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1

OS PRECEDENTES HISTÓRICOS DO DIREITO INTERNACIONAL


HUMANITÁRIO
Mariana Alencar JACOB 1
Sérgio Tibiriçá AMARAL 2

RESUMO: Este artigo busca analisar as origens e evolução histórica do Direito


Internacional Humanitário, a proteção do indivíduo em conflitos armados, desde os
primeiros dispositivos até sua atual jurisdicionalização, por meio do estudo dos
principais tratados internacionais e da opinião de doutrinadores a respeito do tema.
Este estudo abordará as três correntes do direito humanitário, quais sejam, Direito
de Haia, Genebra e Nova York; sua formação desde os Tratados de Westfália; a
atuação da Cruz Vermelha Internacional; a influência das grandes guerras mundiais
e de outros conflitos armados; e a criação de tribunais internacionais para julgar
crimes de guerra. O cenário mundial atual é marcado por uma série de conflitos
armados e atentados de terrorismo, além de ameaças entre Estados, o que torna o
estudo direito humanitário pertinente e necessário.
Palavras-chave: Direito Internacional Humanitário. Direitos Humanos. Conflitos
armados. Direito Internacional. Precedentes históricos.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por escopo o estudo das raízes históricas do


Direito Humanitário. Para tanto, será utilizado principalmente o método histórico,
observando-se os principais fatos que levaram a uma conscientização sobre a

1
Discente do 4º ano “C” do curso de Direito das Faculdades Integradas “Antonio
Eufrásio de Toledo” de Presidente Prudente.

2
Docente do curso Direito das Faculdades Integradas “Antonio Eufrásio de Toledo”
de Presidente Prudente. Orientador do trabalho.
2

condição de indivíduos envolvidos em conflitos armados e as ações decorrentes que


levaram à criação de normas e organismos internacionais que atuam por essa
causa. Será observado como diversos conflitos influenciaram na história da
humanidade, modificando o pensamento da sociedade e levando a uma evolução no
Direito Internacional como um todo e do Direito Humanitário por consequência.

2 DEFINIÇÃO

A guerra sempre esteve intrinsecamente ligada com a história da


humanidade 3 . Durante séculos as batalhas foram um meio de dominação entre
povos. Considerando isso, pode-se dizer que o movimento do Direito Internacional
Humanitário é relativamente novo.

Em tempos antigos, diversas culturas possuíam regras costumeiras


aplicadas em períodos de guerra, entretanto, a ideia que se tinha de proteção de
pessoas durante um conflito armado estava ligada a fins econômicos. Era preciso
proteger a “mercadoria” obtida, uma vez que derrotados eram submetidos ao regime
muitas vezes de escravidão por parte dos vitoriosos, passando a serem
considerados como parte de seu patrimônio, assim como a anexação do território
conquistado. Somente no século XVII e XVIII na Europa é que surgem os primeiros
dispositivos a respeito do tema.

O desenvolvimento do Direito Humanitário é corolário da evolução do


próprio Direito Internacional Público como um todo, visto que há vários ramos dentro
deste, entre os quais o Direito Internacional dos Direitos Humanos. Como essa
evolução muitas vezes era provocada pelos resultados devastadores obtidos em

3
BORGES, Leonardo Estrela, Coleção para entender: O direito internacional humanitário.
Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 1.
3

conflitos armados, o Direito Internacional ganhava contornos cada vez mais


humanos.

Um exemplo desses antecedentes foram os chamados Tratados de


4
Westfália (1648) que não só colocaram um fim à Guerra dos Trinta Anos ocorrida
na Europa, mas introduziram princípios fundamentais para o Direito Internacional
Público atual, como, por exemplo, a soberania dos Estados 5.

Contudo, o Direito Humanitário como é conhecido hoje decorre


principalmente dos avanços da comunidade internacional iniciados no século XIX. A
expressão “Direito Internacional Humanitário” se refere ao conjunto de normas
internacionais, seja por tratados ou costumes, destinadas à solução de problemas
humanitários aplicáveis em situações de conflitos armados internos ou
internacionais, ou seja, é a atuação do Direito no ato de “humanizar” a guerra 6,
regulando o Jus in Bello (direito de guerra).

3 CONTROVÉRSIAS

A concepção de humanização dos conflitos armados gera certa


controvérsia, por se tratarem de ocorrências que são, essencialmente, desumanas.

4
Chamado de Paz de Westfália, concluído em 24 de outubro de 1648.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2006, p. 32.

6
BORGES, Leonardo Estrela, Coleção para entender: O direito internacional
humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 3.
4

Entretanto, deve-se observar que justamente por isso o Direito Humanitário se faz
necessário: limita-se o poder de atuação dos envolvidos para evitar um cenário
marcado por ilimitada brutalidade.

Outra controvérsia gerada pelo tema é de que muitos agentes de


direito internacional podem agir com fins próprios, puramente econômicos, usando a
proteção dos direitos humanos como pretexto.

Um exemplo foi a Bill Aberdeen 7, legislação britânica que visava o fim


do tráfico negreiro, sujeitando navios brasileiros à jurisdição do Almirantado
britânico. Essa lei permitia o uso da força para reprimir o tráfico, independente de
comunicação prévia entre o Império Britânico e o país responsável pela carga 8, o
que gerou o bombardeamento de diversos navios negreiros na costa brasileira.

As ações da Grã-Bretanha não eram pautadas no respeito ao ser


humano. Sua finalidade era criar condições para ampliar o seu comércio,
assalariando indivíduos libertos da escravidão e vendendo cada vez mais os seus
produtos. Portanto, a legislação não queria proteger o negro escravo, que morria
com o afundamento dos navios, mas apenas assegurar vantagens de caráter
comercial à coroa britânica.

Apesar das polêmicas envolvendo o tema, o Direito Humanitário foi


evoluindo com o tempo, se ampliando e institucionalizando e, desse modo,
superando muitas das controvérsias, como a relatada.

