TCC - Nathan Furlan Valente

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UNIVERSIDADE CATLICA DE SANTOS

NATHAN FURLAN VALENTE

CHORANDO QUE SE APRENDE:


O CHORO NA EDUCAO MUSICAL E SOCIAL

SANTOS 2017
NATHAN FURLAN VALENTE

CHORANDO QUE SE APRENDE


O CHORO NA EDUCAO MUSICAL E SOCIAL

Trabalho de Concluso de Curso apresentado


Universidade Catlica de Santos como exigncia
parcial para a obteno do grau de Licenciado em
Msica.
Orientadora: Profa. Me. Cibele Palopoli

Visto de autorizao do professor orientador

SANTOS 2017
NATHAN FURLAN VALENTE

CHORANDO QUE SE APRENDE

O CHORO NA EDUCAO MUSICAL E SOCIAL

Trabalho de Concluso de Curso apresentado


Universidade Catlica de Santos como exigncia
parcial para a obteno do grau de Licenciado em
Msica
Orientadora: Profa. Me. Cibele Palopoli

Banca Examinadora

_________________________________________________________
Prof. Me. Cibele Palopoli -- Universidade Catlica de Santos - Unisantos

_________________________________________________________
Prof. Me. Ricardo Cardim de Cerqueira - Universidade Catlica de Santos -
Unisantos

Data da aprovao _____________________

SANTOS 2017
VALENTE, Nathan. chorando que se aprende: o Choro na educao musical
e social. Santos, 2017, 134 p. (Trabalho de Concluso de Curso) Universidade
Catlica de Santos.

Embora venha de uma tradio oral, o ensino do Choro tem sido sistematizado
e utilizado como ferramenta de aprendizado musical. O presente trabalho
estudou a metodologia usada por escolas de Msica que tem o Choro como
principal gnero em sua formao e que tambm trabalhem com a formao
social e da cidadania interligadas com o quesito musical. Foram estudadas as
instituies: Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello (Braslia); Escola
Porttil de Msica (Rio de Janeiro) e a Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7
Cordas (Santos-SP). Este trabalho justifica-se por sistematizar e entender as
maneiras que o gnero Choro vem sendo ensinado. A metodologia se deu por
meio de levantamento e estudo bibliogrfico de livros, dissertaes, teses,
artigos, filmes e vdeos j feitos sobre o assunto, alm de entrevistas com
professores das citadas instituies, visando entender seus mtodos e pontos
de vista sobre o projeto nos quais esto inseridos e compreender como o Choro
e toda sua tradio dialoga com a vida dos alunos atendidos. O resultado obtido
foi o entendimento dos mecanismos de funcionamento dos projetos sociais que
usam a msica e a cultura do Choro como meio de educao musical e social
para crianas e jovens.

Palavras chave: Choro; Educao Musical;


SUMRIO

Introduo.......................................................................................................6

Captulo 1: O Choro: origens histricas e caractersticas musicais...........9

Captulo 2: Os Chores e a roda de Choro: anlise das entrevistas........16

Captulo 3: As escolas de Choro..................................................................19

3.1: Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello (Braslia).......................20


3.2: Escola Porttil de Msica (Rio de Janeiro)..........................................26
3.3: Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas (Santos).................29

Concluso.....................................................................................................39

Referncias bibliogrficas...........................................................................41

Apndices.....................................................................................................44

1. Lista das ementas e professores da Escola Brasileira de Choro


Raphael Rabello............................................................................................44
2. Lista das ementas e professores da Escola Porttil de Msica.............66
3. Entrevista com Fernando Csar (Escola Brasileira de Choro Raphael
Rabello).........................................................................................................79
4. Entrevista com Henrique Neto (Escola Brasileira de Choro Raphael
Rabello).........................................................................................................88
5. Entrevista com Pedro Amorim (Escola Porttil de Msica)...................98
6. Entrevista com Marcelo Amazonas (Escola de Choro e Cidadania
Luizinho 7 cordas)......................................................................................110
7. Entrevista com Nino Barbosa (Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7
cordas).........................................................................................................126

Introduo

O Choro uma msica tipicamente urbana. Apesar de ser um gnero de


difcil execuo, seu ensino atravs dos anos se deu por meios majoritariamente
informais e principalmente nas tpicas rodas de Choro, onde os aprendizes
entram em contato com os chamados mestres do gnero presenciando assim
uma grande escola de aprendizado musical e social.

Escolas como a Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello em Braslia,


a Escola Porttil de Msica no Rio de Janeiro, e a Escola de Choro e Cidadania
Luizinho 7 Cordas em Santos vm desenvolvendo trabalhos ligados ao ensino
do Choro tendo a msica como ponto de partida e usando essa predisposio
do Choro convivncia social para uma educao social complementar.

Este trabalho se props a estudar e entender os meios adotados por estas


escolas e justifica-se na importncia que o Choro, uma msica tipicamente
brasileira, tem sido trabalhado e ganhado significado na vida de jovens que no
teriam contato com essa msica por outros meios e podem enriquecer suas
trajetrias por meio da Arte e de todo o contexto histrico e social que o gnero
carrega junto de si.

Alm disso, de extrema importncia estudar projetos que trabalhem com


um sistema de educao no formal e entender seus mtodos, significaes e
importncia na vida das crianas e adolescentes atendidos, podendo assim
servir de referncia para futuras escolas e projetos a serem desenvolvidos.

Apesar das escolas destacadas j virem utilizando do Choro para o ensino


musical e o desenvolvimento social, ainda escassa a produo bibliogrfica
que analisa os resultados obtidos e os meios de ensino adotados por essas
escolas. Ademais, os professores de Choro ainda sofrem com uma carncia de
material didtico organizado sistematicamente para o conhecimento e posterior
aprofundamento no gnero.

A presente monografia teve como objetivos gerais a propagao do Choro


assim como o registro de como este gnero musical tem sido ensinado. Dentre

os objetivos especficos, visamos estudar as j citadas escolas; seus respectivos


meios de ensino adotados; assim como a socializao propiciada atravs do
aprendizado e da prtica do gnero.

Assim, este trabalho justifica-se na contribuio para um entendimento


dos padres adotados pelas escolas e nos resultados que podem contribuir tanto
no quesito musical quanto no quesito social para desenvolvimento de novos
projetos.

Esta monografia tambm se justifica por motivaes pessoais: vindo de


famlia com av choro, o autor viu-se encantado no s com as melodias,
harmonias e baixarias1 contidas nas msicas do enorme repertrio chorstico,
mas tambm com os caminhos que a cultura e a vivncia entre os amantes e
msicos do gnero se desenvolvem. Sendo assim, agora no papel de
pesquisador e professor2, sentiu-se no dever, como forma de agradecimento, de
contribuir para o estudo do Choro.

O ttulo deste trabalho, chorando que se aprende, foi inspirado por um


choro de Alessandro Penezzi (n. 1974), gravado no disco Dana das cordas
(2013).

A metodologia baseou-se no levantamento bibliogrfico sobre livros,


dissertaes, teses, artigos, filmes e vdeos j elaborados sobre o assunto
pesquisado; alm de entrevistas com os professores das escolas abordadas,
sendo eles:

1. Fernando Csar (Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello -


Braslia);
2. Henrique Neto (Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello -
Braslia);
3. Pedro Amorim (Escola Porttil de Msica - Rio de Janeiro);


1
Baixarias so fraseados executados geralmente pelo violo 7 cordas, oriundos originalmente
dos contrapontos realizados no saxofone tenor por Pixinguinha, sendo uma das caractersticas
mais evidentes do Choro.
2
O autor deste trabalho foi professor do Projeto Msica e Cidadania entre os meses de agosto
de 2016 a julho de 2017 ministrando aulas de violo 6 cordas.

4. Marcelo Amazonas (Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7


Cordas - Santos);
5. Nino Barbosa (Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas -
Santos).

Na concluso, obtivemos um panorama do ensino do Choro nas principais


escolas que lidam com o gnero no Brasil, seus meios de ensino e metodologias,
alm de termos visualizado alguns dos resultados j obtidos dentro das
comunidades em que as mencionadas escolas esto inseridas.

Cap. 1: O Choro:
origens histricas e caractersticas musicais

O Choro tem seus primrdios relacionados chegada da famlia real


portuguesa ao Brasil em 1808 e incorporao das danas europeias na cultura
brasileira. Como manifestao social surgiu em meados da dcada de 1870 no
Rio de Janeiro atravs do abrasileiramento no modo de execuo dessas danas
importadas pelos portugueses, tais como a polca, a valsa e a schottish. Tais
danas mesclaram-se a ritmos africanos, que eram genericamente denominados
por batuque3. Posteriormente, surgiram outras danas nacionais, tais como o
tango brasileiro, o maxixe e o choro. Sendo, portanto, o Choro, enquanto gnero
msical, integrado pelos supracitados ritmos: polca, valsa, schottish, tango
brasileiro, maxixe e o seu homnimo, choro4 (SEVERIANO, 2008: 28). Assim
sendo, o Choro considerado uma maneira de tocar que tem suas origens nos
trios de pau e corda ou ternos, como eram conhecidos os conjuntos formados
por flauta, cavaquinho e violo, em que a flauta era responsvel pela melodia, o
cavaquinho pelo ritmo e o violo pela harmonia, sendo o flautista um dos nicos
msicos hbeis a ler partituras devido sua formao geralmente associada s
bandas marciais.

Um dos maiores compositores dessa poca e um dos pais dos conjuntos


de pau e corda o flautista e compositor Joaquim Antnio da Silva Callado
(1848-1880). Considerado um dos pilares fundadores do Choro, algumas de
suas obras so tocadas at os dias atuais nas rodas5, sendo Flor amorosa sua
pea mais conhecida e executada.

Datam da mesma poca de Callado os pianistas e compositores


Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Ernesto Nazareth (1863-1934), alm do multi-
instrumentista e tambm compositor, Anacleto de Medeiros (1866-1907). Estes

3
Um dos ritmos africanos que mais influenciou o gnero foi o Lundu, inicialmente uma
modalidade de dana com melodia e harmonia europeias e ritmo africano em compasso binrio,
caractersticas essas que ainda esto presentes no Choro.
4
Ressaltamos aqui que, neste trabalho, usaremos a diferenciao na grafia de Choro (com C
maisculo) para nos referirmos manifestao cultural e social; e choro (com C minsculo)
para nos referirmos a um determinado ritmo que, dentre outros, integra a manifestao Choro.
5
A roda de Choro ser abordada com mais nfase no captulo seguinte desse trabalho.

msicos so tambm considerados pilares fundamentais do gnero, possuindo


obras que so tocadas com frequncia nas rodas de Choro e fazem parte do
repertrio obrigatrio de qualquer choro. Podemos mencionar como exemplo,
o maxixe Gacho (Corta-jaca), de Chiquinha Gonzaga; os tangos brasileiros
Odeon e Brejeiro, de Ernesto Nazareth; e o schottish Trs estrelinhas, de
Anacleto de Medeiros.

Outro nome fundamental para o estudo do gnero Alfredo da Rocha


Vianna Filho (1897-1973), o Pixinguinha. Compositor, arranjador e maestro, o
nome mais lembrado nas rodas de Choro at os dias atuais e suas composies
continuam sendo estudadas e gravadas por chores do mundo inteiro.

Esses mestres do Choro, foram homenageados pelo compositor gacho


e proeminente arranjador Radams Gnattali (1906-1988) em uma obra de
vanguarda que fez a msica de concerto dialogar com o conjunto de Choro, a
sute Retratos, escrita para bandolim, conjunto de Choro e orquestra de cordas,
onde cada movimento foi composto sobre o tema de um compositor que
simbolizava um pilar fundamental da msica brasileira. Composta por quatro
movimentos, a pea foi escrita em 1956 e gravada por Jacob do Bandolim no
ano de 1964:

O primeiro [movimento] foi dedicado ao compositor que Gnattali mais


admirou na msica popular: Pixinguinha. Para homenage-lo, o tema
selecionado foi Carinhoso, um Choro do qual Radams gostava
tanto, que escolheu para ser seu primeiro arranjo orquestral, ainda em
fins dos anos 1920. No segundo movimento, a homenagem para
Ernesto Nazareth na forma de uma valsa. Radams escolheu, dentre
tantas que adorava, Expansiva. O terceiro movimento homenageia
Anacleto de Medeiros com uma schottisch, gnero em que Anacleto foi
insupervel, a partir do tema de Trs estrelinhas. O quarto movimento
uma homenagem a Chiquinha Gonzaga, com o Corta-jaca, um
maxixe. Mesmo ela no sendo uma compositora segundo o prprio
Radams do mesmo porte dos trs primeiros, a soluo encontrada
foi musicalmente perfeita para Retratos terminar para cima. Pronta a
sute, foi dedicada a Jacob, msico que Radams admirava pela
seriedade e capricho (CAZES, 2010 [1998]: 127).

Jacob Bittencourt (1918-1969) foi um bandolinista e compositor carioca,


se tornou referncia no gnero devido suas composies, arranjos e tambm
pela seriedade com que tratava o Choro (CAZES, 2010 [1998]: 99-105). Alm
disso, seu conjunto, o poca de Ouro, contou com grandes msicos como Dino

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7 Cordas, Meira, Canhoto, Jorginho do Pandeiro e Jonas Silva, se tornando uma


referncia em acompanhamento, arranjos e bom gosto. At hoje vemos
composies e arranjos de Jacob do Bandolim, como ficou conhecido, sendo
tocadas em rodas de Choro exatamente da maneira em que foram gravadas em
seus discos.

A origem do nome Choro constante alvo de desacerto entre os


pesquisadores do gnero e ainda hoje no se sabe ao certo sua procedncia
exata. De acordo com o cavaquinista e historiador Henrique Cazes, no livro
Choro: do quintal ao municipal (1998), o termo Choro derivado da
interpretao meldica, sendo a palavra Choro utilizada originalmente para
denominar um msico que amolecia as polcas (CAZES, 2010 [1998]: 17). Jos
Ramos Tinhoro, em seu livro Pequena histria da msica popular (1974), diz
que o tom plangente e a impresso de melancolia foi o que acabou conferindo o
nome de choro a essa maneira de tocar (TINHORO, 2013 [1974]: 120). Ainda
sobre a origem da palavra, Cmara Cascudo, em seu Dicionrio do folclore
brasileiro (1954) afirma que:

Choro um nome genrico com vrias aplicaes. Pode designar um


conjunto de instrumentos, em geral flauta, oficleide, bandolim,
clarinete, violo, cavaquinho, pisto e trombone, com um deles
solando. Por extenso, chamam-se choros tambm as msicas
executadas por esses grupos de instrumentos, que acabaram tomando
um aspecto prprio e caracterstico. Por fim, choro denominao de
certos bailaricos populares, tambm conhecidos como assustados ou
arrasta-ps. Essa parece ter sido a origem da palavra, conforme
explica Jacques Raimundo, que diz ser originria da contracosta,
havendo entre os cafres uma festana, espcie de concerto vocal com
danas, chamado xolo. Os nossos negros faziam em certos dias, como
em So Joo, ou por ocasio de festas nas fazendas, os seus bailes,
que chamavam de xolo, expresso que, por confuso com a parnima
portuguesa, passou-se a dizer xoro, e, chegando cidade foi grafada
choro, com ch (CMARA CASCUDO, 1999 [1954]: 275).

J Ary Vasconcelos, em seu livro Carinhoso etc: Histria e inventrio


do Choro (1961), aps citar as concluses de Cmara Cascudo e Tinhoro, diz
sobre a origem da palavra:

Essa filiao de choro (estilo, gnero musical) a choro (melancolia)


sedutora, mas no me soa correta. Quer-me parecer, antes, que a
designao deriva de choromeleiros, corporao de msicos de
atuao importante no perodo colonial brasileiro. Os choromeleiros
no executavam apenas a charamela, mas outros instrumentos de

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sopro. Para o povo, naturalmente, qualquer conjunto instrumental


deveria ser sempre apontado como os choromeleiros, expresso que,
por simplificao, acabou sendo encurtada para os choros
(VASCONCELOS, 1984 [1961]: 17-18).

Os conjuntos de Choro eram e costumeiramente ainda so chamados de


regionais e seu formato que ficou mais conhecido e considerado ideal com um
violo de sete cordas, responsvel pelos contrapontos nas regies graves do
instrumento, as baixarias; um violo de seis cordas, encarregado do
preenchimento harmnico e ocasionais duetos com o violo de sete cordas; um
cavaco, responsvel tambm pela parte harmnica porm tendo uma frequncia
sonora mais aguda, sendo chamado de centro; o pandeiro, incumbido pelo ritmo;
e um instrumento solista, geralmente, flauta, clarinete ou bandolim, naturalmente
responsvel pelas melodias. Sobre o regional, Henrique Cazes comenta:

O quarteto formado por dois violes, flauta e cavaquinho surgiu,


naturalmente, da busca de um melhor equilbrio acstico entre o
volume da flauta e um cavaquinho, instrumentos que atuam do mdio
para o agudo, com as frequncias mdias e graves do violo. Essa
formao foi batizada por Batista Siqueira de Quarteto Ideal e esteve
presente na base de todo grupo de Choro, sempre com dois ou trs
violes (mais tarde sendo um deles de sete cordas) (CAZES, 2010
[1998]: 45).

Esses conjuntos regionais ganharam espao durante a dcada de 1930


fazendo os acompanhamentos para cantores e solistas nas rdios. Esperava-se
que os msicos integrantes fossem capazes de acompanhar qualquer estilo
musical e qualquer cantor que precisasse de seus servios sem ensaio prvio
(CAZES, 2010 [1998]: 83). Essa caracterstica se manteve e pode ser observada
ainda hoje nos grandes msicos acompanhadores do gnero.

A consolidao enquanto gnero musical se deu apenas em 1910 pelas


mos de Pixinguinha e assim passou a significar tambm um gnero musical
de forma definida (CAZES, 2010 [1998]: 17). Ainda de acordo com o
cavaquinista e pesquisador Henrique Cazes:

Partindo da msica dos chores (polcas, schottische, valsas etc.) e


misturando elementos da tradio afro-brasileira, da msica rural e de
sua variada experincia profissional como msico, Pixinguinha
aglutinou ideias e deu ao Choro uma forma musical definida. Sob a luz
de sua genialidade, o Choro ganhou ritmo, graa, calor. Ganhou
tambm o hbito do improviso, especialidade em que ele foi um mestre.

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Radams Gnattali, um dos maiores fs de Pixinguinha, afirmava:


Choro tem muito por a, mas bons mesmo so os de Pixinguinha, e
no porque so mais elaborados, porque ele era um gnio
(CAZES, 2010 [1998]: 56).

Acerca dos aspectos musicais do Choro, sua forma musical usualmente


estruturada em trs partes com quantidades simtricas de compassos,
caracterstica essa herdada da polca. Tais partes geralmente so apresentadas
obedecendo a seguinte estrutura: AABBACCA, denominada por alguns autores
de forma rond (ALMADA, 2012; CAZES, 2010), em que a parte A equivaleria a
um suposto refro.

Em compasso binrio simples, cada parte normalmente contm 16


compassos subdivididos em dois perodos de 8 compassos, chamados de
antecedente e consequente. Em compasso ternrio simples, as valsas,
costumam ser compostas com cada parte contendo 32 compassos subdivididos
em dois perodos de 16 compassos.

Ainda sobre a forma no Choro, Carlos Almada, em seu livro Harmonia


Funcional, dedica um captulo inteiro ao estudo do Choro e afirma que:

A estrutura formal um dos mais fortes fatores de identidade e,


portanto, dificilmente modificada. Sua origem reside [...] nas
ancestrais danas europeias, quase todas construdas a partir da
tradicional forma rond. Nesse tipo de arquitetura musical as partes
so dispostas de tal modo que a primeira delas sempre retorna aps a
apresentao de uma outra (ALMADA, 2012: 255).

Em algumas obras de Pixinguinha, tais como Carinhoso e Lamentos,


encontramos a estrutura formal composta por apenas duas partes, caracterstica
esta considerada como uma revoluo, conforme Cazes observa:

A estranheza causada por Lamentos e Carinhoso se deve ao fato


de eles se diferenciarem muito claramente do formato dos Choros que
se fazia at ento. Havia um compromisso muito rgido em se criar
Choros em trs partes num esquema originrio da polca e conhecido
h muito tempo como forma Rond. Essa forma em que se toca cada
parte e sempre se volta primeira j esteve presente em gneros
anteriores polca. Carinhoso e Lamentos no tem essa forma,
ambos foram feitos em duas partes, sendo que Lamentos conta
originalmente ainda com uma introduo (CAZES, 2010 [1998]: 70).

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Aps Pixinguinha, Jacob do Bandolim tornou-se tambm amplamente


conhecido por compor Choros em apenas duas partes, sendo que, sua estrutura
torna-se: AABBA.

As partituras de Choro, em geral, servem mais como uma base e como


uma forma do compositor documentar sua pea do que um manual a ser seguido
risca pelo intrprete, assim sendo, espera-se que o choro coloque sua
interpretao na pea e crie variaes sobre a melodia. Sobre a maneira de
tocar, Cazes enumera algumas caractersticas marcantes presentes no Choro:

- o improviso acontece a todo instante, sem uma ordem


preestabelecida.

- a improvisao do Choro mais rtmica e mais prxima do material


temtico do que as melodias criadas livremente em cada chorus no
jazz.

[...]

- o choro tem evoludo de forma linear, sempre absorvendo


informaes (CAZES, 2010 [1998]: 124-125).

Outra caracterstica presente no gnero e observada por Carlos Almada


a harmonia baseada em acordes bsicos ou verses tridicas dos diatnicos
(ALMADA, 2012: 253), sendo utilizado inverses de baixo, principalmente pelos
violes de 6 e 7 cordas.

As melodias presentes no choro costumeiramente tm como base o que


a harmonia sugere e tm nos arpejos uma de suas caractersticas idiomticas,
alm de serem utilizadas diversas ornamentaes, antecipaes e inflexes em
cima da melodia original (ALMADA, 2012: 257).

O Choro nos dias de hoje ainda tema de interesse e vem sendo


praticado, estudado e tocado em rodas de choro do Brasil e do mundo e resiste
as diversas ondas msicas que passam na mdia e nos meios de comunicao
em massa, conforme Cazes cita:

O que mais fascina e impressiona todos os estudiosos que se


aproximam do Choro o fato de que uma forma de msica popular
seja ao mesmo tempo sofisticada, comunicativa e extremamente
resistente. No incio do sculo o Choro continua vivo, se renovando e
atraindo novas geraes (CAZES, 2010 [1998]: 19).

14

Sendo uma msica viva que atrai diversos instrumentistas e tendo


frequentemente novas composies, natural que o gnero passe por uma
transformao na sua maneira de tocar e de ser composto. Tais transformaes
podem ser observadas em novos instrumentos que esto sendo incorporados
ao estilo. Mencionamos como exemplo o bandolim que teve duas cordas
adicionadas s suas j tradicionais oito cordas; o cavaco, que j visto em rodas
de Choro com uma corda a mais alm das quatro costumeiras; a incluso de
instrumentos eltricos tais como o contrabaixo e a guitarra; a insero de
instrumentos regionais tais como a viola caipira, o bandonen etc.; alm de
instrumentos tradicionais da msica de concerto que tambm esto sendo
usados para a prtica do gnero, tais como o violino, violoncelo, trompete etc.

Dentre alguns nomes que vm se destacando no cenrio do Choro, tanto


como intrpretes quanto como compositores, se tornando referncia nacional e
mundial, podemos citar: Paulinho da Viola (n. 1942), Guinga (n. 1950), Z
Barbeiro (n.1952), Mauricio Carrilho (n. 1957), Alessandro Penezzi (n. 1974),
Hamilton de Holanda (n. 1976), Rogrio Caetano (n. 1977), Yamand Costa (n.
1980), Gian Correa (n. 1988), Fbio Peron (n. 1990), dentre tantos outros.

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Cap. 2: Os Chores e a Roda de Choro: anlise


das entrevistas

A roda de Choro o ambiente mais respeitado entre os msicos de Choro,


os chores. nela que se da parte significativa do aprendizado, a prtica
musical, troca de informaes e, principalmente, o local onde ocorre a vivncia
entre os msicos e admiradores do gnero. De acordo com Henrique Cazes, o
Choro pode ser ouvido no palco de um teatro, casa noturna ou entre as mesas
de um bar, mas no h dvida que o habitat natural dessa msica a roda de
Choro, um encontro domstico (CAZES, 2010 [1998]: 113).

O violonista e professor da Escola de Choro Brasileira Raphael Rabello,


Henrique Neto, em sua entrevista realizada por ns6, cita que, alm de ser uma
linguagem musical, o Choro e seus praticantes so envoltos por vrios smbolos,
linguagens e expresses que caracterizam os chores.

J o pianista Marcelo Amazonas, professor do projeto Msica e Cidadania


do Clube do Choro de Santos, menciona o carter de universidade que a roda
de Choro proporciona. Pedro Amorim, bandolinista e professor da Escola Porttil
do Rio de Janeiro, tambm cita a roda como sendo a grande escola do gnero,
onde os estudantes vo colocar em prtica o que estudam e treinar como
msicos.

Ainda de acordo com o bandolinista, na roda de Choro voc junta pessoas


de formaes, idades e classes sociais diferentes, sem haver distino: s
importa a msica que est sendo ali feita. Sua constituio no diferencia
msicos profissionais e amadores, sendo assim, os intrpretes dentro da roda
tm um respeito mtuo e no costumam receber com simpatia personalidades
que tiram o encanto da festa, conforme cita o cavaquinista Henrique Cazes:

Uma roda de verdade aquela que mistura profissionais e amadores,


gente que toca melhor ou pior, sem nenhum problema. Dos tipos
desagregadores, o mais perigoso o fominha, que chega na roda


6
Neste e nos prximos captulos, trabalharemos com as entrevistas realizadas com os
professores das escolas abordadas. As transcries na ntegra, encontram-se nos apndices
deste trabalho.

16

carregando trs instrumentos e quando comea a solar no para mais.


Esse tipo gosta de direcionar o repertrio e sempre tira o encanto da
festa (CAZES, 2010 [1998]: 113).

Dentro da roda de Choro existe uma srie de cdigos de conduta que no


so explicitados, porm os participantes habituais os conhecem. Alguns deles
foram citados nas entrevistas: o respeito e reverncia aos antigos e msica
(Fernando Csar e Henrique Neto); saber o seu papel como instrumentista na
execuo musical e respeitar os outros instrumentistas (Henrique Neto e Nino
Barbosa); se atentar aos componentes que esto formando a roda e seguir um
determinado repertrio levando isso em considerao (Fernando Csar).

Em seu livro Henrique Cazes, comenta sobre a produo necessria em


uma roda de Choro:

Para se fazer uma boa roda de Choro no preciso nenhuma


megaproduo, mas o equilbrio entre diversos fatores primordial.
Primeiro, preciso um espao adequado, de preferncia uma varanda
ou um quintal. Depois, deve haver um equilbrio entre violes,
cavaquinhos etc. Uma roda com seis violes e nenhum cavaquinho
est fadada ao fracasso (CAZES, 2010 [1998]: 113).

Fernando Csar comenta sobre msicos que propositalmente tentam


derrubar quem est na roda. Quem tem esse tipo de atitude pode at ser
repreendido pelos outros componentes ou, segundo o violonista, aprender um
dia que isso no aprecivel e nem deve ser feito.

