Betovem X Ligth - TOI

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M.M.

JUÍZO DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA REGIONAL


DA TAQUARA– RJ.

BETOVEM FERREIRA DE GOUVEA, Brasileira, divorciado


Porteiro, portador da carteira de identidade nº 06.125.278-9 expedida pelo IFP, inscrito
no CPF sob o nº 673.981.387-68 residente e domiciliada Nelson Cavaquinho 18,
Curicica Cep: 22.711-130, e-mail eletrônico: [email protected] , vem por sua
advogada infra assinado (mandato incluso) o qual se encontra estabelecida na Rua
Lopo Saraiva, 437, bloco 02 sala 437 Pechincha Rj, e-mail eletrônico:
[email protected] local onde indica para receber Intimações e
Notificações, propor a Presente:

AÇÃO INDENIZATÓRIA C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER

em face da LIGHT – SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S/A, inscrita no CNPJ sob o


n.º 60.444.437/0001-46, sito na Av. Marechal Floriano, n.º 168, centro, Rio de Janeiro,
CEP 20.080-002, com endereço eletrônico: www.light.com.br, pelos fatos e
fundamentos que passa a expor:

PRELIMINARMENTE, de acordo com o provimento COGE nº 34, bem como o art.544


§ 1º do CPC com a nova redação dada pela LEI Nº 10.352/01, o advogado que esta
subscreve autentica os documentos que acompanham esta petição inicial, não
necessitando, assim, a autenticação cartorária.

DO PEDIDO DE GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Inicialmente, afirma que não possuem condições de arcar com as custas processuais e
honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio bem como o de sua família,
razão pela qual fazem jus ao benefício da gratuidade da justiça, nos termos do artigo 4º
da lei 1060/50, com redação introduzida pela Lei 7510/86.

DA AUDIENCIA DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA


Cumpre destacar que o Autor não Possui interesse na audiência de conciliação,
caso seja esse também o interesse da parte ré.
DOS FATOS

A autora é cliente da empresa ré através do nº 20741611, no qual


sempre manteve em dia seus pagamentos.

A residência do autor fica localizada em uma comunidade do bairro


de Curicica. Numa tarde de domingo, após as crianças estarem jogando bola na rua o
relógio medidor do autor fora atingido e começou a ter curtos e interrupções
constantemente.

O autor entrou com contato com a empresa ré para informar o


ocorrido que após o comparecimento da equipe foi constatado que o relógio medidor
deveria ser trocado, pois de acordo com eles o mesmo estava em curto e poderia pegar
fogo a qualquer momento, mas aquela equipe não poderia fazer a tal troca e seria aberta
um OS.

O autor aguardou o prazo estabelecido pela empresa ré, e ficou


insistentemente entrando em contato (protocolos anexos), tendo inclusive entrado em
contato com a ouvidoria, porém nada foi resolvido.

Ressaltamos também que os valores da conta de consumo do


autor estão muito acima do real consumo utilizados.

Pois bem. Em julho de 2020, o autor começou a receber cobranças


relativas ao TOI 9638221 no valor total de R$ 328,14 já com parcelamento em 18
parcelas sem qualquer anuência do autor, no qual com medo de ter sua energia cortada
vem efetuando os pagamentos mensais.

Senão bastasse todo transtornos aqui já informados, o autor fora


surpreendidos com outro TOI 9919808 no valor de R$ 1.932,12 com um parcelamento
em 27 vezes de R$ 71,56.

Inconformada com o TOI recebido, a autora entrou em contato com


a empresa Ré requerendo uma explicação para ocorrido, tendo em vista que descordava
com a referida cobrança, bem como os valores de consumo que vinha recebendo, sendo
informada pela preposto da ré que iriam analisar o caso e entrariam em contato, o que
nunca ocorreu.
Sendo assim, a empresa ré esta imputando a cobrança indevida
referente a 2 TOIs 9638221 e 9919808, totalizando assim uma cobrança indevida de
R$ 2.260,26 (dois mil duzentos e sessenta reais e vinte seis centavos).

