JuliEPM MONO
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PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CENTRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS
CURSO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL
MOSSORÓ
2020
JULI EMILLE PEREIRA DE MELO
MOSSORÓ
2020
© Todos os direitos estão reservados a Universidade Federal Rural do Semi-Árido. O conteúdo desta obra é de inteira
responsabilidade do (a) autor (a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis
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de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas
da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA), sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação
e Comunicação (SUTIC) sob orientação dos bibliotecários da instituição para ser adaptado às necessidades dos alunos dos Cursos de
Graduação e Programas de Pós-Graduação da Universidade.
JULI EMILLE PEREIRA DE MELO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Prof. Dr. Rafael Oliveira Batista – UFERSA
Presidente
_________________________________________
Drª. Danniely Oliveira Costa – UFERSA
Membro Examinador
___________________________________________
Dr. Hudson Salatiel Marques Vale – UFERSA
Membro Examinador
AGRADECIMENTOS
Agradeço àquele que me deu a vida uma vez e me permitiu chegar até aqui. Aquele que
nunca desistiu de mim e que cumpre todas as suas promessas. Agradeço a Deus, o dono da
minha vida, que me permitiu sobreviver, mesmo com um coração doente.
Agradeço ao meu orientador o professor Doutor Rafael Oliveira Batista, por todos os
conhecimentos repassados e pela inspiração que me deu ao longo dos anos na faculdade. Seu
muito conhecimento atrelado à sua sabedoria, sensibilidade e humildade são dignos de
admiração e ficarão marcados em minha vida.
Agradeço à minha mãe Edna por ter lutado todos esses anos em prol da minha vida. Que
me deu forças quando eu não mais achava que tinha, que me orientou sempre nas maiores
decisões da minha vida, que me inspira todos os dias com sua força e amor. Á ela, minha eterna
gratidão. Agradeço ao meu pai Aldeirton que sempre me apoiou e se preocupou com minha
saúde física e emocional.
Agradeço aos meus queridos professores Wilton Miranda e Rafael Rios, que me
ofereceram a oportunidade de crescer academicamente no ensino através da monitoria e
também na pesquisa. Obrigada por nunca terem desistido de mim, e por ter me feito ter uma
visão ampla sobre os conhecimentos interdisciplinares que pude adquirir na universidade. Sou
eternamente grata por tudo o que fizeram, suas atitudes, exemplos e amizade estão certamente
marcados em meu coração.
Agradeço a todos os meus amigos, que estiveram comigo todos esses anos me dando
força e inspiração para nunca desistir de lutar pelos meus sonhos.
Agradeço a todos os meus professores de engenharia agrícola por terem compartilhado
os seus conhecimentos e amizade. Sou grata eternamente pela vida de vocês, pois foram
essenciais para me fazer enxergar a beleza naquilo que ensinam.
O saneamento básico é um dos serviços que mais inspiram preocupação a nível mundial,
nacional e local, devido aos inúmeros impactos que sua inadequação pode causar para a saúde
da população, economia e meio ambiente. O presente trabalho tem por objetivo estudar a
relação da inadequação do saneamento básico com os impactos nas diversas áreas que sofrem
interferência desse sistema. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica acerca de temas
específicos como: a importância das funções e dos serviços oferecidos pelo saneamento básico;
a situação do saneamento no cenário brasileiro; os impactos sociais, ambientais e econômicos
gerados pela inadequação dos serviços de saneamento; e, as medidas mitigadoras relacionadas
aos impactos. Os dados mostram que o saneamento tem sua importância na prevenção de
doenças, além de que a sua ausência ou inadequação pode gerar impactos na saúde (como
gastroenterites, resistência bacteriana e cardiopatias); impactos na educação, segurança da
mulher, no trabalho e na renda de famílias; e também impactos à economia de uma nação, como
nos prejuízos sobre o turismo e investimento à saúde. Foram observadas as medidas necessárias
a serem aplicadas a fim de buscar mitigar os problemas envolvendo a inadequação do
saneamento.
Palavras-chave: meio ambiente. impactos. esgotamento sanitário. resíduos sólidos. saúde.
ABSTRACT
Basic sanitation is one of the services that provokes the most concern at a global, national and
local level, due to the countless impacts that its inadequacy can cause to the health of the
population, economy and the environment. This work aims to study the relationship between
the inadequacy of basic sanitation and the impacts in the various areas that are affected by this
system. For this, a bibliographic research was carried out on specific topics such as: the
importance of the functions and services offered by basic sanitation; the situation of sanitation
in Brazil; the social, environmental and economic impacts generated by the inadequacy of
sanitation services; and, mitigation measures related to impacts. The data shows that sanitation
has its importance in preventing disease, additionally its absence or inadequacy can generate
health impacts (such as gastroenteritis, bacterial resistance and heart disease); impacts on
education, women's safety, work and family income; and also impacts on a nation's economy,
such as losses on tourism and investment in health. The necessary measures to be applied that
mitigate the problems involving inadequate sanitation were observed.
