Âgela Davis e Dialética
Âgela Davis e Dialética
Âgela Davis e Dialética
Contexto
Boa Educação:
Ativismo Político:
Carreira Acadêmica:
Obra e Ideologia:
● A. Conceito Atual
- A interseccionalidade é uma abordagem analítica que examina como
diferentes formas de opressão, como raça, gênero, classe,orientação se
sobrepõem e se inter-relacionam, criando experiências únicas de
discriminação e privilégio.
3. O Papel do Estado
- O Estado é visto como um agente que institucionaliza diversas formas de
opressão.
dialética, a realidade social trás em si, o embrião para sua própria transformação.
Marx explicita essa ideia nos Grundrisse, onde defende que as categorias de
análise não são invenções do intelecto, mas sim reflexos das "formas de ser" dos
próprios objetos, que a consciência reproduz conceitualmente. A crítica maior,
então, é direcionada à tendência de alguns pesquisadores em criar objetos de
estudo artificiais, construções que não refletem a realidade do que é investigado.
Esse "epistemologismo" acaba por distorcer a realidade, ao aplicar categorias pré-
definidas que não emergem do próprio objeto, mas sim de uma abordagem
intelectualista que se distancia da complexidade da vida concreta.
FREDERICO, C. Interview. In: AMORIM, H. (ed.). Trabalho (imaterial), valor e
classes sociais: diálogos com pesquisadores contemporâneos [online]. São Carlos:
EdUFSCar, 2017. p. 45-62. ISBN 978-65-80216-18-5.
p.48O autor explica que sua pesquisa sobre a consciência de classe operária
se diferenciou das abordagens tradicionais ao focar em "operários
avançados" como mediadores. Em vez de utilizar métodos estatísticos que
buscam identificar padrões comuns ou construir uma média entre diferentes
níveis de consciência, ele optou por entrevistar trabalhadores que possuíam
um desenvolvimento mais elevado de consciência política. Esses operários
eram considerados típicos, não porque representavam a maioria, mas porque
refletiam de forma mais clara as possibilidades de consciência dentro da
classe operária. A partir dessas entrevistas, o autor buscou entender melhor
o comportamento e a percepção dos demais trabalhadores, transformando a
pesquisa em um processo coletivo de análise. Assim, ele procurou superar a
visão simplificada e estatística da realidade operária, valorizando as
experiências mais avançadas como chave para compreender a dinâmica da
consciência de classe.” Esses “operários avançados” eram – para o estudo
da consciência de classe – operários típicos. Procurei, assim, trabalhar com a
categoria dialética da tipicidade.”
● Está vivo ;
● E. Alienação e Superação
- A alienação do produto do trabalho (capacidade de produzir a si mesmo),
junto à ideologia racista e sexista (negação da humanidade), pode ser
superada por uma forma de humanidade superior, expressa por meio da
ação política, teoria e luta.
● Paralelo com Thompson
- Thompson destacou
“As organizações de esquerda têm argumentado dentro de uma visão marxista e ortodoxa
que a classe é a coisa mais importante. Claro que classe é importante. É preciso
compreender que classe informa a raça. Mas raça, também, informa a classe. E gênero
informa a classe. Raça é a maneira como a classe é. Da mesma forma que gênero é a
maneira como a raça é vivida. A gente precisa refletir bastante para perceber as
intersecções entre raça, classe e gênero, de forma a perceber que entre essas categorias
existem relações que são mútuas e outras que são cruzadas. Ninguém pode assumir a
primazia de uma categoria sobre as outras.”p.20
Aprofundamento:
1. Davis propõe que "classe informa a raça", ou seja, que a posição econômica de um
grupo social pode influenciar a maneira como esse grupo é racializado e tratado na
sociedade. Por exemplo, a classe trabalhadora pode ser racializada de maneiras
específicas que reforçam sua exploração econômica.Ver trabalho terceirizado
2. No entanto, ela também destaca que "raça informa a classe". Sabemos a classe
social de uma pessoa, às vezes, pela cor. Diria mais: no Brasil é impossível pensar
classe sem raça; pois, por exemplo, a Lei de Terras de 1850 excluiu populações
negras da possibilidade de acesso à terra, perpetuando desigualdades raciais e
econômicas.
Capítulo 1:
“No que dizia respeito ao trabalho, a força e a produtividade sob a ameaça do açoite eram
mais relevantes do que questões relativas ao sexo. Nesse sentido, a opressão das
mulheres era idêntica à dos homens.” (DAVIS, 2016, p. 25).
