O documento discute a evolução da teoria democrática desde a Grécia Antiga até autores contemporâneos. A democracia passou de estar ligada à igualdade para a liberdade individual. Hobbes defendia um contrato social que transferia direitos aos soberanos, enquanto Locke propunha que o poder permanecesse nas mãos dos cidadãos. Rousseau via a democracia direta como a única forma legítima, e Montesquieu defendia a divisão de poderes. Marx acreditava que a democracia liberal era limitada pelas desigualda
O documento discute a evolução da teoria democrática desde a Grécia Antiga até autores contemporâneos. A democracia passou de estar ligada à igualdade para a liberdade individual. Hobbes defendia um contrato social que transferia direitos aos soberanos, enquanto Locke propunha que o poder permanecesse nas mãos dos cidadãos. Rousseau via a democracia direta como a única forma legítima, e Montesquieu defendia a divisão de poderes. Marx acreditava que a democracia liberal era limitada pelas desigualda
O documento discute a evolução da teoria democrática desde a Grécia Antiga até autores contemporâneos. A democracia passou de estar ligada à igualdade para a liberdade individual. Hobbes defendia um contrato social que transferia direitos aos soberanos, enquanto Locke propunha que o poder permanecesse nas mãos dos cidadãos. Rousseau via a democracia direta como a única forma legítima, e Montesquieu defendia a divisão de poderes. Marx acreditava que a democracia liberal era limitada pelas desigualda
O documento discute a evolução da teoria democrática desde a Grécia Antiga até autores contemporâneos. A democracia passou de estar ligada à igualdade para a liberdade individual. Hobbes defendia um contrato social que transferia direitos aos soberanos, enquanto Locke propunha que o poder permanecesse nas mãos dos cidadãos. Rousseau via a democracia direta como a única forma legítima, e Montesquieu defendia a divisão de poderes. Marx acreditava que a democracia liberal era limitada pelas desigualda
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DEMOCRACIA, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS
Teoria democrática moderna
Em meados do século XVI, surgiu a ideia de autonomia do indivíduo, que deu origem ao individualismo e ao liberalismo político. A concepção de democracia que se desenvolveu com base nesses princípios assumiu um perfil bastante diferente daquele utilizado na Grécia antiga. Meados do século XVI Autonomia do indivíduo Individualismo Liberalismo político Democracia diferente da Grécia
Se antes a democracia estava diretamente ligada à ideia de igualdade, em sua
nova versão passou a relacionar primordialmente com a ideia de liberdade. Em decorrência dos ideais desenvolvidos naquele momento histórico, o principal dilema político fundamentava-se na limitação do poder do soberano (que às vezes se confundia com o próprio Estado) e na ampliação das liberdades individuais, como o direito a dispor da propriedade material e a defender-se judicialmente. Até hoje, grande parte do debate político tem como tema a defesa dos ideais liberais ou a crítica a eles. Democracia com nova versão Não só igualdade / primordialmente liberdade
Na perspectiva do filósofo inglês Thomas Hobbes, a constituição e o
funcionamento de uma sociedade pressupõem que os indivíduos cedam, por transferência, seus direitos naturais (mantendo somente o direito de conservarem sua vida) ao soberano. O autor entendia que os seres humanos, em estado de natureza (isto é, compartilhando do direito a tudo o que existe, em razão de não haver limitação legal), tendem a agir pela força e pela violência para conseguir o que desejam, o que acabaria provocando uma guerra contínua entre todos. Thomas Hobbes Transferir direitos naturais / manter somente direito de conservar a vida Direito natural age pela força e violência Geração de conflitos e guerras
Por isso, para disciplinarem a si mesmo e garantirem o bem-estar físico e material,
seria necessário que os indivíduos firmassem um contrato social regulado por uma autoridade soberana. Hobbes manifestou preferência pela monarquia absolutista, pois acreditava que as assembleias e os Parlamentares estimulavam os conflitos graças às disputas entre diferentes facções e partidos. Necessidade de contrato social / regulado por autoridade soberana Disciplinarem a si mesmo Garantir o bem-estar físico e material Thomas Hobbes deu preferência à monarquia Assembleias e Parlamentares estimulavam conflitos