Pedro Amorim tambm fala sobre como o msico mostra sua


personalidade de acordo com a forma que ele se coloca na roda como
instrumentista, e complementa que a sua atuao e o cumprimento das funes
na msica dizem muito sobre o carter e a personalidade do msico.

O crtico musical e jornalista Roberto Moura, em seu livro No princpio,


era a roda (2004), faz um estudo sobre a roda de samba, evento que tem muita
semelhana com a roda de Choro pela execuo de cnones consagrados e que
so sempre respeitados pelos participantes e passados de gerao para
gerao.

17

Como em qualquer ritual, a roda preserva e atualiza o que est em sua


origem. Nela, o que tradio dialoga com o presente no curso da
histria. Tudo ocorre a partir das condies materiais possveis, mas
imprescindvel que os fundamentos sejam respeitados. Quer dizer, os
participantes no esperam condies ideais para agir, mas jamais
agem contrariando os cnones consagrados pela comunidade
(MOURA, 2004: 23).

Visando o lado social da roda, o convvio com outras pessoas tambm


um ponto importante e foi citado por Nino Barbosa e Pedro Amorim, que
relataram sobre a importncia de se reunir em um local e ter um momento de
comunho e de trabalho em torno de uma ideia em comum.

Pedro Amorim cita o ambiente acolhedor e democrtico que uma roda de


Choro pode ter. De acordo com o intrprete, a roda um ambiente simptico a
quem est participando como msico e tambm para a plateia. uma atividade
onde todos podem entrar em comunho atravs do Choro. O bandolinista
ressalta o fato de que at mesmo os iniciantes so tratados com respeito e, ainda
que tenham um repertrio pequeno, so convidados pelos mais experientes a
integrar o conjunto.

Pelo prprio carter do formato circular da roda, os indivduos tocam se


olhando e se comunicando permanentemente. Este contato tambm pode ser
reforado atravs da msica: informaes sobre repeties; dinmicas;
alternncia timbrstica; substituio de acordes etc. so passadas
silenciosamente por gestos e olhares.

senso comum entre todos os chores entrevistados: a roda de Choro


formadora de carter.

18

Cap. 3: As escolas de Choro

O Choro na sua essncia uma linguagem de tradio oral passada de


gerao a gerao, aprendida e desenvolvida no convvio entre os msicos e
nas rodas de Choro. No obstante, verificamos que, a partir do final da dcada
de 1990, houveram algumas instituies que comearam a sistematizar o ensino
do Choro, realizando um trabalho especfico a este gnero musical.

Neste captulo, analisamos as estratgias de ensino dos docentes, bem


como as grades curriculares de trs instituies que desenvolvem trabalhos
relevantes: Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello em Braslia; Escola
Porttil de Msica no Rio de Janeiro; e a Escola de Choro e Cidadania Luizinho
7 Cordas em Santos.

19

3.1 - Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello

A linha cronolgica das escolas especializadas no gnero tem incio em


1998 com a abertura da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, primeira
escola dedicada ao ensino do Choro no Brasil, [...] foi criada em Braslia no dia
29 de abril de 1998, pelo msico e jornalista Reco do Bandolim (CLUBE, 2015:
s.n.).
No captulo em que fala sobre a ida do Choro Escola, o pesquisador
Henrique Cazes faz um breve histrico sobre os primrdios da Escola de Choro
Raphael Rabello:

Para se ter uma ideia, a histria comea em 1976, quando Moraes


Moreira e Armandinho exibiam-se no Instituto Cultural Brasil/Alemanha.
Na platia, havia um rapaz que tocava guitarra numa banda de rock
chamada Carncia Afetiva e era conhecido como Jimmy Reco.
Tratava-se do futuro jornalista Henrique Lima Santos Filho, que mais
tarde seria o Reco do Bandolim. Ao ouvir Noites cariocas solado por
Armandinho, Reco foi acometido de paixo aguda e imediata. Era como
se algo dentro dele tivesse sido desperto por encanto.
Da paixo para a ao, arranjou um bandolim emprestado e foi procurar
uma escola onde pudesse aprender a tocar Choro. Foi uma ducha de
gua fria. Nada de Choro, nada de bandolim, nada de Jacob ou
Pixinguinha nas escolas. O jeito foi arranjar uns LPs emprestados e tirar
de ouvido aquela msica apaixonante. Algum tempo depois, j como
Reco do Bandolim e com o grupo Choro Livre, o msico tornou-se um
ativista da causa, o que o levou naturalmente presidncia do Clube do
Choro de Braslia.
Por essa poca, lembrou-se das dificuldades que passara no
aprendizado e constatou que, quase vinte anos depois, o Choro
continuava fora das escolas. Procurou o seu irmo Carlos Henrique e o
tambm jornalista Ruy Fabiano (irmo de Raphael Rabello) e
escreveram o projeto de uma Escola de Choro. Para dar mais peso e
ajudar a atrair apoios, pediram a Raphael que o nome dele tambm
estivesse no projeto. Era o momento que Rabello estava com grandes
espaos na mdia e o violonista concordou mesmo sem ler.
O projeto da Escola foi questionado no Ministrio da Cultura, mas, depois
de vrios esclarecimentos, aprovado. Nesse meio-tempo, Raphael
morreu e, como homenagem, o nome do projeto passou a ser Escola
Brasileira de Choro Raphael Rabello.
Alm de aulas especificas de violo, violo de sete cordas, cavaquinho,
bandolim, flauta, saxofone e pandeiro, a escola oferece aulas de teoria
musical (incluindo solfejo) e prtica em conjunto (roda de choro). A parte
de percepo musical utiliza as composies de Jacob para os alunos
de bandolim, de Waldir Azevedo para os alunos de cavaquinho, de
Pixinguinha para os alunos de flauta, e assim por diante.
A escola tem alunos de dez at oitenta anos de idade e j formou vrios
grupos que esto ajudando a atender demanda por Choro na capital
federal. Recentemente, o arquiteto Oscar Niemeyer entregou a Reco o
projeto da sede da escola, que vai ser construda no eixo monumental.
O sonho aos poucos vai se tornando uma realidade promissora (CAZES,
2010 [1998]: 192).

20

A escola de Choro Raphael Rabello se utiliza de outros gneros musicais


em paralelo com o Choro (Tab. 1) para o desenvolvimento do aluno no
instrumento. Observando a ementa dos cursos oferecidos, verificamos no
repertrio de formao gneros como a bossa nova, samba e, em alguns casos
(como nos cursos de violo de 6 cordas e flauta transversal), peas e estudos
de msica erudita.

Elencamos na tabela abaixo o repertrio indicado tanto aos cursos de


instrumento iniciantes quanto prtica de conjunto (CLUBE, 2015).

TONALIDADE MSICA COMPOSITOR GNERO


MUSICAL
Dm As rosas no falam Cartola samba cano
D Carolina Chico Buarque samba cano
D Curare Boror samba cano
C Eu no existo sem Tom Jobim e Vincius de Morais samba cano
voc
C Flor amorosa Joaquim Callado e Catulo da choro
Paixo Cearense
C Gente humilde Garoto samba cano
C Luar do serto Catulo da Paixo Cearense seresta
Dm Naquela mesa Srgio Bittencourt samba cano
C Palhetinha Everaldo Pinheiro choro
C Peixe vivo Domnio pblico samba cano
C Sampa Caetano Veloso samba
C Trenzinho caipira Heitor Villa-Lobos original
orquestral
Am Valsinha Chico Buarque valsa
F Yesterday John Lennon e Paul McCartney balada

Tab. 1: Repertrio indicado aos cursos de instrumento iniciantes da Escola de Choro Raphael
Rabelo.

Fazendo uma anlise (Tab. 2), podemos observar uma cautelosa escolha
nas 14 obras selecionadas: tratam-se de peas com poucos acidentes na
armadura de clave, muito embora todas as msicas tenham permanecido na
tonalidade original. Em entrevista realizada por ns com Henrique Neto, o
professor corrobora com nossa observao, afirmando que, alm do cuidado
com as tonalidades, foram, por vezes, realizadas adaptaes nos ritmos das
peas e simplificao dos acordes visando facilitar a execuo dos estudantes.

21

TONALIDADE QUANTIDADE
DE PEAS
C 8
Am 1
F 1
Dm 2
D 2
TOTAL 14

Tab. 2: Tonalidade das peas selecionadas no repertrio indicado aos cursos de instrumento
iniciantes da Escola de Choro Raphael Rabelo.

Para os alunos de instrumento no nvel intermedirio, a lista de msicas


j conta apenas com choros, um maxixe e uma valsa (Tab. 3), ritmos
pertencentes integralmente manifestao musical e cultural do Choro, muito
embora verificamos ainda a preocupao em serem msicas de tonalidades com
poucos acidentes fixos (Tab. 4).

TONALIDADE MSICA COMPOSITOR GNERO


MUSICAL
G Brasileirinho Waldir Azevedo choro
F Carinhoso Pixinguinha choro
Dm Carioquinha Waldir Azevedo choro
Dm Cochichando Pixinguinha choro
Dm Corta-jaca Chiquinha Gonzaga maxixe
G Doce de coco Jacob do Bandolim choro
G Flausina Pedro Galdino choro
F Na glria Ary Santos e Raul de Barros choro
Dm No me toques Zequinha de Abreu choro
Dm Naquele tempo Pixinguinha choro
G Noites cariocas Jacob do Bandolim choro
G Pedacinhos do cu Waldir Azevedo choro
Dm Santa morena Jacob do Bandolim valsa

Tab. 3: Repertrio indicado aos cursos de instrumento intermedirios da Escola de Choro


Raphael Rabelo.

TONALIDADE QUANTIDADE
DE PEAS
F 2
Dm 6
G 5
TOTAL 13

Tab. 4: Tonalidade das peas selecionadas no repertrio indicado aos cursos de instrumento
intermedirios da Escola de Choro Raphael Rabelo.

22

Para os alunos avanados o repertrio das rodas de Choro livre, criando


assim uma maior semelhana com as rodas realizadas fora do ambiente
didtico.

As rodas de Choro da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello


acontecem mensalmente, sempre no primeiro sbado, no ptio do Clube do
Choro de Braslia e so abertas ao pblico (Fig. 1). Assim sendo, alm desta
prtica em conjunto ser uma das matrias do curso de formao, ela assume
tambm carter de evento social, o que contribui ainda mais para a formao
dos instrumentistas e com a segurana adquirida ao tocar para um pblico que
ali se forma. Conforme visto na anlise do repertrio, as rodas so divididas em
trs nveis e acontecem em ambientes diferentes.

Fig. 1: Uma das rodas de Choro que acontecem mensalmente no Clube do Choro de Braslia.
(CLUBE, 2015: s.n.).

Sobre a ementa vigente na escola e a aplicao que os professores do


a essa ementa, o violonista e ex-coordenador Henrique Neto cita que os
professores se renem mensalmente, onde conversam e discutem ideias da
melhor forma para passarem os contedos. Segundo ele, isso d uma unidade

23

maior toda escola e ementa proposta, onde cada professor pode dizer como
coloca em prtica o seu ensino e como a sua metodologia de trabalho. Alm
disso, Henrique Neto comenta sobre a importncia da liberdade de adaptao
do contedo proposto e do repertrio maneira de cada professor ensinar,
colocando sua experincia como elemento agregador a esse processo.

Sobre o uso de partituras no ensino, o professor de violo 7 cordas,


Fernando Csar, diz que a escola optou por usar partituras devido ao grande
nmero de alunos, uma vez que seria muito difcil todos terem um ouvido j
desenvolvido e poderem aprender apenas auditivamente. O professor ressalta
ainda o alto grau de elaborao do repertrio de Choro, capaz de proporcionar
aos instrumentistas tudo o que necessrio em termos de desenvolvimento
tcnico, sendo este repertrio o foco principal do aprendizado.

A experincia adquirida em sala de aula e na coordenao do curso


durante cinco anos foi sistematizada e compilada por Henrique Neto, juntamente
com o bandolinista e tambm professor da Escola, Dudu Maia, no recm lanado
livro Manual do Choro (2017). Henrique Neto forneceu-nos mais informaes
sobre este mtodo em sua entrevista.

Fig. 2: Capa do Manual do Choro.

24

Todos os cursos contam com uma aula terica e uma aula prtica
semanal, contendo 50 minutos de durao cada uma, a durao varia
dependendo do curso, cada mdulo corresponde a um semestre de formao.
Os pr-requisitos para ingresso nos cursos iniciantes so inexistentes e para
passar de um modulo para outro exigido que o aluno demonstre
conhecimentos vistos no ltimo semestre e toque o repertrio aprendido. O valor
dos cursos de R$ 142,00 mensais.

A lista de professores que fazem parte da Escola e as ementas dos cursos


podem ser vistas no Apndice 1 deste trabalho.

25

3.2 - Escola Porttil de Msica

A Escola Porttil de Msica foi criada no ano de 2000, na cidade do Rio


de Janeiro, pelos msicos lvaro Carrilho, Celsinho do Pandeiro, Luciana
Rabello, Maurcio Carrilho e Pedro Amorim.

As aulas acontecem aos sbados entre as 8:30 e 14:00 e so divididas


em trs modalidades: aulas de instrumento, aulas tericas/cursos extras com
durao de 50 minutos por aula e a prtica de conjunto, que a roda de Choro.
Essa roda sempre conta com algum professor monitor para acompanhar a
atividade e acontece durante todo o perodo das aulas, assim sendo, o aluno que
no est tendo aulas em determinado horrio pode participar da roda de Choro
e praticar juntamente com outros msicos.

No perodo entre 12:30 e 13:30 todos os professores e alunos se juntam


em outra prtica instrumental para tocar um repertrio pr-estabelecido, o
chamado Bando da Escola Porttil. O professor Pedro Amorim em sua
entrevista enfatiza que os professores buscam fazer um arranjo para ser tocado
no Bando pensando nos alunos de todos os nveis da escola, ento mesmo o
aluno iniciante vai poder fazer parte de uma prtica em conjunto dessa dimenso
e colocar em uso o que vem aprendendo em suas aulas.

26

Fig. 3: Alunos e professores da Escola Porttil participando do Bando. (CASA, 2017:


s.n.).

As aulas de instrumentos se dividem em trs mdulos: iniciantes,


intermedirios e avanados. Alm do instrumento o aluno pode optar por aulas
tericas, cursos extras disponibilizados pela escola, apreciao musical e as
prticas em conjunto que fazem parte da grade de todos os cursos.

Sobre as aulas em conjunto, Pedro Amorim cita que trabalha em turmas


mistas, tanto em idade quanto em conhecimento, e afirma que isso pode ser uma
vantagem, pois, assim como na vida, alguns sabem menos e outros sabem mais
e deve haver uma troca dentro dessas diferenas. Alm disso, ele afirma que,
por vezes, os alunos mais avanados ajudam nas aulas dos alunos que ainda
no se desenvolveram muito no instrumento, deixando assim a aula estimulante
para todos e podendo dar um atendimento personalizado a cada aluno.

O professor Pedro Amorim, que tambm foi um dos fundadores da Escola,


em sua entrevista complementa que cada professor tem autonomia para passar
o contedo da maneira que quiser, e que os pontos de interseco entre todos
os instrumentos se do justamente nas prticas em conjunto. Ele ainda cita
aes entre os professores buscando a juno de turmas em algumas aulas para
o trabalho em conjunto.

Em relao ao contedo a ser passado aos alunos iniciantes, Pedro


Amorim cita que os prprios professores da Escola Porttil compem exerccios
dentro da linguagem do gnero para serem usados como material didtico e

27

tambm cita o uso de Choros do repertrio tradicional que atendam s


necessidades dos alunos como forma de exerccio.

Todos os cursos contam com uma aula de apreciao musical e uma aula
do instrumento, contendo 50 minutos de durao cada uma. A durao varia
dependendo do curso, cada mdulo corresponde a 15 aulas ou 4 meses de
curso. O processo seletivo para ingresso na Escola Porttil de Msica feito
atravs de entrevistas para medir o desempenho do candidato no instrumento,
seu nvel de musicalidade e o interesse no curso. O valor dos cursos de
instrumento musical de R$ 430,00 semestrais, para cursos de canto (canto e
canto coral) de R$ 540,00 semestrais e para cursos infantis (musicalizao
infantil e violo para crianas), o valor de R$ 270,00 semestrais. So oferecidas
bolsas para alunos que, com uma comprovao de renda, mostrem que no so
capazes de efetuar o pagamento.

A lista de professores que fazem parte do projeto e as ementas dos cursos


podem ser vistas no Apndice 2 deste trabalho.

28

3.3 - Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7


Cordas7

A Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas est ligada ao Clube


do Choro do municpio. Fundado em 23 de abril de 2002 o Clube do Choro de
Santos um dos polos do gnero no estado de So Paulo e constantemente faz
programaes relacionadas ao gnero na cidade. Tem sua sede na rua XV de
novembro, 68, no centro da cidade de Santos, onde acontecem rodas de Choro
semanais.

A Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 cordas tem grande


preocupao, alm da rea musical, com a rea social, como o prprio nome da
Escola explicita. Tendo a escola ambientada no Mercado Municipal, no centro
da cidade de Santos (SP). Ela tem entre os alunos inscritos, sua maioria vindo
de reas perifricas da cidade, regies como Vila Nova e Paquet, que contam
com grandes quantidades de cortios em seus arredores.

O nome da escola uma homenagem ao violonista de 7 cordas Luiz


Arajo Amorim (n. 1941), o Luizinho 7 cordas que, apesar de ter nascido na
cidade de Marlia no interior do estado de So Paulo, se mudou para Santos
ainda criana e morou durante muitos anos na cidade, tendo tocado ao lado de
artistas como Cartola (1908-1980), Nelson Cavaquinho (1911 - 1986), Waldir
Azevedo (1923 - 1980), Altamiro Carrilho (1924 - 2012), Joo Nogueira (1941 -
2000) e Beth Carvalho (n. 1946) (AMARAL JNIOR, 2013: 388). Ele um dos
grandes nomes do violo de 7 cordas acompanhante e segue a tradio do
violonista Dino 7 Cordas, considerado o maior violonista de 7 cordas da histria
do violo brasileiro.


7
Nessa capitulo trataremos apenas sobre a Escola de Choro Luizinho 7 Cordas, vinculada ao
Clube do Choro de Santos. Para saber mais sobre o Choro no estado de So Paulo, consulte o
livro: Chorando na Garoa: memrias musicais de So Paulo (AMARAL JNIOR, 2013) e a
dissertao O Clube do Choro de So Paulo: arquivo e memria da msica popular na
dcada de 1970 (SOUSA, 2009).

29

A faixa etria atendida pela escola a de crianas e adolescentes entre 9


e 17 anos, com preferncia para as crianas com situao de vulnerabilidade
social e o ensino integralmente gratuito.

O curso regular da Escola de Choro atende alunos durante o ano inteiro


com aulas em conjunto de iniciao linguagem do Choro. Este curso tem
durao de 3 anos e ministrado pelo Professor Wiliian Dias, os alunos podem
se iniciar em bandolim, cavaco, flauta, pandeiro ou violo de 6 e de 7 cordas.

Alm disso, durante os meses de agosto de 2016 a julho de 2017 a Escola


manteve um projeto, denominado Msica e Cidadania. Foram abertas turmas de
bandolim, violo 6 e 7 cordas, flauta, cavaco, piano e percusso para alunos
avanados e violo de 6 cordas e piano para alunos iniciantes.

O presente capitulo ser baseado nesse projeto e na experincia do autor


ministrando aulas de violo 6 cordas para alunos iniciantes e avanados. Alm
disso as entrevistas foram feitas com professores que deram aula nesse projeto,
nomeadamente, o pianista Marcelo Amazonas e o percussionista Nino Barbosa,
e no tinham relao com a Escola de Choro antes disso, assim sendo as
perguntas feitas a eles foram tendo em vista os resultados obtidos e as
dificuldades enfrentadas durante a durao do supracitado projeto.

O projeto iniciou tendo como coordenador pedaggico o professor William


Dias e a partir do ms de maro de 2017 contou com a orientao pedaggica
da professora Cibele Palopoli.

O benefcio desse projeto em relao ao curso de iniciao linguagem


do Choro se deu nas aulas separadas por instrumentos e na contratao de
professores especializados para cada instrumento, conforme elencamos ao final
desse captulo.

Alm das aulas na Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas, o


projeto contemplou aulas de violo iniciante e piano na escola estadual Barnab
e na escola municipal Avelino da Paz Vieira, escolas pblicas localizadas na
regio central da cidade.

Outra iniciativa do projeto foram as oficinas dedicadas ao ensino do


gnero. Dentre as de maior destaque podemos citar as oficinas que ocorreram

30

nos dias 26 de abril de 2017 na Escola Barnab e no dia 05 de junho de 2017


na Escola Avelino da Paz Vieira. Essas oficinas contaram com a presena do
violonista Dinho Nogueira e do clebre violonista de 7 cordas e compositor Z
Barbeiro. Os msicos abordaram a histria do Choro e os diferentes ritmos
inseridos nesta manifestao musical e social.

Fig. 4: Oficina com Dinho Nogueira e Z Barbeiro que ocorreu dia 26 de abril de 2017
na Escola Estadual Barnab. (CLUBE, 2016: s.n.).

A pedagogia utilizada no projeto teve como base o repertrio tradicional


do gnero. Para os alunos do curso de iniciao foram usados Choros com uma
dificuldade tcnica menor, como Lua Branca de Chiquinha Gonzaga e Benzinho
de Jacob do Bandolim. Porm devido falta de material didtico especfica para
iniciantes, era necessrio que os professores adaptassem exerccios que no
usavam a linguagem do Choro para sanar as dificuldades dos alunos.

A forma de trabalho para os alunos de aperfeioamento do Projeto se deu


tendo como referncia os grandes nomes do Choro onde a cada bimestre seria
trabalhado um compositor e duas peas de sua autoria. Alm disso, os alunos

31

aprendiam sobre a histria do compositor, o instrumento principal utilizado por


ele e aspectos musicais presentes em sua obra, foram trabalhados autores
como: Chiquinha Gonzaga, Jacob do Bandolim, Pixinguinha e Ernesto Nazareth.

Fig. 5: Tabela com msicas e contedos trabalhados no ms de abril de 2017 dentro do


projeto Msica e Cidadania.

32

Tambm foi estabelecido a roda de Choro com os alunos de todos os


instrumentos no ltimo sbado de cada ms, nessa prtica em conjunto as peas
estudadas naquele ms eram executadas pelos alunos, sempre tendo alguns
professores como monitores nessa atividade.

Assim como nas outras Escolas abordadas, os professores tiveram


liberdade para passar o contedo como preferissem e a unidade entre os
instrumentos foi buscada tendo como base o repertrio comum a todos os
instrumentos.

A iniciativa foi tema de reportagem do jornal A Tribuna no dia 20 de


novembro de 2016, conforme mostra a figura abaixo (Fig. 6).

33

Fig. 6: Matria sobre o Projeto Msica e Cidadania, vinculada pelo Jornal A Tribuna do
dia 20 de novembro de 2016.

34

Como formas de mostrar os resultados do projeto aconteceram duas


apresentaes nomeadas de Msica e Cidadania em Concerto, nos dias 25 de
maro de 2017(Fig. 7) e 12 de julho de 2017(Fig. 8). Os dois concertos ocorreram
no teatro Guarany, em Santos, e contaram com os alunos e professores do
projeto tocando em conjunto as msicas estudadas (Fig. 8) durante a durao
do projeto.

Fig. 7: Msica e Cidadania em concerto I que ocorreu no dia 25 de maro de 2017.


(CLUBE, 2016: s.n.).

35

Fig. 8: Msica e Cidadania em concerto II que ocorreu no dia 12 de julho de 2017.


(CLUBE, 2016: s.n.).

Fig. 9: Programa executado no Msica e Cidadania em concerto II que ocorreu no dia


12 de julho de 2017.

36

Todos os cursos oferecidos dentro do Projeto Msica e Cidadania pela


Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas foram gratuitos e duraram de
agosto de 2016 a julho de 2017. A faixa etria atendida foi de crianas e pr-
adolescentes de 9 a 17 anos. Os cursos de aperfeioamento tinham carga
horria de 2 horas semanais. J os de iniciao 4 horas semanais. Os pr-
requisitos para as aulas de aperfeioamento eram que os alunos fossem
formados no curso de iniciao linguagem do Choro da Escola de Choro e
Cidadania Luizinho 7 Cordas. Para os cursos de iniciao no havia pr-
requisitos.

Os professores que fizeram parte do projeto, juntamente com o


instrumento que ministraram aulas foram:

Bandolim - Aperfeioamento
Professores:

Monteiro Filho

Cavaquinho - Aperfeioamento
Professores:

Paulinho Ribeiro (Paulo Srgio Ribeiro de Oliveira)

Flauta - Aperfeioamento
Professores:
Edson da Silva

Piano - Iniciante
Professores:
Mariana Fernandes

37

Marcelo Amazonas
Theo Cancello

Violo 6 cordas - Iniciante


Professores:

Lucas Paini
Mariana Fernandes
Nathan Valente

Violo 6 cordas - Aperfeioamento


Professores:

Nathan Valente

Violo 7 Cordas - Aperfeioamento


Professores:

Arizinho 7 Cordas (Ariovaldo Lopes Rodrigues Junior)

38

Concluso

Prestes a completar vinte anos desde a primeira iniciativa concreta


visando o ensino sistemtico do Choro, os professores ainda encontram algumas
dificuldades. Dentre as citadas nas entrevistas, a falta de material didtico
pensado especificamente para o ensino do gnero um dos grandes problemas
enfrentados. Formas prticas para solucionar esse obstculo foram citadas nas
entrevistas de Pedro Amorim e Henrique Neto: composies feitas pelos prprios
professores utilizando a linguagem do Choro, porm com carter didtico, alm
da seleo de material j existente com nvel compatvel ao necessrio e do uso
de exerccios fazendo uma adaptao ao gnero.

Sobre a transmisso do conhecimento, o ensino do Choro trabalha com


certa liberdade, aonde, mesmo dentro das escolas especializadas, com objetivos
estipulados e repertrio previamente pensado, os professores tem liberdade
nessa empreitada e podem passar o contedo da forma que mais acharem
adequado, se utilizando de suas experincias e fazendo a transmisso desse
conhecimento de vrias maneiras, se adequando de acordo com a
particularidade de cada aluno.

A adaptao de Choros mais elaborados para a compreenso do aluno


iniciante, facilitando acordes e ritmos complexos uma soluo interessante e
eficaz no incio do aprendizado no Choro. Uma vez que por ser uma linguagem
com padres rtmicos que se repetem, o Choro de difcil entendimento para
algum que est se iniciando na linguagem musical.

O estudo e a execuo do repertrio tradicional alm de ser uma maneira


de avaliar o desempenho dos alunos tambm apareceu como forma de estudo,
Pedro Amorim e Fernando Csar citaram em suas entrevistas o uso de trechos
musicais selecionados como uma das formas mais eficazes de estudo e
amadurecimento da linguagem no gnero.

A roda de Choro e a prtica instrumental a base de todo o aprendizado,


ali que o aluno coloca em uso o que aprende, assim sendo, a roda um lugar
de aplicar o aprendizado e de aprender por meio do contato com outros msicos,
alm de ser, sem dvidas, um agradvel e receptivo ambiente de convvio social.