“Mas as mulheres também sofriam de forma diferente, porque eram vítimas de abuso sexual
e outros maus-tratos bárbaros que só poderiam ser infligidos a elas. A postura dos senhores
em relação às escravas era regida pela conveniência: quando era lucrativo explorá-las
como se fossem homens, eram vistas como desprovidas de gênero; mas, quando podiam
ser exploradas, punidas e reprimidas de modos cabíveis apenas às mulheres, elas eram
reduzidas exclusivamente à sua condição de fêmeas.” (DAVIS, 2016, p. 25).
● p.26 Castigos:
p.26 Proprietários e feitores flexibilizavam suas atitudes sexistas quando isso facilitava a
repressão, enquanto o sistema escravista minava a supremacia masculina entre os homens
negros, já que todos, independentemente de gênero, estavam sujeitos à autoridade dos
feitores. Homens, mulheres e crianças eram obrigados a trabalhar lado a lado nas
plantações, sendo vistos como “provedores” pela classe proprietária, sem a distinção de
papéis de gênero comuns na sociedade da época.
p.28: Nas lavouras e fazendas onde as grávidas eram tratadas com mais indulgência, isso
raramente se devia a razões humanitárias. Simplesmente, os proprietários valorizavam uma
criança escrava nascida com vida do mesmo modo que valorizavam bezerros ou potros
recém-nascidos.
29-Mulheres escravizadas realizavam trabalhos pesados, como nas minas, construção de
canais e ferrovias, muitas vezes substituindo animais de carga. Essa exploração lembra a
descrição de Marx sobre o uso de mulheres na Inglaterra, onde eram preferidas a cavalos
devido ao menor custo de manutenção.
Embora seja pouco provável que essas mulheres estivessem expressando orgulho pelo
trabalho realizado sob a constante ameaça do açoite, elas deviam ter consciência de seu
enorme poder – sua capacidade de produzir e criar. Como diz Marx, “o trabalho é o fogo
vivo, conformador; a transitoriedade das coisas, sua temporalidade, como sua conformação
pelo tempo vivo.
1- consciência de classe
2- o que funda a história humana, a própria temporalidade- na visão de davis as mulheres
em sua experiência de negras, na condição de escravizadas e trabalhadoras produtivas, a
traz uma potencialidade universal da derrubada do capitalismo.
● p.30-31- Família
p.31-32
p.33
Segundo Elkins, o uso sistemático do termo “meninos” para se referir aos escravos revelava
a incapacidade dos senhores de exercer funções paternas. Kenneth Stampp reforçou essa
visão ao afirmar que a família escrava era matriarcal, pois o papel da mãe superava o do
pai, com a mulher assumindo responsabilidades como cuidar da casa, preparar comida e
criar os filhos. O marido, muitas vezes, era visto como uma extensão da esposa, sua
propriedade.
Entretanto, embora a vida doméstica fosse central para a comunidade escrava, as mulheres
negras não eram subordinadas aos homens em função de suas atividades domésticas,
como ocorria com as mulheres brancas. O trabalho doméstico, era o único trabalho que
servia diretamente à comunidade escrava e não ao opressor, conferindo às mulheres
negras um grau de autonomia e centralidade. Apesar da opressão de gênero, as mulheres
negras desempenhavam um papel vital na sobrevivência e na coesão da comunidade,
sendo essenciais tanto para os homens quanto para a estrutura social como um todo. A
noção de que essas mulheres dominavam os homens distorce a realidade, pois sua
importância vinha da contribuição mútua para a sobrevivência coletiva, e não de uma
supremacia sobre os homens.
Esse contexto gerava uma igualdade sexual nas relações, transformando a opressão em
uma forma de igualitarismo na vida comunitária. Eugene Genovese, em A Terra Prometida,
reconhece que, ao contrário da ideia de supremacia feminina, a vida doméstica escrava
permitia um maior equilíbrio entre os sexos. As mulheres defendiam seus companheiros,
conscientes de que sua desvalorização afetava toda a comunidade, desejando modelos
masculinos fortes para seus filhos.
p. 35 Mulheres que defendiam a comunidade, lutavam igual aos homens. dimensão
do corpo como mecanismo necessário para a revolução.
“Assim como Harriet Tubman, muitas mulheres fugiram da escravidão indo para o Norte.
Várias tiveram sucesso, mas a maioria foi capturada.
Uma das tentativas mais dramáticas envolveu uma jovem – possivelmente adolescente –
chamada Ann Wood, que comandou um grande grupo de meninas e meninos que fugiram
empunhando armas. Depois de escapar na véspera de Natal, em 1855, o grupo se
envolveu em uma troca de tiros com captores de escravos. Dois jovens foram mortos, mas
os demais, de acordo com todas as indicações, conseguiram chegar ao seu destino."
