Monografia FINAL - 04
Monografia FINAL - 04
Monografia FINAL - 04
Currículo da Unidade
Curricular de Metodologia de
Ensino da Língua Portuguesa e
Manual da Unidade Curricular
de Metodologia de Ensino da
Língua Portuguesa
Junho de 2022
Constantino Cambambe Catira
Currículo da Unidade
Curricular de Metodologia de
Ensino da Língua Portuguesa e
Manual da Unidade Curricular
de Metodologia de Ensino da
Língua Portuguesa
Trabalho de Projecto
Junho de 2022
DEDICATÓRIA
ii
AGRADECIMENTOS
Ao ISCED Sumbe;
Ao ISCED Luanda;
Ao IE-UMinho;
iii
Mestrado realizado com o apoio financeiro da Unidade Técnica e de Gestão, no
âmbito do Programa Nacional de Formação de Quadros (UTG/PNFQ)
iv
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
The training of Portuguese language teachers has been a focus of several pedagogical
training institutions in countries that have it as their national and official language,
especially in the Community of Portuguese-Speaking Countries (CPLP). Angola, being
a member of this community, has been implementing various forms of teacher training
with a view to improving the language teaching process in all teaching subsystems, with
particular emphasis on the General Education Subsystem, training the methodological
component. This work intends to present a curriculum proposal for the Portuguese
Language Teaching Methodology course and a support manual for its classes, at ISCED
in Luanda, applicable to the degree course in Portuguese teaching, one of the courses
taught at this institution. of pedagogical training.
For its elaboration, we used Portuguese language teaching methodology programs from
teacher training institutions in Africa, namely Mozambique and Guinea Bissau, Portugal
and Brazil, as well as Angolan institutions, with the support of specific literature in the
area of language didactics. Language teaching, according to the research carried out, is
organized into domains, components or areas, varying according to the institution, with
speaking, reading, writing and grammar being those that are consensually included in
programs related to work. with the tongue. Our proposal revolves around the
aforementioned domains, alternating with complementary approaches, according to the
context for which our proposal is intended, based on the principle that language
teaching aims, essentially, to develop speech, writing, reading.
vii
ÍNDICE
DEDICATÓRIA ............................................................................................................... II
AGRADECIMENTOS ....................................................................................................III
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE .............................................................................v
RESUMO ....................................................................................................................... VI
ABSTRACT .................................................................................................................. VII
ÍNDICE ......................................................................................................................... VIII
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................10
Enquadramento educativo .............................................................................................10
Revisão da Literatura ....................................................................................................11
Apresentação da estrutura do texto ...............................................................................12
PARTE – I .......................................................................................................................14
CURRÍCULO DA UNIDADE CURRICULAR DE METODOLOGIA DE LÍNGUA
PORTUGUESA ...............................................................................................................14
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................15
PROGRAMA ANALÍTICO DE METODOLOGIA DE ENSINO DA LÍNGUA
PORTUGUESA ...............................................................................................................17
1. OBJECTIVOS ............................................................................................................18
2. RESULTADOS DE APRENDIZAGEM....................................................................20
3. CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS .........................................................................21
3.1. 1.ª UNIDADE TEMÁTICA – METODOLOGIA DE ENSINO/DIDÁCTICA
DA LÍNGUA PORTUGUESA ............................................................................22
3.2. 2.ª UNIDADE TEMÁTICA – DIDÁCTICA DA ORALIDADE .......................23
3.3. 3.ª UNIDADE TEMÁTICA – DIDÁCTICA DA ESCRITA ..............................24
3.4. 4.ª UNIDADE TEMÁTICA – DIDÁCTICA DA LEITURA .............................26
3.5. 5.ª UNIDADE TEMÁTICA – DIDÁCTICA DO CONHECIMENTO
EXPLÍCITO DA LÍNGUA/GRAMÁTICA ........................................................27
4. METODOLOGIA DE ENSINO .................................................................................29
5. SISTEMA DE AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS .........................................30
6. MATERIAIS DE APOIO ...........................................................................................32
7. BIBLIOGRAFIA BÁSICA.........................................................................................34
PARTE – II ......................................................................................................................36
viii
MANUAL DA UNIDADE CURRICULAR DE METODOLOGIA DE LÍNGUA
PORTUGUESA ...............................................................................................................36
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................37
1. DIDÁCTICA DA ORALIDADE ...............................................................................37
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA DA UNIDADE TEMÁTICA ....................37
2. PROPOSTA DE DIDACTIZAÇÃO ..........................................................................40
OBSERVAÇÕES ............................................................................................................44
CONCLUSÃO GERAL ..................................................................................................47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................48
ix
INTRODUÇÃO
Enquadramento educativo
A unidade curricular para a qual elaboramos a presente proposta integra-se nas unidades
curriculares que perfazem o plano de estudo do curso de formação inicial de professores
de Língua Portuguesa, no ISCED- Luanda, lecciona-se/estuda-se no 2º ano do referido
curso, com objectivo de, essencialmente, contribuir para criação, no futuro professor, da
capacidade de dinamização do ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa, pois o
fulcro do curso é esse. Baseia-se nas experiências vividas durante a segunda parte do
referido mestrado, mormente da leccionação da Unidade Curricular com o mesmo nome
(Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa), bem como nos conhecimentos obtidos
durante a parte teórica, 1º ano, realizada no ISCED-Luanda e no IE-UMinho-
Braga/Portugal e também na investigação realizada.
