Classificação Dos Crimes
Classificação Dos Crimes
Classificação Dos Crimes
Não houve
aborto, a não ser na mente da mulher (crime, portanto, imaginário).
No delito putativo por erro de proibição, o sujeito realiza um fato que, na sua mente, é proibido pela lei
criminal, quando, na verdade, sua ação não caracteriza infração penal. Exemplo: relação incestuosa de um pai com
sua filha, maior de idade.
O delito putativo por obra do agente provocador dá-se quando o sujeito pratica uma conduta delituosa induzido
por terceiro, o qual assegura a impossibilidade fática de o crime se consumar. Exemplo: policial à paisana finge-se
embriagado para chamar a atenção de um ladrão, que decide roubá-lo; ao fazê-lo, contudo, é preso em flagrante.
Nesse caso, inexiste delito, porque, de acordo com a Súmula n. 145 do STF, não há crime quando a preparação do
flagrante pela polícia torna impossível a consumação.
■ 8.4. SÍNTESE
QUANTO AO ■ Crimes comuns: previstos no Código Penal. ■ Crimes especiais: tipificados em leis penais
DIPLOMA extravagantes.
NORMATIVO
QUANTO À ■ Crimes comuns: não se exige nenhuma ■ Crimes próprios: são aqueles em que a lei requer
QUALIDADE qualidade especial do sujeito ativo (CP, art. 121 alguma qualidade ou condição especial do sujeito ativo
ESPECIAL DO — homicídio). (CP, art. 124 — autoaborto ou aborto consentido).
SUJEITO ATIVO
QUANTO À ■ Crimes de mão própria ou atuação pessoal: somente admitem a participação, sendo-lhes impossível a
POSSIBILIDADE coautoria. É o caso do crime de falso testemunho ou falsa perícia (CP, art. 342).
DE COAUTORIA
■ Crimes vagos: aqueles cujo sujeito passivo ■ Crimes de única ou dupla subjetividade passiva: a
(material ou eventual) for um ente sem calúnia somente possui como vítima o indivíduo
QUANTO AO personalidade jurídica. Ex.: crimes contra a atingido em sua reputação — única subjetividade
SUJEITO PASSIVO família. passiva; a corrupção passiva tem como sujeitos
passivos a Administração Pública e o particular a quem
o agente solicita a vantagem indevida — dupla
subjetividade passiva.
QUANTO AO ■ Crimes de dano ou de ■ Crimes de perigo ou de ameaça: a simples exposição do bem ao perigo já
RESULTADO lesão: se o tipo penal é suficiente para que a infração esteja consumada.
JURÍDICO OU exigir a lesão ou o dano ao
NORMATIVO bem juridicamente tutelado ■ Crimes de perigo concreto ou real: o ■ Crimes de perigo abstrato ou
para que ocorra a perigo figura como elemento do tipo, de presumido: o tipo não prevê o
consumação do crime. tal modo que sua comprovação se perigo como elementar, razão por
torna necessária para a existência do que sua demonstração efetiva é
crime (CP, art. 132 — periclitação da desnecessária (CTB, art. 306 —
vida ou saúde de outrem). embriaguez ao volante).
■ Crimes ■ Crimes omissivos: conduta nuclear consubstancia uma omissão (ou seja,
comissivos: conduta um não fazer ou non facere). Ex.: omissão de socorro (CP, art. 135).
nuclear corresponde a
uma ação. Ex.: CP, art. ■ Omissivos próprios ou puros: o tipo ■ Omissivos impróprios, impuros
157 (roubo). penal descreve uma omissão, de modo ou comissivos por omissão: são
QUANTO À
CONDUTA que, para identificá-la, basta a leitura crimes comissivos (como o
do dispositivo penal. homicídio, o furto, o roubo etc.),
praticados por meio de uma
inatividade. Exigem dever jurídico
de agir para evitar o resultado
(CP, art. 13, § 2º).
QUANTO À
■ Crimes principais: são aqueles cuja existência ■ Crimes acessórios: dependem de um delito anterior,
não depende da ocorrência de crime anterior. como a receptação (CP, art. 180), em relação ao fato
AUTONOMIA
antecedente (furto, por exemplo).