O poder absoluto defendido por Hobbes se justificava pela transferência dos
direitos dos indivíduos ao soberano. É em nome desse contrato social que o poder deve ser exercido, e não para a realização da vontade pessoal do soberano. Por conta dessa perspectiva, Hobbes não pode ser considerado defensor da democracia. Entretanto, seu pensamento é importante, pois serve de parâmetro para as reflexões sobre a organização do poder construídas posteriormente. A justificativa do poder absoluto de Thomas Hobbes Transferência dos direitos dos indivíduos aos soberanos Poder exercido pelo contrato social O contrato não realiza a vontade do soberano Desse modo, Hobbes não pode ser considerado um defensor da democracia No século XVII, John Locke, também filósofo inglês, propôs uma reflexão bem diferente de Hobbes. Para ele, o poder soberano deve permanecer nas mãos dos cidadãos, que são os melhores juízes dos próprios interesses. Cabe ao governante retribuir a delegação de poderes para garantir as prerrogativas individuais: segurança jurídica e propriedade privada. Assim, o contrato social teria como função garantir os direitos naturais de todos. Esse pensamento é uma das bases do liberalismo político. Entretanto, deve ser ressaltado que sua implantação não permitiu a construção da igualdade propagada por Locke, mas foi uma das estruturas de consolidação do poder da burguesia. Século XVII, John Locke O poder soberano deve permanecer nas mãos dos cidadãos São os melhores juízes dos próprios interesses O governante garante as prerrogativas individuais Segurança jurídica e propriedade privada O contrato social tem a função de garantir os direitos naturais de todos Esse pensamento é um das bases do liberalismo político Mas não permitiu a construção da igualdade propagada por Locke Porém foi uma das estruturas de consolidação do poder da burguesia.
Para Locke, o princípio da maioria é fundamental para o funcionamento das
instituições políticas democráticas, assim como as leis, que devem valer para todos. Por isso, segundo o filósofo, a elaboração das leis precisa estar a cargo de representantes escolhidos pelo povo, que exerceriam o papel de legisladores no interesse da maioria: o regime político proposto por Locke é, portanto, uma democracia representativa. Para Locke O princípio da maioria é fundamental para o funcionamento das instituições democráticas Assim como as leis, devem valer a todos A elaboração das leis Precisam ser escolhidas por representantes do povo Exerceriam o papel de legisladores no interesse da maioria Portanto Locke, propõe uma democracia representativa.
O escritor e filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau se preocupou com o problema
da legitimidade da ordem política. Para ele, a desigualdade ocasionada pelo advento da propriedade privada é a causa de todos os sentimentos ruins do ser humano. No contrato social, é preciso definir a questão da igualdade e do comprometimento de todos com o bem comum. Se a vontade individual é particular, a do cidadão, que vive em sociedade e tem consciência disso, deve ser coletiva e voltada para o bem comum. A participação política é, portanto, ato de deliberação pública que organiza a vontade geral, ou seja, traduz os elementos comuns a todos as vontades individuais. Esse seria, portanto, o núcleo do conceito de democracia. Em seu livro Do contrato social, Rousseau afirma que a democracia só pode existir se for diretamente exercida pelos cidadãos, sem representação política, pois a vontade geral não poderia ser representada, apenas exercida diretamente. Para Rousseau, a democracia direita é o único sistema legítimo de autoridade e de ato político. Em O espírito das leis, o filósofo e político Montesquieu, afirmou que a igualdade na democracia é algo muito difícil de garantir plenamente. Partindo do princípio de que é necessário um controle externo para que os sistemas políticos funcionem bem, esse pensador defende a criação de regras que estabeleçam limites aos detentores do poder a fim de manter a liberdade dos indivíduos. Por isso, propôs a divisão da esfera administrativa em três poderes ou funções independentes entre si: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. De maneira resumida, cabem