Âgela Davis e Dialética

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Referência Bibliográfica-

● DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Tradução de Heci Regina Candiani.


São Paulo: Boitempo, (1981)2016.-

● Uma das mulheres mais influentes e icônicas e temidas do século xx.


1. Biografia de Angela Davis

Angela Yvonne Davis-

Data de Nascimento: 26 de janeiro de 1944

Contexto

Guerra fria e imperialismo e luta anticolonial ( negros tinham uma situação


semelhantes)

Local de nascimento: Birmingham, Alabama, Estados Unidos. Palco de


segregação e violência racial.

Presenciou o atentado à igreja que matou 4 de suas amigas. Dynamite Hill

Família de intelectuais e ativistas da causa.

Boa Educação:

● Bacharelado em Línguas ( Francês) pela Universidade de Brandeis (1965)


● Mestrado em Filosofia pela Universidade da Califórnia, San Diego.
● Doutorado em filosofia Escola de Frankfurt, na Universidade de Frankfurt

Ativismo Político:

● Tornou-se membro do Partido Comunista dos Estados Unidos e do


movimento Panteras Negras, na década de 1960.
● Envolvida em movimentos de direitos humanos, e luta pelos direitos das
mulheres, igualdade racial e contra o sistema prisional dos EUA.

Acusação e Prisão: Em 1970, foi acusada de cumplicidade em um sequestro e


assassinato relacionado a uma tentativa de fuga na prisão. A acusação gerou
uma campanha global de "Free Angela Davis". Ela foi absolvida de todas as
acusações em 1972.

Carreira Acadêmica:

● Professora em várias universidades, incluindo a Universidade da Califórnia,


Santa Cruz, onde lecionou sobre Estudos da Consciência e Estudos
Feministas.
● Escreveu livros influentes sobre feminismo, racismo e sistema prisional, Are
Prisons Obsolete? (2003).
● Apresentação: biografia
● Diálogos e apropriações teóricas, síntese dos capítulos, a apresentacão mais
detalhada.

Obra e Ideologia:

● Defensora do feminismo interseccional, abordando as intersecções entre


raça, classe e gênero.
● Crítica do sistema de encarceramento em massa nos EUA e defensora da
abolição das prisões.
● Ativista pelos direitos LGBTQIA+.

3. Interseccionalidade: convergências e divergência de interesses


a partir de poderes se curzam de grupos sociais ou categorias de
análise.

● A. Conceito Atual
- A interseccionalidade é uma abordagem analítica que examina como
diferentes formas de opressão, como raça, gênero, classe,orientação se
sobrepõem e se inter-relacionam, criando experiências únicas de
discriminação e privilégio.

2. Intersecções que servem Formação da Identidade


- Na teoria da interseccionalidade, o self (ou identidade) é formado a partir
das múltiplas intersecções entre aspectos como raça, gênero, classe e
sexualidade.

- Essas intersecções influenciam como uma pessoa vivencia a sociedade e é


percebida por ela.

A partir das normatividades (geralmente etnocêntricas ) se criam


hierarquizações. Regimes disciplinares

● B. Perspectiva Interacionista ( jogos de poder e campos de força,


Foucault )
- A ideologia do "fair play" (jogo justo) serve para ocultar desigualdades
significativas de poder.
- "Esse caso evidencia que as relações de poder interseccionais precisam
ser analisadas a partir de interseções específicas – como racismo e sexismo,
ou capitalismo e heterossexismo – e também em relação a diferentes
domínios de poder: estrutural, disciplinar, cultural e interpessoal". (COLLINS,
Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo, 2021,
p. 46)

3. O Papel do Estado
- O Estado é visto como um agente que institucionaliza diversas formas de
opressão.

- Problema da fundamentação pelo discurso: as relações não são originadas


na história,pela produção e reprodução das formas de vida, mas pela
diferença de olhar e imposições de discurso sobre o outro. Não são estáticos

dialética, a realidade social trás em si, o embrião para sua própria transformação.

p.47-48 feita por um professor de sociologia à ideia de que haveria um "método


dialético" fixo em Marx. Segundo o professor, ao ler obras como O capital, O
Dezoito Brumário, O Manifesto Comunista e As Lutas de Classe na França,
percebe-se que Marx utiliza diferentes abordagens metodológicas, o que, para ele,
indicaria a ausência de um método único, fazendo da dialética um "mito" criado
pelos marxistas. Essa visão, de cunho positivista, busca um método claramente
definido e universal, uma espécie de chave que se aplicaria a qualquer objeto de
estudo. No entanto, essa crítica desconsidera o que é fundamental na dialética: a
centralidade do objeto.

A dialética, conforme a concepção de Hegel, é descrita como a "lógica do


conteúdo", o que significa que os procedimentos metodológicos se adaptam ao
objeto estudado, ao invés de seguir regras formais rígidas. Em outras palavras, o
método dialético não é algo pré-determinado, mas sim um caminho que se ajusta às
características e ao movimento próprio do objeto. Para Marx, como seguidor do
materialismo de Hegel, o pensamento deve ser "plástico", ou seja, flexível em
relação ao objeto para capturar seu movimento interno.

Marx explicita essa ideia nos Grundrisse, onde defende que as categorias de
análise não são invenções do intelecto, mas sim reflexos das "formas de ser" dos
próprios objetos, que a consciência reproduz conceitualmente. A crítica maior,
então, é direcionada à tendência de alguns pesquisadores em criar objetos de
estudo artificiais, construções que não refletem a realidade do que é investigado.
Esse "epistemologismo" acaba por distorcer a realidade, ao aplicar categorias pré-
definidas que não emergem do próprio objeto, mas sim de uma abordagem
intelectualista que se distancia da complexidade da vida concreta.
FREDERICO, C. Interview. In: AMORIM, H. (ed.). Trabalho (imaterial), valor e
classes sociais: diálogos com pesquisadores contemporâneos [online]. São Carlos:
EdUFSCar, 2017. p. 45-62. ISBN 978-65-80216-18-5.

. Davis faz isso;

Diferente da abordagem inicial, ele busca superar a tradicional separação


entre o pesquisador e o objeto estudado, utilizando um grupo específico de
trabalhadores como mediadores: os militantes da oposição sindical. “Esse
grupo, formado pelos militantes da oposição sindical, era “parte” do objeto e
atuava politicamente para desenvolver a consciência dos demais
trabalhadores s de consciência dos demais operários em seu cotidiano. A
pesquisa, assim, assume um caráter coletivo” , em que as observações dos
militantes enriquecem o processo analítico do pesquisador. Diferentemente
de estudos que se baseiam em análises estatísticas focadas nas percepções
mais comuns dos operários, o autor privilegia a visão dos militantes que
possuem um desenvolvimento maior da consciência operária,
proporcionando um entendimento mais profundo das dinâmicas do ambiente
de trabalho.

p.48O autor explica que sua pesquisa sobre a consciência de classe operária
se diferenciou das abordagens tradicionais ao focar em "operários
avançados" como mediadores. Em vez de utilizar métodos estatísticos que
buscam identificar padrões comuns ou construir uma média entre diferentes
níveis de consciência, ele optou por entrevistar trabalhadores que possuíam
um desenvolvimento mais elevado de consciência política. Esses operários
eram considerados típicos, não porque representavam a maioria, mas porque
refletiam de forma mais clara as possibilidades de consciência dentro da
classe operária. A partir dessas entrevistas, o autor buscou entender melhor
o comportamento e a percepção dos demais trabalhadores, transformando a
pesquisa em um processo coletivo de análise. Assim, ele procurou superar a
visão simplificada e estatística da realidade operária, valorizando as
experiências mais avançadas como chave para compreender a dinâmica da
consciência de classe.” Esses “operários avançados” eram – para o estudo
da consciência de classe – operários típicos. Procurei, assim, trabalhar com a
categoria dialética da tipicidade.”

● 4. Epistemologia Marxista- Algumas observações


● A. Subjetividade X Objetividade. Defende uma objetividade a partir das
formas de produção e reprodução da vida e suas contradições, tendo o
trabalho como categoria central. O pensamento ( objeto sensível) como
inerente ao processo de trabalho, também
● Dialética entre o particular (experiência) e o universal (conjunto das relações
sociais).
● Leva a B. Percepção das Contradições
- A ideia de que a percepção das contradições surge de experiências e
práticas particulares e sua especificidades do ser social confrontadas
com a leitura das relações em seu conjunto: a produção.

● Especialmente relevante para as mulheres negras, que enfrentam profundos


processos de violência em decorrência da exploração do trabalho, além de
opressões de gênero e classe.
● - A dialética é imanente à história, sendo realizada nela. Quanto mais a
exploração se aprofunda, mais potencial é oferecido para uma práxis
(negação) que visa à superação das contradições. Mais convergências
( consciência de lutas em comum).
● . Leva a C Potencial para Transformação Social

● Está vivo ;

a) Esse olhar possibilita uma compreensão do aprofundamento das


contradições sociais.
b) Na ação política, as lealdades (ex.: raça, gênero e classe) se manifestam
por das demandas, como a sobrevivência.
Ex: mulheres negras que não se associavam das sufragistas.