“ainda hoje detém o mérito de ter sido a única mulher nos Estados Unidos a liderar tropas
em uma batalha”.
Vale repetir:
as mulheres negras eram iguais a seus companheiros na opressão que sofriam; eram
socialmente iguais a eles no interior da comunidade escrava; e resistiam à escravidão com
o mesmo ardor que eles.Essa era uma das grandes ironias do sistema escravagista: por
meio da submissão das mulheres à exploração mais cruel possível, exploração esta que
não fazia distinção de sexo, criavam-se as bases sobre as quais as mulheres negras não
apenas afirmavam sua condição de igualdade em suas relações sociais, como também
expressavam essa igualdade em atos de resistência. Essa deve ter sido uma terrível
descoberta para os proprietários de escravos, pois aparentemente eles tentavam quebrar
essa cadeia de igualdade por meio da repressão particularmente brutal que reservavam às
mulheres.
p. 38 Por isso o estrupro era especialmente destinado às mulheres:
O estupro durante a escravidão não se tratava de mero desejo sexual dos homens brancos,
mas de uma arma de dominação e repressão para suprimir a resistência das escravas e
desmoralizar seus companheiros. Similar ao uso do estupro como tática de terror político na
Guerra do Vietnã, onde era incentivado pelo comando militar, o objetivo era submeter
mulheres que desempenhavam papéis importantes na resistência, usando a violência como
forma de controle e intimidação.
“fariam com que elas se lembrassem de sua essencial e inalterável condição de fêmeas. Na
visão baseada na ideia de supremacia masculina característica do período, isso significava
passividade, aquiescência e fraqueza”.
● estupro vs miscigenação:
“"Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo 'como ele de fato foi'. Significa
apropriar-se de uma reminiscência tal como ela lampeja no momento de um perigo." (Teses
sobre o conceito de história, tese VI)
“Foram essas mulheres que transmitiram para suas descendentes do sexo feminino,
nominalmente livres, um legado de trabalho duro, perseverança e autossuficiência, um
legado de tenacidade, resistência e insistência na igualdade sexual – em resumo, um
legado que explicita os parâmetros para uma nova condição da mulher.
BENJAMIN, Walter. O autor como produtor. In: _____. Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. 7. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1994. p. 121-139.
LERNER, Gerda apud DAVIS, Angela Y. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo,
2017. p. 15-16.
nos mostra, ainda, que a linguagem antirracista foi fundamental para dar base para a luta
feminista.
“Frederick Douglass, o mais importante abolicionista negro dos Estados Unidos, foi também
o homem de maior destaque na causa da emancipação feminina em sua época. Por apoiar
integralmente o controverso movimento das mulheres, com frequência era ridicularizado em
público. A maioria dos homens de então, ao ter a virilidade contestada, teria
automaticamente se levantado em defesa de sua masculinidade. Mas Douglass assumiu
uma postura antissexista admirável, declarando não se sentir diminuído pelo rótulo de 'o
homem dos direitos das mulheres'. [...] Fico feliz em dizer que nunca tive vergonha de ser
chamado dessa maneira. Sua atitude em relação aos detratores pode ter sido inspirada no
conhecimento de que um dos métodos de afastar as mulheres brancas da luta
antiescravagista era chamá-las de 'amantes de pretos'. E ele sabia que as mulheres eram
indispensáveis ao movimento abolicionista – tanto em termos numéricos quanto por 'sua
competência na defesa da causa das pessoas escravas'."
p. 49 -50 Muitas mulheres se uniram ao movimento abolicionista, atraídas por uma
afinidade que Harriet Beecher Stowe, autora de A Cabana do Pai Tomás, poderia atribuir
aos “instintos maternais” das mulheres, refletidos em seu romance. Publicado no auge do
culto à maternidade no século XIX, o livro retrata escravizados como figuras infantis e
dóceis, sustentando estereótipos racistas e sexistas da época. Ironicamente, embora fosse
uma obra popular da literatura antiescravagista, A Cabana do Pai Tomás perpetuava as
mesmas ideias que justificavam a escravidão e a exclusão das mulheres da política.