10
Para o Ensino Superior Pedagógico para o qual a nossa proposta se destina, os
objectivos específicos são, essencialmente, assegurar a formação de indivíduos,
habilitando-os para o exercício do serviço docente e de apoio à docência; garantir um
ensino Superior Pedagógico ao nível de pós-graduação profissional, sob a forma de
agregação pedagógica e assegurar a profissionalização para a docência ao longo de
qualquer formação superior.
Dado que o perfil de saída reservado para os professores em formação inicial é, entre
outros, ter a capacidade de conduzir técnica, crítica, profissional e reflexivamente a
docência da disciplina de Língua Portuguesa, afigura-se imprescindível para o seu
desenvolvimento profissional não só pelas ferramentas que aqui são trabalhadas, mas
também pelas teorias trazidas, a esse respeito, de acordo com as diversas leituras feitas,
no conjunto de bibliografia específica. Esta Unidade Curricular, no âmbito do curso em
que está inserida, visa responder objectivos como: Desenvolver uma postura de abertura
a novas ideias e experiências; contribuir para que o futuro professor se consciencialize
da necessidade de estar em formação permanente; conhecer os fundamentos teóricos e
metodológicos do ensino da Língua Portuguesa, de acordo com o Programa de
Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa do ISCED-Luanda.
Revisão da Literatura
11
Na perspectiva do ensino produtivo, o professor procura ajudar o aluno a desenvolver
novas habilidades linguísticas, de modo a tornar mais proficiente o uso da língua. O seu
propósito não é alterar padrões que o aluno já conhece e utiliza, e sim ampliar os
recursos linguísticos de que pode dispor para adequadamente usá-los nas mais diversas
situações de interação social; é “a língua como comunicação” (Figueiredo, 2005:49).
Aqui a linguagem é concebida como processo de interacção. Ao ensinar os recursos
disponibilizados pelo sistema linguístico, o professor não se ocupa de mostrar apenas o
que é “certo” ou “errado” no uso da língua, mas sim de auxiliar o aluno a seleccionar e
usar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação e interação nos
diferentes grupos sociais. É com esta concepção que pensamos trabalhar a metodologia
de ensino da língua, pois, como diz Moura Neves (2004, p. 25), “é a escola, em geral, o
único espaço em que a criança terá suporte para entrar equilibradamente na posse de
conhecimentos que lhe possibilitarão adequação sociocultural de enunciados, em que
ela terá suporte para transitar da competência natural do coloquial (mais distante, ou
menos distante, do padrão) para uma posse mais ampla e segura que lhe permita
adequar seus enunciados, nas diversas situações de interação.”
Na perspectiva de trabalho com os géneros textuais, muitas vezes, o que se propõe nas
aulas é a classificação dos géneros para a afirmação da forma e das suas propriedades
tipicamente linguísticas, desconsiderando, assim, o aspecto flexível e variável do
género. Ao contrário disso, Marcuschi (2004, p.18) defende que atualmente “a
tendência é observar os gêneros pelo seu lado dinâmico, processual, social, interactivo,
cognitivo, evitando a classificação e a postura estrutural.” Por isso, ensinar a trabalhar
com um género, significa, no seu posicionamento, ensinar “um modo de atuação sócio-
discursiva numa cultura e não um simples modo de produção textual” (ibiden, p.19).
O presente trabalho está estruturado em duas partes fundamentais, Parte I e Parte II,
seguida da Conclusão e referências bibliográficas.
12
Na Parte I, apresenta-se a proposta de Currículo para a UC de Metodologia de Ensino da
Língua Portuguesa, em cinco unidades temáticas, inseridas em igual número de tabelas,
a sua fundamentação, a metodologia de trabalho a adoptar para os temas sugeridos, os
instrumentos e as formas de avaliação das aprendizagens, bem como a bibliografia
específica.
