Vias Cicláveis
Vias Cicláveis
Vias Cicláveis
ABSTRACT
A utilização da bicicleta em meio urbano tem vindo a assumir uma importância acrescida: ao
longo das últimas décadas, apresentando-se, em muitos países como uma verdadeira
alternativa modal. Este tipo de procura tem-se traduzido numa necessidade crescente de
construção de uma infra-estrutura própria que possibilite o uso da bicicleta em condições de
conforto e segurança, e onde a construção de ciclovias se tem afirmado como a medida de
apoio mais recorrente. Nesse contexto assume particular relevância conhecer o
desempenho dos diferentes tipos de pavimentos mais utilizados em Portugal para estes fins,
designadamente em relação à sua resistência à derrapagem. Para o efeito a presente
comunicação apresenta os principais resultados retirados de uma campanha de ensaios de
macro e/ou micro textura aplicados a diferentes tipologias de pavimentos, avaliando-se a
sua adequação a este tipo de utilização. Complementarmente é apresentada uma síntese
das preferências declaradas por alguns ciclistas, através de um sítio da internet.
1. INTRODUÇÃO
A utilização da bicicleta tem vindo a ganhar ênfase ao longo das últimas décadas,
particularmente em meio urbano, apresentando-se como a alternativa de deslocação mais
eficiente para responder às deslocações de curta e de média distância. Segundo dados da
Comissão Europeia (2000) a bicicleta permite responder a mais de 50% das deslocações
efectuadas em meio urbano, assumindo um papel cada vez mais notório nos
correspondentes padrões de mobilidade. Na Europa, o número de proprietários de bicicletas
aumentou mais de 30% nos últimos 20 anos, tendência esta que tem vindo a justificar a
afectação de investimentos na adaptação da infra-estrutura pública, mediante a adopção de
medidas e de acções de apoio a este tipo de utilizadores. A construção de redes cicláveis
(ou de alguns segmentos isolados) tem sido, muito possivelmente, uma das medidas de
apoio mais adoptadas a nível nacional. É actualmente possível encontrar nos sistemas de
transporte uma gama bastante alargada de pavimentos aplicados a ciclovias, sendo no
entanto pouco comum encontrar referências bibliográficas que abordem e avaliem a sua
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Análise da Qualidade Funcional de Pavimentos Aplicados a Ciclovias
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2.1. Introdução
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ligantes hidráulicos), sobre camada de material granular estabilizado com ligante hidráulico
e/ou apenas material granular. Os pavimentos semi-rígidos apresentam características
semelhantes aos anteriores com uma camada superior de misturas betuminosas assente
sobre uma camada de agregado estabilizado com cimento (Branco et al, 2006).
Para uma rede ciclista, salvaguardar uma superfície lisa, tal como cimento ou betuminoso,
apesar do seu custo de implementação acrescido, proporciona ao utilizador da bicicleta a
possibilidade de se deslocar a velocidade mais elevada e com maior conforto, em relação a
uma superfície rugosa, como a terra (AASHTO, 1999; PBIC, 2009). As juntas na estrutura
de pavimento também podem ser problemáticas. Por exemplo, o pavimento em cimento
para não fissurar necessita da criação de juntas entre as lajes, o que face a declives
acentuados pode afectar o rolamento e ser a causa de perda de controlo. O betuminoso não
necessita de juntas e apresenta uma superfície lisa; porém, não é sempre a escolha
preferida de ciclistas (ABC, 2008). As situações de rugosidade numa pista ciclável deverão
remeter-se às situações de abrandamento da velocidade, exactamente pelo efeito de
desconforto e aparente insegurança que provocam.
Em termos construtivos, a estrutura é constituída por uma camada de desgaste com 0,015m
de espessura assente sobre uma camada de betão betuminoso convencional de 0,025m de
espessura (para tráfego ciclável e pedonal, e 0.05m para tráfego automóvel), e uma sobre
base de granulometria extensa (tout-venant) com 0,15m de espessura (Figura 1-B). A base
de granulometria extensa aumenta para 0,25m de espessura na presença de tráfego
automóvel. O custo desta solução é baixo aproximando-se dos 7,5 a 9,0!/m2.
