Breve Histórico Do Turismo e Da Hotelaria
Breve Histórico Do Turismo e Da Hotelaria
Breve Histórico Do Turismo e Da Hotelaria
TURISMO HOTELARIA
e da
60 anos da criao da Confederao Nacional do Comrcio - CNC 50 anos da criao do Conselho de Turismo da CNC
Confederao Nacional do Comrcio Presidente: Antonio Oliveira Santos Conselho de Turismo da CNC Presidente: Oswaldo Trigueiros Jr.
Breve histria do turismo e da hotelaria Projeto e coordenao editorial: Arthur Bosisio Texto:Gustavo Barbosa Mrcia Leito Colaborao: Elysio de Oliveira Belchior Projeto grfico: SDI - Unidade de Programao Visual Copyright Senac Nacional 2005 Distribuio restrita
Confederao Nacional do Comrcio Braslia SBN - Quadra 1 - Bloco B - n 14, 15 a 18 andar Edifcio Confederao Nacional do Comrcio CEP 70041-902 - Braslia Tel.: (61) 3329-9500 e-mail: [email protected] Rio de Janeiro Avenida General Justo, 307 CEP 20021-130 - Rio de Janeiro Tel.: (21) 3804-9200 e-mail: [email protected] www.cnc.com.br
Confederao Nacional do Comrcio Breve histria do turismo e da hotelaria / Confederao Nacional do Comrcio, Conselho de Turismo. Rio de Janeiro, 2005. 38 p. 1. Turismo. 2. Hotelaria. I. Ttulo
APRESENTAO
O Turismo sempre foi um elemento importante no processo civilizatrio. A conquista e a descoberta de novos povos, espaos territoriais e culturas estimularam o homem a repensar seus valores e costumes, criando um choque entre as culturas, mas tambm uma rede de influncias etno-culturais que fizeram e fazem histria. Conhecer os primrdios do Turismo e da Hotelaria no mundo e, em especial, no Brasil, seguir a trajetria do chamado mundo civilizado e desvendar elos comuns da sociedade humana. descobrir como indivduos to diferentes culturalmente guardam entre si um sentimento comum de fraternidade e cortesia, onde compartilhar da mesa e do abrigo transformou a hospitalidade numa virtude sagrada, como afirmou o sociolgo tunisiano Abdelwahab Bouhdiba. Neste documento, faremos uma rpida, mas interessantssima viagem pelas tradies e histrias de diferentes povo no mundo: do antigo mundo grego-romano ao Brasil de nossos tempos. Vamos acompanhar das expedies dos cristos aos lugares santos, as viagens transocenicas dos grandes navegadores portugueses, das excurses coletivas do ingls Thomas Cook na segunda metade do Sculo XIX aos primeiros avies comerciais que cortaram os nossos cus e os primeiros hotis a encantarem os turistas estrangeiros no Brasil. O Conselho de Turismo da Confederao Nacional do Comrcio, ao comemorar 50 anos de atividades em 2005, orgulha-se em propiciar queles que lhe foram solidrios nesses tantos anos, esta sntese histrica que registra os primrdios e aspectos principais da evoluo dessa fascinante atividade econmica, uma atividade que at hoje atrai e encanta o mundo como um fenmeno de relaes pessoais, fonte de emprego, renda, mas tambm de conhecimento e Paz Social. A todos, uma boa leitura.
SUMRIO
As razes do Turismo e da Hotelaria no mundo ....................... 9 Primrdios do Turismo e da Hotelaria no Brasil ..................... 17 Turismo e Desenvolvimento no Brasil dos sculos XIX e XX ..................... 23 Bibliografia ..................... 37
O peregrino em romaria por lugares santos; o mercador em busca de novos produtos e clientes; o conquistador que almeja expandir seus domnios e riquezas; o aventureiro disposto a experincias exticas. O explorador antevendo descobertas. O que h em comum entre essas pessoas? - Sem dvida, a vontade de ultrapassar fronteiras, a curiosidade de conhecer o novo. E, na raiz desses dois desejos, molda-se a mola propulsora do Turismo atravs dos tempos. Como isso comeou? Difcil precisar. H quem acredite que um turismo embrionrio era praticado por povos primitivos ainda na pr-histria. Registros arqueolgicos na Caverna de Madasin, nos Pirineus, identificaram que seus habitantes, h 13.000 anos, viajavam at o mar e retornavam.1 muito provvel que j houvesse algum olhar turstico nas longas viagens martimas dos fencios, inventores do comrcio e da moeda, trs milnios antes da era crist, ou nas caravanas dos povos mesopotmios (sumrios, babilnios, assrios) que atravessavam as regies ridas do Oriente Mdio, dando incio a um culto singular hospitalidade. Apesar da vida nmade desses povos, sempre havia uma tenda pronta a receber os estranhos. Alguns estudiosos atribuem ainda um dos marcos iniciais do turismo na Antiguidade viagem da rainha de Sab, que no sculo X a.C. deixou seu palcio a sudoeste da Arbia para fazer uma visita ao Rei Salomo, em Jerusalm. Mas foi na Grcia Antiga que o Turismo comeou a tomar forma como atividade econmica. Por volta do sculo VII a.C., os eventos desportivos realizados a cada quatro anos na cidade-estado de Olmpia atraam no apenas atletas como tambm espectadores. Os Jogos Olmpicos motivaram as primeiras viagens de lazer, que se tornaram importantes a
1. LEAKEY, 1999 apud BADAR, 2005.
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ponto de se fazer trgua nas guerras para salvaguardar os viajantes. Todos os demais pontos do trajeto, e no apenas Olmpia, adaptaram-se e criaram estruturas de alojamento, alimentao e transporte para esses primeiros turistas. 2 A expanso do Imprio Romano trouxe motivos ainda mais numerosos e atraentes para se viajar. As conquistas territoriais fizeram surgir intenso intercmbio comercial, dando origem tambm a viagens de lazer, em que no faltavam atraes como espetculos circenses e lutas de gladiadores. Os romanos, portanto, contriburam de forma significativa para o que viramos a chamar de Turismo, como afirma Rui Aurlio de Lacerda Badar, no artigo O direito do Turismo atravs da histria e sua evoluo. Os romanos podem ser considerados os primeiros a viajar por prazer. Diversas pesquisas cientficas (anlise de azulejos, placas, vasos e mapas) revelaram que o povo romano ia praia e a centros de rejuvenescimento e tratamento do corpo, buscando sempre divertimento
3. BADAR, 2005
2. CEZAR, 2005
e relaxamento.
