Revisão Final - Fuvest - Janeiro 2020

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REVISÃO -

FUVEST
JANEIRO 2020
Obras que caíram na primeira fase:

- Angústia, de Graciliano Ramos


- Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade
- Minha Vida de Menina, de Helena Morley (pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira
Brant)
- Poemas Escolhidos, de Gregório de Matos
- Quincas Borba, de Machado de Assis
- Sagarana, de Guimarães Rosa

Obras que não caíram na primeira fase:

- A Relíquia, de Eça de Queirós


- Mayombe, de Pepetela
- O Cortiço, de Aluísio Azevedo
Mayombe (1980) – Pepetela

Contexto Geral

Data de publicação: 1980.

Escrito durante a guerra de libertação de Angola na década de


1970  Libertação de Angola em 1975.

Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) vs tropas


portuguesas

Romance de cunho político


Personagens em grau de hierarquia

(https://www.etapa.com.br/home/orientacao/leituras_obrigatorias/9)
Características

Polifonia de vozes;

Narradores em 1ª e 3ª pessoa, alternados;

Espaço: Mayombe (floresta) como extensão da guerra  funciona como


personagem; Dolisie

Personagens: 14 membros do MPLA

Tempo: cronológico

Discussões:

- Operação guerrilheira em Angola


- Tribalismo
- Dogmatismo
- Religião
- Liberdade
- Identidade Nacional
Enredo

Cap. 1 - “A missão”

Cap. 2 - “Base”

Cap. 3 - “Ondina”

Cap. 4 - “A surucucu”

Cap. 5 - “A amoreira”

Epílogo
O Cortiço (1890) – Aluísio Azevedo

23 capítulos

Eixo principal: história de enriquecimento de João Romão,


proprietário de uma venda, de um conjunto de casas populares e de
uma pedreira.

Eixo secundário: história de Bertoleza; um casal de portugueses


(Jerônimo e Piedade); um casal de mulatos (Rita Baiana e Firmo);
Pombinha; Miranda, sua esposa (Estela) e sua filha (Zulmira).
Determinismo: ser humano como fruto do meio em que se encontra,
da herança (biológica, social e cultural) e das condições históricas
em que vive.

- Naturalistas acreditavam que os seres humanos não estavam


livres das leis da natureza, por isso, os personagens de romances
naturalistas agem movidos por desejos de ordem sexual, dificilmente
conseguindo controlar tais impulsos.

-Aspectos psicológicos, tão desenvolvido pelos realistas, é


deixado de lado, de modo que os fenômenos coletivos se instauram,
justamente por ser aplicável à tese determinista. -> trabalhadores em
minas de carvão; cortiços; marinheiros -> ser humano como fruto do
meio em que vive.

“um conjunto significativo de livros publicados no final do


século XIX no Brasil pode ser denominado naturalista, se essa
expressão designar romances nos quais a história está centrada na
determinação dos comportamentos ou temperamentos das
Personagens

João Romão: imigrante português que chegou pobre ao Brasil e acabou tornando-se um
homem rico e poderoso graças à sua ganância. Representa a avareza e o mau caratismo.

Miranda: Também imigrante português, enriqueceu graças ao dote da esposa Estela. É


socialmente respeitado.

Bertoleza: Escrava de um velho cego a quem pagava mensalmente para trabalhar numa
quitanda como se fosse livre. Depois da morte do dono, passou a viver com João Romão, em
quem confiava cegamente.

Estela: Mulher de Miranda. É de origem rica e é adúltera.

Rita Baiana: Simboliza a sensualidade e o sexualismo da mulher brasileira.


Jerônimo: Português, veio para o Brasil para trabalhar na pedreira de
João Romão.

Pombinha: jovem que, inicialmente, simboliza a pureza, mas que depois


do casamento acaba se tornando amante da madrinha, Léonie, e
prostituta.

Piedade: Portuguesa ignorante e mal vestida, mulher de Jerônimo.

Léonie: Prostituta/Cafetina.

Zulmirinha: filha de Miranda e Estela. Termina casando-se com João


Romão.

Firmo: Mulato, representa o malandro carioca.

Outras personagens: Henrique, Alexandre e Augusta, Botelho


(agregado), Marciana, Florinda.
Livro dividido em 2 partes:

1ª: até o cap. 10 -> foco nas relações do cortiço e no


enriquecimento de João Romão; primeiro incêndio do cortiço, provocado
pela Bruxa;

2ª: a partir do cap. 13 -> negociações de João Romão com um


agregado de Miranda (Botelho) para casar-se com a filha de Miranda
(Zulmira); planos de Romão para livrar-se de Bertoleza; superação do
cortiço em relação ao sobrado de Miranda;

Caps. 11 e 12: centrados na figura de Pombinha —> sedução de P.