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(0,015)
(0,025)
Figura 1 – Pavimento betuminoso sem coloração (A) Vila Moura; (B) estrutura de pavimento (adaptado de CEAP,
2008)
À semelhança da solução sem coloração, este tipo de pavimento também exige uma
necessidade de manutenção baixa, quando sujeito a condições de desgaste normais sem
partilha de tráfego automóvel, associando-se ainda a custos de implementação moderados.
A coloração é aplicada ao nível da superfície ou seja sobre a camada de desgaste (CEAP,
2008). Associado ao pavimento betuminoso convencional é passível de utilização o
vermelho (Figura 2-A), o verde ou o azul. A degradação associa-se habitualmente ao
desaparecimento da cor superficial ou da sua uniformidade, em resultado do desgaste
superficial associado à passagem dos rodados e à acção da luz.
Geralmente este tipo de pavimento é constituído por uma camada de desgaste de 0,015m
compactada e assente sobre uma camada de betão betuminoso convencional de 0,025m de
espessura (para tráfego ciclável e pedonal, e 0,05m para tráfego automóvel), e uma sobre
base de granulometria extensa (ABGE) correntemente designado de “tout-venant” com
0,20m de espessura (0,25m para tráfego automóvel). O custo é de baixo a médio podendo
variar entre os 9 e os 20!/m2 quando associado a camada betuminosa de reforço estrutural.
(0,015)
(0,025)
Figura 2 – Pavimento betuminoso colorido (A) Costa atlântica e Praias do Norte do Concelho - Câmara Municipal
de Alcobaça; (B) estrutura de pavimento (adaptado de CEAP, 2008)
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baixo. Trata-se de uma mistura fácil de transportar e manusear (mistura a frio), permitindo
uma aplicação cuidada e prolongada no tempo. Este tipo de pavimento é bastante poroso
(mínimo 20%), podendo dispensar inclusive o recurso a sumidouros, dependendo do tipo de
solo em que é inserido (CEAP, 2008). A coloração pode ser introduzida por pintura à
superfície ou em forma de pigmento na mistura da camada de desgaste (Figura 3-A),
permitindo que a coloração se mantenha uniforme ao longo do tempo. A superfície deste
tipo de pavimento não é totalmente lisa, não sendo, por isso, a solução mais indicada para a
circulação em patins, podendo causar ferimentos por abrasão em caso de queda.
Segundo o CEAP (2008), esta estrutura deverá ser constituída por uma camada de
desgaste com 0,015m compactada sobre camada de tout-venant com 0,15m a 0,2m de
espessura (Figura 3-B). Na presença de tráfego automóvel a camada de tout-venant deve
aumentar para 0,3m. Para maiores cargas viárias, a camada de 0,015m assenta sobre
0,04m de betuminoso convencional e de 0,20m de tout-venant. O custo é semelhante à
solução de betão betuminosos com coloração podendo ir dos 9 até aos 20!/m2.
Figura 3 – Pavimento betuminoso a frio e colorido (A) Torreira/Aveiro (B) estrutura de pavimento (adaptado de
CEAP, 2008)
Segundo a CEAP (2008), a estrutura do pavimento deve ser constituída por uma sub-base
de granulometria extensa de 0,15m de espessura (0,25m para tráfego automóvel), com uma
camada sobrejacente de betão betuminoso de espessura 0.015m a 0.04m (Figura 4-B) ou
lajes de betão com o mínimo de 0.10m de espessura e, por cima, a emulsão de inertes com
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ligantes sintéticos (com coloração ou sem coloração) numa camada entre 1mm a 4mm.
Estima-se que o custo possa atingir os 25 a 30!/m2.
(0,015)
(0,15)
Figura 4 – Pavimento Slurry sintético de inertes (A) Ecopista de Viseu (B) estrutura de pavimento (adaptado de
CEAP, 2008)
Este pavimento é utilizável quer em ciclovias quer em espaço de partilha com o tráfego
automóvel e pedonal. É um pavimento pouco permeável em que o escoamento vertical se
efectua através das juntas entre os blocos (Figura 5-A), sendo que opcionalmente poderá
ser colocada uma manta de geotextil entre a camada de brita e o solo compactado. Este
pavimento não é muito aconselhado para a circulação ciclável, a não ser nas situações de
coexistência de automóveis e bicicletas ou em áreas ou situações pontuais, já que cria uma
superfície muito irregular e pouco apropriada à estabilidade e comodidade do ciclista.