● associação de lutas
● Na década de 1830, enquanto a rebelião de Nat Turner e o movimento abolicionista
ganhava força, surge o movimento abolicionista organizado
● Greve e paralisação nas fábricas têxteis, mão de obra feminina ( menos trabalho)
p.55
Ao participar do movimento abolicionista, as mulheres brancas tomaram consciência
da opressão humana e de sua própria exclusão política. A causa oferecia uma forma
de protesto contra sua sujeição, permitindo que fossem valorizadas além dos papéis
de esposas e mães. Para muitas, a luta antiescravagista era uma alternativa
estimulante à vida doméstica e uma forma de resistência contra uma opressão
semelhante à que enfrentavam.
p56-57
No movimento abolicionista, as mulheres brancas aprenderam a desafiar a
supremacia masculina, descobrindo que o sexismo poderia ser combatido na arena
política. Elas ganharam experiência em organização e oratória, especialmente no
uso de petições, que questionavam sua exclusão política. As irmãs Grimké foram
pioneiras nesse desafio, ligando a opressão das mulheres à escravidão. Apesar dos
ataques, especialmente de grupos religiosos, que as acusavam de desviar de seu
papel “divino”, elas persistiram, com Angelina discursando publicamente e Sarah
escrevendo sobre a igualdade de gênero.
eloquência
As irmãs Grimké, pioneiras na luta abolicionista e pelos direitos das mulheres,
desafiavam a supremacia masculina, defendendo que homens e mulheres são
iguais e têm o direito de participar ativamente da vida política. Elas argumentavam
que, ao negar às mulheres o direito de falar, também se negava sua capacidade de
agir contra a escravidão. Angelina defendia que a luta pelo abolicionismo e pelos
direitos das mulheres eram interligadas, enquanto Sarah escrevia sobre a igualdade
de gênero.
“Os homens, ouvindo sobre a eloquência e o poder [das irmãs], logo começaram a
ocupar timidamente os assentos no fundo da plateia. Essas assembleias
representavam algo inédito, já que nunca antes mulheres haviam se dirigido a
audiências mistas de modo tão regular e sem enfrentar gritos ofensivos ou escárnio
por parte dos homens que consideravam a oratória uma atividade exclusivamente
masculina."
“Homens e mulheres foram criados iguais: ambos são seres humanos morais e
responsáveis.”
: “E, então, o que a mulher poderá fazer contra a escravidão, quando ela mesma
estiver subjugada ao homem e humilhada no silêncio?
p.58
“Dizem que, um dia, Napoleão Bonaparte repreendeu uma dama francesa por se ocupar de
política. 'Majestade', ela respondeu, 'em um país onde mulheres são mortas, é muito natural
que mulheres desejem saber por que isso acontece.' E, queridas irmãs, em um país onde
as mulheres são humilhadas e agredidas, e onde seus corpos expostos sangram sob o
açoite, onde elas são vendidas em matadouros pelos 'comerciantes de negros', têm
roubada a renda que lhes é devida, são separadas de seus maridos e arrancadas à força
de sua virtude e de sua prole, com certeza, em tal país, é muito natural que as mulheres
desejem saber 'por que isso acontece'."
p.58
“Por terem uma consciência tão profunda da indissociabilidade entre a luta pela libertação
negra e a luta pela libertação feminina, as irmãs nunca caíram na armadilha ideológica de
insistir que um combate era mais importante do que o outro. Elas reconheciam o caráter
dialético da relação entre as duas causas.”
"Da mesma forma que sua postura continha a promessa de uma poderosa e frutífera
aliança – unindo a população negra e as mulheres na concretização de um sonho comum
de libertação –, a análise apresentada por Sarah e Angelina Grimké foi a expressão teórica
mais emocionante e profunda dessa promessa de união."
p.62-65
Stanton era nova no ativismo político, enquanto Mott já possuía experiência nas lutas pela
inclusão de mulheres no movimento abolicionista, enfrentando a resistência dos homens,
inclusive daqueles considerados progressistas. A exclusão das mulheres na convenção de
Londres causou indignação, especialmente considerando que alguns homens, como William
Lloyd Garrison e o abolicionista negro Charles Remond, demonstraram apoio a elas.
p. 64 Contradições
Remond recusou sua cadeira na convenção para representar com honra três
associações femininas, comprometidas em seus objetivos e eficazes na ação
conjunta, mostrando que nem todos os homens apoiavam a supremacia masculina e
alguns desafiavam essa injustiça.
Ao contrário do que Stanton fala em seu relato que todos os os homens abolionistas
eram preconceituosos
Elizabeth Cady Stanton, com incentivo do pai, desafiou desde jovem o sexismo,
estudando grego, matemática e direito e participando de atividades tradicionalmente
masculinas, o que evidenciava seu compromisso com a igualdade antes mesmo de
se envolver no abolicionismo.