Na Parte II, apresenta-se a proposta de Manual de apoio para a leccionação de uma das
unidades temáticas propostas no currículo, constituída por uma breve introdução, um
marco teórico no qual se apresentam as razões que motivaram a selecção desta unidade
temática, a conceptualização dos principais conceitos bem como uma proposta de
didactização da referida unidade temática.
13
PARTE – I
CURRÍCULO DA UNIDADE
CURRICULAR DE
METODOLOGIA DE LÍNGUA
PORTUGUESA
INTRODUÇÃO
A Didáctica, no âmbito das ciências de educação, é uma área importante, não só pelo
seu carácter prático, mas, sobretudo, pelo saber fazer que, com ela, se pretende
desenvolver nos futuros professores. Nas suas especificidades, procura responder às
exigências técnicas ligadas a leccionação, tendo como foco o como fazer aprender, de
forma consciente, activa e significativa, já que as orientações didácticas mais recentes
(Silva, M. at alli, 2019; Freire, P. 2002; Freire, P. 1998) como herança da pedagogia
para autonomia, colocam a tónica no aluno, no aprendente, enquanto destinatário de
toda intervenção didáctico-pedagógica.
15
de saberes, prática e observação de acções, avaliação e revisão de acções (Figueiredo O.
2005:10) deve caracterizar o programa de uma unidade curricular aplicada à formação
inicial de professores e, em consequência o futuro professor, potencializando-o para o
exercício da actividade docente, de modos a que este seja investigador da sua própria
acção, implementando estratégias que concorram para a melhoria do processo de ensino
e aprendizagem e para a tomada de decisões solidamente fundamentadas, de acordo
com as necessidades contextuais e a exequibilidade destas.
16
Os princípios indicados representam os eixos por que devem passar as actuações
didácticas actuais, evitando-se ao máximo as leccionações descontextualizadas e
irreflectidas que, de certa forma, contribuem para o desinteresse dos alunos pelas aulas
de Língua Portuguesa. A abordagem em torno da didáctica da língua leva-nos a olhar
para os paradigmas de ensino defendidos por Van de Vem (2009), destacando o
reflexivo, pois o ensino deve ser consciente, participativo e reflexivo, mas também
contextual e, sobretudo, no caso da didáctica, priorizar o aprender a aprender no sentido
de o professor em formação poder ser capaz de problematizar, avaliar e redefinir as
linhas de actuação, chegando mesmo a produzir o seu próprio conhecimento, com base
nas teorias, na investigação e nos usos, representando, neste caso, o saber fazer.
Defende-se, portanto, uma metodologia mais interactiva dos conteúdos de ensino como
forma de conferir dinâmica e mais comunicação professor/aluno, sendo estes os entes
presentes em qualquer actuação didáctico-pedagógica, sem descurar o contexto de
actuação e os meta-objectivos plasmados nos documentos orientadores, mormente no
Regime Jurídico da Formação Inicial de Professores.
A presente proposta de programa é resultado das leituras feitas em torno dos domínios
essenciais no ensino da Língua Portuguesa, os programas de diversas instituições de
formação de professores e dos conhecimentos adquiridos ao longo da formação. Não é
uma proposta totalmente nova, entretanto, apresenta diferentes formas de abordagem de
tópicos ou temáticas incluídas nos programas de Didáctica da Língua Portuguesa,
designação agora substituída por Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, à luz
das orientações constantes nos Projectos Pedagógicos dos Cursos de Formação Inicial
de Professores de Língua Portuguesa das diferentes instituições vocacionadas para tal.
As aulas de Língua Portuguesa, no que têm de mais comum, passam por aspectos a ver
com a leitura, a escrita e os conhecimentos gramaticais, de forma cíclica; ou seja, o
trabalho do professor de Língua Portuguesa, de maneira geral e de acordo com práticas
enraizadas, consiste em trabalhar os aspectos anteriormente mencionados, repetindo tais
práticas ao longo do ano. Estas práticas herdadas do sistema de formação de que os
professores são fruto, muitas vezes, são irreflectidas, no sentido de estes não poderem
17
justificar a sua actuação, nem mesmo terem uma concepção sobre o que é ou deveria ser
a aula de Língua Portuguesa. Fonseca, F.I. & Fonseca. J. (1977:53) concluem que “A
aula de Português é sempre aula de língua, de linguagem, de comunicação. Visará, pois,
o desenvolvimento e a estruturação da competência comunicativa do aluno que o
tornará apto a usar melhor a sua língua - usar melhor não apenas como aperfeiçoamento
de tipo estrutural, de correcção de estruturas e aquisição de estruturas novas, mas
também e sobretudo como obtenção de sucesso na adequação do acto verbal às
situações de comunicação.” Assim, formar o professor de Português em metodologias
de ensino pressupõe prepará-lo para que possa ser capaz de encaminhar os alunos para o
desenvolvimento de competências linguísticas e pragmático-discursivas, que os
permitam realizar-se linguisticamente enquanto integrantes de uma comunidade
linguística. Por isso, apontam-se, aqui, domínios essenciais para o ensino da língua,
nomeadamente: domínio da oralidade, domínio da leitura, domínio da escrita, domínio
do conhecimento explícito da língua, domínio do texto literário, acompanhados de
abordagens ligadas às formas de avaliação que se podem adoptar em cada um dos
domínios eleitos.