39

Sobre a grade curricular, conforme as entrevistas, todos os professores


idealizaram uma grade muito parecida, sendo citado, alm do ensino do
instrumento, matrias como a histria do Choro, teoria, solfejo, leitura rtmica e
meldica, percepo, alm da prtica em conjunto que o local ideal para os
alunos aplicarem tudo o que aprendido em sala de aula.

Alm das matrias da grade tambm foi citado com grande importncia a
audio atenta e sistemtica das gravaes referncias do gnero, adquirindo
assim repertrio sonoro e buscando compreender a linguagem do Choro.

Formas alternativas de avaliao tambm apareceram e podem ser


aplicadas em sala de aula. Pedro Amorim cita a importncia da avaliao ser
uma observao constante e feita todas as aulas em conjunto com aluno. Nino
Barbosa fala sobre como a prpria prtica em conjunto j pode ser uma avaliao
em si, onde o professor tem a capacidade e a experincia de ver se o aluno vem
praticando seu instrumento devido sua atuao em conjunto com outros
instrumentistas. Alm disso, o repertrio base a ser cumprido em cada mdulo
dos cursos uma maneira eficaz de avaliao sem o peso costumeiro que a
prova dentro do sistema tradicional est inserida.

Tendo como base o estudo das ementas das escolas, a experincia do


autor e as entrevistas, conclui-se que o Choro, apesar de passar por uma
sistematizao no ensino, no perdeu completamente o aspecto de uma tradio
oral e isso uma constatao positiva: a roda de Choro ainda o local onde se
d o aprendizado efetivo do gnero e o contato com outros msicos e continua
insubstituvel aos estudantes do gnero, embora tenhamos percebido que o
ensino formal corrobora com a desenvoltura dos discentes nas rodas

Alm disso, mesmo a sistematizao e a criao de um mtodo contam


com aspectos como a audio de gravaes e a reproduo da linguagem que
foi canonizada pelos grandes mestres do gnero.

Por ltimo, pudemos constatar que o Choro no s continua vivo, mas


cresce cada vez mais e conta com novos compositores, intrpretes e estudantes
que, seguindo a tradio da velha guarda do gnero, tm uma paixo
irrepreensvel pelo gnero e podem encontrar nas escolas aqui citadas maneiras
de se aproximar e entender cada vez mais esse gnero.

40

Referncias bibliogrficas

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UNICAMP, 2012.
ALMEIDA, Alexandre Zamith. Verde e amarelo em preto e branco: as
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41

DINIZ, Andr. Almanaque do Choro: a histria do chorinho, o que ouvir, o que


ler, onde curtir. 3 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008a [2003].
DUARTE, Fernando Viveiros de Castro. O aprendizado do violo de sete
cordas: estudo de caso com o msico Valter Silva. Monografia
(Graduao) Universidade do Rio de Janeiro, Instituto Villa-Lobos, Rio
de Janeiro, 2002.
FIORUSSI, Eduardo. Roda de Choro: processos educativos na convivncia
entre msicos. 2012. Dissertao (Mestrado em Educao) UFSCar,
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica
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______. Pedagogia do oprimido. 60. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016
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Porttil de Msica. 2007. Tese (Doutorado em Msica) Centro de
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HIKIJI, Rose Satiko Gitirana. A msica e o risco: etnografia da performance
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LARA FILHO, Ivaldo Gadelha de. O Choro dos chores. Dissertao
(Mestrado em Msica) Universidade de Braslia, Braslia, 2009.
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MOURA, Roberto. M. No princpio, era a roda: um estudo sobre samba,
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NETO, Henrique Lima Santos; VENTURINI, Eduardo Maia. Manual do Choro.
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42

SEV, Mrio. Fraseado do Choro: uma anlise de estilo por padres de


recorrncia. 2015. Dissertao (Mestrado em Msica) Universidade
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SEVERINO, Jairo. Uma histria da msica popular brasileira: das origens
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SOUSA, Miranda B. T. R. N. O Clube do Choro de So Paulo: arquivo e
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(Mestrado em Msica) Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Artes, So Paulo, 2009.
PAZ, Ermelinda A. Jacob do Bandolim. Rio de Janeiro: Funarte, 1997.
PELLEGRINI, Remo Tarazona. Anlise dos acompanhamentos de Dino
Sete Cordas em samba e choro. 2005. Dissertao (Mestrado em
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PINTO, Alexandre Gonalves. O Choro: reminiscncias dos chores antigos. 3
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TABORDA, Mrcia. Dino Sete Cordas e o acompanhamento de violo na
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VALENTE, Paula Veneziano. Transformaes do choro no sculo XXI:
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VASCONCELOS, Ary. Carinhoso, etc: Histria e inventrio do Choro. Rio de
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______. Razes da msica popular brasileira: 1500 - 1889. So Paulo:
Martins, 1977b.

43

Apndices

1. Lista das ementas e professores da Escola Brasileira de Choro


Raphael Rabello.

Todos os nomes de professores e ementas de cursos foram retirados do


site da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello.

Acordeon
Professores:

Sivuquinha

Ementa:

I. Conhecer o instrumento e sua histria; realizar exerccios de


mecanismos com sequncias de acordes (maior, menor e relativo); Execuo de
uma msica simples; reconhecer os ritmos: binrio, ternrio e quatrnrio.
Acordes maiores e menores; Escalas e acordes relativos; Apresentao dos
ritmos; Execuo de msicas no ritmo ternrio (valsa); Execuo de msica
baio e xote; Execuo de msica no ritmo binrio; Histria do Acordeom;
Apresentao do instrumento: Teclado;

II. Realizar exerccios de mecanismos mais avanados, executar


acompanhamentos usando acordes maior, menor e stima da dominante e
stima da diminuta. Tocar msicas nos ritmos: binrio, ternrio e quatrnrio;
Sondagem; Espao para tirar dvidas iniciais; Exerccio de mecanismo.

III. Conhecimento das escalas cromticas; Execuo de escalas


cromticas nas duas mos; Execuo de peas que tenham fragmentos
cromticos; Conhecimento de escalas maiores em tera. Sondagem; Espao
para tirar dvidas; Apresentao de mecanismos mais avanados; Arpejos no
estado fundamental: 1 inverso e 2 fundamental; Ascendente e descendente.

44

Intermedirio: Conhecer e saber executar as escalas maiores e menores;


conhecer os acordes maiores e menores; conhecer os ritmos binrios e
ternrios; executar uma pea facilitada

Avanado: Conhecer e executar exerccios de mecanismos; executar uma


valsa, associando com o ritmo e uma marcha, um xote e um baio.

Bandolim

Professores:

Felipe Nunes

Ementa:

I. Apresentar o instrumento, histria e principais bandolinistas; Escala de


D maior (notas no brao e exerccios); palhetadas para baixo com apoio e
alternada; Acompanhamento: Levada de choro e primeiros acordes; Repertrio
bsico da escola: Palhetinha, Luar do Serto, Gente Humilde, Trenzinho do
Caipira e Valsinha.

II. Escalas de Sol maior e R menor harmnica: notas no brao e


exerccios; Acompanhamento do choro: Harmonia das primeiras msicas;
Aperfeioamento das palhetadas: para baixo com apoio e alternada;
Repertrio: Naquela Mesa, As Rosas no Falam, Sampa.

III. Estudo de arpejos simples; Modelos de exerccios diferentes com


escalas (F maior, Mi e L menor harmnicos); Aperfeioamento da levada de
choro e de Valsa: acordes com trs cordas; Ornamentos: Trmolo e Glissando;
Repertrio: Carinhoso, Vibraes, Benzinho e Flor Amorosa.

IV. Estudo de arpejos com progresses harmnicas; Ornamentos:


Vibrato, Apojatura, mordente; Acompanhamento das msicas do semestre
anterior e incio da levada de samba; Repertrio: Noites Cariocas, Doce de Coco,
Brasileirinho, Receita de Samba, Santa Morena.

45

V. Estudo avanado de arpejos; Escalas: Pentatnica, cromtica, tons


inteiros; levada de Samba; Ornamentos: aperfeioamento; Repertrio: Ingnuo,
Murmurando, Cochichando, Caminhando.

VI. Levadas de Baio e Frevo; Estudo avanado de arpejos com


progresses harmnicas; Repertrio; Delicado, Frevo da Lira, Tico-tico no Fub,
Apanhei-te Cavaquinho, Cabuloso, Lembranas do Recife, Sonoroso.

Cavaquinho

Professores:

Leonardo Benon
Marcio Marinho
William Ribeiro

Ementa:

I. Desenvolver postura de mo esquerda e direita corretas, desenvolver


leitura de pauta e identificao de notas no instrumento, correta palhetada
alternada, conhecimento dos desenhos dos acordes maiores, menores e com
stima, execuo da palhetada de choro de acordo com as mudanas de leitura
de cifras.

II. Todos os conhecimentos do 1 semestre, execuo de leitura rtmica e


meldica das partituras do segundo semestre, ter conhecimento dos acordes
diminutos e meio diminutos.

III. Todos os conhecimentos do 2 semestre, execuo das levadas de


samba, valsa e maxixe, ter conhecimento de formao dos acordes.

IV. Todos os conhecimentos do 3 semestre, aperfeioamento: limpeza


das notas, pegada e acentuao meldica, evoluo do andamento dos
exerccios, conhecer as escalas maiores e menores.

46

V. Todos os conhecimentos do 4 semestre, ter conhecimento de


transposio harmnica e meldicas, evoluo do andamento das partituras do
semestre, ter conhecimento das escalas na forma harmnica e meldica.

VI. Todos os conhecimentos do 5 semestre, conhecimento da rvore


harmnica, desenvolvimento da percepo harmnica e meldica.

Clarinete

Professores:

Ivaldo Gadelha

Ementa:

I. Leitura bsica de partituras; Escalas at uma alterao na armadura de


clave; desenvolver a respirao adequada para a interpretao do instrumento;
trabalhar a posio correta e postura na hora de tocar o instrumento.

II. Tcnica pura, mecanismos e escalas at duas alteraes na armadura


de clave do mtodo de H. Klos; Melodias do repertrio da roda de choro de
iniciantes; desenvolver a habilidade de tocar em conjunto mediante a
participao nas rodas do choro.

III. Escalas at trs alteraes na armadura da clave e mecanismos do


mtodo de H. Klos. Duetos; Melodias do repertrio da roda de choro de
iniciantes; continuar a desenvolver a habilidade de tocar em conjunto
participando das rodas de choro e em grupos propostos em sala de aula.

IV. Escalas at 4 alteraes na armadura de clave com arpejos, stimas


dominantes e diminutas; Mecanismos e duetos do H. Klos; Apostila da roda de
choro avanada; aprimorar a execuo musical nas peas com nfase no choro.

V. Escalas e arpejos at cinco alteraes na armadura de clave; Estudos


do registro grave do mtodo H. Klos; Duetos clssicos de autores diversos;

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Apostila da roda de choro avanada; Participao em grupos musicais e das


rodas de choro avanada.

VI. Todas as escalas e arpejos do H. Klos e do Bearmann; Estudos dos


diversos registros do instrumento do H. Klos; Duetos clssicos de compositores
diversos; Apostila da roda de choro avanada; aprimorar a execuo estilstica
do choro; participar das rodas de choro propostas pela escola.

Flauta Transversal

Professores:

Srgio Morais

Ementa:

0. Destinado queles que nunca tiveram nenhum contato com o


instrumento.

I. Destinado queles que j tiveram qualquer contato com a flauta. Leitura


bsica de partitura um pr-requisito para o ingresso na flauta I. Trabalhar
respirao, iniciao s escalas maiores, msicas do caderno iniciante da Escola
de Choro.

II. Leitura de partitura. Contedo para prova de nivelamento: Livro Flauta


Fcil (Celso Woltzenlogel) at a faixa 15, ou msicas do caderno iniciante da
Escola de Choro (Gente Humilde, Luar do Serto, Trenzinho Caipira, As Rosas
no Falam). Consolidar os conhecimentos tcnicos adquiridos na flauta 01 e
melhorar a leitura atravs do repertrio do caderno iniciante com msicas
populares.

III. Leitura de partituras. Contedo para prova de nivelamento: Gente


Humilde, Valsinha, Luar do Serto. Continuao do aprendizado das msicas do
caderno iniciante da Escola de Choro. Escalas maiores, cromtica.

48

IV. Leitura de partituras. Contedo para prova de nivelamento: As Rosas


No Falam, Naquela Mesa, Carinhoso. Escalas maiores Do, F, Si bemol, Mi
bemol. Tocar as duas oitavas da flauta com fluncia conhecendo todas as notas
cromticas. Continuao do aprendizado das msicas do caderno iniciante da
Escola de Choro. Iniciao a leitura de cifra.

V. Leitura fluente de partituras e cifra (trades). Contedo para prova de


nivelamento: Flor Amorosa, Vibraes, Doce de Coco. Tocar as escalas maiores
com bemis e sustenidos. Consolidar e aumentar o repertrio de choros.
Variaes.

VI. Leitura fluente de partituras e cifra (trades). Contedo para prova de


nivelamento: Receita de Samba, Carioquinha, Naquele Tempo. Tocar as escalas
maiores com bemis e sustenidos. Consolidar e aumentar o repertrio de choros.
Variaes e noes de improviso com uso de trades.

VII. Leitura fluente de partituras e cifra (trades e ttrades). Contedo para


prova de nivelamento: Tico-Tico no Fub, Apanhei-te Cavaquinho, Brasileirinho.
Tocar as escalas maiores com bemis e sustenidos. Consolidar e aumentar o
repertrio de choros. Variaes e noes de improviso com uso de trades e
ttrades.

Gaita Cromtica

Professores:

Rafael Alabarce
Pablo Fagundes

Ementa:

O curso tem por objetivo explorar as diversas possibilidades da gaita,


sobretudo no Choro, sua funo de solista, os contrapontos e a improvisao.
Compreender e aplicar o papel que o instrumento desempenha em um Regional.
Adquirir domnio sobre as tcnicas usadas na gaita. Montar repertrio que

49

contemple os Choros mais populares. Conhecer os principais compositores do


gnero e suas obras Estimular a capacidade crtica e criativa dos alunos, por
meio de audies, anlises musicais e improvisao. Tocar ritmos relacionados
ao Choro (Valsa, Samba-Choro, Maxixe, Polca, Baio)

1o Semestre

1. Apresentao do instrumento e sua insero no Choro


Contexto histrico
Noes de utilizao do diafragma (sopro e aspirao)
Desenvolvimento da sonoridade e embocadura
2. Luar do Serto
Exerccio tcnico 1 Graus Conjuntos C maior
Leitura musical no instrumento
3. Luar do Serto
Exerccio tcnico 2 Graus Conjuntos C maior
4. Gente Humilde
Exerccio tcnico 3 Graus Conjuntos C maior
5. Gente Humilde
Exerccio tcnico 4 Graus Conjuntos C maior
6. Asa Branca
Reviso dos exerccios tcnicos
7. Asa Branca
Reviso dos exerccios tcnicos
8. Assum Preto
Reviso dos exerccios tcnicos
9. Assum Preto
Exerccio tcnico 1 Teras diatnicas C maior
10. Valsinha
Exerccio tcnico 2 - Teras diatnicas C maior
11. Primeira Avaliao
Audio dos exerccios e msicas
12. Tonalidade Maior
Formao de escalas
Campo harmnico

50

Arpejos e acordes
13. Valsinha
Exerccios de trades diatnicas C maior
14 Naquela Mesa
Exerccios de trades diatnicas C maior
15 Naquela Mesa
Exerccios de ttrades diatnicas C maior
16 Urub Malandro
Exerccios de trades diatnicas C maior
- Reviso dos exerccios tcnicos
17 Avaliao Final.

2o Semestre

1. Tonalidade menor
Formao de escalas
Campo harmnico
Arpejos e acordes
2. As rosas no falam
Exerccio tcnico 1 Graus conjuntos G maior
3. As rosas no falam
Exerccio tcnico 2 Graus conjuntos G maior
4. Preciso me encontrar
Exerccio tcnico 3 Graus conjuntos G maior
5. Preciso me encontrar
Exerccio tcnico 4 Graus conjuntos G maior
6. Flor amorosa
Exerccio 1 Teras diatnicas G maior
7. Flor Amorosa
Exerccio 2 Teras diatnicas G maior
8. Carinhoso
Exerccios de Trades diatnicas G maior
9. Carinhoso
Exerccios de Trades diatnicas G maior
10. Pedacinho do Cu

51

Exerccios de Ttrades diatnicas G maior


Reviso dos exerccios anteriores
11. Avaliao
Audio dos exerccios e msicas
12. Pedacinho do Cu
Exerccios de Ttrades diatnicas G maior
Reviso dos exerccios anteriores
13. Doce de Coco
Exerccio tcnico 1 Graus conjuntos D maior
14. Doce de Coco
Exerccio tcnico 2 Graus conjuntos D maior
15. Vibraes
Exerccio tcnico 3 Graus conjuntos D maior
16. Vibraes
Exerccio tcnico 4 Graus conjuntos D maior
17. Avaliao final

3oSemestre

1. Noes bsicas sobre improvisao e variao sobre temas.


2. Rosa
Exerccio tcnico 1 Teras diatnicas D maior
3. Rosa
Exerccio tcnico 2 Teras diatnicas D maior
4. Brejeiro
Exerccios de Trades diatnicas D maior
5. Brejeiro
Exerccios de Trades diatnicas D maior
6. Lamentos
Exerccios de Ttrades diatnicas D maior
7. Lamentos
Exerccios de Ttrades diatnicas D maior
Reviso dos exerccios tcnicos
8. Naquele Tempo
Reviso dos exerccios tcnicos

52

9. Naquele Tempo
Reviso dos exerccios tcnicos
10. Prtica de improvisao aplicando os exerccios
Reviso de repertrio
11. Primeira avaliao
Audio dos exerccios e msicas
12. Receita de samba
Exerccio tcnico 1 Graus conjuntos F maior
13. Receita de samba
Exerccio tcnico 2 Graus conjuntos F maior
14. Carioquinhas
Exerccio tcnico 3 Graus conjuntos F maior
15. Carioquinhas
Exerccio tcnico 4 Graus conjuntos F maior
16. Vou vivendo
Reviso de exerccios tcnicos
- Reviso de repertrio
17. Avaliao final

4o Semestre

1. Noes bsicas sobre improvisao e variao sobre temas j


estudados.
2. Vou Vivendo
Exerccio tcnico 1 Teras diatnicas F maior
3. Na Glria
Exerccio tcnico 2 Teras diatnicas F maior
4. Na Glria
Exerccios de Trades diatnicas F maior
5. Noites Cariocas
Exerccios de Trades diatnicas F maior
6. Noites Cariocas
Exerccios de Ttrades diatnicas F maior
7. Chorando Baixinho
Exerccios de Ttrades diatnicas F maior

53

Reviso dos exerccios tcnicos


8. Chorando Baixinho
Reviso dos exerccios tcnicos
9. Proezas de Solon
Exerccio tcnico 1 Graus conjuntos A maior
10. Proezas de Solon
Exerccio tcnico 2 Graus conjuntos A maior
Prtica de improvisao aplicando os exerccios
Reviso de repertrio
11. Primeira avaliao
Audio dos exerccios e msicas
12. Santa Morena
Exerccio tcnico 3 Graus conjuntos A maior
13. Santa Morena Exerccio tcnico 4
Graus conjuntos A maior
14. Brasileirinho
Exerccio tcnico 1 Teras diatnicas A maior
15. Brasileirinho
Exerccio tcnico 2 Teras diatnicas A maior
16. Apanhei-te Cavaquinho
Exerccios de trades diatnicas A maior
Reviso dos exerccios tcnicos
17. Avaliao Final

5o Semestre

1. Noes bsicas sobre improvisao e variao sobre temas j


estudados.
2. Apanhei-te Cavaquinho
Exerccios tcnicos de graus conjuntos diatnicos A maior
Exerccios cromticos
3. Sonoroso
Exerccios de Teras, Trades e Ttrades diatnicas em A maior
4. Arabiando
Exerccios tcnicos de graus conjuntos diatnicos Bb maior

54

5. Reviso de repertrio
Exerccios de Teras, Trades e Ttrades diatnicas em Bb maior
6. Aquarela na Quixaba
Exerccios tcnicos de graus conjuntos diatnicos E maior
7. Assanhado
Exerccios de Teras, Trades e Ttrades diatnicas em E maior
Reviso dos exerccios tcnicos
8. Tico-Tico no Fub
Exerccios tcnicos de graus conjuntos diatnicos Eb maior
Reviso dos exerccios tcnicos
9. Reviso de Repertrio
Exerccios de Teras, Trades e Ttrades diatnicas em Eb maior
10. Roda tocando o repertrio
Exerccio tcnico 2 Graus conjuntos A maior
Prtica de improvisao aplicando os exerccios
11. Primeira avaliao
Audio dos exerccios e msicas
12. Ternura
Exerccios tcnicos de graus conjuntos diatnicos B maior
13. Um a zero
Exerccios de Teras, Trades e Ttrades diatnicas em B maior
14. Migalhas de amor
Exerccios cromticos Exerccios em quarta
15. Cochichando
Reviso de repertrio
Exerccios tcnicos de graus conjuntos diatnicos Ab maior
16. Roda tocando o repertrio
Exerccios de teras, trades e ttrades diatnicas em Ab maior
Reviso dos exerccios tcnicos
17. Avaliao final

Pandeiro

55

Professores:

Jnior Viegas

Ementa:

B1: Identificar e aprender o conceito de pulsao, tempo forte e tempo


fraco, figuras rtmicas, frmulas de compasso. Introduo ao Choro. Ter
conhecimento histrico dos instrumentos e sua importncia para o estilo musical.
Aprender choro e suas variaes, noo de valsa e suas variaes.

B2: Identificar a pulsao, noo de tempo forte, tempo fraco, figuras


rtmicas, frmulas de compasso. Saber tocar Choro e Valsa. Mexer o Pandeiro
e acentuar. Ler partitura de pandeiro; desenvolver novas tcnicas de se obter
sonoridades diferentes no instrumento; ter conhecimento histrico dos ritmos e
sua importncia para a nossa msica brasileira; Aprender Maxixe, Xote e Baio
mais as variaes de cada ritmo.

B3: Saber mexer o pandeiro, acentuar; tocar o contedo do Bsico 1 e 2;


ler partitura de pandeiro; desenvolver novas tcnicas de se obter sonoridades
diferentes no instrumento; ganhar agilidade e aprender ler uma partitura
genrica; ter conhecimento histrico dos ritmos e sua importncia para a nossa
msica brasileira; Aprender Choro sambado, partido alto, samba e pagode, mais
as variaes de cada ritmo.

B4: Saber o contedo do Bsico 1, 2 e 3; ler partitura de pandeiro e a


genrica (geral); desenvolver novas tcnicas de se obter sonoridades diferentes
no instrumento; ganhar agilidade; ter conhecimento histrico dos ritmos e sua
importncia para a nossa msica brasileira; aprender marcha rancho, marchinha
de carnaval, polca, schottishe e valsa dobrada, mais as variaes de cada ritmo.

B5: Saber o contedo do Bsico 1, 2, 3 e 4; ler partitura de pandeiro e a


genrica (geral); ter participado pelo menos uma vez, da apresentao de alunos
da escola no final do ano; desenvolver novas tcnicas de se obter sonoridades
diferentes no instrumento; ganhar agilidade; ter conhecimento histrico dos
ritmos e sua importncia para a nossa msica brasileira; aprender arrasta-p,
baiozinho, coco e frevo, mais as variaes de cada ritmo.

56

I1: Saber o contedo do Bsico 1, 2, 3, 4 e 5; ler partitura de pandeiro e a


genrica (geral); ter participado pelo menos uma vez, da apresentao de alunos
da escola no final do ano; desenvolver novas tcnicas de se obter sonoridades
diferentes no instrumento; ganhar agilidade; ter conhecimento histrico dos
ritmos e sua importncia para a nossa msica brasileira; aprender embolada,
forr, xaxado e pop (rock, funk, jazz e 6 por 8) mais as variaes de cada ritmo.

I2: Saber o contedo completo do Nvel Bsico; Saber ler partitura;


aprender uma nova forma de se tocar o pandeiro, tcnica desenvolvida por
Marcos Suzano; Aprender a tocar Funk, Rock, Jazz e o 6/8.

Percusso

Professores:

Gabriel Carneiro

Ementa:

B1: Destinado queles que nunca tiveram nenhum contato com os


instrumentos. Identifica e aprender o conceito de pulsao, tempo forte e tempo
fraco. Introduo ao Samba e ao Choro. Ter conhecimento histrico dos
instrumentos e sua importncia para o estilo musical. Aprender a tocar os
instrumentos Tant, Agog, Surdo. Em cada instrumento ser ensinado duas
levadas bsicas, mais 3 variaes.

B2: Continuar com o Samba e Choro. Ter conhecimento histrico dos


instrumentos e sua importncia para o estilo musical. Aprender a tocar os
instrumentos Ganz, reco-reco, caixeta e tamborim. Em cada instrumento ser
ensinado duas levadas bsicas, mais 3 variaes.

B3: Introduo aos ritmos Nordestinos (xote, baio, forr, xaxado, rastap
e frevo). Ter conhecimento histrico dos instrumentos e sua importncia para o
estilo musical. Ritmos utilizados nesse primeiro nvel: xote, baio e xaxado.
Aprender a tocar os instrumentos Surdo (Zabumba), Tringulo, Agog, Ganz e

57

Pandeiro. Em cada instrumento ser ensinado duas levadas bsicas, mais 4


variaes.

B4: Continuao dos ritmos nordestinos. Ter conhecimento histrico dos


instrumentos e sua importncia para o estilo musical. Ritmos utilizados nesse
primeiro nvel: forr, rastap e frevo. Aprender a tocar os instrumentos Surdo
(Zabumba*), Tringulo, Agog, Ganz, Pandeiro e Caixa Clara. Em cada
instrumento ser ensinado duas levadas bsicas, mais 4 variaes.

I1: No nvel Intermedirio o intuito desenvolver e aprimorar tcnicas em


cima dos instrumentos j trabalhados. Ser escolhido 1 a 2 instrumentos a serem
trabalhados durante o semestre. Ou poder ser escolhido um novo instrumento
de nvel de dificuldade alta. (Cuca, Repique de mo, repique de Anel e Caixa
Clara). 1 a 2 instrumentos j trabalhados durante o curso bsico. Ou um novo
instrumento de nvel de dificuldade alta. (Cuca, Repique de mo, repique de
Anel e Caixa Clara).

I2: No nvel Intermedirio o intuito desenvolver e aprimorar tcnicas em


cima dos instrumentos j trabalhados. Ser escolhido 1 a 2 instrumentos a serem
trabalhados durante o semestre. Ou poder ser escolhido um novo instrumento
de nvel de dificuldade alta. (Cuca, Repique de mo, Repique de Anel, Caixa
Clara, Cajn, Atabaque e Congas). 1 a 2 instrumentos j trabalhados durante o
curso bsico e intermedirio. Ou um novo instrumento de nvel de dificuldade
alta. (Cuca, Repique de mo, Repique de Anel, Caixa Clara, Cajn, Atabaque e
Congas).

A1: No nvel avanado o intuito desenvolver o estudo independncia


das mos e a polirritmia. Apreender a tocar ao mesmo tempo mais de um
instrumento. Aprender a tocar ao mesmo tempo: Surdo e Caixa; Surdo e
Tamborim; Tamborim e Agog.