Relação de competitividade, baseada na inveja mútua, entre
por Léonie;
João Romão e Miranda, desde os primeiros capítulos: cap. 2: Miranda
tem inveja de João Romão pelo fato de Romão ter enriquecido pelo
próprio esforço e não ter precisado casar por conveniência com uma
esposa adúltera; Cap. 10: Miranda recebe o título de Barão e Romão
sente-se amargurado; No final: rivalidade dissolve-se em aliança.
O Cortiço com alegoria do Brasil

“Mas em outro nível, não será também


antinaturalisticamente uma alegoria do Brasil, com a sua mistura
de raças, o choque entre elas, a natureza fascinadora e difícil, o
capitalista estrangeiro postado na entrada, vigiando, extorquindo,
mandando, desprezando e participando?
Talvez a força do livro venha em parte desta contaminação
do plano real e do plano alegórico, fazendo pensar imediatamente
numa relação causal de sabor naturalista, que na cabeça dos
teóricos e publicistas era : Meio —> Raça —> Brasil; e que no
projeto do ficcionista foi: Natureza tropical do Rio —> Raças e
tipos humanos misturados —> Cortiço. Isto é: no intuito de Aluísio
a natureza que cerca o cortiço de todos os lados, com o sol
queimando no alto, condiciona um modo de relacionamento entre
os diversos grupos raciais, que por sua vez fazem do cortiço o tipo
de aglomerado humano que é. E esta série causal encarnaria o
Esboçando já aqui uma visão involuntariamente pejorativa do
país, o romancista traduz a mistura de raças e a sua convivência
como promiscuidade da habitação coletiva, que deste modo se
torna mesmo um Brasil miniatura, onde brancos, negros e mulatos
eram igualmente dominados e explorados por esse bicho-papão dos
jacobinos, o português ganhador de dinheiro, que manobrava tantos
cordéis de ascensão social e econômica nas cidades.”
(CANDIDO, A. De cortiço a cortiço)
A Relíquia - sobre a nudez forte da verdade – o manto diáfano da
fantasia

Autor: Eça de Queiróz (1845-1900)

Data de publicação: 1887

“A obra de Eça de Queirós atravessou pelo menos três


fases distintas: a primeira, de marcas românticas; a segunda,
de afirmação do Realismo-Naturalismo; e a terceira, de
abandono dos rigores da escola, que cedem espaço a voos da
imaginação e da fantasia (ele mesmo denominou essa terceira
fase de “fantasista”).”

(“Apresentação”. Fernando Marcílio Lopes Couto. In: A Relíquia. QUEIRÓS, Eça. São
Paulo: Ateliê Editorial, 2001.)
Características gerais

Foco narrativo: primeira pessoa

Tempo: subjetivo e cronológico

Espaço: Portugal, Egito e Jerusalém

Decidi compor, nos vagares deste verão, na minha quinta do Mosteiro (antigo
solar dos condes de Lindoso), as memórias da minha vida — que neste século, tão
consumindo pelas incertezas da inteligência e tão angustiado pelos tormentos do
dinheiro, encerra, penso eu e pensa meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte.
Em 1875, nas vésperas de Santo Antonio, uma desilusão de incomparável
amargura abalou o meu ser; por esse tempo minha tia, D. Patrocínio das Neves,
mandou-me do Campo de Santana onde morávamos, em romagem a Jerusalém;
dentro dessas santas muralhas, num dia abrasado do mês de Nizam, sendo Poncio
Pilatos procurador da Judéia, Élio Lama, Legado Imperial da Síria, e J. Cairás, Sumo
Pontífice, testemunhei, miraculosamente, escandalosos sucessos; depois voltei, e
uma grande mudança se fez nos meus bens e na minha moral.

(QUEIRÓS, Eça. A Relíquia.)


Personagens personagem comporta-se como um tolo.”
(“Apresentação”. Fernando Marcílio Lopes Couto. In: A Relíquia.
QUEIRÓS, Eça. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.)
Teodorico Raposo: “Etimologicamente,
Teodoro significa “dádiva de Deus”. Mas é
possível entrever o trocadilho irônico:
“Deus de ouro” (Teo = Deus; doro = d’ouro Dona Patrocínio das Neves
= de ouro). Percebemos aí as duas(Titi)
instâncias que determinarão sua Dr. Topsius
existência: a religiosidade e o interesse Potte (guia turístico em
financeiro (lembrando sempre que umaJerusalém)
pertence ao nível da aparência e a outra, Crispim
à essência de sua personalidade). Outros Adélia
desdobramentos de seu nome indicam a Mary
mesma dubiedade: Teodorico pode vir da Padre Negrão
junção de Teo e odor, significando “aquele Pinheiro (padre amigo de
que cheira a Deus” - no sentido de terTiti)
Deus junto de si apenas superficialmente; Casimiro (padre e
por outro lado, pode ser Teo e adora, istoprocurador de Titi)
é, “aquele que venera a Deus” - em um Justino (tabelião de Titi)
sentido mais profundo, mais convicto.
Também o sobrenome Raposo (ou
Raposão, como o chamavam os amigos)
entra em choque com o seu modo de agir.
Com efeito, ao contrário do que sugere o
Reflexões

Contradições

“A oscilação final de Teodorico entre o arrependimento sincero da “inutilidade


da hipocrisia” e a confirmação da falta de caráter do “descarado heroísmo de afirmar”
indica uma personalidade formada sob o estigma da contradição. Quando Teodorico era
criança, sonhou que caminhava ao lado de Cristo, e viu neste chagas nas mãos e nos
pés; foi acordado por alguém lhe fazendo cócegas também nos pés. Este episódio,
aparentemente inocente, na verdade é repleto de significados. A partir dele, podemos
antever as duas linhas de conduta da personagem ao longo da vida: de um lado, a
religiosidade, o temor a Deus, a presença marcante de imagens de devoção e
sacrifício; de outro, o motejo, a graça, a visão satírica da fé. No primeiro, o que ele
insistia em parecer ser, para agradar a tia beata: crente, puro, santo. No segundo, o que
ele era de fato: desinteressado, distante das coisas da religião, preocupado apenas em
divertir-se.
[…]
Essas oscilações conduzem toda a história. Tratando-se de sentimentos de
coexistência impossível, era inevitável o choque entre eles, e um desenlace pouco feliz
para o herói hipócrita.”
Dependência de classe

