Caso 1parecer Técnico Jurídico Conjunto
Caso 1parecer Técnico Jurídico Conjunto
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I-RELATÓRIO
Versa a consulta, para análise jurídica, sobre as medidas tomadas pelas concessionárias
de energia, água e telefonia ante o inadimplemento de conta contraída por terceiro.
Nos termos do art. 22 do CDC, os órgãos públicos, por si ou por suas concessionárias e
permissionárias, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros, e
quanto aos essenciais, contínuos.
Sendo assim, as medidas tomadas pelas empresas são ilícitas, uma vez que já está
consolidado o entendimento de que o interrompimento do fornecimento dos serviços
públicos essenciais só pode ser feito quando relativo à dívida atual e não a débitos
pretéritos.
Nesse sentido:
“2. O STJ pacificou o entendimento de que, na hipótese em que a concessionária
de serviço público interrompe o fornecimento de água como forma de compelir
o usuário ao pagamento de débitos pretéritos, é desnecessária a efetiva
comprovação dos danos morais, por constituírem dano in re ipsa." REsp
1694437/RJ
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC.
INOCORRÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE CORTE POR DÉBITOS
PRETÉRITOS. SUSPENSÃO ILÍCITA DO FORNECIMENTO. DANO IN RE
IPSA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. O Tribunal de origem apreciou fundamentadamente a controvérsia, não
padecendo o acórdão recorrido de qualquer omissão, contradição ou
obscuridade, razão pela qual não há que se falar em violação ao art. 535 do CPC.
2. Esta Corte Superior pacificou o entendimento de que não é lícito à
concessionária interromper o fornecimento do serviço em razão de débito
pretérito; o corte de água ou energia pressupõe o inadimplemento de dívida
atual, relativa ao mês do consumo, sendo inviável a suspensão do
abastecimento em razão de débitos antigos.
3. A suspensão ilegal do fornecimento do serviço dispensa a comprovação de
efetivo prejuízo, uma vez que o dano moral nesses casos opera-se in re ipsa, em
decorrência da ilicitude do ato praticado.
4. Agravo Regimental da Rio Grande Energia S/A desprovido.
(AgRg no AREsp n. 484.166/RS, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,
Primeira Turma, julgado em 24/4/2014, DJe de 8/5/2014.)(o destaque não consta
no original)
Em relação ao fornecimento de energia, há, inclusive, a proibição de tal conduta,
conforme Resolução Normativa ANELL n.414/2010, artigo 172:
Dessa forma, passados mais de um ano dos débitos da antiga moradora, não cabe às
empresas interromperem os serviços.
Constata-se assim, grave violação aos princípios que regem a prestação de serviço
público, pois, conforme art.6º da lei n 8987/95 os serviços públicos têm de ser prestados
de forma adequada, eficiente e contínua e, a interrupção feita pelas empresas, no caso
em tela, configura uma prestação de serviço inadequada e com total desrespeito ao
usuário.
Também, nos termos do art. 22 do CDC, os órgãos públicos, por si ou por suas
concessionárias e permissionárias, são obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros, e quanto aos essenciais, contínuos.
Destaca-se ainda que, o usuário foi cobrado de forma abusiva, ou seja, as empresas
ameaçavam a interrupção dos serviços, o que, mais uma vez, demonstra grave violação
os princípios que regem a prestação serviços públicos, pois, de acordo com o Código de
Defesa do Consumidor, em seu artigo 42, caput, a cobrança de débitos não pode ser
feita mediante qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Assim, impõe a responsabilidade para o pagamento das contas àquele cujo nome consta
no cadastro junto à prestadora do serviço e, diante do inadimplemento e não
regularização da situação, as empresas têm o direito de processar o responsável pelo
pagamento das contas, que, no caso, é a antiga moradora, pois esse débito deve ser
cobrado de maneira judicial e não pode em nenhuma circunstância gerara suspensão ou
corte dos serviços.
Ademais, a nossa Constituição Federa dá a todos o direito de ação, conforme seu artigo
5º, XXXV.
Nesse sentido:
Na mesma esteira:
Sendo assim, o proprietário do imóvel não terá de pagar os débitos anteriores para ter
religado os serviços, pois é ilícito a cobrança de dívidas contraídas anteriormente por
outros moradores a quem compete, exclusivamente, a responsabilidade pela
contraprestação dos serviços contratados.
Dessa forma, no caso em questão, a responsável pelas contas não pagas é antiga
moradora que residia no imóvel.
Inclusive, conforme resolução 414 da ANELL, artigo 128, §1º, a distribuidora não pode
condicionar a religação ao pagamento de débito pendente em nome de terceiro.
IV- CONCLUSÃO
Diante do exposto, verifica-se houve grave violação dos princípios públicos por parte
das concessionárias à medida que, ao interromperem os serviços devido à débito
pretérito e ainda ameaçando o usuário, descumprem o protocolo normativo da lei
8987/95, atr.6º, bem como, não possibilitam ao usuário o direito de receber as
informações corretas para a defesa de seus interesse, conforme disposto na aludida lei
em seu artigo 7º, I e II.
As atitudes ferem também o CDC, pois além de não fornecerem o serviço de forma
adequada e contínua, cobraram a dívida sob ameaça.
O proprietário tem direito ao reestabelecimento dos serviços sem arcar com débitos
anteriores em nome de terceiros, uma vez que a titular do serviço à época era a antiga
moradora, podendo, inclusive, comunicar às autoridades competentes a ilicitude do
interrompimento dos serviços e a cobrança indevida de débito de terceiro para a
religação dos serviços, conforme lei nº8987/95, art. 7º,V.
Devem as empresas reestabelecer os serviços, sendo que a cobrança e até mesmo a ação
judicial, se assim desejarem, serem interposta à antiga moradora que foi, efetivamente, a
usuária e titular dos referidos serviços públicos.
Não há dúvidas ainda, que a interrupção e deficiência comprovada nos serviços pode
ensejar pedido de indenização ao usuário, conforme artigo 927, CC, pois o
interrompimento de serviços essenciais impõe ao usuário/consumidor sérias restrições,
além de afetar a vida em sociedade.
Nº. 192 "A indevida interrupção na prestação de serviços essenciais de água, energia
elétrica, telefone e gás configura dano moral."