ao poder Legislativo de fiscalizar o poder Executivo, votar leis de interesse público nas instâncias relativas (municipal, estadual e federal) e, em situações específicas, julgar autoridades como o presidente da República ou os próprios membros do Parlamento. O Executivo é o poder do Estado que, nos moldes da Constituição de um país, tem por atribuição governar a nação e administrar os interesses públicos, colocando em prática políticas públicas e leis, e garantindo o acesso aos direitos. Por fim, o poder judiciário é exercido pelos juízes, que têm a capacidade e a prerrogativa de julgar com base nas regras constitucionais e nas leis criadas pelo poder Legislativo. A democracia, na perspectiva de Montesquieu, seria garantida pelo equilíbrio entre os três poderes, assegurando assim maior liberdade aos indivíduos. A liberdade, porém, só existiria com moderação, o que equivaleria a fazer tudo o que as leis permitissem (pois, se um cidadão pudesse fazer tudo o que as leis proibissem, não teria mais liberdade, porque todos poderiam fazer o mesmo). Karl Marx e Friedrich Engels acreditavam que um governo democrático seria inviável numa sociedade capitalista, pois a regulação democrática da vida não poderia se realizar com as limitações impostas pelas relações capitalistas de produção. Seria necessário, portanto, mudar as bases da sociedade para criar a possibilidade de uma política democrática. Para entender a posição desses autores com relação à democracia, é necessário entender como eles percebem a função do Estado na sociedade capitalista. Para Marx e Engels, os princípios que protegem a liberdade dos indivíduos e defendem o direito à propriedade tratam as pessoas como iguais apenas formalmente. O movimento em favor do sufrágio universal e de igualdade política é reconhecido por Marx como um passo importante, mas, segundo esse autor, seu potencial emancipador está limitado pelas desigualdades de classe. Desse modo, as democracias liberais seriam cerceadas pelo capital privado, que restringiria sistematicamente as opções políticas. De acordo com esse olhar, a liberdade nas democracias capitalistas é, portanto, puramente formal, pois a desigualdade de classe prevalece. Nas palavras de Marx: “Na democracia liberal, o capital governa”.
TEORIA DEMOCRÁTICA CONTEMPORÂNEA
A partir do século XIX, a teoria democrática foi desenvolvida com base no confronto entre duas doutrinas políticas: o liberalismo e o socialismo. O liberalismo é um projeto que defende as limitações de poderes governamentais, buscando a proteção dos direitos econômicos, políticos, religiosos e intelectuais dos membros da sociedade. Ou seja, para os liberais o poder do Estado deve ser limitado, pois eles acreditam que a verdadeira liberdade depende da menor interferência possível do Estado e das leis nesses direitos. A defesa do liberalismo tem como principal representante Benjamim Constant. Membro da Assembleia Nacional Francesa, escreveu a o obra A liberdade dos antigos comparada com os modernos, na qual afirma que a liberdade dos modernos, que deve ser promovida e desenvolvida, é a liberdade individual na relação com o Estado (ou seja, as liberdades civis e políticas), enquanto a liberdade dos antigos, que se tornou impraticável, é a liberdade de participação direta na formulação das leis. Outros autores, como o francês Alexis de Tocqueville e o inglês John Stuart Mill, defenderam a ideia de que a única estrutura democrática compatível com o Estado liberal seria a democracia representativa. Uma passagem interessante para nosso debate sobre a democracia é o princípio do dano, de Stuart Mill. Por esse princípio, cada indivíduo tem o direito de agir como quiser desde que suas ações não prejudiquem outras pessoas. Se a ação afeta diretamente apenas a pessoa que a está realizando, a sociedade em tese não tem o direito de intervir, mesmo que o indivíduo esteja prejudicando a si próprio. Contudo, se os indivíduos fazem algo ruim para si mesmos ou para sua propriedade podem indiretamente prejudicar a coletividade, já que ninguém vive isolado, devendo por isso ser impedidos de fazê-lo. Stuart Mill isenta desse princípio aqueles que são incapazes de se governar. Em síntese, todo o processo de democratização, como se deu nos Estados liberais democráticos, consiste numa transformação mais quantitativa do que qualitativa do regime