A Relíquia Exercícios e Gabarito
A Relíquia Exercícios e Gabarito
A Relíquia Exercícios e Gabarito
(Unicamp) Em A Relíquia de Eça de Queirós, várias são as mulheres com quem Teodorico Raposo, o
herói e narrador, se vê envolvido. Dentre elas, podemos citar Mary, Adélia, Titi, Jesuína, Cíbele.
a) uma dessas personagens é importantíssima para a trama do romance, já que acompanha o narrador desde a
infância, e deve-se a ela a origem de todos os seus infortúnios posteriores. Quem é e o que fez ela para que o
plano de Raposo não desse certo?
b) a qual delas Raposo se refere como “Tinha trinta e dois anos e era zarolha”? Que relações tem essa
personagem com Crispim, a quem o narrador denomina como “a firma”?
RESPOSTA:
Entre as diversas personagens femininas citadas no enunciado da questão,
apenas uma acompanhou Teodorico Raposo desde a infância. Trata-se de
Titi, sua tia, a cuja herança ele teria direito, caso se comportasse como um
perfeito católico (na acepção de sua tia). Como tal não aconteceu e, tendo
sido descoberto o engodo que Raposo lhe preparava, Titi deserdou-o.
b) Jesuína é a referida personagem. O candidato deveria ter observado que
é finalmente com ela que Teodorico se casa. Trata-se da irmã de Crispim, o
próspero amigo, herdeiro da firma Crispim & Cia. Não sem ironia, Teodorico
o chama de “a firma” para sugerir que a identidade do amigo se sustentava
mais no valor financeiro do que no afetivo
2.(Unicamp) Em A Relíquia, de Eça de Queirós, encontramos a seguinte resposta de Lino, comprador
habitual das relíquias de Raposo: “Está o mercado abarrotado, já não há maneira de vender nem um
cueirinho do Menino Jesus, uma relíquia que se vendia tão bem! O seu negócio com as ferraduras é
perfeitamente indecente… Perfeitamente indecente! É o que me dizia noutro dia um capelão, primo meu:
“São ferraduras demais para um país tão pequeno!…” Catorze ferraduras, senhor! É abusar! Sabe vossa
Senhoria quantos pregos, dos que pregaram Cristo na Cruz, Vossa Senhoria tem impingido, todos com
documentos? Setenta e cinco, Senhor!… Não lhe digo mais nada… Setenta e cinco!”
a) Relate o episódio que faz com que Lino dê essa resposta a Raposo.
b) Sabendo que o autor usa da ironia para suas críticas, dê os sentidos, literal e irônico, que pode tomar
dentro da narrativa a frase: “São ferraduras demais para um país tão pequeno!…”
RESPOSTA:
a)Viajando a Jerusalém, Teodorico Raposo pretendia trazer para a tia muito
beata, uma relíquia sagrada , pois ele desejava sua herança e queria
agrada-la. Lá, aproveitou para viver aventuras proibidas pela tia, ganhando
como lembrança de uma de suas amantes um embrulho contendo uma
camisola. Ao retornar a Lisboa, trazendo a suposta coroa de espinhos de
Cristo, que ele mesmo forjara, confundiu os pacotes. No momento de
entregar o presente à tia, foi desmascarado e sumariamente deserdado.
Passou a dedicar-se, então, ao comércio ilícito de falsas relíquias católicas,
com a intermediação de Lino, sujeito inescrupuloso que conhecera por
acaso. Depois de certo tempo, resolveu ele mesmo vender diretamente as
“preciosidades”, sonegando produtos ao seu intermediário. Com a queda
das vendas, ele chama o antigo comparsa de volta, mostrando-lhe um novo
lote de mercadorias; convida-o a retomarem os negócios. O fragmento que
consta do enunciado é a resposta de Lino a Raposo.
b) No enunciado “São ferraduras demais para um país tão pequeno!…”, a
ambiguidade recai sobre a palavra “ferraduras”. No sentido literal, Lino está
se referindo à inflação do mercado de relíquias com catorze ferraduras do
burrinho que fugira da Santa Família. No sentido irônico, “ferraduras”
seriam aqueles que caíam no engodo do comércio desses produtos,
adquirindo-os. No segundo caso, a palavra é empregada com o sentido de
gente “pouco inteligente”, sentido que se estende também à ignorância e
ao atraso cultural dos portugueses, um dos alvos prediletos de Eça de
Queirós.
3.(Unicamp) O trecho que segue relata um diálogo entre o narrador-personagem de A Relíquia e o Doutor
Margaride, e contém referências básicas para o desenvolvimento do romance: Eu arrisquei outra palavra
tímida. – A titi, é verdade, tem-me amizade… – A titi tem-lhe amizade – atalhou com a boca cheia o
magistrado – e você é o seu único parente… Mas a questão é outra, Teodorico. É que você tem um rival. –
Rebento-o! – gritei eu, irresistivelmente, com os olhos em chamas, esmurrando o mármore da mesa. O moço
triste, lá ao fundo, ergueu a face de cima do seu capilé. E o Dr. Margaride reprovou com severidade a minha
violência. – Essa expressão é imprópria de um cavalheiro, e de um moço comedido. Em geral não se rebenta
ninguém… E além disso o seu rival não é outro, Teodorico, senão Jesus Cristo!