Figura 5 – Pavimento em blocos pré-fabricados de betão (A) foto exemplificativa do autor (B) estrutura de
pavimento (adaptado de CEAP, 2008)
A constituição do pavimento poderá passar pelo assentamento dos blocos de betão pré-
fabricado sobre uma camada de areia de cerca de 5 cm de espessura (Figura 5-B). Depois
do assentamento dos blocos, espalha-se areia fina e seca por toda a superfície, varrendo-se
de modo a preencher as juntas. Posteriormente faz-se a compactação da superfície
construída. O custo assume níveis médios, estimando-se entre 17,50 e 20 !/m2.
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As lajes de betão tanto poderão ser armadas com malha-sol e com acabamento superficial
de regularização ou simplesmente não armadas e sem regularização de superfície (Figura
6). Este tipo de pavimento possui boas condições de resistência, inclusive em situações de
submersão (quando as lajes forem reforçadas e possivelmente ancoradas). A degradação
do material é baixa, assegura boa capacidade de integração na envolvente embora assuma
custos de implementação elevados (PBIC, 2009). O dimensionamento da laje depende das
cargas actuadas, e para evitar que o pavimento fragmente é necessária a colocação de
juntas de fissuração. Como principal desvantagem refira-se a criação de “remendos” em
caso de degradação.
É uma superfície que agrega gravilhas duras com resina. Trata-se de um pavimento muito
poroso e permeável à água e ao ar, com vantagens económicas na redução de custos no
sistema de drenagem superficial (Figura 7). Permite criar uma superfície de pavimento
densa, sem selar, com cores e aparência natural dos inertes, e simultaneamente de fácil
aplicação e manutenção. Pode ser efectuado com uma grande variedade de agregados,
como por exemplo: o seixo, calcário encarnado, amarelo e branco, granito cinza, basalto
preto, etc. É uma solução justificável em troços com algum declive longitudinal onde se
espera arrastamento de partículas como complemento à utilização de pavimento em saibro
solto adoptado em troços planos.
A constituição de base passa pela disponibilização de uma sub-base com uma camada de
brita (0,15m) compactada, podendo conter um dreno em caso haja necessidade de melhorar
o escoamento da água sub-superficial. Sobre esta camada é colocada a superfície de
gravilha aglomerada em resina, compreendendo uma espessura de 7 a 12cm para
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Figura 7 – Pavimento em gravilhas aglomeradas com resina - estrutura de pavimento (adaptado de CEAP, 2008)
O saibro estabilizado é composto por uma mistura de agregados com resina sintética,
apresentando uma boa resistência à erosão eólica, hidráulica e mecânica. Tem um custo de
implementação elevado, devido ao material resinoso utilizado na mistura como aglutinante.
Preserva a cor natural do saibro, podendo apresentar várias cores permitindo uma boa
integração no meio em que está inserido (Figura 9). Uma vez que não se trata de um
pavimento permeável deve-se assegurar uma drenagem superficial eficaz.
Figura 8 – Pavimento em saibro estabilizado (A) foto exemplificativa (fonte http://www.agrariaverde.pt); (B)
estrutura de pavimento (adaptado de CEAP, 2008)
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com boa permeabilidade após cilindragem. São utilizados materiais naturais, no entanto
apresenta uma durabilidade superior ao solo natural e boa integração na paisagem a custos
muito baixos (PBIC, 2009). Cria uma superfície suave e regular (dependendo do solo
natural), no entanto não tem um desgaste uniforme apresentando susceptibilidade à erosão.
A mistura correcta do solo estabilizado é difícil de se adquirir (PBIC, 2009).
Em termos construtivos, a estrutura do pavimento deverá ser cosntituida por uma camada
de solo estabilizado com 0,15m a 0,30m de espessura sobre camada de solo compactado.