● D. Trabalho e Humanidade e corpo


- O trabalho não é visto como uma forma de poder, mas como o meio pelo
qual o ser humano transforma a natureza ( física e mental) e a si mesmo,
produzindo suas próprias condições de existência.
● p.20
- "Embora seja pouco provável que essas mulheres estivessem expressando
orgulho pelo trabalho realizado sob a constante ameaça do açoite, elas
deviam ter consciência de seu enorme poder – sua capacidade de produzir e
criar. Como diz Marx, 'o trabalho é o fogo vivo, conformador; a transitoriedade
das coisas, sua temporalidade, como sua conformação pelo tempo vivo'."

- A base ontológica é o trabalho, que fundamenta todos os outros fatores nas


relações históricas . A reprodução da vida real tem o trabalho como sua base
essencial.

● E. Alienação e Superação
- A alienação do produto do trabalho (capacidade de produzir a si mesmo),
junto à ideologia racista e sexista (negação da humanidade), pode ser
superada por uma forma de humanidade superior, expressa por meio da
ação política, teoria e luta.
● Paralelo com Thompson
- Thompson destacou

● as características de classe presentes desde as origens das lutas sociais.

● Capítulo 1: Desumanização das mulheres negras na escravidão; resistência


e diferença em relação às mulheres brancas.
● Capítulo 2: Conexão entre a luta abolicionista e o feminismo branco; início do
movimento sufragista.
● Capítulos 3, 4 e 7: Racismo e disputas internas no movimento sufragista;
priorização do voto das mulheres brancas.
● Capítulo 5: Trabalho doméstico das mulheres negras no pós-abolição e o
sistema carcerário.
● Capítulo 6: Mobilização negra pela educação.
● Capítulos 8 e 9: Lideranças negras e suas contribuições ao feminismo e
antirracismo.
● Capítulo 10: Participação de mulheres negras e brancas no movimento
comunista.
● Capítulo 11: Desconstrução do mito do homem negro estuprador; violência
racial.
● Capítulo 12: Esterilização forçada e direitos reprodutivos das mulheres
negras.
● Capítulo 13: Trabalho doméstico e sua relação com a reprodução do capital.

“As organizações de esquerda têm argumentado dentro de uma visão marxista e ortodoxa
que a classe é a coisa mais importante. Claro que classe é importante. É preciso
compreender que classe informa a raça. Mas raça, também, informa a classe. E gênero
informa a classe. Raça é a maneira como a classe é. Da mesma forma que gênero é a
maneira como a raça é vivida. A gente precisa refletir bastante para perceber as
intersecções entre raça, classe e gênero, de forma a perceber que entre essas categorias
existem relações que são mútuas e outras que são cruzadas. Ninguém pode assumir a
primazia de uma categoria sobre as outras.”p.20

Aprofundamento:

1. Davis propõe que "classe informa a raça", ou seja, que a posição econômica de um
grupo social pode influenciar a maneira como esse grupo é racializado e tratado na
sociedade. Por exemplo, a classe trabalhadora pode ser racializada de maneiras
específicas que reforçam sua exploração econômica.Ver trabalho terceirizado

2. No entanto, ela também destaca que "raça informa a classe". Sabemos a classe
social de uma pessoa, às vezes, pela cor. Diria mais: no Brasil é impossível pensar
classe sem raça; pois, por exemplo, a Lei de Terras de 1850 excluiu populações
negras da possibilidade de acesso à terra, perpetuando desigualdades raciais e
econômicas.

3. “Gênero informa a classe” refere-se à maneira como as experiências de classe (e de


raça) variam de acordo com o gênero. Um exemplo disso é o trabalho na lavoura,
onde mulheres trabalhavam de forma similar aos homens, enquanto o trabalho
doméstico e reprodutivo não remunerado e a violência sexual se impunham de
maneira diferenciada às mulheres.

Capítulo 1:

Desumanização das mulheres negras na escravidão; resistência e diferença em


relação às mulheres brancas.

“Proporcionalmente, as mulheres negras sempre trabalharam mais fora de casa do que


suas irmãs brancas. O enorme espaço que o trabalho ocupa hoje na vida das mulheres
negras reproduz um padrão estabelecido durante os primeiros anos da escravidão. Como
escravas, essas mulheres tinham todos os outros aspectos de sua existência ofuscados
pelo trabalho compulsório. Aparentemente, portanto, o ponto de partida de qualquer
exploração da vida das mulheres negras na escravidão seria uma avaliação de seu papel
como trabalhadoras.” (DAVIS, 2016, p. 24).

“No que dizia respeito ao trabalho, a força e a produtividade sob a ameaça do açoite eram
mais relevantes do que questões relativas ao sexo. Nesse sentido, a opressão das
mulheres era idêntica à dos homens.” (DAVIS, 2016, p. 25).

“Mas as mulheres também sofriam de forma diferente, porque eram vítimas de abuso sexual
e outros maus-tratos bárbaros que só poderiam ser infligidos a elas. A postura dos senhores
em relação às escravas era regida pela conveniência: quando era lucrativo explorá-las
como se fossem homens, eram vistas como desprovidas de gênero; mas, quando podiam
ser exploradas, punidas e reprimidas de modos cabíveis apenas às mulheres, elas eram
reduzidas exclusivamente à sua condição de fêmeas.” (DAVIS, 2016, p. 25).

● Trabalho reprodutivo não remunerado:

Com a abolição do tráfico internacional de escravos, a classe proprietária passou a valorizar


a capacidade reprodutiva das escravas como forma de garantir a ampliação da mão de
obra. As mulheres negras eram avaliadas principalmente por sua fertilidade, sendo vistas
como "reprodutoras" que asseguravam a continuidade do trabalho escravo. A ideologia da
maternidade do século XIX não se aplicava a elas, pois eram tratadas como instrumentos
de reprodução e não como mães.p.25-26

● p.26 Castigos:

O estupro, na verdade, era uma expressão ostensiva do domínio econômico do proprietário


e do controle do feitor sobre as mulheres negras na condição de trabalhadoras.
Uma vez que eram primeiro trabalhadoras, a mulher só tinha gênero no momento da
subjugação para reprodução econômica.

p.26 Proprietários e feitores flexibilizavam suas atitudes sexistas quando isso facilitava a
repressão, enquanto o sistema escravista minava a supremacia masculina entre os homens
negros, já que todos, independentemente de gênero, estavam sujeitos à autoridade dos
feitores. Homens, mulheres e crianças eram obrigados a trabalhar lado a lado nas
plantações, sendo vistos como “provedores” pela classe proprietária, sem a distinção de
papéis de gênero comuns na sociedade da época.

p.28: Nas lavouras e fazendas onde as grávidas eram tratadas com mais indulgência, isso
raramente se devia a razões humanitárias. Simplesmente, os proprietários valorizavam uma
criança escrava nascida com vida do mesmo modo que valorizavam bezerros ou potros
recém-nascidos.
29-Mulheres escravizadas realizavam trabalhos pesados, como nas minas, construção de
canais e ferrovias, muitas vezes substituindo animais de carga. Essa exploração lembra a
descrição de Marx sobre o uso de mulheres na Inglaterra, onde eram preferidas a cavalos
devido ao menor custo de manutenção.

● classes em sua autoformação p.29:

Apesar de algumas mulheres sofrerem, a maioria sobreviveu, desenvolvendo características


que desafiavam os estereótipos de feminilidade do século XIX. Um viajante descreveu
mulheres escravas no Mississippi, fortes e altivas, marchando como soldados após o
trabalho. Corpo ( dimensão histórica do corpo, e não moldada pelo discurso)

Embora seja pouco provável que essas mulheres estivessem expressando orgulho pelo
trabalho realizado sob a constante ameaça do açoite, elas deviam ter consciência de seu
enorme poder – sua capacidade de produzir e criar. Como diz Marx, “o trabalho é o fogo
vivo, conformador; a transitoriedade das coisas, sua temporalidade, como sua conformação
pelo tempo vivo.

1- consciência de classe
2- o que funda a história humana, a própria temporalidade- na visão de davis as mulheres
em sua experiência de negras, na condição de escravizadas e trabalhadoras produtivas, a
traz uma potencialidade universal da derrubada do capitalismo.

o que a noção dela de agência diverge da perspectiva de agência liberal.

Converge com as ideias de E.P. Thompson sobre a formação de classe, particularmente a


"autoconstituição" das classes. Thompson argumenta que as classes não são apenas
definidas por condições econômicas e de trabalho, mas se formam através das experiências
e da consciência desenvolvidas a partir dessas condições.

● Acentuação na divisão do Trabalho:

p.29-30: a divisão da esfera da produção e reprodução, tem seu auge no período de


expansão do capitalismo industrial.Essa transformação acompanha uma revalorização da
produção, eliminando o reconhecimento da importância das tarefas que não tivessem valor
no mercado.
A industrialização nos EUA pós-Guerra Civil desvalorizou o trabalho produtivo de mulheres
brancas, tornando obsoletas suas atividades domésticas como fiar e fabricar velas. “A
ideologia da feminilidade -subideologia da feminilização”- as restringiu ao lar, separando-
as da economia produtiva e reforçando sua inferioridade, associando "mulher" a "mãe" e
"dona de casa", “marca fatal de sua inforiodade” . Em contraste, as mulheres negras
escravizadas não foram afetadas por essa ideologia, pois os arranjos da escravidão
contradiziam os papéis sexuais impostos pela sociedade branca.