“A afirmação de superioridade não esconde a necessidade de alcançar


prestígio social: “só da burguesia liberal, onipresente e onipotente, se alcançam,
nestes tempos de semitismo e de capitalismo, as coisas boas da vida”. Assim, aquela
superioridade era afirmada para esconder o verdadeiro espaço social de onde fala: o
da dependência.
[…]
Ocorre que, como dissemos, Teodorico não pertence a essa classe
originalmente. Por isso, não assimila as diferenças entre a aparência e a essência
com a mesma facilidade. Sua história, portanto, é narrada para apresentá-lo como um
cidadão capaz de preencher os pré-requisitos necessários para entrar no clube
fechado da classe que almeja: coerência intelectual, moral, social; é preciso mostrar-
se como um todo coerente. Mas ele não consegue esconder um componente essencial
da sua personalidade: a dubiedade. Longe de ser um todo coerente, Teodorico é
absolutamente estilhaçado e não consegue juntar os próprios cacos.”

(“Apresentação”. Fernando Marcílio Lopes Couto. In: A Relíquia. QUEIRÓS, Eça. São Paulo: Ateliê Editorial,
2001.)
Religiosidade e Ostentação

“Também a tia possui um nome repleto de duplos sentidos: chama-se D. Maria


do Patrocínio das Neves. O primeiro nome é bíblico, e o terceiro indica a pureza de
sua virgindade. O segundo é que possui a nota dissonante, como uma ilha de
transgressão em meio a tanta santidade: ela não só patrocina de fato a viagem do
sobrinho a Jerusalém, como mantém todos ao seu redor em função tanto de sua
devoção quanto de seu dinheiro. O interesse é sempre um componente das relações
humanas no Realismo […].
Mais uma vez, a contradição sugerida pelo nome é confirmada na
personalidade e no comportamento. A associação da tia com a religiosidade é
destacada a todo momento: em um destes, significativo, ela fala “do meio do sofá
como de um altar”. Essa devoção, contudo, não esconde um traço de ostentação,
tanto na maneira de se vestir (“A Titi estava sentada no meio do canapé, vestida de
seda preta, toucada rendas pretas, com os dedos resplandecentes de anéis”) quanto
no adorno das imagens santas (“erguido na sua cruz de pau-preto, sob um dossel,
Nosso Senhor Jesus Cristo era todo de ouro, e reluzia”).”

(“Apresentação”. Fernando Marcílio Lopes Couto. In: A Relíquia. QUEIRÓS, Eça. São Paulo: Ateliê Editorial,
2001.)
Linguagem: Ironia e Impressionismo

“O estilo escolhido por um Narrador para contar sua história deve sempre ter
alguma ligação orgânica com essa história. Simplificando, podemos dizer que a forma
adotada deve fazer parte do próprio conteúdo. No caso de A Relíquia, não se pode
esquecer que se trata de um romance narrado em primeira pessoa. Isto quer dizer que
a linguagem do Narrador deve ser um componente de sua personalidade. Ora, já vimos
que Teodorico vive com muita tensão sua duplicidade essência/aparência.
Essa tensão transparece na narrativa através da utilização de um recurso
linguístico bastante comum em Eça de Queirós: a ironia. Por meio dela, afirmamos o
contrário do que realmente queremos dizer - o que indica que, quase sempre,
precisamos contar com o auxílio do contexto para compreender um mecanismo
irônico. O Narrador de A Relíquia utiliza-se da ironia para revelar verdades
subterrâneas, que a sociedade em que transita insiste em reprimir. Mas acaba
revelando mesmo sua relação hipócrita com essa sociedade.
[…]
No plano da linguagem, a oscilação do caráter de Teodorico se reproduz
através de registros impressionistas. Eles aparecem, por exemplo, em expressões
onde o abstrato e o concreto se misturam […]:
‘Depois do café fomos encostar-nos à varanda a olhar, calados, aquela
suntuosa noite do Egito. As estrelas eram como uma grossa poeirada de luz que o bom
Deus levantava lá em cima, passeando sozinho pelas estradas do céu. O silêncio tinha
uma solenidade de sacrário. Nos escuros terraços, embaixo, uma forma branca
movendo-se por vezes, de leve, mostrava que outras criaturas estavam ali, como nós,
Os vocábulos religiosos indicam uma aparente tendência à devoção; mas
sabemos que há um choque entre essa expressividade sacra e as intenções mais
profundas de Teodorico, que nada têm de santas. Por vezes, essas intenções vêm à
tona, derrotando a aparência de compenetração religiosa. Isto acontece, por exemplo,
quando Teodorico se banha nas águas sagradas do rio Jordão:
‘Ao princípio, enleado de emoção beata, pisei a areia reverentemente como se
fosse o tapete de um altar-mor; e de braços cruzados, nu, com a corrente lenta a
bater-me os joelhos, pensei em São Joãozinho, sussurrei um padre-nosso. Depois ri,
aproveitei aquela bucólica banheira entre árvores; Pote atirou-me a minha esponja; e
ensaboei-me nas águas sagradas, trauteando o fado da Adélia.’
Como se vê, expressões piedosas e vulgares convivem no estilo narrativo de
Teodorico, que se coloca, dessa forma, como parte integrante de sua personalidade
estilhaçada e dúbia.

