Aula 021619123271

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BASES DA ESTIMULAÇÃO

ELÉTRICA NEUROMUSCULAR

A estimulação elétrica neuromuscular (EENM) envolve a aplicação de


estímulos elétricos intermitentes aos músculos esqueléticos com o objetivo principal
de promover contrações musculares em decorrência da ativação de fibras nervosas
musculares.
A EENM tem sido amplamente adotada na pesquisa e na prática clínica como
um método de preservação e/ou recuperação funcional tanto para indivíduos
saudáveis como para indivíduos com alguma disfunção muscular, assim como para
treinamento, buscando melhora da performance.
Porém, para uma aplicação clínica otimizada da EENM, faz-se necessário o
entendimento de alguns conceitos elementares, tais como:
• a definição e a classificação das correntes elétricas;
• a diferença entre a contração muscular voluntária e a contração gerada
eletricamente;
• os principais parâmetros elétricos;
• o posicionamento de eletrodos e dos segmentos corporais;
• a aplicação desses conceitos, a fim de se obter a melhor resposta
neuromuscular.

Dessa forma, busca-se reunir, neste artigo, um conjunto de informações


pertinentes e que possibilitarão aos leitores o entendimento desses conceitos e,
consequentemente, o uso adequado da EENM.

ESQUEMA CONCEITUAL
Conceitos relacionados às
Correntes elétricas

Definição de estimulação
elétrica neuromuscular

Contração muscular gerada por


estimulação elétrica x contração
voluntária
Formas de ondas elétricas

Classificação das correntes Duração ou largura do pulso


elétricas
Amplitude ou intensidade da
corrente
Parâmetros elétricos para uma
Curva intensidade-duração do
aplicação clínica otimizada
pulso

Tipos de eletrodos e acopladores Frequência de estimulação

Posicionamento dos eletrodos e Ciclo de Trabalho (ON/OFF) e


dos segmentos corporais modulação da rampa

Utilização de sobrecarga
progressiva

Caso clínico

Conclusão

CONCEITOS RELACIONADOS ÀS CORRENTES ELÉTRICAS

Os agentes eletrofísicos são usados pelos fisioterapeutas para tratar uma


grande variedade de condições em pessoas saudáveis ou com doenças.
Esses agentes incluem a corrente elétrica, que deve ser aplicada por
fisioterapeutas habilitados por meio de equipamentos de eletrotermofototerapia.
Alguns conceitos listados a seguir são importantes para que o fisioterapeuta
empregue os agentes eletrofísicos com maior propriedade.
A matéria é feita de átomos, sendo o átomo a menor partícula que pode ser
identificada como sendo daquele elemento. O átomo é feito de um núcleo central
carrega do positivamente (constituído de prótons (+) e nêutrons sem carga) com
partículas carregadas negativamente (elétrons (-)) orbitando ao seu redor,
lembrando um sistema solar em miniatura.
Um átomo contém a mesma quantidade de prótons e de elétrons, e, desse
modo, não há uma carga resultante. Se es se equilíbrio é alterado, o átomo tem uma
carga resultante diferente de zero, e é chamado de íon. Se um elétron é removido do
átomo, este se torna um íon positivo, e se um elétron é acrescentado ao átomo este
se torna um íon negativo.

Elétron
Órbitas

Prótron

Nêutron

Núcleo

Átomo com propriedades elétricas.


Fonte- Robinson e Snyder-Mackler (2010).

A corrente elétrica é o fluxo de carga elétrica. Carga elétrica (ou apenas


“carga”) é uma propriedade física fundamental, do mesmo modo que “massa” e
“tempo” são propriedades físicas fundamentais. A carga é a propriedade da matéria,
que é a base da força eletromagnética, e existem dois tipos de carga elétrica,
positiva e negativa. A carga é carregada pelos elétrons (carga negativa) e prótons
(carga positiva) dos átomos.
Se o átomo de um elemento perde elétrons sem mudar o número de prótons
no núcleo, ele torna-se positivamente carregado; se ele ganha elétrons, torna-se
negativamente carregado. Os átomos de elementos com excesso ou deficiência de
elétrons são chamados de íons. Os átomos que são positivamente carregados são
chamados de cátions, e os negativamente carregados são chamados de ânions.
Objetos e substâncias podem se tornar eletricamente carregados.

