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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO ___ JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SÃO JOÃO DE MERITI – RJ

MARCELO RODRIGUES DA SILVA, brasileiro, casado, autônomo, portador da


cédula de identidade 12.868.932-0, expedida pelo IFP-RJ, inscrito no CPF sob o nº
092.759.107-31, residente e domiciliado na Rua Carolina Pereira Cossick, S/N – Lote
18ª, Quadra 84, Coelho da Rocha, São João de Meriti – RJ, CEP 25555-070, vem a
presença de Vossa Excelência, , por meio de sua advogada que a esta subscreve,
com endereço profissional na Rua Nicarágua, 169 – Heliópolis, Belford Roxo - RJ,
local que indica para receber as intimações e notificações de praxe, conforme artigo
287 do NCPC, propor a presente:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS

em face de LIGHT S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ


60.444.437/0001-46, com sede no endereço Rua Professor José de Souza Herdy,
1216 236 - Jardim Vinte e Cinco de Agosto, Duque de Caxias - RJ, 25071-202, pelos
motivos abaixo aduzidos, na pessoa de seu representante legal, pelas razões de fato
e de direito que passa a expor.

PRELIRMINARMENTE:

I – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA:

Requer o Autor o benefício da gratuidade de justiça, nos termos da Legislação Pátria,


inclusive para efeito de possível recurso, tendo em vista ser o Autor impossibilitado
de arcar com as despesas processuais sem prejuízo próprio e de sua família,
conforme artigo 4º e seguintes da lei 1.060/50 e artigo 5º LXXIV da Constituição
Federal/98.
II - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA:

Inicialmente verificamos que o presente caso trata-se de relação de consumo,


sendo amparada pela lei 8.078/90, que trata especificamente das questões em que
fornecedores e consumidores integram a relação jurídica, principalmente no que
concerne a matéria probatória.

Tal legislação, faculta ao magistrado determinar a inversão do ônus da prova


em favor do consumidor conforme seu artigo 06º, VIII:

"Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...]


VIII- A facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz,
for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência".

Da simples leitura deste dispositivo legal, verifica-se, sem maior esforço, ter
o legislador conferido ao arbítrio do juiz, de forma subjetiva, a incumbência de,
presentes o requisito da verossimilhança das alegações ou quando o consumidor for
hipossuficiente, poder inverter o ônus da prova.

Assim, presentes a verossimilhança do direito alegado e a hipossuficiência da


parte autora para o deferimento da inversão do ônus da prova no presente caso, dá-
se como certo seu deferimento.

III – DA LEGITIMIDADE

A legislação processual civil pátria dispõe que, para propor ou contestar ação,
é necessário ter interesse e legitimidade (art. 3º do CPC).

Verificamos no caso em concreto que o autor se encontra enquadrado na


denominação de “consumidor padrão”, definido no caput do art. 2º do CDC, que diz:

“Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou


jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.”

Posto isto, presentes a legitimidade e o interesse de agir do autor diante do


dano sofrido, concluindo-se no sentido da plena possibilidade do exercício do direito
de ação daquela em face da ré, com o qual mantém relação estrita de direito material.
Isto porque o Código de Proteçâo e Defesa do Consumidor constitui-se como
disciplina jurídica autônoma, uma vez que encerra em si um conjunto sistematizado
de princípios e regras que lhe conferem identidade própria, elementos necessários
ao efetivo cumprimento de seu desiderato.

Assim, conclui-se que a demandante possui todos os requisitos para figurar como
autor na presente ação.

DOS FATOS E FUNDAMENTOS:

O autor é proprietário do imóvel, e cliente da empresa ré, tendo sua ligação


identificada pelo código do cliente nº.: 31701349 e código da instalação nº
0413678279.

Desde a ligação de energia elétrica no referido imóvel, que além de residencia,


funciona também como sede de sua micro empresa, o autor nunca atrasou o
pagamento de nenhuma conta de luz, inclusive anexando as três últimas contas com
comprovante de pagamento.

No dia 09 de fevereiro de 2021, enquanto o autor praticava as atividades


internas de sua micro empresa, ocorreu a primeira falta de luz, o que o levou a entrar
em contrato com a ré sob protocolos de número 2164920254 e 2164985862,
recebendo a estimativa de 24 horas para que houvesse o restabelecimento da
energia. O que levou o autor a interromper todas as atividades da empresa, já que
necessitam de energia elétrica.