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
1.2 Objetivos......................................................................................................................12
1.2.1 Objetivo geral..............................................................................................................12
1.2.2 Objetivos específicos....................................................................................................12
1.3 Metodologia.................................................................................................................13
2. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................14
2.1 O que é saneamento....................................................................................................14
2.1.1 Breve histórico sobre o saneamento no Brasil e no mundo..........................................14
2.2 Funções do saneamento..............................................................................................17
2.3 Situação atual do saneamento básico........................................................................21
2.3.1 O cenário brasileiro.......................................................................................................22
2.3.2 Saneamento no cenário nordestino................................................................................26
2.3.3 Situação do saneamento no semiárido brasileiro............................................................27
2.4 A importância do saneamento básico........................................................................30
2.5 Impactos gerados pela inadequação do saneamento básico....................................31
2.5.1 Impactos ambientais......................................................................................................31
2.5.2 Impactos sociais e à saúde humana................................................................................35
2.5.3 Impactos econômicos....................................................................................................38
2.6 Medidas mitigadoras para as inadequações do saneamento básico.......................39
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................42
4. REFERÊNCIAS………………...………………………………………...…………44
10
1. INTRODUÇÃO
A base de organização de uma sociedade é formada por vários elementos que juntos
devem promover o devido equilíbrio e estruturação das esferas da saúde, segurança, educação
e meio ambiente. Um dos elementos em destaque neste sistema é a infraestrutura sanitária, que
interfere diretamente na situação de saúde e qualidade de vida da população. O setor de
saneamento passa por constantes modificações ao longo dos anos, buscando incrementar novas
estratégias e mecanismos que visam a melhoria e o desenvolvimento de um país. O principal
objetivo do saneamento é a promoção da saúde do homem, e tem como serviços essenciais o
oferecimento de água potável, coleta e tratamento de esgotos, drenagem e coleta e manejo de
resíduos sólidos.
Apesar disso é notável que as políticas de vários países ao redor do mundo não oferecem
a devida atenção às questões de infraestrutura sanitária, ignorando ou mascarando a interrelação
desse setor com os demais setores que compõem a sociedade. Esse fato impossibilita a aquisição
de informações por parte da população, que por falta de conhecimento sofre diretamente ou
indiretamente com os efeitos de um problema cujas causas foram geradas pelo descaso
governamental na implementação de sistemas de saneamento. Esse descaso gera inúmeras
consequências para o desenvolvimento de uma nação, impedindo o seu crescimento e podendo
provocar a regressão dos índices que representam a qualidade de vida de uma população. Em
pleno século 21, em um mundo em constante desenvolvimento tecnológico e humano, índices
apontam que a higiene, saneamento e abastecimento de água continuam a ter implicações na
saúde.
A inadequação do saneamento básico gera inúmeros problemas, sobretudo em países
em desenvolvimento como o Brasil, China, Índia, Argentina e México, por exemplo. Os
impactos mais notáveis causados pela deficiência desse sistema estão ligados à incidência de
doenças no meio da população. Uma grande quantidade de doenças está associada às
deficiências de higiene, saneamento e qualidade da água, sendo amplamente evitável com
recursos econômicos e intervenções (BARTRAM e CAIRNCROSS, 2010). Essas doenças são
comumente denominadas de Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado
(DRSAI), que têm relação direta com o ambiente degradado (FONSECA e VASCONCELOS,
2011).
Além disso, um saneamento básico inadequado provoca a poluição dos recursos
hídricos, poluição urbana e improdutividade, ocasionando impactos negativos à economia das
regiões e severas consequências ao meio ambiente e bem-estar da população. A inadequação
11
do saneamento básico é um dos fatores responsáveis pela reação em cadeia que gera vários
problemas não só às áreas já citadas, mas também à inúmeras outras, cujas causas dificilmente
são associadas aos problemas de saneamento, como por exemplo na área da educação e
segurança. Esses problemas são reflexo da falta da vontade política e integração das esferas
governamentais. Implementação de saneamento não deve ser apenas um plano governamental
específico, mas uma meta nacional e prioritária para garantir o melhor desenvolvimento do país.
Não ter saneamento adequado é sinônimo de subdesenvolvimento. A implementação de
boas condições sanitárias é a base para o desenvolvimento de uma nação. Apesar de se tratarem
de obras aparentemente invisíveis aos olhos do povo, sua importância não deve ser
negligenciada. A implementação de condições sanitárias adequadas gera grandes impactos na
vida das pessoas (VAN MINH e HUNG, 2011). Os avanços nas áreas de abastecimento de água
e de esgotamento sanitário, principalmente em países em desenvolvimento são refletidos na
redução das taxas de mortalidade (SOARES et al., 2002). Além disso o acesso ao saneamento
básico melhora a saúde, evita doenças, promove valorização econômica de regiões e amplia
oportunidades à população, aumentando a produtividade.
12
1.1 Objetivos
1.2 Metodologia
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica acerca dos impactos gerados pela inadequação
do saneamento básico. De acordo com Severino (2007), a pesquisa bibliográfica é aquela que
se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos
impressos e digitais como livros, artigos científicos e teses. Utiliza-se de dados ou de categorias
teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados.
Foi realizada uma pesquisa sobre os conceitos básicos que envolvem o saneamento
básico, apontando fatos importantes da evolução dos serviços no contexto histórico do Brasil e
do mundo, bem como relacioná-los às situações existentes ao longo do planeta que sofrem pelos
impactos causados pela inadequação do saneamento. Informações sobre a importância, a
situação do cenário nacional brasileiro, bem como as implicações das irregularidades presentes
nos serviços sanitários foram discutidas, a fim de se apresentar propostas mitigadoras para os
impactos ambientais, sociais e econômicos sobre a inadequação do saneamento básico.
Todos os dados coletados através da pesquisa foram expostos de forma a esclarecer o
assunto aos leitores bem como proporcionar o devido entendimento sobre o assunto abordado
ao longo da revisão.