QUANTO À
■ Crimes condicionados: quando a lei exigir, ■ Crimes incondicionados: não exigem qualquer
para a punibilidade do fato, alguma condição condição objetiva de punibilidade. Ex.: furto (CP, art.
EXISTÊNCIA DE
CONDIÇÕES objetiva. Ex.: crimes falimentares (Lei n. 155).
11.101/2005).
■ Crimes simples: possuem somente um ■ Crimes complexos: possuem dois objetos jurídicos,
QUANTO À objetivo jurídico. Por exemplo, do homicídio como o roubo (CP, art. 157).
OBJETIVIDADE (CP, art. 121).
■ Alguns doutrinadores definem como crimes
JURÍDICA complexos aqueles resultantes da fusão de dois ou
mais tipos penais.
QUANTO À ■ Crimes unissubsistentes: são aqueles cuja ■ Crimes plurissubsistentes (a grande maioria): contêm
POSSIBILIDADE conduta típica não admite qualquer uma conduta que admite cisão (fracionamento).
DE fracionamento.
FRACIONAMENTO
DA CONDUTA
TÍPICA
QUANTO À ■ Crimes de ação ou forma ■ Crimes de ação ou forma vinculada ou casuística: a lei prevê
NATUREZA DO livre: admitem qualquer taxativamente quais são as formas de cometer o delito.
COMPORTAMENTO
NUCLEAR meio executório, como o ■ Crime de forma ■ Crime de forma
homicídio (CP, art. 121). vinculada cumulativa: exige que o vinculada alternativa: o tipo prevê
sujeito incorra em mais de um verbo, várias ações ou omissões,
necessariamente, para fins de deixando claro que o fato ocorre
consumação. É o caso da apropriação com o cometimento de qualquer
de coisa achada (art. 169, parágrafo uma delas. É o caso do crime de
único, II, do CP). plágio (CP, art. 149).
QUANTO À ■ Crimes de ação simples: quando possuírem ■ Crimes de ação múltipla ou conteúdo variado: quando
PLURALIDADE DE apenas um verbo nuclear. o tipo possuir mais de um verbo.
VERBOS
NUCLEARES
QUANTO AO ■ Crime doloso: o agente ■ Crime culposo: o resultado decorre de ■ Crime preterdoloso ou
ELEMENTO tem a intenção de produzir imprudência, negligência ou imperícia. preterintencional: o crime é
SUBJETIVO OU o resultado ou assume doloso, mas o agente produz um
NORMATIVO esse risco. resultado agravador a título de
culpa.
QUANTO À
■ Crime simples: é o ■ Crime privilegiado: previsto nos ■ Crime qualificado: previsto nos
previsto parágrafos da disposição, ao qual se parágrafos da disposição; a ele se
POSIÇÃO
no caput (modalidade cominam limites punitivos in-feriores cominam limites punitivos
TOPOGRÁFICA NO
TIPO PENAL fundamental). aos do caput. abstratamente superiores aos
do caput.
■ Crime de ação penal de iniciativa pública: a ■ Crime de ação penal de iniciativa privada: nos quais a
titularidade do direito de ação penal incumbe tarefa de mover a ação penal recai sobre o ofendido ou
ao Estado, por meio do Ministério Público. seu representante legal.
QUANTO À AÇÃO
PENAL ■ Subdividem-se em ação pública ■ Subdividem-se em crimes de ação exclusivamente
incondicionada e condicionada (à privada e privada personalíssima (em se tratando de
representação do ofendido ou à requisição do ação privada subsidiária da pública, o crime em que se
Ministro da Justiça). funda é de ação pública).
■ Crimes conexos por ■ Crimes conexos por conexão ■ Crimes conexos por conexão
conexão intersubjetiva: há objetiva: teleológica ou consequencial. instrumental ou probatória.
vários delitos cometidos
QUANTO À por diversas pessoas, de
CONEXÃO maneira vinculada, por
simultaneidade, por
concurso ou por
reciprocidade.
■ Crime habitual próprio (ou necessariamente ■ Crime habitual impróprio (ou acidentalmente
QUANTO À habitual): a habitualidade é requisito típico. habitual): a existência do crime não depende da
HABITUALIDADE reiteração da conduta; se esta ocorrer, entretanto,
haverá um só crime.