A nossa proposta, como adiantamos acima, sugere novas formas de abordar as temáticas
que o programa existente no ISCED de Luanda já contempla, além de sugerir também
outras temáticas entre as quais destacamos a avaliação da escrita, a avaliação da
oralidade, a avaliação da leitura, entre outras, tidas como essenciais para a formação de
professores desta área, com vista a engendrar uma nova forma de construir e concretizar
as aulas de Português.
1. OBJECTIVOS
18
As aulas de Metodologia, além de se organizarem em função da aprendizagem do como
ensinar, atendem também ao que ensinar. No programa, estas finalidades estão
organizadas como Objectivos Gerais e objectivos específicos
19
2. RESULTADOS DE APRENDIZAGEM
20
7. Fale, justificadamente, sobre o conceito de leitura em diversas perspectivas;
11. Estruture e dirija as aulas língua portuguesa com base nos princípios
didacticamente orientados.
3. CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
21
3.1. 1.ª Unidade Temática – Metodologia de Ensino/Didáctica da Língua
Portuguesa
22
3.2. 2.ª Unidade Temática – Didáctica da Oralidade
Uma das coisas mais importantes que aprendemos na infância é a nossa língua materna,
instrumento que utilizaremos por toda a vida para compreendermos o que nos rodeia e
para comunicarmos os nossos sentimentos. Este valioso instrumento é aprendido, em
primeira instância, na sua forma oral, forma em que grande parte das trocas discursivas
é realizada formal ou informalmente. Entretanto, a prática pedagógica corrente prioriza
outros domínios, nomeadamente a escrita, a leitura e o funcionamento da língua, como
se, à entrada a escola, os alunos já soubessem contextualizar os seus discursos orais
olhando para o género e o tipo de texto, a situação de comunicação consoante seja
formal ou informal, os elementos que intervêm em determinadas circunstâncias e não
só. Assim, com o objectivo de contribuir para uma abordagem mais ampla e
teoricamente fundamentada do oral no processo de ensino e aprendizagem da Língua
Portuguesa, seleccionamos este grande tópico, dando destaque para três aspectos
essenciais: o treino da produção do oral; o treino da recepção (compreensão) do oral e a
avaliação da competência oral.
Para Ferraz (2006:29), o oral tem sido o parente pobre do ensino da língua, sensação
com que ficamos também, pois, o que constatamos, são actividades que se constituem
em oralização da escrita. O oral, enquanto domínio de ensino da língua, deve constituir
objecto de abordagem específica, com características que o distinguem dos outros
domínios, enquadrando-o em tipologias e a géneros, representando as especificidades
discursivas. Nas palavras de Figueiredo (2005:53), aprender a falar “desenvolver o oral”
é apropriar-se dos instrumentos para falar em situações de língua diversas, através de
todo o tipo de textos e de géneros discursivos que diferem segundo os contextos. Os
23
géneros textuais são tipos relativamente estáveis de enunciados (BAKHTIN, 2003) que
as pessoas utilizam, na sociedade, para interagir nos mais diversos contextos. É o caso
de receitas culinárias, lista de compras, carta comercial, carta pessoal, bula de remédio,
resenha, edital de concurso, bate-papo por computador, telefonema, etc. Estes textos
têm modos próprios de organização do discurso, numa espécie de sequência (ou tipo
textual) teoricamente definida pela natureza linguística da sua composição (aspectos
lexicais, sintácticos, tempos verbais, relações lógicas, etc.) e pela função desempenhada
no texto, bem como as categorias narração, descrição, exposição, argumentação,
injunção e diálogo. Cada gênero textual constitui-se a partir da combinação de um ou
mais desses modos de organização, com características e objetivos definidos (Pereira et
al., 2006).