Ocorre que para surpresa do autor, este permaneceu sem luz ainda durante
os dias 10, 11 e 12 de fevereiro ininteruptamente, tendo sido o serviço normalizado
somente no dia 12, o que já havia gerado um prejuízo de quatro dias no
funcionamento de sua empresa, bem como no seu dia a dia. Durante esses dias, o
autor entrou em contato com a ré diversas vezes, sob os protocolos 2165139557,
2165374922, 2165281386.

Ressalvamos desde já o verbete de nº. 192, seguido por este Ilmo. Tribunal,
na qual descrevemos integralmente abaixo:

SÚMULA TJ Nº 192:

“A INDEVIDA INTERRUPÇÃO NA PRESTAÇÃO


DE SERVIÇOS ESSENCIAIS DE ÁGUA, ENERGIA
ELÉTRICA, TELEFONE E GÁS CONFIGURA DANO
MORAL. REFERÊNCIA: PROCESSO
ADMINISTRATIVO Nº. 0013662-
46.2011.8.19.0000 - JULGAMENTO EM
22/11/2010 - RELATOR: DESEMBARGADORA LEILA
MARIANO. VOTAÇÃO UNÂNIME.”

Cabe salientar aqui que, de acordo com a Resolução Normativa Nº 414, de 9


de setembro de 2010 da ANAEEL - Agência Nacional De Energia Elétrica, a religação
em caráter de urgência deve ocorrer em ATÉ quatro (04) horas a partir da solicitação,
conforme abaixo:

Resolução Normativa nº. 417/10

“Art. 176. A distribuidora deve restabelecer o


fornecimento nos seguintes prazos, contados
ininterruptamente: [...] III – 4 (quatro) horas,
para religação de urgência de unidade consumidora
localizada em área urbana”

Não cansamos de frisar que, em nenhum momento, o autor deu causa a


mencionada interrupção, estando com todas as suas contas de luz pagas em dia.

Assim, a responsabilidade civil das pessoas jurídicas das pessoas de direito


privado prestadoras de serviço público, caso em que se enquadra a empresa ré,
baseia-se no risco administrativo, sendo, portanto, objetiva, bastando que a vítima,
ora autor da presente ação, demonstre o fato danoso e injusto ocasionado por ação
ou omissão.

Portanto, as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


respondem pelos danos que seus funcionários causem a terceiro, sem distinção da
categoria do ato.

Mesmo que não houvesse expressa determinação legal da responsabilidade


civil objetiva da empresa Ré, esta, diante da forma ilegal e injusta com que procedeu
na demora do restabelecimento da energia elétrica, teria sua responsabilidade civil
prevista no art. 186 do novo Código Civil, que prescreve:

"Artigo 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
Não cansamos de deixar claro que em nenhum momento o autor deu causa a
tal falta de energia, uma vez que as contas se encontram todas pagas e sem NENHUM
atraso nos referidos pagamentos.

Hoje a energia está restabelecida na residência e sede da micro empresa do


autor, mas os transtornos de ordem moral são latentes, já que a Ré procedeu com o
reparo da energia dias após as reclamações do autor, depois de muita insistência.

A lei nº 7.783/89 define o fornecimento de energia como serviço essencial e


o CDC (Código de Defesa do Consumidor), no seu art. 22, afirma que os serviços
essenciais devem ser contínuos.

Quem tem o fornecimento de luz interrompido injustamente experimenta,


sem dúvida, dano moral, inclusive, o Superior Tribunal de Justiça reconhece que tal
interrupção fere a dignidade da pessoa humana.

A interrupção do fornecimento de energia, ainda que ocorra por poucas horas,


enseja a reparação do dano moral. Já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo que:

“O fato de se cuidar de episódio que durou poucas


horas não indica que se deva tê-lo por transtorno
comum impassível de indenização. Na situação, o
prejuízo moral é presumível; decorre do senso
comum de justiça”, (Apelação nº 980.597-0/6, 36ª
Câmara, Rel. Des. Dyrceu Cintra.)

Assim, diante dos abalos morais por ficar aproximadamente QUATRO DIAS
sem energia elétrica, estando com TODAS as contas referentes ao serviço
devidamente pagas e do abalo financeiro que, devido à demora na prestação do
serviço, vivenciou com o atraso do serviço de sua micro empresa, não restou
alternativa senão buscar a tutela jurisdicional do Estado, para ser ressarcido de forma
pecuniária pelos danos morais e materiais sofridos.

DO DANO MORAL:

O dano moral foi inserido em nossa carta magna no art. 5º, inc. X, da
Constituição de 1998:

“Art. 05º [...] X- são invioláveis a intimidade, a


vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano moral
ou material decorrente dessa violação ...”

