Ensine Seu Filho A A Pensar

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"Estimular a autonomia é o mais importante.

Os pais superprotetores amputam a autonomia


dos filhos"

'Ensine o Seu Filho a Pensar - Como Formar Crianças e Adolescentes Independentes,


Confiantes e Bem-Sucedidos' é o novo livro de Renato Paiva, pedagogo especialista em apoio
terapêutico-pedagógico. Conversámos com o autor para perceber como se faz isso de ensinar
um filho a pensar. E porque é tão importante.

Entre as competências importantes a estimular nas crianças e nos adolescentes, quais


considera as mais importantes?
A autonomia. Ser autónomo significa conseguir pensar e agir, de uma forma global, por si. E,
neste sentido, não porque seja melhor fazer as coisas sozinho, mas por ter de as pensar e
maturar, muitas vezes sozinho. Desde gerir finanças pessoais a alcançar objetivos profissionais
ou familiares. E, principalmente, assumir escolhas e decisões que tomamos.

E quais são as que atualmente estão mais "ameaçadas"?


A autonomia, pelo modelo parental excessivamente protetor; a criatividade, pelo modelo
académico da valorização da repetição e memorização; e o positivismo por socialmente se dar
maior ênfase ao negativo.

Qual é o maior obstáculo ao ensinar a pensar?


Acho que o maior obstáculo é a limitação que atribuímos ao conceito do pensamento. Muito
frequentemente ficamos reduzidos ao pensamento lógico, o que torna muito redutor
promover e desenvolver outros tipos de pensamento. Como a autocrítica, por exemplo. A
capacidade de pensar sobre nós é algo difícil e pouco usual na nossa cultura.

É cada vez mais frequente adolescentes que não escolhem roupa, que não vão para casa
sozinhos ou que não sabem cozinhar. O medo provoca esta superproteção que em muito
limita o desenvolvimento dos filhos.

Fala nos pais superprotetores ou helicóptero. Em que medida, pensando que estão a
proteger os filhos, estão a prejudicá-los?
A questão não é a proteção, essa é boa, o excesso de proteção é que é impeditivo de as
crianças terem vivências plenas. Os pais superprotetores amputam a autonomia dos filhos,
muitas vezes fazendo com eles algo que já deveriam fazer sozinhos, ou pior, fazendo por eles. É
cada vez mais frequente adolescentes que não escolhem roupa, que não vão para casa
sozinhos ou que não sabem cozinhar nada para comer. Sobretudo nos grandes centros
urbanos. O medo provoca esta superproteção que em muito limita o desenvolvimento dos
filhos.

E o que os pais podem fazer para combater o medo e a ansiedade que os leva a esta
superproteção?
A maioria dos medos e receios dos pais são empolados pela ênfase no negativismo cultural.
Quem quer procurar soluções encontra soluções, quem quer procurar problemas encontrará
problemas. Os filhos são encarados hoje como preciosidades. Como autênticas bolas de cristal
que não se podem partir, nem sequer arranhar! Se olharmos para as crianças na rua, os pais
têm medo de que brinquem porque podem cair. É raro encontrar crianças com joelhos ou
cotovelos esfolados, e muito menos roupa com remendos. Os pais, para se sentirem melhores
pais, procuram que os seus filhos sejam perfeitos e imaculados. Quando as crianças não são
nem perfeitas nem se querem imaculadas.
Outra das competências que diz ser importante cultivar é a autocrítica, mas é importante que
seja equilibrada com autoestima, para ser justa e eficaz. Como fazer este equilíbrio? Os pais
criticam de mais e elogiam de menos (ou vice-versa)?
Saber que se comete erros, que é natural e normal errar e faz parte da aprendizagem, é algo
importante a vincar desde já. Não há aprendizagem sem erro. Diabolizamos muito o erro e
queremos que as crianças não errem. Este estilo de parentalidade envolve aquilo de que há
pouco falávamos, a hiperproteção. Como se errar fosse criar traumas futuros. Ao errar estamos
a aprender e a refletir sobre o que levou ao erro, como posso melhorar, o que posso fazer
diferente. Este pensamento crítico sobre o desempenho do próprio permite não apenas
conhecermo-nos melhor mas também sabermos as nossas limitações, como também as
potencialidades. Reconhecer não só aquilo em que erramos e não somos tão bons mas
igualmente reconhecer em que é que somos naturalmente bons. Parece impregnado na nossa
cultura dar maior evidência à crítica do que ao elogio. E sim, deveríamos elogiar mais.

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