Desta forma, não restou alternativa a parte Autora senão a


propositura da presente medida judicial.

DO DIREITO

DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Prima facie, deve-se ressaltar que se trata de relação de consumo,


aplicando-se no caso em tela, sem qualquer restrição, a sistemática da Lei nº 8.078/90,
nos exatos termos do disposto nos artigos 2º e 3º do citado diploma legal, in verbis:

“Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. (grifamos)

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.”

Assim, evidente que a relação jurídica estabelecida entre o Autor e


a Ré caracteriza-se como de consumo, devendo ser examinada à luz das regras e
princípios previstos no referido diploma legal.

DA FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO – DA RESPONSABILIDADE


OBJETIVA

Verificada a incidência do Código de Defesa do Consumidor ao caso, passemos a


demonstrar a falha na prestação dos serviços da Reclamada e a Responsabilidade dela
decorrente.
Assim, examinemos o disposto no art. 14, caput da mencionada
Lei:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.” (grifo nosso)

A partir da redação do mencionado dispositivo, podemos observar


que o Legislador atribui a Responsabilidade Objetiva ao fornecedor de produtos e
serviços pela reparação dos danos causados por defeitos relativos à prestação de seus
serviços.

Consoante os fatos acima narrados, verificamos que a falha na


prestação de serviços da Ré é cristalina, motivo pelo qual a mesma deve ser condenada
a reparar os danos sofridos ao Autor.

DO RESULTADO DA ANÁLISE REALIZADA PELA RÉ – INOCORRÊNCIA


DE IRREGULARIDADES NO MEDIDOR DE ENÉRGIA ELÉTRICA

Desnecessário aludir sobre a importância do serviço prestado pela


Ré, que por sua natureza essencial, torna-se imprescindível para a sobrevivência
humana.

Trata-se de matéria devidamente amparada pela Lei 7.783/89, que


em seu artigo 10, I, assim estabelece:

Art.10 - São considerados serviços ou atividades essenciais:


I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de
energia elétrica, gás e combustíveis;

Ademais, o art. 22 do Código de Defesa do Consumidor preceitua:

“ Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,


permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento,
são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único – No caso de descumprimento. Total ou parcial,
das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma
prevista neste código.”

Ato contínuo, para comprovar a existência de falhas nos medidores


de consumo de energia elétrica, torna-se imprescindível à perícia técnica.

Para tanto, insta mencionar o que dispõe o art. 129, §4º da


Resolução 414/2010 da ANEEL:

Art. 129. Na ocorrência de indício de procedimento irregular, a


distribuidora deve adotar as providências necessárias para sua fiel
caracterização e apuração do consumo não faturado ou faturado a
menor.

§ 4º O consumidor tem 15 (quinze) dias, a partir do recebimento do


TOI, para informar à distribuidora a opção pela perícia técnica
no medidor e demais equipamentos, quando for o caso, desde que
não se tenha manifestado expressamente no ato de sua emissão.
o(Redação dada pela Resolução Normativa ANEEL nº 418, de
23.11.2.

Ante os fatos acima expostos, requer seja a Ré compelida na


obrigação de fazer em declarar nulo os 2 TOIs 9638221 e 9919808, bem como a
cobrança oriunda desta no valor total de R$ 2.260,26 (dois mil duzentos e sessenta
reais e vinte seis centavos), que conforme comprovantes anexos, o autora já
efetuou o pagamento de 13 parcelas referente ao TOI 9638221, no valor de cada
parcela R$ 18,23 e 1 parcela de R$ 71,56, totalizando assim um pagamento de R$
308,55 pagos até a presente propositura da ação.

DO DANO MATERIAL – REPETIÇÃO DO INDÉBITO


Conforme acima narrado, pela Ré foi lavrado Termo de Ocorrência
e Irregularidade no medidor da Autora, motivo pelo qual, conforme alegado pela Ré, o
mesmo teria que efetuar o pagamento de R$ 2.260,26 (dois mil duzentos e sessenta
reais e vinte seis centavos) devido a irregularidade constatada. Insta salientar que a
Autora não concorda com o alegado pela Ré, tendo em vista que nunca foi realizando
nenhuma perícia no medidor.