QUANTO AO ■ Crimes comuns: praticados sem propósitos ■ Crimes políticos: são os cometidos com finalidades
CARÁTER políticos. políticas (critério subjetivo) ou, ainda, aqueles delitos
POLÍTICO
praticados contra o Estado, como unidade orgânica
das instituições políticas e sociais (critério objetivo).
QUANTO À ■ Crimes de tipo aberto: são aqueles cuja ■ Crimes de tipo fechado: são os que utilizam
ESTRUTURA DO definição emprega termos amplos, de modo a expressões de alcance restrito, englobando poucos
TIPO PENAL abarcar diversos comportamentos diferentes. comportamentos na definição legal.
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
■ Crimes de imprensa: praticados por algum meio de comunicação social. Encontravam-se tipificados na extinta Lei n. 5.250/67.
■ Crime de ímpeto: é o praticado por ímpeto ou de súbito, sem prévia deliberação ou reflexão.
■ Crimes a distância ou de espaço máximo: o iter criminis atinge o território de dois ou mais países.
■ Crimes plurilocais: o iter criminis atinge o território de mais de um foro (comarca ou seção judiciária), mas dentro do país.
■ Crimes de impressão: provocam determinado estado anímico na vítima. Dividem-se em: a) delitos de inteligência: provocam o
engano do ofendido, como o estelionato; b) delitos de sentimento: geram abalo emocional, como a injúria; c) delitos de
vontade: interferem na vontade, como o constrangimento ilegal.
■ Crimes falimentares ou falitários: definidos na Lei de Falência e Recuperação de Empresas (Lei n. 11.101/2005).
■ Crime a prazo: são aqueles em que a lei prevê alguma circunstância que eleva a pena, cuja ocorrência depende do decurso de
algum período de tempo (CP, art. 129, § 1º, I).
■ Delito transeunte: aqueles que não deixam vestígios (delicta facti transeuntis).
■ Crime não transeunte: infrações penais que deixam vestígios (delicta facti permanentis).
■ Crime de atentado ou de empreendimento: infração penal em que as formas consumada e tentada são equiparadas para fins
de aplicação da pena; isto é, dá-se à tentativa a mesma pena da consumação. Ex.: CP, art. 352.
■ Crime em trânsito: quando o agente pratica o fato em um país, mas não atinge nenhum bem jurídico de seus cidadãos.
■ Crimes hediondos: são os mais graves previstos em nossa legislação penal e decorrem da enumeração prevista na Lei n.
8.072/90.
■ Crime putativo ou imaginário: somente ocorre na mente do sujeito. Vale dizer, ele pensa que comete um delito, mas, na
verdade, não pratica ilícito penal algum.
■ ■ Delito putativo por erro de tipo ou crime imaginário por erro de tipo: o delito se circunscreve à mente do autor.
■■ Delito putativo por erro de proibição: o sujeito realiza um fato que, na sua mente, é proibido pela lei criminal, quando, na
verdade, sua ação não caracteriza infração penal.
■ ■ Delito putativo por obra do agente provocador: o agente pratica uma conduta delituosa induzido por terceiro, o qual assegura
a impossibilidade de consumação (p. ex.: Súmula n. 145 do STF).
■ 8.5. QUESTÕES
1. (Juiz de Direito Substituto/AL — FCC — 2019) No que toca à classificação doutrinária dos crimes,
) é imprescindível a ocorrência de resultado naturalístico para a consumação dos delitos materiais e formais.
) é normativa a relação de causalidade nos crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão, prescindindo
de resultado naturalístico para a sua consumação.
) os crimes unissubsistentes são aqueles em que há iter criminis e o comportamento criminoso pode ser cindido.
) os crimes omissivos próprios dependem de resultado naturalístico para a sua consumação.
) os crimes comissivos são aqueles que requerem comportamento positivo, independendo de resultado naturalístico
para a sua consumação, se formais.
2. (93º Concurso de Ingresso à Carreira do MPSP — 2019) O crime de divulgação de cena de estupro ou de
cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia, previsto no art. 218-C do Código Penal,
pode ser classificado como:
) comum, material, comissivo, unissubjetivo, culposo, principal.
