Direito Penal - Resumo I

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Esse resumo fornece uma visão mais detalhada dos pontos essenciais do Direito Penal para a

sua prova. Se precisar de mais alguma parte específica, podemos aprofundar ainda mais!

Princípios do Direito Penal

O Direito Penal é estruturado por princípios que orientam a aplicação das leis e garantem a
proteção dos direitos fundamentais. Os principais são:

Princípio da Legalidade: Prevê que não há crime nem pena sem prévia cominação legal
(nullum crimen, nulla poena sine lege). Isso significa que somente uma lei pode definir o
que é crime e quais são as punições associadas. Está previsto no art. 1º do Código Penal,
onde se estabelece que uma pessoa só pode ser punida por uma conduta se ela for
tipificada como crime antes de ser praticada.

Princípio da Anterioridade: Esse princípio complementa o da legalidade e estabelece que a lei


penal só pode ser aplicada a fatos ocorridos após sua vigência. A criação de leis penais
retroativas só é permitida quando for mais benéfica ao réu (novatio legis in mellius).

Princípio da Intervenção Mínima: O Direito Penal deve ser o último recurso na proteção de
bens jurídicos, aplicando-se apenas quando outros ramos do Direito não forem suficientes
para garantir a ordem social. Ele deve ser usado de forma subsidiária, ou seja, em situações
extremas, e só deve tutelar bens jurídicos essenciais.

Princípio da Lesividade: Preconiza que para uma conduta ser punível, ela deve lesar ou expor a
perigo um bem jurídico relevante. O Direito Penal não pode punir atos que não tenham uma
ofensa concreta à sociedade ou que sejam de perigo abstrato.

Princípio da Adequação Social: Atos que, embora formalmente típicos (descritos na lei como
crime), são aceitos socialmente, não devem ser punidos. Por exemplo, práticas culturais ou
sociais que, apesar de proibidas por lei, não são reprovadas pela sociedade.

Princípio da Culpabilidade: Nenhuma pena pode ser aplicada sem que se prove a culpa do
agente. Esse princípio assegura que a punição só pode ser imposta àquele que agiu com dolo
(intenção) ou culpa (negligência, imprudência ou imperícia).

Princípio da Humanidade: A aplicação da pena deve respeitar a dignidade humana, proibindo


penas cruéis, desumanas ou degradantes. No Brasil, por exemplo, é vedada a pena de morte,
exceto em caso de guerra declarada (CF, art. 5º, XLVII).

2. Escolas Penais (Causalismo e Finalismo)

A evolução das teorias sobre o conceito de crime levou ao desenvolvimento de duas grandes
escolas: o Causalismo e o Finalismo.

 Causalismo:

o Fundado por Franz von Liszt e Beling, essa teoria entende que o crime é uma
sequência causal de eventos físicos. A análise da conduta se limita a identificar
uma relação de causa e efeito entre a ação do agente e o resultado.

o Para o causalismo, o dolo (intenção) e a culpa (imprudência, negligência) são


elementos da culpabilidade, e não da conduta em si.
o Exemplo: Se alguém atira contra outra pessoa e a mata, o ato de disparar seria
considerado uma causa suficiente para a morte, independentemente da
intenção no primeiro momento da análise.

 Finalismo:

o Desenvolvido por Hans Welzel, o finalismo foi uma crítica ao causalismo. Para
o finalismo, a conduta humana deve ser entendida como um ato finalístico, ou
seja, a ação tem sempre uma finalidade.

o O dolo e a culpa integram a conduta e não a culpabilidade. A intenção do


agente é considerada desde o início da análise do fato típico.

o Exemplo: Se alguém atira contra outra pessoa com a intenção de matá-la, essa
finalidade (dolo) já é parte do conceito de conduta, e não apenas da
culpabilidade.

3. Classificação dos Crimes

Os crimes podem ser classificados de diversas formas, conforme diferentes critérios. Aqui
estão algumas das principais classificações doutrinárias:

 Crimes Dolosos e Culposos:

o Crime Doloso: Ocorre quando o agente age com intenção (dolo) de praticar o
crime. O dolo pode ser direto (quando o agente deseja diretamente o
resultado) ou eventual (quando o agente assume o risco de produzir o
resultado).

o Crime Culposo: Ocorre por imprudência, negligência ou imperícia. O agente


não deseja o resultado, mas o produz por falta de cuidado ou atenção devida.
Exemplo: um motorista que atropela alguém por dirigir de forma negligente.