Didactização da escrita 4
24
Avaliação da escrita 4
25
3.4. 4.ª Unidade Temática – Didáctica da Leitura
- Avaliação da leitura 4
26
cognitiva prévia, no sentido de um texto não significar por si só, o que o leva a dialogar
com outros autores para completar-se e, com isto, preencher os espaços vazios que pode
apresentar, e, por fim, diferenciada dentro dessa estrutura e sujeita a consolidação e
reconciliação, pois, a leitura de um texto leva a mobilização de conhecimentos
extratextos, embora depois retorne ao texto; ou seja, o texto é o ponto de partida e o de
chegada, apesar de, ao longo da leitura, haver a necessidade de sair deste. Como se pode
compreender, a leitura aqui defendida é uma confluência de actividades que devem
proporcionar momentos em que o leitor (aluno) seja capaz de desestruturar determinado
texto, restruturando-o em função da leitura que dele fizer e do conhecimento prévio que
seleccionar durante os momentos de preparação (pré-leitura), ligando-os com o seu
conhecimento do mundo. É nesse sentido que achamos importante incluir esta unidade
temática na nossa proposta de programa para Metodologia de Ensino da Língua
Portuguesa.
-A gramática do uso 6
Durante largos anos, estudar a gramática era sinónimo de estudar a língua, o que levava
a concluir que quem dominasse a gramática, dominava, simultaneamente, a língua. Esta
concepção fez com que as aulas de Português fossem ocupadas, essencialmente, pelo
trabalho com o conhecimento explícito/gramática, visto em si como fim último das
aulas, pois as aulas eram entendidas como espaço para treinamento e aperfeiçoamento
do conhecimento gramatical, apesar de estar desligado dos contextos de utilização. Era,
27
portanto, segundo Possenti, citado por Silva (2008: 498) a gramática da palavra,
excluindo, do ensino escolarizado, a gramática do texto. Todavia, as trocas discursivas
que ocorrem durante a interacção verbal, não se limitam simplesmente a palavras soltas,
frases curtas; a interacção é feita por textos com reduzida ou elevada complexidade,
requerendo, da escola em geral, e das aulas de Português em particular, a adopção da
gramática do texto em detrimento da língua em uso, na sua complexidade e variedade,
tendo em conta dimensões linguísticas, cognitivas, discursivas/textuais e sociais,
fazendo com que a aula de Português seja, como propõem Fonseca & Fonseca (1977),
aula língua, de linguagem e de comunicação, visando a estruturação da competência
comunicativa do aluno.
Esta perspectiva, a da gramática do uso não foi acompanhada por muitos professores,
sobretudo no contexto angolano, por vários motivos, nomeadamente por nós,
professores, termos sido formados nessa perspectiva, a da gramática da palavra; por não
termos habilidades para trabalhar as regras e regularidades de língua em uso, nos
discursos e, em última hipótese, por desconhecermos, didacticamente, esses
funcionamentos e regras. É em reacção a esta ainda resistente adopção de perspectivas
que olham para o texto como o foco do trabalho com o conhecimento
explícito/gramática, que seleccionamos esta unidade temática para a Metodologia de
Ensino da Língua Portuguesa, com a qual esperamos que os futuros professores possam
ser capazes de trabalhar as regras da língua em uso, aplicando, essencialmente, a
aprendizagem por descoberta, sugerida por Lomas (2006) citado por Silva (2008:127).
Portanto, esta unidade propõe para reconfigurar a prática de trabalho com o
conhecimento explícito da língua.
Para a primeira unidade temática sugerida propusemos um total de nove horas, mais
reduzida no cômputo de todas, porque entendemos que, sendo de carácter introdutório,
28
visa apenas evidenciar os conceitos fundamentais, distinguindo-os em função dos
aspectos que defendem. É totalmente teórica.
Em relação à terceira unidade temática, entendemos atribuir trinta horas lectivas por
razões idênticas às aludidas no ponto anterior. A leitura é uma componente trabalhada,
frequentemente nas aulas de língua, e Língua Portuguesa em particular; entretanto, a
forma aplicada para tal explora aspectos circunscritos na caracterização destes em
termos de composição, sem olhar para pormenores que permitem aproximar o leitor
daquilo que o texto tem em termos de conteúdo. Assim, a atribuição desse número de
horas justifica-se pelo facto de apresentar, discutir e exercitar procedimentos que
permitam trabalhar os textos explorando-os ao máximo, de modos que produzam
sentidos para quem os lê.
A escrita e a gramática são domínios que a escola elege como infalíveis nos programas
de ensino; não constituem, tal como os anteriores domínios, novos elementos nos
programas de formação de professores de línguas. Para estes, atribuímos vinte e duas e
vinte uma horas, respectivamente, em função da forma como queremos que nossa
proposta seja trabalhada; incluímos, além das abordagens teóricas, actividades práticas e
uma abordagem que liga os estudantes ao campo de actuação, com a revisão aos
programas e os manuais didácticos do ensino secundário.