● p.30-31- Família

A visão de que a escravidão destruiu a família negra, consolidando uma estrutura


matriarcal, foi amplamente difundida, especialmente pelo Relatório Moynihan de 1965, que
associava a ausência de autoridade masculina aos problemas da comunidade negra e
defendia que essas famílias deveriam ser chefiadas por homens para se alinhar ao restante
da sociedade. Essa tese, apoiada por sociólogos como Lee Rainwater e fundamentada nos
estudos de E. Franklin Frazier dos anos 1930, afirmava que a escravidão havia imposto a
chefia feminina. Em contrapartida, Herbert Gutman, em 1976, apresentou uma visão
alternativa, demonstrando que, apesar das separações forçadas e das dificuldades, as
famílias escravizadas mantiveram laços afetivos e tentaram preservar suas estruturas,
desafiando a narrativa da desintegração familiar.

p.31-32

Os proprietários de escravos definiam a família negra como matrilocal, registrando apenas a


mãe nos documentos de nascimento e aplicando o princípio do partus sequitur ventrem, que
vinculava a condição de escravo à mãe. Muitos estudos assumiram que essa imposição
resultou em famílias matriarcais entre escravos. O Relatório Moynihan (1965) reforçou essa
ideia, atribuindo problemas sociais da comunidade negra à ausência de autoridade
masculina, sugerindo a necessidade de liderança masculina nas famílias. E. Franklin
Frazier, nos anos 1930, já havia abordado essa ideia, mas subestimou a resistência e
autonomia das famílias negras. Em 1976, Herbert Gutman desafiou essa visão,
demonstrando que, apesar das separações forçadas, as famílias escravizadas preservaram
laços afetivos e normas culturais, e que seus arranjos familiares diferiam dos padrões
impostos pelos senhores.

p.33

Segundo Elkins, o uso sistemático do termo “meninos” para se referir aos escravos revelava
a incapacidade dos senhores de exercer funções paternas. Kenneth Stampp reforçou essa
visão ao afirmar que a família escrava era matriarcal, pois o papel da mãe superava o do
pai, com a mulher assumindo responsabilidades como cuidar da casa, preparar comida e
criar os filhos. O marido, muitas vezes, era visto como uma extensão da esposa, sua
propriedade.

Entretanto, embora a vida doméstica fosse central para a comunidade escrava, as mulheres
negras não eram subordinadas aos homens em função de suas atividades domésticas,
como ocorria com as mulheres brancas. O trabalho doméstico, era o único trabalho que
servia diretamente à comunidade escrava e não ao opressor, conferindo às mulheres
negras um grau de autonomia e centralidade. Apesar da opressão de gênero, as mulheres
negras desempenhavam um papel vital na sobrevivência e na coesão da comunidade,
sendo essenciais tanto para os homens quanto para a estrutura social como um todo. A
noção de que essas mulheres dominavam os homens distorce a realidade, pois sua
importância vinha da contribuição mútua para a sobrevivência coletiva, e não de uma
supremacia sobre os homens.

p.33-34 trabalho reprodutivo não remuneraso


O trabalho doméstico na escravidão, essencial para homens e mulheres, não era
exclusivamente feminino. Homens e mulheres realizavam tarefas complementares, como as
mulheres cozinhando e os homens caçando, sem hierarquia entre suas funções. A divisão
de tarefas não era rígida, permitindo trocas de papeis.( formação de solidariedades,
cooperaçao diferente da leitura do poder.)

Esse contexto gerava uma igualdade sexual nas relações, transformando a opressão em
uma forma de igualitarismo na vida comunitária. Eugene Genovese, em A Terra Prometida,
reconhece que, ao contrário da ideia de supremacia feminina, a vida doméstica escrava
permitia um maior equilíbrio entre os sexos. As mulheres defendiam seus companheiros,
conscientes de que sua desvalorização afetava toda a comunidade, desejando modelos
masculinos fortes para seus filhos.
p. 35 Mulheres que defendiam a comunidade, lutavam igual aos homens. dimensão
do corpo como mecanismo necessário para a revolução.
“Assim como Harriet Tubman, muitas mulheres fugiram da escravidão indo para o Norte.
Várias tiveram sucesso, mas a maioria foi capturada.
Uma das tentativas mais dramáticas envolveu uma jovem – possivelmente adolescente –
chamada Ann Wood, que comandou um grande grupo de meninas e meninos que fugiram
empunhando armas. Depois de escapar na véspera de Natal, em 1855, o grupo se
envolveu em uma troca de tiros com captores de escravos. Dois jovens foram mortos, mas
os demais, de acordo com todas as indicações, conseguiram chegar ao seu destino."

p.37 Harriet Tubman


Nenhuma discussão sobre o papel das mulheres na resistência à escravidão estaria
completa sem um tributo a Harriet Tubman por seu extraordinário ato de coragem ao
conduzir mais de trezentas pessoas[60] pelas rotas da chamada Underground Railroad[d].
No início, ela teve uma vida típica de mulher escrava. Trabalhando na lavoura em Maryland,
percebeu, por meio de seu trabalho, que seu potencial como mulher era o mesmo de
qualquer homem. Aprendeu com o pai a cortar árvores e abrir trilhas e, enquanto
trabalhavam lado a lado, ele lhe transmitiu conhecimentos que mais tarde se mostraram
indispensáveis nas dezenove viagens de ida e volta que ela realizaria ao Sul. Ele a ensinou
a caminhar silenciosamente pela mata e a localizar plantas, ervas e raízes que serviriam de
alimento e remédio."

“ainda hoje detém o mérito de ter sido a única mulher nos Estados Unidos a liderar tropas
em uma batalha”.

Vale repetir:

as mulheres negras eram iguais a seus companheiros na opressão que sofriam; eram
socialmente iguais a eles no interior da comunidade escrava; e resistiam à escravidão com
o mesmo ardor que eles.Essa era uma das grandes ironias do sistema escravagista: por
meio da submissão das mulheres à exploração mais cruel possível, exploração esta que
não fazia distinção de sexo, criavam-se as bases sobre as quais as mulheres negras não
apenas afirmavam sua condição de igualdade em suas relações sociais, como também
expressavam essa igualdade em atos de resistência. Essa deve ter sido uma terrível
descoberta para os proprietários de escravos, pois aparentemente eles tentavam quebrar
essa cadeia de igualdade por meio da repressão particularmente brutal que reservavam às
mulheres.
p. 38 Por isso o estrupro era especialmente destinado às mulheres:

O estupro durante a escravidão não se tratava de mero desejo sexual dos homens brancos,
mas de uma arma de dominação e repressão para suprimir a resistência das escravas e
desmoralizar seus companheiros. Similar ao uso do estupro como tática de terror político na
Guerra do Vietnã, onde era incentivado pelo comando militar, o objetivo era submeter
mulheres que desempenhavam papéis importantes na resistência, usando a violência como
forma de controle e intimidação.

“fariam com que elas se lembrassem de sua essencial e inalterável condição de fêmeas. Na
visão baseada na ideia de supremacia masculina característica do período, isso significava
passividade, aquiescência e fraqueza”.

● estupro vs miscigenação:

p. 38- 38 As narrativas de escravos do século XIX frequentemente relatam a violência


sexual sofrida por mulheres escravizadas, mas o tema tem sido minimizado na historiografia
tradicional, que muitas vezes romantiza essas relações como “miscigenação”. Genovese,
por exemplo, sugere que o problema estava mais nos tabus sobre a miscigenação do que
no estupro em si, alegando que alguns senhores acabaram desenvolvendo afeto pelas
escravas. Ele interpreta essas relações sob uma ótica paternalista, sem considerar o
contexto de poder que dava aos homens brancos acesso irrestrito ao corpo das mulheres
negras. E. Franklin Frazier também vê a miscigenação como um "triunfo cultural", mas
reconhece a resistência das mulheres, que muitas vezes enfrentaram a violência e lutaram
contra a submissão. Exemplos como o romance Corregidora, de Gayl Jones, ressaltam a
necessidade de preservar a memória dos crimes sexuais cometidos durante a escravidão.

38-38-40-41- Denúncias e Ideologia da Maternidade.

As abolicionistas brancas denunciavam os abusos, mas frequentemente não compreendiam


a complexidade da experiência das mulheres negras. Obras como A Cabana do Pai Tomás,
de Harriet Beecher Stowe, romantizam a figura materna, representando as mulheres negras
como versões idealizadas da maternidade cristã, ignorando a resistência genuína das mães
escravizadas contra a opressão.
p.41 “A origem de sua força não era um poder místico vinculado à maternidade, e sim suas
experiências concretas como escravas. Algumas delas, como Margaret Garner, preferiram
matar suas filhas para não testemunhar sua chegada à vida adulta sob a brutal
circunstância da escravidão”.

