Filosofia Conhecimento Humano e Linguagem

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Filosofia

CONHECIMENTO,
CONSCIÊNCIA HUMANA,
LINGUAGEM E VERDADE
APRESENTAÇÃO

P rezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) a este curso de Nivelamento de Filosofia!


Espero que goste do conteúdo e que o conhecimento construído possa ser útil na
prática de seus relacionamentos interpessoais e profissionais.
Penso que a Filosofia concebida como uma maneira de viver lhe abrirá novos caminhos e em
várias direções, aumentando a sua vontade de aprender e construir novos conhecimentos!
O conteúdo será dividido em sete módulos, que tratam dos seguintes temas: tipos de
conhecimento; o surgimento da filosofia; filosofia fora do eixo Europa – EUA; Filosofia
clássica (Sócrates, Platão e Aristóteles); Filosofia Pós-Moderna; Liberdade, Ética e
Determinismo Social; Filosofia e Política.
A intenção, durante o curso, é proporcionar um ambiente reflexivo, que favoreça a
construção de um novo saber, sem convicções preconcebidas, porém, mantendo o
respeito às crenças e opiniões individuais.

Qual é o sentido de se estudar Filosofia hoje? Filosofar hoje é pensar


criticamente sobre o pensamento. É um modo de vida:
Imaginamos ser possível um ensino de filosofia para jovens que
[...] seja um ensino que se desenvolva de maneira tal que leve ao
desenvolvimento de uma disciplina filosófica no pensamento. Além da
forma de pensar da ciência, para a qual treinamos tão bem os jovens,
além da lógica do mercado, de suas seduções, do marketing; para
além das tradições e do senso comum, apresentar aos jovens e dar
oportunidades de ensaiarem uma outra forma de pensar: a filosófica.
A partir das suas questões, dos problemas da vida, hoje, apresentar
filosofias criadas na história, ensinar a ler os textos dos filósofos,
ensinar a reconhecer como se compõem os discursos, como a filosofia
opera uma síntese da cultura em cada época de forma conceitual, criando
saídas para os problemas dos homens. Encorajá-los a ensaiar esses
discursos, que tentem, eles também, criar composições filosóficas,
usando conceitos filosóficos, em resposta a seus problemas; o que
vale dizer: ensaiar a criação filosófica. Criação de subversões. Esse
ensino, sendo gerador de ensaios de prática de disciplinas filosóficas
no pensamento, pode provocar ensaios de criação de si e, portanto,
de diferenças. Talvez possamos praticar um ensino que, no mínimo, e
talvez isso já seja o suficiente, se o conseguirmos, faça-os saber que é
possível criar, ainda. Que os faça sentir que [...] que a submissão não
é a única saída. Isso significa que podemos tentar reativar nos jovens a
ideia – e a prática – de que há um poder, o poder da vida, que é de cada
um, com o qual se pode criar o mundo. [...] Este ensino de Filosofia
teria de ser um modo de nos fazer lembrar do poder de criar. Fazer
resistência pela criação (GALLO;ASPIS,2010, p.103 - 104).

FUMEC VIRTUAL - SETOR DE Transposição Pedagógica Infra-Estrututura e Suporte


FICHA TÉCNICA

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diana Alvarenga Prates Coordenação


Produção de Anderson Peixoto da Silva
Coordenação Pedagógica
Design Multimídia
Assessoria ao Professor,
Coordenação AUTORIA
Assessoria ao Aluno e Tutoria
Rodrigo Tito M. Valadares
Coordenação Profa. Daniela Rezende de Oliveira
Design Multimídia
Gabrielle Nunes Paixão Adaptação: Prof. Aroldo Dias Lacerda
Alan J. Galego Bernini

BELO HORIZONTE - 2019


A curiosidade e a busca pelo conhecimento é inata ao ser humano. Todos nós sentimos
necessidade de conhecer e compreender o mundo que nos cerca!
Há conhecimentos que são adquiridos somente para satisfazer a curiosidade sobre o
que há de novo; outros são obtidos para satisfazer alguma necessidade da vida diária,
ou ainda, para desenvolver alguma habilidade que permita fazer ou utilizar algo; e há
conhecimentos para desenvolver as capacidades e qualificações profissionais.

Nesse primeiro módulo, você vai estudar o que


se entende por conhecimento, consciência
humana, linguagem e verdade, como base para
entendermos o surgimento da Filosofia.

Se você tiver curiosidade e interesse em apren-


der, pode adquirir conhecimento sobre qualquer
coisa. Então, “mãos à obra”, e vamos logo
iniciar seus estudos filosóficos!

