iNTERPRETAÇÃO DE Injustiça Epistêmica
iNTERPRETAÇÃO DE Injustiça Epistêmica
iNTERPRETAÇÃO DE Injustiça Epistêmica
Introdução
O livro explora a ideia de que existe uma injustiça epistêmica.
Então, a Tese é: existe uma injustiça especificamente epistêmica.
Do que não se trata?
A injustiça epistêmica não pode ser identificada com a injustiça distributiva. A justiça
distributiva somente por acaso seria justiça epistêmica, quer dizer, não há uma relação de
causalidade entre elas.
Quando pensamos em injustiça epistêmica nos vem à mente a ideia de injustiça
distributiva relativamente a bens epistêmicos diversos, e nos questionamos se todos recebem
uma cota igual desses bens, mas a injustiça epistêmica não tem esse caráter distributivo.
Ao contrário, o proposito do livro é aproximar-se de duas formas de injustiça que são de
natureza epistêmica e teorizar sobre elas para mostrar que, sobretudo, consistem em causar um
mal a alguém em sua condição específica de sujeito de conhecimento.
Temos, então, duas formas de injustiça epistêmica: a injustiça testemunhal e a injustiça
hermenêutica. A autora pretende aproximar-se, teorizar e mostrar que, acima de tudo, elas
consistem em causar um mal a alguém em sua condição de sujeito do conhecimento.
A injustiça testemunhal ocorre quando os preconceitos levam um ouvinte a conceder
às palavras de um falante um grau de credibilidade menor.
Exemplo: quando a polícia não acredita na palavra de uma pessoa porque ela é negra.
A injustiça hermenêutica ocorre em uma fase anterior, quando uma lacuna nos
recursos coletivos de interpretação coloca alguém em desvantagem injusta em termos de
compreensão das suas experiencias sociais.
Exemplo: quando uma pessoa foi vitima de assédio sexual numa cultura que, no entanto,
não dispõe desse conceito. O fato carece de sentido porque não existe uma denominação para
ele, e o que não pode ser pensado, não pode ser definido, também não pode ser avaliado.
Poderíamos dizer que a causa da injustiça testemunhal é um preconceito na economia
da credibilidade, portanto, é um preconceito individual, enquanto a da injustiça hermenêutica são
preconceitos estruturais na economia dos recursos hermenêuticos coletivos.
Então, a injustiça testemunhal, sendo individual, é também conjuntural, ou seja, é
relativa a uma situação, a uma circunstância, a um momento, a um cenário ou ambiente.
Já a injustiça hermenêutica é coletiva e estrutural, ou seja, é relativa à ordem interna que
dá estabilidade aos entes, concretos ou abstratos, aos seus fundamentos, aquilo que mantém a
construção estável; por essa razão tende a permanecer, a perdurar; e relaciona-se, da mesma
forma, com a ideia de organização.
A causa de ambas as injustiças é o preconceito.
Preconceito: Estreitamente ligada à noção de atitude, por um lado, e à de estereótipo,
por outro, a ideia de preconceito foi elaborada por sociólogos americanos para explicar o
fenómeno do racismo. G. W. Allport (1954) definiu-o como o juízo feito sobre um grupo antes
de qualquer experiência e análise; tem, portanto uma função de simplificação, ao permitir a
implementação de um processo de categorização social e ao fazer apelo a uma causalidade
unidimensional; funciona com base no princípio da generalização - todo o grupo, e cada um dos
seus membros indistintamente, leva as marcas estereotipadas que o estabelecem numa
singularidade. O preconceito implica ao mesmo tempo, naqueles que o utilizam, uma
componente afetiva e valorativa que não é determinada pela realidade do grupo objeto do
preconceito. T. Adorno e os seus colaboradores (1950) mostraram que, no indivíduo, o
preconceito - e mais em geral a atitude - não podia ser isolado; integra-se no sistema que forma
a sua personalidade. Estas diversas características explicam, por um lado, que, porque está
ligado ao sistema de valores do sujeito, o preconceito resiste fortemente a toda a informação
contraditória; mas, por outro, que o preconceito pode ter uma função de integração social, pois
que permite a criação de uma identidade coletiva entre os que partilham o mesmo preconceito.
PRECONCEITO –
a) Noção ou teoria que é formulada antes de possuir dados suficientes para que seja
provável.
b) Indica o pré-juízo, o juízo que se faz inicialmente, antes de realizar o exame de
alguma coisa (preconcebido).
c) Os juízos que são previamente estabelecidos e que as provas posteriores em
contrário não conseguem desfazer: preconceitos sociais, raciais, etc.