Carga positiva Carga negativa

Meio condutor

Neutro Neutro

Meio condutor

Cargas elétricas.
Fonte: Robinson e Snyder-Mackler (2010).

A força elétrica das partículas carregadas é transportada para outras


partículas carregadas pelo campo elétrico (E) que cada carga cria. As cargas
transmitem a força através de um campo elétrico e podem ser determinadas de
modo experimental. A força (F), expressa em coulombs (C), entre duas cargas
estacionárias, (q1) e (q2), é proporcional à magnitude e ao sinal das cargas e
inversamente proporcional ao quadrado da distância (r) entre elas: Fα (q1 x q2) / r 2.
Linhas do campo elétrico em volta de partículas carregadas opostamente.
Fonte: Robinson e Snyder-Mackler (2010).

Duas partículas de cargas opostas se atraem e duas partículas com a mesma


carga se repelem (se empurram para longe uma da outra). Assim, um elétron e um
próton são atraídos um para o outro, enquanto dois elétrons se repelem. Em torno
de qualquer partícula carregada existe um campo elétrico. Se uma carga menor, que
está livre para se mover, é colocada no campo, os trajetos por onde irá se mover
são chama dos de linhas de força (ou linhas de campo).
O campo elétrico 𝐸⃑ define-se como a força 𝐹 por unidade de carga q0.
Assim: 𝐸⃑ =𝐹 / q0.
Em alguns materiais, nos quais os átomos são ligados formando uma
estrutura tipo treliça (por exemplo, metais), a carga é transportada por elétrons. Em
materiais nos quais os átomos são livres para se moverem, a carga é transportada
por íons. Um líquido no qual os íons são os transportadores de carga é chamado de
eletrólito.
Um isolante é um mate rial que não tem condutores de carga livres e, desse
modo, é incapaz de conduzir corrente elétrica. A corrente é medida usando um
amperímetro, e a unidade em que é dada é o ampère (A). Um ampère representa 1
coulomb (C) de carga fluindo através de um ponto em 1 segundo (s).
A intensidade (I) da corrente elétrica é definida como a razão entre o módulo
da quantidade de carga (ΔQ) que atravessa certa seção transversal (corte feito ao
longo da menor dimensão de um corpo) do condutor em um intervalo de tempo (Δt).
A corrente elétrica, designada por I, é o fluxo das cargas de condução dentro de um
material. A intensidade da corrente é a taxa de transferência da carga, igual à carga
(dQ) transferida durante um intervalo infinitesimal (dt) dividida pelo tempo:
I = Q/Δt.

A Figura, a seguir, mostra a representação da corrente elétrica.

INTENSIDADE DA CORRENTE ELÉTRICA

A Intensidade da corrente
elétrica será maior quanto
mais elétrons passarem
pela secção transversa em
um intervalo de tempo.

Q
I=
Δt

Representação da intensidade de corrente elétrica.