representativo. Ou seja, o avanço da democracia nesses regimes ocorre em duas direções: no alargamento gradual do direito do voto e na multiplicação dos órgãos representativos. Para a doutrina socialista, o sufrágio universal é apenas o ponto inicial do processo de democratização do Estado, enquanto para o liberalismo é o ponto de chegada. Alguns dos principais teóricos do socialismo, como Antonio Gramsci e Rosa Luxemburgo, afirmam que o aprofundamento do processo de democratização na perspectiva das doutrinas socialistas ocorre de dois modos: por meio da crítica á democracia representativa (e da retomada de alguns temas da democracia direta) e pela ampliação da participação popular e do controle do poder por meio dos chamados “conselhos operários”. Em outras palavras, a diferença crucial entre a democracia dos conselhos e a democracia parlamentar é que a primeira reconhece ter havido um deslocamento dos centros de poder dos órgãos tradicionais do Estado para a grande empresa, na sociedade capitalista. Por isso, o controle que o cidadão pode exercer por meio dos canais tradicionais da democracia política não é suficiente para impedir os abusos de poder. Logo, o controle deve acontecer nos próprios lugares da produção, e seu protagonista é o trabalhador real, não o cidadão abstrato da democracia formal. Mais recentemente, na metade do século XX, surgiu a corrente pluralista. Os pluralistas, em particular Robert Dahl, cientista político estadunidense, não procuravam estabelecer uma definição abstrata e teórica acerca da democracia, mas, por meio da observação de experiências de sistemas políticos, estipulavam alguns requisitos mínimos: funcionários eleitos, eleições livres justas e frequentes, liberdade de expressão, fontes de informação diversificadas, autonomia para associações e cidadania inclusiva. Com base nesses critérios são caracterizadas quatro estruturas de governo: hegemonias fechadas, que são regimes em que não há disputa de poder e participação política é limitada; hegemonias inclusivas, regimes em que não há disputa de poder, mas ocorre participação política; e poliarquias, regimes em que há disputas de poder e participação política ampliada. Joseph Schumpeter (1883-1950), economista austríaco, criticou as teorias clássicas de democracia, especialmente na relação estabelecida entre democracia e soberania popular. Para o autor, a definição clássica de democracia supõe duas ficções incapazes de resistir a uma análise realista: a existência do bem comum e a universalidade da racionalidade dos indivíduos. Para Schumpeter, a unidade da vontade geral, que constituiria o bem comum, e a racionalidade dos indivíduos seriam mitos, porque, para ele, esses elementos se tornaram irracionais por não conseguirem definir coerentemente suas preferências diante da influência da propaganda e de outros métodos de persuasão. Dessa forma, Schumpeter rompe com a ideia de democracia como soberania popular para propô-la como método, um tipo de arranjo institucional (de governo) para alcançar decisões políticas. Assim, sugere a superação do impedimento provocado pela irracionalidade das massas, reduzindo sua participação na política ao ato da produção de governos (ato de votar). As atribuições político- administrativas ficariam a cargo das elites eleitas. Essa é uma postura polêmica, na medida em que propõe uma redução da participação popular. Contrário a essa visão, o cientista político canadense C. B. Macpherson (1911- 1987) sustenta que a liberdade e o desenvolvimento individual só podem ser alcançados plenamente com a participação direita e contínua dos cidadãos na regulação da sociedade e do Estado. Macpherson defende uma transformação estruturada em um sistema que combine partidos competitivos e organizações de democracia direta, que criam uma base real para a existência da democracia participativa. Mas, para que esse modelo pudesse se desenvolver, seria necessário que os partidos políticos se democratizassem, com princípios e procedimentos de democracia direta, complementada e controlada por organizações geridas por pessoas comuns, em seus locais de trabalho e nas comunidades locais. (continuar a partir página 183)
Democracia e Jurisdição Constitucional: a Constituição enquanto fundamento democrático e os limites da Jurisdição Constitucional como mecanismo legitimador de sua atuação