A2: No nvel avanado o intuito desenvolver o estudo independncia


das mos e a polirritmia. Apreender a tocar ao mesmo tempo mais de um
instrumento, seja com as mos seja com os ps. Aprender a tocar ao mesmo
tempo: Conga e Campana; Bumbo e Clave; Tant e Tamborim; Ijex com 2
congas; Conga e Caxixi.

58

A3: No nvel avanado o intuito desenvolver o estudo independncia


das mos e a polirritmia. Apreender a tocar ao mesmo tempo mais de um
instrumento, seja com as mos seja com os ps. Aprofundamento em
instrumentos especficos. O contedo ser desenvolvido de acordo com a
necessidade dos alunos.

Ser escolhido e desenvolvido de acordo as necessidades dos alunos.

Sax Alto/Tenor

Professores:

Felipe Vieira

Ementa:

0: Destinado queles que nunca tiveram contato com o instrumento.


Aprender a emitir os primeiros sons no instrumento. Posicionamento bsico dos
dedos, embocadura, articulao bsica. Execuo de melodias simples.

1: Msica: Trenzinho Caipira. Leitura de partitura no pr-requisito para


o ingresso no saxofone 01. Iniciar a leitura bsica de partituras. Aprimorar
sonoridade. Iniciar repertrio do livro Iniciante de Choro. Aprender escalas e
arpejos at 1 acidente uma oitava.

2: Expandir repertrio do livro Iniciante de Choro. Aprender escalas e


arpejos at 2 acidentes uma oitava.

3: Iniciar livro de choro avanado. Aprimorar tcnica do instrumento por


meio de escalas e arpejos na extenso completa do instrumento.

4: Expandir repertrio de choro avanado. Iniciar trabalho de


improvisao. Aprimorar Guy Lacour at 2 acidentes.

5: Mtodo Guy Lacour de escalas at 2 acidentes. Msicas: Doce de


Cco, Sonoroso, Noites Cariocas. Improvisar nas seguintes progresses

59

utilizando somente arpejos, em tonalidade de livre escolha: ||:I|V7:|| e ||: Im | V7


:||

6: Iniciar improviso com escalas de acorde. Consolidar repertrio para


realizar apresentao solo, com ao menos 10 msicas decoradas.

Viola Caipira

Professores:

Pedro Vaz

Ementa:

O Repertrio e os ritmos apresentados so norteadores do trabalho.


Podendo assim, ser adaptado com as necessidades e desejos de cada turma e
tambm poder ser acrescentado ou retirado peas e/ou ritmos de acordo com
o andamento do trabalho.

O conhecimento no estanque, sendo assim, novos assuntos surgiram


no decorrer das aulas e estes no devem ser ignorados. Cabendo ao professor
aproveita-los e media-los juntamente com os assuntos previstos.

0: Como segurar o instrumento.

Postura

Como afinar o instrumento

Tcnicas bsicas.

Iniciar gradativamente o contedo da Viola Caipira 1

1: Escalas duetadas

Principais Acordes

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Ritmos: toada e guarnia

Repertrio: Chico Mineiro, Luar do Serto, Chalana, Trenzinho do


Caipira, Estudo n 1 Co (Roberto Corra).

2: Escalas duetadas vertical.

Principio da transposio.

Ampliar o conhecimento de acordes.

Ritmos: Cururu e Catret.

Repertrio: Menino da Porteira, Peito Sadio, Estudo n 3 Ja (Roberto


Corra)

3: Escalas duetadas vertical.

Formao de acordes maiores e com stima da dominante.

Estudo da progresso I I7 IV V7 nas trs regies do brao

Ritmos: Choro, Rastap.

Repertrio: Sampa (acompanhamento), Naquela Mesa


(acompanhamento), Moreninha Linda.

4: Escalas Maiores desenhos

Formao de Acordes Menores.

Estudo da Progresso I VIm IIm V7 nas trs regies do brao.

Ritmos: Valsa e Catira

Repertrio: Valsinha, Estudo n 6 Alma de Gato (Roberto Corra)

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5: Escalas Maiores desenhos

Formao de Acordes Ttrades, Diminutos e Meio Diminutos.

Leitura de Partitura.

Ritmos: Pagode e Cip Preto.

Repertrio: Palhetinha, Gente humilde, Chora viola, Pagode em Braslia.

6: Principio da Improvisao, escalas maiores e duetadas.

Campo Harmnico Menor

Ritmos: Polca, Querumana.

Iniciar repertrio para viola solo

Terminar repertrio Iniciante e intermedirio da Escola de Choro.

Repertrio: Senhores da Terra, L em Casa, Urubu Rei.

Violo 6 cordas

Professores:

Danilo Martins
George Costa
Larcio Pimentel
Tiago Joo

Ementa:

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0: Destinado queles que nunca tiveram nenhum contato com o


instrumento.

1: Iniciar a estruturao tcnica dos alunos a partir de estudos para violo


e msicas que desenvolvam sua coordenao motora e sensibilidade musical.

2: Consolidar os conhecimentos tcnicos adquiridos no violo 01 e


iniciao dos conhecimentos de leitura de cifra a partir de um repertrio de
choros simples e msicas populares.

3: Desenvolver a capacidade de tocar os acordes em suas diversas


inverses. Inicio do estudo de escalas maiores no brao do violo.

4: Desenvolver a capacidade de tocar as baixarias (contrapontos) do


repertrio de Choros. Estudo das digitaes de arpejos.

5: Consolidar e aumentar o repertrio de choros com baixarias. Incio das


noes de levadas de samba.

Avanado: Leitura de partituras e cifra com inverses e repertrio de


violo 6.

Violo 7 Cordas

Professores:

Fernando Csar
Larcio Pimentel
Vinicius Magalhes

Ementa: Desenvolver as levadas de samba a partir do repertrio de


sambas-choro. Anlise harmnica e estudo da aplicao das baixarias em
diversos contextos harmnicos. Desenvolver a percepo musical tirando
msica de ouvido.

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Pr-requisitos: Leitura de partituras e cifra com acordes invertidos.


Escalas maiores e menores harmnicas. Levada de samba. Contedo para
prova de nivelamento: Carinhoso, Pedacinhos do Cu e Naquele Tempo. Levada
de samba.

Violino

Professores:

No informado

Ementa:

1: Destinado queles que nunca tiveram nenhum contato com o


instrumento.

2: Iniciar a estruturao tcnica dos alunos a partir de estudos para violino


e msicas que desenvolvam sua coordenao motora e sensibilidade musical

3: Consolidar os conhecimentos tcnicos adquiridos no violino 02 e


adquirir fluncia na leitura primeira vista.

4: Desenvolver a capacidade de tocar escalas maiores e menores com


variaes rtmicas.

5: Explorar diferentes estilos musicais onde o violino costuma ser usado.

6: Objetivos gerais: Consolidar e aumentar o repertrio de choros e outros


estilos. Mudana de posies.

7: Desenvolver a capacidade de improvisao. Desenvolver a percepo


musical tirando msica de ouvido.

Cajn

Professores:

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No informado

Pr-requisitos: Ter ou comprar o instrumento. Quem no possuir o


instrumento, pegar as indicaes e referncias com o professor na primeira aula.

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2. Lista das ementas e professores da Escola Porttil de Msica.

Todos os nomes de professores e ementas de cursos foram retirados do site da


Escola Porttil de Msica.

Bandolim
Professores:

Pedro Amorim
Maycon Jlio

Ementa: Este curso trabalha o desenvolvimento da tcnica interpretativa,


atravs de exerccios especficos para sonoridade, trmulo, uso de adornos e
construo de repertrio com os diversos gneros que compem o universo do
choro. Nas turmas mais avanadas, acompanhamento e harmonia aplicada ao
bandolim.

Pr-requisitos: Para iniciantes no instrumento a avaliao feita a partir de


teste de musicalidade verificada atravs de percepo rtmica e meldica, bem
como interesse no aprendizado. Para os demais nveis ser realizada avaliao
de fluncia do aluno no instrumento.

Bateria
Professores:

Oscar Bolo

Faixa Etria: Idade mnima de 15 anos

Ementa: Nivel I:
1. Independncia

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2. Controle da baqueta - tcnica de caixa


3. Controle do pedal do bumbo
4. Cruzamento
5. Iniciao aos gneros de msica brasileira

Nivel II e III:
Choro, Maxixe, Polca, Valsa brasileira, Dobrado, e Gneros Nordestinos.

Pr-requisitos: Para iniciantes no instrumento a avaliao feita a partir de


teste de musicalidade verificada atravs de percepo rtmica, bem como
interesse no aprendizado. Para os demais nveis ser realizada avaliao de
fluncia do aluno no instrumento.

Canto

Professores:

Amlia Rabello

Ementa: O curso voltado para aprofundamento na linguagem de samba e


choro, atravs do estudo de obras de compositores clssicos e contemporneos,
os principais intrpretes, o estilo, o modo de se relacionar com o canto
caracterstico desses gneros de msica.

Pr-requisitos: Percepo meldica e rtmica, afinao, experincia bsica em


canto.

Canto Coral
Professores:

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Ignez Perdigo
Ruy Oliveira
Evelyne Garcia

Carga Horaria Semanal: 2 Horas

Ementa: Canto em unssono: Timbre, articulao, preciso;


Canto a 2 vozes: Contracanto dado e improvisado - em harmonias bsicas -
percepo harmnica;
Canto a 3 e 4 vozes: Percepo harmnica, polifnica e polirtmica.
De repertrio afinado com os demais cursos da EPM, o Canto Coral faz seus
ensaios regulares com uma carga de 2 horas semanais.
Para as apresentaes com o Bando, ou em outras programaes da EPM,
monta-se esquema de ensaio especfico, para os naipes e para todo o grupo.
Os arranjos cantados pelos coros so, em sua maioria, originais.

Pr-requisitos:

Cavaquinho

Professores:

Luciana Rabello
Jayme Vignoli
Ana Rabello
Lucas Souza

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Ementa: Neste curso sero transmitidos os fundamentos do acompanhamento


de cavaquinho para os diversos ritmos brasileiros sob a tica do Choro, tendo
como referncia as escolas dos mestres Canhoto e Jonas.

Nvel I
Nvel bsico para iniciantes. Acordes bsicos, estudo de cifras. Treinamento de
ritmos elementares.

Nvel II
Introduo do repertrio clssico de choro. Harmonia bsica no instrumento.
Treinamento de ritmos para acompanhamento de gneros como polca,
schottisch, tango, choro, samba, valsa.

Nvel III
Estudo de escalas, arpejos, tcnica de mo direita. Harmonia avanada no
instrumento. Ampliao de repertrio.

Pr-requisitos: Para iniciantes no instrumento a avaliao feita a partir de


teste de musicalidade verificada atravs de percepo rtmica e meldica, bem
como interesse no aprendizado. Para os demais nveis ser realizada avaliao
de fluncia do aluno no instrumento.

Clarinete / Saxofone

Professores:

Pedro Paes
Rui Alvim

Ementa: Elementos tcnico e interpretativos do clarinete aplicado linguagem


da msica popular brasileira, partindo do choro. O objetivo principal do curso

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potencializar e enriquecer a formao de instrumentistas no processo de


profissionalizao no mercado da msica popular.

Nvel I (Iniciante)
Respirao, postura, embocadura e sonoridade, aplicados a repertrio de nvel
tcnico bsico. Noes elementares de palhetas e boquilhas.

Nvel II (Intermedirio)
Percepo meldica no clarinete, escalas, arpejos, articulao, ornamentao e
recursos expressivos, aplicados a repertrio de nvel tcnico mdio. Iniciao a
leitura de cifras, campos harmnicos e tcnicas de memorizao e construo
de repertrio.

Nvel III (Avanado)


Percepo e transposio meldica, transcrio de melodias e contrapontos,
prtica de interpretao de solo de regional e conjunto de sopros, tcnicas de
articulao, ornamentao, flexibilidade e recursos expressivos, leitura de cifras,
memorizao e construo de repertrio avanado, contraponto e improvisao
fundamentados em exemplos histricos da msica popular brasileira.

Pr-requisitos: Noes basicas no instrumento. Leitura musical desejvel,


mas no indispensvel.

Contrabaixo acstico

Professores:

Jorge Oscar

Ementa: Estudo e treinamento da utilizao do contrabaixo acstico nos


diversos gneros conformadores da linguagem do choro. Estudo de repertrio
representativo de cada perodo de sua histria, alm de levantamento de obras
passveis de ter o contrabaixo como solista.

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Pr-requisitos: Leitura de cifra e fluncia bsica no instrumento.

Flauta
Professores:

Naomi Kumamoto
Antonio Rocha
Maria Souto

Ementa: Elementos tcnico e interpretativos do instrumento aplicado


linguagem da msica popular brasileira, partindo do choro. O objetivo principal
do curso potencializar e enriquecer a formao de instrumentistas no processo
de profissionalizao no mercado da msica popular.

Nvel I (Iniciantes)
Respirao, postura, embocadura e sonoridade, aplicados a repertrio de nvel
tcnico bsico.

Nvel II (Intermedirio)
Percepo meldica no instrumento, escalas, arpejos, articulao,
ornamentao e recursos expressivos, aplicados a repertrio de nvel tcnico
mdio. Tcnicas de memorizao e construo de repertrio.

Nvel III (Avanado)


Prtica de interpretao especfica para cada gnero musical (choro, maxixe,
valsa, polca, schottisch, etc.), com regional e conjunto de sopros, tcnicas de
articulao, ornamentao, flexibilidade e recursos expressivos, memorizao e
construo de repertrio avanado, contraponto e improvisao fundamentados
na linguagem do choro.

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Pr-requisitos: Para iniciantes no instrumento a avaliao feita a partir de


teste de musicalidade verificada atravs de percepo rtmica e meldica, bem
como interesse no aprendizado. Para os demais nveis ser realizada avaliao
de fluncia do aluno no instrumento.

Musicalizao Infantil

Professores:

Paula Borghi

Faixa Etria: Entre 6 e 9 anos.

Carga Horaria Semanal: 1 Hora.

Ementa: O curso abranger os contedos de exerccios de percepo, de


apreciao musical, iniciao flauta doce, leitura e escrita musicais.

Pr-requisitos:

Pandeiro
Professores:

Celsinho Silva
Gabriel Leite
Eduardo Silva

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Ementa: O curso tem como objetivo trabalhar os fundamentos da prtica de


pandeiro a partir da escola de Celsinho Silva e Jorginho do Pandeiro. Sero
trabalhadas as levadas bsicas do choro e de seus ritmos conformadores.

Pr-requisitos: Para iniciantes no instrumento a avaliao feita a partir de teste


de musicalidade verificada atravs de percepo rtmica, bem como interesse
no aprendizado. Para os demais nveis ser realizada avaliao de fluncia do
aluno no instrumento.

Percusso
Professores:

Magno Julio
Marcus Thadeu

Ementa: Percusso I
Voltado para aqueles que esto comeando, serve como preparatrio para quem
quer ingressar no curso de Percusso futuramente. Sero vistas questes
tcnicas para domnio da caixa, dos pratos, do bumbo e de outros instrumentos
que fazem parte do universo do choro.

Percusso II
Choro, Maxixe, Polca, Valsa Brasileira, Marchinha, Dobrado, Samba e Gneros
nordestinos.

Pr-requisitos: Para iniciantes no instrumento a avaliao feita a partir de teste


de musicalidade verificada atravs de percepo rtmica, bem como interesse
no aprendizado. Para os demais nveis ser realizada avaliao de fluncia do
aluno no instrumento.

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Piano
Professores:

Evelyne Garcia
Fernando Leitzke

Ementa: O curso voltado para o desenvolvimento da linguagem do choro no


instrumento. Sero abordados aspectos como: diferentes tipos de
acompanhamento, solos, formao de acordes, etc.

Pr-requisitos: Amplo domnio tcnico do instrumento. Desejvel fluncia e


conhecimento do repertrio da msica popular brasileira, alm de
conhecimentos de harmonia e boa leitura. No so aceitos iniciantes.

Trombone / Tuba / Bombardino

Professores:

Thiago Osrio

Ementa: Aspectos tcnicos: Histria e famlia dos instrumentos. Digitao


(sistema de vara e pistos), respirao e embocadura.
Bocais e acessrios (surdinas/lubrificantes/estantes). Prtica em conjunto e
utilizao dos instrumentos na linguagem do choro.

Pr-requisitos: Possuir o prprio instrumento, conhecimento dos conceitos


bsicos de teoria musical, leitura na clave de f e de sol, leitura de cifras.

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Trompete
Professores:

Nailson Simes

Ementa: O curso de Trompete da EPM visa oferecer ao aluno conhecimentos


sobre o trompete, de maneira a dar-lhe condies tcnicas e interpretativas de
realizar o repertrio proposto, de acordo com os seguintes nveis: iniciante,
intermedirio e avanado.

Nvel I
Parte fsica: respirao, embocadura, dedilhado, afinao. Domnio do
instrumento: escala cromtica, modo maior e menor natural (at duas
alteraes), extenso mnima de 14 (a partir do F#2), articulao bsica (ligado
e destacado)

Nvel II
Aspectos tcnicos: Parte fsica: respirao, embocadura, dedilhado, afinao,
resistncia. Domnio do instrumento: escala cromtica, escala/arpejo no modo
maior e menor natural e harmnico (at cinco alteraes), extenso mnima de
duas oitavas, articulao bsica (ligado e destacado), dinmica em suas
diferentes vertentes.

Nvel III
Parte fsica: respirao, embocadura, dedilhado, afinao, resistncia. Domnio
do instrumento: escala cromtica, escala de tons inteiros, escala/arpejo no modo
maior e menor natural, harmnico e meldico (todos os tons), extenso (F#2 a
R5) articulao bsica (ligado e destacado), dinmica em suas diferentes
vertentes.

Pr-requisitos: Possuir o prprio instrumento, conhecimento dos conceitos


bsicos de teoria musical, leitura na clave de f e de sol, leitura de cifras.

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Violo
Professores:

Mauricio Carrilho
Paulo Arago
Anna Paes
Luiz Flavio
Flavio Alcofra
Lucas Porto
Marlon Jlio
Glauber Seixas
Iuri Bittar

Ementa: Estudo e treinamento prtico dos diversos ritmos conformadores do


choro - polca, maxixe, valsa, schottisch, etc. - e suas ramificaes, como o
samba e o frevo. Estudo de repertrio representativo de cada perodo de sua
histria.
1. Formao de acordes. Exerccios para posicionamento das mos direita e
esquerda. Primeiras sequncias harmnicas (C, Am). Exerccios para troca
fluente de acordes. Primeiras levadas (valsa, choro - sncope no primeiro e no
segundo tempos). Repertrio simples para acompanhamento sem uso de
pestanas.
2. Sequncias harmnicas (G, Em, D, Bm). Primeiros exerccios de arpejo.
Levadas de polca e tango. Repertrio simples para acompanhamento com uso
de pestanas.
3. Sequncias harmnicas (F, Dm, A, F#m). Primeiras escalas (em tonalidade
maior). Exerccios de sonoridade. Repertrio intermedirio. Integrao com a
prtica de conjunto via repertrio do Bando.
4. Escalas menores (meldica e harmnica). Intervalos (exerccios prticos).
Estudo das inverses dos acordes (tera, quinta e stima no baixo). Sequncias
harmnicas em todas as tonalidades.
Iniciao leitura meldica (choros e valsas simples).

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5. Iniciao ao estudo das baixarias. Baixos obrigatrios. Levadas de valsa choro


(uso do 6/8 no compasso ). Levadas de schottisch e choro sambado.
Exerccios de memorizao de harmonias.
6. Execuo de melodias de dificuldade mdia. Harmonias com uso de tenses
(9as, b5, #5, 7M, e suas combinaes). Repertrio contemporneo de choro.
7. Realizao do acompanhamento (encadeamentos com uso de notas comuns,
baixo pedal, contracantos superiores (na ponta do acorde) e intermedirios (nas
vozes intermedirias dos acordes). Execuo de melodias mais complexas.
Levadas de samba.
8.Violo solo. Repertrio de Joo Pernambuco, Garoto, Canhoto da Paraba.
Duos e trios de violes.

Pr-requisitos: Para iniciantes no instrumento a avaliao feita a partir de


teste de musicalidade verificada atravs de percepo rtmica e meldica, bem
como interesse no aprendizado. Para os demais nveis ser realizada avaliao
de fluncia do aluno no instrumento.

Violo Contraponto

Professores:

Julio Pinheiro
Rafael Mallmith

Ementa: No curso Os violes e o regional, os violonistas Julio Pinheiro e


Rafael Mallmith propem um amplo estudo sobre o trabalho dos violes (6 e 7
cordas) dentro do conjunto regional, com nfase no contraponto popular
(fraseado, baixarias), sem perder de vista aspectos imprescindveis para uma
boa execuo, como harmonia e levadas.

Pr-requisitos: O aluno deve ter fluncia no violo, com conhecimento ao


menos bsico das inverses de acordes. Para alunos de violo da EPM, o ideal
que tenham cursado at pelo menos o Nvel IV.

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Os alunos novos devero comparecer ao teste de nivelamento.

Violo para Crianas

Professores:

Paula Borghi

Faixa Etria: 10 - 11 anos

Ementa: O curso consistir em aulas de violo e, como complemento e


fundamentao do aprendizado, sero ministradas aulas de apreciao musical,
onde se poder ouvir, analisar musicalmente o repertrio e dialogar um pouco
sobre a histria de nossa msica.
O projeto prev a elaborao de material didtico, desenvolvido pela Escola
Porttil de Msica, de acordo com sua metodologia.

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Apresentamos a seguir as transcries completas das entrevistas. Elas foram


realizadas presencialmente com os professores do Projeto Msica e Cidadania
Marcelo Amazonas e Nino Barbosa; e, dada distncia geogrfica, via
Whatsapp com os professores da Escola Brasileira de Choro Fernando Csar e
Henrique Neto; e com o professor da Escola Porttil de Msica Pedro Amorim.
Optamos em nossa transcrio por substituir para o texto escrito termos
coloquiais afim de dar maior fluncia leitura.

3. Entrevista com Fernando Csar (Escola Brasileira de Choro Raphael


Rabello).

Nome: Fernando Csar Vasconcellos Mendes


Data de Nascimento: 18/09/1970

Fernando Csar violonista 7 cordas e atua como professor da Escola de Choro


Raphael Rabello em Braslia.

NV: Pode falar um pouco da sua formao musical?

FC: Minha famlia uma famlia musical, meu bisav era um seresteiro bomio,
meu av foi trompetista mestre de banda, meu pai um militar mas sempre tocou
e foi um msico amador tocando desde adolescente nas bandas, tocou bateria,
contrabaixo, violonista, em casa sempre teve ou piano, ou rgo, e meu tio, o
irmo dele, era saxofonista dos fuzileiros navais, o nosso aprendizado, tanto o
meu como o do meu irmo8, foi ouvindo os discos que meu pai comprava e ele
comeou a frequentar o Clube do Choro quando a gente foi pra Braslia, em
1977, e o Clube foi fundado nesse ano, em 1979 ele j estava frequentando o
Clube e, encantado, comeou a tocar muito disco de Choro, comprou
cavaquinho, e era sempre os discos que ele estava ouvindo em casa e tocando,
tirando de ouvido, aquela coisa da tradio oral do Choro, e foi assim que a gente
comeou, os instrumentos ali sempre disponveis em casa, e a gente comeou
a mexer nos instrumentos, esse foi o incio da formao, eu comecei a tocar


8
Fernando Csar irmo do renomado bandolinista e compositor Hamilton de Holanda.

79

cavaquinho mas logo em seguida passei para o 7 cordas e fui sempre com o
meu pai me ensinando, a partir de um determinado momento eu fui estudar na
escola de msica de Braslia para aprender a ler, formalizar o aprendizado, na
escola eu estudei flauta doce, estudei violino, violoncelo, obo, tinha uma regra
na escola que os instrumentos mais concorridos eram o violo e o piano, e eu
queria pegar o violo e nunca consegui, ento acabei saindo da escola um tempo
depois, no cheguei a me formar l, mas aquela vivncia foi muito importante,
depois comecei a estudar com o Everaldo [Pinheiro], um grande violonista do
Par que j morava em Braslia h um bom tempo, vindo do eixo Rio-So Paulo,
ele tocou um tempo com o Jhonny Alf e um grande mestre do violo, um cara
que sabe tudo sobre violo, no era do Choro mas um cara do violo, antenado
em tudo que msica, um grande msico, ele foi um cara que participou da
minha formao, acabei fazendo vestibular de outra coisa que no era msica,
me formei em Cincias Contbeis, trabalhei em banco, paralelo msica,
sempre gravando, viajando e fazendo shows e em 2001 eu decidi me dedicar
exclusivamente msica.

NV: E como se deu a sua relao em si com o Choro, quando voc decidiu
que seguiria uma carreira tocando Choro?

FC: Comeou ouvindo os discos que meu pai tinha em casa, nessa questo dos
discos eu me lembro bem na minha infncia, com 3, 4 anos, a partir da eu j
lembro muito dos discos, ainda no eram os discos de Choro mas sempre teve
muitos discos em casa e do Choro especificamente nesse incio era muita coisa,
no tinha algo marcante, foi marcando depois, ao longo do perodo, alguns
discos foram marcando como o Vibraes, o disco dos Carioquinhas, depois o
Mistura e Manda do Paulo Moura, Inditos de Jacob com Do Rian, o disco do
Abel Ferreira, Brasil sax clarineta, so discos fortes que foram marcando e o
choro, o grande instrumentista e referncia foi o Dino, o violo dele sempre me
encantou e eu acho que a admirao por ele e pelo jeito dele tocar muito forte,
o violo tocado pelo Dino, toda a concepo e histria , no s nos discos de
Choro, mas tudo que ele fez e eu ouvi, foi uma coisa muita forte, uma atrao
por aquele som, aquele maneira de tocar, e eu chego a concluso que depois
da morte do Jacob [do Bandolim], o Dino assumiu a posio de maior

80

instrumentista brasileiro, e ele continuou tocando em vrios discos at 2004,


2005, at o fim da vida mesmo, tocando em uma grande quantidade de discos
gravados no Brasil, ento ele foi para mim a maior referncia.
E duas coisas que foram importantes na minha formao foram, primeiro, a
iniciativa do meu pai fazer com que a gente ensaiasse todo dia, de segunda
sexta. No final do dia tocvamos os trs juntos por uma hora durante muitos
anos, isso foi uma coisa muito importante na minha formao e a outra foi
participar de rodas de Choro, nessa poca o Choro amador em Braslia, uma
cidade nova, tinham muitas rodas, todo final de semana tinha uma ou duas rodas
pra gente participar e eram muitas horas, eram rodas com tempo muito extenso
mesmo, de comear meio dia, uma da tarde, e se estender muitas vezes at a
madrugada, 10, 12 horas de roda de Choro e isso foi muito importante para a
minha formao.

NV: H quanto tempo voc d aula na escola de Choro Raphael Rabello?

FC: Sou professor da escola desde 2002, de 2004 a 2011 eu acumulei a funo
de coordenador geral da escola, e de 2011 para c eu sou coordenador de
violo, um projeto realmente diferenciado e muito importante para a cultura
brasileira e para o Choro principalmente, para mim uma coisa muito importante,
talvez tenha sido a minha maior motivao para no sair de Braslia, ajudar
outras pessoas a tocar Choro, principalmente crianas e adolescentes, foi uma
coisa que eu no tive na minha poca, no tive uma pessoa que ensinasse
Choro, acho que teria sido muito mais fcil se tivessem chores ensinando
Choro, como hoje acontece em Braslia, no Rio de Janeiro, no Recife, em vrios
lugares do Brasil.