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final do módulo, espera-se que o aluno seja capaz de:
• Compreender o que vem a ser o conhecimento humano;
• Compreender que o conhecimento é adquirido e evolui ao longo da história humana;
• Identificar e relacionar os diversos tipos de conhecimento (popular, científico e filosófico).
• Compreender porque o ser humano é dotado de consciência e que pertence tanto ao mundo
sensível quanto ao mundo inteligível;
• Entender e compreender como o conhecimento é possível;
• Definir e compreender o que se entende por verdade;
• Perceber e compreender que a linguagem é instrumento fundamental para que o conheci-
mento possa ser transmitido.

Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade 9


CONHECIMENTO, CONSCIÊNCIA
HUMANA, LINGUAGEM E VERDADE
O Homem e o Conhecimento
O ser humano se distingue de todos os outros animais por ser o único que possui
racionalidade, ou seja, é o único animal que é racional.

Mas, o que é ser racional?


Ser racional é ser capaz de produzir conheci-
mento, de estudar o mundo e a natureza, para
Racional é o ser dotado de razão, ou seja, é ser
poder transformá-los, criando mecanismos
capaz de buscar o conhecimento e encontrar
para facilitar a sua vida e de toda a sociedade.
soluções para os mais diversos problemas da
vida quotidiana.

Durante o seu processo de evolução, o ser humano se diferenciou de todos os outros


animais, aprendendo a andar em postura ereta; utilizando as mãos para manipular os
mais diversos objetos; desenvolvendo a linguagem para se comunicar com os outros
seres humanos e transmitir os seus pensamentos (utilizando-se de imagens e desenhos,
símbolos, expressões faciais, corporais e orais, bem como por meio da escrita); e
desenvolvendo meios para a sua sobrevivência (como a agricultura e criação de animais).

O ser humano é o único capaz de expressar e transmitir os seus pensamentos de uma


forma lógica. Por isso, ele é o único ser capaz de produzir e transmitir conhecimentos.

10 Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade


REFLITA
Você sabe dizer o que é conhecimento?

Conhecimento é todo ato que leva a conhecer, que permite tomar consciência de alguma
coisa. É o ato que faz com que você possa trazer à sua mente alguma coisa, de modo que
possa compreendê-la e analisá-la.

Ao adquirir o conhecimento, você passa a ter uma ideia ou noção de algo que se coloca
à sua frente, para poder, a partir desse ato, descrever, pensar e refletir sobre o objeto a
ser conhecido. Por isso, o conhecimento inclui instrução, informação, conceitos, teorias,
hipóteses, princípios e procedimentos.

É importante saber, ainda, que todo conhecimento humano é feito a partir de três
elementos:

• um sujeito (ou, sujeito cognoscente): é o indivíduo que se propõe e tem a capacida-


de para conhecer e adquirir conhecimento sobre alguma coisa;
• um objeto (ou, objeto cognoscível): é tudo aquilo que pode ser conhecido ou que se
consegue conhecer e compreender;
• um ato ou atividade: é a atitude ou conduta do sujeito diante do objeto a ser
conhecido e estudado.

Portanto, sempre que você se propor a conhe-


cer algo deve se posicionar diante de um objeto
e tentar compreendê-lo e estudá-lo

Por exemplo, aqui você é o sujeito cognoscente (que busca


conhecer) e a Filosofia é o seu objeto cognoscível (é aquilo
que está sendo conhecido), e a leitura e o estudo da matéria
são as atividades (atos) que você (sujeito) desenvolve para
compreender o seu objeto.

O conhecimento humano é dividido em uma série de categorias, como por exemplo:

comum entre seres humanos e animais, obtido por meio do uso dos instintos e
conhecimento sensorial
sensações
obtido por meio do raciocínio e da reflexão. Nesse caso, somente o ser humano
conhecimento intelectual
possui conhecimento intelectual, porque apenas o ser humano é racional
obtido na vida quotidiana, por meio da observação do mundo e da vida em
conhecimento popular
comunidade
obtido por meio de análises científicas, baseado em provas, procedimentos e
conhecimento científico
metodologias
que surge a partir de nossos pensamentos e reflexões,
conhecimento filosófico
ligado à construção de ideias, conceitos e teorias

conhecimento teológico adquirido a partir da fé

Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade 11


conhecimento popular
Agora vou apresentar o (ou, conhecimento vulgar, ou simplesmente, senso comum);
Conhecimento Intelectual.
conhecimento científico e
Ele se divide em três cate-
gorias básicas: conhecimento filosófico.
Na sequência irei detalhar cada um deles.