Assim prevê o artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor, in


verbis

"O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à


repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais,
salvo hipótese de engano justificável." (grifo nosso)

Estando certo de que estamos mediante de cobrança indevida e por conta disso,
deve ser aplicado o art. 42 do CDC, para que a Ré seja condenada a fazer o pagamento
em dobro dos valores relativo ao parcelamento R$ 2.260,26 (dois mil duzentos e
sessenta reais e vinte seis centavos) no qual a autora já realizou 3 pagamentos.

Parcela = R$ 2.260,26 x 2 = R$ 4.520,52

- DO DANO IMATERIAL IN RE IPSA

Resta claro que, a conduta da Ré vem proporcionando a Autora danos


de natureza imaterial IN RE IPSA, à exaustão, merecendo o mesmo adequada
compensação, por força da própria relação do serviço prestado.

Não obstante, é importante a verificação da sua configuração.

Quanto a isso, o Civilista Sílvio de Salvo Venosa entende que “em


se tratando de pessoa jurídica, o dano moral de que é vítima atinge seu nome e
tradição de mercado e terá sempre repercussão econômica, ainda que indireta.”

Arremata, ainda, dizendo que “não é somente dor e sofrimento que


traduzem o dano moral, mas, de forma ampla, um desconforto extraordinário na
conduta do ofendido e, sob esse aspecto, a vítima pode ser tanto a pessoa natural como
a pessoa jurídica" (Direito Civil - Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Atlas 2003
- p. 203).

No caso em discussão, resta evidente o dano moral sofrido pelo


Autor, que está sendo acusado indevidamente de ter realizado procedimento no
medidor de energia elétrica, o que ocasionou irregularidades.

Com isto, cabido está o dano moral, conforme julgados


semelhantes abaixo citados:

“7ª CÂMARA CÍVEL - 0158295-


21.2009.8.19.0001 – APELACAO - AGRAVO
INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA EM
APELAÇÃO CÍVEL QUE NEGOU
SEGUIMENTO AO RECURSO INTERPOSTO
PELA RÉ, MANTENDO NA ÍNTEGRA A
SENTENÇA. IRRESIGNAÇÃO DA
DEMANDADA. Relação de consumo. Na
verdade, a questão não foi somente a lavratura do
TOI, mas também o que ocorreu depois, com a
substituição do medidor e a realização de
cobranças indevidas. A despeito das alegações da
ré, não há dúvida de que a lavratura do TOI se deu
de modo unilateral - até mesmo porque o autor não
conseguiu ser atendido nas agencias da
Concessionária -, violando os princípios do
contraditório e da ampla defesa, porquanto não
oportunizou ao consumidor o debate acerca dos
motivos que conduziram à conclusão alcançada
pela concessionária. Ausência de perícia técnica
judicial no relógio medidor. Ausência de prova da
irregularidade apontada, não tendo a ré se
desincumbido de provar os fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito da autora.
Concessionária ré que se absteve de produzir prova
que demonstrasse a regularidade de sua atuação.
Perícia técnica que se mostra imprescindível para a
correta solução do litígio. Não tendo a
concessionária submetido o medidor à perícia
técnica perante órgão oficial, deve arcar com os
ônus. Falha na prestação do serviço. Art. 14 do
CDC. Violação ao princípio da boa-fé objetiva.
Assim, não tendo comprovado a irregularidade no
medidor e, via de consequência, a existência de
crédito em seu favor, considera-se configurado,
inclusive, o dano moral, cuja fixação em R$
5.000,00 mostra-se condizente com os danos
efetivamente experimentados, consoante os
critérios de razoabilidade e proporcionalidade.
Precedentes desta Corte. DECISÃO QUE SE
MANTÉM. DESPROVIMENTO DO RECURSO.”

Ad argumentandum, a finalidade pedagógica e penalizadora da


condenação não podem ser olvidadas, pois, servem de advertência para que a Ré não
volte a cometer tais atos de desrespeito para com seus consumidores em geral,
confrontando com os princípios previstos no Código de Defesa do Consumidor.