O custo tende a ser muito baixo estimando-se entre 2,5 a 3,5 !/m2.
Este pavimento é muito utilizado em áreas naturais e rurais com poucos declives e é de fácil
construção a custo muito baixo. A camada de areão é colocada sobre uma camada
compactada de tout-venant, tornando o pavimento praticamente impermeável e sendo
esperado um escorrimento superficial, o que obriga a inclinação transversal para o exterior
(Figura 10). Apresenta elevada degradação por acção hídrica, pois as partículas do solo são
arrastadas por acção das correntes de água, tornando necessário proceder à recarga de
pavimento com alguma frequência (CEAP, 2008; PBIC, 2009). Assim, este tipo de
pavimento não se afigura como solução mais indicada para zonas de declive acentuado.
Este pavimento é fortemente relacionado com circulação pedonal, o que pode provocar
conflitos entre utilizadores.
Ao nível construtivo, o pavimento é constituído por uma camada de areão, colocada sobre a
camada compactada de tout-venant que deve ser aplicada por camadas de 0,10m
devidamente regadas e compactadas. O custo estimado é baixo cifrando-se entre 8,00 e os
11 !/m2.
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É um pavimento muito permeável e muito utilizado em áreas naturais e rurais porque tem
bom enquadramento com meio ambiente com custo médio. Por ser muito permeável, na
camada de brita deve colocar-se um dreno para ajudar a escoar a água proveniente da
superfície e que se poderá acumular na camada de solo compactado (Figura 11). Pelo facto
de se tratar de um solo solto, a degradação por acção hídrica é bastante acentuada e existe
o perigo de arrastamento de partículas em zonas com acentuado declive (PBIC, 2009).
Um pavimento em solo solto deverá ser constituído por uma camada de saibro de espessura
0,15m colocada sobre uma camada de brita (0,15m) envolta em geotêxtil. O custo é médio,
estimando-se em cerca de 13,50 a 16,00!/m2.
2.3. Colorações
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Figura 12 – Colorações (A) Dinamarca (Sommer, 2003); (B) Av. da Régua, Ovar; (C) Av. da Circunvalação,
Torreira
A escolha da cor a implementar deve ter em conta vários factores, como a visibilidade
nocturna em condições climatéricas desfavoráveis e com pouca luminosidade. Actualmente,
por exemplo na Austrália, país com elevada implementação de ciclovias, não existe
nenhuma referência específica quanto ao uso de materiais de cor/ pavimento no Manual de
Dispositivos de Controlo Uniforme de Tráfego (MUTCD) (ABC, 2008).
2.4. Texturas
A textura tem uma influência directa sobre a segurança, o custo de operação dos veículos e
o conforto (Branco, et al 2006). Os pavimentos especificamente destinados à circulação da
bicicleta devem apresentar uma superfície suave e com pouca rugosidade, sem que esta
facilite a derrapagem dos veículos.
Uma superfície com pouca rugosidade, tal como lajes de cimento ou betuminosa,
proporcionam ao utilizador da bicicleta a possibilidade de se deslocar a velocidade mais
elevada, do que numa superfície mais rugosa. Os pavimentos lisos são os mais confortáveis
originando menor trepidação e, deste modo, maior conforto, menos danos na bicicleta e
menor nível de ruído (CROW, 2005). Uma superfície mais rugosa, como os pavimentos de
terra ou saibro, poderão não ser tão apelativos para o utilizador da bicicleta, no entanto
permite um maior conforto nas caminhadas pedonais. A alteração da textura do pavimento
ao longo duma rede ciclista poderá funcionar, em complemento à alteração da cor, como
sinalização horizontal, ou seja, em situações de coexistência de tráfego ciclável e pedonal,
ou outras situações onde se pretende diminuir a velocidade do ciclista, o pavimento deve
apresentar uma maior rugosidade o que proporciona ao ciclista um efeito de desconforto e
aparente insegurança remetendo-o ao abrandamento da velocidade.