Foi ocorrendo o que Norberto Bobbio chama de “progresso moral da


9
humanidade” . Apesar de violações e vários conflitos bélicos, os organismos

7
Slave Trade Suppression Act ou Aberdeen Act (1845)

MAISRIO. Ato Bill Aberdeen (Slave Trade Suppression Act ou Aberdeen Act) (1845).
Disponível em: <http://www.maisrio.com.br/artigo/570_ato-bill-aberdeen-slave-trade-suppression-act-
ou-aberdeen-act-1845.htm>

9
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos, p. 26. Campus, 1999. 4 edição
5

internacionais e os Estados foram buscando assegurar direitos e garantias mesmo


nas guerras fratricidas e nos conflitos internos espalhados pelo mundo.

4 O CÓDIGO LIEBER E A DECLARAÇÃO DE SÃO PETERSBURGO

A primeira tentativa de impor limites à guerra ocorreu nos Estados


Unidos da América do Norte, que viveu uma guerra fratricida, entre os estados do
Sul e do Norte. Curiosamente, uma das causas dos combates foi o regime da
escravatura. Dos vinte e quatro estados norte-americanos do período, quinze eram
escravocratas, localizados na região sul do país. Havia um desentendimento entre
estes e os estados restantes, que já eram mais industrializados e não concordavam
com o modelo de mão de obra escrava, objetivando o aumento de seu comércio.

Onze dos estados escravocratas criaram os Estados Confederados da


América, intitulando-se independentes e segregando o país, o que era proibido pelo
pacto federativo. Teve, assim, início a Guerra de Secessão, que causou a morte de
aproximadamente 620 mil americanos, e terminou com a vitória dos estados da
União e a abolição da escravidão.

O Código Lieber de 1863 denominado “Instructions for the Government


of Armies of the United States in the Field” marcou história como o primeiro
documento a reunir princípios, regras e costumes de guerra em uma tentativa de
reduzir os efeitos assoladores da Guerra Civil Americana ou Guerra de Secessão
(1861-1865).
6

Seu nome deve-se a seu autor, Francis Lieber, um jurista e imigrante


alemão radicado nos Estados Unidos, que criou o código a pedido do Presidente
Abraham Lincoln 10.

Esse documento era destinado aos combatentes das forças da União e


para esse evento em específico (a Guerra de Secessão), ou seja, era de ordem
interna e unilateral. Não obstante, ele é considerado uma fonte material para
dispositivos posteriores, como a Declaração de São Petersburgo (1868).

A Declaração de São Petersburgo foi feita em meio a uma conferência


onde compareceram as delegações da Áustria-Hungria, Baviera, Bélgica,
Dinamarca, França, Reino Unido, Grécia, Itália, Países Baixos, Portugal,
Confederação da Alemanha do Norte, Rússia, Suécia e Noruega, Suíça e o Império
Otomano, entre outros, a pedido de Alexander Gorchakov, então chanceler do
Império Russo, e fixava limites no uso de certos armamentos:

“That the progress of civilization should have the effect of alleviating as


much as possible the calamities of war;
That the only legitimate object which States should endeavour to accomplish
during war is to weaken the military forces of the enemy;
That for this purpose it is sufficient to disable the greatest possible number
of men;
That this object would be exceeded by the employment of arms which
uselessly aggravate the sufferings of disabled men, or render their death
inevitable;
That the employment of such arms would, therefore, be contrary to the laws
of humanity;

The Contracting Parties engage mutually to renounce, in case of war among


themselves, the employment by their military or naval troops of any projectile
of a weight below 400 grammes, which is either explosive or charged with
11
fulminating or inflammable substances.”

10
BORGES, Leonardo Estrela, Coleção para entender: O direito internacional
humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 09.

11
“Que o progresso da civilização deve ter o efeito de atenuar tanto quanto possível as
calamidades da guerra; Que o único objeto legítimo que os Estados devem se esforçar para realizar
durante a guerra é enfraquecer as forças militares do inimigo; Que, para este propósito, é suficiente
incapacitar o maior número possível de homens;
Que este objetivo seria excedido pelo emprego de armas que inutilmente agravam os
sofrimentos dos homens inválidos, ou tornam a sua morte inevitável;
Que o emprego de tais armas seria, portanto, contrário às leis da humanidade;
7

A Declaração visava evitar uma corrida armamentista e o


estremecimento das relações diplomáticas entre os países contratantes, uma vez
que o exército russo havia desenvolvido uma bala de mosquete mais potente,
projetada para explodir ao atingir o alvo, o que causou a apreensão de Gorchakov.

Essas duas normas (Código Lieber e Declaração de São Petersburgo)


mais tarde influenciariam um ramo do Direito Humanitário conhecido como direito de
Haia, que surgiu em meio a duas Conferências: uma em 1899 e outra em 1907 e
tinha o intuito de normatizar o trâmite das hostilidades entre combatentes.

5 O COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA

O Comitê Internacional Da Cruz Vermelha (CICV) ou simplesmente a


Cruz Vermelha Internacional foi instituído oficialmente em 1863, e é considerado por
12
muitos como o “guardião do Direito Internacional Humanitário” , sendo a ele
atribuída uma personalidade jurídica internacional que permite a realização de
acordos com Estados, entre outras tarefas de caráter diplomático. É preciso
observar que muitos consideram essa personalidade como sendo ficta, uma vez que
o CICV é uma agência privada, embora alguns a reconheçam como ente

As Partes Contratantes empenham-se mutuamente a renunciar, em caso de guerra entre si, o


emprego por suas tropas militares ou navais de qualquer projétil com um peso inferior a 400 gramas,
que pode ser explosivo ou carregado com substâncias fulminantes ou inflamáveis.” Declaration
Renouncing the Use, in Time of War, of certain Explosive Projectiles. Saint Petersburg, 29
November/11 December 1868.

12
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 168.
8

personalizado do Direito Internacional Público, principalmente devido ao seu


trabalho humanitário e a possibilidade de celebração de tratados internacionais pelo
comitê gestor da entidade.

A Cruz Vermelha tem um caráter laico, ou seja, sua atuação nunca


esteve vinculada a alguma religião, atuando sempre de forma imparcial. Entretanto,
países muçulmanos exigiram a aceitação do Crescente Vermelho ao lado do
símbolo da Cruz Vermelha, denotando a essa última um caráter religioso. O símbolo
do crescente foi utilizado por voluntários da Turquia no conflito contra a Rússia entre
1876 e 1878 e adotado oficialmente em 1929.

