Livro - Mapeamento - Enconstas - Margens Part 2

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VULNERABILIDADE

Grau de perda para um dado elemento, grupo ou


comunidade dentro de uma determinada área passível de
ser afetada por um fenômeno ou processo.

SUSCETIBILIDADE
Indica a potencialidade de ocorrência de processos
naturais e induzidos em uma dada área, expressando-se
segundo classes de probabilidade de ocorrência.

RISCO
Relação entre a possibilidade de ocorrência de um
dado processo ou fenômeno, e a magnitude de danos
ou conseqüências sociais e/ou econômicas sobre um
dado elemento, grupo ou comunidade. Quanto maior a
vulnerabilidade, maior o risco.

26 ÁREA DE RISCO
Área passível de ser atingida por fenômenos ou processos
naturais e/ou induzidos que causem efeito adverso. As
pessoas que habitam essas áreas estão sujeitas a danos
à integridade física, perdas materiais e patrimoniais.
Normalmente, no contexto das cidades brasileiras, essas
áreas correspondem a núcleos habitacionais de baixa
renda (assentamentos precários).
CAPÍTULO 3

IDENTIFICAÇÃO, ANÁLISE E
MAPEAMENTO DE ÁREAS DE 27

RISCO DE DESLIZAMENTOS
28
CAPÍTULO 3

IDENTIFICAÇÃO, ANÁLISE E MAPEAMENTO


DE ÁREAS DE RISCO DE DESLIZAMENTOS

A paisagem de nosso planeta é dinâmica, sendo


caracterizada por uma constante mudança nas suas formas.
Parte destas mudanças necessita de milhares de anos para
completar seu ciclo, outras ocorrem relativamente rápido,
sendo perceptíveis na escala de tempo humana.
As encostas constituem uma conformação natural do
terreno, originadas pela ação de forças externas e internas por
29
meio de agentes geológicos, climáticos, biológicos e humanos,
os quais, através dos tempos esculpem a superfície da Terra.

Conceitos
Taludes Naturais: são definidos como encostas de maciços
terrosos, rochosos ou mistos, de solo e/ou rocha, de superfície
não horizontal, originados por agentes naturais.

Figura 3.1 – Perfil de encosta ou talude natural.


Talude de Corte: é definido como um talude, resultante de
algum processo de escavação executado pelo homem.

Talude de aterro: refere-se aos taludes originados pelo aporte


de materiais, tais como, solo, rocha e rejeitos industriais ou de
mineração.

Figura 3.2 – Perfil de encosta com taludes de corte e aterro.

Elementos geométricos básicos do talude


30 Inclinação: traduz o ângulo médio da encosta com o eixo
horizontal medido, geralmente, a partir de sua base. (inclinação
= ARCTAN (H/L)).

Figura 3.3 – Cálculo da inclinação de uma encosta.

Declividade: representa o ângulo de inclinação em uma


relação percentual entre o desnível vertical (H) e o comprimento
na horizontal (L) da encosta (declividade = H/L X 100).
Figura 3.4 – Cálculo da declividade.

O quadro abaixo apresenta a relação entre os valores


de declividade e inclinação. Ressalta-se que esta relação não
é proporcional.

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Tabela 3.1 – Tabela de conversão entre


os valores de declividade e inclinação.

O termo genérico escorregamentos ou deslizamentos


engloba uma variedade de tipos de movimentos de massa de
solos, rochas ou detritos, gerados pela ação da gravidade, em
terrenos inclinados, tendo como fator deflagrador principal a
infiltração de água, principalmente das chuvas.
Podem ser induzidos, gerados pelas atividades do
homem que modificam as condições naturais do relevo,
por meio de cortes para construção de moradias, aterros,
lançamento concentrado de águas sobre as vertentes, estradas
e outras obras. Por isso, a ocorrência de deslizamentos resulta
da ocupação inadequada, sendo, portanto, mais comum em
zonas com ocupações precárias de baixa renda.
Os deslizamentos podem ser previstos, ou seja, pode-
se conhecer previamente onde, em que condições vão ocorrer
e qual será a sua magnitude. Para cada tipo de deslizamento
existem medidas não estruturais e estruturais específicas.

TIPOS DE DESLIZAMENTOS
Existem diversas classificações nacionais e
internacionais relacionadas a deslizamentos. Neste texto será
adotada a classificação proposta por Augusto Filho (1992),
onde os movimentos de massa relacionados a encostas são
agrupados em quatro grandes classes de processos, sendo:
Rastejos, Escorregamentos, Quedas e Corridas.

