Tati Fujii-Pitadas de Nutrigenética

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SUMÁRIO

Apresentação 3
Minha história 4
Somos únicos, somos exclusivos 6
Genômica nutricional 8
Nutrigenética 11
Polimorfismos genéticos 13
Nutrigenômica 20
Expressão gênica 23
Epigenômica nutricional 25
Nutrimirômica 28
Exames de nutrigenética 29
Áreas de atuação 35
Referências bibliográficas 37
APRESENTAÇÃO

Olá seja bem-vindo (a) ao E-book


Pitadas de Nutrigenética, um conteúdo
exclusivo feito para você que tem interesse
em Nutrição Personalizada.
O conteúdo presente aqui se refere à
uma pequena dose desse mundo
personalizado. Se você já conhece o
assunto ou está iniciando seus estudos,
espero que utilize as informações contidas
aqui de alguma forma e se te ajudar,
compartilha comigo?! Pode ser pelo insta:
@tatianefujii. Vou amar conhecer!

Com carinho,

Tati Fujii

3
MINHA HISTÓRIA COMO
NUTRIGENETICISTA

Olá! Eu sou Tatiane, sou


nutricionista há 10 anos e
desde 2008 (ainda na
faculdade) me apaixonei
pela Genômica Nutricional.
Eu queria tanto, mas tanto
escrever um artigo científico nessa área
que em 2010, com ajuda de duas
professoras, publicamos nosso primeiro
estudo de revisão sobre o tema (bem
simples, tá?)! Arrisco-me a dizer que
também foi um dos primeiros trabalhos
publicados em português.
Em 2009, entrei na iniciação científica
na USP e, em 2011 ingressei no mestrado
com estudo em nutrigenômica. Em 2014,
entrei no laboratório Centro de Genomas
e recebi o cargo de nutrigeneticista. Em
2015, entrei no doutorado na USP

4
também para trabalhar com
nutrigenética.
Com essa trajetória acadêmica, já são,
pelo menos, quatro artigos científicos
publicados nos últimos anos.
Na empresa, eu já fiz mais de Mil
aconselhamentos genômicos nutricionais!!!
Eu tenho alegria em poder ajudar e
espero te encorajar com esse conteúdo.
Sabe por quê?
Porque você poderá ajudar muitas
pessoas e a si mesmo (a). Além disso,
poderá elevar o nível da querida e amada
Genômica Nutricional.

#Vem comigo!
#Vem com tudo!

5
SOMOS ÚNICOS,
SOMOS EXCLUSIVOS
Nosso genoma é composto
por 6 bilhões de bases
(Adenina, Citosina, Timina e Guanina). A
sequência dessas bases nos forma pessoas
únicas, com necessidades nutricionais
exclusivas.
É certo que somos 99,5% a 99,9%
semelhantes e, essa pequena variação, nos
ajuda a entender porque nem todas as
pessoas respondem à dieta, por exemplo,
de maneira idêntica à outra.
Ou então, refere-se à cor dos nossos
olhos, à estatura, à aptidão física e até
mesmo em relação à predisposição ao
desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis, como obesidade e alguns
tipos de câncer.
Conhecer as informações presentes no
DNA poderá elevar seu nível de
entendimento sobre as reais necessidades
6
dos clientes e pacientes e
contribuir para aumentar
ainda mais a saúde deles.
Para os pacientes, o
principal benefício será ter o
acesso à Nutrição Personalizada, ganhar
mais qualidade de vida, prevenir doenças
e aumentar saúde.
A Nutrição Personalizada também é
conhecida como Nutrição de Precisão e se
apoia nos 4P da Medicina, que são:

Preditiva
Preventiva
Participativa
Personalizada

7
GENÔMICA NUTRICIONAL (GN)
A GN contempla o estudo
da Nutrigenética, da
Nutrigenômica e da
Epigenômica Nutricional.
O esquema (figura 1) a
seguir mostra o quanto
dinâmica pode ser essa relação, mas
sozinha, a GN terá muitas limitações e,
portanto, necessita de outros fatores para
realmente ser colocada em prática.
Nutrição de Precisão
Nutrigenética Epigenômica
nutricional

Nutrigenômica

FiguraChallenges
1. Aspectos importantes sobre a Genômica
in Personalized Nutrition and Health. Front. Nutr. 5:117, 2018.