A criação do CICV ocorreu principalmente pelas ações de Henri Dunant


(1828-1910) que, após presenciar a Batalha de Solferino em 24 de junho de 1859,
onde mais de quarenta mil pessoas estavam mortas ou feridas ao final de um dia,
em muitos casos por falta de atendimento médico adequado, escreveu um livro
intitulado Un souvenir de Solferino (Lembrança de Solferino), onde relata suas
experiências e

(...) assinala duas ações que deveriam ser adotadas para que esse tipo de
situação pudesse ser evitada: a criação de sociedades de socorro privadas,
que atuariam nos locais de conflito independentemente do vínculo com
qualquer das partes; e a aprovação de um tratado internacional que
13
facilitasse a sua atuação.

Em 1863, um grupo de cinco pessoas, incluindo Henri Dunant funda o


então chamado Comitê Internacional de Ajuda aos Feridos, que em 1880 passaria a
ser o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Em 1864, com a ajuda do Comitê e do
governo suíço, foi realizada a primeira Convenção de Genebra. Este foi o primeiro
tratado de Direito Internacional Humanitário, posteriormente ampliado por mais três
convenções e outros protocolos.

13
BORGES, Leonardo Estrela, Coleção para entender: O direito internacional
humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 10.
9

Cada Convenção de Genebra encerra um regime de proteção de uma


categoria principal de vítimas dos conflitos armados. Assim, representam
essa categoria principal na primeira Convenção os feridos e os doentes. Na
segunda Convenção, representam-na os feridos, os doentes e os
náufragos. A da terceira Convenção abrange os prisioneiros de guerra e a
14
da quarta Convenção a população civil.

Os Estatutos do CICV previam que seu papel seria:

a) manter e disseminar os Princípios Fundamentais do Movimento, a saber


humanidade, imparcialidade, neutralidade, independência, serviço
voluntário, unidade e universalidade;

b) reconhecer qualquer Sociedade Nacional recém fundada ou


reconstituída, que preencha as condições para reconhecimento,
estabelecidas pelos Estatutos do Movimento, e informar outras Sociedades
Nacionais sobre este reconhecimento;

c) empreender as tarefas determinadas pelas Convenções de Genebra,


trabalhar pelo cumprimento correto do Direito Internacional Humanitário em
casos de conflitos armados e tomar conhecimento de quaisquer queixas
baseadas em supostos casos de desrespeito deste direito;

d) empenhar-se sempre – na qualidade de instituição neutra cujo trabalho


humanitário é colocado em prática particularmente em épocas de conflitos
armados internacionais ou de outro tipo ou de distúrbios e tensões internas
– para garantir a proteção e a assistência para as vítimas civis e militares
deste gênero de acontecimento e de seus resultados diretos;

e) garantir a operação da Agência Central de Buscas tal como determinado


nas Convenções de Genebra;

f) contribuir, a título de prevenção em casos de conflitos armados em vista,


para o treinamento de pessoal médico e a preparação de equipamento
médico, em cooperação com as Sociedades Nacionais, os serviços médicos
militares e civis e outras autoridades competentes;

g) trabalhar para a compreensão e a disseminação do conhecimento do


Direito Internacional Humanitário, aplicável em conflitos armados, e preparar
para o seu eventual desenvolvimento.

14
SWINARSKI, Christophe e Fabris, Sergio Antonio (org.). A norma e a guerra. Porto Alegre:
Sete Mares Editora, 1991, p. 34.
10

h) cumprir os mandatos confiados ao CICV pela Conferência Internacional


15
da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (a Conferência Internacional).

Em um primeiro momento, as funções do CICV se restringiam à


coordenação. Com o passar do tempo, suas ações de campo foram aumentando de
modo que se tornou um movimento chamado de Movimento Internacional da Cruz
Vermelha e do Crescente Vermelho, englobando, assim, o Comitê Internacional da
Cruz Vermelha, a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do
Crescente Vermelho e as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente
Vermelho.

A Cruz Vermelha Internacional possui três emblemas adotados


oficialmente que são utilizados em campo, tanto para reconhecimento, quanto
proteção dos indivíduos. O emblema inicial é a cruz vermelha sobre um fundo
branco, amplamente conhecido, inspirado na bandeira da Suíça.

O segundo emblema é o crescente vermelho, usado pela primeira vez


na guerra entre Rússia e Turquia, atualmente reconhecido e utilizado por países
islâmicos. Como esses emblemas geravam controvérsias religiosas e culturais (a
cruz lembra o cristianismo e o crescente o islamismo), foi criado um terceiro símbolo:
o cristal vermelho, evitando, assim, discussões acerca dos emblemas. Há ainda
outro símbolo de um leão vermelho junto de um sol, entretanto, apesar de
reconhecido, não é mais utilizado.

Atualmente, o Movimento é a maior rede mundial de ajuda humanitária,


atuando em casos de conflitos armados para atendimento médico dos feridos,
vítimas de guerra. Para tanto, não é feita qualquer distinção entre os lados
combatentes e entre combatentes e civis. A Cruz vermelha presta socorro de forma
independente e imparcial, garantindo, assim, que a ajuda chegue a todos os
envolvidos nos conflitos armados. São feitos atendimentos em hospitais e mesmo

15
Estatutos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). 08-05-2003 N° 831
11

nas frentes de combate, a fim de assegurar que os feridos possam ser retirados das
zonas de guerra e tenham um tratamento médico adequado.

6 A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E A LIGA DAS NAÇÕES

O fim da Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918 e ceifou a


vida de milhões de pessoas gerou a criação em 1919 da Liga das Nações, uma
organização internacional com estrutura e objetivos semelhantes aos da atual
Organização das Nações Unidas (ONU).

Essa organização foi instituída pelo Tratado de Versalhes, acordo de


paz assinado pelos países beligerantes, que pôs um fim oficial à Primeira Grande
Guerra, estabelecendo condições favoráveis aos vencedores, mas pesadas
indenizações aos alemães e austríacos.

A dissolução da Liga ocorreu perante o fracasso em seu objetivo


principal de evitar outro conflito global, uma vez que a gênese da Segunda Guerra
Mundial encontra-se nos termos impostos pelo próprio Tratado de Versalhes.