) comum, formal, comissivo, unissubjetivo, doloso, subsidiário.
) especial, formal, comissivo, plurissubjetivo, admite as formas doloso e culposo, subsidiário.
) especial, material, comissivo ou omissivo, unissubjetivo, doloso, principal.
) comum, material, comissivo, plurissubjetivo, admite as formas doloso e culposo, subsidiário.
3. (Juiz de Direito Substituto/SC — Cebraspe — 2019) A respeito da classificação dos crimes, assinale a
opção correta.
) O crime de associação criminosa configura-se como crime obstáculo; o de falsidade documental para cometimento
de estelionato é crime de atitude pessoal.
) O crime de uso de documento falso configura-se como crime remetido; e o de uso de petrechos para falsificação
de moeda, como crime obstáculo.
) O crime de tráfico de drogas configura-se como crime vago; o de extorsão mediante sequestro constitui crime
profissional.
) O crime de falso testemunho configura-se como crime de tendência; e o de injúria, como crime de ação astuciosa.
) O crime de rufianismo configura-se como crime de intenção; o de curandeirismo constitui crime de olvido.
6. (Procurador do Estado/SP — FCC — 2002) Em relação aos tipos incongruentes, é correto afirmar que:
) são formados mediante o acréscimo de uma circunstância atenuante ou agravante do delito-base.
) somente têm como objetos jurídicos bens destrutíveis.
) há coincidência entre o dolo e o acontecimento objetivo.
) o agente quer e persegue um resultado que não necessita ser alcançado para a consumação do crime.
) somente podem ser cometidos pelo agente referido no tipo.
GABARITO
2. “b”. O delito em espécie pode ser cometido por qualquer pessoa; independe do
resultado naturalístico; pode ser praticado por apenas uma pessoa, apesar de
permitir concurso de pessoas e somente se aplica se não houver crime mais grave.
3. “b”. Crime de obstáculo é aquele que pune atos preparatórios tipificados como
crimes autônomos; crime de ação astuciosa é aquele praticado por meio de fraude;
crime de tendência ou atitude pessoal é aquele cuja tipicidade poderá ou não ocorrer
a depender da atitude pessoal e interna do agente, por fim, crime de intenção é
aquele que o agente quer e persegue um resultado que não necessita ser alcançado
para sua efetiva consumação.
7. “d”. Os monossubjetivos são os que podem ser cometidos por uma só pessoa ou
várias, em concurso de agentes. Ressalte-se, porém, que a alternativa “a” não está
completamente certa, pois o abrandamento da teoria da equivalência dos
antecedentes se dá pela análise do dolo e da culpa, que não integram a culpabilidade
do agente, mas o fato típico. Tal assertiva corresponde ao pensamento de Nélson
Hungria, adepto da teoria psicológico-normativa da culpabilidade. Ocorre, porém, que
essa orientação não se mostra consonante com a Reforma da Parte Geral de 1984,
que caminhou no sentido da teoria normativa pura da culpabilidade.
8. “c”. Crime falho é sinônimo de tentativa perfeita, em que o delito não se consumou,
apesar do esgotamento dos atos executórios por parte do sujeito ativo.
9. “c”. No crime putativo por erro de tipo, o agente conhece a proibição penal, mas
seu equívoco recai por achar que está presente, no fato concreto, alguma elementar
do tipo que, na verdade, não está. Ex.: o sujeito que “subtrai” coisa própria,
pensando que era alheia.
O Código Penal adotou a teoria objetiva quanto à tentativa — art. 14, parágrafo
único.
Os delitos funcionais impróprios são os que, abstraída a condição de
funcionário público do sujeito ativo, o ato continua tendo caráter criminoso,
embora corresponda a outro tipo penal.
Crimes subsidiários ou famulativos são aqueles que se aperfeiçoam quando a
norma principal não pode ser aplicada (princípio da subsidiariedade).
Crime falho é o mesmo que tentativa perfeita, ou seja, o agente esgota todos os
atos executórios de que dispunha.
10. “b”. Crime unissubjetivo ou de concurso eventual é o que pode ser cometido por
uma só pessoa ou várias, em concurso de agentes.