Nutricional (adaptada de Verma et al., 2018)


8
Geralmente, os profissionais têm mais
êxito quando consideram exames
complementares (bioquímicos, por
exemplo), saúde intestinal, padrão
alimentar, qualidade de sono, prática
regular de exercícios, ou seja, tudo que
pode influenciar nas respostas fenotípicas.
As respostas fenotípicas se referem às
alterações que podemos observar como,
por exemplo, parâmetros bioquímicos,
composição corporal, rendimento
esportivo.
Já o genótipo, que se refere à
constituição da sequência das bases ou
nucleotídeos do nosso DNA, é uma
herança que vem desde o momento de
concepção do embrião, mas não reflete
100% as condições fenotípicas.
Pesquisas com gêmeos idênticos
mostram que eles, mesmo tendo maior
semelhança genética, podem crescer em
ambientes distintos e assim, apresentarem

9
diferentes riscos para o desenvolvimento
de alterações metabólicas.
Os pesquisadores afirmam que a
plasticidade fenotípica é um fenômeno
que influencia muito mais nas respostas
individuais.
Por isso, em GN é comum ouvir que
“genética não é destino”. Outra frase
muito comum é: “O gene carrega a arma
e nós (com nossas exposições) apertamos o
gatilho”. Veremos a seguir os principais
conceitos que envolvem a GN.

10
NUTRIGENÉTICA
A nutrigenética é a ciência que estuda
de que forma o perfil genético individual é
capaz de influenciar nossas respostas em
relação à biodisponibilidade dos
nutrientes.
As pesquisas nessa área mostram a
relação da presença de determinado
polimorfismo genético e predisposição de
risco para o transporte, reconhecimento e
até metabolização de vitaminas e
minerais.
Com o atendimento personalizado, os
profissionais poderão auxiliar seus
pacientes na otimização da utilização dos
nutrientes, seja por alimentos ou
suplementos. Por isso, às vezes o que é
remédio para uns pode ser veneno para
outros.
Com a nutrigenética, também é
possível identificar riscos de intolerâncias
alimentares, de risco cardiovascular,

11
resposta ao estresse oxidativo e resposta
inflamatória.
A aplicação da Nutrigenética poderá
ser um recurso nas condutas nutricionais
direcionadas a pacientes que desejam
qualidade de vida, prevenir doenças e até
melhorar o rendimento esportivo.
Trata-se de mais uma ferramenta, sem
deixar de lado as informações e o
conhecimento já adquiridos na área da
nutrição.

12
POLIMORFISMOS GENÉTICOS
Os polimorfismos genéticos se referem
a uma das variações presentes no nosso
DNA. Os mais comuns estudados em
nutrigenética são os polimorfismos de
nucleotídeo único (ou SNP do inglês Single
Nucleotide Polymorphisms) e os
polimorfismos de Ins/Del (Inserção e
Deleção). Os SNPs têm frequência acima
de 1% na população.
A figura 2 mostra a troca simples de
um nucleotídeo pelo outro e o impacto no
fenótipo (proteína sintetizada).
Gene
A (região codificante)

Genótipo
Fita de
selvagem
DNA

Cromossomo Proteína

B
Genótipo
polimórfico

Proteína
Polimorfismo de nucleotídeo único
alterada
(SNP)

Figura 2. Polimorfismos de Nucleotídeo Único


(adaptada de Camp, 2014).
13
É importante considerar o fato de que
a presença de um determinado SNP
numa população, não necessariamente
tem impacto na outra, pois devemos
considerar a ancestralidade.
Se você estiver lendo um estudo sobre
nutrigenética e o impacto de um SNP na
população asiática, por exemplo, não se
pode pensar que teremos o mesmo
resultado com a população brasileira, visto
que somos muito miscigenados.
Estudos do grupo do prof Sérgio Pena,
já mostraram que o perfil étnico do
brasileiro se assemelha mais com os
europeus e, por isso, nos baseamos mais
nesses resultados para comparar com os
nossos. Claro que o mundo ideal seria a
observação nos nossos próprios dados e
estamos avançando nesse sentido.
A seguir, resumi alguns estudos em
diferentes populações com os
polimorfismos que estudei no doutorado.