CONHECIMENTO POPULAR
Por ser obtido da prática e não da teoria, este conhecimento também é chamado de conhe-
cimento vulgar ou conhecimento empírico, ou mais especificamente, senso comum (por
ser o modo de pensar da maioria das pessoas de uma determinada cultura ou localidade).

O conhecimento popular são noções usualmente admitidas pelos indivíduos como verda-
deiras porque são comprovadas por meio da observação de fenômenos e/ou aconteci-
mentos da vida quotidiana, embora não possuam nenhuma comprovação científica.

É um conhecimento adquirido pelo ser humano a partir de experiências, vivências e obser-


vações do mundo, constituindo-se de informações e ideias empíricas acumuladas ao
longo da vida e transmitidas de geração em geração. Ele não se fundamenta em méto-
dos ou experiências científicas, e nem sempre pode ser racionalmente comprovado. É
baseado na facilidade que cada ser humano tem de assimilar, espontaneamente e incons-
cientemente, informações e conhecimentos úteis ao cotidiano.

Por isso, o conhecimento popular é um conhecimento assistemático, ou seja, não possui


uma organização prévia para se chegar a uma conclusão. E é por meio dele que o ser
humano simplesmente conhece os fatos e as coisas em sua ordem aparente, pelas expe-
riências que surgem ao acaso, ou ainda, de acordo com as circunstâncias da vida.

Então, o conhecimento popular é intuitivo (ou seja, parte da observação de fatos


isolados), inexato e imediatista. Ele não possui caráter científico. Por isso,
o conhecimento popular é um conhecimento subjetivo, porque
suas conclusões dependem das percepções do sujeito que
observa ou vive a experiência.

12 Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade


Do senso comum à ciência
Tradicionalmente, afirma-se que o conhecimento científico (ou a
Ciência) e a Filosofia surgiram na Grécia Antiga, por volta do sécu-
lo VI a.C. É nesse momento que o ser humano busca encontrar
explicações lógicas e científicas para as diversas questões da
natureza e da vida humana. No entanto, lembro a você que as
culturas africanas, as orientais, as aborígenes da Oceania e
as dos povos ameríndios, por exemplo, construíram conheci-
mentos tão válidos quanto os dos gregos, percorrendo outros
caminhos distintos daquele do seu modelo de racionalidade..

Com o surgimento e desenvolvimento do conhecimento científico,


o ser humano foi capaz de formular hipóteses e experimentá-las
para verificar a veracidade de suas conclusões, superando, assim, as
explicações metafísicas e teológicas que até então predominavam
na sociedade.

Com o surgimento da Ciência, o mundo imóvel foi substituído


por um universo aberto e infinito, ligado a uma unidade de
leis e teorias científicas.

Você sabe o que é ciência?

O termo ciência pode ser definido como siste-


ma de informações, dados, conclusões
e teorias rigorosamente demonstra-
das, invariáveis e gerais. É todo
tipo de conhecimento baseado
em demonstração e experimen-
tação, pois as verdades científi-
cas somente são admitidas se
puderem ser comprovadas.

Por isso, a Ciência se faz


mediante o emprego de
métodos e pesquisas que
são capazes de comprovar
e atestar, de forma univer-
sal, as informações e as
conclusões obtidas por
meio de demonstração e
experimentação..

Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade 13


CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Conhecimento científico é toda informação e saber que parte do princípio das análises
dos fatos reais e cientificamente comprovados. Ele existe somente quando o saber é
obtido por meio de observações e experimentações capazes de atestar a veracidade ou
falsidade de determinada teoria ou conclusão.

TOME NOTA
Para que um conhecimento seja considerado científico é necessário que a razão esteja atre-
lada à lógica da experimentação e da metodologia científica.

Podemos concluir, então, que o conhecimento científico vai além do conhecimento empí-
rico (popular) porque permite que o objeto pesquisado seja observado para além das
aparências, de forma que se possa compreender as causas e leis que regem cada um dos
fenômenos da natureza ou da vida humana.

Nesse sentido, o conhecimento científico procura explicar os diversos fenômenos da


natureza e da vida humana de forma sistematizada e racional (lógica). Ele objetiva ser um
saber raciocinado, exato e reflexivo, baseado em estudos coordenados e pautados por
métodos e procedimentos (pesquisa).

Enfim, o conhecimento científico é um conhecimento objetivo porque não varia de cultura


para cultura, e nem é relativo ao ponto de vista do observador.