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O pavimento a aplicar na rede ciclista depende de vários factores, dos quais os mais
relevantes são a integração paisagística, conforto e segurança. Os materiais à base de
material granular são de mais baixo custo relativamente aos de base betuminosa ou de
cimento, no entanto requerem manutenção regular. Por sua vez, os materiais de superfície
lisa, apesar do maior custo de implementação, têm uma durabilidade mais longa não
exigindo uma manutenção regular. Tendencialmente os pavimentos mais adoptados numa
rede ciclista são os constituídos por misturas betuminosas, estando estes associados a dois
factores relevantes: nível de aderência elevado e nível baixo do ruído no contacto
pneu/pavimento (RECIPAV, 2009). Com excepção do pavimento de betão betuminoso com
aplicação a frio, os restantes pavimentos não têm características drenantes e são, por isso,
inadequados a zonas com maiores índices de pluviosidade ou onde não seja possível, ou
economicamente viável, implementar um sistema de drenagem eficaz. Para esses casos, os
pavimentos mais apropriados são os constituídos à base de agregados, já que são
permeáveis e esteticamente mais agradáveis no entanto e pelo facto da superfície ser
irregular, não é mais confortável para o ciclista. Assim, para cada zona, há que adequar o
tipo de pavimento às exigências e características ambientais e territoriais prevalecentes.
3.1. Introdução
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Para a análise da adequação de pavimentos aplicados em ciclovias foram usados dois tipos
de ensaios: Ensaio da Mancha de Areia e o Pêndulo Britânico. Os ensaios foram realizados
tendo por base as especificações estabelecidas nas normas EN 13036-1, ASTM E965, NF
P9821-1 e EN 13036-4, EN 1097-8, ASTM E 303, BS 812: Part 3:1975, NLT – 175/88,
respectivamente.
Quadro 1 - Relação entre a altura da mancha de areia e a classificação qualitativa da textura superficial do
pavimento (Compilação de normas).
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A selecção dos locais para realização dos ensaios recaiu sobre os tipos de pavimentos mais
utilizados em Portugal tendo-se tido ainda em consideração os pavimentos passíveis de
serem implementados. Foram seleccionados 5 tipos de pavimentos caracterizados por
apresentarem características diferenciadas. Foram analisados pavimentos de origem
betuminosa, de cimento, compostos por agregados, madeira e a calçada de pedra calcária.
Seleccionam-se 5 pavimentos de constituição betuminosa, 2 pavimentos de cimento e 2
representativos dos pavimentos compostos por agregados. Foram ainda estudados a
madeira e dois tipos de calçada. Alguns destes pavimentos, como a calçada ou os blocos de
cimento, não são, por norma, exclusivamente cicláveis, no entanto, encontram-se muitas
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Figura 13 - Pormenor da superfície dos pavimentos: (A) betão betuminoso sem coloração; (B) betão betuminoso
colorido superficialmente; (C) betão betuminoso colorido com pigmento incorporado; (D) mistura betuminosa; (E)
“slurry sintético”.
Quanto à ciclovia do Parque Verde, a obra é bastante recente, pelo que o material ainda
apresenta as suas características iniciais em termos de rugosidade (Figura 13-A). Na
ciclovia da Figueira da Foz, situada na marginal da cidade, o pavimento apresenta alguns
sinais de alguma degradação, sendo visíveis locais onde a tinta já desapareceu
parcialmente (Figura 13-B). O betão betuminoso com pigmento incorporado foi analisado na
Rua Paulo Quintela em Coimbra, pois apesar de não ser uma zona exclusivamente ciclável,
o pavimento encontra-se em muito boas condições e permite uma avaliação rigorosa dos
seus parâmetros funcionais (Figura 13-C). A ciclovia da Praia da Tocha foi utilizada para o
estudo do pavimento composto por uma mistura betuminosa, já que apresentava
características superficiais distintas das observadas no betão betuminoso do Parque Verde
(Figura 13-D). Foi seleccionado o “slurry” sintético da Ecopista de Viseu, por apresentar
características superficiais diferentes dos pavimentos acima descritos. Este pavimento
possui uma superfície colorida com aplicação de uma tinta de base acrílica, encontrando-se
em muito bom estado de conservação aquando da realização dos ensaios (Figura 13-E).