Tabela 3.2 – Classificação de deslizamentos (Augusto Filho, 1992)


32
CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO/
PROCESSOS
MATERIAL/GEOMETRIA
vários planos de deslocamento (internos)
velocidades muito baixas a baixas (cm/ano) e
decrescentes com a profundidade
RASTEJO (CREEP)
movimentos constantes, sazonais ou intermitentes
solo, depósitos, rocha alterada/fraturada
geometria indefinida
poucos planos de deslocamento (externos)
velocidades médias (m/h) a altas (m/s)
pequenos a grandes volumes de material
geometria e materiais variáveis:
ESCORREGAMENTOS PLANARES: solos poucos espessos, solos e rochas
(SLIDES) com um plano de fraqueza
CIRCULARES: solos espessos homogêneos e
rochas muito fraturadas
EM CUNHA: solos e rochas com dois planos de
fraqueza
sem planos de deslocamento
movimento tipo queda livre ou em plano inclinado
velocidades muito altas (vários m/s)
material rochoso
QUEDAS (FALLS)
pequenos a médios volumes
geometria variável: lascas, placas, blocos, etc.
ROLAMENTO DE MATACÃO
TOMBAMENTO
muitas superfícies de deslocamento (internas e
externas à massa em movimentação)
movimento semelhante ao de um líquido viscoso
desenvolvimento ao longo das drenagens
CORRIDAS (FLOWS)
velocidades médias a altas
mobilização de solo, rocha, detritos e água
grandes volumes de material
extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas

33
Rastejo
Os rastejos são movimentos lentos, que envolvem
grandes massas de materiais, cujo deslocamento resultante
ao longo do tempo é mínimo (mm a cm/ano). Esse processo
atua sobre os horizontes superficiais do solo, bem como, nos
horizontes de transição solo/rocha e até mesmo em rocha, em
profundidades maiores. Também é incluído neste grupo o rastejo
em solos de alteração (originados no próprio local) ou em corpos
de tálus (tipo de solo proveniente de outros locais, transportado
para a situação atual por grandes movimentos gravitacionais de
massa, apresentando uma disposição caótica de solos e blocos
de rocha, geralmente, em condições de baixa declividade).
Este processo não apresenta uma superfície de
ruptura definida (plano de movimentação), e as evidências da
ocorrência deste tipo de movimento são trincas observadas
em toda a extensão do terreno natural, que evoluem
vagarosamente, e árvores ou qualquer outro marco fixo, que
apresentam inclinações variadas.
Sua principal causa antrópica é a execução de cortes
em sua extremidade média inferior, o que interfere na sua
precária instabilidade.

Figura 3.5 – Árvores inclinadas e Figura 3.6 – Perfil esquemático do


degraus de abatimento indicando processo de rastejo.
processo de rastejo
34
Deslizamentos propriamente ditos
Os deslizamentos são processos marcantes na
evolução das encostas, caracterizando-se por movimentos
rápidos (m/h a m/s), com limites laterais e profundidade bem
definidos (superfície de ruptura). Os volumes instabilizados
podem ser facilmente identificados, ou pelo menos inferidos.
Podem envolver solo, saprolito, rocha e depósitos. São
subdivididos em função do mecanismo de ruptura, geometria
e material que mobilizam.
O principal agente deflagrador deste processo são as
chuvas. Os índices pluviométricos críticos variam de acordo
com a região, sendo menores para os deslizamentos induzidos
e maiores para os generalizados.
Existem vários tipos de deslizamentos propriamente
ditos: planares ou translacionais, os circulares ou rotacionais,
em cunha e os induzidos. A geometria destes movimentos
varia em função da existência ou não de estruturas ou planos
de fraqueza nos materiais movimentados, que condicionem a
formação das superfícies de ruptura.
Os deslizamentos planares ou translacionais em solo
são processos muito freqüentes na dinâmica das encostas
serranas brasileiras, ocorrendo predominantemente em solos
pouco desenvolvidos das vertentes com altas declividades. Sua
geometria caracteriza-se por uma pequena espessura e forma
retangular estreita (comprimentos bem superiores às larguras).
Este tipo de deslizamento também pode ocorrer associado a
solos saprolíticos, saprolitos e rocha, condicionados por um
plano de fraqueza desfavorável à estabilidade, relacionado a
estruturas geológicas diversas (foliação, xistosidade, fraturas,
falhas, etc.).
35

Figura 3.7 – Deslizamentos planares Figura 3.8 – Perfil esquemático


induzidos pela ocupação. dos deslizamentos planares.