4. METODOLOGIA DE ENSINO
O currículo aqui proposto visa, essencialmente, contribuir para formação inicial sólida
de professores de Língua Portuguesa, desenvolvendo, nestes, competências e
habilidades que permitam não só leccionar, mas também estudar o processo de ensino
por meio de reflexões em torno da sua acção. Assim, as metodologias a usar durante as
29
aulas desta Unidade Curricular deverão ser potencializadoras das competências e das
habilidades, resultando, em capacidade para dirigir o processo de ensino da Língua
Portuguesa com convicção e com reflexividade, com vista a melhorar a sua própria
prática.
No contexto para que foi pensada esta Unidade Curricular, as turmas são constituídas
por alunos de origem heterogénea em termos de escola do II Ciclo, uma vez que este se
organiza em II ciclo geral, II ciclo técnico-profissional e II ciclo pedagógico. Esta
heterogeneidade, enquanto parte do perfil de entrada, deve constituir preocupação da
instituição, no sentido de homogeneizar ou pelo menos aproximar os estudantes em
relação aos conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e ética, pois espera-se do
formando, no fim da formação, que tenha conhecimento da organização do sistema
educativo angolano; conhecimento da organização do currículo do ensino secundário e
dos programas de ensino das disciplinas específicas a ensinar; organização de ambientes
educativos e gestão da sala de aula no ensino secundário; gestão do currículo e da
aprendizagem disciplinar no ensino secundário. Espera-se, ainda, que o formando seja
capaz de fazer uma participação activa na comunidade educativa e monitorizar a
aprendizagem dos alunos. Assim, as aulas desta Unidade Curricular serão dirigidas
através de metodologias que privilegiem a participação, a inclusão, a reflexão, a
socialização, a integração de saberes e, sobretudo, o trabalho colaborativo, sem descurar
a articulação teoria-prática consubstanciada nos trabalhos em grupo e/ou individuais.
O desenvolvimento das actividades previstas neste currículo deverá ser feito de forma
gradual, tendendo para o alcance dos objectivos enunciados no início desta proposta de
programa. O carácter gradual das actividades será acompanhado pelo professor, por
meio da avaliação que, de acordo com Arturo de la Ordem (1997) citado por Afonso e
Agostinho (2019:78), é um processo sistemático de recolha, análise e interpretação de
informação relevante e fiável para descrever qualquer faceta da educação e formular um
juízo sobre a sua adequação a um critério, base para a tomada de decisões a respeito
dessa faceta.
30
quem dirige, do professor, tomada de decisões de forma assertiva e pontual para que o
processo continue a desenvolver-se. Neste sentido, a avaliação formativa será
privilegiada no decorrer das aulas da Unidade Curricular em causa, tendo em conta que
visa o crescimento dos estudantes, ajudando-os naquilo que se considerar necessário
para a sua formação enquanto futuros professores. Assim, como instrumentos de
avaliação, usar-se-ão, principalmente, portefólios, análise de documentos e trabalhos
escritos em grupos, sem negligenciar a participação nas aulas, a qualidade das
intervenções nos debates, a adequação das intervenções ao assunto em debate, as
leituras extra-aula e o saber fazer que, neste contexto, dependerá daquilo que o
formando demonstrar, na componente prática da Unidade Curricular.
31
As actividades avaliativas previstas para esta Unidade Curricular ocupam, cada uma,
uma percentagem em relação à avaliação sumativa final do estudante. Ao longo das
aulas o professor fará registo das intervenções aos debates, bem como da assiduidade
dos estudantes; esses elementos, no final do ano académico, ocuparão uma percentagem
de 25%; as actividades teórico-práticas e práticas, nomeadamente a análise de
documentos, a didactização de temáticas e as apresentações/discussões com o grupo-
turma, ocuparão, no final, 50%; o portefólio reflexivo ocupará 25% da avaliação final.
6. MATERIAIS DE APOIO
32
5- Actividades reflexivas: durante as aulas, além da exposição inicial ou final oral
do professor, serão levantadas questões ligadas aos temas em abordagem ou,
ainda, trechos de autores cuja reflexão tenha relação com o tema da aula ou da
unidade temática. Estas questões serão reflectidas em grupos ou em pares,
apresentando, no final, os resultados da reflexão, com os quais o professor
partirá para a abordagem geral programada para determinada temática.