Nosso Senhor Jesus Cristo? E só compreendi quando o esclarecido jurisconsulto, já mais calmo, me revelou
que a titi, ainda no último ano da minha formatura, tencionava deixar a sua fortuna, terras e prédios, a
irmandades da sua simpatia e a padres da sua devoção.
a) Localize no trecho ao menos uma dessas referências e explique qual a sua relevância para a trama central.
b) O trecho fala da importância da figura de Jesus Cristo para a personagem denominada “titi”. Descreva
essa personagem, segundo o prisma do próprio narrador, Teodorico Raposo, e tente demonstrar como o
mesmo trata sarcasticamente o seu “rival” de herança.
RESPOSTA:
A)”É que você tem um rival” ou “o seu rival não é outro, Teodorico, senão
Jesus Cristo!”, ou “tencionava deixar a sua fortuna, terras e prédios, a
irmandade da sua simpatia e a padres da sua devoção”. Os trechos
selecionados denunciam o caráter do personagem principal que acaba
fundamentando a trama: um trapaceiro que busca, a todo custo, herdar a
vasta fortuna de uma tia. Por isso, o anúncio de um rival viria a prejudicar
as investidas do interesseiro Teodorico.
b) Titi é uma rica beata, autoritária, moralista que não consegue perceber
os limites da religiosidade. O personagem Teodorico utiliza-se dos
elementos religiosos em benefício próprio, isto é, finge ser extremamente
carola a fim de que a tia deixe a fortuna para ele e não para seu “rival”
(Cristo, “as irmandades de sua simpatia e padres de sua devoção”).
4.No trecho final da obra
RESPOSTA:
a) São frutos de ilusões, criadas por um “descarado heroísmo de
afirmações”, mentirosas, mas convictas. E, por meio dessas mentiras,
firmam-se teorias e alimentam-se ideologias.
b) Para os realistas, a objetividade era a chave das artes e das ciências.
Não espaço para a subjetividade ou para o culto ao “eu”, tal qual advindos
do Romantismo. O homem não seria um ser elevado e virtuoso, capaz da
melhor atitude sempre; seria capaz de mentir para não mudar o seu destino
ou até mesmo de fracassar diante da possibilidade de fazê-lo. O homem
seria manipulável e facilmente conduzido por ilusões criadas por terceiros
no intuito de se dar bem.
5.O uso do diminutivo é característica queirosiana bastante presente em A Relíquia
. Além de tamanho, tal sufixo pode acrescer à palavra primitiva os sentidos de afeto, desprezo, ironia etc.
Analise as passagens seguintes da obra e indique o valor expressivo do diminutivo em cada caso:
a)Isidoro Júnior, ante de eu sair, examinava-me sempre os ouvidos e as unhas; muitas vezes, mesmo
na bacia dele, dava-me uma ensaboadela furiosa, chamando-me baixo sebento. Depois trazia-me até a porta,
fazia-me uma carícia, tratava-me de seu querido amiguinho e mandava pela Vicência os seus respeitos à Sr.
D. Patrocínio das Neves.
b) Então, antes dos abraços, perguntei aos meus leais amigos que “lembrançazinha” desejavam dessas terras
remotas onde vivera o Senhor. Padre Pinheiro queria um frasquinho de água do Jordão. Justino (que já me
pedira no vão da janela um pacote de tabaco turco), diante da Titi, só apetecia um raminho de oliveira, do
Monte Olivete.
c) Cá por mim – disse ela no meio do sofá como dum altar, tesa nos cetins de domingo -, o que desejo é que
faças essa viagem com toda a devoção, sem deixar pedia por beijar, nem perder novena, nem ficar
lugarzinho em que não rezes ou o terço ou a coroa…
d) Pote, Pote! – gritei radiante – Nem tu saber que grossa moeda me vai render esse galhinho, dentro desse
pacotinho!
RESPOSTA:
a)O uso de “querido amiguinho” enfatiza a ironia do narrador em relação ao
tratamento que recebia no colégio dos Isidoros. Mantinha-se a aparência de
um tratamento carinhoso; no entanto, mesmo sendo tratado por “querido
amiguinho” na frente de seus responsáveis, era chamado de “sebento” em
secreto. A infantilização e o afeto projetados no diminutivo, por não serem
verdadeiros, configuram a ironia.
b) As palavras no diminutivo pretendem tornar mais simples os objetos que
representam. “lembrançazinha “significa um presente simples, barato, algo
bem comum para que a pessoa se lembre de relance do lugar de onde o
presente veio; as palavras “raminho” e “frasquinho” também carregam essa
ideia de diminuição, de simplicidade.
c) Não se refere a um “lugar pequeno” ou “ordinário”, e sim à totalidade.