Os deslizamentos circulares ou rotacionais possuem


superfícies de deslizamento curvas, sendo comum a ocorrência
de uma série de rupturas combinadas e sucessivas. Estão
associadas a aterros, pacotes de solo ou depósitos mais
espessos, rochas sedimentares ou cristalinas intensamente
fraturadas. Possuem um raio de alcance relativamente menor
que os deslizamentos translacionais.
Figura 3.9 – Deslizamento circular Figura 3.10 – Perfil esquemático do
ou rotacional. deslizamento circular ou rotacional.

Os deslizamentos em cunha estão associados a


saprolitos e maciços rochosos, onde a existência de dois
planos de fraqueza desfavoráveis à estabilidade condicionam
o deslocamento ao longo do eixo de intersecção destes
planos. Estes processos são mais comuns em taludes de
corte ou encostas que sofreram algum processo natural de
36 desconfinamento, como erosão ou deslizamentos pretéritos.

Figura 3.11 – Deslizamento em Figura 3.12 – Perfil esquemático


cunha ou estruturado. de um deslizamento em cunha ou
estruturado.
Os deslizamentos induzidos, ou causados pela ação
antrópica, são aqueles cuja deflagração é causada pela
execução de cortes e aterros inadequados, pela concentração
de águas pluviais e servidas, pela retirada da vegetação,
etc. Muitas vezes, estes deslizamentos induzidos mobilizam
materiais produzidos pela própria ocupação, envolvendo
massas de solo de dimensões variadas, lixo e entulho.
Em geral, a evolução da instabilização das encostas
acaba por gerar feições que permitem analisar a possibilidade
de ruptura. As principais feições de instabilidade, que indicam a
iminência de deslizamentos, são representadas por fendas de
tração na superfície dos terrenos ou pelo aumento de fendas
preexistentes, devido ao embarrigamento de estruturas de
contenção, pela inclinação de estruturas rígidas, como postes,
árvores, etc., pelo surgimento de degraus de abatimento e
trincas no terreno e nas moradias.
Quedas
Os movimentos do tipo queda são extremamente
rápidos (da ordem de m/s) e envolvem blocos e/ou lascas de
rocha em movimento de queda livre, instabilizando um volume
de rocha relativamente pequeno. 37
A ocorrência deste processo está condicionado à
presença de afloramentos rochosos em encostas íngremes,
abruptas ou taludes de escavação, tais como, cortes em
rocha, frentes de lavra, etc., sendo potencializados pelas
amplitudes térmicas, por meio da dilatação e contração da
rocha. As causas básicas deste processo são a presença
de descontinuidades no maciço rochoso, que propiciam
isolamento de blocos unitários de rocha; a subpressão por
meio do acúmulo de água, descontinuidades ou penetração de
raízes. Pode ser acelerado pelas ações antrópicas, como, por
exemplo, vibrações provenientes de detonações de pedreiras
próximas. Ressalta-se que as frentes rochosas de pedreiras
abandonadas podem resultar em áreas de instabilidade
decorrentes da presença de blocos instáveis remanescentes
do processo de exploração.
Figura 3.14 – Área de risco de Figura 3.15 – Perfil esquemático
processos de queda de blocos do processo de queda de blocos.
rochosos.

Além da queda, existem mais dois processos envol-


vendo afloramentos rochosos, o tombamento e o rolamento
de blocos.
O tombamento, também conhecido como basculamen-
to, acontece em encostas/taludes íngremes de rocha, com
38 descontinuidades (fraturas, diáclases) verticais. Em geral,
são movimentos mais lentos que as quedas e ocorrem princi-
palmente em taludes de corte, onde a mudança da geometria
acaba desconfinando estas descontinuidades, propiciando o
tombamento das paredes do talude.

Figura 3.15 – Situação de risco de


tombamento de bloco rochoso.
O rolamento de blocos, ou rolamento de matacões,
é um processo comum em áreas de rochas graníticas,
onde existe maior predisposição a origem de matacões de
rocha sã, isolados e expostos em superfície. Estes ocorrem
naturalmente quando processos erosivos removem o apoio
de sua base, condicionando um movimento de rolamento
de bloco. A escavação e a retirada do apoio, decorrente da
ocupação desordenada de uma encosta, é a ação antrópica
mais comum no seu desencadeamento.