Mas, quais são os objetivos do conhecimento científico?

O conhecimento científico, ou ciência, tem dois grandes objetivos:

1. facilitar a compreensão e o entendimento de certos aspectos da natureza ou da vida


humana, explicando-os de maneira rigorosa, gerando informações e conhecimentos
precisos e universais;
2. permitir que o ser humano seja capaz de dominar, ou ainda, exercer domínio sobre
a natureza.

Contudo, o conhecimento científico também é falível, isto é, a verdade científica muitas


vezes é uma verdade provisória. Isso significa que as conclusões e teorias científicas não
são perfeitas e definitivas, pois podem ser contestadas e substituídas por outras teorias,
a partir de novas comprovações e experimentações científicas.

CONHECIMENTO FILOSÓFICO
O conhecimento filosófico, ou Filosofia, é todo tipo de conhecimento humano que visa
compreender a realidade, no sentido de apreendê-la em sua totalidade, cuidando e refletin-
do acerca dos problemas mais gerais da vida humana. Ele surge a partir da capacidade de
raciocínio e reflexão do ser humano, que busca ao longo de sua existência compreender
e refletir sobre o sentido geral do universo e da vida.

Este conhecimento parte dos questionamentos e reflexões que você faz ao longo do seu
dia a dia, na tentativa de encontrar soluções para os mais diversos problemas da vida
humana. O conhecimento filosófico se ocupa de questionar, refletir e criticar o relaciona-
mento do indivíduo com o meio em que está inserido.

Ele é racional e não se fundamenta em experimentações, considerando que não se preocupa


em comprovar cientificamente a validade de suas teorias e conclusões. Por isso, o conhe-
cimento filosófico ultrapassa os limites impostos pela Ciência e seus métodos científicos.

14 Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade


O objeto da investigação filosófica são as ideias e as reflexões, e é com base no pensa-
mento crítico-reflexivo que os filósofos encontram respostas e soluções para os diversos
problemas e dilemas da vida humana.

A Filosofia não busca verdades absolutas, uma vez que sua finalidade é discutir e refletir
sobre os problemas humanos. Por isso, para a Filosofia, a reflexão e o debate de ideias é
mais importante do que a busca por teorias e soluções de problemas.

ATENÇÃO
O objetivo do conhecimento filosófico é fornecer ideias e conteúdos que transformem a realida-
de humana por meio de questionamentos e reflexões sobre o homem e as coisas da vida social.
Nesse sentido, a Filosofia está num ponto intermediário entre a Teologia e a Ciência.

Qual a diferença entre filosofia e teologia?


A Teologia é o estudo sobre a existência de Deus e das questões referentes à fé e à divinda-
de. Por isso, o conhecimento teológico gira em torno de especulações sobre assuntos que
o conhecimento científico não conseguiu obter. Ao contrário da Ciência, a Teologia apela
mais à autoridade da tradição, da revelação e dos livros sagrados do que à razão humana.

Assim, toda crença em divindades e poderes sobrenaturais pertencem à Religião. Todo


conhecimento objetivo, exato e definido pertence à Ciência. E, desse modo, a Filosofia se
torna uma alternativa entre o conhecimento científico e o religioso (especulativo).

Para que serve a filosofia?


A Filosofia procura conhecer a origem dos problemas humanos e criar para eles respostas
racionais baseadas em provas especulativas. A Filosofia é uma forma de conhecimento
voltado para a reflexão e crítica dos fundamentos do conhecimento humano.

Além disso, o conhecimento filosófico distingue-se do conhecimento científico pelo objeto


de investigação e pelo método. Os objetos da Ciência são os dados da realidade, imediatos
e perceptíveis pelos sentidos ou por instrumentos. Por serem objetos materiais/reais ou
físicos, são suscetíveis de experimentação. Por outro lado, o objeto de estudo da Filosofia é
constituído de realidades mediatas e não perceptíveis pelos sentidos. Sua finalidade é esti-
mular o pensamento e a reflexão humana acerca das coisas do mundo e da vida, para que
possamos compreender porque as coisas e os seres humanos são como eles são.

Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade 15


Consciência Humana, Linguagem e Verdade
A racionalidade permite que todo ser humano tenha capacidade de consciência, isto é,
que sejamos capazes de perceber que somos um ser do mundo e no mundo. Ao criar e
desenvolver o pensamento filosófico e científico, nos preocupamos, também, em enten-
der como o conhecimento é possível e qual a origem de todo o conhecimento. Além
disso, o conhecimento faz surgir em cada um de nós a necessidade de buscar certezas e
verdades para um mundo que nos traz muitas dúvidas e insegurança.