(“Apresentação”. Fernando Marcílio Lopes Couto. In: A Relíquia. QUEIRÓS, Eça. São Paulo: Ateliê Editorial,
2001.)
Ao meu portuguesinho valente, pelo muito que gozamos... Era essa a carta em
que a santa me ofertava a sua camisa. Lá brilhavam as suas iniciais — M. M.! Lá
destacava essa clara, evidente confissão — "o muito que gozamos"; o muito que eu
gozara em mandar à santa as minhas orações para o céu, o muito que a santa gozara
no céu em receber as minhas orações!
E quem o duvidaria? Não mostram os santos missionários de Braga, nos seus
sermões, bilhetes remetidos do céu pela Virgem Maria, sem selo? E não garante a
Nação a divina autenticidade dessas missivas, que têm nas dobras a fragrância do
paraíso? Os dous sacerdotes, Negrão e Pinheiro, cônscios do seu dever, e na sua
natural sofreguidão de procurar esteios para a fé oscilante — aclamariam logo na
camisa, na carta e as iniciais, um miraculoso triunfo da Igreja. A tia Patrocínio cairia
sobre o meu peito, chamando-me "seu filho e seu herdeiro". E eis-me rico! Eis-me
beatificado! O meu retrato seria pendurado na sacristia da Sé. O Papa enviar-me-ia
uma bênção apostólica, pelos fios do telégrafo.
Assim ficavam saciadas as minhas ambições sociais. E quem sabe? Bem
poderiam ficar também satisfeitas as ambições intelectuais que me pegara o douto
Topsius. Porque talvez a ciência, invejosa do triunfo da fé, reclamasse para si esta
camisa de Maria de Magdala, como documento arqueológico... ela poderia alumiar
escuros pontos, na história dos costumes contemporâneos do Novo Testamento — o
feitio das camisas na Judéia no primeiro século, o estado industrial das rendas da
Síria sob a administração romana, a maneira de abainhar entre as raças semíticas...
Eu surgiria na consideração da Europa, igual aos Champollions, aos Topsius, aos
Lepsius, e outros sagazes ressuscitadores do passado. A academia logo gritaria — "A
E tudo isto perdera! Por quê? Porque houve um momento em que me faltou
esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo na terra com pé forte, ou
palidamente elevando os olhos ao céu — cria, através da universal ilusão, ciências e
religiões.

(QUEIRÓS, Eça. A Relíquia.)


Quincas Borba (1891) – Machado de Assis
Características gerais

Contexto histórico de publicação

Livro publicado, primeiramente, como folhetim, entre 1886 e 1891.

Agitação política: 1888: abolição da escravidão


1889: proclamação da República

Tempo da narrativa: cronológico, com exceção dos três primeiros


capítulos, em que vemos Rubião já estabilizado no Rio de Janeiro. A partir
do cap. IV, o enredo segue de forma cronológica, entre 1867 e 1871.
Contexto político de Brasil no período narrado: Guerra do Paraguai
(1864-1870); disputas políticas referentes à abolição da escravidão;
polarização de conservadores e liberais; falência de instituições bancárias;
desrespeito à Constituição de 1824; queda de ministros; brigas por cargos
públicos; envolvimento financeiro e lucro acerca da Guerra do Paraguai;
incômodos com a monarquia de Dom Pedro II etc.
Aspectos técnicos

Estrutura: capítulos-fragmentos: 201

Narrador: 3ª pessoa onisciente intruso

Tempo: cronológico (1867-1871) a partir do cap. IV

Espaço: Barbacena-MG e Rio de Janeiro-RJ


Personagens importantes

Rubião - de origem humilde, foi professor e enfermeiro. Após receber a herança de um amigo próximo, o filósofo
Quincas Borba, muda-se de Barbacena, Minas Gerais, para o Rio de Janeiro a fim de aproveitar o dinheiro recebido,
investir na economia e fazer parte da elite da então capital do Brasil.

Quincas Borba (filósofo) - Filósofo, é amigo de Rubião. No romance, aparece sob estado de loucura e morre logo no
início da narrativa. É o criador da doutrina Humanitismo.

Quincas Borba (cão) - Cão de Quincas Borba, possuí o mesmo nome do dono, que lhe tinha enorme apreço. Depois
da morte de Quincas Borba, passa a viver sob os cuidados de Rubião.

Cristiano Palha - amigo de Rubião. É caracterizado como homem medíocre, mas com faro para investimentos em
ações. Tem desejos latentes de enriquecer e fazer parte da elite carioca.

Sofia Palha - esposa de Cristiano Palha. É caracterizada como bela, sedutora e inteligente. Grande paixão de Rubião,
que se torna obcecado pela moça.

Carlos Maria - Amigo de Rubião, é jovem, belo, rico e arrogante. Faz parte do círculo social que busca privilégios
com a amizade de Rubião. Casa-se, na metade final do romance, com Maria Benedita, prima de Sofia Palha.

Maria Benedita - prima de Sofia Palha e filha de Maria Augusta. Viveu sempre na roça e têm dificuldades em educar
seu comportamento para pertencer à elite carioca. Casa-se com Carlos Maria.
Camacho - amigo de Rubião. É advogado, jornalista e político. Busca, o tempo todo, entrar para a Câmara.