No entanto tudo isso se tornou em vão com o casamento e maternidade
A Convenção de Seneca Falls em 1848, liderada por Stanton, refletiu essas tensões
de classe e gênero. Stanton, uma mulher branca de classe média, viu no movimento
uma forma de lutar contra as limitações sociais que enfrentava como esposa e mãe.
p.65-67
Frederick Douglass foi crucial para defender o sufrágio feminino na Convenção de Seneca
Falls, usando sua oratória para apoiar a proposta, mesmo quando ela era controversa e
rejeitada por muitos. Após a convenção, ele publicou um editorial em North Star defendendo
direitos políticos iguais para homens e mulheres. Além disso, Douglass inseriu a questão
dos direitos das mulheres no movimento pela libertação negra, obtendo apoio nas
convenções de pessoas de cor.
A luta por direitos era, porém, limitada, ignorando a condição de mulheres negras e
trabalhadoras, que também lutavam contra a opressão,
como Charlotte Woodward e Sojourner Truth, cujo discurso "Não sou eu uma mulher?"
tornou-se emblemático na defesa da igualdade de gênero e raça.
p.67-71- A Declaração de Seneca Falls foi um marco para os direitos das mulheres,
refletindo a consciência emergente sobre sua condição no século XIX. No entanto, focava
nas demandas das mulheres brancas de classe média, ignorando a realidade das
trabalhadoras e das mulheres negras.
Enquanto as operárias lutavam contra jornadas exaustivas e péssimas condições de
trabalho, organizando greves já nos anos 1820, suas reivindicações não
encontraram espaço no movimento liderado por mulheres abastadas. Charlotte
Woodward, uma das poucas trabalhadoras a participar da convenção, buscava
melhorar suas condições de vida, simbolizando uma luta distinta. Paralelamente, a
exclusão das mulheres negras era evidente, apesar de seu histórico de resistência e
contribuições ao debate sobre igualdade.
Esse fosso entre classe e raça expôs as limitações do movimento de Seneca Falls e
o racismo persistente, inclusive entre abolicionistas. A luta das mulheres negras e
trabalhadoras por igualdade foi amplamente ignorada, apesar de algumas iniciativas
de integração e solidariedade promovidas por figuras como Frederick Douglass e as
irmãs Grimké.
p.71-75
1951 Dois anos após Seneca Falls, a primeira Convenção Nacional pelos Direitos das
Mulheres em Worcester
Truth também confrontou o racismo das líderes brancas, que tentaram impedi-la de falar.
Sua presença e insistência em reivindicar direitos igualitários destacavam que a luta das
mulheres negras era tão legítima quanto a das brancas.
p.72 "O líder dos provocadores afirmou que era ridículo que as mulheres desejassem votar,
já que não podiam sequer pular uma poça ou embarcar em uma carruagem sem a ajuda de
um homem. Com simplicidade persuasiva, Sojourner Truth apontou que ela mesma nunca
havia sido ajudada a pular poças de lama ou a subir em carruagens. 'Não sou eu uma
mulher?' Com uma voz que soava como 'o eco de um trovão', ela disse: 'Olhe para mim!
Olhe para o meu braço', e levantou a manga para revelar a 'extraordinária força muscular'
de seu braço.
“Arei a terra, plantei, enchi os celeiros, e nenhum homem podia se igualar a mim! Não sou
eu uma mulher? Eu podia trabalhar tanto e comer tanto quanto um homem – quando eu
conseguia comida – e aguentava o chicote da mesma forma! Não sou eu uma mulher? Dei
à luz treze crianças e vi a maioria ser vendida como escrava e, quando chorei em meu
sofrimento de mãe, ninguém, exceto Jesus, me ouviu! Não sou eu uma mulher?"
p.73: Quanto ao terrível pecado cometido por Eva, não era um argumento contra as
capacidades das mulheres. Ao contrário, tratava-se de uma enorme vantagem:
"Se a primeira mulher criada por Deus foi forte o suficiente para, sozinha, virar o mundo de
cabeça para baixo, estas mulheres, juntas, devem ser capazes de colocá-lo de volta no
lugar! E, agora que elas estão pedindo para fazer isso, é melhor que os homens as deixem
fazer."
76-78
“Como regra, pessoas brancas abolicionistas ou defendiam os capitalistas industriais
ou não demonstravam nenhuma consciência de identidade de classe. Essa aceitação
sem objeções do sistema econômico capitalista era evidente também no programa do
movimento pelos direitos das mulheres.
p.76 A maioria das abolicionistas via a escravidão como um problema moral que
devia ser resolvido, uma mancha no tecido da sociedade que não poderia ser
tolerada. De forma análoga, muitas defensoras dos direitos das mulheres
consideravam a supremacia masculina como uma falha ética em uma sociedade que,
em outros aspectos, parecia aceitável. Assim, essas ativistas viam a necessidade de
superar as injustiças específicas em que focavam — o racismo da escravidão ou o
sexismo da sociedade patriarcal — sem questionar profundamente as estruturas
sociais e econômicas subjacentes que as sustentavam.
p.76As líderes do movimento pelos direitos das mulheres não suspeitavam que a
escravização da população negra no Sul, a exploração econômica da mão de obra no Norte
e a opressão social das mulheres estivessem relacionadas de forma sistemática.