14
2. REVISÃO DE LITERATURA
Sanear é uma palavra derivada do latim que significa tornar saudável, higienizar e
limpar. O conceito de saneamento pode ser entendido como sendo o conjunto de mecanismos
que trabalham para promover o abastecimento de água potável, limpeza urbana, esgotamento
sanitário, manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais (BRASIL, 2007). Em
outras palavras saneamento é o conjunto de medidas que tem como finalidade garantir a
preservação do meio ambiente a fim de se prevenir patologias e promover a saúde, qualidade
de vida e produtividade da população (TRATA BRASIL, 2019a).
Do entendimento legal retira-se que saneamento básico é a prestação de serviços,
infraestruturas e instalações operacionais (BRASIL, 2007).
Nocko et al. (2017) também afirma que a melhoria do acesso à água potável e à
instalações de saneamento seguras, implica em impactos positivos à saúde. A OECD (2011)
aponta que o acesso ao saneamento e à água é capaz de contribuir para a diminuição das taxas
de mortalidade e morbidade. Isso pode ser explicado pelo fato de que a água é um dos principais
vetores de doenças infecciosas, devido às partículas em suspensão, sais dissolvidos e
microrganismos patogênicos, o que representa um alto risco sanitário à população caso seja
distribuída sem tratamento.
O mal gerenciamento do saneamento pode gerar graves problemas, que se refletem em
dados alarmantes sobre a situação de vida de milhares de pessoas ao redor do planeta. O
relatório da OMS – Organização Mundial de Saúde, revela que cerca de 2,2 bilhões de pessoas
no mundo não têm serviços de água potável gerenciados de forma segura, 785 milhões não
possuem nenhum tipo de acesso e 144 milhões ingerem água sem tratamento (WHO e UNICEF
2017a).
A garantia da disponibilidade a longo prazo de água de boa qualidade, só pode ser
evidenciada se houver, juntamente com outras ações, a coleta e o tratamento de esgotos e águas
pluviais (NOCKO et al., 2017).
Antunes e Barbosa (2013) afirmam que todos os critérios e projetos referentes à coleta
e tratamento de efluentes deverão ter como base cuidados que garantam a manutenção e
melhoria dos usos e qualidades dos corpos hídricos receptores já que esses sistemas de
tratamento têm como finalidade remover substâncias indesejáveis ou de transformá-las em
outras menos nocivas ao meio ambiente e à saúde humana.
A inadequação do esgotamento sanitário ou a ausência do mesmo pode provocar
alterações do meio em que o efluente é despejado, tais como rios e córregos, o que gera graves
consequências ambientais. Esses efluentes são classificados como efluentes sanitários e
industriais, cuja determinação da carga orgânica é fundamental para a definição do tratamento
e destinação adequada (ANTUNES e BARBOSA, 2013).
O aumento da poluição e o aparecimento de legislações voltadas às questões ambientais
intensificou a preocupação com o tratamento e a destinação final de efluentes. No Brasil, a
legislação que estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes é a Resolução
CONAMA Nº 357/2005, que também normatiza penalidades que podem ser aplicadas em caso
20
Cunha (2001) relata que as operações de coleta visam recolher de forma organizada,
segura e econômica todos os resíduos sólidos gerados pela comunidade, bem como transportá-
los e levá-los para serem tratados ou dispostos em locais adequados. O tipo de coleta e posterior
tratamento dos resíduos sólidos depende da sua classificação, devendo ser tratados e destinados
conforme a sua especificidade determinada por lei.
O aumento da produção de bens de consumo e o acelerado crescimento populacional,
têm provocado um aumento na geração de resíduos a nível mundial, o que leva a refletir sobre
a necessidade de serem aplicados métodos de tratamento que visem a diminuição do volume do
lixo gerado. Além disso, a falta de estrutura e os danos gerados apontam para necessidade de
mudanças nas formas de tratamento, que tem sido negligenciada devido à falta de consciência
ambiental dos governantes e da população (REIS et al., 2017). Essa negligência contribui para
a persistência de métodos inadequados e destinação final do lixo, como lixões a céu aberto e
aterros controlados, por exemplo. Reis et al. (2017) apontam que pelo menos duas dezenas de
doenças humanas apresentam ligação direta ou indireta com os lixões, que favorecem a
proliferação de vetores e a contaminação do solo e águas.
Quando não há uma preocupação governamental em prestar o serviço de
saneamento básico os efeitos são imediatos e de consequências duradouras.
Compromete-se a saúde pública, causando uma série de doenças, inclusive, de
difícil tratamento à exemplo de ...eventuais lesões cutâneas causadas por cortes
por material perfuro cortantes como: vidros, latas, garrafas e palitos de
21
A inadequação do saneamento básico a nível mundial é uma situação que faz parte da
realidade de bilhões de pessoas por todo o planeta, o que afeta diretamente a qualidade de vida.
Mais de 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo não tem acesso a água de qualidade para o
consumo e mais de 4 bilhões não possuem acesso a saneamento seguro, representando ¼ e ½
da população mundial, respectivamente (WHO e UNICEF, 2017b). Não bastasse serem dados
alarmantes, ainda observa-se o fato de que a população mundial está crescendo rapidamente, o
que tem aumentado a demanda por água e acelerado o consumo de recursos naturais, sendo
estes os fatores responsáveis pela degradação acelerada do meio ambiente (WWAP, 2018).
