Exame de Processo Civil I

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Tópicos de correcção
Direito Processual Civil I (NOITE) – Regência: Professor Doutor José Luís Ramos –
ÉPOCA DE RECURSO (COINCIDÊNCIAS) – 24-2-2016
Duração: 2h

Considere a seguinte hipótese:


Alda, domiciliada em Cabo Verde, arrendou a Beatriz, domiciliada em Lisboa, uma casa
de que era proprietária, situada em Albufeira, para esta aí passar as férias de Verão de
2016.
Na altura da celebração do contrato de arrendamento Alda e Beatriz acordaram, numa
conversa telefónica que tiveram, que qualquer litígio dele emergente devia ser
resolvido pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa.
Sucede que em Outubro de 2016, quando se deslocou a Albufeira, Alda constatou que
a sua casa se encontrava vandalizada, necessitando de reparações no valor de 30.000
euros.
Alda resolve então demandar judicialmente Beatriz, pedindo a condenação desta no
pagamento de 30.000 euros, pelos danos que lhe causara na casa de Albufeira.
A acção foi proposta na 1ª secção cível da instância central do Tribunal Judicial da
Comarca de Faro.
Já depois de apresentada a contestação de Beatriz, o juiz constata que esta se
encontra interdita por anomalia psíquica e que o respectivo tutor não fora citado.
Porém, como era evidente, face às provas já produzidas, que Beatriz causara os
prejuízos cujo ressarcimento Alda reclamava, e que a pretensão desta era totalmente
procedente, o juiz resolveu usar os seus poderes de gestão processual e condenar
imediatamente Beatriz no pedido.
a) Aprecie a competência do tribunal e as consequências da sua eventual
incompetência (5 valores)
 O Reg. 1215 aplica-se, nomeadamente o seu âmbito espacial (B está
domiciliada em Portugal: art. 6º)
 A competência seria determinada de acordo com o art. 7º/2 do Reg. 1215
(opção entre o domicílio do réu – art. 4º – e o lugar do facto)
 Uma vez que a competência internacional dos tribunais portugueses
decorria do regulamento europeu, o pacto tinha de ser qualificado como
pacto de competência, porque afasta apenas a competência em razão do
território (determinada pelo art. 71º/2 CPC)
 O pacto não seria válido, pois não tinha sido escrito (art. 95º/2 CPC)
 O tribunal territorialmente competente era aquele que tivesse jurisdição
em Albufeira (art. 71º/2 CPC)
 Valor da acção determinado pelo art. 297º/1 CPC

Descarregado por Tiago Mendonça ([email protected])


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 Competência em razão do valor seria de uma secção de competência


genérica da instância local (130º/1 a) e 41º LOSJ)
 Mais precisamente, a secção de competência genérica, com sede em
Albufeira, do Tribunal Judicial da Comarca de Faro (art. 79º/2 a) ROFTJ e
Mapa III anexo)
 Ver regime da incompetência em razão do valor (p. ex. 104º/2 e 105º/3
CPC)
 Discutir se há também incompetência em razão do território (parece que
sim, uma vez que a área de competência territorial da 1ª secção cível do
Tribunal Judicial da Comarca de Faro, na qual a acção foi proposta, não
abrange o município de Albufeira)
b) Aprecie a possibilidade de o juiz condenar imediatamente Beatriz no pedido (5
valores)
Analisar art. 278º/3, última parte, CPC, que não permite proferir decisão
desfavorável à parte relativamente à qual não está preenchido um pressuposto
processual que visa protegê-la (no caso, a capacidade judiciária passiva). A
decisão era ilegal. Devia ter-se providenciado pela sanação do vício, o que
ocorreria com a citação do tutor de B (arts. 28º e 27º/1 CPC).
c) Imagine agora que, na petição inicial, Alda se limitara a pedir que o tribunal
declarasse que Beatriz fora a causadora dos estragos na sua casa, sem todavia
pedir o ressarcimento de qualquer quantia. Podia fazê-lo? (4 valores)
Alda não usa o meio processual mais adequado (propõe acção de simples
apreciação positiva, podendo propor acção de condenação), pelo que se
levantaria o problema da falta de interesse processual.
Discutir se este é pressuposto processual, nomeadamente face ao art. 535º CPC
d) Imagine, por fim, que o juiz, face às provas produzidas, constata que Beatriz
não fora a causadora dos estragos na casa de Albufeira, mas sim César, um
outro inquilino de Alda, que ocupara a casa na primeira semana de Outubro de
2016. Podia o juiz absolver Beatriz da instância, por ilegitimidade? (4 valores)
Tratava-se de problema de mérito e não de ilegitimidade processual passiva
(cfr. art. 30º/3 CPC), pelo que a ré devia ser absolvida do pedido e não da
instância

Comente a seguinte afirmação:


“O princípio do inquisitório tem várias vertentes e não se confunde com o princípio da
oficiosidade” (4 valores)
Analisar a forma como o princípio do inquisitório opera no domínio dos factos (arts. 5º
e 986º/2 CPC) e no domínio da prova (art. 411º CPC). A afirmação está certa, porque o
princípio da oficiosidade (arts. 3º/3 e 6º/2) prende-se, não com a investigação de
factos ou com o coligir de provas para o processo, mas com a decisão de questões pelo
juiz, independentemente de pedido das partes: o princípio da oficiosidade não significa
que o juiz esteja obrigado ou possa investigar os factos que estão na base das matérias
de conhecimento oficioso.

Descarregado por Tiago Mendonça ([email protected])

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