33
específicas desta, os estudantes devem ter contacto com os documentos que
regulam e suportam o processo de ensino no subsistema para o qual se estão a
formar. Neste sentido, ao longo das aulas procurar-se-á associar as abordagens
com aquilo que os referidos documentos orientam, nomeadamente o programa
de Língua Portuguesa do II Ciclo, os manuais didácticos e o Plano Curricular, de
acordo com a temática em abordagem. Neste caso, a revisão documental
consistirá em verificar, nestes, os aspectos trabalhados durante as aulas de
Didáctica/Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, fazendo uma
comparação entre o que se orienta didáctico-metodologicamente e o que está
plasmado nos documentos orientadores.
7. BIBLIOGRAFIA BÁSICA
34
base, autores que, pela clareza com que apresentam as ideias, ajudam grandemente,
sobretudo em casos de formação inicial. São os seguintes:
35
PARTE – II
MANUAL DA UNIDADE
CURRICULAR DE
METODOLOGIA DE LÍNGUA
PORTUGUESA
INTRODUÇÃO
1. DIDÁCTICA DA ORALIDADE
De acordo com Ferraz (2006:29), “o oral tem sido o parente pobre do ensino da língua”,
dado que o que se faz em relação ao oral é a chamada oralização da escrita. A língua é
um valioso instrumento que é aprendido, em primeira instância, na sua forma oral,
37
forma em que grande parte das trocas discursivas é realizada formal ou informalmente.
Tal não significa que a criança domine o vocabulário da língua, as especificidades a
adoptar em cada circunstância, o comportamento verbal dos seus interlocutores em
função de factores como a idade, o estatuto social e a situação de comunicação, e tantos
outros. Mas, sobretudo, a criança produz espontaneamente determinados discursos ou
interações, necessariamente limitados ao seu espaço social. A escola, por meio das aulas
de língua portuguesa trabalhava e, em muitos contextos, ainda trabalha, com mais
profundidade, a escrita, a leitura e o funcionamento da língua, considerando, contudo, a
oralidade como subcomponente das dimensões mais trabalhadas; ou seja, o facto de os
alunos lerem em voz alta e apresentarem determinadas tarefas em sala de aula, pode ter
sido entendido como trabalho único com a oralidade. Entendido como um dos grandes
domínios no ensino da língua, o oral é, segundo Figueiredo (2005:53) “um objecto
semiótico constituído de signos organizados de maneira regular para realizar uma acção
numa situação particular”. É a dimensão fundamental das línguas; as pessoas podem
não aprender a escrever, mas todas, com algumas excepções, aprendem a falar uma, a
sua língua materna. O oral deve constituir objecto de abordagem específica, com
características que o distinguem dos outros domínios.
Neste sentido, com o objectivo de contribuir para a melhoria do trabalho didáctico com
a oralidade no processo de ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa, selecionámos
este grande tópico, entre outros propostos no currículo, destacando três aspectos
essenciais: o treino da produção do oral; o treino da recepção (compreensão) do oral e a
avaliação da competência oral. Por isso, o professor em formação inicial deve ser
potencializado metodologicamente para actuar, neste domínio, com distinção, evitando
as práticas ritualizadas que consideram a leitura em voz alta como trabalho com a
oralidade.
38
preciso considerar e aproveitar, nas aulas, a variedade trazida pelo aluno, pois é uma
forma de minimizar o preconceito linguístico vigente na sociedade.” Para que o aluno se
torne consciente da interacção que pode resultar do uso da linguagem, são necessárias
práticas didácticas sistemáticas, no contexto escolar, particularmente no que diz respeito
à oralidade, entendendo, desde cedo, que não existe um único padrão para o uso do oral;
“... o oral não existe; existem os orais, atividades de linguagem realizadas oralmente,
gêneros que se praticam essencialmente na oralidade” (Schneuwly, 2004:117),
representando, cada um, determinada forma de interacção neste domínio, enquadradas
nos mais variados géneros discursivos orais. Aparece, então, a pedagogia e a didáctica
da oralidade para sustentar o trabalho do professor no domínio em causa, com propostas
de trabalho que podem contribuir para uma abordagem mais consistente. Neste sentido,
é preciso atender aos géneros tipicamente orais, para, a partir destes trabalhar os
detalhes. Segundo Schneuwly e Dolz (2004:148) “A noção de gênero permite articular a
finalidade geral de aprender a comunicar com os meios linguísticos próprios às
situações que tornam a comunicação possível.” Para isso, é preciso trabalhar o oral por
meio de textos, géneros textuais, uma vez que eles permitem estudar os fenómenos de
textualidade em relação às situações de comunicação.
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a concebe como uso, como comunicação, como instrumento de interacção, perspectiva
que mais se adequa ao trabalho com a oralidade, e cuja aplicação recomendamos.