39

Figura 3.16 – Situação de risco de Figura 3.17 – Perfil esquemático


rolamento de bloco rochoso. de rolamento de bloco rochoso.

Corridas de massa
As corridas de massa são movimentos gravitacionais
de massa complexos, ligados a eventos pluviométricos
excepcionais. Ocorrem a partir de deslizamentos nas
encostas e mobilizam grandes volumes de material, sendo
o seu escoamento ao longo de um ou mais canais de
drenagem, tendo comportamento líquido viscoso e alto poder
de transporte.
Estes fenômenos são mais raros que os deslizamentos,
porém podem provocar conseqüências de magnitudes
superiores, devido ao seu grande poder destrutivo e extenso
raio de alcance, mesmo em áreas planas.
As corridas de massa abrangem uma gama variada
de denominações na literatura nacional e internacional
(corrida de lama, mud flow, corrida de detritos, corrida de
blocos, debris flow, etc.), principalmente em função de
suas velocidades e das características dos materiais que
mobilizam.

Figura 3.18 – Perfil esquemático de Figura 3.19 – Acidente associado


processos do tipo corrida. ao processo do tipo corrida.
40

CONDICIONANTES E CAUSAS DOS


DESLIZAMENTOS
Os deslizamentos ocorrem sob a influência de
condicionantes naturais, antrópicos, ou ambos. As causas
destes processos devem ser entendidas, a fim de se evitar e
controlar deslizamentos similares.
Os Condicionantes naturais podem ser separados
em dois grupos, o dos agentes predisponentes e o dos
agentes efetivos. Os agentes predisponentes são o conjunto
das características intrínsecas do meio físico natural, podendo
ser diferenciados em complexo geológico-geomorfológico
(comportamento das rochas, perfil e espessura do solo
em função da maior ou menor resistência da rocha ao
intemperismo) e complexo hidrológico-climático (relacionado
ao intemperismo físico-químico e químico). A gravidade e
a vegetação natural também podem estar inclusos nesta
categoria.
Os agentes efetivos são elementos diretamente
responsáveis pelo desencadeamento dos movimentos
de massa, sendo estes diferenciados em preparatórios
(pluviosidade, erosão pela água e vento, congelamento e
degelo, variação de temperatura e umidade, dissolução
química, ação de fontes e mananciais, oscilação do nível de
lagos e marés e do lençol freático, ação de animais e humana,
inclusive desflorestamento) e imediatos (chuva intensa,
vibrações, fusão do gelo e neves, erosão, terremotos, ondas,
vento, ação do homem, etc.).
Outros condicionantes naturais de grande importância
são as características intrínsecas dos maciços naturais
(rochosos e terrosos), a cobertura vegetal, a ação das águas 41
pluviais (saturação e/ou elevação do lençol freático, geração
de pressões neutras e forças de percolação, distribuição da
chuva no tempo), além dos processos de alteração da rocha
e de erosão do material alterado.
Com relação aos condicionantes antrópicos, pode se
citar como principais agentes deflagradores de deslizamentos
a remoção da cobertura vegetal, lançamento e concentração
de águas pluviais e/ou servidas, vazamento na rede de água
e esgoto, presença de fossas, execução de cortes com
alturas e inclinações acima de limites tecnicamente seguros,
execução deficiente de aterros (compactação, geometria,
fundação), execução de patamares (“aterros lançados”)
com o próprio material de escavação dos cortes, o qual é
simplesmente lançado sobre o terreno natural, lançamento de
lixo nas encostas/taludes, retirada do solo superficial expondo
horizontes mais suscetíveis, deflagrando processos erosivos,
bem como elevando o fluxo de água na massa do solo.
Um grande problema presente em áreas de
assentamentos precários urbanos é a implantação de obras
que provocam a obstrução da drenagem natural, levando a
saturação do solo e à redução de sua resistência, o que é
agravado pelo lançamento de detritos e lixo, e pela ação das
chuvas de verão.
Raramente um deslizamento pode ser associado a um
único e definitivo fator condicionante, devendo ser observado
como o produto de uma cadeia de fatores e efeitos que acabam
determinando sua deflagração. A identificação precisa dos
elementos responsáveis pela deflagração dos deslizamentos
e dos processos correlatos é fundamental para a adoção
de medidas corretivas ou preventivas, o que garante maior
42 acerto do ponto de vista técnico e econômico.