Roma foi o centro do maior imprio do mundo ocidental na Idade Antiga e por quase dois sculos viveu um perodo de relativa paz, sob forte domnio militar, que ficou conhecido como Pax Romana (de 29 a.C., quando Augusto Csar declarou o fim das guerras de conquista, at 180 d.C., com a morte de Marco Aurlio). Durante essa paz romana, foi
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intensa a construo de estradas, hospedarias e at mesmo centros de tratamento termal, no vastssimo imprio que ia da Inglaterra at a Mesopotmia, incluindo metade da Europa, grande parte do Oriente Mdio e do norte da frica. *** O intercmbio comercial e as movimentaes militares promovidas pelo Imprio Romano deram origem no apenas ao costume das viagens de lazer como tambm s prprias palavras que passaram a designar essa nova atividade humana. A palavra francesa tour, raiz do atual conceito de turismo, provm do substantivo latino
tornus (volta) ou do verbo tornare (voltar). Inicialmente significava movimento circular e com o tempo passou a designar tambm viagem de recreio, excurso. O termo francs Tourisme (1643) disseminou-se nos mais diversos idiomas, como se v no vocbulo ingls Tourism (1811). Na prpria etimologia da palavra Turismo est refletida a evoluo da atividade. Seu primeiro registro em portugus, no sculo XX, j designava bem mais do que uma viagem de ida e volta. 4
Ainda mais longe nessa viagem etimolgica foi o suo Arthur Haulot, ao buscar as origens do termo Tour, chegando a levantar suas razes no hebreu antigo. Segundo ele, tur (em hebraico antigo) quer dizer viagem de descoberta, de explorao, de reconhecimento. 5 Tambm o termo Hospitalidade teve origem no Imprio Romano. A palavra hospitium designava o local em que era possvel conseguir, durante as viagens, instalaes em carter temporrio para alimentao e repouso. Hospitale e hospitalicum eram outras expresses romanas que designavam casa para hspedes (hospes, hospitus). Segundo o conceito tradicional das relaes entre as pessoas - diz Abdelwahab Bouhdiba o cdigo da hospitalidade sagrado. Beber da mesma gua e comer do mesmo sal cria um vnculo mstico e a hospitalidade uma comunho que cria laos duradouros. 6 O uso do cavalo como transporte nas vias e estradas romanas fez surgir ainda novos tipos de hospedagem: o stabulum (acomodaes para o viajante e tratamento da montaria), as mutationes (mantidas pelo Estado, destinadas troca de animais e ao repouso de viajantes), as mansiones (destinadas a abrigar tropas militares em marchas) e as tabernae (onde se vendiam produtos da terra, comidas e bebidas). Diante da extenso do Imprio, era inevitvel a incorporao de usos e costumes de hospitalidade dos povos conquistados. Na etimologia da palavra albergue pode-se ver a influncia de brbaros (do gtico haribergen, hospedar) ou de rabes (berge). Para Belchior e Poyares, a semelhana entre os dois timos indica uma provvel origem comum. ***
4. CUNHA, 1982
5. CZAR, 2005
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O declnio do Imprio Romano e sua queda por volta do ano 400 d.C. marcaram o fim do perodo inicial da histria do Turismo. As guerras sucessivas prejudicaram as estradas e o comrcio tornou-se muito difcil. Acabaram as viagens como forma de lazer. A partir da, o Turismo ganha caractersticas de aventura ou de manifestao da f. Com a expanso do Cristianismo no mundo, multiplicaram-se as peregrinaes religiosas a Jerusalm, mais especificamente Igreja do Santo Sepulcro, construda pelo imperador Constantino em 326 d.C. Os peregrinos eram conhecidos ento como palmeiros e, a partir do sculo VI, passam a ser chamados de romeiros, j que a cidade de Roma foi
7. BADAR, 2000
As viagens de carter religioso se intensificaram entre os sculos VII e IX. Foi desse perodo final, por exemplo, a descoberta da tumba do apstolo So Tiago, no norte da Espanha, o que atraiu grande venerao a ponto de motivar o peregrino francs Aymeric Picaud a escrever as histrias sobre o apstolo e um roteiro de viagem sobre a travessia da Frana at o sepulcro de So Tiago. Este roteiro, editado em 1140, foi considerado o primeiro guia turstico impresso da Europa. E at hoje o Caminho de Santiago de Compostela um dos roteiros mais visitados do mundo. A peregrinao a Santiago de Compostela suscitaria tambm as primeiras excurses pagas registradas pela Histria, organizadas por adeptos dos Jacobitismo, movimento poltico surgido na Esccia em resposta deposio de James II da Gr-Bretanha. No sculo XI, Jerusalm foi dominada pelos turcos seljcidas, que nessa poca ocupavam grandes extenses da sia central e ocidental. A partir da, entre os sculos XI e XIII, com a motivao inicial de libertar o Santo Sepulcro das profanaes turcas, o mundo cristo organizou as expedies militares-religiosas conhecidas como Cruzadas. As pousadas que at ento funcionavam principalmente para os viajantes religiosos, em nome da caridade samaritana, assumiram caractersticas de negcio lucrativo diante do movimento intenso de soldados, peregrinos e mercadores nos caminhos europeus, e um grande nmero de novos estabelecimentos foi aberto nesse perodo. Essa mudana do perfil da hotelaria, firmando-se agora como atividade profissional, tem como marco significativo a criao do primeiro grmio dos proprietrios de pousadas, em Florena, na Itlia, no ano de 1282. 8 A partir do sculo XIII, portanto, as relaes entre Comrcio e Turismo tornaram-se mais slidas, ficando difcil separar uma atividade da outra. Neste cenrio surgiu a Liga Hansetica, um grupo mercantil que controlava o comrcio e as feiras em mais de 90 cidades, trazendo mercadorias de Novgorod, na Rssia, e comercializando-as com preos tabelados.9 Alm de franquias e entrepostos no norte europeu, a Liga Hansetica organizava grupos de viagem para percorrer diversas cidades, visando mostrar aos viajantes sua organizao e
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8. BADAR, 2005
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suas atividades mercantis. Esses grupos eram acolhidos por pousadas j predeterminadas pela liga, onde eram tratados de forma diferenciada com massagens, vinhos e outras peculiaridades de cada regio, afirma Rui Aurlio Badar, no artigo O Direito do Turismo atravs da histria e sua evoluo. Estavam plantadas as razes tambm do turismo de negcios. *** Nos sculos XIV a XVI, o Renascentismo floresceu como um perodo de intensa produo artstica e cientfica na Europa. Viajar passou a ser uma ambio cultural, uma oportunidade para acumular conhecimentos, aprender lnguas e desfrutar aventuras. At ento, a atividade turstica era coisa para jovens, em sua maioria acompanhados de professores ou religiosos.10 Eram viagens realizadas principalmente pela nobreza masculina e pelo clero. Na Europa do sculo XVI, alguns pases se destacavam como centros de efervescncia cultural. Visitar esses pases era, antes de mais nada, um aprendizado indispensvel boa educao. E se estas eram viagens educativas, necessrio se fazia contar com um professor ou tutor que falasse a lngua do pas visitado e que conhecesse os hbitos e costumes locais.