O potencial elétrico é medido em unidades de volts (V). A diferença no


trabalho necessário para mover uma carga do infinito até um ponto, X, e aquele
necessário para movê-la para outro ponto, Y, é chamada de diferença de potencial
(d.p.) entre os dois pontos – também medida em volts.
Segundo a lei de Ohm: “A corrente fluindo através de um condutor metálico é
proporcional à diferença de potencial que existe através dele, desde que todas as
condições físicas permaneçam constantes. ” Desse modo, /∞V também pode ser
escrito como V∞I, em que a constante de proporcionalidade é a resistência (R). A
equação resultante da lei de Ohm é, portanto, V = IR.
A resistência é medida em ohms (Ω). O ohm é definido como a resistência de
um corpo de modo que uma diferença de potencial de 1 volt através do corpo resulte
em uma corrente de 1 ampère através dele. A resistência de um pedaço de fio
aumenta com seu comprimento e diminui à medida que sua área de secção
transversal aumenta. Uma propriedade chamada de resistividade é defini da como
sendo uma propriedade apenas do material, e não da forma do material.
A resistência (R) de um pedaço de fio com resistividade (p), comprimento (L)
e área (a) é dada por: R = pL/a.
A força que age sobre os elétrons é chamada de força eletromotiva ou
eletromotriz (f.e.m.), definida como a energia elétrica produzida por unidade de
carga dentro da fonte. A unidade na qual a f.e.m. é medida é o volt, pois 1 volt é 1
joule/coulomb.
Quando os elétrons fluem através de um condutor, eles colidem com os
átomos no material condutor e conferem energia a esses átomos. Isso leva ao
aquecimento do condutor. A unidade usada para medir energia é o joule (J).
A diferença de potencial é o trabalho feito por unidade de carga: volt =
joule/coulomb, e, desse modo, joule = volt coulomb.
A unidade de medida de potência é o watt (W). Potência é a taxa com que o
trabalho é feito em relação ao tempo. Assim, 1 watt = 1 joule/segundo. A partir da
definição dada, sabe-se que 1 coulomb/segundo é 1 ampère. Desse modo, portanto:
1W = 1 volt.ampère ou 1W= 1J/s. Em outras palavras, a potência elétrica
desenvolvida em um circuito é dada por: potência = VI, onde V é em volts, / é em
ampères e a potência é em watts. O símbolo VA = volt.ampère é a unidade utilizada
na medida de potência aparente em sistemas elétricos de corrente alternada.
A partir da lei de Ohm, podem ser feitas substituições nessa equação para
expressar potência em termos de diferentes combinações de V, I e R. Desse modo,
(W = VI) ou (W = I2R) ou (W = V2/R) são equações equivalentes, nas quais W é em
watts, I é em ampères, V é em volts, e R é em ohms.
Qualquer dispositivo passivo capaz de armazenar carga elétrica é chamado
de capacitor.
Um capacitor armazena carga até que possa liberá-la, tornando-se parte de
um circuito elétrico completo. Se você aplica um potencial elétrico, V, entre duas
placas de um capacitor, uma placa se torna carregada positiva mente e a outra se
torna carregada com uma carga igual, porém oposta negativa. Se um material
isolante, conhecido como dielétrico, é colocado entre as placas, a capacidade de
armazenar carga é aumentada.
Como Q é medida em coulombs e V é medi da em volts, a unidade para
capacitância é coulomb/ volt, conhecida como farad (F). Capacitância (C) é definida
como a carga (Q) armazenada por unidade de diferença de potencial através de
suas placas. Um capacitor é carregado aplicando-se uma diferença de potencial
através de suas placas. Ele é descarregado (ou seja, permite-se que a carga flua
para fora das placas) proporcionando-se uma conexão elétrica entre as placas.
Como já mencionado, corrente elétrica é o fluxo de carga elétrica ou o
deslocamento de cargas dentro de um condutor quando existe uma diferença de
potencial elétrico entre as extremidades. Nos metais, existe grande quantidade de
elétrons livres, em movimento desordenado. Quando se cria, de alguma maneira,
um no interior de um corpo metálico, esses movimentos passam a ser ordenados
no sentido oposto ao do vetor campo elétrico , constituindo a corrente elétrica.
Nas soluções eletrolíticas, existe grande quantidade de cátions e ânions
livres, em movimento desordenado. Quando se cria, de alguma maneira, um campo
elétrico no interior de uma solução eletrolítica, esses movimentos passam a ser
ordenados: o movimento dos cátions no sentido do vetor campo elétrico e o dos
ânions no sentido oposto. Essa ordenação constitui a corrente elétrica. Quando uma
corrente elétrica passa através de um condutor, parte dessa energia se converte em
calor, o que é conhecido como efeito joule.
Quando um condutor é aquecido ao ser percorrido por uma corrente elétrica,
ocorre a transformação de energia elétrica em energia térmica. Esse fenômeno
ocorre devido ao encontro dos elétrons da corrente elétrica com as partículas do
condutor. Os elétrons sofrem colisões com átomos do condutor, e parte da energia
cinética (energia de movimento) do elétron é transferida para o átomo, aumentando
seu estado de agitação e, consequentemente, sua temperatura. Assim, a energia
elétrica é transformada em energia térmica (calor).
O efeito joule pode ser medido por meio da equação: Q = I 2. R. t.
No Quadro estão resumidos os principais símbolos utilizados na eletroterapia.