Embora Angelina Grimké defendesse uma visão mais radical, propondo uma aliança entre
operários, negros e mulheres. Sua visão apontava para uma luta mais abrangente pela
igualdade, que poderia ter fortalecido a campanha por direitos durante e após a guerra.
e sugerindo que as mulheres brancas deveriam priorizar sua própria luta ao lado dos
soldados negros. Em 1867, na Convenção pela Igualdade de Direitos, defende que o
voto feminino deveria preceder o dos homens negros, afirmando que as mulheres
brancas estariam mais preparadas para o sufrágio, revelando um posicionamento
elitista e racista.
PRIORIDADES DO PARTIDO REPUBLICANO E EXPECTATIVAS SUFRAGISTAS:
O Partido Republicano decide priorizar o sufrágio dos homens negros para
consolidar seu poder no Sul, decepcionando lideranças sufragistas como Stanton,
que esperavam apoio para o voto feminino.
POSIÇÃO DE FREDERICK DOUGLASS E TENSÃO RACIAL: relações
Douglass defende a urgência do sufrágio negro como medida de proteção aos ex-
escravizados. A divergência de prioridades entre igualdade racial e de gênero leva à
dissolução da Associação pela Igualdade de Direitos, expondo uma fragilidade na
aliança entre as causas.
Generalizações sobre homens negros serem mais "despóticos" que brancos eram
infundadas; posturas sexistas isoladas não justificavam frear a luta pela libertação
negra.
Frederick Douglass, apesar de, às vezes, reproduzir estereótipos de gênero sexista ,
jamais foi opressiva manteve relevante apoio aos direitos das mulheres sem
comprometer sua importância na causa.
96-104 Capitulo 5
texto explora a complexa realidade das mulheres negras nos Estados Unidos após a
emancipação da escravidão, destacando como a "liberdade" prometida pela abolição não
trouxe melhorias significativas nas condições de vida e trabalho para essa população. A
emancipação significou a transição de uma condição de escravidão formal para uma
exploração disfarçada, com muitas mulheres negras ainda presas ao trabalho agrícola,
doméstico e ao sistema de servidão por dívidas.
“Essa militante feminista estava perpetuando a mesma opressão contra a qual protestava.
Mas seu comportamento contraditório e sua insensibilidade desproporcional não são
inexplicáveis, já que as pessoas que trabalham como serviçais geralmente são vistas como
menos do que seres humanos. Inerente à dinâmica do relacionamento entre senhor e
escravo (ou senhora e empregada), disse o filósofo Hegel, é o esforço constante para
aniquilar a consciência do escravo. A balconista mencionada na conversa era uma
trabalhadora remunerada – um ser humano com um grau mínimo de independência em
relação a quem o empregava e ao próprio trabalho. A serviçal, por outro lado, trabalhava
com o único propósito de satisfazer as necessidades de sua senhora. Provavelmente
enxergando sua criada como mera extensão de si mesma, a feminista dificilmente poderia
ter consciência de seu próprio papel ativo como opressora.”
p.104-106 Angelina Grimké responsabilizava as mulheres brancas do Sul por sua omissão
diante da escravidão, enquanto o
capitulo 6
115-117
Durante a Reconstrução, muitas famílias negras sacrificavam seu conforto material para
garantir a educação de seus filhos, priorizando livros em vez de móveis básicos.
Capítulo 7
Exclusão de líderes negros: Anthony pediu a Frederick Douglass para não participar de
eventos no sul dos EUA, temendo que sua presença afastasse as mulheres brancas
sulistas. Ela também não incentivou a inclusão de mulheres negras nas associações de
sufrágio.
Aumento do racismo e supremacia branca: A última década do século XIX marcou uma
mudança no movimento sufragista, que começou a aceitar a supremacia branca como uma
estratégia para conquistar mais apoio. Discursos em convenções, como o de Belle Kearney
em 1903, defendiam que o voto feminino garantiria a supremacia branca no sul dos EUA.
Conflitos com a população negra: A postura da NAWSA e de suas líderes contribuiu para a
exclusão de questões raciais no movimento, ignorando as necessidades urgentes da
população negra, como o fim dos linchamentos e a proteção contra a segregação racial.