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Florena e Roma despontaram como destinos culturais, desencadeando na sociedade inglesa, por exemplo, uma verdadeira febre italiana. Os nobres que no conhecessem a Itlia sentiam-se inferiores, inclusive porque formavam-se clubes reservados somente queles
11. BADAR, 2005
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Apesar do incremento do Turismo comercial, a experincia de hospedar peregrinos, deixada pelo perodo das Cruzadas, havia reforado nas ordens religiosas o compromisso de acolher pobres e enfermos. O estatuto da Santa Casa de Misericrdia de Lisboa, por exemplo, datado de 1516, evidencia o compromisso de abrigar os viajantes e os pobres. Mas, com o aumento da quantidade de viajantes, a dificuldade de manter num mesmo ambiente doentes e sos fez com que estes espaos de acolhimento se separassem em hospitais e albergarias. Nas ltimas dcadas do sculo XVIII, surgiu na Europa o Romantismo, movimento artstico e filosfico que se caracteriza por uma viso de mundo centrada no indivduo, na subjetividade e na emoo. Em tempos de Romantismo, o Turismo tornou-se tambm romntico. Jean Jacques Rousseau, pai da Teoria do Bom Selvagem, viajou a p por toda a Frana em 1776 e, dos relatos de viagem, nasceu a obra La nouvelle Hlose, sagrando seu autor como o primeiro turista do Romantismo.
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Nessa poca ainda as atividades ldicas e de recreao firmavam-se como fortes ingredientes do Turismo. Os jogos de azar ganharam espao na sociedade e nasceram na Europa os primeiros cassinos. No incio do sculo XIX, mais precisamente em 1804, entrou em vigor na Frana um novo cdigo civil, o Cdigo de Napoleo, que deu forma jurdica s principais conquistas da Revoluo Francesa de 1789 e serviu de inspirao a mais de 70 pases, estabelecendo os traos da moderna sociedade ocidental. Nesse cdigo, pela primeira vez na histria da humanidade, foi regulamentada a responsabilidade civil do agente hoteleiro. Em 1841, quando da realizao de um congresso antialcolico na Inglaterra, o ingls Thomas Cook organizou a primeira viagem coletiva da histria do Turismo internacional. Quatorze anos depois, os negcios de Cook haviam prosperado e suas viagens passaram a envolver transporte, hospedagem, alimentao e servios de guia.
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A clebre carta ao Rei de Portugal, Dom Manuel, do escrivo Pero Vaz de Caminha o primeiro registro de um episdio de hospedagem no Brasil. O Capito mandou pr por baixo da cabea de cada um seu coxim (...). E deitaram um manto por cima deles; e consentindo, aconchegaram-se e adormeceram. 12 O trecho acima narra o primeiro contato entre duas tradies de hospitalidade: a indgena e a portuguesa. Caminha nos conta que o Capito recebeu os indgenas sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoo, e mandou acender tochas sua chegada. Tudo nos jovens ndios era inusitado: o beio furado e atravessado por um osso, os cabelos corredios rapados por cima das orelhas, adornados com penas coloridas, e a sua total falta de formalidade quando subiram a bordo. No quiseram comer quase nada do que lhes serviam: po e peixe cozido, doces, mel, figos passados. Se provavam alguma coisa, logo a lanavam fora, conta o escrivo. O mesmo fizeram com a gua e com o vinho que lhes trouxeram em uma taa. E ento estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de encobrir suas vergonhas. Foi ento que Cabral mandou pr almofadas sob suas cabeas e um manto para cobri-los. De certa forma, esse curioso encontro de tradies de hospitalidade retrata as origens do estilo brasileiro de receber. De um lado, os ndios, que compartilharam com os navegantes vindos de alm-mar a exuberncia da terra em que viviam. Em sua natural inocncia, acolheram os europeus como mensageiros de tup, como disse Jos de Alencar, embora muitas vezes tenham recebido em troca a escravido e a guerra. De outro lado, os portugueses, que herdaram dos antigos a viso sagrada da hospitalidade, como coisa do cu, cada na terra, conforme observou o historiador Diodoro da Siclia, no sculo I antes de Cristo.13
13. apud BELCHIOR e POYARES, 1987 12. CAMINHA, Pero Vaz. Carta a El Rei D. Manuel
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Nas razes da hospitalidade portuguesa misturam-se diferentes influncias tnicas, desde o proverbial costume hospitaleiro dos rabes, que dominaram a Pennsula Ibrica de 711 a 1492, aos princpios referenciais do Cristianismo. O Apstolo Paulo, em sua Epstola aos Romanos, afirma:
14. Romanos, 12:13 - Novo Testamento
[...] Esmerai-vos na prtica da hospitalidade. 14 Quando a frota de Cabral aportou na costa brasileira, Vasco da Gama j havia atingido a nda (1498), tornando as viagens ao Oriente um negcio bastante lucrativo. J no novo mundo, era preciso colonizar o territrio, e isso implicava em no s povoar todo o litoral para impedir invases dos franceses, mas tambm explorar o interior. Surgiram ento as expedies bandeirantes. Os caminhos abertos pelos bandeirantes, mais tarde usados no trnsito de pessoas e produtos entre o litoral e as regies mineradoras, fizeram surgir os primeiros focos de hospedagem pelo interior do Brasil. Ranchos toscos e rsticos, inicialmente improvisados beira das estradas para abrigar os viajantes, assemelhados s antigas estalagens europias, foram o embrio da atividade hoteleira e comercial nessas regies. Deve-se a esses ranchos, e portanto nascente hotelaria em nosso pas, a origem de centenas de cidades. No se paga hospedagem, mas ao p do rancho h uma venda em que o proprietrio vende o milho que serve de alimento aos animais dos itinerantes; indeniza-se assim amplamente da despesa que fez para levantar o rancho, e citaram-me o nome de proprietrios que possuem at cinco ranchos beira da estrada. 15 Esse tipo de hospedagem perdurou at o sculo XX, no rumo dos tropeiros que conduziam rebanhos de gado bovino e eqino, principalmente provenientes do Sul do pas. Antes de existirem estradas e caminhes para transport-los, os rebanhos faziam viagens de milhares de quilmetros, em numerosas comitivas. Em uma etapa posterior aos ranchos primitivos, alguns sitiantes reservavam pastos com gua para acolher os animais em trnsito e construam aposentos prprios, com foges de lenha, para os grupos de tropeiros. O pagaHISTRIA DA HOTELARIA E DO TURISMO