Quadro
PRINCIPAIS SÍMBOLOS UTILIZADOS NA ELETROTERAPIA
Eletricidade/magnetismo Símbolo
Ampère (intensidade) A
Coulomb (quantidade) C
Carga Q
Campo elétrico
Farad (capacidade) F
Henry (indutância) H
Hertz (frequência) Hz
Intensidade (ampere) I
Joule (energia) J
Miliampere mA
Ohm (resistência) Ω
Quilojoule kJ
Quilovolt kV
Quilovolt-ampere kVA
Resistência (ohms) R
Volt (tensão) V
Volt-ampère VA
Watt (potência) W

DEFINIÇÃO DE ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NEUROMUSCULAR

A EENM envolve a aplicação de uma série de estímulos intermitentes aos


músculos esqueléticos superficiais, com o objetivo principal de promover contrações
musculares visíveis em decorrência da ativação de fibras nervosas musculares. O
estímulo elétrico geralmente é fornecido por meio de aparelhos de estimulação
programáveis e de um ou mais eletrodos ativos posicionados na proximidade dos
pontos motores dos músculos.
Para promover contrações musculares com a aplicação da EENM, a
existência de um nervo motor intacto é pré-requisito.
A EENM tem sido amplamente adotada na pesquisa e na prática clínica como
uma técnica para preservação e/ou recuperação funcional tanto para indivíduos
saudáveis como para indivíduos com alguma disfunção muscular, assim como para
treinamento.
Dependendo do estado do músculo estimulado, a EENM pode ser usada
para:
• Preservação da massa e da função muscular durante períodos
prolongados de desuso ou imobilização, como, por exemplo, em
pacientes críticos internados em unidades de terapia intensiva (UTIs);
• Recuperação da massa e da função muscular seguida de prolongados
períodos de desuso ou imobilização, como, por exemplo, em período
pós-operatório;
• Melhora da função muscular em diferentes populações, como idosos e
atletas, e na reabilitação de pacientes com doenças cardiopulmonares.

CONTRAÇÃO MUSCULAR GERADA POR ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA X


CONTRAÇÃO VOLUNTÁRIA

O recrutamento das unidades motoras durante as contrações geradas pela


EENM é diferente do que ocorre na contração voluntária. É importante lembrar que
as unidades motoras são formadas por centenas ou milhares de fibras musculares e
que cada fibra muscular é inervada por um neurônio motor específico que varia em
tamanho, mielinização e velocidade de condução nervosa.
Tipicamente, as fibras musculares do tipo I, que são oxidativas e resistentes à
fadiga, são inervadas por neurônios com axônios de pequeno diâmetro, constituindo
pequenas unidades motoras. Em contraste, fibras do tipo II, que são mais fatigáveis,
porém produzem maior nível de força, são inervadas por axônios com grande
diâmetro e constituem unidades motoras rápidas. Existem, ainda, subtipos de fibras
rápidas: IIa, IIb e IId (x).
A fibra Iia é uma fibra rápida intermediária, possuindo potencial
moderadamente desenvolvido para geração de força, utilizando tanto o metabolismo
oxidativo como o glicolítico para a produção de energia durante a contração
muscular, sendo rápida, porém com certa resistência à fadiga. A fibra IIb utiliza
predominantemente o metabolismo glicolítico para a produção de energia, sendo
mais rápida, porém mais fatigável que a IIa.
São essas propriedades das unidades motoras que aparentemente ditam a
ordem de recrutamento durante a contração voluntária, que segue o princípio do
tamanho, isto é, ocorre um recrutamento progressivo de pequenas unidades
motoras, tipicamente lentas, seguido por um recrutamento de unidades motoras
maiores, normalmente rápidas.
Tem sido sugerido que o recrutamento de unidades motoras com a EENM
segue o padrão contrário de recrutamento ocorrido na contração voluntária,
recrutando primeiro as unidades motoras rápidas seguidas das unidades motoras
lentas. Essa teoria pode estar baseada em três aspectos:
• Os axônios das unidades motoras maiores são mais facilmente
excitados com a estimulação elétrica, pois possuem menor limiar de
excitabilidade;
• As unidades motoras maiores estão localizadas em regiões mais
superficiais, o que, inevitavelmente, pode reduzir a distância entre aos
axônios maiores e os eletrodos ativos;
• A fadiga gerada com a EENM é maior do que a fadiga gerada pela
contração voluntária.

