONU no ano de
1948. Constatamos as raízes filosóficas do que hoje é conhecido como um dos principais
estabelece direitos como liberdade, igualdade, propriedade privada, segurança, entre outros.
conhecemos o entendimento de Marx sobre o que significa a emancipação humana por meio da
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REFERÊNCIAS
HEGEL, G. W. F. A fenomenologia do espírito. In: Os pensadores: vol. XXX. São Paulo: Abril,
Cultural, 1974.
LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo civil. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Grijalbo, 1977.
ONU – Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.
3 jan. 2022.
ROUSSEAU, J.-J. O contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores, v. 1).
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