Freitas - amigo de Rubião. É simpático e educado, e mantém relações com Rubião a fim de manter um estilo de vida
que não consegue sozinho, pois não possuí tanto dinheiro.

Major Siqueira - amigo do casal Palha. Sua renda diminuí com o passar do tempo, sendo excluído, por isso, do
círculo social dos amigos ricos.

Dona Tonica - filha de Major Siqueira. Solteirona e com quarenta anos, sua grande ambição é arrumar um marido.
Termina a narrativa solteira - o noivo que a muito custo conseguiu, morreu antes do casamento.

Teófilo - amigo do casal Palha e político. Sua grande aspiração é se tornar Ministro.

D. Fernanda - esposa de Teófilo e prima de Carlos Maria. É amiga de Sofia Palha e nutre afetos amistosos em relação
a Rubião.
(MALUF, Marcelo. “Guia de Leitura para o vestibular: Quincas Borba – Machado de Assis”. Alaúde Editorial: 2019.)
Discussões possíveis

- Rubião como trampolim social e financeiro

- Brasil como reflexo do microcosmo carioca

- Urbanismo e cor local

- Quincas Borba título: filósofo ou cachorro?

"Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu
infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três
dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que
me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro, e por que
antes um que outro, – questão prenhe de questões, que nos levariam longe... Eia!
chora os dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, ri-te! É a mesma
coisa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz
alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.”

(ASSIS, Machado de. Quicas Borba. Cap.CCI)


Humanitismo

"O personagem Quincas Borba ficou conhecido na obra de Machado de


Assis (aparece em Memórias póstumas de Brás Cubas e em Quincas Borba) como
o fundador do Humanitismo. Já revelado em Memórias póstumas e desenvolvido
em Quincas Borba, a doutrina do filósofo é baseada em teorias surgidas no século
XIX que procuravam explicar o ser humano e suas ações. Espécie de paródia do
Positivismo, de Comte, e do Darwinismo, de Charles Darwin, a doutrina prega,
grosso modo, que a lei do mais forte é a que sobrevive.
Ao tentar explicar sua teoria a Rubião, Quincas Borba cria duas narrativas
para exemplificar o caráter de Humanitas (“Humanidade”, em latim): a morte de
sua avó e uma situação de guerra por alimentos. Sua avó teria morrido atropelada
por uma carruagem em uma festa popular em frente à Capela Real. Rubião,
mostrando-se triste com a situação, é repreendido por Quincas Borba: o dono da
carruagem estava com fome; havia almoçado cedo e pouco. Portanto, a morte a
avó era apenas um detalhe; o que importa, de fato, é que Humanitas, nesta
anedota representado pelo dono da carruagem, tinha fome e precisava suprir suas
necessidades, houvesse o que houvesse. Na outra narrativa, Quincas Borba cria a
situação de duas tribos famintas e um campo de batatas; se as tribos
resolvessem compartilhar as batatas, morreriam de fome. Portanto, aquela que
vencesse a batalha livraria seu povo da fome. Daí a expressão “Ao vencedor, as
batatas!”. Rubião, após ouvir esta outra narrativa, pergunta pelos perdedores.
Quincas Borba revela que não há perdedores, porque Humanitas é um só, uma
A motivação, portanto, do Humanitas, não é simplesmente
sobreviver, mas sobreviver e vencer, ou seja, conseguir aquilo que
almeja a qualquer custo, pois o saldo será sempre positivo em relação
ao que isso pode significar para a humanidade como um todo.
Neste sentido, os personagens de Quincas Borba buscam, a todo
o momento, vencer. Seja entrando para uma comissão que ajudará a
população carente de Alagoas após uma epidemia, seja criando uma
rede de contatos que poderão levar o indivíduo a Ministro da Corte, a
humanidade ganharia com isso tudo, já que, tanto no jogo pelo poder
como na necessidade de visibilidade social, os indivíduos mais aptos
derrotariam aqueles que se mostraram fracos. Assim, quando, no final
de Quincas Borba, Rubião aparece sem dinheiro e completamente
enlouquecido, achando-se Napoleão III, e os personagens que
conviveram com ele e usufruíram de sua ingenuidade e mediocridade
revelam-se muito ricos e com posições bem estabelecidas na Corte,
percebemos que Rubião foi vencido por Humanitas.”
(MALUF, Marcelo. “Guia de Leitura para o vestibular: Quincas Borba – Machado de Assis”. Alaúde Editorial:
2019.)
Foi a comadre do Rubião que o agasalhou e mais ao cachorro,
vendo-os passar defronte da porta. Rubião conheceu-a, aceitou o
abrigo e o almoço.
– Mas que é isso, meu compadre? Como foi que chegou assim?
Sua roupa está toda molhada. Vou dar-lhe umas calças de meu
sobrinho.
Rubião tinha febre. Comeu pouco e sem vontade. A comadre
pediu-lhe contas da vida que passara na Corte, ao que ele respondeu
que levaria muito tempo, e só a posteridade a acabaria. Os sobrinhos
de seu sobrinho, concluiu ele magnificamente, é que hão de ver-me
em toda a minha glória. Começou, porém, um resumo. No fim de dez
minutos, a comadre não entendia nada, tão desconcertados eram os
fatos e os conceitos; mais cinco minutos, entrou a sentir medo.
Quando os minutos chegaram a vinte, pediu licença e foi a uma vizinha
dizer que Rubião parecia ter virado o juízo. Voltou com ela e um irmão,
que se demorou pouco tempo e saiu a espalhar a nova. Vieram vindo
outras pessoas, às duas e às quatro, e, antes de uma hora, muita
gente espiava da rua.
– Ao vencedor, as batatas! bradava Rubião aos curiosos. Aqui
Esta palavra obscura e incompleta era repetida na rua, examinada, sem que lhe dessem com o
sentido. Alguns antigos desafetos do Rubião iam entrando, sem cerimônia, para gozá-lo melhor;
e diziam à comadre que não lhe convinha ficar com um doido em casa, era perigoso; devia
mandá-lo para a cadeia, até que a autoridade o remetesse para outra parte. Pessoa mais
compassiva lembrou a conveniência de chamar o doutor.
– Doutor para quê? acudiu um dos primeiros. Este homem está maluco.
– Talvez seja delírio de febre; já viu como está quente?
Angélica, animada por tantas pessoas, tomou-lhe o pulso, e achou-o febril. Mandou vir
o médico, – o mesmo que tratara o finado Quincas Borba.
Rubião conheceu-o também, e respondeu-lhe que não era nada. Capturara o rei da
Prússia, não sabendo ainda se o mandaria fuzilar ou não; era certo, porém, que exigiria uma
indenização pecuniária enorme, – cinco bilhões de francos.
– Ao vencedor, as batatas! concluiu rindo.
(ASSIS, Machado de. Quicas Borba. Cap.CXCIX)
QUESTÃO LITERATURA – TQD – RETA FINAL 2019 – PROF. MAURÍCIO