Radical imagination, experiência, Walter Benjamin

“"Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo 'como ele de fato foi'. Significa
apropriar-se de uma reminiscência tal como ela lampeja no momento de um perigo." (Teses
sobre o conceito de história, tese VI)

“Foram essas mulheres que transmitiram para suas descendentes do sexo feminino,
nominalmente livres, um legado de trabalho duro, perseverança e autossuficiência, um
legado de tenacidade, resistência e insistência na igualdade sexual – em resumo, um
legado que explicita os parâmetros para uma nova condição da mulher.

“A atuação literária significativa só pode instituir-se em rigorosa alternância de agir e


escrever; tem de cultivar as formas modestas, que correspondem melhor a sua influência
em comunidades ativas que o pretencioso gesto do livro, [isto é,] em folhas volantes,
brochuras, artigos de jornal e cartazes. Só a linguagem de prontidão mostra-se atuante à
altura do momento.”

BENJAMIN, Walter. O autor como produtor. In: _____. Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. 7. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1994. p. 121-139.

Davis em uma conferência de 2005:


O mundo está cheio de pessoas que não têm medo de sonhar com a possibilidade de um
mundo melhor. Elas dizem que é possível uma ordem econômica democrática, não
exploradora, não racista. Dizem que são possíveis novas relações sociais que liguem os
seres humanos ao redor do globo, não pelas mercadorias que alguns produzem e outros
consomem, mas pela igualdade e solidariedade e cooperação e respeito. (Apud KELLEY,
2012, p. 16, tradução nossa).

liberdade é um movimento de vir a serca


emncipação - abolicionismo penal
“Nosso movimento de mulheres é um movimento de mulheres no sentido de que é
conduzido e dirigido por mulheres pelo bem de mulheres e homens, pelo benefício de toda
a humanidade, que é maior do que qualquer uma de suas ramificações ou divisões. Nós
queremos, nós pedimos o interesse ativo de nossos companheiros e, além disso, não
estabelecemos limites de cor.” (LERNER apud DAVIS, 2017, p. 15-16).
LERNER, Gerda apud DAVIS, Angela Y. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo,
2017. p. 15-16.

LERNER, Gerda apud DAVIS, Angela Y. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo,
2017. p. 15-16.

“um movimento de mulheres revolucionário e multirracial, que aborde com seriedade as


principais questões que afetam as mulheres pobres e trabalhadoras e ” (ibid., p. 18).

Capítulo 2:MOVIMENTO ANTIESCRAVAGISTA E A ORIGEM DOS DIREITOS DAS


MULHERES

nos mostra, ainda, que a linguagem antirracista foi fundamental para dar base para a luta
feminista.

p.49: Quando a verdadeira história da causa antiescravagista for escrita, as mulheres


ocuparão um vasto espaço em suas páginas; porque a causa das pessoas escravas tem
sido particularmente uma causa das mulheres." — Frederick Douglass

“Frederick Douglass, o mais importante abolicionista negro dos Estados Unidos, foi também
o homem de maior destaque na causa da emancipação feminina em sua época. Por apoiar
integralmente o controverso movimento das mulheres, com frequência era ridicularizado em
público. A maioria dos homens de então, ao ter a virilidade contestada, teria
automaticamente se levantado em defesa de sua masculinidade. Mas Douglass assumiu
uma postura antissexista admirável, declarando não se sentir diminuído pelo rótulo de 'o
homem dos direitos das mulheres'. [...] Fico feliz em dizer que nunca tive vergonha de ser
chamado dessa maneira. Sua atitude em relação aos detratores pode ter sido inspirada no
conhecimento de que um dos métodos de afastar as mulheres brancas da luta
antiescravagista era chamá-las de 'amantes de pretos'. E ele sabia que as mulheres eram
indispensáveis ao movimento abolicionista – tanto em termos numéricos quanto por 'sua
competência na defesa da causa das pessoas escravas'."
p. 49 -50 Muitas mulheres se uniram ao movimento abolicionista, atraídas por uma
afinidade que Harriet Beecher Stowe, autora de A Cabana do Pai Tomás, poderia atribuir
aos “instintos maternais” das mulheres, refletidos em seu romance. Publicado no auge do
culto à maternidade no século XIX, o livro retrata escravizados como figuras infantis e
dóceis, sustentando estereótipos racistas e sexistas da época. Ironicamente, embora fosse
uma obra popular da literatura antiescravagista, A Cabana do Pai Tomás perpetuava as
mesmas ideias que justificavam a escravidão e a exclusão das mulheres da política.

p.50 “Pode parecer irônico, mas a obra mais popular da literatura


antiescravagista daquela época perpetuava as ideias racistas que justificavam
a escravidão e as noções sexistas que fundamentavam a exclusão das
mulheres da arena política na qual se travava a batalha contra a escravidão.

p.50"A óbvia contradição entre o conteúdo reacionário e o apelo progressista de A Cabana


do Pai Tomás não era tanto um defeito da perspectiva individual da autora, mas sim um
reflexo da natureza contraditória da condição das mulheres no século XIX."

● revolução industrial e a perca da importância do trabalho doméstico, abastadas -


ideologia materna
“A situação da dona de casa branca era cheia de contradições. Era inevitável que houvesse
resistência”.

 Antes da industrialização, as mulheres desempenhavam um papel central na


economia doméstica, fabricando itens essenciais. Com a produção se transferindo
para as fábricas, surgiu uma ideologia que idealizava a mulher como esposa e mãe,
relegando-a a um papel submisso no lar.

p.51 Transformação nas relações de produção. Comparar com Silvia Frederic.

● associação de lutas
● Na década de 1830, enquanto a rebelião de Nat Turner e o movimento abolicionista
ganhava força, surge o movimento abolicionista organizado

● Greve e paralisação nas fábricas têxteis, mão de obra feminina ( menos trabalho)

● Mulheres brancas viram a possibilidade de trabalhar fora ( trabalho)


● Metafora da escravidão

p.55
 Ao participar do movimento abolicionista, as mulheres brancas tomaram consciência
da opressão humana e de sua própria exclusão política. A causa oferecia uma forma
de protesto contra sua sujeição, permitindo que fossem valorizadas além dos papéis
de esposas e mães. Para muitas, a luta antiescravagista era uma alternativa
estimulante à vida doméstica e uma forma de resistência contra uma opressão
semelhante à que enfrentavam.

p56-57
 No movimento abolicionista, as mulheres brancas aprenderam a desafiar a
supremacia masculina, descobrindo que o sexismo poderia ser combatido na arena
política. Elas ganharam experiência em organização e oratória, especialmente no
uso de petições, que questionavam sua exclusão política. As irmãs Grimké foram
pioneiras nesse desafio, ligando a opressão das mulheres à escravidão. Apesar dos
ataques, especialmente de grupos religiosos, que as acusavam de desviar de seu
papel “divino”, elas persistiram, com Angelina discursando publicamente e Sarah
escrevendo sobre a igualdade de gênero.

p.56 -memórias : Elizabeth Cady Stanton, Susan B. Anthony et

eloquência
 As irmãs Grimké, pioneiras na luta abolicionista e pelos direitos das mulheres,
desafiavam a supremacia masculina, defendendo que homens e mulheres são
iguais e têm o direito de participar ativamente da vida política. Elas argumentavam
que, ao negar às mulheres o direito de falar, também se negava sua capacidade de
agir contra a escravidão. Angelina defendia que a luta pelo abolicionismo e pelos
direitos das mulheres eram interligadas, enquanto Sarah escrevia sobre a igualdade
de gênero.

“Os homens, ouvindo sobre a eloquência e o poder [das irmãs], logo começaram a
ocupar timidamente os assentos no fundo da plateia. Essas assembleias
representavam algo inédito, já que nunca antes mulheres haviam se dirigido a
audiências mistas de modo tão regular e sem enfrentar gritos ofensivos ou escárnio
por parte dos homens que consideravam a oratória uma atividade exclusivamente
masculina."

 Perseguidas por religiosos



 P.57 motivações religiosas
 “O poder da mulher é sua dependência, que emana da consciência dessa fraqueza
que Deus lhe deu para protegê-la [...]”

 1938- [Cartas sobre a igualdade dos sexos e a condição das mulheres]-

 “Homens e mulheres foram criados iguais: ambos são seres humanos morais e
responsáveis.”

 “Tudo que é correto para o homem é correto para a mulher”[34].

 : “E, então, o que a mulher poderá fazer contra a escravidão, quando ela mesma
estiver subjugada ao homem e humilhada no silêncio?

p.58
“Dizem que, um dia, Napoleão Bonaparte repreendeu uma dama francesa por se ocupar de
política. 'Majestade', ela respondeu, 'em um país onde mulheres são mortas, é muito natural
que mulheres desejem saber por que isso acontece.' E, queridas irmãs, em um país onde
as mulheres são humilhadas e agredidas, e onde seus corpos expostos sangram sob o
açoite, onde elas são vendidas em matadouros pelos 'comerciantes de negros', têm
roubada a renda que lhes é devida, são separadas de seus maridos e arrancadas à força
de sua virtude e de sua prole, com certeza, em tal país, é muito natural que as mulheres
desejem saber 'por que isso acontece'."

p.58
“Por terem uma consciência tão profunda da indissociabilidade entre a luta pela libertação
negra e a luta pela libertação feminina, as irmãs nunca caíram na armadilha ideológica de
insistir que um combate era mais importante do que o outro. Elas reconheciam o caráter
dialético da relação entre as duas causas.”
"Da mesma forma que sua postura continha a promessa de uma poderosa e frutífera
aliança – unindo a população negra e as mulheres na concretização de um sonho comum
de libertação –, a análise apresentada por Sarah e Angelina Grimké foi a expressão teórica
mais emocionante e profunda dessa promessa de união."