TIPOS DE MAPEAMENTOS
Dentre os tipos de mapeamentos existentes, três
podem ser destacados, os quais, conjuntamente, resultarão
no mapa de risco de uma determinada área. O primeiro mapa
a ser elaborado é o mapa de inventário. Este mapa é a base
para a elaboração da carta de suscetibilidade e do mapa de
risco. São suas características:

 distribuição espacial dos eventos;


 conteúdo: tipo, tamanho, forma e estado de atividade;
 informações de campo, fotos e imagens.

Tendo o mapa de inventário em mãos, pode-se iniciar a


elaboração do mapa de suscetibilidade. Este é muito importan-
te para a elaboração de medidas de prevenção e planejamento
do uso e ocupação, pois indica a potencialidade de ocorrência
de processos naturais e induzidos em áreas de risco, expres-
sando a suscetibilidade segundo classes de probabilidade de
ocorrência. Apresenta as seguintes características:

 baseado no mapa de inventário;


 mapas de fatores que influenciam a ocorrência dos even-
tos;
 correlação entre fatores e eventos;
 classificação de unidades de paisagem em graus de
suscetibilidade;

Tendo o mapa de inventário e o de suscetibilidade para


se basear, inicia-se a elaboração do mapa de risco. Este mapa
preponderará a avaliação de dano potencial à ocupação, ex-
presso segundo diferentes graus de risco, resultantes da con-
junção da probabilidade de ocorrência de processos geoló-
43
gicos naturais ou induzidos, e das conseqüências sociais e
econômicas decorrentes. Suas características principais são:

 conteúdo - probabilidade temporal e espacial, tipologia e


comportamento do fenômeno;
 vulnerabilidade dos elementos sob risco;
 custos dos danos;
 aplicabilidade temporal limitada.

PROPOSTA DE MÉTODO PARA MAPEAMENTO

Os métodos para mapeamento apresentados a seguir


têm por finalidade a identificação e a caracterização de áreas
de risco sujeitas a deslizamentos e solapamento de margens,
principalmente em assentamentos precários, com vistas à
implementação de uma política pública de gerenciamento de
riscos.
O zoneamento compreende a identificação dos
processos destrutivos atuantes, a avaliação do risco de
ocorrência de acidentes e a delimitação e distribuição espacial
de setores homogêneos em relação ao grau de probabilidade
de ocorrência do processo ou mesmo ocorrência de risco,
estabelecendo tantas classes quantas necessárias. Permite
individualizar e caracterizar cada um dos setores, fornecendo
informações sobre aos diversos níveis de suscetibilidade ao
qual estão submetidos.
O cadastramento de risco fornece informações
específicas, como a quantidade de moradias localizadas
nos setores de risco, além de identificar aquelas passíveis
de uma prévia remoção, constituindo-se em subsídio para
ações que necessitem de uma rápida intervenção dos órgãos
responsáveis. Possibilita o detalhamento das situações caso
44 a caso ou, às vezes, por agrupamentos de mesmo grau de
probabilidade de ocorrência do processo ou risco.

Zoneamento – pré setorização


O zoneamento de risco geológico se inicia com a pré-
setorização da área, utilizando-se a percepção e parâmetros
básicos.
A percepção está atrelada à experiência e à vivência
do profissional nos trabalhos de mapeamento. Os parâmetros
básicos a serem observados, são os seguintes:
 Declividade/inclinação;
 Tipologia dos processos;
 Posição da ocupação em relação à encosta;
 Qualidade da ocupação (vulnerabilidade).
A declividade/inclinação pode variar de acordo
com o tipo de solo, rocha, relevo, ou de acordo com as
intervenções antrópicas, como cortes e aterros. Existem
valores de referência para este parâmetro, acima dos quais a
deflagração do processo de deslizamento é iminente. Como
referências temos:
 17º (30%) Lei Lehman (Lei Federal 6766/79), que determina
que áreas com declividades acima de 30% devem ter sua
ocupação condicionada a não existência de riscos (verificado
por laudo geológico-geotécnico);
 20º-25º é a declividade onde já se iniciam os deslizamentos
na Serra do Mar no litoral paulista;

Mesmo com as referências apresentadas, cada


área deve passar por avaliação, principalmente a partir do
reconhecimento de deslizamentos já ocorridos.
A tipologia do processo, assim como a declividade,
está intimamente ligada ao tipo de solo, rocha, relevo da
45
área e varia de acordo com as intervenções antrópicas,
como cortes e aterros. Os tipos mais comuns observados no
Brasil são:
 Deslizamento planar em corte e aterro (sudeste);
 Deslizamentos na Formação Barreiras (nordeste).