NV: Como voc avalia a insero social que o Choro propicia?

FC: A roda de Choro um lugar de convivncia, ento muita coisa acontece em


uma roda, existem vrios cdigos de conduta, o respeito aos antigos, o respeito
msica, os padres j determinados como por exemplo a tonalidade, ento o
choro sempre teve uma gravao de referncia, cada msica geralmente tem

81

uma gravao de referncia, ela se padroniza, a maneira de tocar, h um bom


tempo isso vem sendo deixado de lado, no h necessidade de se tocar
exatamente como est gravado mas em determinadas rodas voc sente que
precisa ser tocado dessa maneira, como a gravao original, mas uma coisa que
padronizado o tom e a forma, claro que tudo isso pode ser mudado e
mudado de acordo com o que voc sente que est acontecendo naquela roda,
quem est tocando, o que voc precisa respeitar, a pessoa mais velha que est
acostumada a tocar daquela maneira, ento voc vai seguir esses padres.

NV: Como voc trabalha os elementos necessrios para a execuo do


Choro?

FC: Tudo depende do aluno, aonde o aluno quer chegar, que nvel de
conhecimento ele j tem, se ele quer aprender a ler partitura ou no, na Escola
de Choro a coisa foi caindo para o lado de ensinar os alunos a lerem porque a
gente no conseguia imaginar que em uma escola, no incio com 200 alunos que
foi crescendo at ter mais de mil alunos como hoje, todos terem um bom
ouvido, j desenvolvido, para a gente ir tentando passar as coisas pela tradio
oral, ento acho que ficaria muito difcil isso acontecer nas aulas em grupo, por
isso optou-se por ensinar a ler partitura, mas em um determinado momento isso
deixado de lado, eu e a escola focamos muito em repertrio, toda a dificuldade
e necessidade que o choro precisa est dentro de um Choro, ento voc vai
estudar o choro e as dificuldade que aquele Choro tem para cada um, encontrou
uma dificuldade, para-se nela e ela vira um estudo, vai repetir vrias vezes
aquele trecho, colocar no metrnomo, entender meldica e harmonicamente o
que est acontecendo, o foco principal no meu ver e o que eu utilizo formao
de repertrio que foi uma coisa que eu tive na minha formao, de tocar junto
todo dia e ir formando um repertrio.

NV: Quais voc acha que so as dificuldades enfrentadas no ensino do


Choro?

FC: difcil dizer, pois o ensino do Choro uma coisa muito recente e por ser
recente a gente tem pouco material didtico, ento tem estar sempre produzindo

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alguma coisa, principalmente pensando na escola, em aulas em grupo que se


precisa de algo mais formalizado, ento a dificuldade em fazer materiais,
porque geralmente o professor msico e est ralando, batendo escanteio e
correndo pra cabecear, e a falta de tempo, o ideal seria termos projetos como foi
aqui em Braslia, financiando esse material, assim o professor vai deixar de dar
aula, deixar de fazer um show para produzir esse material porque ela precisa
sobreviver, necessrio dinheiro para fazer isso, talvez essa seja a maior
dificuldade, para mim a principal e talvez a nica.

NV: O Choro, de certa maneira, uma linguagem musical complexa. Como


voc acha que deve ser passado essa linguagem para os alunos
iniciantes?

FC: Os iniciantes sempre so algo bem mais complexo, primeiro porque eles vo
precisar ter o incio da mecnica no instrumento, falando do violo algo bem
complexo, ento ele vai ter que estudar um pouco de tcnica, aquela coisa
bsica do violo mesmo, costumo sempre usar aqueles exerccios bsicos de
violo erudito, Tarrega, Carulli, Isaias Savio e essas coisas tradicionais de violo
para o aluno comear a ter a mecnica do instrumento, a entramos na seara de
formao de acordes, mas s no copia e cola, olha como monta o acorde,
decora o nome e faz, depois estudar o mecanismo da troca de acordes, os
encadeamentos, fazendo tudo isso mecanicamente e, paralelo a isso, sempre
trabalhando a audio, mostrando Choros e incentivando eles a ouvirem, a partir
da a gente precisa de um repertrio que seja compatvel com o nvel tcnico
desses alunos, ento no tem como a gente passar Choros, que geralmente j
tem uma complexidade muito maior, ento a gente comea com umas coisas
mais simples, algumas coisas do cancioneiro brasileiro, sempre procurando
facilitar a harmonia, depois de certa evoluo comea a colocar inverses, a
partir da uns baixos de ligao, at chegar em uma linha de baixaria mais
completa, ento a gente comea com msicas simples, Luar do serto, Eu no
existo sem voc, As rosas no falam, Valsinha do Chico Buarque, algumas
valsas do cancioneiro mesmo, mais ou menos por esse lado que caminha o
trabalho com iniciantes.

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NV: Agora dentro dessa viso social que a gente trabalha, nos projetos,
nas escolas, como voc lida com a questo disciplinar dos alunos? Por
exemplo, alunos em situao delicada socialmente que atrapalham aulas
ou alunos com facilidade musical, porm com mau comportamento.

FC: Na verdade, eu nunca tive esses problemas dentro da escola, tudo sempre
aconteceu tranquilamente com os alunos, em qualquer nvel social.

NV: De modo geral, como voc acha que deve ser a grade de uma escola
especifica de Choro e os assuntos primordiais que devem ser abordados?

FC: Acho importante ter solfejo e leitura rtmica inicialmente s isso e por um
bom perodo para que os alunos consigam desenvolver essa habilidade, as aulas
de instrumento, logicamente, apreciao de Choro, histria do Choro, aula de
composio, como compor e aula de arranjo, acho que so essas as primordiais,
ento acho que nos 4 primeiros semestres aulas de leitura rtmica, solfejo,
histria e apreciao do Choro e aulas do instrumento, depois desenvolveria a
teoria, arranjo e composio.

NV: Voc a favor de avaliao? Se sim, de que forma?


FC: No, eu sou contra e no fao avaliao. Durante todo o semestre o
professor consegue avaliar o aluno no dia a dia, no necessrio marcar um dia
de prova para fazer isso, no incio quando eu entrei na Escola de Choro fazamos
isso mas depois eu fui abolindo e no sei se os professore ainda fazem l, no
sei como eles esto agindo, mas na minha poca eu deixei bem livre, at porque
eu no fazia, acho que o dia a dia voc consegue avaliar e a prova um
momento difcil para o aluno, pode gerar nervosismo e no refletir o que o aluno
foi durante o perodo, alguns vo contestar falando que o aluno vai sentir presso
quando precisar ir ao palco, mas nem todos os alunos vo ser msicos
profissionais, esto ali para curtir, passar o tempo ou como hobby e essa presso
pode no ser boa para ele, ento voc diferencia desse aluno do aluno que vai
ser profissional cobrando mais do que voc sentiu e sabe que vai se
profissionalizar, a gente cobra mais dele para no ter que forcar ele a fazer prova,
ele j se sente cobrado mais seriamente, essa cobrana mais rgida j gera essa

84

tenso nele, no precisa de uma prova e os outros realmente no precisam de


uma prova.

NV: Quanto tempo voc acredita que deve durar o curso para a formao
de uma base solida?

FC: Entre cinco e seis anos, no menos que cinco anos.

NV: Qual voc acredita ser a carga horria semanal ideial?

FC: Isso depende muito do formato da escola, mas uma aula semanal de
cinquenta minutos a uma hora o suficiente para o aluno absorver as
informaes e durante a semana estudar, acho que no mais que isso, agora a
carga do resto da grade difcil mensurar sem ter essa experincia, l na Escola
de Choro uma aula de instrumento e uma terica, de cinquenta minutos por
semana e dependendo da quantidade de disciplinas aumenta, agora l na escola
tem aula de histria do Choro para os alunos iniciantes que so mais cinquenta
minutos, ento so trs matrias, cada matria com cinquenta minutos, mas
acho que no pode ultrapassar de trs seno sobrecarrega o aluno.

NV: Qual idade voc considera ideal para iniciar no aprendizado do Choro?

FC: Acho que quanto mais cedo, melhor. A educao musical antes de uma
formalidade em uma escola especifica de msica tinha que vir das escolas, acho
que isso tem que vir desde cedo mesmo, difcil montar um esquema de como
fazer isso mas tem que ser desde sempre, no s do Choro, mas da msica,
especfico ao Choro eu acho difcil mensurar, mas quanto mais cedo a criana
tiver contato com a msica, melhor.

NV: Voc utiliza pedagogias distintas para diferentes faixas etrias?

FC: No diferencio porque geralmente os meus alunos so a partir de quatorze


anos, ento j so pr-adolescentes e adolescentes e o tratamento igual a um
adulto, no tem muita diferena quanto a pedagogia.

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NV: Quais so os pontos positivos e benefcios que voc observa e poderia


destacar na sua prtica pedaggica, tanto musicalmente, quanto
socialmente?

FC: Um benefcio o reconhecimento da identidade cultural pelos alunos,


porque o Choro sendo talvez o primeiro gnero reconhecidamente brasileiro,
parece que alguma coisa fica meio que impregnada no nosso DNA, ento um
reconhecimento de voc mesmo naquela msica, do seu povo naquela msica,
acho que isso o benefcio do ensino do Choro, logicamente, cada aluno tem a
sua caracterstica seus pontos positivos e seus pontos negativos e eu acho que
esse convvio com o professor, quando a aula em grupo com outros colegas
de sala de aula, isso vai acrescentando muito principalmente na parte que cada
um tem uma carncia, uma deficincia, uma necessidade de desenvolver melhor
aquele sentimento, aquela falha ou desenvolver uma coisa que ele de repente
no tenha grande expresso, e o principal o reconhecimento da identidade
cultural.

NV: Voc acredita que a vivncia no contexto social que o Choro propicia
ajuda no desenvolvimento pessoal dos estudantes, em outras palavras, a
roda de Choro ajuda a formar um carter?

FC: Com certeza ajuda, sem dvida, a roda de Choro um lugar que tem seus
cdigos de conduta, o respeito pelo mais velho, voc seguir um determinado
repertrio dependendo de quem estiver na roda, o respeito a essas pessoas que
esto na roda, tambm tem possibilidade do cara tocar alguma coisa para
derrubar quem est na roda e isso pode ser uma coisa na brincadeira mas pode
ser uma coisa na sacanagem tambm, com esse intuito e pode ser que se for
nesse intuito essa pessoa seja repreendida por outras que esto ali na roda ou
que algum dia ela aprenda que aquilo ali ele fez no deveria ter feito. Eu tenho
um exemplo, em uma roda na minha casa com presena de vrios msicos
grandes chores que estavam em Braslia participando de um show e que eu
estava participando com meu irmo, isso eu era criana, tinha treze anos e nessa
roda eu fui tocar uma msica no cavaquinho, era uma msica recente do Waldir

86

Azevedo chamada Luz e sombra, tinha acabado de sair o disco que era do
Canhotinho, e eu fui tocar essa msica e esses chores que estavam na roda
ainda no conheciam e ela comea com uma modulao inesperada logo no
segundo acorde ento j comeou derrubando os meus dolos e foi uma coisa
que eu aprendi ali, que isso no se deve fazer, eu no fiz por mal, achava que
eles saberiam tocar essas msicas e acabei derrubando meus dolos ali.

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4. Entrevista com Henrique Neto (Escola Brasileira de Choro Raphael


Rabello)

Nome: Henrique Lima Santos Neto


Data de Nascimento: 19/08/1986

Henrique Neto violonista 7 cordas, atuou como professor Escola de Choro


Raphael Rabello em Braslia durante dez anos e como coordenador durante
cinco anos.

NV: Pode falar um pouco da sua formao musical?

HN: Minha formao musical comeou dentro de casa, aprendendo os primeiros


acordes com meu pai9. Eu comecei tocando bandolim, depois passei para
guitarra, violo de 6, at chegar no violo de 7 cordas, enfim, comecei tocando
mesmo com ele, ele um msico autodidata ento meu ensino inicial tambm
foi desta maneira. Depois eu tive vrios professores particulares, dentre eles:
Alencar 7 Cordas, Rogrio Caetano, Paulo Andr Tavares, Eustquio Grilo,
Everaldo Pinheiro, enfim, tive vrios professores, fiz cursos tambm na Escola
de Msica de Braslia, tambm estudei na Escola de Choro, at que eu me formei
em Licenciatura em Msica na Universidade de Braslia (UnB) e agora estou
fazendo mestrado em performance Jazz na Universidade de Aveiro, em
Portugal.

NV: Como voc descobriu o Choro? Eu sei que o Choro, por conta do seu
pai, sempre esteve presente na sua vida, mas quando voc pensou em se
profissionalizar?

HN: Pois , no me lembro exatamente. Como voc disse, eu j venho dessa


famlia, desde que eu sou muito pequeno j estou no meio, ento no me lembro
o momento onde eu identifico que o Choro tenha entrado na minha vida, mas
quando eu decidi tocar foi realmente um dia que eu estava acordando e meu pai

9
Henrique Neto filho de Reco do Bandolim, bandolinista, criador do grupo Choro Livre e
Presidente do Clube do Choro de Braslia desde o ano de 1993.

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assistia a um vdeo do Raphael Rabello tocando, uma gravao amadora, e eu


acordei num domingo com aquele som do Raphael e eu fiquei, assim,
impressionado, hipnotizado por aquele som e acho que decidi nesse dia que
queria seguir essa carreira, ento foi uma coisa muito forte, eu tive certeza
quando eu escutei, eu devia ter uns 10, 11 anos de idade e a estou at hoje no
violo de 7 cordas, tive uma passagem pelo bandolim, guitarra, mas naquele dia
a coisa foi decidida mesmo, ouvindo essa gravao do Raphael.

NV: A escola de Choro Raphael Rabello foi fundada em 1998. H quanto


tempo voc d aula l e desde quando virou coordenador?

HN: Minha relao desde sempre, comecei como aluno, fiz aulas com alguns
professores e isso deve ser mais ou menos no ano de 2000, 2001. Por estar
fazendo mestrado fora, o Pablo Fagundes assumiu a coordenao, mas eu fiquei
cinco anos na coordenao aproximadamente e j dei aula l tambm durante
dez anos, dos meus vinte at meus trinta anos, ento foi um grande aprendizado,
inclusive ter desenvolvido a metodologia de ensino que eu escrevi, foi muito
baseado nas aulas, na experincia que eu adquiri ali com os alunos no dia a dia,
vendo como que funcionava certas coisas, respondendo perguntas que eu
sabia intuitivamente mas eu tinha que buscar explicao, porque a gente sabe
que o ensino do Choro realmente de uma maneira oral, a gente tira de ouvido,
o conhecimento adquirido de uma maneira intuitiva e eu precisei sistematizar
esse raciocnio, para que os alunos pudessem entender, ento essa vivncia foi
fundamental para poder ter refinado e ter chegado no ponto que eu cheguei, para
escrever esse livro: o Manual do Choro10.

NV: Sobre o Manual do Choro, eu queria que voc falasse mais sobre ele,
na apresentao voc diz que o intuito do livro sistematizar o ensino do
Choro sem lhe roubar a espontaneidade, em uma rea com msicos de


10
O Manual do Choro um mtodo idealizado por Henrique Neto e Eduardo Maia Venturini
(Dudu Maia), lanado em 2017. Ambos atuaram como professores na Escola de Choro Raphael
Rabello e desenvolveram esse material didtico para uma sistematizao do ensino da
linguagem do Choro.

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formaes distintas, como voc pensou nessa sistematizao de parte


terica e prtica?

HN: Pois , esse foi um desafio grande realmente porqu do jeito que eu aprendi
foi totalmente diferente, e a gente est iniciando um novo referencial, de ensinar
o Choro de uma maneira mais sistematizada, a gente buscou, se no sanar, pelo
menos amenizar essa barreira, primeiramente com o CD de udio porque a
gente considera que indispensvel saber interpretar uma partitura, a pessoa
precisa ter a bagagem musical, um vocabulrio sonoro que ela s adquire
realmente com a escuta, ento exemplificamos todos os exerccios com os
udios, assim o aluno vai poder entender sonoramente como se interpreta cada
um dos trechos, buscamos tambm no ficar fazendo uma coisa somente
terica, se preocupando muito com isso, a gente deu os nomes essenciais para
por exemplo, trechos harmnicos e funes harmnicas de alguns acordes. Isso
a a gente realmente no tinha como abrir mo porque facilita inclusive quando
voc d nome aos bois, como a gente chama, mas sem ficar entrando no mrito
das questes. Ento a gente buscou dentro desses quase 140 choros analisados
buscar pontos em comum, da convergncia dessas msicas para identificar as
recorrncias, o que que faz o Choro soar como Choro, tanto na parte harmnica,
como na parte meldica, na parte das baixarias, tomando como base as grandes
referncias: Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Jacob do Bandolim,
Pixinguinha.

NV: Quais voc acha que so as dificuldades enfrentadas no ensino do


Choro?

HN: Principalmente a falta de material e de uma didtica prpria, ento o


professor obrigado a desenvolver uma didtica prpria, isso foi uma das
grandes dificuldades que a gente teve na nossa escola e que est podendo ser
enfim um pouco amenizada com o Manual do Choro, ali buscamos ensinar o
passo a passo do Choro, cada professor tem que adaptar para o seu
instrumento. Na Escola temos reunies com os professores mensalmente, onde
a gente busca colocar os professores para conversarem, para trocar ideias e
dizer como funciona melhor, essas reunies so muito importantes para que a

90

gente consiga dar unidade toda a escola e ementa proposta, ento a gente
pode conectar os professores e cada um dizer como faz o seu ensino, como a
sua metodologia, isso muito rico porque cada um vai adaptando para o seu
universo e quando ele devolve essa experincia, ele j devolve de uma maneira
diferente, esse que eu acho um dos maiores desafios, a falta de um caminho a
seguir, se voc pega a escola Clssica, tem aqueles estudos de mo direita, mo
esquerda, posicionamento da mo, o repertrio bsico j definido, a gente teve
que fazer desde a seleo do material at adaptar alguns exerccios, a nossa
pretenso ensinar os instrumentos no nvel bsico com um repertrio de Choro,
trazer para nossa realidade, com o nosso repertrio e tudo, ento a estruturao
de uma metodologia que contemple a msica brasileira e que ensine msica, os
elementos bsicos e tcnicos um desafio.

NV: Na apresentao do Manual do Choro voc afirma que o Choro uma


linguagem extraordinariamente rica e instigante e na nota dos autores voc
diz que ele tem uma riqueza plural, por conta dessa mistura da msica
europeia e a rtmica do povo mestio, como voc acha que devam ser
passadas essas linguagens para os alunos iniciantes, a transmisso e a
formao de repertrio, voc acha que devem ser passadas verses
facilitadas, arranjos, outros gneros musicais?

HN: Ela tem que ser adaptada, a linguagem do Choro muito difcil tecnicamente
para ser tocada, e na verdade o Choro abrange vrios estilos, a gente por
exemplo pode tocar um samba cano, na nossa escola a gente adapta o
repertrio para umas msicas um pouco mais simples, e mesmo quando vai
tocar algum Choro simplificamos os acordes inicialmente, as melodias fazemos
elas mais retinhas, sem tanta sncope, de fato fazemos isso, porque eu no
acredito que isso vai descaracterizar, na verdade estamos tornando mais
acessvel. como voc pegar tambm o Songbook do Tom Jobim ou o Real
Book do Jazz, as melodias so todas simplificadas, porque a inteno o prprio
intrprete dar a sua contribuio, aquilo ali s uma base, e como a gente est
lidando com iniciantes, eles j vo se aproximando do repertrio, a gente
tambm sempre estimula que eles escutem as gravaes originais para eles
terem essa bagagem sonora, esse vocabulrio sonoro registrado, e aos

91

pouquinhos eles vo agregando o conhecimento e quem se dedica mais vai


conseguir ter um melhor resultado a mdio e longo prazo.

NV: Como voc avalia a insero social que o Choro propicia?

HN: O Choro, na minha viso, alm de uma linguagem musical, significa vrios
smbolos, assim como tem a galera do Rock, a galera do Samba, o pessoal do
Choro se identifica por umas certas linguagens e expresses, tem uma srie de
smbolos que as pessoas se reconhecem quando voc fala que do Choro,
uma coisa que realmente envolve muitas coisas, pensando na questo da funo
social, buscamos na escola inserir muita gente no mbito do Choro, tanto que
20% dos nossos alunos so bolsistas e a gente tambm d uma oportunidade
ali no Clube do Choro para j dar o pontap inicial na carreira de muitos novos
alunos, ento a gente tem um projeto chamado Prata da casa que disponibiliza
o palco para o pessoal que t saindo da escola comear a entrar no mercado,
ento muitos deles j esto tocando profissionalmente, muitos alunos que saem
da nossa escola esto tendo uma vida voltada para a cultura e eu acho que a
funo social disso tambm voc se apropriar da sua cultura, estamos fazendo
com que muita gente jovem conhea sua msica, os compositores que esto
fora da mdia, ento eu acho que isso uma funo na verdade que seria do
Estado, voc manter a cultura, o patrimnio cultural do seu pas e a gente est
atuando, no s a gente l no Clube do Choro de Braslia, Escola de Braslia,
mas tambm pessoal do Rio de Janeiro, vocs a em Santos, tem muita gente
que est se empenhando para que essa msica chegue em cada vez mais para
as prximas geraes.

NV: Agora dentro dessa viso social que a gente trabalha, nos projetos,
nas escolas, como voc lida com a questo disciplinar dos alunos? Por
exemplo, alunos em situao delicada socialmente que atrapalham aulas
ou alunos com facilidade musical, porm com mau comportamento.

HN: A gente vai descobrindo essas coisas no dia a dia, como lidar com esse tipo
de situao a gente no aprende realmente na faculdade, s mesmo na sala de
aula tentando ter uma certa inteligncia emocional para lidar com essas

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situaes, eu j tive uma situao de um aluno que era bem talentoso, era um
menino mais novo, devia ter 10 anos de idade e realmente ele fazia muita
estripulia na sala, chamava ateno, ficava tocando no meio da aula, no queria
fazer o que eu propunha, nos primeiros dias assim eu quis enquadrar ele, pedir
pra ele fazer silncio e tudo mais, mas aos poucos eu fui tentando perceber o
que ele queria , e ele queria ateno, ento todo final de aula eu pedia para ele
fazer uma pequena apresentao para os outros alunos, ento ele se preparava
todo, mas a condio que eu colocava era ele ficar quieto durante a aula, ele
adorou isso, a deu um timo resultado, ele era as duas coisas, ele era um
menino talentoso e vindo de uma rea mais pobre da cidade, ento a gente teve
duas situaes complexas em um caso s, e isso deu timo resultado, esse tipo
de soluo que eu consegui arranjar e falei tambm com os responsveis, pedi
para que eles tambm fossem conversando com a criana, eu acho que essa
interao dos pais ou responsveis de extrema importncia.

NV: Nesses seus dez anos como professor e cinco como coordenador da
escola, como era seu mtodo de trabalho? Seguia alguma programao?
Trabalhava com algum mtodo?

HN: Fazemos reunies mensais para poder justamente unificar o programa dos
instrumentos, ento a gente determina as ementas e o professor preenche de
acordo com sua experincia, ento temos as linhas gerais e para no engessar
muito o programa a gente tem um repertrio a ser cumprido, a gente divide os
repertrios ento para iniciantes, a gente pega os repertrios iniciantes e utiliza
em vrios instrumentos de acompanhamento: violo, cavaquinho, viola caipira,
acordeom, todos tocam esse repertrio que so aproximadamente 20 msicas,
depois tem um repertrio intermedirio que a gente tambm determina, tem o
livro de partituras e cifras para instrumentos transpositores, a gente parte dos
repertrios para cada um dos nveis da nossa escola, ento se a gente est na
turma iniciante os alunos devem contemplar o repertrio de iniciante, igualmente
com os intermedirios e os avanados, e eu fui vendo que cada professor tem
uma maneira de abordar os assuntos, enfim, a gente d essa credibilidade e
liberdade para professor, porque eu acho que isso muito bem-vindo, essa
riqueza no pode ser perdida, temos professores de alta qualidade na Escola de

93

Choro e o que a gente faz determinar as linhas gerais, ento determina por
exemplo que tem que constar exerccios tcnicos, exerccios de leitura de
partitura e repertrio em determinado semestre, dai o professor vai preencher
essa necessidade de acordo com o que ele aprendeu, ento eu posso ter uma
metodologia de estudo que funcione, o outro professor de violo pode
acrescentar uma coisa ou outra, mas a gente segue uma linha de contedo,
agora como cada um vai passar isso, fica a critrio de cada professor.

NV: De modo geral, como voc acha que deve ser a grade de uma escola
especfica de Choro e os assuntos primordiais que devem ser abordados?

HN: Eu considero de extrema importncia a aula do instrumento, evidentemente,


prtica de conjunto fundamental e uma aula de leitura de partitura e solfejo,
rtmico e meldico, acho que com isso voc tem uma formao que contempla
tudo que importante nos primeiros passos do aluno, ento no instrumento ele
pode se desenvolver tecnicamente, ter um domnio do instrumento, prtica de
conjunto, voc saber a interao dos instrumentos, ter esse jogo de cintura do
Choro, saber os violes tocarem juntos, o cavaco com pandeiro swingando junto,
o instrumento de solo se situar no meio disso tudo, ter essa liberdade de brincar
com ritmo, de fazer floreios e a parte de solfejo e de percepo fundamental
para que o aluno possa desenvolver o ouvido e tambm a questo de expresso,
quando voc canta os sons ficam mais definidos na cabea, a iniciativa musical
dos alunos diferente, ento considero que esses pontos sejam fundamentais.

NV: E na questo de avaliao, voc a favor de uma avaliao? Se sim,


de que forma voc acha que deve ser feita essa avaliao?

HN: Eu acho que interessante sim, importante o fato do teste, de a gente


fazer uma prova de avaliao com o aluno, apesar de achar que tambm pode
ser considerado de maneiras diferentes, no um dia de prova, mas aquela
questo de voc ir vendo o desempenho do aluno ao longo do semestre e a sua
evoluo, porque quando voc faz uma prova voc meio que estabelece um
ponto onde todo mundo tem que chegar e na verdade cada aluno vai chegar de
uma maneira diferente, ento eu sou a favor, mas eu sou a favor tambm que o

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professor tenha um olhar que saiba interpretar a evoluo do aluno, no s


querer que ele toque perfeitinho aquela pea, daquele jeito que ele quer, porque
na verdade no Choro nem isso o que se quer, acertar todas as notinhas,
existem vrios outros elementos no Choro que so fundamentais e que so
especficos dessa linguagem, s vezes quando voc tem por exemplo um som
completamente puro, no vai soar como Choro, se voc pegar um violonista
erudito tocando Choro, pode at ser bonito, mas no vai estar dentro da
linguagem, ento eu acho que o professor deve ter esse discernimento de
perceber o que importante ser notado em cada uma das peas, ou os
exerccios que ele estiver colocando para exame.

NV: Quanto tempo voc acredita que deve durar o curso para a formao
de uma base solida?