Apesar dessa teoria, estudos sugerem que o recrutamento das unidades


motoras durante a EENM é não seletivo, e que as unidades motoras são ativadas
sem sequenciamento relacionado ao tipo de unidade motora. Isso implica que a
EENM pode ativar algumas unidades motoras rápidas, em adição a unidades lentas,
mesmo a baixos níveis de força. Evidências indiretas sugerem que a proporção
relativa de unidades motoras rápidas e lentas em um músculo ativado por EENM, a
diferentes níveis de força, seria bastante constante.
Além da ordem de recrutamento das unidades motoras descrita
anteriormente, outros fatores diferem a contração muscular voluntária da contração
gerada pela EENM, tais como:
Recrutamento temporal – na contração voluntária, o recrutamento das fibras
ocorre de forma assincrônica, enquanto que na EENM ocorre de forma sincrônica;
Recrutamento espacial – a EENM, utilizada com intensidade constante,
impõe uma atividade contrátil contínua à mesma população de fibras musculares
superficiais (isto é, aquelas com os ramos axonais próximos dos eletrodos), e o
recrutamento espacialmente fixo diminui proporcionalmente com o aumento na
distância dos eletrodos, conforme apresenta o Quadro, a seguir.

Quadro
PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A CONTRAÇÃO VOLUNTÁRIA E A CONTRAÇÃO GERADA
ELETRICAMENTE
Variáveis Contração voluntária Contração por EENM
Recrutamento temporal Assincrônico Sincrônico
Recrutamento espacial Dispersado Superficial (perto dos eletrodos)
Rotação É possível Espacialmente fixada
Ordem de recrutamento Seletiva: fibras lentas para Não seletiva e desordenada
fibras rápidas
Fadiga Parcialmente fatigante Extremamente fatigante
Fonte: Maffiuletti (2010).

Existem pelo menos três estratégias que podem maximizar o recrutamento


espacial durante a aplicação da EENM:
• Aumentar a intensidade de estimulação sempre que possível –
idealmente, após cada contração, para despolarizar novas e mais
profundas fibras musculares localizadas a uma distância maior dos
eletrodos;
• Mover os eletrodos após uma série de contrações (dentro da mesma
sessão e entre as sessões do tratamento), de forma a alterar a
população de fibras superficiais preferencialmente ativadas pela
EENM;
• Alterar o comprimento do músculo pela manipulação do ângulo da
articulação, para variar a posição das fibras musculares em relação ao
eletrodo e modificar a contribuição dos receptores cutâneos e
articulares estimulados na contração.

Devido ao padrão de recrutamento das unidades motoras com a EENM, as


contrações musculares eletricamente induzidas podem, teoricamente, produzir mais
tensão e força, mas também podem causar maior e mais recente fadiga do que as
contrações voluntárias, pois exigem maior custo metabólico.
Apesar da desvantagem de exigir um maior custo metabólico, a EENM
apresenta como maior vantagem o fato de poder ser utilizada em músculos com
disfunções, como, por exemplo, em pacientes que não podem realizar treinamento
com altas intensidades (idosos, pacientes com doenças cardíacas e respiratórias,
doenças ortopédicas, pós-operatório imediato) e atletas buscando melhor
performance.

CLASSIFICAÇÃO DAS CORRENTES ELÉTRICAS

Devido à diversidade de nomes utilizados para denominação das correntes


elétricas, a divisão de eletrofisiologia clínica da American Physical Therapy
Association estabeleceu uma terminologia unificada para as correntes elétricas
clínicas:
• corrente direta;
• corrente alternada;
• corrente pulsada.