Apesar disso, foi durante esse conflito que ocorreu uma real tentativa
de aplicar o Direito Humanitário, com um grande envolvimento do CICV, como a
criação da Agência Central de Prisioneiros de Guerra, além de outras medidas que
buscavam evitar um maior sofrimento para os combatentes.

O Comitê continuou inovando: suas visitas a prisioneiros de guerra se


tornaram mais frequentes durante este período e a organização também
interveio na questão do uso de armas que causavam sofrimento extremo;
em 1918, exortou os beligerantes a renunciarem ao uso do gás mostarda.
Naquele mesmo ano, visitou prisioneiros políticos pela primeira vez, na
Hungria.
12

As próprias sociedades nacionais tiveram uma mobilização sem


precedentes; voluntários dirigiam ambulância em campos de batalha e
cuidavam de feridos em hospitais. Para a Cruz Vermelha em muitos países,
16
este foi o seu melhor momento.

As diversas violações na guerra levaram à discussão da criação de um


tribunal internacional para julgar autoridades das potências centrais, principalmente
o Kaiser Guilherme II de Hohenzollern, último imperador da Alemanha, considerado
o principal responsável pela guerra, como se observa no artigo 227 do Tratado de
Versalhes:

“The Allied and Associated Powers publicly arraign William II of


Hohenzollern, formerly German Emperor, for a supreme offence against
international morality and the sanctity of treaties.

A special tribunal will be constituted to try the accused, thereby assuring him
the guarantees essential to the right of defence. It will be composed of five
judges, one appointed by each of the following Powers: namely, the United
States of America, Great Britain, France, Italy and Japan.

In its decision the tribunal will be guided by the highest motives of


international policy, with a view to vindicating the solemn obligations of
international undertakings and the validity of international morality. It will be
its duty to fix the punishment which it considers should be imposed.

The Allied and Associated Powers will address a request to the Government
of the Netherlands for the surrender to them of the ex-Emperor in order that
17
he may be put on trial.”

16
Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 2010.

17
“As potências aliadas e associadas acusam William II de Hohenzollern, anteriormente
imperador da Alemanha, por uma ofensa suprema contra a moralidade internacional e a santidade
dos tratados. Um tribunal especial será formado para julgar o acusado, assim assegurando-lhe as
garantias essenciais do direito de defesa. Ele será composto por cinco juízes, nomeados por cada
uma das seguintes potências: a saber, Estados Unidos da América, Grã-Bretanha, França, Itália e
Japão. Em sua decisão o tribunal será guiado pelos mais elevados motivos da política internacional,
com a preocupação de assegurar as obrigações solenes dos engajamentos internacionais e a
validade da moralidade internacional. Será seu dever determinar a pena que estimar que deva ser
aplicada.
As potências aliadas e associadas encaminharão ao governo dos Países Baixos uma petição
solicitando a entrega do ex-imperador, a fim de que ele possa ser levado a julgamento.”
The Versailles Treaty June 28, 1919 : Part VII
13

Esse tribunal nunca chegou a ser criado, sendo concedida ao supremo


tribunal de Leipzig, na Alemanha, a competência para tal julgamento, conhecido
como Tribunal de Leipzig.

Entretanto, o resultado final restou insatisfatório. Poucas autoridades


foram realmente julgadas e condenadas pelo tribunal, e as que foram, receberam
penas ínfimas que chegavam a três anos. "naquele momento, a justiça foi
sacrificada em favor da política. Havia uma preocupação maior em salvaguardar a
18
paz na Europa".

A Holanda se recusou a extraditar o Kaiser, que lá havia se refugiado,


sob o pretexto do Direito de Asilo. Desse modo, o ex-imperador nunca teve seus
crimes julgados, mesmo porque ele tinha um vínculo de parentesco com a rainha da
Holanda que lhe assegurou refúgio político. Com isso, houve um enfraquecimento
da apuração das violações dos direitos humanos, além do que, os vencedores
estavam mais preocupados de assegurar as cláusulas indenizatórias previstas nos
tratados de Versalhes, que foram tão sufocantes, que levaram a um novo conflito em
nível mundial.

Apesar das questões políticas envolvendo esse fracasso, foi quando se


iniciou a ideia da criação de tribunais ad hoc para responsabilização por afrontas aos
direitos humanos.

7 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

18
MAIA, Marielle. Tribunal penal internacional: aspectos institucionais, jurisdição
e princípio da complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 47.
14

A normatização dos Direitos Humanos ganhou uma enorme relevância


para o Direito Internacional após a Segunda Grande Guerra no Século XX, pois o
mundo ainda estava sob o impacto das constatações de graves violações dos
direitos humanos, em especial pela Alemanha Nazista e pelo Império do Japão,
como o extermínio de judeus em campos de concentração, experiências envolvendo
seres humanos, entre outras violações que demonstravam total desprezo pela vida
humana.

As atrocidades testemunhadas na Segunda Guerra Mundial, o conflito


armado que mais matou pessoas 19 na história humana, levaram a um esforço
mundial que impulsionou o Direito Internacional Humanitário. Ante a devastação de
diversos países e a impotência da atuação do CICV para proteger as vítimas do
holocausto, constatou-se que eram necessários meios de solidificação das normas
existentes, de modo que elas pudessem ser aplicadas de forma efetiva.

“Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, a situação jurídica era


diferente da que vigorava na eclosão da Primeira. As potências do Eixo
eram partes signatárias do Pacto Kellogg-Briand, pelo qual recorrer a guerra
de agressão é um delito; e a Alemanha, ao atacar a polônia e a Rússia,
violou, além do Pacto Kellogg-Briand, os pactos de não agressão com os
20
Estados atacados.”
Kelsen ainda observa que “a criação de um Estado federal mundial
21
composto de todas as nações ou o máximo possível delas” é a melhor solução
para se buscar a paz mundial.

19
AGUIAR, Lívia. Os 12 conflitos armados que mais mataram pessoas. Revista
Superinteressante. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/os-12-conflitos-
armados-que-mais-mataram-pessoas/>

20
KELSEN, Hans. A Paz Pelo Direito. Tradução Lenita Ananias do Nascimento. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011, p. 83.

