Conceito e Tipos de Conhecimento

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Conceito e tipos de conhecimento

Metodologia Científica e da Pesquisa 47

Caroline da Graça Jacques


Guiomar da Rosa Bortot
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Imagine-se na seguinte situação: uma terrível dor de estômago invadiu seu corpo bem
no dia da prova mais importante do semestre. Ao perguntar para sua avó sobre um
chá que possa lhe ajudar, sua avó lhe auxilia, curando seu mal-estar rapidamente. A
resposta que lhe trouxe alívio esteve baseada em quê? Como a sua avó poderia ter
esse conhecimento sem ser médica? Será que o conhecimento dela tem o mesmo
valor que aquele das ciências médicas? Será que um faz mais sentido que o outro?
Afinal, que tipos de conhecimentos existem para uma sociedade, para uma cultura?

Se você perguntar para um pescador se haverá peixe, ele conseguiria lhe dizer apenas
olhando para o mar? Por quê? Um agricultor, que não frequentou a escola, sabe em
que época deve plantar o milho? E um agrônomo que estudou sobre a melhor época
de plantar milho terá um conhecimento melhor que o do agricultor?

Estas respostas serão explicadas no decorrer de nosso texto, vejamos então...

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Conhecimento é uma necessidade básica do ser humano, portanto, inerente a sua
evolução. Assim, o conhecimento tem por função principal oportunizar ao homem
uma melhor qualidade de vida. O homem não é um ser passivo, ele está sempre em
busca de respostas aos fenômenos para intervir na sua realidade. Dentre os animais,
o homem é o único que consegue elaborar, transformar e produzir conhecimentos.
O homem cria artefatos para garantir melhores condições de sobrevivência e possui
a capacidade mental de entender a importância de armazená-los para o seu próprio
futuro, sua própria reprodução social. Cada geração assimila a herança cultural de
seus antepassados e estabelece projetos de mudança para o futuro.

Assim, segundo Cervo e Bervian (2002, p. 6), “conhecer é uma relação que se esta-
belece entre sujeito que conhece e o objeto conhecido.”

Cabe também distinguir termos como conhecimento científico e informação. A informa-


ção é um dado pronto que adquirimos a partir do acesso a fontes diversas. O conheci-
mento, por outro lado, é resultado de um processo de pesquisa, que é sistemático e se-
gue critérios definidos. O conhecimento, portanto, auxilia-nos a compreender e explicar
um novo fenômeno a partir de uma metodologia de pesquisa. Vivemos na sociedade da
informação, mas ter acesso a ela, de forma desordenada, fragmentada, sem métodos
de estudos e compreensão não contribui para o aprimoramento do conhecimento.

Nesse sentido, o conhecimento pode ser classificado como sistemático e assistemá-


tico. O primeiro é quando segue uma ordem, um método. O segundo, assistemático,
é aleatório sem a utilização de critérios pré-estabelecidos.

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Os fenômenos com que nos deparamos podem ser explicados sob 4 óticas, que

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passamos a identificá-las como níveis de conhecimento, que são: Popular ou Empírico;
Teológico ou Religioso; Filosófico e Científico. Na história das sociedades ocidentais,
o conhecimento científico passou a ser institucionalizado a partir do surgimento das
Universidades Medievais e, portanto, é cronologicamente o mais recente.

Figura 1: Níveis do Conhecimento

Fonte: das Autoras adaptado de Trujillo (1974 apud LAKATOS; MARCONI, 2010).

CONHECIMENTO POPULAR OU EMPÍRICO

O Conhecimento Empírico, também chamado de Conhecimento Popular ou do


Senso Comum, é o conhecimento adquirido ao longo da vida, a partir das práticas
familiares e sociais, oriundas das experiências da cultura, ou seja, do nosso dia a
dia. Esse conhecimento pode ser considerado o primeiro, uma vez que ao nascer o
indivíduo inicia seu processo de socialização. Caracteriza-se como assistemático,
pois não segue nenhum procedimento metodológico e sua “comprovação” é baseada
nas próprias experiências. Aqui, se encontra o conhecimento que herdamos de
nossos avós e que são passados de geração a geração ou na experiência pessoal
pela vivência cotidiana. Lembra-se da história do chá que curou o mal-estar que
comentamos no início do texto? Pois bem, trata-se de um exemplo de conhecimento
empírico e, provavelmente, sua avó aprendeu os benefícios do chá com seus parentes
antepassados.