22
Bartram et al. (2005) afirma que há uma crise silenciosa a rodear a vida de milhares de
pessoas, sendo ela responsável por matar cerca de 3900 crianças por dia e dificultar o alcance
do Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Suas causas estão diretamente relacionadas com
a inadequação ou falta de condições sanitárias eficientes.
Como reflexo disso, Franci (2016) observa que atualmente as cinco grandes Estações
de Tratamento de Esgoto implantadas possuem uma alta conta de energia de cerca de 12
milhões por ano, onde o dinheiro desperdiçado limita os investimentos da empresa na melhoria
dos sistemas de saneamento.
23
O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento aponta em seu relatório que 93%
de toda a população urbana do Brasil é abastecida com água onde as regiões do Sul (98,4%),
Centro-Oeste (98,1%) e Sudeste (95,9%) apresentam os melhores índices (BRASIL, 2019a). Já
as regiões Nordeste (88,8%) e Norte (70,0%) apresentam as menores percentagens de
abastecimento de água do país, o que revela a necessidade de se ter um maior investimento e
alcance e atenção das políticas públicas de saneamento (BRASIL, 2019a). Segundo o mesmo
sistema, o índice de perdas no sistema de distribuição de água no ano de 2017 foi de 38,3%,
onde a região que mais apresentou perdas foi a região Norte, com 55,1%.
Em relação ao esgotamento sanitário cerca de 60% da população urbana do país conta
com rede coletora de esgoto, tendo como pior índice a região Norte (13%) e melhor índice a
região Sudeste (83,2%) (BRASIL, 2019a). Desses 60% apenas 46% é tratado, porém quando
comparado aos dados do ano anterior, percebe-se que houve um aumento de 252,5 mil (4,6%)
e de 122,9 mil metros cúbicos (3,0%), nos volumes de esgotos coletado e tratado,
respectivamente o que indica um melhoramento nos serviços prestados e redução de impactos
ambientais.
Observando o total populacional atendido pelos serviços de abastecimento de água,
coleta e tratamento de esgoto, e não só a população urbana, é possível perceber que há uma
certa queda nos índices citados. As informações sobre os dados estatísticos da população
brasileira contemplada pelos serviços de saneamento encontram-se sumarizada no gráfico 01.
O Brasil é o quarto país no mundo que mais produz lixo (WWF, 2019). No ano de 2017
a cobertura de coleta do lixo domiciliar atendeu 91,7% da população brasileira representando
uma massa de 60,6 milhões de toneladas de resíduos, onde registrou que cerca de 0,95 kg por
habitante dia foram coletados (BRASIL, 2019b). Relatórios feitos apontam que para cada 10
kg de resíduos, apenas 400 gramas são coletadas de forma seletiva. Apenas 1,65% do total de
resíduo sólido urbano coletado no país é efetivamente recuperado (BRASIL, 2019b).
A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece que todos os lixões do país
deveriam ser fechados e substituídos por aterros sanitários até o ano de 2014, porém isso não
foi possível (BRASIL, 2010b). Muitos estados do brasil ainda têm os lixões como o destino
principal do lixo. Uma outra situação preocupante é a falta de informações sobre a destinação
de uma grande quantidade de resíduo gerado.
A figura 2 ilustra as formas de disposição final dos resíduos adotada pelos municípios,
nas Regiões Geográficas e no Brasil:
O Semiárido é uma microrregião que quase sempre é associado à região Nordeste, isso
porque na diversidade da composição dos estados nordestinos observa-se a permanência do
clima semiárido. Conforme Duarte (2018) o semiárido e o nordeste brasileiro são, de fato, a
extensão um do outro.
Dos nove estados que compõem a região Nordeste, todos possuem mais de
20% da sua população que habita municípios caracterizados como semiárido.
Destaque para os estados do Piauí, Ceará e Paraíba, que possuem mais de 60%
da sua população, sendo o Piauí o que mais possui pessoas nessa classificação
(87%) (DUARTE, 2018 p. 34).
28
Cirilo (2008) esclarece que as regiões semiáridas apresentam uma baixa precipitação
anual entre 250 e 500 mm e com uma vegetação de arbustos que perdem as folhas nos meses
mais secos.
Considerando o aspecto da climatologia da região, percebe-se que a escassez de água é
um desafio para a mesma. No semiárido brasileiro uma grande parte de famílias humildes ainda
utiliza tecnologias de eficiência limitada de saneamento (fossa seca, fossa negra e tanque
sépticos) cuja operação desencadeia a contaminação do solo e água, o que prejudica a saúde da
população. Ainda segundo Cirilo (2008) há um grande problema envolvendo a destinação dos
esgotos, que são direcionados à corpos hídricos, o que gera consequências desastrosas para o
ambiente, como poluição, doenças e redução de água potável.
A disposição de resíduos ricos em nutrientes, especialmente nitrogênio e
fósforo, nos rios e outros corpos d’água, tem levado à eutrofização de
mananciais e contribuído para floração de algas tóxicas chamadas cianofíceas,
que se constituem em uma verdadeira praga para os reservatórios de
abastecimento de água. Essas algas liberam toxinas (neurotoxinas e
hepatotoxinas) que podem causar sérios danos à saúde humana, até mesmo a
morte. O tratamento da água, além de difícil, é extremamente dispendioso
(CIRILO, 2008 p.74).