"Ao aprovar a resolução de 1893, as sufragistas bem que poderiam ter anunciado que se o
poder de voto fosse concedido a elas, mulheres brancas da classe média e da burguesia,
rapidamente subjugariam os três principais elementos da classe trabalhadora nos Estados
Unidos: a população negra, os imigrantes e a mão de obra branca nacional sem instrução.
Eram esses três grupos de pessoas que tinham o trabalho explorado e a vida sacrificada
pelos Morgans, Rockefellers, Mellons, Vanderbilts – a nova classe de capitalistas
monopolistas que estavam instaurando impérios industriais de modo implacável e
controlavam a mão de obra imigrante no Norte, bem como a população liberta e a mão de
obra branca pobre que operavam as novas ferrovias, mineradoras e siderúrgicas no Sul."
Na época, o contexto político dos Estados Unidos estava marcado pela expansão
imperialista em lugares como Cuba e as Filipinas, justificando essa presença externa como
um esforço de "civilização" e promoção da democracia. O New York Herald relatou, em 12
de novembro de 1898, não apenas a situação em Cuba, mas também os conflitos raciais
internos, como o massacre em Wilmington e outros distúrbios na Carolina do Sul. A cidade
de Wilmington, onde o massacre ocorreu, era vista como um exemplo de democracia racial
e governança local no Sul dos Estados Unidos, e isso contrastava com a hipocrisia das
ações dos Estados Unidos no exterior, especialmente em suas colônias.
Imperialismo ( lenin) p.24 “Em consequência disso, com toda a força de sua ira,
Anthony apresentou a exigência “de que o voto seja concedido às mulheres de
nossas novas possessões em termos idênticos aos dos homens”. Como se as
mulheres do Havaí e de Porto Rico devessem exigir o direito de serem vitimizadas
pelo imperialismo dos Estados Unidos em condições de igualdade com seus
companheiros.”
p.126
capitulo 8
O movimento associativo das mulheres negras nos EUA enfrentou desafios significativos de
racismo e exclusão. Em 1900, a General Federation of Women’s Clubs (GFWC) rejeitou a
inclusão de uma delegada negra, Josephine St. Pierre Ruffin, que representava uma
associação de mulheres negras, apesar de já ter sido admitida previamente. O episódio
evidenciou a segregação racial no movimento. Em resposta a esse e outros casos de
discriminação, mulheres negras, lideradas por figuras como Ida B. Wells e Mary Church
Terrell, organizaram-se em encontros e associações, focando na luta contra o linchamento
e o racismo.
O movimento associativo das mulheres negras tinha raízes no período pré-Guerra Civil,
com foco na abolição e na sobrevivência de sua comunidade, diferente das preocupações
das mulheres brancas de classe média. Wells, uma figura central, usou sua voz e esforços
jornalísticos para combater linchamentos e promover campanhas de solidariedade. Terrell,
por outro lado, destacou-se pelo uso da oratória e da persuasão para defender a igualdade
racial e o sufrágio feminino. Embora tivessem divergências pessoais, ambas foram
essenciais para fortalecer o movimento associativo e a resistência das mulheres negras nos
Estados Unidos.
Capitulo 9
p.145"Ela [Susan B. Anthony] não conseguiu perceber que tanto as mulheres da classe
trabalhadora quanto as mulheres negras estavam fundamentalmente unidas a seus
companheiros pela exploração de classe e pela opressão racista, que não faziam
discriminação de sexo. Embora o comportamento sexista de seus companheiros
precisasse, sem dúvida, ser contestado, o inimigo real – o inimigo comum – era o patrão, o
capitalista ou quem quer que fosse responsável pelos salários miseráveis, pelas
insuportáveis condições de trabalho e pela discriminação racista e sexista no trabalho."
p.149
● Segunda metade do século XIX e início do século XX: Lucy Parsons e Ella Reeve
Bloor surgem como representantes de uma esquerda que nasce dos levantes
operários, enfrentando a repressão das grandes indústrias e a violência policial
contra sindicatos. Esse contexto envolve a expansão do capitalismo industrial nos
EUA, a luta dos trabalhadores por direitos básicos e o surgimento do anarquismo e
do comunismo como alternativas políticas. Parsons, com sua visão de que a luta de
classes era o eixo central, atuou em um cenário de crescente industrialização e
desigualdade social, enquanto Bloor já reconhecia a importância de integrar a luta
contra o racismo à emancipação operária.