A corrente direta ou monofásica, também conhecida como corrente galvânica,


é caracterizada por um fluxo contínuo ou ininterrupto e unidirecional de elétrons.
Clinicamente, além de satisfazer essas características, esse fluxo deve ser
sustentado por, no mínimo, um segundo. Outra característica da corrente direta é
ser polarizada.
As principais aplicações clínicas da corrente direta são para iontoforese, que
é o estímulo da penetração de íons benéficos terapeuticamente através da barreira
da pele, para cicatrização de feridas ou para o tratamento de inflamações.
A corrente alternada é definida como o fluxo bidirecional contínuo de elétrons.
Sua característica principal é o fato de os pulsos estarem ligados e contínuos, não
havendo intervalo entre os pulsos. Além disso, o fluxo muda constantemente de
direção, revertendo a polaridade, caracterizando-se como uma corrente não
polarizada. A corrente alternada usada clinicamente possui frequência na faixa de
1.000Hz a 10.000Hz, também classificada como correntes de média frequência.
Porém, a corrente alternada é modulada em burst, ou trem de pulsos, para
otimizar seus efeitos. A frequência do burst normalmente está na faixa biológica de 1
a 120Hz.
Cada ciclo completo da corrente alternada consiste em duas fases, uma
positiva e outra negativa, as durações da fase (ou pulso) estão na faixa de 50 a
500µs. Além disso, o fluxo de corrente é equilibrado, isto é, a quantidade de carga
em cada fase é idêntica. São exemplos de nomes comerciais para essa corrente, a
corrente Russa (2.500Hz), a corrente Interferencial (2.000Hz, 4.000Hz e 8.000Hz) e
a corrente Aussie (1.000Hz e 4.000Hz).
A corrente pulsada é definida como o fluxo uni ou bidirecional de partículas
carregadas que periodicamente cessa por um período de tempo breve e finito. A
corrente pulsada, usada terapeuticamente, possui frequência na faixa de 1 a
1.000Hz, sendo também classificada como de baixa frequência. Exemplos de nomes
comerciais para essa corrente são a estimulação elétrica nervosa transcutânea
(TENS) e a estimulação elétrica funcional (FES).
A EENM pode ser aplicada com a utilização de correntes pulsadas ou
alternadas.
Mas qual forma de corrente elétrica é a melhor para a estimulação
euromuscular, visando principalmente o aumento e/ou preservação da força
muscular? Em uma revisão sistemática com metanálise, recentemente publicada por
Silva e colaboradores (2015),17 foi constatado que a corrente pulsada e a alternada
determinam efeitos similares sobre o torque do quadríceps femoral e o nível de
desconforto.
Ainda, para tentar responder essa questão, Dantas e colaboradores
estudaram o efeito de quatro diferentes correntes de EENM, duas correntes
alternadas (Aussie – 1.000Hz, com frequência modulada de 50Hz, duração do pulso
de 500µs, e Russa – 2.500Hz, com frequência modulada de 50Hz e duração do
pulso de 200µs) e duas correntes pulsadas (PC500, com frequência de 50Hz e
duração do pulso de 500µs, e PC200, com frequência de 50Hz e duração do pulso
de 200µs), isoladas e em combinação com o exercício voluntário, sobre o torque
isométrico de extensão de joelho e nível de desconforto em 21 mulheres saudáveis.
Os autores demonstraram que a corrente Russa gerou o menor torque quando
comparada com as outras modalidades (Russa, 50%, PC200, 70%, Aussie, 71%, e
PC500, 77%, p < 0.001). Adicionalmente, não houve vantagem em combinar EENM
com exercícios voluntários, quando comparada com a aplicação da EENM isolada.
Dessa forma, os autores concluíram que as correntes pulsadas e a corrente
Aussie foram superiores à corrente Russa na geração do torque isométrico de
extensão de joelho em mulheres saudáveis. Bellew e colaboradores (2012) também
demonstraram a mesma superioridade das correntes pulsadas e da corrente
Interferencial em relação à corrente Russa em indivíduos saudáveis.

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