21
KELSEN, Hans. A Paz Pelo Direito. Tradução Lenita Ananias do Nascimento. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011, p. 5.
15

Destarte, em 1945, na Conferência de São Francisco foi desenvolvida


a Carta das Nações Unidas que, após sua ratificação pela maioria dos signatários,
oficializou a Organização das Nações Unidas (ONU), com sede permanente em
Nova York, nos Estados Unidos.

O art. 1º da Carta das Nações Unidas apresenta os objetivos dessa


organização:

Artigo 1
Os propósitos das Nações unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar,
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os
atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios
pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito
internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que
possam levar a uma perturbação da paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito
ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e
tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas
internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a
22
consecução desses objetivos comuns.

A ONU teve início com 51 países e foi aumentando progressivamente


sua abrangência, abarcando atualmente quase todos os Estados independentes.
Desse modo, para não haver controvérsias quanto às obrigações adquiridas pelos
Estados, o art. 103 da Carta das Nações Unidas eleva-a ao ponto mais alto da
hierarquia do Direito Internacional Público, prevalecendo sobre qualquer tratado
internacional.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, realizada em 10 de


dezembro de 1948, em Paris, pela resolução 217 A-III da Assembleia Geral da ONU,
é um instrumento de positivação dos direitos humanos, em complemento com os

22
Carta das Nações Unidas, São Francisco, a 26 de junho de 1945.
16

propósitos das Nações Unidas. 23 Antes, a proteção desses direitos ficava a cargo de
legislações esparsas e restritas a poucos países. Com a Declaração, surgiu a
internacionalização dos direitos humanos, um primeiro passo para um sistema
24
jurídico universal. Dos cinquenta e seis países presentes na Assembleia, quarenta
e oito foram a favor, sendo que oito se abstiveram.

A Declaração Universal de 1948 compreende os direitos civis e


políticos, além dos direitos sociais, econômicos e culturais. É composta por trinta
artigos e um preâmbulo, onde a apreensão mundial no período pós-guerra é
demonstrada de forma clara:

“Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem


conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade
e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de
falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais
25
alta inspiração do Homem;”

A preocupação da ONU com o Direito Internacional Humanitário pode


ser observada em 1968, na Conferência de Teerã sobre Direitos Humanos, na qual,
ao final é elaborada a Resolução XXII, concernente à aplicação dos direitos
26
humanos em conflitos armados.

23
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 519.

24

WEIS, Carlos. Direitos Humanos Contemporâneos. São Paulo: Malheiros


Editores, 1999, p. 21.

25
Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948)

26
BORGES, Leonardo Estrela, Coleção para entender: O direito internacional
humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 31.
17

Surge, assim, uma nova corrente do Direito Internacional Humanitário,


ao lado do direito de Haia e do direito de Genebra: o direito de Nova York, como
explicado no próximo tópico.

8 DIREITO DE HAIA, GENEBRA E NOVA YORK

O Direito Internacional Humanitário, em sua evolução, se ramifica em três


correntes: o direito de Haia, o direito de Genebra e o direito de Nova York, assim
denominadas de acordo com o local em que surgiram.

2.1 Direito de Haia

O chamado Direito de Haia é o direito da guerra propriamente dito, ou


seja, são as regras internacionais que regulam e limitam a ação dos combatentes no
campo de batalha.

Influenciado pelo Código Lieber e pela Declaração de São Petersburgo,


o Direito de Haia tem início nas Convenções de Paz de Haia de 1899 e 1907, das
quais o Brasil é signatário.

As convenções disciplinavam costumes acerca da guerra terrestre e


marítima, com o objetivo de limitar o poder de atuação dos combatentes. Algumas
dessas normas não existem mais, outras, entretanto, são ainda úteis e seguem três
princípios básicos, como afirma Rezek 27:

27
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. São
Paulo: Saraiva, 2010, p. 386.
18

1. Limitação ratione personae: limita as pessoas-alvo de um eventual


ataque. A população civil, que não é combatente, deve ser
poupada.
2. Limitação ratione loci: os locais atacados devem apresentar um fim
militar, a obtenção de alguma vantagem.
3. Limitação ratione conditionis: são proibidos os meios que causem
sofrimento excessivo ao inimigo.

Além disso, é o Direito de Haia que traz a noção de neutralidade, uma


opção de conduta a ser adotada ante um conflito armado, na qual os Estados
neutros tomam uma posição de imparcialidade. Em uma breve conceituação, é uma
situação de alheamento perante as hostilidades entre duas ou mais potências28, sem
qualquer participação ativa ou passiva.

O direito de Haia teve um forte avanço depois das duas grandes


guerras mundiais, com a criação de protocolos e convenções para restringir a
fabricação e uso de determinados tipos de armamento, como a Convenção sobre
armas biológicas de 1972.

Entretanto, ainda hoje há fortes indícios de utilização de armas


químicas e biológicas em conflitos, como no caso da Síria, que está sob
investigação das Nações Unidas. Conforme veiculado pelo site de notícias
Euronews, “Governo e rebeldes acusam-se mutuamente de utilizarem armas
químicas em ataques levados a cabo em março e dezembro passados”. 29 Apesar
das acusações, nada é confirmado. Há dificuldades de se apurar fatos ocorridos
durante os conflitos.

28
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 667.

29
EURONEWS. 07/05/2013. Disponível em: < http://pt.euronews.com/2013/05/07/onu-
investigaces-sobre-armas-quimicas-na-siria-sao-
inconclusivas/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+euro
news%2Fpt%2Fnews+(euronews+-+news+-+pt) >
19

O governo da Síria também foi acusado de usar minas antipessoais


30
nos conflitos ocorridos em 2012 , o que viola o Tratado de Proibição de Minas
Antipessoal de 1997 (Tratado de Ottawa). As minas antipessoais são repudiadas
pelo grande sofrimento que infligem, causando mutilações nas vítimas, sem o
objetivo de matar. Com o emprego desse tipo de armamento não é possível
discriminar os atingidos, desse modo, tanto combatentes quanto civis podem ser
alvo.