Considere o seguinte texto para responder ao que se pede:


“A HISTÓRIA do casamento de Maria Benedita é curta; e, posto Sofia a ache
vulgar, vale a pena dizê-la. Fique desde já admitido que, se não fosse a epidemia das
Alagoas, talvez não chegasse a haver casamento; donde se conclui que as
catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam exemplos; mas basta um
contozinho que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez
uma choupana que ardia na estrada; a dona, - um triste molambo de mulher, -
chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a
passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era
dela.
-É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo.
-Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?”
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Capítulo CXVII.
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000243.pdf

a) No fragmento, há opiniões de duas fontes diferentes acerca da história de


casamento de Maria Benedita. Identifique seus autores e justifique o
posicionamento deles.
a)
- ATENÇÃO – a questão exige, no mínimo, a menção de seis
informações diferentes para ser respondida completamente. São
elas: as duas opiniões, os autores e a justificativa para cada uma
delas

Sofia acha a história vulgar, mas o narrador afirma que ela é


curta e que “vale a pena dizê-la”. No caso de Sofia, a questão é
que ela havia sido cortejada por Carlos Maria e se ressente por
perder seu admirador ao sabê-lo comprometido e depois casado
com Maria Benedita. O narrador, por sua vez, defende a
importância da história exatamente pelo fato de Sofia a achar
vulgar (“posto Sofia a ache vulgar) e também por notar a relação
do casamento com a ocorrência da epidemia de Alagoas, que
trouxe ao Rio de Janeiro Dna. Fernanda, prima de Carlos e
mentora intelectual e incentivadora de sua relação com a noiva.
b)
A máxima “Ao vencedor as batatas” explicita a ideia do
humanitismo de que a guerra é necessária e até desejável nas
sociedades, uma vez que funciona como “higiene do mundo”.
Da mesma forma, a pequena narrativa do excerto afirma a
utilidade e até necessidade de algumas tragédias, como no
caso do incêndio da pequena cabana, considerada
ironicamente importante por possibilitar que o homem ébrio
pudesse acender seu charuto.
Angústia (1936) - Graciliano Ramos

Contexto histórico de publicação

A obra Angústia foi publicada, pela primeira vez, em 1936. Neste momento
histórico, Getúlio Vargas (1882-1954), presidente do Brasil desde 1930, travou
perseguições acirradas aos comunistas brasileiros, que se organizavam contra o
autoritarismo do governo Vargas. Em 1935 há o embate mais famoso de Vargas contra
os comunistas, pela chamada Intentona Comunista. Neste período, Graciliano Ramos
já havia começado a escrita de Angústia. Porém, foi preso sob acusações (que não
foram formalizadas) de conspiração comunista e participação na Intentona
Comunista.

Tempo da narrativa: cronológico, mas permeado de flashbacks.

Contexto político de Brasil no período narrado:

Angústia, de Graciliano Ramos, foi publicado, pela primeira vez, em 1936.


Pertence ao chamado Romance de 30 e contextualiza os dramas sociais, financeiros e
morais dos moradores de uma cidade em Alagoas. Neste sentido, a obra está imersa
na realidade histórica brasileira e nordestina dos anos 30: sob o comando de Getúlio
Vargas (1882-1954), os anos 30 iniciam-se com o fim da Primeira República (1930) e a
esperança de um Brasil novo, civilizado e cosmopolita. Porém, a esperança
Aspectos técnicos

Estrutura: capítulo único e geral, mas com mini-capítulos que organizam a narrativa.

Narrador: narrador-protagonista em 1ª pessoa.

Tempo: histórico: década de 30 no Brasil; narrativo: um ano na vida de Luís da Silva;


psicológico: tempo do narrador-protagonista: monólogos interiores e fluxos de
consciência.