 Crimes Omissivos Próprios e Impróprios:

o Omissivo Próprio: A inação em si constitui o crime, como a omissão de socorro


(art. 135 do CP), onde o agente, ao não prestar socorro, pratica a conduta
criminosa.

o Omissivo Impróprio: O agente tinha o dever de agir para impedir o resultado,


mas não o fez. Exemplo: Um salva-vidas que não salva uma pessoa em perigo.

 Crimes Materiais, Formais e de Mera Conduta:

o Material: Requer a ocorrência de um resultado concreto para sua


consumação, como no homicídio, onde a morte é o resultado exigido.

o Formal: Não exige um resultado concreto para ser consumado, como a


extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP), onde o crime se consuma com o
sequestro, independentemente de o resgate ser pago.

o Mera Conduta: São crimes que se consomam com a simples prática da


conduta, sem que se exija qualquer resultado. Exemplo: o crime de violação de
domicílio (art. 150 do CP).

 Crimes Consumados e Tentados:


o Consumado: Quando o agente realiza todos os elementos do tipo penal, ou
seja, a conduta é completada conforme a descrição legal.

o Tentado: Quando, por circunstâncias alheias à vontade do agente, o crime não


se consuma. A tentativa é punida com a pena reduzida de um a dois terços
(art. 14, II, do CP).

 Crimes de Ação Pública e Ação Privada:

o Ação Penal Pública: São os crimes que podem ser processados pelo Ministério
Público sem a necessidade de autorização da vítima (ex.: homicídio).

o Ação Penal Privada: São aqueles que dependem de uma queixa formal da
vítima para iniciar o processo, como os crimes de calúnia e difamação.

4. Artigos 1 a 12 do Código Penal

Esses artigos tratam de princípios gerais e regras sobre a aplicação da lei penal:

 Art. 1º - Princípio da Legalidade: "Não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal." Este artigo estabelece o princípio da legalidade no
Direito Penal, impedindo a criação retroativa de crimes ou penas.

 Art. 2º - Retroatividade da Lei Penal Mais Benéfica: A lei posterior que favorecer o réu
aplica-se aos fatos anteriores, mesmo que já tenha havido sentença condenatória.

 Art. 3º - Territorialidade: Estabelece que a lei penal brasileira se aplica aos crimes
cometidos em território nacional.

 Art. 4º - Tempo do Crime: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou


omissão, ainda que o resultado ocorra em outro momento.

 Art. 5º - Lugar do Crime: Define que o crime é considerado praticado tanto no lugar
onde ocorreu a ação quanto onde se produziu o resultado.

 Art. 6º - Princípio da Ubiquidade: Estende a competência do local do crime para


efeitos de apuração e aplicação da lei penal.

 Art. 7º - Extraterritorialidade: Define as situações em que a lei penal brasileira se


aplica a crimes cometidos fora do território nacional, como em casos de crimes contra
a segurança nacional, contra a administração pública brasileira e outros.

 Art. 8º - Eficácia de Sentença Estrangeira: Regula a execução de sentenças penais


estrangeiras no Brasil, quando houver tratado de extradição ou reciprocidade.

 Art. 9º ao 12º: Tratam de normas complementares, como a contagem de prazo e a


aplicação de leis penais em situações especiais.

Classificação dos Crimes

1. Crimes Simples e Complexos:

 Crime Simples: É aquele que possui apenas uma conduta e protege um único bem
jurídico. Exemplo: furto (art. 155 do CP), que atenta contra o patrimônio.
 Crime Complexo: É aquele que resulta da fusão de dois ou mais crimes em um só tipo
penal. Um exemplo clássico é o roubo (art. 157 do CP), que combina a subtração
(furto) com a violência ou grave ameaça (lesão à integridade física ou liberdade).