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mento pelos pernoites, alm de dinheiro, no raro era feito em cabeas de gado, promovendo assim o incremento de fazendas. Hoje, muitos hotis e restaurantes de caminhoneiros ao longo das estradas ou em cidades interioranas ostentam como decorao as rodas dos carroes que transportavam bagagens e alimentos das tropas nesses trajetos. *** Nas cidades do Brasil-Colnia, a hospitalidade tpica dos portugueses fez com que a hotelaria demorasse a se consolidar como atividade comercial. Os quartos de hspedes eram imprescindveis nas boas residncias em todo o pas, no apenas em funo das tradies e do dever cristo de dar abrigo aos viajantes. A gentileza e a generosidade do anfitrio eram fatores de prestgio na sociedade. Os forasteiros sempre traziam novidades de outras terras. E, algumas vezes, a relao entre anfitrio e hspede envolvia interesses materiais e polticos. Com a mesma facilidade no contavam os pobres ou os estrangeiros sem referncias e cartas de recomendao. Mas estes viajantes tiveram a seu favor o esprito samaritano das ordens religiosas. A exemplo do ocorrido na Europa durante a Idade Mdia, o carter filantrpico das Ordens Catlicas deu origem s primeiras instituies hospedeiras no Brasil. O Terreiro de Jesus, em Salvador, primeira capital do Brasil Colnia, foi endereo de uma Casa dos Hspedes, no Colgio de Jesus, que recebeu personalidades ilustres, vindas da Europa, e tambm pessoas que necessitassem de acolhida caridosa. No Rio de Janeiro, aposentos para hospedagem foram construdos num prdio anexo ao Mosteiro de So Bento e um abrigo para desocupados foi instalado junto ao Convento da Ajuda, no sculo XVIII. Alm disso, instituies da Igreja em vrios pontos do pas construram hospcios (do latim hospitium, hospedagem, pousada) para acomodar religiosos em viagem. *** Naqueles dias de janeiro a maro de 1808, nunca antes o Brasil tinha vivido tamanha movimentao, em trs sculos de existncia como colnia portuguesa. A famlia real, todos os nobres, os oficiais superiores, os altos funcionrios e suas famlias, totalizando mais de 10 mil pessoas, haviam chegado com o mximo de bagagem que foi possvel trazer em 14 navios abarrotados. Em contraste com o esvaziamento que as tropas de Napoleo encontraram em Lisboa, as ruas do Rio de Janeiro tornaram-se um inslito cenrio de aglomerao e comemoraes. Como alojar toda aquela gente de uma hora para outra, numa cidade sem qualquer estrutura para isso? Apenas duas letras, P.R., afixadas nas portas das melhores residncias, resolveram o problema. A sigla indicava que o Prncipe Regente, em sua autoridade incontestvel, tinha escolhido e requisitado aquele imvel, que deveria ser desocupado de imediato por seus moradores para que nele se acomodassem membros da comitiva recm-
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chegada. A indignao de alguns dos despejados, a reverente resignao de outros e o protesto irnico dos cariocas de ento traduziram a sigla como ponha-se na rua ou prdio roubado. claro que no se pretende aqui encarar esse episdio como um marco inicial da histria da hotelaria no Brasil. Mas no h dvida de que a sbita chegada de to numeroso contingente ao Rio de Janeiro, em funo da transferncia da corte portuguesa para a colnia do novo mundo, suscitou um verdadeiro choque de demanda, a partir do qual a atividade hoteleira encontraria os motivos e condies para surgir e se desenvolver. *** Mas nem s a transferncia da famlia real para o Brasil determinou as mudanas na hotelaria e na atividade turstica no Pas. Antes da abertura dos portos s naes amigas, decretada pelo Prncipe Regente Dom Joo, a falta de hospedagem no Brasil no chegava a ser um problema crtico. Apesar de pouqussimos e de suas precrias condies, os albergues existentes atendiam aos eventuais visitantes de outras capitanias que no tinham prestgio, recomendaes ou amigos na cidade. Vale lembrar que no Rio de Janeiro, tripulantes dos navios estrangeiros (no-portugueses) que entravam na baa de Guanabara no tinham permisso para permanecer em terra aps o pr-do-sol. Tinham que ir dormir a bordo. Essa era tambm a opo de grande parte dos visitantes autorizados que, muito embora tivessem inicialmente a inteno de pernoitar na cidade, acabavam dormindo no navio para no enfrentar os mosquitos, ratos e baratas nas casas de pouso locais. Os albergues do Rio de Janeiro eram ento identificados por um pedao de pano suspenso
16. LANGSTEDT, F.L. Reisen nach SudAmerika Asien und Afrika
em um basto colocado frente das casas, como na Europa as tabuletas dos cabars. 16 Este cenrio comeou a transformar-se aps a chegada da famlia real. O pintor Jean Baptiste Debret, que veio para o Rio em 1816 integrando uma Misso Artstica a convite do Prncipe Regente, escreveu sobre as mudanas que presenciou em pouco tempo no Largo do Pao, local que ento se tornava o primeiro plo de hotelaria da cidade. O comentrio de Debret to rico em detalhes visuais que chega a lembrar o estilo de suas gravuras: [...] j em 1818, com a afluncia dos estrangeiros, vrios proprietrios transformaram os portes em lojas, alugando-as a uns franceses donos de caf, que logo utilizaram o primeiro andar para bilhares e mais tarde o resto do edifcio para casas de cmodos. Elegantes tabuletas bem pintadas e vitrinas com colunas de mrmore, vindas de Paris, enfeitam hoje esses estabelecimentos procurados pelos estrangeiros que desejam passar um momento na cidade