14
Quadro 1. Resumo de estudos em diferentes populações e os efeitos em algumas
variantes genéticas

Gene/Variante População Frequência do Design do estudo Principais resultados


SNP
FTO (rs9939609) Brasileiros, com idades entre 18 e Obesos: TT: 27%; Foram avaliadas medidas Associação significativa entre
72 anos, divididos em dois TA: 48%; AA: 25%. antropométricas (peso, altura e obesos portadores do alelo A.
grupos. Controle: TT: 36%; circunferência abdominal), oddsratio para heterozigotos:
126 obesos mórbidos, com IMC TA: 50%; AA: 13% pressão arterial, glicemia e 1.27; oddsratio para
médio= 42,9 kg/m2 e 113 pessoas colesterol total e frações. homozigotos: 2.57.
eutróficas, com IMC médio= 22,6
kg/m2.
FTO (rs9939609) 2.415 participantes alemães TT: 33,2% Coleta de dados Somente nos homens
(homens e mulheres, com idade TA:50,1% antropométricos, bem como portadores do alelo A, o IMC, a
de 52 e 48 anos, AA: 16,5% avaliação das concentrações gordura corporal e a razão
respectivamente) do estudo plasmáticas. cintura-quadril foi
longitudinal, chamado EPIC- significativamente superior em
Potsdam. relação às mulheres. Em
IMC médio de 26,8 kg/m2 para relação às concentrações de
os homens e 25,7 kg/m2 para as PCR, estas foram superiores em
mulheres ambos os gêneros.
FTO (rs9939609 e Estudo de coorte de mulheres Variou entre as Glicemia e insulina de jejum, Cada cópia do alelo A foi
rs8050136) pós-menopausa (WHI-OS), com etnias. A presença pressão arterial, cálculo do associada ao incremento de
1717 casos (968 caucasianas, 366 do alelo A nas Índice HOMA, concentrações de 0,45 kg/m2 no IMC.
negras, 152 espanholas e 98 asiáticas foi de 17%, PCR e E-selectina. O mesmo foi observado para o
asiáticas) e 2123 controles. O IMC nas negras foi de rs8050136.Porém, sem
médio foi de 29,5 kg/m2 45%, nas brancas foi associação com o risco para
de 40% e nas DM2.

15
hispânicas, foi de
31%.
LDLR (rs688) Idosos de ambos os gêneros com Caso (n=692): Estudo de caso-controle com No presente estudo esse rs não
idade média de 60 anos CC: 30,1% pacientes portadores de doença teve associação com as
CT: 48,4% arterial coronariana (DAC) concentrações de LDL. Os
TT: 21,5% autores sugerem que o efeito
do SNP pode ser gênero
Controle (n=291) dependente, já que a maioria
CC: 37,5% estudada é homem,
CT: 42,3% diferentemente de outros
TT: 20,2% estudos. Ainda, outras variantes
de LDLR investigadas nesse
trabalho mostraram associação
com DAC.
LDLR (rs5925) 4.655 pacientes com infarto Não informou Meta-análise, com análise dos 5 Os pacientes apresentaram
cerebral e 15.920 indivíduos polimorfismos do gene LDLR: maior frequência dos
saudáveis participantes dos polimorfismos em LDLR
seguintes estudos: (rs11669576 A > T, rs1433099 C >
The Web of Science (1945-2013), T e rs5925 C > T)
the Cochrane Library Database
(Issue 12, 2013), PubMed (1966-
2013), EMBASE (1980-2013),
CINAHL (1982-2013) and the
Chinese Biomedical Database
(CBM) (1982-2013)
APOB (rs693) 157 pacientes tratados com Não informou Indivíduos dislipidêmicos foram APOB (rs693) é fator de risco
atrovastatina e 145 controles do submetidos à dieta com baixo para dislipidemias. O alelo T
Hospital das Clínicas da teor de colesterol, durante 4 está associado ao aumento de
Universidade de São Paulo e do semanas. LDL-c (>160mg/dL)
Instituto Dante Pazzanese de
Cardiologia.

APOB (rs1367117) Fase 1: 1.912 indivíduos franceses Não informou Os pacientes foram divididos Em relação à pressão arterial, o
com idade média de 51 anos. em duas fases do estudo. Na SNP em APOB (rs1367117) teve