HN: O aluno comeando do zero fica um pouco mais complicado saber, eu


acredito que talvez uns 4, 5 anos, eu acho que por a se tiver realmente tiver um
empenho e uma organizao possvel, porque certas coisas no so s
tcnicas, ele tem que ir percebendo aos poucos, ento um pouco difcil essa
pergunta, mas um trabalho de uma vida, mas eu acredito que por a, se
comear do zero, uns 5 anos de estudo de Choro, e se a pessoa j souber tocar,
eu acredito que uns 2 a 3 anos para pegar a linguagem, o sotaque.

NV: Qual voc acredita ser a carga horaria semanal ideal?

HN: Eu acho que 2 horas de aula prtica e 2 horas de aula terica por semana
uma boa quantidade para ele poder praticar em casa, e o estudo dirio em
casa de pelo menos 1 hora por dia.

NV: Qual idade voc considera ideal para iniciar no aprendizado do Choro?

HN: Eu acho que a partir dos 7,8 anos uma idade boa.

NV: Voc utiliza pedagogias distintas para diferentes faixas etrias?

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HN: Sim, eu sempre busco adaptar um pouco a metodologia, principalmente na


questo da velocidade com que eu passo o contedo, e talvez no repertrio. Eu
busco aproximar mais de um repertrio quando so pessoas mais antigas, uma
coisa que tenha mais comunicao com essa faixa etria e os mais jovens
procuro explorar tambm coisas que dialoguem mais um pouco, msicas que
tm um pouco mais de humor por exemplo: 1 x 0, Brasileirinho, que tenham esse
apelo, justamente para voc poder atrair ateno desse pblico.

NV: Quais so os pontos positivos e benefcios que voc observa e poderia


destacar na sua prtica pedaggica, tanto musicalmente, quanto
socialmente?

HN: Eu acho que ao longo desses anos ensinando, o que eu fui percebendo
que o que mais importa voc facilitar realmente o aprendizado do aluno e isso
voc tambm saber como passar o contedo, as vezes o mesmo contedo
passado de maneiras distintas tem proveito muito maior, ento eu fui
aprendendo a fazer com que alunos chegassem no ponto de desenvolvimento
que eu acho importante, tentando conhecer um pouco mais do aluno, acho que
isso fundamental, o professor ter essa disponibilidade de entrar no mundo do
aluno, um dilogo, uma troca realmente que deve haver, evidentemente o
professor detm o conhecimento e uma autoridade dentro de sala, eu
considero, pelo conhecimento, no na questo de ter uma separao, mas ele
detm mais conhecimento naquela rea especfica e ele pode ajudar o aluno a
chegar em um ponto de desenvolvimento muito maior se ele conseguir acessar
certas peculiaridades de cada aluno, e eu busco fazer isso, acho que isso um
ponto positivo e acho que isso promoveu o desenvolvimento de vrios dos meus
alunos.

NV: Voc acredita que a vivncia no contexto social que o Choro propicia
ajuda no desenvolvimento pessoal dos estudantes, em outras palavras, a
roda de Choro ajuda a formar um carter?

HN: Eu acho que sim, eu acho que ajuda a formar o carter da pessoa, porque
existem vrios cdigos para voc se aproximar de uma roda de Choro, voc deve

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primeiro ter reverncia aos mais antigos, voc deve saber como chegar em uma
roda de Choro, ter aquele respeito no approach, fazer silncio, respeitar a
msica que est sendo tocada, enfim, isso so valores que o Choro vai
ensinando, alm dos diversos outros, a hora de voc poder fazer uma baixaria,
voc respeitar a virada do pandeirista, enfim, tem uma srie de cdigos que
existem no Choro que eu acho que podem desenvolver o carter de uma pessoa
que esteja atenta, acho que isso na verdade uma funo que a gente deve
buscar preservar tambm porque eu sinto que isso acaba se perdendo hoje em
dia, essas rodas informais esto sendo cada vez mais escassas e antigamente
se tinha mais esses encontros informais onde o que prevalecia era de fato esses
cdigos, hoje j no se v tanto assim, o que a gente v so rodas na rua onde
voc tem muitas pessoas que no so daquele mtier e acabam no reproduzido
exatamente como o esprito do Choro, mas de qualquer maneira os chores
que esto a passando o basto para frente so responsveis por formar o
carter de quem t chegando para esse mundo.

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5. Entrevista com Pedro Amorim (Escola Porttil de Msica)

Nome: Pedro Caminha de Amorim


Data de Nascimento: 20/07/1958

Pedro Amorim bandolinista, cavaquinista, violonista e compositor e,


juntamente com Luciana Rabello, Mauricio Carrilho, lvaro Carrilho e Celsinho
do Pandeiro, fundou a Escola Porttil de Msica, onde atualmente atua como
professor de bandolim e de acompanhamento de Samba.

NV: Pode falar um pouco da sua formao musical?

PA: Eu no tive formao musical acadmica, eu no estudei em nenhuma


escola de msica, minha formao musical foi muito mais ouvindo msica em
casa, meu pai e minha me tinham um monte de discos bons de msica
brasileira, de msica Clssica e aquilo fazia parte do meu ambiente, eu ficava
ouvindo aquelas msicas e quando resolvi tocar era s uma coisa ldica, eu no
tinha ideia nenhuma de me profissionalizar como msico, nem de estudar
msica, s queria tocar, tocar Choro nas rodas, comprava os LPS na poca e
ficava tirando as msicas de ouvido para tocar nas rodas, e a quando eu resolvi
finalmente me profissionalizar eu tive aulas particulares com o professor Adamo
Prince durante aproximadamente 8 meses, eu aprendi a ler e escrever msica e
fui seguindo, estudando harmonia funcional, assim mais na prtica mesmo, e me
aperfeioando observando a forma dos outros tocarem, conversando com outros
msicos, e no s msicos de bandolim, mas de outros instrumentos e cantores
tambm, eu sempre fui muito ligado interpretao, ento eu ficava prestando
ateno nisso, tive a oportunidade de dispor da amizade da Elizeth Cardoso por
exemplo, ento eu me encontrava com ela, a gente ficava junto, e eu ficava
tocando e ela cantando para mim e eu ficava ligado na forma dela interpretar, as
gravaes do Orlando Silva foram uma lio para mim tambm, o Abel Ferreira
foi uma lio de interpretao muito forte para mim, claro, alm do Jacob do
Bandolim.

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NV: Agora eu queria que voc falasse um pouco da sua relao com o
Choro, como voc descobriu esse gnero?

PA: A histria a seguinte, quando foi lanado em 1969, se no me engano,


aquele disco da Elizeth Cardoso, Zimbo trio e Jacob do Bandolim com o poca
de Ouro, gravado ao vivo no Teatro Joo Caetano, assim que foi lanado aquele
LP o meu pai ganhou um exemplar e eu nunca tinha ouvido o som de bandolim,
na poca eu devia ter uns 10 anos de idade aproximadamente e era uma poca
em que o Choro estava sumido do mercado, como eu no tinha nenhum msico
na minha famlia e no conhecia ningum que fosse msico, dedicado ao Choro,
a primeira vez que eu ouvi o som do bandolim foi o Jacob tocando naquele disco
e eu fiquei alucinado, a partir disso eu passei a procurar discos do Jacob e a
escutar o repertrio de Choro, a partir do Jacob eu fui buscando outros discos
de Choro de outros msicos, e a minha formao foi sendo essa. J bem mais
tarde quando eu resolvi tocar eu j estava cursando a Faculdade de Educao
Fsica, que eu fui atleta e sempre tive interesse nisso, e eu j estava cursando a
faculdade quando eu comecei a tocar, tocava cavaquinho afinado em R Sol Si
Mi por causa do violo que eu j tocava um pouquinho tambm, mais adiante eu
comprei um bandolim para mim, comecei a tirar as msicas de ouvido, no sabia
nem os nomes das notas, eu no tinha nada que me movesse para ser msico
profissional, para viver de msica, para tocar, ento eu comecei a tocar o
bandolim assim e conforme eu fui me aperfeioando eu passei a frequentar
rodas de Choro, conhecer a turma de Choro do Rio de Janeiro e a minha escola
foi essa, eu dei muita sorte porque eu conheci o Meira, o Canhoto, fui muito
prximo deles, eu tocava com o Meira e com o Canhoto toda semana, o pessoal
do conjunto Amigos do Choro, Rossini Ferreira, Jair de Oliveira, Wilson Dio que
tocava pandeiro, foi o Wilson que me levou para a casa do Claudionor Cruz um
pouco depois, nessa poca ainda e a eu conheci o Claudionor Cruz, ento tive
a oportunidade de tocar com essa turma e de participar dessas rodas, e j
puxando para o lado social do Choro j que voc est tocando nesse assunto e
que eu acho muito importante, o Choro sempre foi muito acolhedor, tem a histria
da roda, a roda j uma coisa acolhedora que voc toca um olhando para o
outro, a gente toca se comunicando o tempo todo, no somente musicalmente
como visualmente tambm e eu fui muito acolhido nas rodas de Choro, as vezes

99

eu chegava em uma roda nesse comecinho e eu no sabia tocar quase nada,


ainda tocava poucos Choros, dois, trs Choros e chegava um momento que
algum me pediu para tocar e eu tocava aqueles dois ou trs Choros que eu
sabia e isso foi muito importante para mim.

NV: Agora sobre a Escola Porttil, h quanto tempo voc faz parte do
projeto?

PA: Eu sou um dos fundadores da Escola Porttil, junto com a Luciana Rabello,
Maurcio Carrilho, lvaro Carrilho [pai do Maurcio] e o Celsinho do pandeiro, ns
cinco que criamos a Escola Porttil, comeamos a trabalhar juntos nesse
projeto e ele foi crescendo, e l na escola eu dou aulas de bandolim e de
acompanhamento de Samba e dou aulas particulares tambm, eventualmente.

NV: Como voc trabalha os elementos necessrios para a execuo do


Choro?

PA: Nessa minha experincia da Escola Porttil eu dei aulas tambm de outras
coisas, por exemplo, prtica de conjunto, apreciao musical, aulas de
cavaquinho e algumas dessas aulas no so necessariamente aulas de
aperfeioamento tcnico no instrumento. Nas minhas aulas o que eu procuro
fazer observar, tentar mapear o estado do aluno no sentido de
desenvolvimento tcnico dele, procurar entender como ele pensa msica,
converso muito sobre isso, gosto muito de conversar com a turma para a gente
ver que as pessoas tm interesses diferentes, tem formas de tocar diferentes,
formas de pensar a msica diferente e isso tudo influencia, eu gosto muito de
trabalhar com repertrio, por exemplo, separo uma determinada msica com
caractersticas que esto me interessando naquele momento, se eu estou
trabalhando sonoridade eu pego uma msica que seja lenta, que tenha muita
nota longa para trabalhar sonoridade, se eu estou trabalhando o uso da palheta
pego uma msica que seja mais complexa, que tenha muita nota e assim por
diante, eu no tenho exatamente um mtodo padro vamos dizer assim, porque
eu procuro adaptar a minha forma de transmitir a cada turma, como as turmas
so sempre diferentes, as pessoas so sempre diferentes, eu estou tendo

100

sempre que estudar uma forma de transmitir isso, o ritmo das pessoas muito
diferente, tem gente que aprende mais rpido, o outro j aprende mais devagar,
isso tudo faz parte do trabalho em grupo tambm, no existe turma homognea,
claro que tem os alunos iniciantes que ainda no tocam nada, esses eu procuro
trabalhar com eles basicamente sonoridade, o uso da palheta e o trabalho com
as escalas que uma coisa assim bsica para comear a lidar com instrumento.

NV: O Choro, de certa maneira, uma linguagem musical complexa. Como


voc acha que deve ser passada essa linguagem para os alunos iniciantes?

PA: Tem alguns Choros que so mais fceis do que outros, que tem uma
execuo mais fcil, ento procuro usar para os alunos mais iniciantes os Choros
que sejam mais fceis, uma coisa bvia para mim e, s vezes, por exemplo, ao
invs de passar um Choro inteiro, eu pego um trecho daquele Choro e a gente
fica analisando aquilo e trabalhando em cima da tcnica que necessria para
voc ter um bom resultado na execuo daquele trecho e a partir da vai se
desenvolvendo, chega na prxima aula e j pode pegar um trecho um pouco
maior e aos pouquinhos vai se formando repertrio, a em uma outra aula j pega
uma msica que seja mais complexa, ou que tenha uma caracterstica bem
diferente daquela primeira, porque quando voc trabalha com msicas de
caractersticas diferentes logicamente sero abordados aspectos tcnicos
diferentes e isso traz um amadurecimento.

NV: Quais voc acha que so as dificuldades enfrentadas no ensino do


Choro?

PA: muito difcil eu chegar a uma concluso assim de qual a grande


dificuldade, pois os alunos so todos muito diferentes, por exemplo a digitao,
eu no posso pegar um aluno que tem uma mo enorme que tem os dedos
grossos e querer que ele faa a mesma digitao de um aluno que tem a mo
pequena com os dedos delgados, a gente tem que ir trabalhando conforme a
forma de cada um e conforme o ritmo de desenvolvimento de cada um, a grande
lio que eu tenho tirado desse meu trabalho na Escola Porttil que nessa
minha relao com outras pessoas eu vou cada vez mais observando como

101

interessante a gente trabalhar com as diferenas, todo mundo trabalha de uma


forma diferente, eu acho que a gente no deve padronizar uma aula, no
devemos dar uma aula para muitas pessoas ao mesmo tempo porque voc no
vai poder dar um atendimento individualizado, e esse atendimento fundamental
para o desenvolvimento de qualquer pessoa, em qualquer rea de
conhecimento, no s na msica. Ento eu penso dessa forma, e a tem as rodas
de Choro onde as pessoas vo tocar para se aperfeioar, para mostrar aquilo
esto aprendendo, para se treinar como msico, porque a roda sempre foi a
grande escola do Choro, e a isso uma coisa interessante tambm porque voc
trabalha com as aulas e voc procura fornecer subsdios para que aquele cara
tenha o desenvolvimento do instrumento, e a ele vai ter uma prtica tocando na
roda, que a j fica completamente diferente de voc tocar sozinho ou de voc
tocar numa sala de aula, na roda como se fosse aquela histria, treino treino
e jogo jogo e, complementando, eu acho que a grande dificuldade a
concentrao para se fazer os exerccios, para se estudar a msica, a
capacidade de concentrao e de ateno para voc poder tirar proveito
realmente dos exerccios, poder ter uma evoluo na interpretao, exige muita
ateno e muita concentrao.

NV: Como voc avalia a insero social que o Choro propicia?

PA: Eu acho que a msica um instrumento de autoconhecimento muito


importante, ento quando voc est tocando junto com outras pessoas tem muita
coisa envolvida, que no s aquela msica que t acontecendo ali naquele
momento, o Choro propicia uma espcie de relacionamento social, que comum
a outros tipos de msicas culturais tambm, tem a histria de voc se reunir em
um determinado lugar, preparar uma comida, ter uma bebida, trocar ideia a
respeito da msica e tocar junto, porque tocar junto muito difcil e quando voc
consegue juntar as pessoas em volta da msica voc propicia um momento
muito especial de comunho, de trabalho em torno de uma ideia, por exemplo.
Como o Choro uma msica muito acolhedora, at importante a gente falar
sobre isso, por exemplo, voc pegando na msica de jazz que tem improviso
assim como tem improviso no Choro, no jazz cada um toca do seu jeito e
enquanto um faz um solo, os outros ficam acompanhando, depois o outro faz o

102

solo e os outros ficam acompanhando, j no Choro tem um improviso coletivo,


que uma coisa muito louca na verdade e muito difcil, e a gente conseguiu fazer
isso, a gente conseguiu criar isso numa msica brasileira, a possibilidade de um
improviso coletivo e harmonioso, isso um ganho muito grande para o
relacionamento entre as pessoas.

NV: Agora dentro dessa viso social que a gente trabalha, nos projetos,
nas escolas, como voc lida com a questo disciplinar dos alunos? Por
exemplo, alunos em situao delicada socialmente que atrapalham aulas
ou alunos com facilidade musical, porm com mau comportamento.

PA: Isso realmente muito interessante porque na roda de Choro voc junta
pessoas de formaes diferentes, de idades diferentes, de classes sociais
diferentes e o que importa ali a msica, e como a msica fica sendo um
catalisador dessas aes, na verdade eu tive pouqussimos problemas em todo
esse tempo de aula e de relao com o Choro, eu acho que quando as pessoas
esto participando de um projeto como esse elas tem um interesse que acaba
ofuscando os outros problemas que poderiam aparecer, inclusive de
comportamento. Me lembro de uma ocasio em que um aluno, que no era um
aluno de uma situao difcil, que fosse de periferia, morador de favela ou que
tivesse pouco poder aquisitivo, chegou na escola, perdeu a data de inscrio
mas veio falar pessoalmente comigo pedindo que eu abrisse uma exceo
porque ele estava muito interessado, que ele queria muito trabalhar e eu abri
essa exceo para ele, e na primeira aula que ele foi, ele chegou 20 minutos
atrasado, sentou, pegou o telefone e comeou a conversar, ento eu
imediatamente coloquei ele para fora da aula, falei que ele no devia voltar
escola, que ele no estava se comportando adequadamente e, sobretudo, ele
estava desrespeitando os colegas dele, que estavam ali para aprender e ele
estava interferido na aula de uma forma muito negativa. Foi o nico caso que eu
me lembro de ter que tomar alguma atitude por causa de um mau
comportamento de um aluno, e a gente j est l h 17 anos. E me lembro
tambm que eu tive aluno que escreveu um papel para mim onde ele dizia que
a msica tirou ele do trfico, que ele estava morando num lugar muito perigoso
e que estava sendo cooptado pelo trfico, j tinha participado de algumas aes

103

com o trfico de drogas mas que o interesse dele pela msica tirou ele daquele
caminho. A gente v que a msica realmente pode ser transformadora e o Choro
pelo seu aspecto social pode ser at mais transformador do que outros tipos de
msica, na minha avaliao.

NV: Como o seu mtodo de trabalho e o de outros professores dentro da


Escola? Seguem alguma programao? Trabalham com algum mtodo
especfico?

PA: Cada professor d aula do seu jeito, tem autonomia para trabalhar como
quiser, existem alguns pontos de interseco nesse trabalho, por exemplo, tem
o bando que o horrio da aula que vai de 12:30 at 13:30 onde se juntam
todos os alunos e todos os professores para tocar um determinado repertrio
que j foi feito um arranjo e distribudo para todo mundo, ento cada um vai l
tocar sua parte e a gente procura fazer um arranjo que o iniciante possa tocar
tambm, ento se o cara sabe tocar poucas notas, aquelas poucas notas vo
estar no arranjo para ele tocar, isso uma coisa muito legal porque acaba
funcionando muito bem didaticamente e todo mundo pode participar de uma
atividade em comum, alm do que, lindo voc ver ali 300, 400 pessoas tocando
um Choro junto, um negcio maravilhoso. Outra coisa que eu fao
eventualmente pedir para um professor fazer uma determinada atividade
comigo juntando as turmas, por exemplo, chega em uma turma de violo, de
cavaquinho, pandeiro, do que for, e peo para alguns alunos irem me ajudar com
um determinado repertrio na minha aula ou eu vou at a aula deles para a gente
tocar alguma coisa juntos, a gente trabalha assim e tem tambm a roda de Choro
que fica acontecendo o tempo todo, ento o aluno que no est em nenhuma
aula naquele horrio pode ir para roda de Choro e ficar praticando l junto com
os outros, tem sempre alguns monitores l para acompanhar essa atividade,
basicamente isso.

NV: De modo geral, como voc acha que deve ser a grade de uma escola
especfica de Choro e os assuntos primordiais que devem ser abordados?

104

PA: Alm claro do estudo de repertrio, eu acho fundamental a prtica de


conjunto, acho fundamental o conhecimento da Histria do Choro e a audio
atenta das gravaes que so referncias dentro do universo do Choro, a gente
tem vrias gravaes por exemplo com Regional do Canhoto, com Jacob e o
poca de Ouro, diversas gravaes que a gente tem e usa para ambientar, para
voc poder mostrar a histria desse gnero, como ele vem sendo feito, como ele
vem evoluindo, ento a gente aborda sempre nesse repertrio compositores do
incio do Choro, do princpio, do aparecimento do Choro como gnero musical,
at autores contemporneos, e a gente mesmo compe coisas para serem
tocadas na escola, eu j compus vrios choros, polcas e valsas para serem
usados como material didtico, por exemplo, tem uma que um estudo de
arpejos, tem uma outra que estudo de apoggiatura, s que dentro da linguagem
do Choro, ento eu procuro trabalhar assim e eu acho fundamental em qualquer
escola que vai trabalhar com essa ideia de trabalhar o Choro, voc conhecer a
histria , conhecer as gravaes referenciais e trabalhar o repertrio, tocando
em grupo.

NV: E na questo de avaliao, voc a favor de uma avaliao? Se sim,


de que forma voc acha que deve ser feita essa avaliao?

PA: Eu sou a favor de uma avaliao feita a cada aula, junto com os participantes
da aula, para gente ir avaliando o que cada um est precisando para poder ter
uma evoluo mais fcil, eu sou a favor desse tipo de avaliao, agora uma
prova que seja uma coisa para excluir ou para dar uma nota eu no acredito
nisso, no s na msica, mas em nenhum tipo de escola eu acredito numa
avaliao feita dessa forma que vai dar uma nota, que v aprovar ou reprovar o
aluno por causa de uma determinada nota que ele tenha que alcanar, eu no
acredito nesse tipo de avaliao, eu acho que a avaliao tem que ser feita a
cada aula e com a participao de todo mundo.

NV: Quanto tempo voc acredita que deve durar o curso para a formao
de uma base slida?

105

PA: difcil essa resposta porque como eu j te falei, eu no acredito em um


determinado tipo de avaliao que feita com notas, que feita dentro de um
determinado tempo, eu acho que a educao e o ensino, de forma geral, devem
ser feitos de uma forma mais aberta, mais livre, acredito realmente nisso, l na
Escola Porttil eu tenho liberdade para trabalhar dessa forma e temos tido
resultados timos, ento muito difcil poder te responder isso porque cada
pessoa vai ter uma velocidade diferente de aprendizado, so muitos fatores que
tornam cada pessoa muito particular, ento eu no me arrisco a responder essa
pergunta porque eu no trabalho dessa forma e no acredito em um tipo de
trabalho assim.

NV: E voc acredita que h uma maneira mais humana e pessoal de fazer
uma padronizao desse ensino?

PA: Eu acredito que na educao, no aprendizado no deve haver uma


demarcao desse caminho, quando a pessoa tem interesse em fazer alguma
coisa, em aprender alguma coisa ela vai ter uma determinada dedicao, se ela
no tem interesse naquilo eu no vejo porque ela se aplicar para fazer alguma
coisa ali e quando voc tem interesse voc vai ter um resultado no ritmo que for
possvel para voc e no no ritmo que seja imposto por fora, alm do que, eu
penso que a educao uma coisa dinmica e contnua, ento eu acho que eu
posso continuar me relacionando com os meus alunos e com os meus colegas
msicos para o resto da vida e sempre ser uma coisa produtiva, eu vou te dar
um exemplo, eu no quero citar os nomes porque eu no sei se eles gostariam
de ser citados, mas eu tive alguns alunos que hoje esto em destaque no mundo
do Choro, da msica instrumental brasileira, que esto trabalhando regularmente
e todos eles chegaram a esse aprendizado com tempos diferentes, e todos so
muito competente no que fazem, com os bandolins, mas chegou um momento
em que eu falei: Olha s, eu acho que vocs daqui para diante tem que seguir
as suas carreiras, tem que tocar, tem que procurar trabalho, ir fazendo seus
trabalhos e procurar se aperfeioar, porque vocs j tem capacidade de tocar
qualquer coisa, de fazer qualquer tipo de trabalho, na minha avaliao, agora
nada impede que vocs continuem a frequentar a escola, que vocs venham
aqui pra gente trocar ideia pra gente participar da aula e isso que acontece,

106

at hoje tem alguns desses alunos que passam l na Escola Porttil para gente
trocar uma ideia, participam de alguma aula e sempre uma coisa que eu acho
muito produtiva quando feita dessa forma, sem que haja uma obrigatoriedade
de ser cumprido em um determinado tempo, isso uma viso que eu tenho a
respeito da educao em geral e no s da educao musical.

NV: Voc utiliza pedagogias distintas para diferentes faixas etrias?

PA: No, geralmente eu trabalho com turmas mistas, essas turmas mistas so
mistas em termos de idade e em termos de capacidade no instrumento tambm,
eu acho legal isso, acho bom que tenha gente mais adiantada ou mais atrasada
na mesma turma porque a vida assim, ns somos assim, a gente tem que tirar
partido disso, o que acontece muitas vezes nas minhas turmas que eu pego
alguns alunos que esto mais adiantados e coloco eles para trabalhar junto
comigo, passando os exerccios, corrigindo algumas coisas que eu sei que ele
j sabem fazer, eu sei que isso tudo que eu estou te falando, essa minha forma
de trabalhar uma utopia dentro da nossa realidade da educao, mas como eu
estou conseguindo trabalhar dessa forma que eu acredito, dentro da Escola
Porttil, eu vou continuar fazendo assim sempre que eu puder, eu j trabalhei
com crianas, mas nunca com crianas muito pequenas, mas vamos dizer
assim, crianas de doze anos, dez anos, junto com pessoal mais velho e tem
uma resposta muito boa, acho que muito estimulante a gente trabalhar dessa
forma, agora, so turmas onde eu posso dar um atendimento mais
personalizado, mesmo com ajuda dos alunos que j esto mais adiantados, todo
mundo participando desse processo de uma forma mais dinmica.

NV: Quais so os pontos positivos e benefcios que voc observa e poderia


destacar na sua pratica pedaggica, tanto musicalmente, quanto
socialmente?

PA: So inmeros os benefcios, eu poderia citar como coisas importantes: a


capacidade de trabalhar em grupo, de voc aprender a trabalhar em grupo, essa
capacidade eu acho que cada vez mais importante no mundo de hoje de tanto
individualismo. Outra coisa que eu acho fundamental e super importante que,

107

como eu j falei, a msica uma ferramenta de autoconhecimento muito boa,


muito evoluda, e o que voc puder desenvolver do conhecimento de si prprio
vai auxiliar sua vida em todos os aspectos, ento eu acho que isso acaba
refletindo em toda sua vida, esse relacionamento com a msica e quando voc
tem um ambiente onde as pessoas de diferentes origens, diferentes formaes,
onde elas conseguem conviver pacificamente, produtivamente, uma relao
afetiva que se cria ali, isso tudo eu acho cada vez mais importante no mundo
que a gente t vivendo, de muito individualismo, de cada um por si e uma escola
que feita para imobilizar as pessoas, as escolas hoje no so para desenvolver
ningum, so para voc aprender a passar em concurso e pouco mais do que
isso, ento acho que uma escola onde voc consegue ter esse tipo de atividade,
onde as pessoas se renem em torno de uma ideal e vo trabalhando de forma
dinmica e de forma produtiva independente das suas crenas, das suas
diferenas, das suas formaes e suas origens, isso uma coisa muito
importante para qualquer tempo e a msica proporciona isso e o estudo do Choro
facilita muito essa atividade, sem a menor dvida.

NV: Voc acredita que a vivncia no contexto social que o Choro propicia
ajuda no desenvolvimento pessoal dos estudantes, em outras palavras, a
roda de Choro ajuda a formar um carter?