2. Crimes Instantâneos, Permanentes e Instantâneos de Efeitos Permanentes:

 Crime Instantâneo: Consuma-se em um único momento, com a realização completa


da conduta. Exemplo: homicídio (art. 121 do CP), onde a morte ocorre em um instante.
 Crime Permanente: A consumação se prolonga no tempo enquanto persiste a conduta
do agente. Exemplo: sequestro e cárcere privado (art. 148 do CP), que perdura
enquanto a vítima está privada de sua liberdade.
 Crime Instantâneo de Efeitos Permanentes: A conduta é instantânea, mas seus efeitos
perduram. Exemplo: uma falsificação de documento (art. 297 do CP) gera um
resultado permanente, mas o crime se consuma com o ato de falsificar.

3. Crimes Materiais e Formais:

 Crime Material: É aquele em que o tipo penal exige um resultado concreto para que o
crime se consuma. Exemplo: no homicídio, é necessário que ocorra a morte da vítima
para a consumação.
 Crime Formal: O tipo penal não exige um resultado naturalístico para a consumação.
Exemplo: a extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP), em que a consumação
ocorre com o ato do sequestro, independentemente de o pagamento do resgate
acontecer.

4. Crimes Mono-ofensivos e Pluriofensivos:

 Crime Mono-ofensivo: Atinge apenas um bem jurídico. Exemplo: o furto atinge apenas
o patrimônio.
 Crime Pluriofensivo: Atenta contra dois ou mais bens jurídicos ao mesmo tempo.
Exemplo: o roubo, que atinge o patrimônio e a integridade física ou liberdade da
vítima.

5. Crimes Monossubjetivos e Plurissubjetivos:

 Crime Monossubjetivo: Pode ser cometido por um único agente. Exemplo: furto, em
que um só indivíduo pode praticar todo o ato criminoso.
 Crime Plurissubjetivo: Exige a participação de mais de uma pessoa para sua
consumação. Exemplo: a associação criminosa (art. 288 do CP), que necessita de, no
mínimo, três pessoas para sua configuração.

6. Crimes de Efeito Naturalístico e de Efeito Jurídico:

 Crime de Efeito Naturalístico: O tipo penal exige um resultado concreto, ou seja, há


um efeito tangível na realidade, como a morte em um homicídio.
 Crime de Efeito Jurídico: O foco é mais sobre a modificação da relação jurídica entre
as partes. Exemplo: a bigamia (art. 235 do CP), que afeta o estado civil do indivíduo.

7. Crimes Comuns e Próprios:


 Crime Comum: Pode ser praticado por qualquer pessoa. Exemplo: furto (art. 155 do
CP).
 Crime Próprio: Exige uma condição especial do agente para ser cometido, como no
peculato (art. 312 do CP), em que o agente deve ser funcionário público.

8. Crimes Comissivos e Omissivos:

 Crime Comissivo: Resulta de uma ação positiva do agente, ou seja, é praticado por
meio de uma conduta ativa. Exemplo: homicídio, onde há a ação de matar.
 Crime Omissivo: É praticado por meio de uma inação, ou seja, o agente deveria agir,
mas se omite. Exemplo: omissão de socorro (art. 135 do CP), onde o agente não presta
socorro quando deveria.

9. Crime Omissivo por Comissão:

 Também chamado de crime comissivo por omissão, é quando o agente responde por
um crime ativo (comissivo) por não ter cumprido um dever de agir. Para que esse
crime se configure, o agente precisa ter uma posição de garante (dever jurídico de
agir). Exemplo: um pai que, por omissão, permite que o filho morra afogado, quando
tinha o dever de salvá-lo.

1. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (art.


1º, III, da Constituição Federal) e norteia todo o sistema jurídico. No Direito Penal, esse
princípio proíbe a aplicação de penas cruéis, desumanas ou degradantes. O tratamento do
condenado deve sempre respeitar sua condição de ser humano, garantindo a ele direitos
fundamentais, mesmo durante o cumprimento da pena. Penas como a de morte (exceto em
caso de guerra) e tortura são vedadas, refletindo o respeito à dignidade.

2. Princípio da Culpabilidade

O princípio da culpabilidade garante que ninguém será punido sem que tenha agido com dolo
(intenção) ou culpa (negligência, imprudência ou imperícia). Ele é uma limitação à imposição
de penas, proibindo a punição baseada apenas no resultado do crime, sem considerar a
vontade ou a negligência do agente. Em resumo, sem a prova de culpa, não há pena.