Ao perceber que a racionalidade nos permite adquirir inúmeros conhecimentos e certezas,


nos deparamos com a necessidade de transmitir tudo o que conhecemos, pensamos e
sentimos aos outros seres humanos. Por isso, desenvolvemos a linguagem, fazendo com
que a transmissão de conhecimentos seja possível.

A seguir, vamos compreender o que se entende


por consciência humana, verificar como é possível
o conhecimento e sua origem, bem como se ele
é capaz de atingir a verdade sobre as coisas que
se propõe a investigar e conhecer. Estudaremos
também a linguagem como instrumento de trans-
missão dos conhecimentos, pensamentos e senti-
mentos humanos.

16 Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade


O homem: ser sensível e inteligível
O homem é um ser racional e é, ao mesmo tempo, um ser sensível e inteligível. Sensível
porque é capaz de perceber e conhecer o mundo por meio dos sentidos. Inteligível porque
é dotado de racionalidade, possui inteligência e capacidade de conduzir suas ações para
produzir determinados resultados.

O ser humano não é apenas um ser do mundo, mas um ser no mundo. Ao contrário dos
outros animais, somos dotados de consciência – ou seja, somos capazes de ter ciência
(conhecimento) de nossa própria existência, bem como da existência da realidade que nos
cerca e da existência do outro.

Por sermos dotados de consciência, somos sujeitos do conhecimento (temos capacidade de


representar, ou seja, de fazer com que a realidade se faça presente em nossa mente). Além
disso, somos capazes de transmitir o que sabemos e pensamos aos outros seres humanos.

A racionalidade é o que permite ao ser humano não somente viver na natureza, mas
também o torna capaz de compreendê-la, estudá-la e transformá-la de acordo com as
suas necessidades e conveniências.

O ser humano é, também, um ser histórico e cultural. É histórico porque evolui com o
passar do tempo, sendo capaz de relembrar o passado e projetar a sua vida para o futuro,
construindo o seu próprio destino. Do mesmo modo, é um ser cultural por ser capaz de
modificar e transformar o mundo da natureza, exercendo o seu domínio sobre ele – ou
seja, o ser humano é capaz de produzir cultura.

Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade 17


Devemos entender a Cultura como o conjunto de conhecimentos (popular, científico e
filosófico) desenvolvidos pelo ser humano, bem como os elementos sociais, artísticos,
morais e religiosos adquiridos ao longo da História. Cada sociedade possui a sua cultura
(seus elementos intelectuais, suas artes, língua, hábitos, costumes, valores e tradições)
que é passada de geração para geração, e que reflete a forma como o mundo é percebido
e interpretado por cada um dos indivíduos que a compõe.

Somos, também, seres sociais e políticos, porque não conseguimos sobreviver fora da
sociedade e necessitamos do outro para compartilhar conhecimentos, sentimentos e
emoções. Somos políticos porque nos preocupamos com as questões sociais e buscamos
contribuir para o desenvolvimento e bem-estar da sociedade a qual pertencemos.

A racionalidade também permite que o ser humano tenha consciência de sua liberdade,
ou seja, que ele saiba que é um ser livre e autônomo. A consciência da liberdade nos
permite viver de acordo com nossas próprias escolhas e determinações, ao contrário dos
outros animais, que agem por instinto de sobrevivência e/ou por programações biológicas
hereditárias.

A partir dessas reflexões, podemos concluir que o ser humano é um animal diferente
de todos os demais, porque participa tanto do mundo da natureza (o dado), quanto do
mundo da cultura (o construído). Somos capazes de interagir com a natureza, adquirindo
conhecimentos por meio dela e a modificando de acordo com nossas necessidades e
interesses. Além disso, temos consciência da existência do outro, percebendo que não
estamos sozinhos no mundo e que precisamos do outro para aprimorar, adquirir e trans-
mitir conhecimentos, bem como para desenvolver nossa afetividade e sociabilidade.

18 Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade


O conhecimento e a busca pela verdade
A busca pelo conhecimento faz com que estejamos, também, sempre em busca da verda-
de. Ela faz com o que ser humano passe a investigar se o conhecimento é possível e se
existe alguma verdade que possa ser considerada absoluta e universal. Por isso, a busca
pela origem (ou fonte) do conhecimento e a investigação acerca da verdade é uma das
maiores preocupações da Filosofia.