De acordo com um relatório elaborado pelo INSA, o tipo de rede coletora de esgoto
predominante no semiárido é a rede separadora convencional, responsável por captar, coletar e
transportar esgoto e água pluvial, representando 48,2% das sedes (MEDEIROS et al., 2014). O
autor evidencia que em relação aos sistemas de tratamento de esgoto as lagoas facultativas, de
maturação, anaeróbia, aeróbia, mista e aerada, podem ser encontradas na região semiárida.
O relatório do INSA ainda afirma que nos 8.235 km de rede de coleta de esgoto existente
na região foram registrados 56.993 extravasamentos, onde tem-se os semiáridos piauiense,
sergipano, potiguar, cearense, paraibano e mineiro apresentando condições de operação mais
eficientes (MEDEIROS et al., 2014).
Percebe-se que a coleta dos registros relativos às questões de saneamento no semiárido
não ocorre de forma igualitária, há descasos em algumas regiões, fator que dificulta o
mapeamento preciso das necessidades, gerando prejuízos que se sucedem ao longo dos anos
(DUARTE, 2018). Na pesquisa de Duarte, é possível identificar o descompromisso em relação
à coleta de dados para os órgãos de vigilância sanitária em estado como o Rio Grande do Norte,
30
onde pode-se afirmar, que por ocasião da pesquisa, praticamente não há informações neste
sentido, pois a área informada é ínfima em relação à contingência do estado.
falta, mal gerenciamento ou inadequação do saneamento básico é de se esperar que haja uma
implicação sobre o meio ambiente de forma negativa.
Cirino (2018) relaciona a falta de esgotamento sanitário adequado com o aumento
populacional e crescimento das cidades, que traz como consequência o desequilíbrio do meio
ambiente. Segundo a autora, isso ocorre devido ao lançamento a céu aberto das águas que saem
das residências sem tratamento, que pode ser percebido em alguns locais no lançamento de
esgotos diretamente sobre o solo ou em corpos hídricos. Isso trás sérios problemas para o meio
ambiente, além da disseminação de doenças para a população.
O esgoto é um efluente líquido composto por 99% de água e 1% de matéria orgânica, no
qual estão presentes excrementos humanos e água do serviço doméstico, onde seu tratamento
tem como finalidade desfazer essa mistura (GOMES et al., 2005). Quando o esgoto não é
coletado de forma adequada ou simplesmente não existe rede coletora, a população utiliza fossa
séptica ou lança seus efluentes contaminados diretamente em valas, córregos, rios e praias
(LINS e LINS, 2019). Philippi Jr (2004) relata que as praias são um alvo constante dessa
realidade, pois as construções próximas a ela favorecem o despejo do esgoto no mar. Tais
atividades contribuem sobremaneira para a poluição e contaminação de corpos hídricos e do
meio ambiente em geral:
Esse tipo de atitude provoca a morte principalmente da vida marinha, muitos
dos organismos não sobrevivem por longo tempo em ambientes marinhos,
especialmente devido à ação das radiações solares, temperatura, salinidade,
predação e competição e antibióticos produzidos por organismos marinhos,
enquanto muitos patógenos podem sobreviver por mais tempo sob tais
condições e representar risco potencial à saúde pública (LINS e LINS, 2019).
Além dos impactos à saúde, a deterioração causada pelo despejo de esgoto sem
tratamento em corpos hídricos compromete os padrões de qualidade ambiental. Esses padrões
levam em conta alteração da quantidade de oxigênio disponível no meio, matéria orgânica, pH,
nutrientes e temperatura do curso d'água (SOARES et al., 2002). Dependendo da magnitude
essas alterações podem trazer consequências desastrosas para o ecossistema. Uma das mais
graves seria o processo de eutrofização do corpo hídrico apontado por Von Sperling (2005). O
autor afirma que cargas altíssimas de nitrogênio e fósforo, no esgoto bruto, podem provocar o
crescimento exagerado de algas na superfície do corpo hídrico, criando uma camada que impede
a penetração dos raios solares na água. A ausência de luz provoca a morte das algas nos níveis
mais inferiores do corpo hídrico, o que aumenta ainda mais a quantidade de matéria orgânica
na água. Segundo Von Sperling (2005) isso provoca um aumento na concentração de bactérias
que se alimentam da matéria orgânica, consumindo o oxigênio dissolvido no meio Esse
fenômeno é responsável por provocar a diminuição da quantidade de oxigênio disponível para
33
os seres aquáticos, causando a morte de peixes e outros seres aquáticos, alteração da cor, odor
e sabor da água, modificando a qualidade da água e tornando-a imprópria para o consumo sem
o devido tratamento.
Seja pela ineficiência do tratamento ou pela sua ausência, os impactos gerados pelo
descarte indevido de esgotos não se restringem somente às altas concentrações de matéria
orgânica presente no efluente, mas também de várias outras substâncias que podem apresentar
toxicidade. Um grave impacto não muito citado no cotidiano é àquele ocasionado pela presença
de medicamentos descartados inadequadamente, ou excretados, que contaminam os efluentes.
Ao serem dispersos no ambiente, essas substâncias podem contaminar o homem através da água
e do solo, causando impactos sobre o meio ambiente e sobre a saúde pública (FALQUETO et
al., 2010). Borrely et al. (2012) afirma que devido aos medicamentos apresentarem substâncias
pouco voláteis, sua distribuição ocorre no ambiente aquático e também são dispersos na cadeia
alimentar.