2.2 Direito de Genebra

O direito de Genebra trata efetivamente da proteção humana no caso


de um conflito armado, é a ajuda humanitária prestada aos feridos e não
combatentes. Sua fundamentação está nas quatro Convenções de Genebra de 1949
e em seus protocolos adicionais de 1977. Entretanto, sua real origem é atribuída a
Henri Dunant, fundador da Cruz Vermelha Internacional, e ao governo da Suíça, em
suas ações de ajuda humanitária.

Em linha gerais, as convenções protegem (a) os soldados postos fora de


combate porque feridos, enfermos ou náufragos, (b) os soldados reduzidos
ao estatuto de prisioneiros de guerra, em caso de captura ou rendição, (c)
todo o pessoal votado aos serviços de socorro, notadamente médicos e
enfermeiros, mas também capelães, administradores e transportadores
sanitários, e (d) os não-combatentes, ou seja, os integrantes da população
31
civil.

30
G1 Portal de Notícias. Governo sírio foi o único a usar minas antipessoais em 2012, diz
ONG. Disponível em: <http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2012/11/governo-sirio-foi-o-unico-
usar-minas-antipessoais-em-2012-diz-ong.html>

31
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. São
Paulo: Saraiva, 2010, p. 390.
20

Os dois protocolos posteriores vêm como uma forma de atualizar as


Convenções e preencher eventuais lacunas. As denúncias de violações ocorridas
nas zonas de conflito são constantes, porém os crimes são de difícil apuração em
meio à desordem, levando a resultados inconclusivos.

2.3 Direito de Nova York

Os empenhos da ONU no desenvolvimento do direito humanitário


criaram o chamado Direito de Nova York, assim nomeado devido ao local sede das
32
Nações Unidas. Como afirma Mazzuoli , o sistema das Nações Unidas se baseia
no princípio da segurança coletiva mundial, ou seja, devem ser respeitados certos
parâmetros mínimos de convivência entre Estados, como a proteção dos direitos
humanos, para se chegar à paz mundial.

A Carta das Nações Unidas traz os direitos humanos como liberdades


individuais. Posteriormente, a Declaração Universal dos Direitos do Homem de
1948, prevê os direitos de primeira e segunda dimensão, ou seja, os direitos civis e
políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais. Os direitos humanos de
terceira dimensão, sob a ótica atual, são os chamados direitos de fraternidade e
prevê, entre outros, o direito à paz.

À luz da Declaração Universal de 1948, foram realizados em 1966 os


Pactos das Nações Unidas sobre direitos civis, políticos, econômicos e sociais 33,
também chamados de Pactos de Nova York. Esses pactos, uma vez ratificados, são
de cumprimento obrigatório, o que lhes confere até mais importância do que a

32
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 336.

33
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. São
Paulo: Saraiva, 2010, p. 228.
21

Declaração de 1948, embora esta última tenha um peso maior por codificar
princípios antes considerados como de direito internacional costumeiro 34. O Brasil
fez a ratificação de tais tratados em 1992, sendo que participou na elaboração dos
mesmos.

Em um primeiro momento, as ações da ONU não eram voltadas


especificamente para esse tema, mas do mesmo modo contribuíram para seu
progresso, uma vez que o direito humanitário faz parte do Direito Internacional dos
Direitos Humanos, recebendo os reflexos de sua evolução.

Isso muda com Conferência de Teerã sobre Direitos Humanos de


1968, na qual se regulamentou a aplicação dos direitos humanos em tempo de
35
guerra, com a Resolução XXIII.

Inicialmente, as três correntes (Haia, Genebra e Nova York) eram bem


divididas em seus objetivos e legislações. Atualmente, não há uma divisão clara,
sendo que essa só tem relevância para fins de estudo. Os próprios Protocolos
Adicionais de 1977 trazem regras tanto do direito de Genebra quanto do de Haia.

9 DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO CONSUETUDINÁRIO

O costume internacional é considerado uma das fontes de Direito


Internacional Público, sendo a mais antiga delas. Apesar da atual institucionalização
de normas internacionais, a importância do costume é observada pelo fato de não

34

ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e; CASELLA, Paulo


Borba. Manual de direito internacional público. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 495.

35
BORGES, Leonardo Estrela, Coleção para entender: O direito internacional
humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 31.
22

existir uma entidade central internacional para elaboração de normas jurídicas. Os


tratados internacionais são elaborados a partir das práticas reiteradas e da boa-fé.

O termo consuetudinário advém de costume. Como afirma Mazzuoli,


“(...) o costume internacional resulta da prática geral e consistente dos atores da
sociedade internacional em reconhecer como válida e juridicamente exigível
36
determinada obrigação” .

Os costumes imperavam na prática internacional antes dos Tratados


de Westfália, quando a normatização de regras ganhou importância. Ainda assim,
eles formam a base para as normas internacionais, citando o Código de Lieber como
exemplo, que reuniu costumes e princípios já existentes em um documento.

O Direito Internacional Humanitário consuetudinário surge como um


meio de suprir eventuais lacunas nas regras de direito humanitário, se baseando em
costumes preexistentes. Além disso, ele permite a vinculação de vontade de
37
Estados que não ratificaram essas regras.

É um parâmetro básico de conduta em conflito armado aceito pela


comunidade internacional. O Direito Internacional Humanitário
Consuetudinário se aplica universalmente – independente da aplicação do
Direito convencional – e está baseado na prática abrangente e praticamente
uniforme dos Estados considerada lei.

O Direito Internacional Humanitário Consuetudinário é importante porque


suas regras podem reduzir o custo humano do conflito armado. Elas
complementam a proteção proporcionada pelo Direito convencional às
vítimas de conflitos e completam algumas lacunas que resultam de

36
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 81.

37
DEYRA, Michel. Direito Internacional Humanitário. Tradução Catarina de Albuquerque e
Raquel Tavares. Gabinete de Documentação e Direito Comparado Procuradoria-Geral da República.
Lisboa: 2001, p. 22.
23

tratados que ainda não foram ratificados ou do Direito convencional, que


38
carece de regras mais claras sobre o conflito armado não internacional.