TOME NOTA
A Teoria do Conhecimento (também chamada de Epistemologia ou Gnoseologia), é a parte
da Filosofia que estuda a possibilidade, a origem e a estrutura do conhecimento, abrangendo
a crítica e a lógica

Em Filosofia, devemos entender a verdade como aquilo que corresponde e/ou se identi-
fica com o real (concreto ou abstrato), ou com a razão de ser das coisas. É aquilo que é
idêntico ao ser em si (ou seja, que é, independente do conhecimento).

Quando analisamos o conceito de verdade, nos deparamos com um problema filosófico,


uma vez que, embora o objetivo da Filosofia seja buscar o conhecimento e a verdade, a
atitude filosófica determina que sempre devemos questionar as certezas e crenças que
nos são impostas, pois nenhuma verdade é totalmente correta e incontestável.

Por isso, em se tratando de verdade, devemos evitar toda forma de dogmatismo (crença
na existência de verdades incontestáveis e universais). Isto porque, toda postura dogmá-
tica nos conduz a atitudes conservadoras, causando obstáculos à
reflexão crítica, podendo nos levar, inclusive, ao fanatismo.

Embora não haja um único conceito para o que seja a


verdade, podemos afirmar que ela representa tudo
aquilo que é evidente à razão, ou seja, tudo que
pode ser verificado com rigor, lógica e exati-
dão. Ela é algo que corresponde à reali-
dade (concreta ou abstrata) do objeto
investigado e que, em regra, permane-
ce inalterável e é aceita por todos.

De acordo com a Teoria do


Conhecimento, a possibilidade e
a origem do conhecimento, bem
como a forma como a verdade é
tratada – ou seja, se a verdade
corresponde a um conceito abso-
luto e universal no tempo e no
espaço; ou se ela é um conceito
que varia de sujeito para sujeito,
sendo algo provisório e relativo –
nos remete a três tendências filosó-
ficas distintas: o dogmatismo, o ceti-
cismo e o criticismo.

Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade 19


Dogmatismo é a corrente filosófica que defende a possibilidade de atingirmos a verdade
absoluta e universal. Isto é, no dogmatismo há a crença e certeza inabalável de que o conhe-
cimento é possível e que as verdades obtidas por meio dele são incontestáveis e invariáveis.

O dogmatismo se fundamenta no Racionalismo (em especial, no Racionalismo de


Descartes), que afirma que a origem e fonte de todo o conhecimento está, exclusivamen-
te, na razão e na consciência humana. Em outras palavras, para os racionalistas a razão
seria a única fonte de conhecimento válido.

Em oposição ao dogmatismo, o ceticismo afirma que tudo é ilusório e passageiro, inclu-


sive a verdade. Para os ceticistas, o ser humano jamais seria capaz de atingir a totalidade
do conhecimento. A verdade seria, então, uma certeza apenas provisória e suscetível de
reajustes, modificações e até substituições.

O ceticismo encontra suas bases no Empirismo (em especial, no pensamento filosófico


de John Locke, George Berkeley e David Hume), que defende que o conhecimento surge
a partir dos sentidos e da experiência sensorial, fazendo com que a verdade a respeito
de qualquer coisa seja limitada no tempo e no espaço (ou seja, a verdade seria apenas
uma certeza provisória). Isso porque, sendo os sentidos e a experiência a fonte de todo
o conhecimento, toda verdade é produto de nossas sensações e percepções, e jamais
poderemos saber o que uma coisa é em si, mas somente como ela nos parece ser.

Há diversas correntes de pensamento dentro da doutrina ceticista, dentre elas, destacam-


-se o subjetivismo, o pragmatismo e o relativismo. O subjetivismo estabelece que a verda-
de é uma relação puramente subjetiva entre o sujeito e o objeto investigado. De outro
modo, o pragmatismo acredita que a verdade é tudo aquilo que é útil e que serve aos
interesses da vida prática dos indivíduos – ou seja, a verdade é tudo aquilo que é útil e
necessário para a vida prática da sociedade. O relativismo é a corrente que defende que
não há verdades absolutas e universais, pois a verdade sempre se relaciona e é depen-
dente do sujeito do conhecimento. Para o relativismo, cada indivíduo conhece e possui
uma verdade, uma vez que cada um percebe a realidade de uma forma singular e pessoal.

Em uma posição intermediária, o criticismo, desenvolvido pelo filósofo alemão Immanuel


Kant, no século XVIII, tenta superar o dogmatismo e o ceticismo, afirmando que o conhe-
cimento é possível, embora seja limitado. Assim, essa doutrina faz da crítica do conheci-
mento o ponto de partida de suas investigações, e conclui que todo o nosso conhecimen-
to depende de fatores subjetivos.