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ou se hospedar de modo a comunicar-se facilmente com seus navios. V-se, no mesmo lado, uma galeria (passagem muito freqentada) que conduz a pequenas ruas muito antigas, onde se encontra o tipo primitivo de albergue portugus, cujo balco se orna de uma enorme lanterna de zinco enfeitada com folhagens do mesmo metal e artisticamente pintadas de cor-de-rosa ou verde. A lanterna encima um brao de ferro ao qual se suspende uma tabuleta donde se destaca, em fundo branco, a efgie de um animal cujo nome se inscreve ainda embaixo, nos seguintes termos: isto um gato, um leo, uma cobra, inscrio ingnua que bem demonstra a ingenuidade do quadro. Essas hospedarias destinadas aos habitantes do interior e situadas perto dos lugares de desembarque comportam armazns para depsitos provisrios das mercadorias e assemelham-se bastante s da Itlia. V-se na cidade o mesmo gnero de tabuleta, sem a lanterna, porta das casas de pasto. 17 Alm dos milhares de imigrantes que haviam chegado com a famlia real, a fixao da corte portuguesa no Rio de Janeiro trouxe um sbito incremento nas relaes comerciais locais. Capitais ingleses e portugueses foram investidos no Brasil, a baa de Guanabara passou a ficar coalhada de navios, o mercado ficou abarrotado de produtos importados, as edificaes se multiplicaram. A colnia transformava-se rapidamente em nao soberana. Cada vez maior era o nmero de estrangeiros que aqui desembarcavam, em misses diplomticas, expedies cientficas ou viagens de negcios. S ento se passou a falar em hotis, palavra que chegou s ruas na voz dos estrangeiros que os procuravam, ainda sem sucesso. Sendo um galicismo (do francs htel), o vocbulo ainda no se fazia presente na edio de 1813 do Dicionrio da lngua portuguesa, de Antnio de Morais e Silva, o primeiro dicionarista brasileiro. Mas logo as casas de hospedagem dos mais variados nveis, das estalagens s penses, passavam a usar a nova denominao, que lhes conferia mais prestgio. Em 1817, pela primeira vez em anncio na
17. DEBRET, J.B. Viagem pitoresca e histrica ao Brasil
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se Htel Royaume du Brsil. Porm, em 1887, o Handbook of Rio de Janeiro registrava que a maioria dos hotis da cidade no passava de restaurantes.18 Um bom exemplo foi o Hotel Pharoux, criado em 1817 como um restaurante, dois anos mais tarde, j oferecia ao cliente no apenas boa comida, mas tambm quarto mobiliado. Em 1838, j era o estabelecimento de maior prestgio no Rio Imperial, ponto de reunio de estrangeiros.19
Enquanto o Rio de Janeiro viveu um sbito aumento do fluxo de estrangeiros a partir de 1808, outros mercados tursticos brasileiros viriam a crescer apenas algumas dcadas depois. Foi o caso de So Paulo que viu crescer sua demanda de hospedagem medida que o sculo XIX transcorria, em direo a um crescimento ainda maior na primeira metade do sculo XX. Nesse processo teve papel de destaque a fundao da Academia de Direito, em 1827, que atraiu jovens de todo o Pas e, em pouco tempo, se tornou um imporante ncleo de atividades intelectuais e polticas na cidade, dinamizando a vida paulistana e modernizando os seus costumes tradicionais. So Paulo, ento capital da provncia, tornou-se importante ncleo de atividades intelectuais e polticas. Profundas transformaes econmicas e sociais viriam em seguida, a partir da expanso da lavoura cafeeira em vrias regies paulistas e da entrada em operao da estrada de ferro Santos-Jundia, em 1867, construda para levar o caf ao porto de Santos.
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TURISMO
NO
E DESENVOLVIMENTO
BRASIL
DOS SCULOS
XIX
XX
Na rota da evoluo empreendida pelo Turismo nos sculos anteriores, intensificaram-se no sculo XIX as viagens em busca de cultura e recreao. Nesse perodo houve um contnuo processo de massificao do turismo. A evoluo dos meios de transporte tornou as viagens mais acessveis para outros segmentos da populao que no a nobreza. Os trens eram sinnimo de rapidez e elemento facilitador da atividade turstica. Os navios exerciam verdadeira atrao sobre a populao. Surge a classe mdia, com salrios melhores e maior possibilidade de gastos com entretenimento [...] 20 No Brasil, a malha ferroviria comeou, em meados do sculo XIX, a encurtar distncias. A Baroneza, primeira locomotiva a trafegar no Brasil, construda na Inglaterra, inaugurou a Estrada de Ferro Mau em 1854. O imperador D. Pedro II, entusiasta da tecnologia,
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mandou fabricar na Blgica, em 1886, o Carro Imperial , com luxuosos vages que garantiam conforto e segurana s suas viagens pelo Pas. Em meados do sculo, havia no Rio de Janeiro duas centenas de estabelecimentos de hospedagem (sendo apenas a tera parte pertencente a brasileiros), dos quais cerca de cinqenta eram considerados hotis. Entretanto, vrios depoimentos de visitantes estrangeiros continuavam se ressentindo da falta de hotis de qualidade. Principalmente por serem ainda muito gritantes as diferenas de padro scio-econmico entre o Brasil e os pases desenvolvidos, em todos os aspectos da qualidade de vida das grandes metrpoles e no apenas no campo da hotelaria. Em 1870, o ingls William Hadfield anotou, para o livro que iria publicar sete anos depois, o que considerava extremamente necessrio para a capital brasileira de ento:
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(...) um hotel realmente bom, algo semelhante queles dos Estados Unidos (...). Existem muitos hotis espalhados pela cidade, alguns mais ou menos pretensiosos, mas nenhum apresenta
21. HADFIELD, 1877
grau de conforto to essencial para uma grande cidade como o Rio de Janeiro. 21 Em 1886, outro livro publicado na Inglaterra (Exploring and traveling three thousands
miles trough Brazil from Rio de Janeiro to Maranho) registra comentrios de um viajante, desta vez James Wells, que tinha passado pelo Rio cinco anos antes:
Existiam ento (e agora muito mais) 12 linhas de paquetes, 11 de cabotagem e 4 ferrovias convergindo para o Rio, todas trazendo 317.760 passageiros de primeira classe para a cidade, por ano, ou em mdia, 870 por dia. Mesmo com todo este movimento e o relativamente
22. WELLS, 1887.
grande nmero de hotis, no existe um que preencha os requisitos usuais da primeira classe.22 Os hotis de melhor categoria comearam a surgir em antigas manses, como o Hotel Ravot (antiga residncia do Visconde de Cachoeira, na Rua do Ouvidor), ou fora do centro do Rio, alguns deles em bairros afastados. Esta opo oferecia maior conforto, requinte e paisagem exuberante, sem os inconvenientes da confuso das ruas e da falta de saneamento da cidade. De modo relativamente semelhante ao que ocorre hoje nos resorts e hotis-fazendas, os visitantes se refugiavam em locais buclicos, como a Chcara das Mangueiras, at ento propriedade do Conde dEu, transformada em Grande Hotel (Versalles); ou no Hotel White, antigo palacete de vero do Conde de Itamarati, no Alto da Boa Vista; no Hotel dAnglaterre, no antigo Colgio de Instruo e Educao de Meninas, de Mrs. Hitchings, na praia de Botafogo; ou no Grand Hotel Internacional, na rua do Aqueduto, atual Almirante Alexandrino, em Santa Tereza.