PA: Eu acho que sim, eu acho que ajuda, eu acho que pode ser como qualquer
outra atividade, especialmente atividade em grupo, ela pode ser muito educativa,
pode proporcionar um desenvolvimento muito interessante, porque muito difcil
a gente se relacionar, se voc pensar em relao profissional dentro do ambiente
de trabalho, em relao afetiva dentro de casamento, relao familiar, sempre
muito difcil a relao e quando voc consegue praticar uma relao interpessoal
no ambiente, que um ambiente democrtico, que normalmente um ambiente
muito simptico a todo mundo que t participando, para quem est assistindo
tambm, uma coisa muito prazerosa e uma atividade onde voc consegue
se relacionar com as outras pessoas atravs da msica, isso formador, voc
conseguir se relacionar com as outras pessoas de uma forma produtiva uma
coisa formadora e um aprendizado contnuo, porque sempre tem algum na
roda que sabe mais do que voc ou que v a msica de uma forma diferente,

108

que tem uma interpretao diferente, que vai poder te enriquecer mais e essa
troca sempre uma coisa muito produtiva e dentro da roda de Choro os
instrumentos tem as suas funes, de solista, de acompanhante e dentro dessas
funes muito interessante a gente notar como as pessoas mostram muito da
sua personalidade, atuando dentro da roda de Choro com essas funes, a
forma como ele se mostra como instrumentista, isso diz muito do carter e da
personalidade dele, isso tambm uma coisa interessante que aparece muito
claramente na roda de Choro.

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6. Entrevista com Marcelo Amazonas (Escola de Choro e cidadania


Luizinho 7 cordas)

Nome: Marcelo Amazonas Martins


Data de Nascimento: 06/12/1973

Marcelo Amazonas pianista, compositor e afinador de pianos. Atuou como


professor do Clube do Choro de Santos dentro do Projeto Msica e Cidadania.

NV: Pode falar um pouco da sua formao musical?

MA: Comecei com 15 para 16 anos, com uma professora particular e com ela
segui e fiz o primeiro ano do conservatrio, fiz aula particular com ela e depois
ela voltou a dar aulas no conservatrio de uma amiga para continuar me dando
aulas, eu fiz mais um ano que aquele primeiro ano tcnico e depois parei,
ento, sim, ensino formal de leitura e teoria particular, formal porm mais voltado
para tocar, muito pouca coisa de harmonia, s leitura de notas e esse tipo de
coisas, o resto eu vim ver depois, muitos anos depois.

NV: Agora eu queria que voc falasse um pouco da sua relao com o
Choro, como voc descobriu esse gnero?

MA: Por volta do ano de 2005, eu morava em Viena e l dentre alguns brasileiros
que eu conheci tinha uma carioca que se chamava Lili Arajo, uma cavaquinista
que tambm foi da Escola Porttil, ento ela que me chamou e falou: Escuta,
voc no quer tocar uns Choros? Um pouco mais de msica brasileira, e vamos
nos virando ns dois, porque no tinha muito msico, a gente arrumou um
percussionista depois, ento ela tocava cavaco, e ela que foi a primeira pessoa
que me falou para estudar uns Choros, ento foi por causa dela, l em Viena eu
comecei a tocar, e como ela sabe muito, tem aquela coisa da Escola [Porttil],
ela me passou muita coisa, conhecia muito repertrio, por causa dela ento eu
montei o primeiro set de Choros, montei minha primeira lista com aqueles 12
Choros mais tradicionais. Da para frente eu sempre mantive o contato.

110

NV: E como voc avalia a insero social que o Choro propicia? E isso teve
relao com a sua aproximao maior com o Choro?

MA: No meu caso no, o que me chamou a ateno no Choro foram os aspectos
tcnicos mesmo, primeiro lugar uma msica que me diz ao corao, aos
sentimentos, ento por alguma razo maior que no s tcnica essa msica me
atraiu, as melodias, o sentimento que alguma coisa que est por trs, e depois
eu vi que tecnicamente tem vrios aspectos, uma msica muito meldica e
tudo aquilo que a gente sabe, muito rica e muito prxima da msica Clssica que
uma msica que eu gosto muito, agora, acredito que por ser brasileiro eu me
identifico com determinadas histrias, ao beber nessas fontes a gente acaba
vendo um pouco da histria do pas que a gente nasceu e cresceu, um pouco
da nossa cultura, dessas coisas, ento esse lado tambm foi me atraindo cada
vez mais, as histrias do Choro, os ambientes e tambm o Choro dentro da
histria dele, ele retrata uma poca e uma camada social e como ele uma
msica, eu diria, at derivada dessas mudanas sociais, est muito associado a
todo esse movimento de gente mesmo, ento uma msica muito rica nesse
sentido, por exemplo, as histrias do Pixinguinha so muito mais interessantes
que as histria s do Mozart, no os feitos, mas as histrias, quando voc l um
livro, uma biografia, voc v que Mozart ficava 40 dias em uma carruagem
escrevendo, mas a voc v uma histria do Pixinguinha, l no morro, com
aquele monte de gente, aquela ebulio, eu me identifico mais, bvio e para
mim sempre foi mais atraente, tudo que cerca, a questo musical em si e tambm
todas as outras questes sociais, mas no foi isso que me atraiu, o que me atraiu
foi a msica mesmo em si.

NV: Agora indo para a escola de Choro de Santos, quanto tempo voc deu
aulas no projeto?

MA: Desde o incio do projeto, de agosto de 2016 a julho de 2017.

NV: Deu aulas de piano, n?

MA: Isso, e de harmonia, que importante.

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NV: Como voc trabalha os elementos necessrios para a execuo do


Choro?

MA: Eu acredito que os elementos do Choro so elementos musicais iguais


outros tantos, uma particularidade que o Choro tem que ele, ao contrrio da
msica Clssica, muitas vezes sua parte terica no est toda determinada, ela
est, bvio, implcita, algo como a msica Barroca onde tinham os ornamentos
e cada um fazia um pouco do jeito que queria e tinha um pouco de espao para
improvisar, ento o Choro tem essa ideia tambm, ento acredito que os
elementos necessrios so os mesmo elementos, dentro de um determinado
contexto, porque voc vai tocar ,por exemplo, um Bartk, eu j fico curioso para
ouvir umas coisas hngaras, umas mtricas, vejo uns exerccios em 5, em 7, em
11, no Choro a mesma coisa, voc tem os mesmos elementos musicais
dispostos de outros jeitos, com sotaques diferentes, linguagens, ento a
articulao nesse sentido, um dos segredos do Choro, o pessoal d muita
nfase na rtmica, mas a rtmica do mundo j estava bem rica, apesar que eu
acho que isso ofenda, muito particular a mistura que aconteceu, mas quando
voc olha, por exemplo, nas msicas Clssicas todo tipo de rtmica os caras
tambm j fizeram, no tem a inteno por trs, que eu acho que isso que
conta, inclusive na msica Clssica, quando uma pessoa toca o mesmo preludio
de Chopin, a mesma coisa, s isso que varia, s que talvez de forma no to
elstica, o Choro tambm s vezes tem esse monte de restrio, s vezes voc
vai l na roda e o cara toca o negcio igual o do Jacob, que igual os clssicos
fazem, que tocam igual o improviso do Bethoveen que ele escreveu.

NV: Mas quando voc tenta passar isso em sala de aula, com algum aluno,
como voc faz? Tenta falar um pouco sobre a linguagem? O sotaque?
isso que voc prioriza mais?

MA: No, vou falar como aconteceu l [Projeto Msica e Cidadania], alunos que
no liam nada, que vinham de outro background, outra realidade social, ento,
l eu fui trabalhando um pouco como eu acredito que os antigos trabalhavam,
passando oralmente, por repetio mesmo, paralelamente, em uma outra aula

112

ou em outra metade da aula, s fazer exerccios rtmicos com as primeiras


figuras, batendo o p, exerccios que muitas vezes no envolvem o instrumento,
palmas etc., desenvolvendo os elementos juntos, e tentando colocar esses
elementos de base dentro de um contexto do Choro, e isso.

NV: E s para finalizar essa questo, esse jeito que voc trabalhou, voc
acha que foi uma adaptao desse meio social que voc est falando ou
voc acha que esse um jeito que voc aplicaria por ser o Choro o gnero
a ser trabalhado?

MA: Eu faria desta maneira, porm de forma mais abrangente, fazendo outras
coisas mais, tendo outros horrios, tendo o espao fsico mais apropriado porque
implica em dividir naipes etc., mas sim, seguindo esse pilar de acadmico com
oral e dentro disso tudo que eles precisam saber, desenvolver percepo,
rtmica, auditiva, essa coisa intervalar, harmnica, todo esse tipo de coisa e no
s no instrumento, tudo que necessrio, eu vejo muito como a roda sendo o
centro acadmico, na verdade eu acho que a roda a vida porque a mesma
coisa acontece com o msico pop, ele no tem a roda mas o barzinho, ou a
banda de baile, ou a banda que ele vai tocar de formatura, ento a mesma
coisa, ele tem que estudar, ele tem outros elementos, e olha, no sentido musical
geral, eu diria que o msica de baile, por exemplo um arranjador, ele est em
um meio mais rico em uma banda de baile, dependendo da banda, no sentido
mais plural, ele vai ter contato com todo tipo de msica, o Radams, por
exemplo, era obrigado a tocar de manh no programa do Jazz, de tarde o de
msica brasileira e de noite era l no cassino e tocava tango, tocava no cinema
s as msicas do Nazareth, ento, imagina um cara desses, na minha opinio,
est muito alm, porque voc v sim, um msico do Choro, bvio, como uma
lente, quando voc fecha, aproxima e tem uma viso mais apurada e est
perdendo todo o resto, a viso perifrica, ento nesse sentido, o cara que est
aberto, tocando todo tipo de som, ento eu penso nisso, a roda tem o carter de
universidade, pela prpria natureza dela que do fazer musical, o negcio que
a roda teve esse aspecto social porque ela comeou a acontecer como essas
manifestao tambm, no apenas musical.

113

NV: No final das contas ento, a grande escola, onde ser desenvolvido
esse domnio, vai ser na roda que seria a universidade do msico de
Choro?

MA: Sim, porque agora o Choro est em um momento interessante, sobre o


ponto de vista da teoria, da expanso, os instrumentos esto se ampliando, tem
vrios outros instrumentos, eltrico, no eltrico, instrumentos diferentes,
tocando Choro, instrumentos novos como o bandolim de 10 cordas, ento isso
vai ampliando a linguagem, tem muita gente tocando mais moderno, fazendo
muita coisa, isso fruto no dessa tradio oral e sim de uma coisa mais
moderna, isso me deixa contente no Choro, ele se renova. A escola da tradio
continua sendo a roda, na medida que voc tem mesmo coisas que se propem,
mas o Choro avana, como tudo.

NV: Quais voc acha que so as dificuldades enfrentadas no ensino do


Choro?

MA: Penso que uma das maiores essa distncia das pessoas com uma msica
de maior contedo, uma msica ento que no traz de forma to direta a
informao to mastigada, hoje cada vez menos se ouve os instrumentos que
so usados no Choro de um modo geral nas msicas que se tocam por a, nas
msicas que esto na TV etc., ento existe um pouco essa distncia porque eu
percebo que o Choro, sendo internacional, desperta um enorme interesse nas
pessoas, ento apenas as pessoas no esto educadas para aproveitar aquilo,
como voc no aproveitar determinados aspectos porque no tem a educao
para aquilo, essa barreira eu sinto que ainda existe, que a barreira cultural,
muitas vezes a pessoa nem sabe o que um clarinete, ela olha e nunca viu na
vida, muita gente no Brasil por exemplo no sabe isso, ento essa barreira
cultural a maior, mas no vejo nenhuma outra, pelo contrrio, vejo tudo
favorvel,

NV: O Choro, de certa maneira, uma linguagem musical complexa. Como


voc acha que deva ser passada essa linguagem para os alunos iniciantes,

114

a transmisso e a formao de repertrio, voc acha que devem ser


passadas verses facilitadas, arranjos, outros gneros musicais?

MA: O tratamento o mesmo, sempre um approach musical, na minha opinio,


veja bem, ns estamos falando de um gnero, quando voc fala que vai estudar
msica voc tem uma encrenca muito maior, logo de cara tua professora vai te
dar uma msica Barroca, uma msica de um compositor nacional, assim que
voc comear a fazer um repertrio no conservatrio mais ou menos essa a
praxe. Eu no acho o Choro mais difcil do que o mtodo do Bartk, por exemplo.

NV: Mas, por exemplo, quando voc vai estudar o violo clssico, ele tem
umas peas fceis para o iniciante. No Choro, tem alguns Choros mais
fceis, claro, mas a voc vai ver so poucos Choros que so mais simples,
no tem tanta nota etc.

MA: Nesse sentido, eu acho que o Choro para iniciantes no existe, no sei se
isso bom ou ruim, primeiro, no vejo nenhum elemento musical no Choro que
seja uma dificuldade especfica exata ou particular que deva ter uma ateno
particular, por exemplo, existe um exerccio aonde em 8 clulas diferentes voc
estuda praticamente todos os ritmos existentes, ento a partir da e, sobretudo,
dentro do nosso contexto se voc ensina Choro para brasileiros mais fcil,
ento no acho que o Choro complexo, acho que o comeo, isso sim um
pouco complicado, por essa barreira cultural que envolve tambm disciplina, no
s diferena social ou acesso instrumentos e outra srie de coisas,
antigamente a msica Clssica estava em tudo quanto desenho, hoje nem
tanto, pelo menos tem os filmes e games que tem uma proximidade com essa
msica que tem o contedo um pouco mais forte, mas tirando essa barreira eu
no acho que exista algum obstculo musical que tenha que ser dada ateno
especial, acho que tem que ser dado ateno especial ao ensino da msica e
seus elementos, mas acho que falta uma didtica para o iniciante, hoje em dia
at est tendo muito material para adulto, muita coisa para a transmisso, mas
quando voc pega um material, a maioria para quem j sabe, todo mundo
comea seus livros assim, supondo que voc j tem uma noo, j sabe o que
acorde, campo harmnico, a transmisso para algum do bsico, por exemplo,

115

voc vai dar aula para algum de Choro e ele no sabe ler, voc vai ensinar ele
a ler normalmente, como qualquer aluno tem que ler nota, ento no tem por
exemplo leitura de partitura especfica para o Choro.

NV: Agora dentro dessa viso social que a gente trabalha, nos projetos,
nas escolas, como voc lida com a questo disciplinar dos alunos? Por
exemplo, alunos em situao delicada socialmente que atrapalham aulas
ou alunos com facilidade musical, porm com mau comportamento.

MA: Sim, tive vrios casos, primeiro essa questo social, como o projeto atua
com pessoas que se inserem na camada mais pobre financeiramente, com
menos acesso da populao, ento eu acredito que eles tenham alguns
problemas de comportamento mais constantes, porm eu j dei aula em uma
escola l no Real Parque (So Paulo), vou afinar pianos naquelas escolas de
milionrios, aonde se tem o que se diz que um modelo de educao, e muitas
vezes tem os mesmo problemas socias, eu j tive alguns problemas de extremos
sociais, por exemplo, aluno extremamente rico apresentar na aula um
comportamento intransigente, de desobedincia, de enfrentamento igual o aluno
que veio l do barraco, igualzinho.

NV: Queria que voc falasse como trata esses comportamentos, e se voc
releva mais por ser em classes mais delicadas socialmente.

MA: Jamais, porque relevar reforar esse comportamento, eu me proponho


para ir ao outro plano, entender, mas isso faz parte de uma outra coisa que eu
tenho trazido para a minha vida, e isso abrange o meu modo de ser e de agir
com todas as pessoas, como dou aulas bvio que tenho o contato mais direto
com as pessoas dentro de uma determinada hierarquia, dentro de uma
determinada responsabilidade, ento isso veio como uma luva, mas isso eu
aplico com minha filha, ns dois conversando, ento para mim o que primordial
voc entender que se trata de uma relao entre duas pessoas, independente
de qualquer coisa, ento eu jamais posso estabelecer que eu sou o mestre
daquela pessoa, no existe esse tipo de relao, isso para mim que
transformador, a entra o que eu acredito dentro de um processo de trabalho, de

116

estabelecer ento uma meta em comum, na minha opinio, o que de base


as pessoas terem um extremo respeito, adotar uma linguagem sem violncia,
sem julgamento, sem predizer ou coibir, ento, nesse sentido entra mais uma
vez o que Bartk fala no prefcio dos livros que ele escreveu, um gnio da
humanidade escreveu para os alunos: O professor deve ter o critrio de escolher
quais os exerccios o aluno ir tocar, o professor tem que saber isso, tem que
ter essa sensibilidade e o professor deve at ser capaz de mudar o exerccio, ele
diz, de alterar e de criar um novo exerccio para o aluno, ento, a partir disso,
quando voc coloca nesse campo de precisar explicar algo para algum, vamos
para alm da questo tcnica, da pessoa entender quanto dois mais dois, isso
uma funo de comunicao antes de mais nada, de linguagem, s vezes eu
no posso falar um sinnimo que seja, eu tenho que falar um sinnimo mais
simples para que a pessoa entenda, porque o vocabulrio dela mais limitado,
isso tudo para mim engloba uma boa aula, um bem estar no tem quem produza
se sentindo pressionado ou se sentindo obrigado, ento so vrios aspectos
dentro dessa coisa da transmisso, a base a relao, qualquer cano entupido
no passa informao direito, ento se existe essa via, existe tudo, respeito,
disciplina, ento ensinar tudo, ensinar, aprender, estar conectado, o assunto
no importa e nesse ponto, o ambiente do Choro bem favorvel, por no ser
to acadmico nesse sentido, mas esses trabalhos que esto surgindo talvez
suscitem outros trabalhos para iniciantes, ento voc vai, por exemplo, fazer
exerccio com poucas notas com a rtmica da polca, vai mostrar cromatismo em
cima de um choro, alguma coisa de fato pensada, isso muito legal.

NV: Sua forma de trabalho na escola seguia alguma programao


especfica? Tinha seu mtodo ou algum mtodo em comum? Voc se
encontrava com outros professores para conversar sobre o repertrio em
comum, como foi essa forma de trabalho?

MA: No, eu fiz completamente dentro da minha cabea e do que eu pensei,


sempre aberto para qualquer um que quisesse olhar minhas coisas, falar e tive
ento uma superviso, no no sentido de ser orientado, mas acho que no sentido

117

de ter um outro olhar do meu prprio trabalho que foi do Luiz [Ortiz]11, mas nunca
tive nenhuma interferncia, nunca me pediram para mudar nada, e eu tambm
fui descobrindo um pouco algumas coisas, ento isso. Fiz no meu mtodo, as
minhas coisas, fazendo o que fiz sempre, consultando o material disponvel da
galera e dentro disso que acredito que a parte terica, o desenvolvimento, mais
ou menos igual msica Clssica. Ns no tnhamos uma grade pr-definida no
comeo, depois a Cibele [Palopoli] veio, fez uma grade a ser seguida. Como
passar ela nunca influenciou, mas dentro dos nveis sugestes, coisas a serem
alcanadas, e foi bem coerente, pegou os Choros mais fceis e organizou, ento
nesse sentido eu achei bem til.

NV: De modo geral, como voc acha que deve ser a grade de uma escola
especfica de Choro e os assuntos primordiais que devem ser abordados?

MA: A maior parte deles aquilo que j falei, os assuntos so os assuntos


musicais que devem ser abordados de modo geral, canto, desenvolvimento de
todo tipo de percepo, na leitura, diversos mtodos e pedagogias diferentes,
ento misturar vrias coisas, tem que ter o canto junto da percepo, tem que
ter na leitura o D mvel, muita gente vai para vrios instrumentos no Choro e
no Choro muito legal que comum uma pessoa tocar dois, trs instrumentos,
ento ela vai se privilegiar muito da hora que ela estudar e j aprender com o D
mvel, esse tipo de aspecto musical tudo igual, agora dentro do contexto do
Choro, que uma pedagogia que talvez no tenha tanto, ento se uma escola
que pretender ensinar o Choro, obvio, o repertrio construdo mais para o
Choro, porm hoje o Choro j ampliou bastante, ento abrange mais improviso,
um pouco mais amplo os improvisos e arranjos, e mesmo harmonias, esto
fazendo Choros diferentes. A escola do Choro para mim uma escola de msica
que tem esses aspectos muito fortes, se voc trabalhar tudo isso, disciplina etc.,
como eu falei, o canal est aberto, voc coloca ento dentro a histria da
msica, mas tudo descambando para o Choro, voc fala da tradio europeia e
faz relao com o que veio para o Brasil e veio encontrar com a galera que j
estava aqui nos terreiros, e depois o aluno faz a ligao do alade pro cavaco,


11
Luiz Fernando Ortiz diretor da Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas.

118

da viola de Braga e essas coisas, e vai vendo tambm os elementos da msica


Clssica e com isso ele j vai estar bem familiarizado com msica Barroca,
depois mostra uma linha do Bach e mostra uma do Pixinguinha fazendo a
relao, mas dando aquele base forte, e uma coisa que eu percebo que a
galera deixa passar no ensino do Choro, essa proximidade com a msica
Clssica para trazer um pouco mais na base terica, um pouco mais forte e de
repente at abrir o universo da msica Clssica para a molecada.

NV: As vezes eu vejo msicos que s tocam Choro e s querem ensinar


Choro, voc acha que o ensino perde com essas coisas? Com essa
distncia e falta de interao com outros estilos?

MA: Nessas horas talvez a especializao at seja boa, como aquele rtulo,
ento quando voc vai estudar msica Barroca na academia do Bach em Leipzig
no tem problema, voc vai estudar msica Barroca dentro daquele gnero,
ento a tradio e o tradicionalismo dentro do carter de conservao da rea
legal e valoroso porque ele tambm faz a ligao e permite a gente ver o quanto
que a gente mexeu na harmonia, isso interessante, agora isso no pode
atrapalhar esses fundamentos, por exemplo se aparece uma nona bemol e falar
que isso no tem a ver, at porque o Pixinguinha tem nona bemol, e outros caras
tem algumas modulaes interessantes, no s do perodo Romntico, at o
Abel Ferreira, vrios, tem uns caras mais da antiga, com aquele p mais no
Choro tradicional que tem j umas modulaes e umas coisas um pouco j
indicando as coisas mais pra frente, e na mesma poca do Choro e tudo rolando
o Jacob era um cara mais pra frente, tem uns compositores que tem mais aquela
veia e outros voc v que a obra dele vai andando junto, interessante, ento por
exemplo o Haydn, do comeo at o fim da vida dele ele segue mais ou menos
naquele estilo, ento ele pega a manha daquelas formas dele, de quarteto,
sinfonia e faz cem quartetos, cem sinfonias, ele no foge muito dentro daquele
estilo, outros no, tipo as sonatas de Beethoven, comea de um jeito, l no fim
j est com a cara do outro sculo, tudo pra frente, as variaes tudo com outra
cara, o piano j tinha aumentado, ento como ele tambm viveu um tanto bom
d pra perceber, acho que o estilo no deve ser aprisionado, ento esse
ensinamento no pode ter um cerceamento.

119

NV: Sobre avaliao, voc a favor de avaliao? Se sim, de que forma?

MA: Avaliao, vou entender sem essa conotao negativa que existe por trs
dessa palavra dentro do contexto pedaggico, avaliao no sentido de observar
o que voc est fazendo ou o que tem feito dentro do que voc se prope, ento
isso implica que voc j resolveu uma srie de coisas, e no duas pessoas ali
desconectados da rea da msica, ento dentro de um contexto de uma escola
que tem um programa, a avaliao necessria mas ela no poder ser
generalizada, no d pra avaliar um grupo, nem duas pessoas sobre os mesmos
aspectos, eu j penso assim, ento a avaliao, deve ser, na minha opinio,
sujeita a uma srie de aspectos, acho que uma prova para avaliar dentro daquele
programa sim, que so muitos aspectos, por exemplo, cada um tem uma
orelha, ento cada pessoa vai errar mais determinados exerccios, mas no
acredito que isso reflita um resultado claro e preciso do que deve ser trabalhado
com aquela pessoa apenas naquele aspecto, ele pode mostrar um defeito mas
no vai apontar um caminho de modo geral mais saudvel, isso deveria vir por
outros vis.

NV: Mas, por exemplo, nessas escolas a gente v que tem uma turma de
avanados, uma de iniciantes etc., ento se eu tenho que passar algum
do iniciante para o intermedirio, tem alguma outra maneira alm da
avaliao?

MA: Claro, se aquele nvel tem um repertrio X e ele precisa de determinados


pr-requisitos, ento ele vai ter que saber que enquanto no aprender no vai
sair dali, uma prova, mas o que no interessa se ele vai falhar, esse peso
que eu reprovo, a relao dele com a msica, se ele tem respeito etc., e se ele
for mais devagar e precisar de fato de mais tempo? Escola sim, tem que ter um
programa, com os que desejam, sobretudo, abranger e se colocar de acordo
com esse programa, esse desenvolvimento, esse sentimento, esse trabalho por
trs, mas tem que tomar cuidado com essa histria de avaliar, acho que eu no
tenho a experincia necessria pra dizer o sistema, mas dentro de um sistema
particular voc no tem prova, quando a gente d aulas particulares a gente no

120

fala para o aluno: No fim do ano a gente faz as provas e se voc for mal no
vou te dar mais aulas.

NV: E voc tem formas de avaliar ele, mas tira um pouco esse peso, que eu
acho que o ideal, porque voc est sempre avaliando os alunos...

MA: s vezes a gente quer ter na escola o que gostaria de ter na aula particular
e no tem por causa das questes financeiras, por que a gente no fala pra um
aluno particular ento assim: Olha, voc tem que chegar com isso aqui pronto,
seno tu vai perder a vaga, voc s no faz isso por causa da questo
financeira, ento j tem vrias questes que esto influenciando na didtica,
dentro do ensino gratuito, onde existem de fato outras pessoas interessadas,
nesse contexto eu sou de acordo com haver um mnimo de rendimento, porque
isso vai estar ligado a um comprometimento, mas no dentro de um parmetro
musical, de uma excelncia, h de se respeitar, dentro de uma margem grande
aqueles que nunca vo esmerilhar em uma roda, mas vo pegar e vo tocar,
tipo o [Luiz] Pires12, vo mexer no Choro, vo movimentar outras pessoas, ns
que somos professores e teoricamente mais preparados, dedicamos mais, eles
esto movimentando a nossa energia, quando nos chamam para tocar, essas
pessoas tambm so importantes e talvez se elas tivessem sido traumatizadas
em algum momento talvez elas tivessem uma birra do Choro, a prtica musical
e o que ela implica, a matemtica, o convvio social, a disciplina, isso que vale,
o gnero vai junto, se est aberto o caminho dessas coisas, qualquer outra coisa
voc pratica, ento no final das contas isso, voc fala que ali um lugar de
conhecimento, de explorao de pensamentos musicais, matemtica, uma
filosofia, se voc estabelece uma filosofia, isso.

NV: Quanto tempo voc acredita que deve durar o curso para a formao
de uma base slida?

MA: Para mim, de 2 a 3 anos, voc ensina tudo que uma pessoa precisa saber
para ter uma base musical slida, tendo uma carga de 2 horas semanais, isso

12
Luiz Pires vice-diretor do Clube do Choro de Santos e constantemente organiza rodas de
Choro em sua residncia com msicos da regio.