Apesar de ser uma antiga fonte de Direito Internacional Público, o


Direito Humanitário consuetudinário é uma corrente relativamente nova que ressalta
a atenção que a comunidade internacional atribui ao tema e possibilita a obtenção
cada vez maior de recursos em um esforço para garantir o exercício dos direitos
humanos mesmo em situações consideradas ilícitas, como os conflitos armados.

10 TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

Ainda que diversas regras de direito humanitário tenham sido


positivadas no século XX, para sua real aplicação são precisos meios coercitivos
que vinculem os Estados, em outras palavras, busca-se a universalidade da
jurisdição internacional. Já havia a Corte Internacional de Justiça, para julgar os
Estados nas suas contendas logo após a Segunda Guerra Mundial, dentro da
estrutura da Organização das Nações Unidas. Todavia, a criação do tribunal
Internacional ensejou outros caminhos na busca do devido processo legal para
efetivação dos direitos humanos em nível internacional.

(...) nenhum contrato social pode formar uma comunidade pacificada mais
duradoura sem que tenha poder para impor a ordem constituinte da

38
HENCKAERTS, Jean-Marie. Direito Internacional Humanitário Consuetudinário: reduzindo o
custo humano do conflito armado.
24

sociedade. A força e o direito não são mutuamente exclusivos. O direito é


39
uma organização da força.

Essa afirmação de Kelsen é valida também para o direito internacional.


Por isso é necessária a existência de tribunais internacionais, não só para solução
de conflitos, mas para o julgamento de crimes contra a humanidade, como ficou
observado após as duas grandes guerras mundiais.

O tribunal alemão de Leipzig, já citado anteriormente, recebeu uma


competência exclusiva para julgar os autores da Primeira Guerra Mundial, na falta
de um tribunal internacional. Sua atuação, no entanto, não foi muito efetiva, tanto
pela não entrega do Kaiser, quanto pelas críticas que recebeu por ser um tribunal de
exceção.

10.1 Os Tribunais de Nuremberg e de Tóquio

Após a Segunda Guerra Mundial, em resposta às atrocidades do


Holocausto, foram criados os tribunais de Nuremberg e de Tóquio.

O tribunal de Nuremberg foi instituído no Acordo de Londres (1945),


onde estavam representados a França, Grã-Bretanha, Estados Unidos da América e
a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Sua competência envolvia crimes
contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Esse tribunal foi importante por responsabilizar o indivíduo no plano


internacional, tendo julgado importantes pessoas do partido nazista, sem se deixar
afetar por sua posição política, diferente do que ocorreu no tribunal de Leipzig.

“Foram réus no Tribunal de Nuremberg Hermann Goering, Rudolf Hess,


Joachim Von Ribbentrop, Robert Ley, Wilhelm Keitel, Emst Kaltenbrunner,

39
KELSEN, Hans. A Paz Pelo Direito. Tradução Lenita Ananias do Nascimento. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011, p. 7.
25

Alfred Rosemberg, Hans Frank, Wilhelm Frick, Julius Streicher, Wilhelm Funk,
Hjalmar Sclacht, Gustav Krupp, Karl Donitz, Erich Raeder, Baldur Von
Schirach, Frita Sauckel, Alfred Jodl, Martins Borman, Franz Von Papen,
Arthur Seyss-Inquart, Albert Speer, Constantin Von Neurath e Hans Fritz-
40
che.”

As penas impostas variavam, desde a pena capital até prisão por 10


anos. Alguns acusados ainda chegaram a ser absolvidos.

O tribunal de Tóquio, por sua vez, objetivava a punição de autoridades


do Japão imperial por crimes de guerra e contra a humanidade na Segunda Guerra.

Esses dois tribunais, Nuremberg e Tóquio foram alvo de muitas


críticas, não só pelas condições precárias enfrentadas pela defesa dos acusados,
que não conseguiam reunir provas em meio ao caos em que o país se encontrava,
como também pela característica de excepcionalidade dos tribunais, que feria o
princípio do nullum crimen nulla poena sine lege e do juiz natural.

Entretanto, analisando o caso, não se pode deixar impune os


envolvidos nas atrocidades da Segunda Guerra e, em um sopesamento de valores,
deve-se pensar que a justiça feita nesses casos é mais importante do que questões
técnicas envolvendo a competência dos tribunais.

10.2 Tribunais Ad Hoc

Tribunais Ad Hoc têm uma característica de excepcionalidade. São tribunais


criados para determinado fim e, uma vez cumprida sua função, são encerrados.
Uma das maiores críticas a esses tribunais está no fato de que seu caráter de
exceção violaria o princípio do juiz natural, considerado pela doutrina como uma

40
Pedro Paulo Filho - Depto. Editorial OAB-SP. Grandes Advogados,
Grandes Julgamentos - O Tribunal de Nuremberg. Disponível em:
<http://www.oabsp.org.br/institucional/grandes-causas/o-tribunal-de-nuremberg>
26

forma de garantia de justiça e existente desde a Magna Charta Libertatum de 1215


em seu artigo 39, que faz menção ao princípio do devido processo legal.

Apesar dos argumentos contrários, afrontas contra os direitos humanos


levaram o Conselho de Segurança da ONU a criar os tribunais Ad Hoc da ex-
Iugoslávia e de Ruanda.

O tribunal da ex-Iugoslávia surgiu em 1993, principalmente, devido à


perseguição étnica sofrida pelos albaneses e pelo bombardeio indiscriminado de
civis e militares durante a guerra entre Bósnia e Sérvia, iniciada em 1991, que
deixou mais de 200 mil mortos. Entre os acusados está o ex-chefe de Estado da
Sérvia, Slobodan Milosevic.

Em 1994 foi criado o tribunal Ad Hoc de Ruanda, com competência


para julgar infratores envolvidos no conflito interno entre as etnias tutsi e hutu.

A atuação internacional se fez necessária ante a barbárie de crimes


como punições coletivas, terrorismo, tomada de reféns e pilhagem 41 que estavam
ocorrendo no país. Ainda que não houvesse tantos resultados no âmbito
internacional, o conflito era marcado pelo genocídio dos tutsi, e a comunidade
internacional não podia fechar os olhos para isso.