Nessa perspectiva, Kant demonstra que o conhecimento é possível e que ele se inicia com
a experiência (por meio dos sentidos), embora nem sempre o conhecimento possa ser
obtido exclusivamente na experiência, uma vez que é a razão que faz a mediação entre a
realidade e a consciência.

Para Kant, razão e sensibilidade são essenciais para que o conhecimento Juízo
seja possível e para que a verdade possa ser alcançada. Do mesmo modo, É toda ação racional que une
a verdade pode ser obtida a partir da relação entre juízos analíticos (que um conceito a outro, afirmando
independem da experiência, pois se expressam por meio de operações pura- ou negando a conveniência
ou a relação entre eles.
mente intelectuais), e sintéticos (partem da estrutura e experiência de fenô-
menos sensoriais).

20 Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade


O homem e a linguagem
De nada adiantaria sermos sujeitos do conhecimento, se o saber não pudesse ser trans-
mitido aos outros seres humanos através dos tempos, pois o conhecimento deve ser
compartilhado para que toda a sociedade possa evoluir. Por isso, a racionalidade humana
desenvolveu a linguagem, para que o pensamento e o conhecimento pudessem ser social-
mente transferidos e compartilhados.

A linguagem é a capacidade que todo ser humano possui de se expressar e comunicar


seus pensamentos, conhecimentos e sentimentos. Por isso, onde há comunicação, há
também a linguagem.

Você deve estar se perguntando se


os outros animais também não se
comunicam, não é mesmo?

Pois bem! Os animais irracionais, quando se comu-


nicam, expressam e/ou reagem a estímulos
presentes no meio ambiente, mas não fazem
isso para transmitir conhecimentos.

Quando um cão late, ele está apenas reagindo a algum estímulo (indicando a presen-
ça de um estranho ou manifestando alegria pela chegada de seu dono, por exemplo).
Nesse sentido, os animais irracionais se comunicam devido a uma programação biológica
(reações meramente mecânicas) ou em razão de algum tipo de adestramento.

Por outro lado, nós humanos, utilizamos a linguagem para transmitir conhecimentos e
pensamentos. A linguagem permite que nos distanciemos da realidade concreta e repre-
sentemos qualquer objeto ou ideia em nossa consciên-
cia. Por exemplo, quando digo a palavra “rosa”, a pessoa Tenho certeza de que
com quem converso, imediatamente, imagina uma rosa, você também conse-
ainda que não tenha visto a rosa que eu descrevi. Isso guiu imaginar uma
ocorre porque a linguagem permite que a imagem da rosa na sua frente,
rosa se torne presente na consciência da pessoa com não é mesmo?
quem converso.

Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade 21


Então, por meio da linguagem podemos comunicar pensamentos concretos (quando ocor-
re a representação de objetos reais – imediatos e sensíveis), e também, abstratos (não
perceptíveis pelas sensações e intuições, mas somente por meio da racionalidade). Um
dragão, por exemplo, é algo que somente pode ser pensado abstratamente, já que não
existe no plano concreto. Contudo, por meio da linguagem ele pode ser pensado e comu-
nicado, de modo que todos saibam o que ele é.

Em nossa comunicação diária, utilizamos vários tipos de linguagem, dentre elas: sinais,
gestos, sons, imagens e símbolos (sinais/signos arbitrários e convencionais) capazes de
representar e comunicar conhecimentos.

A linguagem verbal, ou seja, aquela que faz uso das palavras para expressar os pensa-
mentos, é a mais utilizada em nosso quotidiano. As letras do alfabeto e as palavras são
símbolos desenvolvidos pela linguagem para dar significado para a realidade (seja ela
concreta ou abstrata).
Signo
Quando a linguagem verbal é desenvolvida, há um ato arbitrário e uma acei- É a relação arbitrária e convencional
tação social de que um determinado signo é suficiente para representar uma entre um significado e um
ideia ou objeto. significante, de modo que uma
palavra ou conceito corresponda
Por exemplo, quando digo a palavra “gato”, por convenção a uma imagem sonora ou visual.
social e em razão de nosso idioma, a imagem de
um determinado animal (o gato) é representa- da em
nossa consciência. Isso quer dizer que, por um ato
arbitrário, foi estabelecido em nosso idioma que a
junção das letras “G”, “A”, “T” e “O”, nessa ordem
de combinação, formam a palavra gato (inclusive, com
a sonoridade que ela possui quando pronunciada). Essas
letras, dispostas nessa ordem, simbolizam graficamente o
animal mencionado e que pode ser (re)presentado em nossa
consciência.