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A evoluo dos meios de transporte viabilizou o investimento hoteleiro em locais distantes do centro do Rio de Janeiro. At os hspedes dos hotis do Alto da Boa Vista podiam contar com uma linha de bondes que ligava o centro da cidade ao sop da Serra da Tijuca, onde servios especiais de diligncias completavam o percurso. Em 1879, a empresa imobiliria responsvel pelo Hotel do Leme anunciava a criao de uma linha pioneira de bondes circulando em Copacabana. Para o deslocamento at o centro da cidade, foram criadas linhas de diligncias que venciam as ladeiras ngremes entre Botafogo e Copacabana. Os hotis foram responsveis pelo desenvolvimento dos bairros de Copacabana e Ipanema, at ento quase desrticos. Alm dos bondes, outros servios de transporte coletivo de trao animal - nibus, gndolas e tlburis - facilitavam a opo por hotis no Catete (Carsons Hotel), em Laranjeiras (Grande Hotel Metrpole) e na Tijuca (Hotel Tijuca, instalado na chcara do Visconde de Andara). *** Outras novidades competitivas eram aos poucos assimiladas no atendimento ao turista no Brasil. At meados do sculo XIX, o simples ato de banhar-se representou um desafio difcil para os hotis que precisavam dar um salto de qualidade. Muitos hotis nem sequer possuam quartos de banho. Os hspedes precisavam recorrer a casas de banho pblicas, que tambm no eram numerosas. No Rio, o Hotel Pharoux alardeou no jornal a inaugurao de sua prpria casa de banhos, aberta ao pblico, utilizando gua encanada do chafariz do ento Largo do Pao. No clima da cidade, os banhos tornaram-se decisivos para a preferncia dos hspedes. O Hotel Ravot surgiu oferecendo uma srie de quartos de banho anexos. Outros reagiram depois, oferecendo banhos quentes. Alguns lanaram duchas. E outros, banheiras de mrmore. Os hotis prximos praia passaram a apregoar tambm as comodidades para banhos de mar, com salva-vidas. Os da Serra da Tijuca ofereciam banhos de cachoeira. Outros construram piscinas. E assim por diante. Em So Paulo, o Grande Hotel, inaugurado em 1878, foi considerado o melhor do Brasil, na ocasio, oferecendo uma srie comodidades para os hspedes, como candelabros a gs, escada de mrmore branco, mobilirio requintado, sala de banho, correio e telgrafos e outros servios. Uma grande novidade que fez a diferena nos melhores hotis por volta de 1880 foi o telefone. Dom Pedro II havia se surpreendido com essa maravilhosa inveno na Exposio Internacional de Filadlfia, em 1877, e pouco tempo depois os primeiros telefones estavam sendo fabricados no Brasil, para serem instalados no palcio do Imperador. Sugestivamente, uma casa comercial chamada Ao Rei dos Mgicos instalou a primeira rede
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telefnica do pas, interligando-se a vrias reparties pblicas na cidade. Somente com a criao da CTB - Companhia Telefnica Brasileira, em 1881, o servio ganhou corpo. Mas o Brasil estava adiantado neste setor, em relao ao restante do mundo. Desde 1879 havia hotis com telefone disposio do pblico, inicialmente apenas para solicitar transporte. Em 1882, finalmente, a central telefnica da CTB entrou em funcionamento, atendendo a dez hotis, alguns deles j com telefone particular para os hspedes, nos quartos. Outra inovao bastante alardeada foi a eletricidade. Os avanos nessa rea vieram por etapas. Primeiramente, o conforto de uma campainha eltrica em todos os quartos, para o hspede solicitar servios sem precisar ir at a recepo. Depois, a iluminao de alguns setores, especialmente os de uso comum. Depois, os quartos. E, nos prdios altos, os elevadores movidos a energia eltrica causavam admirao. Alm das novidades tecnolgicas, a insero dos hotis na vida social no somente conferiu notoriedade aos que souberam seguir esse caminho, como colaborou para a transformao de costumes arraigados da antiga sociedade colonial. No Rio de Janeiro, a Corte portuguesa trouxe esse impulso, promovendo festas, saraus artsticos e trazendo artistas de companhias estrangeiras para os palcos cariocas. A partir da, os hotis tambm se incorporaram aos divertimentos da cidade. Comearam discretamente, exibindo bandas de msica, e em pouco tempo j promoviam os primeiros bailes carnavalescos em sales, poupando os folies de grosserias inconvenientes dos entrudos, nas ruas. No Rio, a folia teve incio no Hotel da Itlia, em 1835, repetiu-se vrias vezes no mesmo ano, nesse e em outros hotis, e consagrou-se para sempre. 23 *** Tambm em outras regies do pas, a estrutura hoteleira comeou a tornar-se slida na segunda metade do sculo XIX. No Rio Grande do Sul, a cidade de Porto Alegre ganhou em 1870 o sofisticado Hotel del Siglo, localizado na Praa da Alfndega. 24 Em Minas Gerais, o Hotel Caxambu, criado em 1881, e o Grand Hotel Pocinhos, instalado na Cidade de Caldas, em 1886, so ainda hoje os mais antigos hotis brasileiros em funcionamento. Nessa poca, nada foi mais impactante para o turismo no Brasil do que a imigrao, no apenas pela exigncia de acomodaes para os imigrantes, mas tambm pela experincia que traziam nos servios de hotelaria europeu. No Rio Grande do Sul, por exemplo, de 1859 a 1875, o Governo da Provncia registrou o nmero de 12.563 estrangeiros, das seguintes nacionalidades: alemes (8.412), austracos (1.452), italianos (729), franceses (648), suos (263) e outros (105). Mas, em matria de imigrao, nada se compara aos nmeros de So Paulo. Para fazer frente a esse fenmeno, foi iniciada em 1886 a construo da Hospedaria do Imigrante, em
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carter de urgncia, num edifcio de uso temporrio no bairro do Bom Retiro, onde ficavam os demais hotis construdos neste perodo. Porm, as crescentes epidemias de gripe e varola que atingiam a regio determinaram a construo de uma sede definitiva, inaugurada um ano depois, no bairro do Brs, com capacidade para abrigar 4 mil pessoas e com grandes espaos que levavam em conta a necessidade de um grande controle epidmico. Procedentes de outros pases e tambm de outras provncias, os imigrantes formavam a mo-de-obra necessria para a indstria e a agricultura.