121

eu estou falando de uma pessoa que tem um interesse, considerando a vida


moderna, uma pessoa que tenha uma mnima disciplina, se pegar 40 minutos
por dia, 3 vezes por semana, como um esporte, ela vai preparar os exerccios,
as coisas dela, e para a prtica ela precisa separar no mnimo 30 minutos por
dia, se ela no consegue, de meia hora a 1 hora por semana, dentro disso o que
deve ser passado teoricamente e tambm de prtica eu acredito que de 2 a 3
anos para ter uma margem de resultado, cobre tudo, desde leitura de notas at
o final de uma anlise harmnica, claro que em casos mais complicados no d
pra forcar, mas d pra passar, fazer a pessoa ver um ou outro, dar alguns
exemplos, tudo que envolve. Se houver prtica em conjunto acho que mais 40
minutos.

NV: Ento uma carga horaria semanal ideal seriam de 2 horas de aula e
mais 1 hora de prtica em conjunto?

MA: Sim, porque a seriam dois dias, uma o aluno faria aula e na outra ele vai
para tocar, a como est alinhado j ter visto os aspectos que esto sendo
trabalhados e estudou em casa, na prtica em conjunto seria o complemento de
tudo.

NV: Qual idade voc considera ideal para iniciar no aprendizado do Choro?

MA: Qualquer idade, porque voc no precisa comear fazendo a pessoa tocar,
voc pode fazer ela escutar, desenvolver intervalos, porque o ensino de msica
em qualquer idade e a vai ampliando o vocabulrio auditivo do aluno, para
aprender msica no tem idade e o Choro msica como qualquer outro gnero.

NV: Voc utiliza pedagogias distintas para diferentes faixas etrias?

MA: No, na verdade eu utilizo linguagens distintas com pessoas distintas, uma
pessoa que no sabe o que significa a palavra inexorvel, por exemplo, voc
tem que falar pra ela isso de um outro jeito, ento, se a pessoa tem 5 anos de
idade e um vocabulrio e eu quero chamar ateno para determinados
instrumentos, eu uso outro vocabulrio, eu fao outros paralelos, mas nunca com

122

julgamento, nada me impede de usar palavras novas, sempre puxar a criana


para cima, e se voc tiver conexo a criana tambm te puxa para cima.

NV: Quais so os pontos positivos e benefcios que voc observa e poderia


destacar na sua prtica pedaggica, tanto musicalmente, quanto
socialmente?

MA: O benefcio do Choro o benefcio da msica, nada de diferente, o que


existe um ambiente gostoso do Choro, um ambiente informal, os encontros,
ele no est dentro dos teatros e nem to dominado, gourmetizado,
glamourizado, a galera no tem essa, o Choro o orgulho, a raiz do Samba,
do povo, a msica mais prxima dos construtores do Brasil, dos negros que
fizeram isso aqui tudo e inclusive reinventou a msica europeia no fim das
contas, ento o benefcio do Choro no diferente dos outros tipos de msica,
a que t, quem faz Choro faz msica, no tem nenhum benefcio em especial,
vai se beneficiar do contato e dessas coisas, o que eu sinto que existe de
atraente no Choro o ambiente em que ele se d, que normalmente informal,
mas isso incomoda muita gente, engraado que na histria dessa msica houve
esse encantamento por parte dos senhores, eles ento comearam a trazer para
as danas de salo deles, as modinhas, o tango brasileiro para no dizer que
era maxixe, eles comearam a trazer para o baile deles, para dentro do salo,
para o piano deles, ento interessante porque existe essa coisa da
portuguesada querer cair na esbornia e querer se misturar, ento existe essa
mistura nessa msica.

NV: No final das contas o Choro retrata a maneira do brasileiro ser?

MA: Acho que houve uma poca em que a cultura era mais fiel aos movimentos
que se passavam dentro das camadas sociais, agora tudo uma mistura, existe
a dominao do mercado, existem esses milhes de canais, ento hoje de fato,
nada disso retrata o que est rolando, est rolando altos bochichos no Choro
que ningum sabe, que outrora at o povo j soube mais, o Radams j andou
na Manchete, na Bandeirantes, na Globo, quer queira, quer no, o pessoal
estava ouvindo ele, ento hoje nesse sentido, essa msica no retrata mais, e o

123

Choro era uma msica dessa galera nova, ele se forjou e no foi um mercado,
foi um comportamento social de fato que forjou e no um comportamento
financeiro.

NV: Voc acredita que a vivncia no contexto social que o Choro propicia
ajuda no desenvolvimento pessoal dos estudantes, em outras palavras, a
roda de Choro ajuda a formar um carter?

MA: Isso pode ser para o bem e para o mal, no sentido de ir contra inovaes
pssimo, a gente usaria os mesmos acordes h 180 anos e acho que as pessoas
se beneficiam do ambiente do Choro de uma forma geral, se esse ambiente tem
rodas de Choro com muito rigor ou cerimonial perde o ambiental e fica to chato
quanto aquele grupo de eruditos que fala: Esbarrou!, fica a mesma coisa,
ento, o que est por trs sempre isso, tanto que eu conheo muito msico
erudito que tem um monte de trabalho por fora da orquestra que com aquela
galera que eles se sentem bem, no o Choro mas isso, uns s tocam msica
contempornea, outros s tocam pop-rock com quarteto de cordas, porque o
ambiente, ento a msica pode criar um carter, o gnero no influencia tanto.

NV: Para finalizar, dessa nossa conversa e pensando no ensino do Choro,


do lado social e musical que a gente falou, tem alguma considerao que
voc acha importante fazer e que acabou ficando fora da nossa conversa?

MA: Acho que o Choro, como um aspecto a se observar, msica, deveria ser
como o Trivium na Grcia, voc vai aprender as coisas bsicas para entender o
mundo e ter bem estar, nesse aspecto do Choro especificamente, ele uma
grande porta para a gente ter contato com nossas origens, com o que nos
antecedeu, com um pouco da nossa histria social, nosso comportamento,
esses aspectos que se refletem, e so interessantes de serem estudados porque
ainda so presentes na nossa sociedade e porque nossa sociedade no mudou
quase nada, no passamos grandes revolues, e o sistema escravagista que
ficou por trs continua, ento nesse sentido legal porque voc entende mais
mesmo o meio que voc est inserido, nossa histria, o desenvolvimento, essa
porta pra gente falar disso tudo, chegar mais perto de alguns aspectos, pra gente

124

falar e praticar tudo que a msica pode praticar atravs desse vis, atravs dessa
empatia, porque dentro dessa comunicao muito importante essa empatia, se
voc repara que o outro sente alguma coisa que voc tambm sente voc est
estabelecendo uma relao muito forte se existe uma identidade, e isso nos
cerca, o jeitinho, o carinho, a insubordinao que tem dentro de alguns Choros,
atrevido e tal, o desrespeito dentro do nosso jeito brasileiro, essa coisa
especfica brasileira pode ser muito explorada e isso vai descambar no Choro do
Nordeste, ou em todas as outras correntes, isso muito rico, essa porta que a
gente perde, todo o resto cai no balaio comum da msica que antecede tudo.

125

7. Entrevista com Nino Barbosa (Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7


cordas)

Nome: Carlos Eduardo Barbosa Junior (Nino Barbosa)


Data de Nascimento: 14/06/1983

Nino Barbosa pandeirista, atuou como professor do Clube do Choro de Santos


dentro do Projeto Msica e Cidadania e continua dando aulas de pandeiro na
Escola do Clube do Choro de Santos.

NV: Pode falar um pouco da sua formao musical?

NB: Minha formao totalmente autodidata, eu no estudei msica em si e a


minha formao foi basicamente em cima do Samba, meu pai era msico, era
baterista, tocava pandeiro e gostava bastante de Choro e Samba, ento acabei
sendo influenciado pelas msicas que ele escutava em casa que era na maioria
das vezes Samba, ele escutava muito Paulinho da Viola, Joo Nogueira, Beth
Carvalho, ento eu comecei a ter aquele curiosidade de moleque, de querer
saber quem gravou o pandeiro naquelas gravaes, a comecei a conhecer os
instrumentistas, eventualmente comecei a tocar tamborim, ganz, depois fui para
o pandeiro e fui pegando outros instrumentos de Samba, tant, repique de mo,
surdo, a meu pai faleceu e eu perdi aquela referncia que eu tinha dentro de
casa, de ver ele tocando e sair acompanhando e fazendo igual, a eu acabei, nos
caminhos da vida, caindo na Escola de Samba da Brasil que foi uma formao
que eu tive, tambm de forma autodidata mas tive muitos instrumentistas ali que
me influenciaram, e ali eu tive contato com outros instrumentos do Samba, caixa,
repenique, chocalho, surdos, basicamente minha formao essa, a depois de
bastante tempo, j tocando nesse meio do Samba, eu conheci o Choro, j bem
mais velho, e o Choro veio acontecer porque quando eu comecei a tocar eu
sempre gostei de tocar pandeiro de couro e sempre tive o Jorginho do Pandeiro
como uma referncia do instrumento e atravs dele eu tive aquela curiosidade
de querer tocar Choro, mas at ento eu no tinha algum que me levasse ao
Choro, at que eu conheci o Jota R e ele disse que eu tinha uma batida legal e
me convidou para tocar Choro, ai comecei a ir com ele, j conhecia o Arizinho [7

126

Cordas] e o Paulinho [Ribeiro]13, e a comecei a tocar Choro, isso faz uns 6, 7


anos, basicamente minha formao essa, ouvindo e empregando o que eu
escuto.

NV: Voc j dava aulas no Clube do Choro antes do Projeto Msica e


Cidadania?

NB: Na verdade, no projeto foi a primeira vez que eu dei aula na minha vida, foi
por causa do projeto que eu comecei a dar aulas.

NV: E como voc avalia a insero social que o Choro propicia?

NB: Principalmente aonde a Escola do Clube do Choro se localiza, no Mercado


[Municipal], voc v que a garotada tem bastante tempo ocioso e emprega esse
tempo em atividades que no so ricas em nada, ficam al andando de bicicleta,
as vezes aprendem a roubar uma barraca de fruta, pedindo esmola, logicamente
que quando voc tira a criana desse crculo vicioso que se cria al e coloca ele
em outro ambiente, onde ele entra, senta, tem que ouvir um professor, vai ter
que ficar quieto para receber algumas informaes, que uma dificuldade que a
gente tem, infelizmente, nas crianas de baixa renda no existe aquela educao
de algum estar falando e elas ficarem quietas, s vezes a gente v as pessoas
reclamando que o pas no investe em educao mas no tem a educao
bsica que a educao dentro de casa, de se algum estiver falando voc
respeitar ou quando voc for falar respeitar a pessoa com quem voc est
falando, essa educao bsica no existe, o que acaba ajudando na questo do
Choro que voc coloca o aluno al em uma sala de aula e ele vai ter que sentar,
ter uma maturidade para o aprendizado, prestar ateno no professor, ento
voc comea a doutrinar a cabea desse jovem para esse tipo de situao, que
ele vai acabar passando em outros momentos da vida, por exemplo em uma
faculdade, em uma escola, eu acredito que acaba mudando essa viso, quebra
um pouco esse ciclo vicioso que se cria e eu acho que a escola do Choro propicia
esse tipo de situao mais saudvel na vida da criana.

13
Nino Barbosa, juntamente com Jota R, Arizinho 7 Cordas e Paulinho Ribeiro fazem parte do
conjunto Aqui tem Choro.

127

NV: Como voc trabalha os elementos necessrios para a execuo do


Choro?

NB: Eu fao a minha leitura sobre aquela msica que eu estou trazendo e
colocando para eles escutarem e peo para que eles tentem me passar se
entenderam o que eu propus, por exemplo, coloco uma msica e falo sobre o
centro do cavaco que tem relao com a batida do tamborim, do violo 7 cordas
fazendo o contraponto e vou mostrando os elementos, tento passar a minha
viso da msica que estou trazendo para eles, obviamente tem uns que notam
melhor do que outros os elementos, principalmente na questo do pandeiro, o
Jorginho do Pandeiro foi um cara muito importante e fez o pandeiro ser mais do
que um instrumento de acompanhamento no Choro, quando o Jorginho entrou
no Conjunto poca de Ouro ele passou a ser um solista juntamente com o
conjunto, voc v que ele faz os contrapontos junto com o violo 7 cordas, as
acentuaes junto com o conjunto, o Jorginho tirou o pandeiro desse plano de
acompanhador e colocou com um solista em conjunto com o grupo, tem tambm
essa importncia do Jorginho do Pandeiro no Choro.

NV: O Choro, de certa maneira, uma linguagem musical complexa. Como


voc acha que deve ser passada essa linguagem para os alunos iniciantes?

NB: Geralmente eu passo a batida base e aps ver que eles entenderam eu
trago Choros que tenham andamentos mais lentos, que para o aluno exercitar
essa batida base que eu passei, depois eu vou aumentando o ritmo, geralmente
o que acontece que os alunos pegam a batida base e j querem sair tocando
um Choro mais rpido, o que natural, mas eu mostro que quanto mais lento o
andamento de um Choro mais eles precisam que a batida tenha fluidez, tenha
cadncia, ento eu coloca as msicas mais lentas para que eles empreguem a
batida, depois de exercitado durante um tempo eu coloco uma msica mais
acelerada e sempre volto para a msica mais lenta, para que tenha essa
preocupao da cadncia na batida, porque geralmente o pessoal aprende a
tocar o pandeiro e como no existe um material didtico para ser seguido, o cara
pega a batida base do pandeiro e tenta acelerar, tenta encaixar no samba-

128

enredo, enfim, tenta tocar e geralmente voc observa que muitos pandeiristas,
de samba principalmente, voc sabe que o cara sabe tocar mas ele no tem
aquela cadncia na batida, voc escuta e parece que a batida no tem balano,
que est faltando alguma nota, ento sempre procuro passar essa preocupao,
de todas as notas sarem iguais, toda ntidas para que acelerando o ritmo no
se perca esse passo.

NV: Quais voc acha que so as dificuldades enfrentadas no ensino do


Choro?

NB: O principal, pelo menos para os instrumentos de percusso, a falta de


material didtico, muito difcil achar material. E na questo do Choro, existe
material didtico do Pixinguinha, do Jacob, mas outros instrumentistas de Choro
que tambm foram geniais e contriburam bastante no tem material, existe
apenas o lado A, o lado B no tem material, tem Choros que a gente escuta e
aprende a tocar somente na roda, se voc procurar voc s acha algum
tocando ao vivo, mas a gravao original em si voc no acha. Outra dificuldade
a questo da educao do brasileiro para o aprendizado musical, acho que
no nem uma dificuldade do Choro em si, mas por exemplo, hoje em dia a
garotada de 10,11 anos no sabe o que concentrao, acredito que at pela
questo da Internet, do avalanche de informaes, eles recebem muita
informao mas aquela informao no tratada com a devida importncia,
ento hoje a informao muito acessvel, porm o tratamento muito suprfluo
e o Choro no um gnero popular, ento quando voc coloca pra um aluno
escutar Choro acontece de ele nunca ter escutado aquele instrumento e o
preconceito com a questo do Choro, todo mundo acha que o Choro uma
msica de velho, quando na verdade no , e a gente v cada vez mais jovens
buscando o aprendizado e a audio de Choro, acho que essas so as maiores
dificuldades, a concentrao, o preconceito com o gnero e a dificuldade de
material didtico

NV: Agora dentro dessa viso social que a gente trabalha, nos projetos,
nas escolas, como voc lida com a questo disciplinar dos alunos? Por

129

exemplo, alunos em situao delicada socialmente que atrapalham aulas


ou alunos com facilidade musical, porm com mau comportamento.

NB: Eu no tenho uma formao pedaggica, a entra o lado pai, eu tive que
fazer como eu fao na minha casa, j aconteceram situaes durante aulas de
um aluno bater no outro, a eu peguei os dois, sentei e conversei sobre como
eles no deveriam se ofender, como no funciona isso de revidar e que ele
deveria informar algum se isso acontecesse, traz aquele lado paterno para
dentro do ensino, nunca tiro eles da aula, ou deixo de lado pensando pois acho
que errado ento eu sempre converso com os alunos para que a aula seja um
lugar para quem est com vontade de aprender, ento eu converso com eles, se
a aula esta chata eu mudo a maneira de falar, se eles acham a msica chata eu
troco, como eu no tenho uma formao, para mim foi muito na questo do tato
e do feedback do aluno, muitas vezes eu percebia que eu estava tentando passar
uma informao e os alunos no estavam nem a, eu parava e conversava, e s
vezes eu poderia mesmo estar sendo chato, passando aquela informao de
uma maneira que no agradvel para eles, a gente est tratando com crianas
de 10 anos, criana quer brincar, no quer ficar aprendendo, uma ou outra que
prefere aprender msica do que brincar, ento o lado social muito importante,
muitas vezes eu tento inventar uma brincadeira com o instrumento para que a
gente no perca o elo entre msica, aprendizado e brincadeira.

NV: Voc utiliza pedagogias distintas para diferentes faixas etrias?

NB: Precisa ser utilizado sim, por exemplo quando eu comecei aqui em Santos
tinham algumas crianas que quando eu passava a batida base eu tinha o hbito
de falar 1,2,3,4, as quatro batidas, a passava alguns minutos e a criana j
tocava as batidas erradas e eu fiquei pensando em outra maneira de passar para
elas, ento pensei em usar uma palavra para elas associarem, e uma delas
sugeriu Pixinguinha, ento a batida bsica ficou Pi-xin-guin-ha, a eles
conseguiram aprender com muito mais facilidade e no esqueceram mais, tive
que usar outros artifcios como esse para ensinar e mesmo os mais velhos,
alguns conseguem aprender com facilidade e outros no, alguns so mais
visuais de voc mostrar a batida e ele j pegar na hora, outros pedem partitura

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para estudar em casa, alguns so mais auditivos, com o som j conseguem


entender, e com as crianas voc precisa usar mais o lado ldico.

NV: Como o seu mtodo de trabalho e o de outros professores dentro da


Escola? Seguem alguma programao? Trabalham com algum mtodo
especfico?

NB: Geralmente o que acontecia era que se passava o plano, que instrumentista
seria focado naquele perodo, passavam-se os Choros e a gente focava em cima
do que era passado pela coordenadora pedaggica e dentro dessas informaes
e planos passados eu tentava trabalhar com os alunos as funes dos
instrumentos e o que cada um fazia dentro das msicas, e existiam os ensaios
mensais que eram no ltimo sbado do ms, aonde as turmas se integravam,
existia muita dificuldade porque geralmente o que acontecia era que os outros
professores quando mostravam os Choros ou passavam exerccios no usavam
de uma contagem inicial e a gente teve essa dificuldade de ningum tocar, j no
primeiro ensaio um dos professores falou que quando fossemos fazer os
exerccios deveramos utilizar a contagem para que isso fosse assimilado pelo
aluno, independente do instrumento que o aluno toca, existe essa contagem que
d o pulso para que se inicie a msica, com o passar do tempo e a integrao
dos alunos isso foi se desenhando e ficando mais claro, mas a gente percebeu
que, por exemplo, no plano pedaggico no foi pensado instrumento por
instrumento e na integrao entre esses instrumentos, existiu essa dificuldade,
mas juntamente com os outros professores na integrao e na prtica em
conjunto a gente conseguiu chegar em um mtodo e integrar para que fosse feito
dessa maneira, logicamente eu acredito que foi feito de uma forma tardia, porque
no incio do projeto no foi pensado na integrao dos instrumentos, como fazer
quando os instrumentos se encontrassem, quando tivessem dois solistas o que
cada um faria, com o tempo isso foi ajustado, mas inicialmente no existiu essa
idealizao, isso foi feito com o andamento do projeto, talvez no tenha dado
tempo de ser melhor aproveitado.

NV: Voc acha que faltou uma interao entre os professores? De tentar
um mtodo em comum?

131

NB: Na questo da percusso talvez tenha faltado, mas como eu te falei, pela
dificuldade de existir um mtodo a ser seguido, logicamente quando eu pegava
as msicas, os Choros especficos a gente trabalhava em cima deles, porm
quando nos colocvamos na prtica em conjunto, principalmente o pessoal da
percusso falava que estava muito diferente do udio que eles tinham como
referncia, e s vezes voc tem um pandeirista tocando de uma forma j fluente,
em um andamento mais acelerado, tendo aquela gravao como referncia,
dominando ela bem, e a voc colocava um aluno de cavaquinho que no tinha
uma fluidez na batida de cavaquinho, ento no era o que eles esperavam
escutar e existia aquela diferena do som, a gente obrigatoriamente tinha que
chegar em um consenso pois a memria musical daquela msica que foi
passada no est igual para todos, ento tentvamos criar um consenso para
que todos conseguissem tocar, acredito que faltou um material didtico visual e
auditivo criado no incio para ser seguido por todos, mas creio que a gente
conseguiu ajustar no meio do curso e fizemos com que todos aproveitassem da
melhor maneira possvel.

NV: De modo geral, como voc acha que deve ser a grade de uma escola
especfica de Choro e os assuntos primordiais que devem ser abordados?

NB: Com certeza a histria do Choro e do instrumento que est sendo


trabalhado, a prtica que seria a aula em si para o aluno dominar o instrumento
e dentro dessa prtica tambm a percepo que necessria para que se
coloque em prtica os exerccios e a prtica em conjunto que muito importante,
porque no adianta nada eu dar aula e a pessoa dominar o instrumento s que
quando ele vai praticar em conjunto diferente da referncia que ele tem do
udio que eu utilizei e passei para ele como referncia, a na prtica em conjunto
existe a questo de um aluno no estar no nvel do outro e entra a questo que
a msica pede, de ser conjunto e no individualismo, da pessoa tocar em um
andamento menor para acompanhar o colega, perceber se est tocando alto
demais e tocar mais baixo, ento a prtica em conjunto necessria. Ento em
uma grade, a histria do Choro e do instrumento, a aula juntamente com a

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percepo e por ltimo a prtica em conjunto para integrar tudo que foi ensinado
e visto.

NV: E na questo de avaliao, voc a favor de uma avaliao? Se sim,


de que forma voc acha que deve ser feita essa avaliao?

NB: Acho que a avaliao importante, para saber se o professor e o mtodo


de ensino esto sendo eficazes e para o progresso do aluno, pois o aluno sente
que est progredindo e ele vai avanando, para o todo tem que existir avaliao.
A maneira como deve ser feita, eu acredito que se existe um material didtico
ela deve ser uma prova escrita, normal, para que tenha um feedback bsico de
como aquele aluno captou o material que foi passado e a prtica em conjunto
acaba sendo uma prova, mas uma prova mais tranquila e al voc sente se o
aluno pega o instrumento em casa, se ele pratica como voc passou, se ele
estuda, por isso a prtica em conjunto necessria, essa avaliao prtica do
aluno com o instrumento na mo e tocando, e eu acredito que a questo da
msica bem delicada, difcil voc chegar para um aluno e mandar ele tocar
para voc avaliar ele tocando, porque o aluno j acha que no pode errar, tem
que acertar tudo e as vezes o aluno est tocando bem mas com uma postura
errada que est fazendo diferena e ele pode ter um ganho na prtica se isso for
corrigido, ento acho que a avaliao musical tem que ser feita de uma forma
tranquila, em uma pratica em conjunto e os professores avaliando de uma forma
mais suave.

NV: Quanto tempo voc acredita que deve durar o curso para a formao
de uma base slida?

NB: Acredito que em 2 anos o aluno j consegue ter uma base e tocar um Choro
sem dificuldade e com desenvoltura.

NV: E qual voc acredita ser a carga horaria semanal ideal?

NB: O ideal que fossem 2 aulas por semana, mas acho difcil, pelas
dificuldades que a gente enfrenta difcil manter uma criana ligada 2 horas em

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uma aula, ento acredito que 2 aulas de 1 hora o mnimo, e em 2 anos voc
consegue dar uma base slida para o aluno tocar.

NV: E qual idade voc considera ideal para iniciar no aprendizado do


Choro?

NB: Eu acredito que 10 anos, nessa idade eles j tem uma identidade musical,
uma percepo, uma educao e maturidade boa para o aprendizado.

NV: Quais so os pontos positivos e benefcios que voc observa e poderia


destacar na sua prtica pedaggica, tanto musicalmente, quanto
socialmente?

NB: Eu percebo muito na questo da educao, teve alunos aqui que quando
comeamos nem falavam e alguns que quando falavam no olhavam para o seu
rosto, olhavam para o cho, como se voc estivesse feito alguma coisa para eles
ou pudesse fazer, hoje em dia eu percebo que esse mesmo aluno quando chega
aqui j me abraa, consegue trocar afeto, o jeito com que a criana te olha muda,
comea a te olhar no olho, comea a te olhar de uma forma mais igual, porque
eu acredito que se cria um elo de respeito, amizade e confiana, isso talvez seja
muito diferente com o que ele tem no dia a dia dele, com o pai, com a me, voc
quebra um pouco esse vcio que ele tem da m educao dentro de casa e voc
sente que o resultado no dia a dia da criana diferente, eu acho que d
resultado, e a partir do momento que voc coloca a criana al te olhando no
olho, falando a verdade pra ela, tendo uma troca de afeto, dando uma abrao
quando a criana chega, perguntando como foi a semana, tem essa troca e esse
respeito e isso faz muita diferena no dia a dia delas.

NV: Voc acredita que a vivncia no contexto social que o Choro propicia
ajuda no desenvolvimento pessoal dos estudantes, em outras palavras, a
roda de Choro ajuda a formar um carter?

NB: Eu acredito que sim, faz total diferena na educao da criana o ensino do
Choro, com a prtica voc percebe que a criana comea a ter um pouco mais

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de percepo, de concentrao, de educao na hora de falar e se portar e na


hora da prtica de conjunto, da roda de Choro, isso colocado prova, porque
msica mexe muito com a questo do ego, al voc coloca os egos para se
confrontarem e se algum al tem o ego um pouco inflado ele vai saber que
quando chegar na roda de Choro ele no o nico solista, tem outros ali, alguns
iguais, outros melhores e outros piores e ele vai ter que respeitar todos de forma
igual, o pandeirista vai chegar l e tem que saber que em determinados Choros
no tem acompanhamento e ele vai ter que pegar o pandeiro dele, colocar no
cho e ser um apreciador dos outros instrumentistas, acho que isso trabalhado
e faz bastante diferena e realmente a roda de Choro forma carter sim.

NV: Alguma considerao que voc acha importante fazer e que acabou
ficando fora da nossa conversa?

NB: Eu sinto que a msica tratada como algo muito superficial, quando na
verdade a msica talvez seja um brao muito forte para tirar uma criana de um
caminho errado, quebrar um ciclo vicioso de m educao que a criana vive,
assim como o esporte, mas as vezes o esporte mais levado a srio, talvez
porque a msica algo ao mesmo tempo acessvel e complexo, qualquer um
pode ter acesso a msica, qualquer lugar que voc vai tem algum escutando
msica, seja de boa ou de pssima qualidade mas vai ter algum escutando
msica, e o pessoal trata msica como algo que est jogado por a, e na verdade
a msica um caminho importante, uma ferramenta para tirar uma criana de
um ciclo vicioso, colocar em uma doutrina de aprendizado, mas infelizmente
tratado dessa forma, ento acredito que a msica deveria ser tratada como algo
de maior importncia.

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