De outro modo, a palavra “katze”, que significa “gato”, nada


significa nem representa para as pessoas que não conhecem o
idioma alemão. Sabe por que isso acontece? Porque o signo (repre-
sentação gráfica) “katze” não tem nenhum significado para os indiví-
duos que não conhecem a língua alemã. Isso quer dizer que, embora a
linguagem simbólica seja fruto de um ato arbitrário, ela deve ser socialmente
aceita e compreendida (como também, ensinada), para que possa ser utilizada
pelos membros da sociedade a que se dirige.

Do mesmo modo, por causa da linguagem e pela necessidade de transmissão dos pensa-
mentos, é que damos um nome para tudo o que existe (seja no plano real ou abstrato).
É por meio do nome que somos capazes de trazer à nossa consciência (representar)
qualquer objeto que esteja sendo pensado e/ou comunicado. Atribuímos um nome para
tudo o que existe, uma vez que somente aquilo que possui um nome também pode ser
representado (trazido à consciência).

22 Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade


Além disso, toda linguagem verbal possui regras e mecanismos para que os signos sejam
adequadamente combinados e ordenados, de modo a poder expressar o pensamento. Por
exemplo: a frase “Chão no caiu menino o” é desprovida de sentido porque as palavras
estão fora da combinação e ordem estipulada pela nossa linguagem e idioma. Contudo,
se ordenarmos as palavras de acordo com as regras da linguagem, elas adquirem sentido
e expressam uma informação, veja: “O menino caiu no chão”.

Podemos concluir que é a linguagem que nos permite projetar o pensamento no passado,
no presente e no futuro. Ela permite que pensamentos, conhecimentos e sentimentos
sejam transmitidos de um indivíduo ao outro, de geração para geração.

Conhecimento, Consciência Humana, Linguagem e Verdade 23


Síntese
Neste módulo, você viu que o homem é o único ser racional e, por isso, o único capaz
de produzir e transmitir conhecimentos. Conheceu várias categorias de conhecimento: o
sensorial e o intelectual.

Viu também que o conhecimento intelectual pode ser de vários tipos: popular, científico
e o filosófico.

E que, desde sempre, o ser humano tem criado e desenvolvido técnicas e instrumentos
para facilitar a sua vida quotidiana. A busca pelo conhecimento está presente em todo ser
humano, e é a curiosidade que nos permite querer aprender sempre mais! É da natureza
do ser humano procurar explicações para os fenômenos naturais e da vida social.

O ser humano está sempre em busca de respostas para as questões que afligem o seu
espírito, como explicações para a vida e para a morte, ou ainda, tentando compreender
qual o verdadeiro sentido da vida! É a Filosofia que nos dá as ferramentas necessárias
para que essas respostas sejam encontradas!

Também entendemos que o ser humano pertence a dois mundos: o sensível e o inteligí-
vel. Por isso, é o único ser dotado de consciência, uma vez que percebe não apenas a
sua própria existência, mas, também, o mundo que o cerca e a presença de outros seres
humanos.

Estudamos ainda, que a consciência nos leva a refletir se o conhecimento é realmente


possível e, ainda, faz com que queiramos encontrar a origem de todo o conhecimento.
Por meio da racionalidade, percebemos que o conhecimento é possível e que a sua origem
está tanto na experiência quanto na razão. Por isso, somos capazes de conhecer e apren-
der não apenas por meio dos sentidos e das experiências quotidianas, mas também por
meio do uso da razão.

Para que o conhecimento e a verdade (seja ela absoluta ou relativa) possam ser trans-
mitidos, a linguagem se torna instrumento essencial para o desenvolvimento e evolução
humana. É por meio da linguagem que podemos expressar nossas reflexões, nosso modo
de ser e de pensar, nossos conhecimentos e sentimentos. É a linguagem que permite que
a comunicação e as relações humanas sejam possíveis.

Bons estudos!

Referências
ARANHA, M. L. A. de; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:
Moderna, 2009.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. São Paulo: Saraiva,
2005.

GALLO, S.; ASPIS, R.L. Ensino de Filosofia e cidadania nas “sociedades de controle”:
resistência e linhas de fuga. In: Pro-Posições, Campinas, v.21, n.1 (61), p. 89 – 105, jan/
abr. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v21n1/v21n1a07.pdf Acesso em:
05.ago.2019.

GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. Introdução à Filosofia. São Paulo: Manole, 2003.

MATTAR, João. Filosofia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.

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