O homem que vive no meio rural vem, ao longo do tempo, baseando-se nas fases
da lua e/ou estações do ano para realizar as plantações, esse tipo de conhecimento,
proveniente de populações tradicionais, se caracteriza como Conhecimento Empírico.
Contudo, o fato de não ser resultante de experiências/pesquisas em academias/
Instituições, não quer dizer que não é importante, pois muitas das pesquisas científicas
têm por base o conhecimento popular.

O Conhecimento Empírico, segundo Ander Egg (1978 apud LAKATOS; MARCONI,

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2010), apresenta as seguintes características: Superficial; Sensitivo; Subjetivo;
Assistemático; Acrítico.

CONHECIMENTO TEOLÓGICO OU RELIGIOSO

O Conhecimento Religioso baseia-se em uma atitude de fé, parte do princípio que


essas verdades são infalíveis e indiscutíveis. Esse conhecimento tem como princípio
a existência de um Deus ou Deuses, razão pela qual revela as verdades de forma
inquestionável e indiscutível. Trata-se de um tipo de conhecimento que é resultante da
revelação divina ou de escritas sagradas.

Enquanto característica, esse conhecimento é valorativo, inspiracional, sistemático,


não verificável, infalível e exato. Portanto, depende da formação moral e das crenças
de cada indivíduo e de cada cultura. Exemplos: acreditar que existem milagres que
podem curar doenças; acreditar em Deus; acreditar em reencarnação; acreditar em
vida após a morte, etc.

CONHECIMENTO FILOSÓFICO

A filosofia é um tipo de conhecimento que busca compreender a natureza da existência


humana, valores morais, estéticos, a formação de conceitos e modos de pensamento.
O Conhecimento Filosófico busca a razão das coisas por meio de diversos métodos,
dentre eles o método especulativo sem considerar a experimentação.

Pode-se dizer que a filosofia é uma importante fonte de conhecimento humano.


Sabe-se que, historicamente, as ciências dependem da filosofia, e nela se incluem. É
a ciência das primeiras causas e princípios. A filosofia é destituída de objeto particular,
mas assume o papel orientador de cada ciência na solução de problemas universais.
Nas palavras de Galliano (1979):

O conhecimento filosófico tem por origem a capacidade de reflexão do homem


e por instrumento exclusivo o raciocínio. [...] embora a concepção filosófica não
ofereça soluções definitivas para numerosas questões formuladas pela mente,
ela se traduz em ideologia.”(GALLIANO, 1979, p. 19).

Nesse sentido, pode-se dizer que a filosofia tem feitos próprios com características
completamente diferentes de qualquer outra edificação histórica. A filosofia engendra
uma história diferente da concebida pela história geral da humanidade, e é assim

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que deve ser tratada. Há uma história do pensamento que não se reduz à influência
sociológica, psicológica, física, materialista, política… pois,

há um devir do pensamento, que é algo misterioso, que seria preciso definir,


que faz com que, talvez, não se pense hoje da mesma maneira que há cem
anos. Processos de pensamento, elipses de pensamento, o pensamento tem
sua história. Há uma história do pensamento puro. (DELEUZE; PARNET, 2001,
p. 36).

É uma história não de feitos, mas sobretudo de perguntas, pois “se não se achou o
problema, não se compreende a filosofia e ela permanece abstrata, porque apenas se
coloca os conceitos em fila. Fazer Filosofia é restaurar os problemas na história.”
(DELEUZE; GUATTARI, 2007, p. 33).

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Este tipo de conhecimento é racional, porém elaborado a partir de investigação por


meio do método científico. Difere-se do Empírico ou Popular por ser sistemático e
metódico. A comprovação dos fenômenos ocorre por intermédio de experimentos que
explicam e validam os resultados da pesquisa.

O conhecimento científico, muitas vezes, surge a partir do conhecimento empírico ou de


conhecimentos existentes na ciência que, ainda, necessitam de maiores explicações.
A partir daí utiliza-se o método científico que parte da análise da realidade e permite
a construção de conceitos que contribuirão para estabelecer novos conhecimentos.
Nesse sentido, Appolinário (2012, p. 6) nos diz que:

É muito importante compreender que uma forma de conhecimento não é


superior a outra. De fato são complementares: muitas vezes, o conhecimento
científico depende e se origina de indagações oriundas do senso comum, o
que pode acabar resultando em alguma descoberta científica importante.