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Em apenas cinco anos, de 1895 a 1900, a populao da paulicia saltou de 130 mil habitantes para 240 mil. Enquanto isso, a atividade hoteleira crescia incessantemente na cidade. Alm do requintado Grande Hotel, na rua So Bento, ergueu-se junto s estaes Sorocabana e Luz um conjunto de hotis com a arquitetura tpica da passagem do sculo, testemunhando a intensa atividade comercial que florescia na poca. No entanto, o fluxo de imigrantes tinha apenas comeado. Em 1905, desembarcaram em So Paulo os primeiros srios e libaneses. Mais de 50 mil srios chegariam nas dcadas seguintes. Em 1908, chegaram as primeiras 165 famlias japonesas. Anos depois, principalmente a partir da Segunda Guerra, chegariam mais de 500 mil. Em 1914, o estado j abrigava 1,8 milho de imigrantes, dos quais 845 mil eram italianos. O estmulo industrializao no Brasil, provocado pela Primeira Guerra Mundial, gerou um grande surto de desenvolvimento na regio. Mo-de-obra qualificada no faltava. E os recursos obtidos com a exportao de caf ergueram as chamins das primeiras indstrias de So Paulo. A atividade fabril desenhou um novo perfil urbano e econmico na cidade, que exigiu a ampliao de toda a infraestrutura da cidade, inclusive no setor da hotelaria. Este cenrio provocou tambm o surgimento de hotis luxuosos, destinados a abrigar os grandes bares do caf e os emergentes industriais. ***
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A evoluo nos servios vinculados hospedagem ajudou a fomentar, na segunda metade do sculo XIX, o surgimento de hotis de categoria, funcionando em edifcios especialmente construdos para essa finalidade. Era o caso de alguns estabelecimentos inaugurados no Rio, nessa ocasio, como o Freitas Hotel, o Hotel Guanabara e o Hotel dos Estrangeiros. Este ltimo, com 120 quartos de primeira ordem, possua ainda grande salo de jantar, sala de leitura e de bilhares, salo de recepes e salo de banquetes para 300 talheres. Essa gerao de hotis mudou a imagem que vigorava anteriormente entre os visitantes estrangeiros, a respeito dos hotis do Rio de Janeiro e do Brasil. Bom exemplo disso, em contraste com as citaes que registramos nas pginas anteriores, o testemunho de James Fletcher sobre sua temporada no Hotel dos Estrangeiros: As janelas do quarto esto totalmente abertas e, fechando os olhos, sente-se a brisa da terra, que docemente murmura, trazendo em suas asas no somente o suave e fresco perfume da terra, como, roubando em sua passagem pelos jardins prximos a fragrncia dos jasmins, o delicado aroma da florapondia e o perfume das flores recm abertas das laranjeiras, enriquece o ambiente da noite com os mais ricos aromas. O gemido distante das vagas, que vm quebrar na Praia Flamengo, uma suave melodia, que acalenta o sono para se sonhar com cenas no mais deleitosas que aquelas que nos rodeiam nas quais existem. 25 Em 1904 aprovada a primeira lei de incentivos fiscais para a construo de hotis no Rio de Janeiro, ento Distrito Federal. O Turismo comeou a se firmar no pas como atividade de grande importncia scio-econmica. A chegada do primeiro grupo organizado de turistas ao Rio de Janeiro, a bordo do vapor Byron, em julho de 1907, desperta a curiosidade da populao e notcia de destaque nos jornais. Tambm no ano de 1907, dois importantes avanos legais trouxeram impactos altamente positivos para a atividade turstica: o direito a frias remuneradas (j assegurado na Europa dcadas antes) e a iseno de impostos aos cinco primeiros grande hotis da cidade. E em 1908, exatamente um sculo depois da chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, pode-se dizer que a hotelaria brasileira atingia sua maioridade, com a inaugurao do Hotel Avenida. *** Nos anos de 1920, a prspera capital paulista vivia uma Belle Epoque, com a inaugurao de luxuosos hotis e de imponentes palacetes, em meio a um processo de embelezamento da cidade. Bons exemplos dessa fase so o Hotel Terminus, na Avenida Prestes Maia, com mais de 200 quartos, e o Hotel Esplanada, com 250 quartos. Construdo ao lado do Teatro Municipal, o Esplanada tornou-se o ponto de encontro da elite paulistana. Outro marco da poca o Hotel Central, na Avenida So Joo, o primeiro hotel de quatro pavimentos na cidade.
25. KIDDER, D. e FLETCHER, J., 1941
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Nessa mesma poca, no Rio, o glamour dos hotis notabilizou-se com o sucesso internacional dos bailes carnavalescos. Nesses eventos, dois hotis inaugurados na dcada de 1920, o Glria (1922) e o Copacabana Palace (1923) ajudaram a consolidar o Rio de Janeiro como destino turstico. Ambos influenciados pelo Hotel Ritz, de Paris, considerado um marco na histria da hotelaria mundial, apresentavam inovaes hoje triviais, como banheiro privativo em cada quarto e empregados uniformizados. A grandiosidade das instalaes e o requinte dos servios desses dois hotis representaram, para o Brasil, um grande avano nas atividades hoteleiras e tursticas. Grandes alteraes urbanas promovidas no Rio e em So Paulo, especialmente nas primeiras dcadas do sculo XX, afetaram a localizao e o conceito arquitetnico dos novos hotis. O alargamento de avenidas, a verticalizao e o uso intenso de automveis traaram perfis diferenciados nas principais cidades do pas. Assumindo papel de destaque na paisagem paulistana, surgem os hotis Excelsior, Terminus e So Paulo. Importa notar que a paisagem dos cus comea a mostrar novidades ao fim da primeira Guerra Mundial (1914-1918): sobravam pilotos experientes e avies militares, que eram vendidas a bom preo e adaptados para o transporte de passageiros e de malotes postais.
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Assim surgiram, principalmente na Europa, inmeras empresas de transporte areo. No Brasil, entretanto, a aviao comercial s ganharia flego ao final dos anos 1920. Inaugurada em 1927, a Varig - Viao Area Riograndense transportava seus passageiros nos hidroavies Dornier Wal de nove lugares e um Dornier Merkur, de seis lugares. No mesmo ano, comeou a operar no Brasil a Syndicato Condor, brao da alem Deustche Luft Hansa. Dois anos mais tarde, era autorizada a voar no Brasil a Nyrba do Brasil, subsidiria da New York, Rio and Buenos Aires Line Inc., mais tarde incorporada pela Pan American. Recebendo em 1930 o nome de Panair, a companhia operou as primeiras linhas ligando Belm e Rio de Janeiro. Outras companhias internacionais, como a Air France, se instalariam no Brasil nos Anos 1930. Com o fim da Segunda Guerra o avio passou a ser, em todo o mundo, por excelncia, um veculo essencial para o desenvolvimento do Turismo e para o intercmbio entre os povos. Em 1949, na Europa, foi vendido o primeiro pacote de turismo que utilizava o avio como transporte. Em 1955, a Varig inaugurou sua linha Rio de Janeiro - Nova Iorque, com os confortveis Super Constellation. O transporte areo j se consolidava como um fator de grande impulso para o Turismo domstico e internacional. Vale notar que, j em 1945, a intensificao das atividades comerciais e de servios no Brasil, entre elas, aquelas relativas cadeia produtiva do turismo, motivou empresrios do setor a se unirem para constituir a Confederao Nacional do Comrcio. No ano seguinte, foram criados o Servio Social do Comrcio - Sesc, que marcaria sua trajetria como um dos principais plos promotores do Turismo Social no Pas, e o Servio Nacional de Aprendizagem Comercial - Senac, entidade educacional que viria a se tornar referncia do Brasil no campo da formao de profissionais para o Turismo e a Hotelaria.