Seguindo a mesma linha de pensamento do legislador constituinte, o


legislador ordinário assim dispôs sobre a possibilidade jurídica da indenização pelos
danos morais, prescrevendo no art. 6º, VI, da Lei 8.078/90:

“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

[...] VI - a efetiva prevenção e reparação de danos


patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou
difusos; “

SAVATIER define o dano moral como:

“Qualquer sofrimento humano que não é causado


por uma perda pecuniária, abrangendo todo o
atentado à reputação da vítima, à sua autoridade
legitima, ao seu pudor, a sua segurança e
tranquilidade, ao seu amor próprio estético, à
integridade de sua inteligência, as suas afeições,
etc...” (Traité de La ResponsabilitéCivile, vol.II, nº
525, in Caio Mario da Silva Pereira,
Responsabilidade Civil, Editora Forense, RJ, 1989).

Quando se pleiteia uma ação visando uma indenização pelos danos morais
sofridos, não se busca um valor pecuniário pela dor sofrida, mais sim um lenitivo que
atenue, em parte, as consequências do prejuízo sofrido. Visa-se, também, com a
reparação pecuniária de um dano moral imposta ao culpado representar uma sanção
justa para o causador do dano moral.

A ilustre civilista Maria Helena Diniz, já preceitua:

“Não se trata, como vimos, de uma indenização de


sua dor, da perda sua tranquilidade ou prazer de
viver, mas de uma compensação pelo dano e
injustiça que sofreu, suscetível de proporcionar
uma vantagem ao ofendido, pois ele poderá, com
a soma de dinheiro recebida, procurar atender às
satisfações materiais ou ideais que repute
convenientes, atenuando assim, em parte seu
sofrimento. A reparação do dano moral cumpre,
portanto, uma função de justiça corretiva ou
sintagmática, por conjugar, de uma só vez, a
natureza satisfatória da indenização do dano moral
para o lesado, tendo em vista o bem jurídico
danificado, sua posição social, a repercussão do
agravo em sua vida privada e social e a natureza
penal da reparação para o causador do dano,
atendendo a sua situação econômica, a sua
intenção de lesar, a sua imputabilidade
etc...”(DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil
Brasileiro. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, v.2)

A tormenta maior que cerca o dano moral, diz respeito a sua quantificação,
pois o dano moral atinge o intimo da pessoa, de forma que o seu arbitramento não
depende de prova de prejuízo de ordem material.

Evidentemente o resultado final também leva em consideração as


possibilidades e necessidades das partes de modo que não seja insignificante, a
estimular a prática do ato ilícito, nem tão elevado que cause o enriquecimento
indevido da vítima.

O dano moral sofrido pelo Autor ficou claramente demonstrado, vez que a
ligação de energia do seu imóvel se encontrava desligada por cerca de QUATRO
DIAS, tendo o autor que enfrentar diversos transtornos em seu dia a dia, inclusive
nas atividades comuns de sua micro empresa, sem nada poder fazer e por um motivo
alheio a sua conduta e vontade.

DO PEDIDO:

ANTE O EXPOSTO, requer a Vossa Excelência:

1. Preliminarmente, seja CONCEDIDA os benefícios da Justiça Gratuita nos termos


do artigo 5º, incisos XXXIV e LXXIV, da CRFB/88, bem como, os artigos 98 e 99 § 4º
da Lei.13.105 - Novo Código de Processo Civil, haja vista, o autor não ter condições
de arcar com o pagamento de custas e demais despesas processuais, sem prejuízo
de seu sustento e de sua família;

2. A inversão do ônus da prova de acordo com o art. 6º, VIII da lei 8078/90, ante a
verossimilhança das alegações e da hipossuficiência técnica do autor;
3. Condene a Ré ao pagamento de custas processuais de 20% a título de honorários
advocatícios;

4. A citação da empresa Ré para comparecer a audiência de conciliação a ser


marcada, podendo esta ser convolada em audiência de instrução e julgamento nos
termos da Lei 9.099/95, sob pena de revelia e confissão;

5. Que a empresa RÉ seja condenada ao pagamento mínimo a título de DANOS


MORAIS no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) por cada dia sem energia elétrica,
totalizando o valor de R$ 2.000,00 (dois mil e reais), bem como podendo exceder
este valor caso o juízo assim entenda justo;

DOS MEIOS DE PROVA.

Protesta por todos os meios de prova admitidas em direitos, documental,


testemunhal, depoimento pessoal da requerida, sob pena de confesso.

DO VALOR DA CAUSA.

Dá-se a causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Nestes termos,

P. Deferimento.

Belford Roxo, 17 de março de 2021

Luciana Marques de Aguiar Quintanilha

OAB/RJ 205.573

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