2. PROPOSTA DE DIDACTIZAÇÃO
Resultados de aprendizagem
Cria condições para que os alunos possam migrar da condição de falantes cujos
desempenhos linguísticos são invariáveis para falantes com capacidade de
contextualização;
Durante a aula:
Figueiredo (2005, pp. 49-
1- Diálogo oral sobre o tema em estudo, explorando a 54);
concepção que os alunos têm sobre a oralidade
2- Leitura dos textos de apoio indicados para a aula, em Azevedo (2015, pp. 18-
cinco grupos, sendo um autor por cada grupo, com o 20);
40
propósito de saber: o que cada autor concebe como
Amor (1993, pp. 63-73);
oralidade; o que define como objecto deste domínio; por
que se deve trabalhar a oralidade na escola.
Ferraz (2007, pp. 29-34).
1.1- Indiquem, em cada grupo, um representante para
apresentar e argumentar as conclusões a que o seu Áudio contido no
grupo chegou, em forma de debate. telemóvel do professor,
4.1- Analise as alterações que a mensagem foi ganhando Amor (1993, pp. 63-73).
do primeiro emissor ao último destinatário.
41
Inferir o sentido de palavras desconhecidas;
Compreendê-la e interpretá-la;
6.1- Postura
6.2- Gesticulação
6.5- Dicção
6.6- Ritmo
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original.
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SOLUÇÕES PARA ALGUNS EXERCÍCIOS APRESENTADOS OBSERVAÇÕES
Ponto 2- Ferraz (2006) concebe o oral como fala espontânea, sobre a qual
se deve trabalhar para que o aluno vá do espontâneo ao planificado. Sobre
o mesmo assunto, Figueiredo (2005) diz ser um objecto semiótico Este conteúdo
constituído de signos organizados de maneira regular para realizar uma deverá sustentar o
acção numa situação particular. Amor (1993), por sua vez, concebe-o debate realizado
como modalidade da linguagem verbal com vocação dialogal que visa depois da leitura
proporcionar as trocas comunicativas entre falantes. Por fim, Azevedo dos quatro autores
(2010), concebe o oral como domínio linguístico de intercâmbio indicados.
quotidiano que se adquire, fundamentalmente, de forma intuitiva.
Trabalhar a oralidade na escola é, como diz Ferraz (2006) pelo facto de o Tembe, Maxaieie
aluno não dominar, à entrada a escola, o vocabulário da língua, a língua & Matabel, (2019)
padrão, que a sua pronúncia é adequada ao contexto e se a sua postura 3º Capítulo;
anula ou potencia o valor da mensagem veiculada. Azevedo (2010), no
mesmo sentido, diz que é na escola que as crianças terão a oportunidade de
contactar com um código linguístico mais elaborado, mais diversificado do Amor (1993, pp.
que aquele que habitualmente conhecem e usam. Assim, a escola tem de 63-73).
ser o lugar de desenvolvimento da linguagem oral. Figueiredo (2005) diz
que o oral formal aprende-se fundamentalmente na escola, pois, para a
escola, na escola, aprender a falar significa apropriar-se dos instrumentos
para falar em situações de língua diversas, através de todo tipo de textos e
de géneros discursivos que diferem segundo os contextos. Finalmente,
Amor reconhece que a especialização dos discursos e o domínio
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instrumental das técnicas de comunicação, na perspectiva da realização
plena do indivíduo cabe à escola. Portanto, é necessário trabalhar a
oralidade na escola.
Ponto 3- Este ponto não é passível de uma única abordagem, pois a sua
argumentação decorre da forma como cada aluno olha para a oralidade,
essencialmente as trocas discursivas que ocorrem em sala de aula, entre
professores e alunos. É um exercício com o qual se pretende exercitar a
capacidade de argumentação dos alunos.
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base naquilo que a bibliografia específica indica para o trabalho com a
oralidade em sala de aula. Aqui, mais do que síntese, o foco será a
apresentação de diferentes pontos de vista em relação ao que os autores
consideram trabalho com a oralidade, particularmente no que toca as
actividades que contribuem para o desenvolvimento da produção, da
compreensão e no treino da avaliação da competência oral dos alunos. Os
aspectos aflorados na fundamentação teórica da unidade temática servirão
para reforçar a abordagem a apresentar aqui.
Actividades de autoavaliação
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CONCLUSÃO GERAL
Portanto, a nossa proposta não visou apresentar temas nunca abordados nas aulas de
Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, mas sim, trazer uma diferente forma de
abordar os temas habitualmente trabalhados em função do que se prevê no Regime
Jurídico de Formação Inicial de Professores.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GERALDI, J. W. (org.) (1999). O Texto na Sala de Aula. São Paulo, Ática.
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