Espaço: alguma cidade no interior de Alagoas: pobre, feia e suja.


Personagens importantes

Luís Pereira da Silva - narrador-protagonista. Julião Tavares - membro de uma


Saiu cedo da fazenda da família para habitar família de comerciantes, é rico,
em uma pensão na cidade. Nunca se casou gordo, falastrão e alvo do ódio de
nem se envolveu com os antigos negócios da Luís da Silva. Torna-se, ao longo
família. Trabalha, durante o dia, numa da narrativa, amante de Marina.
repartição como datilógrafo, e, à noite, como
jornalista, escrevendo textos sob encomendas
em que elogia o governo. Também escreve Pimentel - colega de trabalho de
contos e poemas, vendendo-os a preço baixo. Luís da Silva.
Moisés - judeu e prestador de
contas, é amigo de Luís da Silva.
Marina - ruiva, bela e jovem, torna-se amante Seu Ivo - bêbado e sem ocupação,
de Luís da Silva. é amigo de Luís da Silva.
Dona Adélia - mãe de Marina. Foi muito bonita
durante a juventude, mas a pobreza e a
constituição de uma família tiraram-lhe o Vitória - empregada de Luís da
brilho. Sonha com uma vida melhor, em que Silva. Passa o dia conversando e
não precise se preocupar com contas a pagar. ensinando seu papagaio a falar.
Seu Ramalho - pai de Marina. Conformado com Lê constantemente o Diário
a vida, acha que os excessos da filha tem a ver Oficial para saber quem chegou
com a juventude. Torna-se amigo de Luís da ao país de navio. Tem hábito de
Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva: avô de Luís da Silva, era fazendeiro.
Homem de grande influência política, era o típico “coronel” de fazenda: mandava e
desmandava em tudo que era possível.

Sinhá Germana - Avó de Luís da Silva e esposa de Trajano Pereira de Aquino


Cavalcante e Silva.

Camilo Pereira da Silva - pai de Luís da Silva. Letrado, lia Carlos Magno e envolvia-se
com política, principalmente a de Padre Inácio. Morreu junto ao declínio da fazenda da
família.

Quitéria - escrava de Trajano Pereira de Aquino. Fez parte da infância do narrador-


protagonista.

Mestre Domingos - escravo de Trajano Pereira de Aquino, tornou-se pequeno


comerciante após a abolição da escravidão.

Mestre Antonio Justino - professor de Luís da Silva.


Discussões possíveis

• Regionalismo dos anos 30

• Determinismo de meio

• Passado x Presente; Campo x Cidade

• Solidão

• Sexualidade

• Angústia / fluxo de consciência / monólogos interiores

• Subjetividade definida pelo assassinato de Julião


Tavares
Biografia – Gregório de Matos (1636-1696)

Gregório de Matos e Guerra foi o terceiro filho de um “fidalgo da série dos escudeiros em Ponte
de Lima, natural dos Arcos de Valdevez”, estabelecido no Recôncavo baiano como senhor de canavial,
cerca de 130 “escravos de serviço”, e dois engenhos. […]
Em Coimbra, Gregório formou-se em direito; em Lisboa teria sido, durante muitos anos, juiz do
Cível, de Crime e de Órfãos, segundo as diversas informações. Aí se enfronhou nas poéticas do tempo: o
estilo camoniano, que vinha do século anterior, e as práticas correntes no século XVII, mais tarde
denominadas barrocas, tendo em Quevedo e Gôngora as suas grades referências. […]
O certo é que voltou ao Brasil em 1681, a convite do arcebispo da Bahia, aceitando os cargos
de vigário-geral e tesoureiro-mor (que fazia questão de exercer sem pleno uso das roupagens
eclesiásticas, fato que começa a trazer-lhe problemas). “Aborrecido de uns, temido de outros”, “estes
fingiam amizades, aqueles lhe maquinavam ódio”, Gregório foi desligado de suas funções por ordem do
arcebispo frei João da Madre de Deus.
Casou-se com Maria dos Povos, “honesta, formosa e pobre” […]. Vendeu terras que recebera
como dote, jogando o dinheiro em um saco no canto da casa, e gastando-o ao acaso e fartamente.
[…]
A certa altura teria abandonado, no entanto, caso, cargos e encargos, e saído pelo Recôncavo
“povoado de pessoas generosas” como cantador itinerante, convivendo com todas as camadas da
população, metendo-se no meio das festas populares, banqueteando-se sempre que convidado. “Do
gênio que já tinha, tirou a máscara para manusear obscenas e petulantes obras”, diz o licenciado
Manuel Pereira Rabelo: nessa fase supõe-se que teria engrossado o volume da sua poesia satírica - o
barroco popular oposto ao acadêmico, e a poesia erótico-irônica prevalecendo sobre o lirismo cortês.
A virulência da sátira do “Boca do Inferno”, motivada seja pela crítica da corrupção, dos
desmandos administrativos, dos arremedos da fidalguia, dos desmandos administrativos, dos arremedos
da fidalguia local seja pelo puro e cortante prazer sádico, lhe valeu a deportação para Angola. De lá,
pôde retornar sob condições: desde que não à Bahia mas a Pernambuco, e calando a sátira num rigoroso
“ponto em boca” (sempre a ponto de ser transgredido, no entanto).
Há quem insista em fixar alguns gestos como imagem de sua exorbitância: uma cabeleira postiça, um
Panorama geral: Barroco

- Contra-Reforma: reação católica ao protestantismo: Concílio de Trento

- ser humano em conflito: dúvidas existenciais; dividido entre uma postura


racional e humanista e uma existência assombrada pela culpa religiosa

- Obras buscam unir aspectos contraditórios: sagrado e profano; luzes e


sombras; paganismo e cristianismo; racional e irracional.