Significa que a tia desejava que todo lugar santo, sem exceção, fosse
visitado, beijado e adorado pelo pupilo.
d) A imagem é de ironia. O galho espinhoso comum na Judeia, tecerá a
coroa que servirá para enganar a tia; torna-se, pois, um galho valioso em
um pacote valioso para o fim a que se destina. A coroa de espinhos é
relíquia em foco na obra
6. Considere o trecho:
[…] Numa sala forrada de papel escuro, encontramos um senhora muito alta,
muito seca, vestida de preto, com um grilhão de ouro no peito, um lenço roxo, amarrado no queixo, caía-lhe
num bioco lúgubre sobre a testa;
– É necessário gostar muito da Titi… É necessário dizer sempre que sim à Titi!
A Relíquia?
a) A necessidade advém do fato de o narrador ter ficado órfão aos nove
anos de idade e, a partir daquele momento, depender economicamente da
velha senhora. Muito rica, somente ela poderia garantir que nada lhe
b) Com o intuito de receber a herança
da tia, o narrador acabará por assumir uma vida dupla, vivendo na luxúria,
mas representando o papel de jovem honrado e piedoso para agradar à
senhora
7. (UFMT) Sobre a nudez forte da verdade – o manto diáfano da fantasia, epigrafe do romance A Relíquia,
de Eça de Queiros, explicita uma crítica:
b) À hipocrisia religiosa, com a menção da venda de relíquias, sobretudo a coroa de espinho de Cristo, que
Teodorico Raposo encontra na Terra Santa e com que presenteia sua tia beata.
c) Aos preconceitos religiosos, através dos pressupostos do Naturalismo, expostos pelo sábio Topsius à
personagem principal, Teodorico Raposo.
d) Aos princípios estéticos do Romantismo que, ao valorizarem a ideia de fuga da realidade, levavam o
homem à alienação.
A Relíquia
Foi-me doce, ao penetrar na sala, encontrar os dilectos amigos, com casacos sérios, de
pé, alargando para mim os braços extremosos. A titi pousava no sofá, tesa, desvanecida,
com cetins de festa e com jóias. E ao lado um padre muito magro vergava a espinha com
os dedos enclavinhados no peito – mostrando numa face chupada dentes afiados e
famintos. Era o Negrão. Dei-lhe dois dedos, secamente:
– Estimo vê-lo por cá…
– Grandíssima honra para este seu servo! – ciciou ele, puxando os meus dedos para o
coração.
E, mais vergado o dorso servil, correu a erguer o abat-jour do candeeiro – para que a luz
me banhasse, e se pudesse ver, na madureza do meu semblante, a eficácia da minha
peregrinação.
(…)
No entanto em torno tumultuavam as curiosidades amigas: “E a saudinha?”
“Então, Jerusalém?” “Que tal as comidas?…”
Mas a titi bateu com o leque no joelho, num receio que tão familiar alvoroço importunasse
S. Teodorico. E o Negrão acudiu, com zelo melífluo:
– Método, meus senhores, método!… Assim todos à uma não se goza... É melhor
deixarmos falar o nosso interessante Teodorico!...
Detestei aquele nosso, odiei aquele padre. Porque corria tanto mel no seu falar? Porque
se privilegiava ele no sofá, roçando a sórdida joelheira da calça pelos castos cetins da titi?
Mas o Dr. Margaride, abrindo a caixa de rapé, concordou que o método seria mais
profícuo…
– Aqui nos sentamos todos, fazemos roda, e o nosso Teodorico conta por ordem todas as
maravilhas que viu!
(…)
E foi com os olhos nele, como no mais douto, que eu disse a partida de Alexandria numa
tarde de tormenta: o tocante momento em que uma santa irmã de caridade (que estivera
já em Lisboa e que ouvira falar da virtude da titi) me salvara das águas salgadas um
embrulho em que eu trazia
terra do Egipto, da que pisara a Santa Família; a nossa chegada a Jafa, que, por um
prodígio, apenas eu subira ao tombadilho, de chapéu alto e pensando na titi, se coroara
de raios de sol…
– Magnífico! – exclamou o Dr. Margaride. – E diga, meu Teodorico…
Não tinham consigo um sábio guia, que lhes fosse apontando as ruínas, lhes fosse
comentando…
– Ora essa, Dr. Margaride! Tínhamos um grande latinista, o padre Potte!
3. A titi não é, neste momento da intriga, a mesma D. Patrocínio dos capítulos anteriores.
3.1. Assinala uma passagem que esclareça a forma como D. Patrocínio encara, agora, o
sobrinho
e explica-a.
4. Explica por que razão a última frase de Teodorico vem evidenciar a sua faceta de
mentiroso descarado.
III
1. Recordando o estudo da obra que fizeste nas aulas, elabora o retrato da personagem
D. Patrocínio das Neves, inserindo-a no espaço social em que ela se movimenta.