16
Fase 2: 1.755 indivíduos da fase 1, foram genotipados 100 epistasia significativa com o
Grécia, Irlanda e Portugal, com SNP e na fase 2, foram SNP presente no gene da
idade média de 42 anos replicados aqueles com maior molécula de adesão (VCAM-1
envolvidos no estudo ApoEurope interação epistática observada rs1041163), corroborando com a
Project. na fase 1. literatura.
APOA5 (rs662799) Duas populações distintas do Não informou Estudo populacional para APOA5: indivíduos GG
LIPC (rs2070895 e Japão (n total=5.213), com idade investigar a relação entre apresentaram concentrações
rs1800588) média entre 65 e 72 anos. hipertrigliceridemia e a superiores de TAG nas duas
presença de alguns SNP do populações.
metabolismo lipídico. LIPC (rs2070895): portadores
do alelo GG, apresentaram
redução de HDL-c.
LIPC (rs1800588): Indivíduos TT
apresentaram maiores
concentrações de HDL-c em
relação aos demais genótipos.
FADS1 (rs174546) 208 participantes da cidade de CC: 49,8% Durante 6 semanas, os Portadores do alelo T (CT+TT)
Quebec (Canadá), com idade CT: 41,2% pacientes foram suplementados apresentaram redução
entre 18 e 50 anos, com IMC TT: 9,1% com 5 cápsulas/dia contendo significativa (p<0,03) das
entre 25 e 40 kg/m2 cada uma 3g de ômega 3 (1,9g concentrações de TAG no
EPA e 1,1 DHA). Foi realizada período pós-suplementação.
questionário de frequência
alimentar e análise de CT, TAG,
HDL-c,LDL-c, ApoB e PCR.
FADS1 (rs174547) Duas populações adultas Participantes do estudo Associação entre o SNP e a
canadenses. Caucasianos (n=78) denominado Toronto razão ácido araquidônico/
e Africanos (n=69) Nutrigenomics and Heath linolênico (AA/LA)
Study. Foram avaliados 19 SNP
associados com a atividade das
dessaturases.

17
Note que ao lado do gene, coloquei o
“rs” dos polimorfismos. Essa identificação se
refere ao que chamamos de reference
SNP.
Conhecer os rs dos SNPs poderá
proporcionar ao profissional constante
atualização em relação ao laudo do
paciente, pois mesmo que ele faça o
exame uma única vez na vida, sempre
terá chance de atualizar as informações, já
que vários estudos são publicados todos os
dias.
Dessa forma, acredito que devemos
considerar os exames direct to consumer
(DTC) como um risco à saúde do paciente
quando não são interpretados de maneira
correta.
Como parte da premissa de que
pessoas comuns tenham acesso às
informações genéticas, eles podem
simplificar as recomendações nutricionais e
colocar à prova a autonomia dos

18
profissionais quando fizerem as
interpretações corretas. Fique atento (a)!
Uma interpretação incorreta pode
trazer frustrações desnecessárias aos
pacientes e seus familiares.
Em 2013, o pioneiro em exames
preditivos nos Estados Unidos, o 23andMe
foi obrigado pelo FDA (Food and Drug
Administration) em não comercializar os
exames com avaliação de todos os perfis
previstos, pois a venda DTC tinha efeitos
colaterais importantes.

19
NUTRIGENÔMICA
A Nutrigenômica estuda de que forma
o nosso DNA pode influenciar nossa
expressão gênica diante das exposições a
diversos alimentos e nutrientes isolados.
Estudar essa ciência se refere ao
melhor entendimento sobre como os
nutrientes e compostos bioativos podem
ser melhores absorvidos e metabolizados,
sem contar na capacidade interação com
genes capazes de influenciar as alterações
de vias de sinalização.
A via de sinalização mais estudada
quando falamos sobre o processo
inflamatório é a via do NF-kB (fator
nuclear Kappa B).
Esse fator de transcrição é capaz de
modular mais de 200 genes e influenciar
na resposta inflamatória, que pode ser
fisiológica (aguda) ou patológica
(crônica).

20
A seguir, observe a via de sinalização
do NF-kB.

Figura 3. Via de sinalização do NF-KB. Fonte: Site Cell


Signaling Technology.
Embora não tenha sido incluído na
figura, muitos compostos bioativos são
capazes de modular essa via. Tais como
curcumina, resveratrol, genisteína,
quercetina, sulforafano, capsaicina, indol-
21
3-carbinol, ácido elágico, 6-gingerol e
catequinas.
Em biologia molecular, quando
falamos em modular estamos nos
referindo ao aumento ou diminuição da
expressão de um determinado gene. No
caso do NF-kB, o consumo regular de
alimentos que contenham os compostos
bioativos citados anteriormente é capaz
de reduzir sua expressão, contribuindo
com a melhora da resposta pró-
inflamatória.
Cuidado ao mencionar que os
nutrientes e compostos bioativos vão
silenciar os genes. Isso de fato pode
acontecer, mas não podemos controlar ou
avaliar ou garantir porque se refere a
mecanismos epigenéticos e, portanto,
mesmo sendo reversíveis, são dinâmicos e
não podemos prever ou prometer para os
pacientes algo que não teremos certeza de
que iremos cumprir. O mais sensato, em
minha opinião, é falar sobre modulação.