Experiência as lutas dos interesses particulares se constituem com o aprendizados


com outra lutas historicamente ,

capítulo 3. CLASSE E RAÇA NO INÍCIO DA CAMPANHA PELOS DIREITOS DAS


MULHERES
Lucrécia Mott – tinha experiencia

p.62-65

Stanton era nova no ativismo político, enquanto Mott já possuía experiência nas lutas pela
inclusão de mulheres no movimento abolicionista, enfrentando a resistência dos homens,
inclusive daqueles considerados progressistas. A exclusão das mulheres na convenção de
Londres causou indignação, especialmente considerando que alguns homens, como William
Lloyd Garrison e o abolicionista negro Charles Remond, demonstraram apoio a elas.

p. 64 Contradições

 Remond recusou sua cadeira na convenção para representar com honra três
associações femininas, comprometidas em seus objetivos e eficazes na ação
conjunta, mostrando que nem todos os homens apoiavam a supremacia masculina e
alguns desafiavam essa injustiça.
 Ao contrário do que Stanton fala em seu relato que todos os os homens abolionistas
eram preconceituosos
 Elizabeth Cady Stanton, com incentivo do pai, desafiou desde jovem o sexismo,
estudando grego, matemática e direito e participando de atividades tradicionalmente
masculinas, o que evidenciava seu compromisso com a igualdade antes mesmo de
se envolver no abolicionismo.
 No entanto tudo isso se tornou em vão com o casamento e maternidade
 A Convenção de Seneca Falls em 1848, liderada por Stanton, refletiu essas tensões
de classe e gênero. Stanton, uma mulher branca de classe média, viu no movimento
uma forma de lutar contra as limitações sociais que enfrentava como esposa e mãe.

 Ela propôs o sufrágio feminino,

 Frederick Douglass foi a única figura de destaque a concordar que a convenção


deveria reivindicar o direito de voto das mulheres.
p.65
 "Eu não conseguia rebater os argumentos dela, exceto com desculpas superficiais
como 'costumes', 'divisão natural de tarefas', 'vulgaridade da participação da mulher
na política', a conversa de sempre sobre 'a esfera feminina' e coisas parecidas, tudo
o que aquela mulher competente, que na época não era menos sensata do que é
hoje, desmentiu com os mesmos argumentos que desde então tem usado, de modo
recorrente e eficiente, e que nenhum homem teve sucesso em refutar. Se a
inteligência é a única base verdadeira e racional para um governo, conclui-se que o
melhor governo é aquele que extrai sua existência e seu poder das maiores fontes
de sabedoria, energia e bondade à sua disposição."

p.65-67
Frederick Douglass foi crucial para defender o sufrágio feminino na Convenção de Seneca
Falls, usando sua oratória para apoiar a proposta, mesmo quando ela era controversa e
rejeitada por muitos. Após a convenção, ele publicou um editorial em North Star defendendo
direitos políticos iguais para homens e mulheres. Além disso, Douglass inseriu a questão
dos direitos das mulheres no movimento pela libertação negra, obtendo apoio nas
convenções de pessoas de cor.
A luta por direitos era, porém, limitada, ignorando a condição de mulheres negras e
trabalhadoras, que também lutavam contra a opressão,

como Charlotte Woodward e Sojourner Truth, cujo discurso "Não sou eu uma mulher?"
tornou-se emblemático na defesa da igualdade de gênero e raça.

Contradições de gênero e classe, e raça

p.67-71- A Declaração de Seneca Falls foi um marco para os direitos das mulheres,
refletindo a consciência emergente sobre sua condição no século XIX. No entanto, focava
nas demandas das mulheres brancas de classe média, ignorando a realidade das
trabalhadoras e das mulheres negras.
 Enquanto as operárias lutavam contra jornadas exaustivas e péssimas condições de
trabalho, organizando greves já nos anos 1820, suas reivindicações não
encontraram espaço no movimento liderado por mulheres abastadas. Charlotte
Woodward, uma das poucas trabalhadoras a participar da convenção, buscava
melhorar suas condições de vida, simbolizando uma luta distinta. Paralelamente, a
exclusão das mulheres negras era evidente, apesar de seu histórico de resistência e
contribuições ao debate sobre igualdade.
 Esse fosso entre classe e raça expôs as limitações do movimento de Seneca Falls e
o racismo persistente, inclusive entre abolicionistas. A luta das mulheres negras e
trabalhadoras por igualdade foi amplamente ignorada, apesar de algumas iniciativas
de integração e solidariedade promovidas por figuras como Frederick Douglass e as
irmãs Grimké.

p.71-75

1951 Dois anos após Seneca Falls, a primeira Convenção Nacional pelos Direitos das
Mulheres em Worcester

Truth também confrontou o racismo das líderes brancas, que tentaram impedi-la de falar.
Sua presença e insistência em reivindicar direitos igualitários destacavam que a luta das
mulheres negras era tão legítima quanto a das brancas.

p.72 "O líder dos provocadores afirmou que era ridículo que as mulheres desejassem votar,
já que não podiam sequer pular uma poça ou embarcar em uma carruagem sem a ajuda de
um homem. Com simplicidade persuasiva, Sojourner Truth apontou que ela mesma nunca
havia sido ajudada a pular poças de lama ou a subir em carruagens. 'Não sou eu uma
mulher?' Com uma voz que soava como 'o eco de um trovão', ela disse: 'Olhe para mim!
Olhe para o meu braço', e levantou a manga para revelar a 'extraordinária força muscular'
de seu braço.

“Arei a terra, plantei, enchi os celeiros, e nenhum homem podia se igualar a mim! Não sou
eu uma mulher? Eu podia trabalhar tanto e comer tanto quanto um homem – quando eu
conseguia comida – e aguentava o chicote da mesma forma! Não sou eu uma mulher? Dei
à luz treze crianças e vi a maioria ser vendida como escrava e, quando chorei em meu
sofrimento de mãe, ninguém, exceto Jesus, me ouviu! Não sou eu uma mulher?"

Ideologia do Pecado original

p.73: Quanto ao terrível pecado cometido por Eva, não era um argumento contra as
capacidades das mulheres. Ao contrário, tratava-se de uma enorme vantagem:
"Se a primeira mulher criada por Deus foi forte o suficiente para, sozinha, virar o mundo de
cabeça para baixo, estas mulheres, juntas, devem ser capazes de colocá-lo de volta no
lugar! E, agora que elas estão pedindo para fazer isso, é melhor que os homens as deixem
fazer."

76-78
“Como regra, pessoas brancas abolicionistas ou defendiam os capitalistas industriais
ou não demonstravam nenhuma consciência de identidade de classe. Essa aceitação
sem objeções do sistema econômico capitalista era evidente também no programa do
movimento pelos direitos das mulheres.

p.76 A maioria das abolicionistas via a escravidão como um problema moral que
devia ser resolvido, uma mancha no tecido da sociedade que não poderia ser
tolerada. De forma análoga, muitas defensoras dos direitos das mulheres
consideravam a supremacia masculina como uma falha ética em uma sociedade que,
em outros aspectos, parecia aceitável. Assim, essas ativistas viam a necessidade de
superar as injustiças específicas em que focavam — o racismo da escravidão ou o
sexismo da sociedade patriarcal — sem questionar profundamente as estruturas
sociais e econômicas subjacentes que as sustentavam.

p.76As líderes do movimento pelos direitos das mulheres não suspeitavam que a
escravização da população negra no Sul, a exploração econômica da mão de obra no Norte
e a opressão social das mulheres estivessem relacionadas de forma sistemática.

 Nos anos 1850, convenções locais e nacionais reuniram um crescente número de


mulheres na luta pela igualdade, com a participação ativa de Sojourner Truth, que,
enfrentando hostilidade, tornou-se uma voz poderosa representando as mulheres
negras. Sua presença lembrava às mulheres brancas que as negras também eram
parte essencial da causa.

Paralelamente, muitas mulheres negras dedicavam-se a atividades como a Underground


Railroad, enquanto figuras como Frances E. W. Harper e Sarah Remond se destacavam no
movimento abolicionista. No entanto, o movimento pelos direitos das mulheres, em sua
maioria, ignorava as conexões entre a opressão das mulheres, a exploração do trabalho e a
escravidão.
 Guerra Civil (1861 e 1865.)
 Líderes como Elizabeth Cady Stanton perceberam, durante a Guerra Civil, que o
racismo também era profundamente enraizado no Norte. A tentativa de unir a luta
feminina à causa antiescravagista gerou divisões.
 Quando o alistamento militar foi instituído no Norte, Racismo do norte – ataque de
gangues

Embora Angelina Grimké defendesse uma visão mais radical, propondo uma aliança entre
operários, negros e mulheres. Sua visão apontava para uma luta mais abrangente pela
igualdade, que poderia ter fortalecido a campanha por direitos durante e após a guerra.

 CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO PÓS-15ª EMENDA:


 Com a ratificação da 15ª Emenda em 1870, homens negros conquistam
teoricamente o direito ao voto, exercido durante a Reconstrução sob a proteção das
tropas federais no Sul, levando à eleição de líderes negros. Após o fim da
Reconstrução em 1877, leis de Jim Crow, como testes de alfabetização e ameaças,
 restringem o voto negro até o movimento dos direitos civis dos anos 1960 e o Voting
Rights Act de 1965.

 RACISMO NAS POSIÇÕES DE ELIZABETH CADY STANTON:


 Em carta de 1865, Stanton manifesta insatisfação com a concessão de direitos
políticos a homens negros antes das mulheres brancas, usando termos como
Sambo
 Stephen, interpretado por Samuel L. Jackson

e sugerindo que as mulheres brancas deveriam priorizar sua própria luta ao lado dos
soldados negros. Em 1867, na Convenção pela Igualdade de Direitos, defende que o
voto feminino deveria preceder o dos homens negros, afirmando que as mulheres
brancas estariam mais preparadas para o sufrágio, revelando um posicionamento
elitista e racista.
 PRIORIDADES DO PARTIDO REPUBLICANO E EXPECTATIVAS SUFRAGISTAS:
O Partido Republicano decide priorizar o sufrágio dos homens negros para
consolidar seu poder no Sul, decepcionando lideranças sufragistas como Stanton,
que esperavam apoio para o voto feminino.
 POSIÇÃO DE FREDERICK DOUGLASS E TENSÃO RACIAL: relações
 Douglass defende a urgência do sufrágio negro como medida de proteção aos ex-
escravizados. A divergência de prioridades entre igualdade racial e de gênero leva à
dissolução da Associação pela Igualdade de Direitos, expondo uma fragilidade na
aliança entre as causas.

  Generalizações sobre homens negros serem mais "despóticos" que brancos eram
infundadas; posturas sexistas isoladas não justificavam frear a luta pela libertação
negra.
  Frederick Douglass, apesar de, às vezes, reproduzir estereótipos de gênero sexista ,
jamais foi opressiva manteve relevante apoio aos direitos das mulheres sem
comprometer sua importância na causa.

p. 94 “Assim que os capitalistas do Norte estabeleceram sua hegemonia no Sul, o Partido


Republicano – que representava os interesses capitalistas – colaborou na sistemática
destituição do direito de voto da população negra sulista. Embora Frederick Douglass tenha
sido o mais brilhante defensor da libertação negra do século XIX, ele não entendeu de
forma plena a fidelidade capitalista do Partido Republicano, para quem o racismo se tornou
tão conveniente quanto o estímulo inicial ao sufrágio negro. A verdadeira tragédia da
polêmica em torno do sufrágio negro no interior da Associação pela Igualdade de Direitos é
que a visão de Douglass de que o direito ao voto remediaria quase todos os males da
população negra pode ter encorajado o severo racismo das feministas em sua defesa do
sufrágio feminino.”

 96-104 Capitulo 5

texto explora a complexa realidade das mulheres negras nos Estados Unidos após a
emancipação da escravidão, destacando como a "liberdade" prometida pela abolição não
trouxe melhorias significativas nas condições de vida e trabalho para essa população. A
emancipação significou a transição de uma condição de escravidão formal para uma
exploração disfarçada, com muitas mulheres negras ainda presas ao trabalho agrícola,
doméstico e ao sistema de servidão por dívidas.

A resistência à servidão doméstica tornou-se um símbolo de busca por autonomia, mas as


oportunidades eram limitadas. Elas enfrentavam discriminação, exploração e, muitas vezes,
a violência sexual tanto no campo quanto no trabalho doméstico nas casas brancas,
enquanto seus empregadores reproduziam práticas racistas e sexistas.

A emancipação, assim, não representou uma verdadeira liberdade para as mulheres


negras, que continuaram sujeitas a um sistema de exploração que perpetuava a sua
subordinação social e econômica.
p.104 As mulheres brancas – incluindo as feministas – demonstraram uma relutância

histórica em reconhecer as lutas das trabalhadoras domésticas

“Essa militante feminista estava perpetuando a mesma opressão contra a qual protestava.
Mas seu comportamento contraditório e sua insensibilidade desproporcional não são
inexplicáveis, já que as pessoas que trabalham como serviçais geralmente são vistas como
menos do que seres humanos. Inerente à dinâmica do relacionamento entre senhor e
escravo (ou senhora e empregada), disse o filósofo Hegel, é o esforço constante para
aniquilar a consciência do escravo. A balconista mencionada na conversa era uma
trabalhadora remunerada – um ser humano com um grau mínimo de independência em
relação a quem o empregava e ao próprio trabalho. A serviçal, por outro lado, trabalhava
com o único propósito de satisfazer as necessidades de sua senhora. Provavelmente
enxergando sua criada como mera extensão de si mesma, a feminista dificilmente poderia
ter consciência de seu próprio papel ativo como opressora.”

p.104-106 Angelina Grimké responsabilizava as mulheres brancas do Sul por sua omissão
diante da escravidão, enquanto o

Sindicato de Trabalhadoras Domésticas criticava as donas de casa de classe média por


explorarem as trabalhadoras domésticas negras, impondo jornadas de até 72 horas
semanais com baixos salários. A condição das mulheres negras melhorou apenas com a
Segunda Guerra Mundial, quando cerca de 400 mil deixaram o trabalho doméstico para
ingressar na indústria. No entanto, mesmo nos anos 1960, muitas ainda estavam presas a
esses empregos. W. E. B. Du Bois argumentava que a verdadeira liberdade só seria
alcançada quando o serviço doméstico não fosse mais a principal ocupação da população
negra.

capitulo 6

p.109-115 educação no período de reconstrução : Perspectiva engajada da qual


Angela Davis faz parte.

emancipação trouxe esperança e alegria para a população negra, especialmente para as


mulheres, que viam na educação um caminho para a verdadeira liberdade. Apesar da
proibição de ensino aos escravizados, o desejo pelo conhecimento sempre foi presente,
como evidenciado pela persistência de figuras como Frederick Douglass e ex-escravas
como Jenny Proctor.
Iniciativas para a educação surgiram, como as escolas fundadas por mulheres brancas
como Myrtilla Miner, que arriscaram suas vidas para ensinar jovens negras. Mesmo após a
abolição, a luta pela educação continuou, com o “frenesi por escolas” durante a

Reconstrução, quando docentes brancas do Norte se uniram às ex-escravas no Sul para


combater o analfabetismo.

Essa colaboração entre mulheres negras e brancas destacou o papel essencial da


educação na busca por emancipação e transformação social.

115-117

Durante a Reconstrução, muitas famílias negras sacrificavam seu conforto material para
garantir a educação de seus filhos, priorizando livros em vez de móveis básicos.

A colaboração entre mulheres negras e brancas, especialmente na educação, criou uma


admiração mútua.

Mulheres recém-libertas ensinaram ao lado de professoras brancas do Norte, e sua gratidão


era sincera. Mesmo com o fim da Reconstrução e a imposição das leis de segregação, a
educação permaneceu um pilar de resistência, impedindo um retorno à escravidão. Essa
solidariedade feminina foi essencial para a criação de escolas e na luta contra o
analfabetismo, representando um dos maiores legados do período.

Capítulo 7

racismo no movimento sufragista: Susan B. Anthony, uma importante figura do sufrágio


feminino, enfrentou críticas de Ida B. Wells por não transformar sua postura antirracista
pessoal em uma posição pública no movimento sufragista. Anthony evitou apoiar as
demandas das mulheres negras para atrair as mulheres brancas do sul ao movimento.

Exclusão de líderes negros: Anthony pediu a Frederick Douglass para não participar de
eventos no sul dos EUA, temendo que sua presença afastasse as mulheres brancas
sulistas. Ela também não incentivou a inclusão de mulheres negras nas associações de
sufrágio.

Conveniência racista: Anthony e outras líderes do movimento justificaram a exclusão de


ativistas negros e mulheres negras como uma questão de conveniência política para não
prejudicar a causa do sufrágio. Essa postura de “conveniência” apoiou a segregação e o
racismo vigente.
Resolução racista da NAWSA: Em 1892, a Associação Nacional Estadunidense pelo
Sufrágio Feminino (NAWSA) adotou uma resolução que sugeria que a concessão do voto
às mulheres brancas alfabetizadas poderia resolver o problema do analfabetismo entre
eleitores negros e imigrantes.

Aumento do racismo e supremacia branca: A última década do século XIX marcou uma
mudança no movimento sufragista, que começou a aceitar a supremacia branca como uma
estratégia para conquistar mais apoio. Discursos em convenções, como o de Belle Kearney
em 1903, defendiam que o voto feminino garantiria a supremacia branca no sul dos EUA.

Conflitos com a população negra: A postura da NAWSA e de suas líderes contribuiu para a
exclusão de questões raciais no movimento, ignorando as necessidades urgentes da
população negra, como o fim dos linchamentos e a proteção contra a segregação racial.