Em seus estudos Falqueto et al. (2010) citam que uma quantidade de 50% a 90% dos
medicamentos ingeridos é excretada e chega aos esgotos. Kümmerer (2001) em seus estudos
afirma que dentro dos grupos de fármacos que são mais preocupantes, os antibióticos e
estrogênios merecem uma atenção especial. Devido ao seu uso muitas vezes indiscriminado, os
antibióticos apresentam o potencial de desenvolver bactérias resistentes no ambiente, o que
representa um problema gravíssimo para a saúde pública, fato estudado por alguns
pesquisadores como Bower (1999), Miranda e Castillo (1998).
Estudos apontam que os estrogênios também representam um grande perigo para o meio
ambiente devido ao seu potencial de afetar negativamente o sistema reprodutivo de seres
aquáticos (SUMPTER, 1998). Os estudos de Sumpter (1998) mostram a ocorrência da
feminização de peixes machos em rios contaminados com descarte de efluentes contendo
estrogênios. Harrison et al. (1997) afirmam que substâncias como essas podem estar ligadas a
ocorrência de câncer de mama em mulheres e câncer testicular em homens, bem como e redução
da fertilidade masculina, além de provocar distúrbios de fertilidade em espécies marinhas.
Os estudos de Borrely et al. (2012) avaliaram a contaminação das águas por resíduos do
fármaco cloridrato de fluoxetina. Brooks et al. (2005) detectou fluoxetina em tecidos de peixes.
Outro grave problema causado pelo mal gerenciamento do lixo ou esgotamento sanitário
é o causado pelos microplásticos. Esses materiais correspondem à minúsculas partículas de
plástico que adentram no meio aquático geralmente através de esgotos, rios, vento, escoamento
superficial e deposição humana direta, chegando a corpos hídricos (ANDRADY, 2011). Devido
34
à sua persistência no ambiente e sua alta durabilidade esse composto é responsável por causar
graves desequilíbrios em ecossistemas aquáticos.
Gouveia (2018) disserta que os microplásticos são capazes de entrar em organismos
humanos e animais através da ingestão de água ou outros de seres vivos, podendo se acumular
dando continuidade ao fenômeno de bioacumulação ao longo da cadeia trófica. Anbumani e
Kakkar (2018) afirmam que o acúmulo de microplásticos no organismo pode causar disfunções
alimentares, causando danos no sistema digestivo e outras complicações metabólicas, bem
como pode causar alterações nas funções hepáticas.
Segundo Portela et al. (2011) a produção de resíduos sólidos tem aumentado e se
intensificado com o tempo, onde atrelado a isso tem-se observado a incorporação de uma grande
variedade elementos prejudiciais à saúde descartados junto a esses resíduos. A autora explica
que a destinação inadequada e o mal gerenciamento desses resíduos pode contaminar o solo e
corpos hídricos e assim contribuir para o aparecimento de vetores causadores de doenças.
Tartari (2005) e Lauermann (2007) acrescentam que a deposição inadequada,
consequência do mal gerenciamento de resíduos sólidos, é capaz de contaminar o solo com
metais pesados e substâncias tóxicas. Os autores ainda afirmam que essa prática permite a
redução da biota do solo, diminuindo a sua biodiversidade, bem como a diversidade da fauna,
além de causar impactos como poluição de áreas próximas, contaminação dos catadores e
poluição visual. O grande problema que envolve os catadores é o de que eles se submetem a ter
o contato direto com materiais que podem gerar danos á saúde, sofrendo riscos de contaminação
por químicos, lixo hospitalar, materiais cortantes etc (CAVALCANTE e FRANCO, 2007).
Sasaki (2017) aponta que o problema gerado pelos lixões está relacionado à sua
deposição inadequada a céu aberto, sem nenhum controle sanitário ou ambiental, o que faz com
que os materiais fiquem em contato direto com o solo descoberto. O autor ainda esclarece que
os impactos ambientais mais notáveis da deposição de resíduos a céu aberto seriam a produção
de chorume e gases como o metano, um dos agravadores do efeito estufa. Possamai et al. (2007)
descreve esses ambientes como sendo propagadores de vetores de doenças, sejam eles macro
ou microvetores, como cachorros, gatos, ratos, urubus, pombos ou moscas, mosquitos, bactérias
e fungos.
Outro grave problema que causa impactos ambientais é a falta de drenagem,
principalmente nos centros urbanos, onde em épocas de grande precipitação ocorrem enchentes,
expondo à população a riscos (OLIVEIRA, 2008).
35
Tucci (2008) afirma que tais problemas ainda assumem características mais desastrosas
quando o meio urbano não possui serviços de tratamento de esgoto adequado, o que provoca o
carreamento dos efluentes para as redes de esgotamento pluvial. Segundo o autor, esse fator
provoca a contaminação de corpos hídricos, tendo como consequência a disseminação de
doenças de veiculação hídrica.
Desde 1990 têm se observado uma diminuição da qualidade da água nos mananciais
superficiais de regiões como a África, Ásia e América Latina; estima-se que cerca de 3,6 bilhões
de pessoas sobrevivem em regiões com escassez hídrica (WWAP, 2018). Isso deve-se ao
crescimento populacional exponencial, desenvolvimento econômico e intensificação do
consumo, visto nos últimos anos, que ocasionou um aumento no consumo mundial de água.
A literatura reconhece que o acesso aos serviços de água de boa qualidade e tratamento
de esgoto são essenciais para se minimizar vários impactos à saúde da população, além de
contribuir para a diminuição da mortalidade infantil (WATSON, 2006; GERUSO e SPEARS,
2015).