Mesmo com as referências apresentadas, cada


área deve passar por avaliação, principalmente a partir do
reconhecimento de deslizamentos já ocorridos.
A posição da ocupação em relação à encosta indica
a possibilidade de queda ou atingimento. As moradias
localizadas no alto da encosta apresentam possibilidade de
queda e as localizadas na base apresentam possibilidade
de atingimento. As moradias localizadas em meia
encosta apresentam tanto a possibilidade de queda como
atingimento.
A qualidade da ocupação (vulnerabilidade) é outro
parâmetro importante. Uma ocupação com moradias em
madeira apresenta menor resistência ao impacto da massa
escorregada. Já as moradias em alvenaria têm maior
resistência ao impacto devido as suas fundações e paredes
mais resistentes. As ocupações mistas apresentam média
vulnerabilidade. Em resumo:

 Madeira
 Misto AUMENTO DA
VULNERABILIDADE
 Alvenaria

Zoneamento – setorização
Após a pré-setorização, iniciam-se os trabalhos de
setorização, realizado com o auxílio de fichas de campo
46 (check list). Além da ficha que contempla campos para
preenchimento sobre a caracterização do local, sobre a
presença de evidências de movimentação, presença de água
e vegetação, são utilizadas plantas, mapas, ou mesmo guia
de ruas para identificação e delimitação correta da área a ser
mapeada.
Para se obter melhor representação do local são
utilizadas fotografias aéreas, imagens de satélite e fotografias
oblíquas de baixa altitude (obtidas a partir de sobrevôo
por helicóptero), onde serão representados os setores
identificados.
Este trabalho deve ser realizado por uma equipe
treinada, que possua um conhecimento mínimo do histórico
da área com relação à presença de deslizamentos, a fim
de se determinar o grau de probabilidade de ocorrência do
processo ou mesmo do risco dos setores.
Determinação do grau de probabilidade de
ocorrência do processo ou risco
Propõe-se utilizar escala com 4 graus (níveis) de
probabilidade de ocorrência dos processos, com base
nas informações geológico-geotécnicas. Esta escala será
explicada no Capítulo 4:

 Muito Alto - R4
 Alto - R3
 Médio - R2
 Baixo ou sem risco - R1

Quadro 3.1 - Exemplo de ficha de campo preenchida.


MAPEAMENTO DE RISCO
Ficha de Campo: X Encosta
X Margem de Córrego

SUBPREFEITURA DO CAMPO LIMPO ÁREA N° 02 (JD. COMERCIAL I) SETOR 1 47


Equipe:
Data:

Diagnóstico do setor (condicionantes e indicadores do processo de


instabilização):

Ocorrência de cicatriz de escorregamento. Três casas foram afetadas e


demolidas pela prefeitura.
Talude da margem do córrego.
Declividade acentuada 45°.
Altura de 8m.

Descrição do Processo de Instabilização: (escorregamento de solo / rocha /


aterro; naturais / induzidos; materiais mobilizados; solapamento; ação direta da
água, etc):
Escorregamento induzido no talude do córrego devido à presença de aterro
sobre o solo e a drenagem superficial. Também houve contribuição do processo
de solapamento da margem do córrego.

Observações (incluindo descrição de fotos obtidas no local e coordenadas):


Área parcialmente consolidada, faltando a complementação da infra-estrutura.
Devem ser realizados serviços de limpeza e recuperação da área com a retirada
do entulho e lixo do talude na margem do córrego, e obras de drenagem de
superficial que conduza as águas superficiais do alto do talude até o córrego, e
retaludamento e estabilização do canal do córrego.
Fotos: FV-CL-2-01; FH-CL-2-01; FC-CL-2-01.

Grau de Probabilidade: R3- ALTO


CAPÍTULO 4

APRESENTAÇÃO DO ROTEIRO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE
DE RISCO E MAPEAMENTO DE
ÁREAS DE RISCO EM SETORES 49

DE ENCOSTA E BAIXADA, COM


ENFOQUE EM DESLIZAMENTOS
DE SOLO – PARTE 1
50

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