22
EXPRESSÃO GÊNICA
Em 1956, Francis Crick propôs o
conceito de Dogma Central da Biologia
Molecular, ao se referir sobre a síntese
proteica a partir do DNA, mais
precisamente dos genes, como mostra a
figura a seguir.
DNA RNA
Proteína

Figura 4. Dogma Central da Biologia Molecular


No entanto, hoje sabemos que esse
fluxo unidirecional pode ser influenciado
por fatores ambientais como, por exemplo,
a alimentação, considerada o fator mais
23
importante porque temos acesso aos
componentes da dieta desde a vida fetal.
A expressão dos genes se refere à
informação presente no DNA que é capaz
de influenciar o fenótipo (características
observáveis).
Muitos alimentos, nutrientes e
compostos bioativos podem estar
envolvidos com as nossas respostas,
contribuindo para aumentar ou reduzir o
risco para o desenvolvimento de doenças.
Conhecer o perfil genético individual é
importante para identificar quais fatores
nutricionais podem favorecer o saldo de
saúde.

24
EPIGENÔMICA NUTRICIONAL
Nosso epigenoma é constituído por
informações que são transmitidas além
(epi) da sequência do DNA (genoma),
constituindo a epigenética.
Vários fatores colaboram para
influenciar o genoma, assim como na
figura a seguir:

Epigenoma
Exercícios
físicos
Alimentos
saudáveis

Sedentarismo
Junk food

Exposição
Medicamentos
aos raios e suplementos
UV sem
orientação Tabagismo

Figura 5. As influências ambientais sobre o epigenoma


Mecanismos epigenéticos podem
influenciar desde o desenvolvimento intra-
uterino e ter repercussões de curto, médio

25
e longo prazo, contribuindo para a
programação metabólica.
Desde a década de 80, a hipótese de
David Barker e seus colegas de que as
doenças do adulto teriam origem fetal é
discutida até hoje sabemos que existe uma
memória, capaz de influenciar na resposta
metabólica.
Dentre os mecanismos epigenéticos,
podemos destacar:

Metilação do DNA
Alterações de proteínas histonas
Atuação dos microRNAs

A epigenômica nutricional estuda o


papel e a atuação desses mecanismos de
forma isolada ou em conjunta para
identificar a maneira que podem
impactar a relação gene-nutriente.

26
A descoberta mais recente é a
Nutrimirômica, que estudaremos a seguir.

27
NUTRIMIRÔMICA
A nutrimirômica estuda a influência da
dieta nas modificações de expressão
gênica devido ao processo epigenético
relacionado ao papel dos miRNAs que
podem influenciar o risco para o
desenvolvimento de doenças crônicas.
Um único miRNA pode apresentar a
habilidade de ativar centenas de RNA
mensageiros, porém nem todos estão
associados com repressão traducional.
Alguns miRNA podem ativar a
tradução de proteínas, controle da
estrutura da cromatina ou ainda podem
atuar diretamente em genes-alvo.
Nos últimos anos, a ciência aumentou
as investigações à respeito da função e da
atividade dos miRNA que estão presentes
no leite materno na saúde dos bebês, uma
vez que podem contribuir para melhorar
a resposta imunológica e também no
controle da adiposidade corporal.

28
EXAMES DE NUTRIGENÉTICA
Existem vários exames de nutrigenética
disponíveis no mercado nacional e
internacional e, por isso, muitas vezes é
difícil saber qual é o melhor.
Vou te ajudar nessa tomada de
decisões, fornecendo informações para que
você possa refletir um pouco.
Alguns exames americanos, europeus e
do oriente médio podem apresentar
quantidade grandíssima de análise de
polimorfismos, fato este que poderia muito
contribuir para traçar condutas, certo?!
Acredito que a grande expectativa
deles é que no futuro próximo tenhamos
todas as informações sobre como fornecer
uma intervenção 100% personalizadas
baseadas nas informações presentes nos
laudos ou ainda nos dados brutos que eles
podem ou não fornecer.
O fato é que não sabemos de tudo e
mesmo que você tenha em mãos a análise