● Início do século XX e os anos entre-guerras: Anita Whitney se posiciona num
contexto em que o sufrágio feminino era uma questão central e onde as tensões
raciais e de classe se intensificavam nos Estados Unidos, especialmente no período
das incursões anticomunistas de 1919. Sua militância pelo comunismo e pelos
direitos civis mostra uma tentativa de conectar a luta pela igualdade racial com a luta
de classes em um momento de forte repressão estatal.
● Anos 1940-1960 (Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria): Claudia Jones é a figura
que melhor sintetiza a interseção entre raça, gênero e classe em um contexto de luta
contra o racismo institucionalizado nos Estados Unidos e de perseguição
anticomunista durante a Guerra Fria. Sua atuação se deu em um momento em que o
Partido Comunista buscava redefinir suas estratégias para lidar com as questões
raciais nos Estados Unidos, especialmente considerando a dinâmica dos
movimentos de direitos civis que emergiam no país.
capitulo 12
Em seu impressionante estudo sobre estupro, Susan Brownmiller alega que a opressão
histórica dos homens negros afastou deles muitas das manifestações 'legítimas' da
supremacia masculina. Como consequência, eles têm de recorrer a atos de violência sexual
explícita. Em seu retrato da 'população dos guetos', Brownmiller insiste que 'as salas de
jantar dos executivos de grandes empresas e as escaladas do monte Everest não são
geralmente acessíveis àqueles que formam a subcultura da violência. O acesso ao corpo
feminino – pela força – está ao seu alcance'."p.176
Na pior das hipóteses, é uma agressão contra o povo negro como um todo, pois o
estuprador mítico implica a prostituta mítica."p186
p.192
“Homens da classe trabalhadora, seja qual for sua etnia, podem ser motivados a
estuprar pela crença de que sua masculinidade lhes concede o privilégio de dominar
as mulheres. Ainda assim, como eles não possuem a autoridade social ou econômica
– exceto quando um homem branco estupra uma mulher de minorias étnicas – que
garanta imunidade a processos judiciais, o incentivo não é nem de perto tão
poderoso quanto o é para os homens da classe capitalista. Quando homens da
classe trabalhadora aceitam o convite ao estupro que lhes é estendido pela ideologia
da supremacia masculina, eles estão aceitando um suborno, uma compensação
ilusória à sua falta de poder.
capitulo 12
Davis aponta que o controle de natalidade foi, por vezes, associado à ideia de que mulheres
pobres e racialmente oprimidas deveriam reduzir suas taxas de natalidade como forma de
conter o crescimento populacional "indesejado". A prática de esterilização forçada, comum
entre mulheres negras, indígenas e latinas, exemplifica essa política racista. Nos anos
1970, programas financiados pelo governo dos Estados Unidos realizaram esterilizações
em massa, frequentemente sem o consentimento adequado das mulheres. Casos como o
das irmãs Relf, adolescentes negras esterilizadas involuntariamente, destacam as violações
dos direitos reprodutivos dessas comunidades.
Além de ressaltar o aspecto racista da campanha pelo controle de natalidade, Davis critica a
postura de algumas feministas brancas da década de 1970, que ignoraram a complexidade
da resistência de mulheres racialmente oprimidas ao controle de natalidade, muitas vezes
visto como uma forma de genocídio. A autora argumenta que, para que o movimento
feminista contemporâneo tivesse mais efetividade, deveria ter condenado energicamente as
práticas de esterilização forçada e adotado uma abordagem mais inclusiva aos direitos
reprodutivos de todas as mulheres, especialmente aquelas mais vulneráveis.
Por fim, Angela Davis sugere que a luta por direitos reprodutivos não pode ser dissociada
das condições sociais e econômicas das mulheres. Enquanto as mulheres brancas de
classe média buscavam o controle de natalidade como forma de empoderamento, muitas
mulheres negras e latinas recorriam a abortos e lutavam por melhores condições de vida
para que pudessem escolher a maternidade em um contexto mais digno. Assim, Davis
defende uma abordagem que combata tanto o racismo quanto a exploração de classe no
debate sobre os direitos reprodutivos.
capitulo 13
A crítica central é que, mesmo que essas tarefas fossem divididas igualmente, elas
permaneceriam opressivas por natureza. A solução proposta envolve a socialização e
industrialização dessas tarefas, tornando-as parte da economia industrial com serviços
prestados por equipes especializadas. Entretanto, isso esbarra nas limitações do
capitalismo, que prioriza lucros e é contrário a iniciativas que envolvem amplos subsídios,
como a socialização das tarefas domésticas.
3 momentos da luta pelo direito das mulegres : abolição e recostraução ( união) , Era Jim
Crow e imperialista