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O crescimento do fluxo de turistas havia propiciado a instalao de novos hotis em vrias capitais brasileiras, como Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife e Goinia. Nas regies de potencial turstico, foi a poca dos hotis-cassino, como o Parque Balnerio e o Atlntico, em Santos, o Grande Hotel de Poos de Caldas, o guas de So Pedro (hoje hotel-escola do Senac), o Grande Hotel de Arax, o La Plage do Guaruj, o Quisissana em Poos de Caldas, e o Palcio Quitandinha de Petrpolis. No entanto, a proibio dos jogos de azar, em 1946, pelo decreto federal n 9.215, assinado pelo General Eurico Gaspar Dutra, provocou o fechamento no apenas dos cassinos, mas de vrios desses grandes hotis, que tiveram que reestruturar suas atividades. A ocupao hoteleira caiu bruscamente. O turismo e a hotelaria sofreram um perodo de estagnao. A febre imobiliria nas grandes cidades direcionou a maior parte dos investimentos urbanos para a construo de prdios de escritrios e residenciais. Aps quase cinco dcadas de funcionamento, o Hotel Avenida, smbolo da hotelaria carioca, demolido, em 1957, para dar lugar ao Edifcio Avenida Central. E o poeta Carlos Drummond de Andrade assim traduziu essa fase, simbolizada pela demolio do Hotel Avenida:
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26. ANDRADE, Carlos D. Obra Completa, 1957
eu que moro e desmoro h tantos anos o Grande Hotel do Mundo sem gerncia em que nada existindo de concreto - avenida, avenida - tenazmente de mim mesmo sou hspede secreto.26
Vai, Hotel Avenida, vai convocar teus hspedes no plano da outra vida (...) Estou comprometido para sempre
*** Toda a cadeia produtiva do Turismo se ressentia com a crise advinda da proibio dos cassinos no Pas e dos prejuzos da hotelaria nacional. Da prpria crise, sobreveio a unio: em 1953, quinze representantes de agncias de viagens se reuniram no Rio de Janeiro para criar a Associao Brasileira das Agncias de Viagens - ABAV, a exemplo do que j haviam feito os hoteleiros do Pas ao fundarem, em 1936, a Associao Brasileira da Indstria de Hotis - ABIH. Atenta necessidade de dispor de um frum prprio para discutir solues focadas no turismo, a Confederao Nacional do Comrcio, criou, em 1955, o Conselho de Turismo, um rgo de assessoramento que rene notveis da hotelaria e da atividade turstica nacional. Neste mesmo ano, empresrios do ramo de hospedagem e alimentao uniram-se para fundar a Federao Nacional dos Hotis, Restaurantes, Bares e Similares.
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Essa mobilizao setorial acabou por despertar as autoridades pblicas do Pas que, em 1958, aprovaram a criao de um rgo nacional responsvel pela coordenao das atividades destinadas ao desenvolvimento do turismo interno e externo: a Combratur, Comisso Brasileira de Turismo (Decreto Federal n 44.863). No entanto, a crise ainda se arrastaria por mais alguns anos. Em novembro de 1961, os problemas do setor eram apontados pelo presidente do Conselho de Turismo da CNC, Corintho de Arruda Falco, em reunio da entidade: Falta-nos a civilizao de como receber o turista nos portos e aeroportos, nos quais cinco ministrios diferentes entravam a entrada de nossos visitantes, com emprego de mtodos e processos obsoletos, j abandonados por todos os pases do mundo. [...] falta-nos civilizao, quando se nota a inexistncia de um grande parque hoteleiro, condio sine qua non, para que recebamos hspedes. Que melancolia, sabermos que todos os apartamentos de classe turstica, no Brasil, no atingem o nmero de 10 mil, enquanto que a Frana possui 400 mil e a Espanha 280 mil. 27 Apesar do contraste entre o mercado interno e o cenrio internacional, os anos 1960 trouxeram novas perspectivas para o Turismo brasileiro. Novos empreendimentos hoteleiros entraram em cena, estimulados pelo aquecimento da economia no perodo e pelos incentivos para investimentos oferecidos pela Embratur, empresa estatal criada pelo Decreto-Lei 55, de 1966, com a misso de formular, coordenar e fazer executar a Poltica Nacional do Turismo.
27. FALCO, 1961
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No incio dos anos 1970, a hotelaria e o empresariado do setor deram mostras de novo vigor. No Rio, com um arrojado projeto arquitetnico assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, alm de um jardim desenhado por Burle Marx, foi inaugurado em 1972, em So Conrado, o Hotel Nacional, que chegou a ostentar durante alguns anos o ttulo de o maior e mais moderno da Amrica do Sul. Nessa poca, algumas das maiores redes internacionais de hotelaria comeavam a se instalar no Brasil, com novos investimentos imobilirios no setor, contratos de gerenciamento ou sistemas de franquias. Essa nova fase da histria da hotelaria brasileira teve incio com a Hilton Internacional Corporation, que em 1971, na capital paulista, assumiu a administrao
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de um hotel com 400 apartamentos na avenida Ipiranga: o Hilton So Paulo, construdo pelo consrcio Scuracchio.28 Nos anos seguintes, outras grandes marcas da hotelaria internacional chegaram ao Pas, em associao com grupos nacionais. Em 1974, comearam a operar o Rio Sheraton e o International Rio, administrado pela Intercontinental Hotel Corporation. Um ano depois, foi a vez do Meridien, em associao com o grupo Sisal. Em 1977, chegou ao Pas a cadeia Novotel, em parceria com o grupo Moreira Salles. E a rede Caesar Park, que, em 1976, tinha inaugurado seu primeiro hotel brasileiro na capital paulista, estende-se ao Rio de Janeiro em 1979. O Clube Mediterrane se instala na Bahia em 1976. A diversificao de servios com perfil de luxo e o aumento da profissionalizao no setor foram fatores decisivos, a partir desse perodo, no apenas para a promoo da hotelaria nacional, mas especialmente para o incremento da imagem do Brasil como destino importante do turismo internacional. Passados cinco sculos desde o desembarque dos primeiros estrangeiros nas terras brasileiras, o Turismo representa hoje o terceiro produto de exportao na balana comercial brasileira, abaixo apenas da soja em gro e do minrio de ferro, com uma arrecadao em torno de US$ 4 bilhes somente com a entrada de turistas estrangeiros. No setor domstico, os desembarques totalizaram 24,3 milhes de passageiros nos primeiros sete meses do ano, indicando um aumento de quase 20% com relao ao ano anterior.
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Hoje, a cadeia produtiva do turismo continua a fazer histria e a promover o desenvolvimento do Brasil. E, atenta a novas demandas e exigncias da atividade turstica brasileira, a Confederao Nacional do Comrcio, mais uma vez, inova ao criar, em 2004, a Cmara Empresarial do Turismo, que integra os diversos segmentos empresariais da cadeia produtiva do setor, na busca da modernizao e competitividade de produtos e servios tursticos nacionais. Essa cadeia produtiva do turismo composta por hotis, restaurantes, bares, empresas de transportes, agncias e operadores de viagem, entre outros, gera empregos, renda e riquezas em todo o Pas, construindo dia aps dia a histria do turismo no Brasil.
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