Contradição e oportunismo: A aliança do movimento sufragista com a ideologia racista


resultou em contradições, como a defesa do voto feminino como um meio para assegurar a
supremacia racial. Essa postura acabou prejudicando a própria causa do sufrágio ao
reforçar divisões raciais.

p.123 “A resolução desconsiderava os direitos das mulheres negras e imigrantes,


além dos de seus familiares homens, e violava um princípio democrático, que não
poderia mais ser justificado por argumentos de conveniência. Essa lógica
representava um ataque à classe trabalhadora como um todo e mostrava uma
disposição para se aliar aos capitalistas monopolistas, que buscavam lucros sem
considerar os limites humanos”.

"Ao aprovar a resolução de 1893, as sufragistas bem que poderiam ter anunciado que se o
poder de voto fosse concedido a elas, mulheres brancas da classe média e da burguesia,
rapidamente subjugariam os três principais elementos da classe trabalhadora nos Estados
Unidos: a população negra, os imigrantes e a mão de obra branca nacional sem instrução.
Eram esses três grupos de pessoas que tinham o trabalho explorado e a vida sacrificada
pelos Morgans, Rockefellers, Mellons, Vanderbilts – a nova classe de capitalistas
monopolistas que estavam instaurando impérios industriais de modo implacável e
controlavam a mão de obra imigrante no Norte, bem como a população liberta e a mão de
obra branca pobre que operavam as novas ferrovias, mineradoras e siderúrgicas no Sul."

O Massacre de Wilmington, ocorrido em 10 de novembro de 1898 na cidade de Wilmington,


Carolina do Norte, foi um episódio de violência racial marcado por ataques coordenados de
supremacistas brancos contra a população negra local. Esse evento é considerado o único
golpe de estado bem-sucedido na história dos Estados Unidos, em que um governo local,
eleito de forma legítima e que incluía representantes negros e republicanos, foi deposto por
força armada.

Na época, o contexto político dos Estados Unidos estava marcado pela expansão
imperialista em lugares como Cuba e as Filipinas, justificando essa presença externa como
um esforço de "civilização" e promoção da democracia. O New York Herald relatou, em 12
de novembro de 1898, não apenas a situação em Cuba, mas também os conflitos raciais
internos, como o massacre em Wilmington e outros distúrbios na Carolina do Sul. A cidade
de Wilmington, onde o massacre ocorreu, era vista como um exemplo de democracia racial
e governança local no Sul dos Estados Unidos, e isso contrastava com a hipocrisia das
ações dos Estados Unidos no exterior, especialmente em suas colônias.

Imperialismo ( lenin) p.24 “Em consequência disso, com toda a força de sua ira,
Anthony apresentou a exigência “de que o voto seja concedido às mulheres de
nossas novas possessões em termos idênticos aos dos homens”. Como se as
mulheres do Havaí e de Porto Rico devessem exigir o direito de serem vitimizadas
pelo imperialismo dos Estados Unidos em condições de igualdade com seus
companheiros.”

p.125 o, Susan B. Anthony encerrou a discussão sobre a resolução apresentada pela


mulher negra. Seus comentários garantiram uma derrota esmagadora da resolução:
“Nós mulheres somos uma classe sem esperança de poder votar. Nossas mãos estão
atadas. Enquanto estivermos nessa situação, não nos cabe aprovar resoluções
contra as corporações ferroviárias nem contra qualquer outra pessoa”.

p.126

Um documento especialmente simbólico é uma convocação lançada pelo Conselho


Nacional Afro-Americano, encorajando a população negra a guardar o 2 de junho
como um dia de jejum e oração. Publicado no New York Tribune, esse comunicado
denunciava as prisões injustificadas e indiscriminadas que tornavam homens e
mulheres presas fáceis de gangues de “ignorantes, depravados, homens
embebedados de uísque” que cometiam “torturas, enforcamentos, disparos,
esquartejamentos, mutilações e queimaduras”.
p. 126 – 127

 ROMANCE ENTRE SUPREMACIA BRANCA E MASCULINA: No início do século


XX, supremacia racial e masculina consolidam-se mutuamente. Ideias racistas e de
inferioridade feminina permeiam até círculos progressistas, retratando mulheres
brancas como “mães da raça”, responsáveis por manter a “pureza” da raça anglo-
saxã.
 SEXISMO MATERNO E RACISMO: O culto sexista da maternidade se espalha nas
organizações feministas brancas, alinhando o movimento sufragista à ideologia
racista, minando seu objetivo de voto feminino e reforçando estereótipos de gênero.
 DISCURSO DE SUSAN B. ANTHONY (1901): Influenciada pela eugenia,
Anthony enfatiza a “redenção da raça” por meio da emancipação feminina,
sugerindo que as mulheres purificariam a sociedade, refletindo o pensamento
racial elitista.
 OBSTÁCULOS AO VOTO FEMININO SEGUNDO CARRIE CHAPMAN CATT: Em
seu discurso, Catt aponta como obstáculos o militarismo, a prostituição e,
criticamente, a expansão democrática que permitiu o voto a negros, indígenas e
estrangeiros, revelando uma postura excludente e racista dentro do próprio
movimento sufragista.

A ideologia burguesa – e particularmente seus componentes racistas – realmente


deve possuir o poder de diluir as imagens reais do terror em obscuridade e
insignificância e de dissipar os terríveis gritos de sofrimento dos seres humanos em
murmúrios quase inaudíveis e, então, em silêncio. Com a chegada do século XX, um
casamento ideológico sólido uniu racismo e sexismo de uma nova maneira. A
supremacia branca e a supremacia masculina, que sempre se cortejaram com
facilidade, estreitaram os laços e consolidaram abertamente o romance.

capitulo 8

O movimento associativo das mulheres negras nos EUA enfrentou desafios significativos de
racismo e exclusão. Em 1900, a General Federation of Women’s Clubs (GFWC) rejeitou a
inclusão de uma delegada negra, Josephine St. Pierre Ruffin, que representava uma
associação de mulheres negras, apesar de já ter sido admitida previamente. O episódio
evidenciou a segregação racial no movimento. Em resposta a esse e outros casos de
discriminação, mulheres negras, lideradas por figuras como Ida B. Wells e Mary Church
Terrell, organizaram-se em encontros e associações, focando na luta contra o linchamento
e o racismo.

O movimento associativo das mulheres negras tinha raízes no período pré-Guerra Civil,
com foco na abolição e na sobrevivência de sua comunidade, diferente das preocupações
das mulheres brancas de classe média. Wells, uma figura central, usou sua voz e esforços
jornalísticos para combater linchamentos e promover campanhas de solidariedade. Terrell,
por outro lado, destacou-se pelo uso da oratória e da persuasão para defender a igualdade
racial e o sufrágio feminino. Embora tivessem divergências pessoais, ambas foram
essenciais para fortalecer o movimento associativo e a resistência das mulheres negras nos
Estados Unidos.

Entretanto, ao contrário das mulheres brancas, que também se uniram à campanha


abolicionista, as mulheres negras eram motivadas menos por preocupações com a caridade
ou por princípios morais gerais do que pelas necessidades palpáveis de sobrevivência de
seu povo.” Isso evidencia que, enquanto as mulheres brancas se envolviam por razões
mais altruístas e morais, as mulheres negras tinham um enfoque mais direto nas questões
de sobrevivência e na luta antirracista.

Capitulo 9

Durante o século XIX, as mulheres trabalhadoras e negras se organizaram em busca de


direitos, enquanto o movimento sufragista era liderado por figuras como Susan B. Anthony e
Elizabeth Cady Stanton. As mulheres brancas, motivadas pelo voto e pela igualdade,
ignoraram a realidade mais dura das trabalhadoras, que enfrentavam baixos salários e
péssimas condições de trabalho. Ao mesmo tempo, o movimento sindical negro,
representado pela National Colored Labor Union, mostrou-se mais comprometido com a
inclusão das trabalhadoras do que as organizações brancas. As mulheres negras, embora
excluídas pelo movimento sufragista branco, continuaram a lutar por seus direitos e a
reivindicar o voto como uma forma de sobrevivência e resistência. Por outro lado, as líderes
sufragistas, focadas no voto, muitas vezes não consideravam as dificuldades econômicas e
sociais enfrentadas por suas colegas negras e trabalhadoras, revelando a fragmentação e
os limites da solidariedade entre os diferentes grupos de mulheres na época.

p.145"Ela [Susan B. Anthony] não conseguiu perceber que tanto as mulheres da classe
trabalhadora quanto as mulheres negras estavam fundamentalmente unidas a seus
companheiros pela exploração de classe e pela opressão racista, que não faziam
discriminação de sexo. Embora o comportamento sexista de seus companheiros
precisasse, sem dúvida, ser contestado, o inimigo real – o inimigo comum – era o patrão, o
capitalista ou quem quer que fosse responsável pelos salários miseráveis, pelas
insuportáveis condições de trabalho e pela discriminação racista e sexista no trabalho."