3. Princípio da Irretroatividade da Lei Penal

Estabelecido no art. 5º, XL da Constituição e no art. 2º do Código Penal, a irretroatividade


impede que uma lei penal mais severa seja aplicada a fatos ocorridos antes de sua vigência.
Apenas a lei penal mais benéfica ao réu (novatio legis in mellius) pode retroagir para atingir
crimes anteriores à sua promulgação. Esse princípio busca garantir a segurança jurídica e evitar
punições arbitrárias.

4. Princípio do In Dubio Pro Reo

Esse princípio impõe que, em caso de dúvida insuperável sobre os fatos durante o processo
penal, deve-se decidir a favor do réu. O ônus da prova é de quem acusa, e, se houver dúvida
razoável quanto à culpabilidade do acusado, o juiz deve absolver. É uma manifestação do
princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII da Constituição Federal.

5. Princípio da Individualização da Pena


Esse princípio garante que a pena aplicada seja ajustada às peculiaridades do crime e do
criminoso. Previsto no art. 5º, XLVI da Constituição Federal, a individualização ocorre em três
fases:

 Legislativa: O legislador define o tipo penal e a pena mínima e máxima para o crime.

 Judicial: O juiz, ao proferir a sentença, ajusta a pena de acordo com a gravidade do


crime e as circunstâncias pessoais do réu.

 Executória: Durante a execução da pena, medidas como progressão de regime e


indulto podem ser aplicadas conforme o comportamento do condenado.

6. Princípio da Territorialidade

O princípio da territorialidade (art. 5º do Código Penal) estabelece que a lei penal brasileira é
aplicada a crimes cometidos dentro do território nacional. Esse princípio garante a soberania
do Estado brasileiro sobre os crimes ocorridos em seu território, salvo exceções específicas
previstas na lei, como nos casos de extraterritorialidade (art. 7º do CP).

7. Princípio do Nemo Tenetur Se Detegere

Esse princípio estabelece que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo, o que
inclui o direito ao silêncio e a não autoincriminação. Está relacionado ao direito de defesa e à
garantia de não ser coagido a confessar crimes. Na prática, significa que o acusado não precisa
confessar nem cooperar com a produção de provas que possam prejudicá-lo.

8. Princípio da Insignificância

O princípio da insignificância exclui a tipicidade material de condutas que, embora


formalmente configuradas como crime, não causam lesão relevante ao bem jurídico protegido.
Em outras palavras, a aplicação desse princípio impede que fatos de pequena relevância sejam
tratados como crimes, desde que a lesão ao bem jurídico seja mínima e não afete
significativamente a sociedade. Um exemplo típico é o furto de objetos de valor ínfimo.

9. Princípio da Adequação Social

Esse princípio sugere que condutas que, apesar de tecnicamente configurarem crimes, são
aceitas ou toleradas pela sociedade, não devem ser punidas. Ele reflete a evolução dos
costumes e das práticas sociais, afastando a intervenção penal em situações que não
apresentam efetiva reprovabilidade social, mesmo que formalmente sejam ilícitas.

10. Princípio da In Malam Partem

Esse princípio se refere à impossibilidade de retroatividade de uma lei penal mais severa. Em
outras palavras, leis penais que agravem a situação do réu não podem ser aplicadas a fatos
ocorridos antes de sua vigência. Isso reforça a proteção contra a arbitrariedade e garante que
ninguém seja punido de forma mais severa em virtude de mudanças na legislação posterior ao
fato.

11. Princípio da Ultraatividade da Norma Mais Benéfica

A ultraatividade da norma mais benéfica ocorre quando uma lei penal mais favorável ao réu
continua a ser aplicada, mesmo após sua revogação. Isso significa que, se uma lei posterior
mais severa entrar em vigor, a lei anterior, mais benéfica, continuará a ser aplicada aos fatos
ocorridos enquanto ela ainda estava em vigor. Esse princípio protege o réu contra a aplicação
de leis mais rigorosas, assegurando que ele seja julgado conforme a norma mais favorável,
mesmo que ela já tenha sido substituída.

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