As precárias condições de saneamento básico propiciam a transmissão de
bactérias, vírus e parasitas, que estão presentes nas fezes, urina ou vômito do
doente ou portador, causadores de diversas doenças infectocontagiosas. A
diarreia é a mais conhecida dentre elas, pelos seus efeitos devastadores sobre
a taxa de mortalidade infantil em diversos países do mundo. No entanto,
existem diversas outras doenças que também merecem preocupação quanto aos
danos causados à população, em especial às crianças, tais como a
esquistossomose, febre amarela e malária (SCRIPTORE e AZZONI, 2018).
A contaminação por parasitas ainda pode provocar patologias como má absorção dos
alimentos e anemia, que é ocasionada pela deficiência de ferro no organismo (KUNZ et al.,
36
2008). Esses problemas são responsáveis por afetar o comportamento de crianças, dificultando
sua capacidade de atenção e concentração e assim contribuindo negativamente para o seu
aprendizado rendimento escolar (ARAÚJO e SANTOS, 2009; KUNZ et al., 2008).
Um grave problema social está ligado à área da educação, onde pesquisas mostram que
a falta de saneamento básico em escolas gera uma menor frequência por parte dos alunos,
provocando uma redução de 18% no aproveitamento escolar (SANTOS et al., 2018).
Cabral-Miranda et al. (2010) e Santos-Junior et al. (2006) relacionaram a presença do
protozoário G. duodenalis em indivíduos residentes na região semiárida brasileira, com as
péssimas condições de higiene e qualidade da água, onde foi constatado que 30,2 % e 48,3%
dos indivíduos da comunidade, respectivamente, eram hospedeiros.
Analisando uma comunidade carente, Cabral-Miranda et al. (2010) ainda apontam que
as precárias condições de vida pedem a consolidação de programas de tratamento, saneamento
e educação, para assim garantir melhorias da qualidade de vida das crianças e adolescentes.
Além das doenças mais comumente associadas à inadequações do saneamento básico,
a precariedade dos serviços sanitários pode ser influenciar na ocorrência de doenças cardíacas
graves. Estudos mostram que um saneamento básico precário expõe a população a bactérias
causadoras de doenças graves, como as do tipo Streptoccocus pyogenes, muito comum em
países em desenvolvimento como o Brasil (ARAUJO FILHO et al., 2006).
Esse tipo de bactéria é responsável por causar infecções estreptocócicas que podem ter
como sequela grave, a febre reumática (SILVA et al., 1979).
A febre reumática, por sua vez, quando não combatida adequadamente, pode causar
cardiopatias graves como comprometer o miocárdio e as válvulas cardíacas do coração
(SOUZA et al., 2007).
Esse tipo de cardiopatia ocasiona arritmias cardíacas e cansaços excessivos, sendo
necessário haver intervenção cirúrgica em vários casos, para substituir as válvulas do coração.
Esse problema compromete totalmente a qualidade de vida do indivíduo exposto, pois além de
reduzir sua expectativa de vida, exige acompanhamento médico frequente, o que também é
refletido em gastos com a saúde pública.
Além da falta de tratamento do esgoto, grande parte da população mundial ainda sofre
com a ausência de instalações sanitárias adequadas em suas residências, o que têm como
consequência a persistência de práticas, como defecação a céu aberto. Geruso e Spears (2015)
expõem a realidade do impacto gerado por essa prática na Índia sobre a mortalidade infantil,
onde segundo eles, uma redução de 10% de práticas como essa, reduziria a taxa de mortalidade
infantil média em 4%.
37
A UNICEF (2015) aponta que em 2006, 2,5 bilhões de pessoas não estavam expostas à
condições adequadas de saneamento. Segundo o órgão, nesse período aproximadamente uma
em quatro pessoas defecou ao ar livre.
Mara (2017) mostra que a ocorrência da defecação a céu aberto traz vários problemas,
onde entre eles estão as doenças como anemia, giardíase, helmintíase e enteropatia ambiental,
problemas voltados às mulheres em período gestacional e ainda e violência e risco de vida
contra mulheres jovens ou não.
Pesquisas atreladas à qualidade do saneamento mostram que a inadequação do
saneamento básico afeta de expressivamente a vida de mulheres brasileiras. Segundo dados do
IBGE 2017, 1 em cada 7 mulheres brasileiras não tem acesso à água e 1 a cada 4 não tem acesso
ao sistema de escoamento sanitário adequado (TRATA BRASIL e BRK AMBIENTAL, 2019).
O estudo mostra que as mulheres que mais sofrem com entrega irregular de água e com déficits
de esgotamento sanitário são as negras, pardas e indígenas; a ausência de banheiro na moradia
atinge cerca de 1,6 milhões de mulheres brasileiras.
Jovens mulheres contempladas por coleta de esgoto e recebimento de água pela rede
geral têm atrasos escolares menores do que aquelas que não recebem (TRATA BRASIL e BRK
AMBIENTAL, 2019). O relatório feito pelo Instituto Trata Brasil e BRK Ambiental mostra que
a falta de condições sanitárias adequadas interfere sobre as chances de mulheres ingressarem
no ensino superior, o que contribui negativamente para a sua produtividade e remuneração do
trabalho.
Segundo a OMS a diarreia é a segunda maior causa de morte de crianças menores que
5 anos, sendo responsável pela morte de 525.000 crianças todos os anos. Um grande número
desses casos pode ser prevenido com o fornecimento de condições sanitárias adequadas e
disponibilidade de água potável (WHO, 2017).