p.149

10- mulheres comunistas

Análise Histórica e Comparativa

● Segunda metade do século XIX e início do século XX: Lucy Parsons e Ella Reeve
Bloor surgem como representantes de uma esquerda que nasce dos levantes
operários, enfrentando a repressão das grandes indústrias e a violência policial
contra sindicatos. Esse contexto envolve a expansão do capitalismo industrial nos
EUA, a luta dos trabalhadores por direitos básicos e o surgimento do anarquismo e
do comunismo como alternativas políticas. Parsons, com sua visão de que a luta de
classes era o eixo central, atuou em um cenário de crescente industrialização e
desigualdade social, enquanto Bloor já reconhecia a importância de integrar a luta
contra o racismo à emancipação operária.
● Início do século XX e os anos entre-guerras: Anita Whitney se posiciona num
contexto em que o sufrágio feminino era uma questão central e onde as tensões
raciais e de classe se intensificavam nos Estados Unidos, especialmente no período
das incursões anticomunistas de 1919. Sua militância pelo comunismo e pelos
direitos civis mostra uma tentativa de conectar a luta pela igualdade racial com a luta
de classes em um momento de forte repressão estatal.
● Anos 1940-1960 (Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria): Claudia Jones é a figura
que melhor sintetiza a interseção entre raça, gênero e classe em um contexto de luta
contra o racismo institucionalizado nos Estados Unidos e de perseguição
anticomunista durante a Guerra Fria. Sua atuação se deu em um momento em que o
Partido Comunista buscava redefinir suas estratégias para lidar com as questões
raciais nos Estados Unidos, especialmente considerando a dinâmica dos
movimentos de direitos civis que emergiam no país.

capitulo 11- estupros


p.174 Em outras palavras, o direito alegado pelos proprietários e seus agentes sobre o
corpo das escravas era uma expressão direta de seu suposto direito de propriedade sobre
pessoas negras como um todo. A licença para estuprar emanava da cruel dominação
econômica e era por ela facilitada, como marca grotesca da escravidão[6]."

capitulo 12

Em seu impressionante estudo sobre estupro, Susan Brownmiller alega que a opressão
histórica dos homens negros afastou deles muitas das manifestações 'legítimas' da
supremacia masculina. Como consequência, eles têm de recorrer a atos de violência sexual
explícita. Em seu retrato da 'população dos guetos', Brownmiller insiste que 'as salas de
jantar dos executivos de grandes empresas e as escaladas do monte Everest não são
geralmente acessíveis àqueles que formam a subcultura da violência. O acesso ao corpo
feminino – pela força – está ao seu alcance'."p.176

Na pior das hipóteses, é uma agressão contra o povo negro como um todo, pois o
estuprador mítico implica a prostituta mítica."p186

p.192

O trecho aborda a complexidade da violência sexual no contexto capitalista e racista dos


Estados Unidos. Destaca que o estupro é um problema social grave e crescente,
especialmente na sociedade capitalista, onde mulheres trabalhadoras e de minorias étnicas
enfrentam maior vulnerabilidade. A história das acusações de estupro contra homens
negros é apresentada como uma ferramenta racista, frequentemente usada para justificar
linchamentos e repressão. A narrativa do "estuprador negro" serve como um mito que
legitima a violência contra a comunidade negra, ao mesmo tempo em que invisibiliza os
crimes sexuais de homens brancos, especialmente os de classes mais altas. A análise
enfatiza que a violência sexual é amplamente facilitada por dinâmicas de classe e poder, e
que a estrutura econômica capitalista reforça a exploração sexual e o controle social sobre
mulheres. A abordagem também critica o movimento feminista antiestupro por ignorar as
especificidades da opressão enfrentada pelas mulheres negras, o que contribui para uma
compreensão limitada e racialmente enviesada do problema.

“Homens da classe trabalhadora, seja qual for sua etnia, podem ser motivados a
estuprar pela crença de que sua masculinidade lhes concede o privilégio de dominar
as mulheres. Ainda assim, como eles não possuem a autoridade social ou econômica
– exceto quando um homem branco estupra uma mulher de minorias étnicas – que
garanta imunidade a processos judiciais, o incentivo não é nem de perto tão
poderoso quanto o é para os homens da classe capitalista. Quando homens da
classe trabalhadora aceitam o convite ao estupro que lhes é estendido pela ideologia
da supremacia masculina, eles estão aceitando um suborno, uma compensação
ilusória à sua falta de poder.

A estrutura de classe do capitalismo encoraja homens que detêm poder econômico e


político a se tornarem agentes cotidianos da exploração sexual. A presente epidemia
de estupros ocorre em um momento em que a classe capitalista está furiosamente
reafirmando sua autoridade em face de desafios globais e nacionais. Tanto o racismo
quanto o sexismo, centrais para a estratégia doméstica de aumentar a exploração
econômica, têm recebido um encorajamento sem precedentes. Não é mera
coincidência que, à medida que a incidência de casos de estupro tem aumentado, a
posição das trabalhadoras tem piorado de modo visível. As perdas econômicas das
mulheres são tão severas que seus salários, quando comparados aos dos homens,
estão mais baixos do que há uma década. A proliferação da violência sexual é a face
brutal de uma intensificação generalizada do sexismo, que necessariamente
acompanha essa agressão econômica."

capitulo 12

O controle de natalidade, seus desdobramentos históricos e os direitos reprodutivos são


temas centrais para Angela Davis em sua análise das lutas feministas e raciais. A
campanha pela "maternidade voluntária" no século XIX marcou o início do movimento pelo
controle de natalidade nos Estados Unidos. Inicialmente vista como radical, essa proposta
enfrentou resistência de setores que defendiam o controle absoluto do marido sobre a
sexualidade da esposa. Apesar de avanços como a legalização do aborto em 1973 (Roe v.
Wade), o movimento pelo controle de natalidade frequentemente falhou em integrar as
perspectivas das mulheres negras e de outras minorias étnicas, sendo permeado por
racismo e eugenismo.

Davis aponta que o controle de natalidade foi, por vezes, associado à ideia de que mulheres
pobres e racialmente oprimidas deveriam reduzir suas taxas de natalidade como forma de
conter o crescimento populacional "indesejado". A prática de esterilização forçada, comum
entre mulheres negras, indígenas e latinas, exemplifica essa política racista. Nos anos
1970, programas financiados pelo governo dos Estados Unidos realizaram esterilizações
em massa, frequentemente sem o consentimento adequado das mulheres. Casos como o
das irmãs Relf, adolescentes negras esterilizadas involuntariamente, destacam as violações
dos direitos reprodutivos dessas comunidades.

Além de ressaltar o aspecto racista da campanha pelo controle de natalidade, Davis critica a
postura de algumas feministas brancas da década de 1970, que ignoraram a complexidade
da resistência de mulheres racialmente oprimidas ao controle de natalidade, muitas vezes
visto como uma forma de genocídio. A autora argumenta que, para que o movimento
feminista contemporâneo tivesse mais efetividade, deveria ter condenado energicamente as
práticas de esterilização forçada e adotado uma abordagem mais inclusiva aos direitos
reprodutivos de todas as mulheres, especialmente aquelas mais vulneráveis.

Por fim, Angela Davis sugere que a luta por direitos reprodutivos não pode ser dissociada
das condições sociais e econômicas das mulheres. Enquanto as mulheres brancas de
classe média buscavam o controle de natalidade como forma de empoderamento, muitas
mulheres negras e latinas recorriam a abortos e lutavam por melhores condições de vida
para que pudessem escolher a maternidade em um contexto mais digno. Assim, Davis
defende uma abordagem que combata tanto o racismo quanto a exploração de classe no
debate sobre os direitos reprodutivos.

capitulo 13

obsolescência das tarefas domésticas é uma discussão que destaca a possibilidade de


transformação dessas atividades repetitivas e pouco valorizadas em algo socialmente
gerido e mais eficiente. Tarefas como limpar, cozinhar e cuidar das crianças consomem
milhares de horas das donas de casa anualmente, sendo vistas como "trabalho de mulher"
e muitas vezes invisíveis, a menos que não sejam realizadas. Apesar de alguns homens
ajudarem, essa divisão ainda carrega uma carga desigual de gênero.

A crítica central é que, mesmo que essas tarefas fossem divididas igualmente, elas
permaneceriam opressivas por natureza. A solução proposta envolve a socialização e
industrialização dessas tarefas, tornando-as parte da economia industrial com serviços
prestados por equipes especializadas. Entretanto, isso esbarra nas limitações do
capitalismo, que prioriza lucros e é contrário a iniciativas que envolvem amplos subsídios,
como a socialização das tarefas domésticas.

A industrialização dessas tarefas se torna uma necessidade, dado o crescimento da


participação feminina no mercado de trabalho. Porém, a ideologia burguesa e a divisão
histórica entre trabalho doméstico e trabalho assalariado dificultam essa mudança. No
contexto capitalista, o trabalho doméstico não é valorizado economicamente, sendo
considerado inferior ao trabalho que gera lucro. A luta por direitos reprodutivos e melhores
condições de trabalho é vista como um caminho para superar essa opressão e avançar em
direção a um modelo mais justo para as mulheres, em que o trabalho doméstico possa ser
reduzido e até mesmo eliminado como responsabilidade privada exclusiva.
Acredita que representação é importante, sobretudo no que diz respeito à população negra,
ainda majoritariamente fora de espaços de poder. No entanto, tal importância não pode
significar a incompreensão de seus limites.

3 momentos da luta pelo direito das mulegres : abolição e recostraução ( união) , Era Jim
Crow e imperialista

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