Foram estudadas duas soluções diferenciadas com base de cimento: as lajes de cimento
aplicadas na ciclovia da Praia da Barra, em Aveiro, (Figura 14-A) e os blocos pré-fabricados
de cimento. Este últimode cimento na zona pedonal da Rua Miguel Bombarda, em Coimbra.
Este último não é comummente aplicado em ciclovias; no entanto, é frequentemente
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utilizado em zonas pedonais, que, por vezes, se intersectam com as vias cicláveis (Figura
14-B).
Figura 14 -: Pormenor da superfície dos pavimentos em lajes de cimento (A) e em blocos pré-fabricados de
cimento (B).
Foram estudados dois tipos de pavimento compostos por agregados: solo estabilizado de
gravilha aglomerada com resina epoxídica. Ambos os materiais não são frequentemente
encontrados em ciclovias, pelo menos a nível nacional, no entanto, são passíveis de
utilizáveis. O estudo do solo estabilizado incidiu sobre a zona envolvente ao Pavilhão Centro
de Portugal, em Coimbra (Figura 15-A). No caso do pavimento de gravilha aglomerada, foi
estudado o parque infantil dos Montes Claros, também em Coimbra (Figura 15-B). É de
referir que os locais em questão foram indicados pela empresa responsável pela sua
aplicação.
Figura 15 - Pormenor da superfície dos pavimentos de aglomerados, solo estabilizado – (A) e de gravilha –
Montes Claros, Coimbra (B).
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Análise da Qualidade Funcional de Pavimentos Aplicados a Ciclovias
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Figura 16 - Pormenor da superfície do pavimento de madeira e em calçada com juntas em cimento (A) ou de
material solto (B)
Em relação a este tipo de pavimento, foram estudados dois tipos de superfície, tendo em
conta o tipo de material utilizado nas juntas entre as pedras: areia ou cimento. Como
exemplo de um pavimento com juntas de cimento, foi escolhida a calçada da Praça da
Portagem, em Coimbra (Figura 16-A), enquanto que a calçada da Rua Paulo Quintela,
também em Coimbra, foi escolhida como exemplo de calçada com juntas de areia (Figura
16-B). A calçada da Praça da Portagem encontra-se em muito bom estado de conservação,
enquanto que a calçada da Rua Paulo Quintela se encontra moderadamente conservada.
Este facto deve-se à pouca durabilidade das juntas de areia (por erosão), em comparação
com as juntas de cimento.
Figura 17- Duas fases do Ensaio da Mancha de Areia: recipiente de volume conhecido com areia calibrada (A) e
medição do diâmetro da mancha após o espalhamento (B).
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Por sua vez o ensaio do pêndulo Britânico consiste em posicionar o equipamento de modo a
que a direcção do ensaio seja a do tráfego e procede-se ao seu nivelamento. A cabeça do
pêndulo deve ser ajustada de modo a que a superfície de contacto no pavimento tenha um
comprimento igual ao marcado na régua graduada (Figura 18). Limpa-se a superfície do
pavimento a ensaiar com a vassoura, humedece-se a sapata com água limpa e molha-se a
superfície do pavimento. Deve ser disparo o pêndulo 5 vezes arredondando o resultado ao
número inteiro mais próximo em que são considerados os cinco resultados, cuja diferença
entre eles deve ser inferior a 3 unidades. Foi registada a temperatura do ensaio.
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Análise da Qualidade Funcional de Pavimentos Aplicados a Ciclovias
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Quadro 3 - Especificações base do desempenho dos pavimentos (valores a partir dos quais é recomendado
proceder a manutenção)
INDICADOR ESPECIFICAÇÃO
Rugosidade > 3.5 m/km
Fissuras > 10% do pavimento com fissuras de >8mm
Resistência ao deslizamento > 10% do pavimento com resistência ao deslizamento <60
Textura > 1.6 mm
Cimento
Indicador Especificação
Assentamento Deslizamento > 15mm
Resistência ao deslizamento > 10% do pavimento com resistência ao deslizamento <60
Textura > 0.8 mm
Quadro 4 - Valores normativos mínimos da textura e da resistência à derrapagem, segundo a empresa Brisa e as
Estradas de Portugal, em auto-estradas
VALOR MÍNIMO
PROPRIEDADE MÉTODO
EP BRISA
Resistência à
Pêndulo Britânico >55 Não especificado
derrapagem
No entanto, as velocidades atingidas numa pista ciclável são, tipicamente baixas, embora
nas descidas acentuadas possam ser atingidas velocidades superiores a 50km/h. Assim,
para situações de recreio, é expectável que a avaliação da macrotextura se revista de maior
importância pela avaliação do conforto, do que pela sua importância relativa na resistência à
derrapagem, embora não se possa em caso algum descurar o valor da resistência à
derrapagem. No entanto e para utilizações associadas a velocidades elevadas, importa que
se verifiquem valores elevados de macrotextura associados a níveis elevados de resistência
à derrapagem. É de referir que, para velocidades de cerca de 80 km/h, a importância relativa
da macrotextura e resistência à derrapagem, na segurança do pavimento, iguala-se.