- Representação de um mundo instável

- Arte elaborada de maneira complexa: excesso de figuras de linguagem.


Temas - Barroco

- fragilidade da vida humana;


- fugacidade do tempo;
- crítica à vaidade (a beleza será sempre destruída pela passagem do
tempo);
- as contradições do amor;

Projeto literário: desencadear reação em um público específico/


provocar o espanto do público; produzir textos sofisticados; hipérboles;
metáforas; antíteses; paradoxos; interrogações;
As correntes do Barroco

Cultismo

Predominante na poesia, o cultismo caracteriza-se pela elaboração muito


rebuscada da linguagem. Os poetas utilizam três artifícios: jogos de palavras
(trocadilhos), jogos de imagens (uso de figuras de linguagem) e jogos de
construção (estruturação sintática elaborada). A exploração das imagens procura
envolver o leitor por meio de estímulos sensoriais, com destaque para o trabalho
com os sons e as cores no texto.

Conceptismo

O conceptismo, também conhecido como quevedismo (de Francisco


Quevedo), predomina nos textos em prosa. Em lugar de investir no rebuscamento
linguistico, o escritor conceptista procura seduzir o leitor pela construção
intelectual, valorizando o conteúdo, a essência da significação.
Para deslumbrar o leitor com o desenvolvimento de um raciocínio, o escritor
conceptista recorre a comparações ousadas, exemplificações frequentes,
metáforas, imagens, hipérboles, analogias.
A crise do açúcar: proprietários rurais x comerciantes

Os proprietários rurais endividavam-se, o engenho via aguçada a sua crise com


a baixa do preço do açúcar. “Declinava o preço dos nossos produtos agrícolas,
especialmente do açúcar, até então produzido quase exclusivamente pelo Brasil, e que
entrava a sofrer a concorrência das possessões espanholas e inglesas da América
Central.”
Aos proprietários rurais em crise opunham-se os negociantes, função
basicamente monopolizada pelos portugueses.
“Ao lado da economia agrícola que até então dominara, se desenvolve a
mobiliária: o comércio e o crédito. E com ela surge uma rica burguesia de negociantes
que, por seus haveres rapidamente acumulados, começa a pôr em xeque a nobreza dos
proprietários rurais, até então a única classe abastada e, portanto, de prestígio da
colônia […]. Compunham-se esta burguesia quase toda de naturais do Reino. São de
fato os imigrantes recém-vindos que empalmam o comércio da colônia […]. Eram ainda
eles, em geral, os arrematadores dos contratos reais: estancos, monopólios,
rendimentos fiscais da colônia. Prosperavam portanto à sombra da opressiva política
comercial da metrópole, constituindo-se por esta forma em adversários natos das
demais classes da colônia. A hostilidade contra os negociantes reinóis, que
representavam no Brasil, por assim dizer, a opressão lusitana, era agravada pelas
condições cada vez mais críticas dos proprietários rurais.”
A essas transformações socioeconômicas correspondiam mudanças no quadro
político, caracterizando as formas de domínio e controle da metrópole sobre a colônia:
A poesia satírica

“[…] a opção de Gregório de Matos ao desligar-se de seus cargos parece ser


a opção da experiência, que é a base do gênero satírico: distanciar-se do teatro
ideológico em que vive, para envisgar-se na realidade que, ainda assim, condena. […]
O mundo ao qual o seu senso de concreto adere é, no entanto, o seu inimigo, que lhe
nega o poder e prestígio que julga merecer, o mundo trocado que instala a aparência
como verdadeira nobreza. Sob o triunfo da ilusão, Gregório enraíza na cidade da
Bahia a figuração tradicional do desconcerto do mundo - mundo que tem boas razões
para figurar-se-lhe invertido, virado do avesso, engolfando e dilapidando as
“essências" no turbilhão das “aparências”, trocando umas pelas outras.”

(WISNIK, José Miguel. Prefácio. In: MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010. p. 22)
A poesia lírico-amorosa

“A lírica-amorosa de Gregório de Matos, por sua vez, tematiza basicamente os


choques entre ascetismo e sensualismo, espírito e matéria, fazendo os contrários
passarem por uma série de transformações e aproximações que os faz inseparáveis”

(WISNIK, José Miguel. Prefácio. In: MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras,
2010. p. 28)
A poesia religiosa

Na poesia religiosa, por sua vez, a dualidade matéria / espírito projeta-se na


dualidade culpa / perdão. Estamos diante do confessionário (instituição que tratou,
justamente a partir do barroco, de conciliar os conflitos entre uma moral rígida e uma
prática “relaxada”, para usar um termo de Gregório, fazendo passar minuciosamente
cada pecado pelo vale angustioso e estreito do arrependimento). […]
Três espaços se encontram aqui: o da religião (o confessionário), o da lei (o
julgamento) e o da poesia (o soneto). Trazendo os dois primeiros para o âmbito do
terceiro, o poeta está fazendo o que sempre fez: arquitetar a sua salvação através da
linguagem.

(WISNIK, José Miguel. Prefácio. In: MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras,
2010. p. 31 e 32)

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