Doenças Funciconais e Sindrome Do Intestino Irritavel
Doenças Funciconais e Sindrome Do Intestino Irritavel
Doenças Funciconais e Sindrome Do Intestino Irritavel
PROVA Desordens gastroduodenais (dispepsia funcional) e desordens intestinais (síndrome do intestino irritável) são divididas em
doenças orgânicas ou funcionais:
Atenção a Doenças orgânicas: alterações anatômicas, estruturais, químicas, bioquímicas ou infecciosas que expliquem os sintomas
despertar ou mau funcionamento de determinado órgão → “doença do TGI que tem motivo para acontecer”;
noturno Doenças funcionais: mais prevalente e de incidência crescente; não existe ou não se conhece a causa, o substrato orgânico que
justifique a sintomatologia do paciente → “não há causa para o sintoma”.
DOENÇAS FUNCIONAIS DO TGI
▪ ↑ prevalência;
▪ ↓ qualidade de vida;
▪ ↑ custo (várias consultas – muitas vezes em médicos
particulares, muitos exames, causas de absenteísmo, gastos com
remédios);
▪ São pacientes muito ansiosos;
▪ São 33 distúrbios no adulto, e 20 nas crianças.
Desordem do eixo cérebro-intestino (não há lesão), com sintomas
gastrintestinais relacionados às seguintes combinações: motilidade
(acelerando ou lentificando o movimento), sensibilidade visceral,
microbiota alterada, distúrbios da função e
imunidade/barreira de mucosa. A hipersensibilidade
visceral e a alteração de motilidade são as questões que mais
causam sintomas.
Ausência de doença orgânica, metabólica ou sistêmica
que explique os sintomas (ex.: um paciente com
hipertireoidismo tem uma doença orgânica, e não pode ser
considerado com dispepsia funcional). Se faz todos os
exames e não acha nada é funcional (parte emocional está
muito envolvida). *O paciente pode ter uma desordem não-
orgânica associada a uma desordem orgânica.
Fisiopatologia
▪ Complexa e multifatorial (difícil tratamento);
▪ Produto clínico da interação de fatores psicossociais e da fisiologia gastrintestinal alterada via eixo cérebro-TGI.
Fatores que podem estar associados:
Genéticos: alterações genéticas;
Psicossociais: prova, trabalho, dispepsia funcional (comum em mulheres jovens) → podem causar dor de estômago/diarreia,
mas há ausência de alterações nos exames (ex.: gastrite nervosa);
Microbiota intestinal alterada: inflamação da mucosa → na biópsia para H. pylori, pode ser identificado processo
inflamatório discreto, o que pode estar associado;
Alteração da motilidade gastrintestinal: “paciente come pouco e parece que comeu muito, pois o estômago permanece cheio”;
Disfunção do eixo cérebro-TGI: cérebro manda informação muito mais intensificada do que o normal → respostas/sintomas
exacerbadas;
Hipersensibilidade visceral (não tem relação com alergia, é só ↑ sensibilidade).
Critérios de ROMA IV:
Baseado em sintomas, tem como objetivo a uniformização dos conceitos e classificação das doenças funcionais do TGI.
Atenção:
▪ Exclusão de outras doenças que possam explicar os sintomas;
▪ Sintomas devem ter começado pelo menos 6 meses antes do diagnóstico
e estarem ativos (mais intensificados) por 3 meses – é uma doença mais
crônica;
▪ Alterações psicossociais não são imprescindíveis para o diagnóstico
(pode existir sem essa queixa associada, apesar de estarem presentes na
maioria das vezes);
▪ Pode ter sobreposição dos sintomas que “pertencem” a diferentes
distúrbios gastrintestinais (ex.: pirose + dispepsia funcional; síndrome do
intestino irritável com dor abdominal + outros sintomas associados a
outras patologias).
Abordagem do paciente
▪ Boa relação médico-paciente;
▪ Anamnese detalhada: pacientes NÃO acordam à noite com distúrbios funcionais (diagnóstico diferencial);
▪ EF minucioso: sem alterações;
▪ Exames complementares selecionados: sem alterações;
▪ Orientações dietéticas;
▪ Medicações (escolha direcionada aos sintomas);
▪ Terapia psicológica (fator psicológico é muito importante, podendo até utilizar antidepressivo) – o paciente pode ter
chegado com dor intestinal, e se culpar por isso, já que foram afastadas todas as causas orgânicas (o exame normal é
uma frustração para o paciente).