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Análise da Qualidade Funcional de Pavimentos Aplicados a Ciclovias
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VRD mais elevados, enquadrando-se na categoria “muito rugoso”. Quanto aos pavimentos
de cimento, ambos apresentaram valores de VRD semelhantes que, embora ligeiramente
mais baixos que os obtidos para o betão betuminoso sem cor e colorido superficialmente e o
“slurry” sintético, os permite enquadrar na mesma categoria (“rugoso”).
RESISTÊNCIA À
MACRO T EXTURA SUPERFICIAL
PAVIMENTO DERRAPAGEM
HS (mm) Textura Superficial VRD Classe
Betão Betuminoso
0,37 Fina ou Fechada 75 Rugosa
sem coloração
Betão Betuminoso
Muito Fina ou Muito
com coloração 0,05 69 Rugosa
Fechada
superficial
Betão Betuminoso
com pigmento 0,56 Média 76 Muito Rugosa
incorporado
Mistura Betuminosa 0,24 Fina ou Fechada 81 Muito Rugosa
Muito Fina ou Muito
“Slurry” sintético 0,16 74 Rugosa
Fechada
Muito Fina ou Muito
Lajes de cimento 0,06 61 Rugosa
Fechada
Blocos pré-fabricados
-* -* 57 Rugosa
de cimento
Medianamente
“Activsoil” -** -** 51
Rugosa
Gravilha com resina Muito Grosseira ou
3,83*** 61 Rugosa
epoxídica Muito Aberta
Madeira -* -* 37 Lisa
Calçada com juntas
0,29 Fina ou Fechada 30 Muito Lisa
de cimento
Calçada com juntas Insuficientemente
-* -* 41
de areia Rugosa
*- Não foi possível a realização do ensaio devido ao pavimento ter juntas constituídas por material granular
**- Não foi possível a realização do ensaio devido ao pavimento ser constituído por material granular
*** - Este valor deve ser encarado com extrema precaução. Trata-se de um material com elevado índice de
porosidade, pelo que o resultado final varia significativamente com a vibração imposta à superfície.
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Tendo por base os critérios definidos para as vias rodoviárias e cicláveis (BPN < 55 e 60),
apenas os pavimentos classificados como “rugoso” ou “muito rugoso” oferecem boas
condições de segurança em situação de pluviosidade. Ou seja, é possível concluir que a
utilização da calçada calcária, da madeira ou do solo estabilizado deve ser encarada com
muita precaução.
A análise da avaliação do conforto dos utilizadores demonstrou que metade dos utilizadores
considera que o betão betuminoso colorido superficialmente e o “slurry sintético” oferecem
um grau de conforto regular, ou seja, mediano (Figura 19). No entanto, uma percentagem
significativa (40-50%) afirma que o grau de conforto destes pavimentos é “bom” ou “muito
bom”, especialmente em relação ao “slurry sintético” (Figura 19-B). Esta análise recaiu
apenas sobre estes pavimentos por serem aqueles que assumem um nível de aplicação
mais elevado no nosso país. Dados preliminares permitem afirmar que praticamente 100%
dos utilizadores de pavimentos de betão betuminoso sem cor e de saibro consideram o grau
de conforto oferecido como “bom”. No entanto, e especialmente, neste último caso, os
ciclistas utilizam as pistas cicláveis essencialmente com carácter apenas de lazer, o que
poderá alterar as conclusões do estudo.