29
de 500 mil polimorfismos, eles não serão
totalmente contabilizados para
abordagem personalizada porque ainda
faltarão estudos. Entende?! Não estou
querendo dizer que saber de muitas
informações é ruim, estou apenas dizendo
que é uma limitação, ainda.
Outra limitação se refere aos exames
com poucos polimorfismos, sendo que
existem, pelo menos, uns 200 muito bem
estudados e documentados.
A terceira e última limitação que
desejo apontar é em relação ao DTC
(direct to consumer), ou venda direta ao
consumidor. Ao praticar essa venda, o
paciente poderá adquirir um exame que
contém informações importantes e que se
forem mal interpretadas, poderá causar
prejuízos a ele.
Em 2015, o Conselho Regional de
Nutricionistas (CRN3) publicou uma
portaria para se posicionar em relação à
prática dos exames de nutrigenética. Em
30
resumo, os autores concordam que se
trata de (1) exames Preditivos, sem
diagnóstico; (2) o profissional necessita se
atualizar; (3) a interpretação deve ser
correta para evitar prejuízos aos pacientes.
Mais tarde em 2017, a SBAN
(Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição) também publicou um
posicionamento sobre os exames,
reafirmando as colocações do CRN3.
Acredito que alguns fatores são de
suma importância para serem
considerados antes de se escolher o
laboratório com quem vai trabalhar:
1) Conheça o laboratório, incluindo
logística com kit e amostra, tempo
de liberação dos resultados, quem
pode solicitar os exames;
2) Conheça os laudos modelos de
cada laboratório, assim você
evitará surpresas na consulta;
3) EXIJA saber os “rs” (reference SNP)
de TODOS os polimorfismos, isso
31
facilitará muito na atualização das
informações;
4) Questione sobre dúvidas técnicas.
Alguns laboratórios disponibilizam
discussão dos resultados com um
profissional capacitado;
5) Só peça exames de Nutrigenética
se souber avaliar. Se hoje, você
consegue avaliar um exame com
10 variantes, peça esse. Depois você
vai evoluir, e seu grau de exigência
só vai aumentar.

Feito isso, quero compartilhar com


vocês algumas dicas para aumentar o
interesse dos seus pacientes e clientes.
Dica 1  Eles vão se espelhar em
você! Se você fizer o teste primeiro e
mostrar como fez para melhorar a
qualidade do sono, por exemplo. Ou
que identificou fatores genéticos que
dificultavam seu emagrecimento, fez

32
ajustes na dieta e deu certo. Eles vão
amar.
Dica 2  O exame é feito uma
única vez na vida, portanto, um único
investimento.
Dica 3  No formulário pré-
consulta, questione se o (a) paciente já
tem exame genético. Peça para ver
com antecedência, assim você poderá
se preparar para a consulta.
Dica 4  Construa um
planejamento e comunique. Você vai
observar que o exame genético terá
muitas alterações e que precisará de
mais de uma consulta para ter sucesso.
Por isso, comunique seu cronograma,
evitando frustrações e
arrependimentos por parte dos
pacientes e clientes.
Dica 5  Divulgue nas suas redes
sociais a possibilidade de se ter um
plano alimentar personalizado. Em
geral, quando isso acontece, as pessoas
33
vão de buscar sabendo da sua
abordagem.
Dica 6  Se alguém que está
acima do peso te questionar porque
fazer um exame genético para avaliar
risco para obesidade e se você estiver
trabalhando com algum exame amplo
(aquele que avalia mais genes),
esclareça que o exame abrange
informações sobre o metabolismo de
vitaminas e minerais, estresse
oxidativo, fatores que podem
contribuir para ganho de peso de
forma indireta, por exemplo.

34
ÁREAS DE ATUAÇÃO
O profissional nutricionista ou médico
pode atuar com a Nutrição Personalizada
em várias áreas do conhecimento.
Desde a nutrição, nutrologia,
pediatria, até a oncologia, endocrinologia,
medicina esportiva, geriatria, longevidade,
ortomolecular.
Sempre com muita ética, compromisso
e responsabilidade na entrega das
interpretações e recomendações!
Desejo, de coração, muito sucesso!

35
Para você que é
Inigualável e que agora
está
Totalmente
Apaixonado (a) e será
Dedicado (a)
Ao conhecimento,
Seja bem-vindo (a) ao
mundo da Nutrigenética!
Nos veremos por aí.

36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Relation to Triglycerides and Triglyceride-Rich Lipoproteins in the
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