DA COMPROVAÇÃO DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DO AUTOR

A despeito de se tratar de relação de consumo e, conseqüentemente,


da responsabilidade objetiva da Ré, o consumidor não está isento da comprovação
mínima dos fatos constitutivos de seu direito, nos moldes do art. 333, I do CPC,
impondo-lhe a comprovação dos pressupostos da responsabilidade civil, a saber: fato
lesivo, dano e nexo de causalidade.
Verifica-se que nos autos encontra-se vasta e robusta
documentação que empresta veracidade as alegações autorais, sendo certo que não é
possível a produção de mais provas, haja vista a hipossuficiência do Autor perante o
Réu, o que nos faz adentrar ao próximo tópico, a inversão do ônus da prova.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.078/90), dentre os


direitos básicos do consumidor, dispõe sobre “a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências” (art. 6º, VIII).

Importante mencionar o seguinte precedente do TJ/RJ a título de


ilustração.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO


CONSUMIDOR. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZATÓRIA. TOI. INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA. CABIMENTO. 1. A regra do art. 6º, inciso VIII
do CDC, fundamenta-se na vulnerabilidade do consumidor.
2. Evidente a hipossuficiência do consumidor que não
possui meios de comprovar fato negativo. 3. O consumidor
não possui o conhecimento sobre os aspectos técnicos
inerentes aos serviços. Estes são de pleno domínio do
fornecedor de serviços, já que detém a tecnologia,
distribuição e medição de consumo de energia elétrica.
4. Precedentes desta Corte e do STJ. 5. Reforma da decisão,
para deferir a inversão do ônus da prova. 6. PROVIMENTO
DO RECURSO, na forma do art. 557, § 1º-A do C.P.C."
0026506-62.2010.8.19.0000 – AGRAVO DE
INSTRUMENTO - DES. LETICIA SARDAS - Julgamento:
17/06/2010 - VIGESIMA CAMARA CIVEL

Portanto, haja vista a verossimilhança das alegações do autor e da


hipossuficiência do mesmo, este faz jus, nos termos do art. 6º, VII da lei 8.078/90, a
inversão do ônus da prova ao seu favor.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer à V. Exª:

a) Que seja concedida a autora os benefícios da gratuidade de


justiça;

b) Seja a Ré citada, na pessoa de seu representante legal para,


querendo, contestar a presente, sob pena de revelia;

c) Informa que não possui interesse na audiência de


conciliação conforme disposto no artigo 319,VII do Código
de Processo Civil;

d) Seja deferida a inversão do ônus da prova;

e) A repetição do indébito no valor de R$ 4.520,52 (quatro mil


quinhentos e vinte reais e cinquenta e dois centavos com a
sua dobra legal.

f) Seja a Ré compelida na obrigação de fazer em declarar nulo


o TOI 9638221 e 9919808, bem como a cobrança oriunda
destes nos valores, devendo ser devolvido em dobro as
quantias pagas pelo Autor referente ao TOI.
g) Determinar a realização de perícia, nas dependências da
Suplicante a fim de detectar algum indício de desvio de
consumo real utilizado pelo Requerente;

h) Seja a Ré condenada ao pagamento de verba, a título de


compensação, pelo dano imaterial sofrido pelo Autor, em
valor não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais);

i) A condenação da Ré em custas e honorários advocatícios


estes últimos na razão de 20% (vinte por cento), sob o valor
da condenação.

DAS PROVAS

Pugna por todos os meios de provas em direito admitido, em especial a


documental superveniente e testemunhal e demais que se fizerem necessárias ao
deslinde da ação.

DO VALOR DA CAUSA

Para efeito fiscal, dá à causa o valor de R$ 14.520,52 (Quatorze mil


quinhetos e vinte reais e cinquenta e dois centavos).

Termos em que,
Pede deferimento.

Rio de janeiro, 01 de julho de 2019.

ANDREA DIAS ROSA


OAB/RJ 174.925

PRISCILA BERNARDO LOPES


OAB/RJ 176.910

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