Ciências Políticas
Ciências Políticas
Ciências Políticas
De acordo com o jurista italiano Norberto Bobbio, a palavra Estado foi utilizada pela
primeira vez pelo general estrategista Sun Tzu, no livro A Arte da Guerra, já com o seu
sentido contemporâneo, e apenas posteriormente no livro denominado O Príncipe, do
diplomata e militar Nicolau Maquiavel. Aparentemente, Nicolau Maquiavel parece ter sido o
primeiro (europeu) a refletir academicamente sobre o tema, tendo enfatizado no aspecto da
dominação (poder estatal) sobre os homens (cidadãos) do que sobre seu território (Gruppi,
1986).
Segundo Ribeiro (2006), Hobbes nos leva a um exame de consciência, para que
identifiquemos onde reside nossos conflitos para contê-los, e através da nova ciência política
que surge desta reflexão, sejamos capazes de construir Estados que se sustentam sem guerra
civil.
Outro grande pensador do Estado foi o inglês John Locke, grande defensor da
democracia liberal. Locke também acreditava, assim como Hobbes, que o estado natural do
homem é individualista e que a sociedade política era a forma de se prevenir os males,
constituindo a paz entre seus membros, através de um pacto consensual realizado entre os
homens.
No estado de natureza de Locke, os homens viviam em perfeita liberdade e harmonia
(diferindo de Hobbes), com os indivíduos sendo dotados de razão e propriedade, direitos
invioláveis, mas sempre haveria alguma discordância entre os pares que necessitaria de um
juiz imparcial e de uma força coercitiva para intermediar as relações sociais (Mello, 2006).
Aqui surge a necessidade do contrato social, dando origem a um estado que preserva a
propriedade individual e a proteção da comunidade.
Dentre suas maiores contribuições está a teoria da tripartição dos poderes, que
permanece como pilar fundamental do Estado de direito moderno. Buscou compreender as
razões da decadência das monarquias e os mecanismos de suas estabilidades, identificando a
moderação como pedra de toque da estabilidade dos governos, e introduz um conceito de lei,
“relações necessárias que derivam da natureza das coisas”, que possui conexão com as
ciências empíricas (Guilhon, 2006). Ele via as leis positivas como meio de reger a relação
entre os homens, mas as quais os homens podem furtar-se.
Adiante, ao analisar a instituição do governo estatal, Montesquieu distingue três tipos:
o governo monárquico, o despótico e o republicano; sendo que nos dois primeiros, o poder
soberano é exercido por um só homem, diferenciando-se o primeiro do segundo pela
existência (no primeiro) de leis estabelecidas, e a terceira espécie de governo, a república,
dá-se quando o povo efetivamente detém o poder, de forma total (quando se terá uma
democracia) ou parcial (quando se terá uma aristocracia) (MONTESQUIEU apud Braatz e
Búrigo, 2007). Ou seja, o governo despótico é movido pelo medo, o monárquico pela honra e
o republicano pela virtude. Aparentemente, o regime monárquico é tido pelo autor como o
melhor modelo, desde que exista um poder moderador, preferencialmente de cunho social,
que possa contrapor o abuso dos outros poderes.
Jean Jacques Rousseau, outro contratualista, contrasta com Hobbes, ao defender que
os homens são naturalmente e essencialmente bons, sendo a vida em sociedade o fator que os
corrompe, já que sua vida natural seria em liberdade, gozando de igualdade e felicidade, e
estas três características fundamentais são destruídas pela civilização (Vaz, 2019). Junto a
Locke, Rousseau entende que a propriedade é um direito sagrado e natural do homem,
devendo ser assegurada pelo Estado, governado pelo poder soberano do povo .
Em sua Obra “do Contrato”, já no capítulo I do Livro I consta: “o homem nasce livre,
e por toda parte encontra-se aprisionado”. Rousseau defende que para que a sociedade civil
funcione adequadamente é necessário que ocorra um pacto entre os homens, no qual os
indivíduos renunciam a seus direitos e sua liberdade natural em nome da liberdade civil (Vaz,
2019). Ressalta-se que, o que Rousseau pretendeu estabelecer sobre o contrato eram as
condições do pacto ser legítimo, através do qual os homens perdem sua liberdade natural em
troca de ganhar a liberdade civil, sendo fundamental o reconhecimento de igualdade das
partes contratantes (do Nascimento, 2006).
Aqui seria possível apresentar a contribuição de outros pensadores, mas pela extensão
da literatura e o reduzido espaço para esta dissertação, apontamos que a compreensão da
contribuição destes cinco célebres autores para a constituição do Estado moderno são as
principais para o entendimento do fenômeno estatal. Pela exposição acima, torna-se claro que
o surgimento do Estado não se deu apenas pela necessidade da convivência dos homens em
sociedade, mas também por outros fatores como a complexidade crescente das relações
sociais, e conflitos de interesses individuais que ameaçavam a boa convivência.
Não obstante, verifica-se que o surgimento do ente estatal não se deu de forma
uniforme, e sim obedecendo a uma natural e gradativa necessidade humana de agir nesse
sentido, pela constatação de que não mais seria possível conviver sem uma estrutura central e
competente para compor os mencionados litígios, a fim de preservar a paz social e buscar o
bem comum (Calegari, 2021).
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