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Análise da Qualidade Funcional de Pavimentos Aplicados a Ciclovias
BASTOS SILVA, Ana; MARIANO, Carla
Figura 19- Grau de conforto dos utentes de ciclovias com pavimentos de betão betuminoso colorido
superficialmente (A) e “slurry” sintético (B).
Por outro lado, de entre todos os utilizadores inquiridos, a maioria prefere o pavimento de
“slurry sintético” e o betão betuminoso colorido superficialmente, enquanto uma pequena
percentagem prefere o betão betuminoso sem cor (Figura 20). Há ainda a referir uma
pequena percentagem (12,5%) que diz preferir o saibro, o que muito provavelmente se deve
ao facto da maioria destes utilizadores usarem este tipo de pistas apenas com carácter de
lazer, pelo que a sua consideração em conjunto com os restantes utilizadores requer uma
especial atenção.
Finalmente é de salientar que, após a análise dos resultados, os pavimentos cujo valor de
HS se situa abaixo dos valores mínimos recomendáveis (ou seja com textura superficial
muito fina ou muito fechada), como o “slurry” sintético e o betuminoso colorido
superficialmente, são os preferidos pela maioria dos inquiridos como sendo a opção que
oferece maior conforto e segurança. Além disso, estes mesmos pavimentos possuem um
valor de VRD de entre os mais altos. Assim, estes pavimentos conjugam elevados índices
de preferência dos utilizadores, aos quais estão associados valores muito baixos de HS, e
elevados índices de segurança.
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Análise da Qualidade Funcional de Pavimentos Aplicados a Ciclovias
BASTOS SILVA, Ana; MARIANO, Carla
aceitáveis, e a avaliação do melhor pavimento deve ter em conta, em igual medida, o factor
conforto.
Neste trabalho, não foi avaliada a satisfação dos utilizadores de pavimentos de cimento,
devido à menor implementação destes e à falta de amostragem em Portugal. No entanto,
este tópico reveste-se de alguma importância devido ao bom comportamento a nível
funcional da superfície destes pisos nos ensaios realizados Este será, com certeza, um
excelente ponto de partida para estudos posteriores que poderão complementar esta
análise.
Este estudo, apresenta uma avaliar das características superficiais dos pavimentos
aplicáveis em pistas cicláveis numa perspectiva de conforto e segurança. Existe uma
preocupação crescente dos decisores políticos e da população em geral sobre os desafios
ambientais e a saúde da população, sublinhando-se cada vez mais a necessidade de se
promover o uso da bicicleta, principalmente em meio urbano, onde a qualidade de vida tem
vindo a decrescer com a constante invasão do transporte motorizado. A esse nível assume
particular relevância a importância assumida pela qualidade da infra-estrutura ciclável.
Uma outra conclusão importante deste trabalho prende-se com a escolha do pavimento a
aplicar em intersecções com zonas pedonais. Actualmente, a maioria das zonas pedonais
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Análise da Qualidade Funcional de Pavimentos Aplicados a Ciclovias
BASTOS SILVA, Ana; MARIANO, Carla
são pavimentadas com calçada. No entanto, foi possível concluir que, do ponto de vista do
utilizador da bicicleta, o pavimento preferencial são os blocos pré-fabricados de cimento
pois, além de terem um nível de conforto elevado (baixo HS), apresentam um valor de VRD
acima dos limites mínimos recomendados. Pelo contrário, a calçada com juntas de cimento,
apesar de um valor de HS relativamente baixo, não salvaguarda os níveis mínimos de
segurança em relação à derrapagem. O mesmo acontece para a calçada com juntas de
areia que, apesar de ligeiramente melhor, apresenta igualmente níveis abaixo dos
recomendados.
Foi ainda possível concluir que os resultados dos ensaios de avaliação funcional validam a
apreciação apresentada pelos utilizadores. Assim, os pavimentos com macrotextura muito
fina e elevada resistência à derrapagem são, simultaneamente, os preferidos pelos
utilizadores como é o caso do betão betuminoso colorido superficialmente e o “slurry”
sintético.
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