Outra forte crítica a esses tribunais criados pela ONU é de que o


Conselho de Segurança não pode criar tribunais para julgar e punir nacionais de
Estados-membros com assento permanente. 42

Mesmo com as fortes críticas, a criação desses tribunais era


necessária ante a brutalidade evidenciada nos conflitos, de forma que a aplicação da
justiça nesses casos foi considerada essencial e trouxe muitos reflexos positivos,

41
CALETTI, Cristina. Os precedentes do Tribunal Penal Internacional, seu estatuto
e sua relação com a legislação brasileira. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n.
64, 1 abr. 2003 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/3986>.

42
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 549.
27

como a preocupação internacional pelos indivíduos no âmbito interno, além da


primeira condenação de um indivíduo por genocídio.

10.3 Tribunal Penal Internacional

As críticas levantadas a respeito dos tribunais Ad Hoc impulsionaram a


criação de um tribunal penal internacional permanente. Desse modo, em 1998, foi
elaborado o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, com o apoio de
cento e vinte Estados. Na busca de garantir o devido processo legal e o fim dos
tribunais de exceção, a Organização das Nações Unidas buscou discutir o assunto.
Em Roma, os países participaram de uma Conferência, que acabou definindo a
criação do Estatuto de Roma, para determinadas violações.

Reafirmando a legalidade dos tribunais ad hoc da ONU e a


responsabilidade criminal de pessoas físicas no plano internacional, o Estatuto visa
a criação de um Tribunal Penal Internacional com sede em Haia, na Holanda, e com
personalidade jurídica própria, visando sua independência e permanência.

A competência do Tribunal é subsidiária, ou seja, só existirá depois de exercida a


competência que cabe ao Estado-membro, podendo ser qualquer um que faça parte
da ONU, conforme artigo 1º do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional:

o
Artigo 1

O Tribunal

É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o


Tribunal"). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre
as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance
internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às
jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal
43
reger-se-ão pelo presente Estatuto.

43
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, Decreto Nº 4.388, De 25 De
Setembro De 2002.
28

O estatuto entrou efetivamente em vigor em 1º de julho de 2002,


citando em seu preâmbulo “crimes de maior gravidade que afetem a comunidade
internacional no seu conjunto”. Esses crimes são imprescritíveis e se dividem em
crimes de guerra, contra a humanidade, de genocídio e de agressão. É importante
lembrar que a competência só se estende a crimes praticados depois da entrada em
vigor do Estatuto no âmbito internacional.

A criação desse tribunal regularizou a responsabilidade individual no


plano internacional, igualando todas as pessoas, independente de sua posição
política ou social. Ainda que não tenha sido aceito por todos os países, representa
um grande avanço para a comunidade internacional.

11 CONCLUSÃO

Os diversos conflitos envolvendo o passado e presente da humanidade


demonstram como foi essencial a atuação na busca pelo Direito Internacional
Humanitário. A paz social sempre deve ser o fim almejado, entretanto, uma vez que
esta se encontra muito distante da nossa realidade, deve-se buscar todos os meios
possíveis de conduzir os conflitos de forma a proteger o indivíduo.

Apesar dos esforços dos organismos internacionais na busca pela


resolução pacífica de conflitos, o cenário atual é marcado por ameaças, ataques
terroristas, guerras internas e insegurança. Com a corrida tecnológica e o receio
quanto ao manuseio de elementos nucleares por parte de alguns países, a tensão
entre Estados tende a aumentar.
29

É fato que o avanço tecnológico pode ser muito favorável também,


expondo afrontas aos direitos humanos, ligando os organismos internacionais aos
indivíduos que precisam de ajuda, permitindo maior contato com lugares remotos ou
situações hostis. Desse modo, as forças de ajuda humanitária conseguem abranger
um número cada vez maior de auxiliados.

Entretanto, ainda há muito que se fazer, principalmente em relação à


legislação internacional. O Direito Humanitário Consuetudinário ajuda a preencher
muitas lacunas, mas, ainda assim, diversas situações precisam de regulamentação.
Além disso, muitos países não estão vinculados às regras de Direito Internacional e
agem por suas próprias razões.

De uma forma ou de outra a humanidade caminha e se desenvolve. As


atrocidades das grandes guerras mundiais demonstraram a que ponto o valor da
vida humana pode chegar para seus semelhantes. É preciso entender que enquanto
questões políticas e econômicas tiverem maior importância do que membros da
própria espécie, a humanidade está fadada a se autodestruir.

Felizmente, o Direito Humanitário segue uma linha de pensamento


baseado no apoio, na proteção, no socorro aos indivíduos, demonstrando que
mesmo em meio à barbárie deflagrada pela guerra é possível encontrar refúgio. E
representa a primeira etapa na luta por um documento em nível mundial, como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos e a criação de tribunais internacionais.

A criação do Tribunal Penal Internacional é um importante marco na


busca do Direito Internacional dos Direitos Humanos, introduzindo a noção de
responsabilidade mundial.

O Brasil participou das discussões acerca da elaboração do Estatuto


de Roma para o Tribunal Penal Internacional, sendo um dos signatários originais, se
comprometendo em nível internacional com os direitos humanos.

Desse modo, o Brasil presta o compromisso de entregar qualquer


pessoa que tenha cometido os crimes previstos no Estatuto, quais sejam crimes de
guerra, contra a humanidade, de agressão e de genocídio. É de se lamentar a falta
de previsão para o crime de terrorismo e de tráfico de entorpecentes, uma vez que
produzem fortes reflexos internacionais.
30

A ausência de diversas potências, como China, Rússia e Estados


Unidos no Tribunal Penal Internacional causa uma repercussão ruim. No caso dos
Estados Unidos, seu envolvimento com operações de guerra o impede de ratificar o
tratado. Entretanto, busca-se a cooperação desses países através de vias
diplomáticas e espera-se que com a força internacional cada vez mais notória do
Tribunal esses países venham a aderi-lo futuramente.

Com o suporte de uma legislação internacional e a garantia de seu


cumprimento por um órgão jurisdicional, o Direito Internacional Humanitário segue
como um aliado pela efetivação dos direitos humanos nas condutas mais hostis da
humanidade.

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The Versailles Treaty June 28, 1919 : Part VII
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