O Conhecimento Científico é objetivo, uma vez que o pesquisador deve procurar se


abster de emoções em sua experiência científica. Contudo, é importante destacar que,
o cientista tem que considerar a intersubjetividade, ou seja, a conexão existente entre
o ser humano e a realidade (objeto) que não pode ser desvinculada durante a sua
análise.

O conhecimento científico é positivo, isto é, deve ser considerado, levando em conta


a operacionalidade dos conceitos científicos, as medidas idealmente possíveis. Isso
permite considerar que o absolutismo é impraticável e que a relatividade do
conhecimento ocorre. Isso se caracteriza pela provisoriedade do conhecimento.
Nesse sentido, podemos dizer que o conhecimento é um resultado da pesquisa a
partir da verdade estabelecida pelas evidências, podendo com o passar do tempo ser
alterada ou, até mesmo, refutada.

Nesse sentido, podemos afirmar que a ciência moderna se estabelece no processo


racional, como uma construção do intelecto e não por sensações subjetivas. Trata-se
um empreendimento analítico, claro e preciso, uma vez que decompõe os fatos para
analisar e buscar a relação e a interdependência sobre a totalidade.

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Portanto, é da natureza da ciência definir com precisão os conceitos, procedimentos
operacionais a partir de uma linguagem com significados determinados no planeja-
mento. O conhecimento científico não é ambíguo, possui métodos e técnicas clara-
mente definidos de modo a reproduzi-lo. Além dessas características, o conhecimen-
to científico apresenta os seguintes elementos:

Além dos quatro níveis de conhecimento aqui apresentados, podemos considerar a


existência de mais uma dimensão. Appolinário (2012) chama a atenção para a
relevância da arte como mais um nível de conhecimento: o Conhecimento Artístico,
que abordamos a seguir.

CONHECIMENTO ARTÍSTICO

O conhecimento artístico se baseia na emoção e na intuição. Trata-se de uma


experiência de base emocional pois promove uma informação estética inesgotável;
uma forma de conhecimento essencialmente não-racional e difícil de ser capturada
pela lógica. A arte não pode ser traduzida para outras linguagens sem perda de
informação relevante. Você consegue definir com critérios racionais e metódicos a
beleza de uma obra de arte, como a de Sandro Botticeli (Itália, 1445- 1510)? Ou,
explicar a grandeza artística de Cândido Portinari (Brasil, 1903-1962).

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Neste capítulo, verificamos que existem diversos tipos de conhecimento que dão
suporte ao processo de aprendizagem dos seres humanos. O pensamento científico,
embora ocupe papel de destaque nas civilizações contemporâneas, convive com os

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demais tipos e não há uma regra que certifique a hegemonia e a superioridade da
ciência em todas as esferas da vida. De fato, o conhecimento empírico, baseado no
senso comum e na vida cotidiana, é valido porque foi testado e atestado com base
na experiência de homens e mulheres reais. Trata-se da capacidade humana de lidar
com as incertezas e, ainda assim, construir soluções viáveis.

Por outro lado, o conhecimento religioso tem o mérito de construir respostas para
aquelas perguntas que a ciência, ainda, não pode explicar. A filosofia, por sua vez,
baseia-se no pensamento racional para indagar, questionar e refletir sobre questões
existenciais e dar respostas para os dilemas da vida em sociedade. Por fim, o
conhecimento artístico nos permite perceber que a criatividade, a beleza e a emoção
são elementos centrais do espírito humano. Enfim, há diferentes formas de produzir
conhecimentos; a ciência, embora produza conhecimentos válidos e leis gerais sobre
os fenômenos, é apenas mais um pilar da aventura do intelecto humano.

REFERÊNCIAS

APPOLINÁRIO, Fábio. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. 2.ed.


São Paulo: Cengage Learning, 2012.

CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica: para uso dos
estudantes universitários. 5.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

DELEUZE, G; PARNET, C. L’Abécédaire de Gilles Deleuze. Paris: Editions


Montparnasse, 1997. Vídeo. Editado no Brasil pelo Ministério de Educação, “TV
Escola”, 2001.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Trad. Bento Prado Jr. E
Alberto Alonso Muñoz. São Paulo: Ed. 34, 2007.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia


científica. 7. Ed., São Paulo: Atlas, 2010.

GALLIANO, Alfredo Guilherme. O método científico: teoria e prática. São Paulo:


HARBRA, 1986.

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