Moraes e Castro (2014) afirmam que a diarreia tem como causa a exposição a bactérias,
vírus e parasitas. Esses organismos patogênicos são comumente encontrados em corpos
hídricos que recebem cargas de esgoto sem tratamento, águas de arraste das chuvas ou dejetos
humanos diretos, o que aumenta o risco de transmissão de doenças (WIGGINS, 1996). Como
grande parte da população mundial ainda não tem acesso ao abastecimento de água potável,
muitas vezes ficam sujeitas ao consumo de águas contaminadas por esses organismos, sofrendo
com as consequências posteriores.
A OMS afirma que 88% das mortes por diarréia estão
ligadas a péssimos índices de saneamento (FARIAS e PAZ, 2017). 84% das mortes por
saneamento básico inadequado são de crianças de até 5 anos (TRATA BRASIL, 2010b).
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Estudos desenvolvidos pelo Instituto Trata Brasil mostram que moradores que residem
em localidades sem acesso a saneamento básico recebem salários 85% menores do que àqueles
que têm acesso a água, coleta e tratamento de esgoto (MURARO, 2019).
A desigualdade social é um problema que sofre interferência direta das condições de
saneamento básico. As áreas que mais sofrem com a falta de planejamento, devido à dificuldade
técnica, são àquelas ocupadas pela população de baixa renda, pois são áreas geralmente
irregulares e com riscos de deslizamentos e enchentes (EOS, 2017a).
O estudo ainda aponta que no Brasil a cada 1 real investido nas obras de saneamento, é
gerada uma renda de 1,22 reais na economia, podendo trazer ganhos econômicos e sociais de
até 1,1 trilhão em 20 anos.
Os custos econômicos também estão ligados ao trabalho e aos impactos às famílias.
Segundo Hutton (2004) o maior custo em relação à saúde é relacionado aos custos de tratamento
de diarreia, que também gera perdas e custos para a instituição empregadora do indivíduo e
impactos negativos sobre a família do indivíduo afetado.
Estima-se que em um ano empresas brasileiras gastaram cerca de R$ 547 milhões em
remunerações para funcionários que tiveram que interromper suas atividades temporariamente
devido às doenças gastrointestinais (TRATA BRASIL, 2010a).
Do ponto de vista ambiental, deve-se ter em mente que o saneamento qualifica
o solo urbano, com efeito sobre as atividades nele desenvolvidas. Isso porque
o saneamento valoriza as construções existentes e possibilita edificações de
maior valor agregado, o que implica aumento do capital imobiliário das
cidades. Além de elevar o valor dos ativos e empreendimentos imobiliários, o
saneamento possibilita o aumento e a valorização das atividades econômicas
que dependem de condições ambientais adequadas para seu exercício, como é
o caso do turismo (FREITAS e MAGNABOSCO, 2018).
visando, no primeiro momento, manutenções corretivas futuras para se consertar aquilo que não
foi realizado de forma adequada.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O saneamento básico vem sendo incorporado à sociedade ao longo dos anos. É notável
que o seu desenvolvimento tem se apresentado tardio em algumas partes do mundo, como por
exemplo nos países em desenvolvimento como o Brasil. Apesar disso é possível perceber que
mesmo com uma realidade historicamente atrasada em relação à alguns países, os serviços
sanitários têm apresentado uma constante evolução em sua eficiência, devido à criação de
órgãos, planos, leis, agências e outras entidades governamentais que surgem para regulamentar
e agir em prol do seu melhoramento.
É, portanto, necessário se entender que a implementação de sistemas de saneamento
básico não é apenas inserir serviços de esgotamento sanitário e oferecer água potável. As
funções atribuídas ao saneamento vão muito além disso, logo observa-se o quão importante são
os serviços de drenagem urbana e manejo de águas, bem como o gerenciamento de resíduos
sólidos para haver a devida promoção e manutenção da qualidade de vida da população.
Somente através da articulação efetiva de todas essas funções é que o saneamento básico poderá
ser devidamente implementado e assim trabalhar para prevenir a ocorrência de doenças,
impactos sociais, econômicos e ambientais.
Através da observação crítica sobre a real efetividade do saneamento básico no Brasil e
no mundo é possível perceber que ainda há vários desafios que precisam ser vencidos,
principalmente no que diz respeito ao fornecimento de água e esgotamento sanitário afim de se
evitar patologias. Um fato importante a se visualizar é que o saneamento vem evoluindo ao
longo dos anos no Brasil, porém essa realidade apresenta alguns atrasos principalmente nas
regiões Norte e Nordeste. Ainda há uma variedade de carências a serem supridas nas regiões
menos desenvolvidas do país, onde observa-se que as questões que envolvem renda e mal
gerenciamento influenciam na situação de saneamento dessas regiões. Outra problemática pode
ser visualizada na região do Nordeste e no semiárido, que devido à insuficiência de informações
voltadas à situação do saneamento, há uma certa dificuldade em apresentar conclusões acerca
do tema. Entretanto é perceptível que tais regiões apresentam inúmeros problemas, tais como
os baixos índices de abrangência dos serviços sanitários.
A importância de haver a universalização efetiva dos serviços de saneamento está
diretamente ligada com questões que envolve sobrevivência e qualidade de vida da população.
Um outro ponto importante é saber que as inadequações do saneamento básico, estando
43
4. REFERÊNCIAS
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