DISPEPSIA FUNCIONAL:
Muitas vezes, é considerada simplesmente uma má digestão. Mas, em alguns casos, ela pode ser muito frequente, interferindo
no bem-estar e no dia a dia dos pacientes. Caracteriza-se por dor crônica ou desconforto na região superior do abdômen. É
uma hipersensibilidade visceral e alteração de motilidade. Os sintomas se misturam.
Sintomas dispépticos:
▪ Dor epigástrica (queimação epigástrica);
▪ Saciedade precoce (paciente come pouco e já se
sente satisfeito);
▪ Plenitude pós-prandial (paciente come um
pouco e parece que comeu muito →
empachamento);
▪ Náuseas e vômitos;
▪ Eructação frequente.
60% dos pacientes com os sintomas acima apresentam
dispepsia funcional, enquanto 40% apresentam
dispepsia orgânica que justifica a sintomatologia.
PROVA Distúrbio na motilidade intestinal não associado a alterações estruturais ou bioquímicas que justifiquem a queixa, e que se
Sintomas caracteriza por episódios de desconforto abdominal, dor, diarreia e prisão de ventre (constipação) presentes por pelo
extra
menos 12 semanas (consecutivas ou não). Pode haver uma somatória de sintomas: dor, constipação, flatulência, diarreia,
intestinais
Na sd. inchaço; pode ter predomínio de constipação ou diarreia, ou ser misto, associado a dor abdominal. *SII x constipação
irritável e funcional: SII tem dor.
não ▪ Problema muito comum (afeta ~ 1 a cada 5 pessoas nos EUA);
confundir
com Chron
▪ Predomina em mulheres;
ou ▪ Mais frequente em momentos de stress emocional;
retocolite ▪ Geralmente tem início na fase da adolescência ou adulto jovem.
Sinais de alarme:
Anamnese: início em pacientes idosos (> 50 anos) → fazer colonoscopia; antecedentes familiares de CA de cólon ou doença
inflamatória intestinal; perda de peso não intencional ≥ 4,5kg; hematoquezia (sangue vivo nas fezes); sintomas de distúrbios de
base, como hipotireoidismo (uma das causas de intestino preso);
Exame físico: massa abdominal palpável; dor à descompressão brusca; achados anormais ao exame de reto;
Achados laboratoriais: ↓ Hb (anemia); leucocitose; sangue oculto nas fezes (investigar neoplasia).
Exames gerais: hemograma, glicemia jejum, VHS, PCR, TSH, anti-HIV (para descartar outras doenças); colonoscopia
obrigatória em > 50 anos. *A colonoscopia só termina quando chega no íleo terminal (atravessa a válvula ileocecal).
Exames radiológicos do abdômen (TC/RNM): se algum achado, como neoplasia, é necessário fazer para avaliar tamanho do
comprometimento.
Exame parasitológico de fezes (interrogado; faz parte).
Diagnóstico diferencial:
▪ Apendicite (se dor abdominal forte; mas normalmente não é crônico), colecistite, litíase renal e diverticulite;
▪ Intolerância alimentar (deficiência de lactase);
▪ Doença celíaca (intolerância ao glúten pode gerar dor abdominal e diarreia);
▪DII (retocolite ulcerativa e doença de Crohn) → sempre fazer diagnóstico diferencial (presença de plaquetose, linfocitose,
↑ VHS);
▪ Parasitose intestinal (estrongiloidíase, giardíase, amebíase);
▪ Neoplasia abdominal.
Pilares do tratamento:
Relação médico-paciente: doença funcional não tem cura → apenas medicamentos que melhoram a qualidade de vida do
paciente.
▪ Escutar;
▪ Não menosprezar as queixas – contratransferência negativa;
▪ Não considerar o paciente com problemas exclusivamente psicológicos → são fatores desencadeantes, não únicos;
▪ Descobrir o estímulo iatotrópico (o que está causando?);
▪ Evitar frases do tipo “você não tem nada”, “seu problema é psicológico” → às vezes, pode ser necessário valorizar as
mínimas alterações nos exames (pode ser mais aceitável ao paciente);
▪ Explicar sobre ausência de risco de câncer (não há relação neoplásica);
▪ Ouvir medos e angústias.
Evitar fatores desencadeantes – o paciente pode saber o que piora;
Medicamentos.
Medidas gerais: modificação de dieta e hábitos de vida + terapia farmacológica (sintomática e probióticos) + terapias
psicológicas.
Dieta e alimentação: identificar a associação de sintomas com dieta. Intolerância alimentar varia de 35-66% dos pacientes e
melhora de 15-67% dos diarreicos. Avaliar o diário alimentar e quais alimentos têm efeito sintomático. Orientação geral: dieta
fracionada, em pouca quantidade, pouca gordura, evitar alimentos desencadeantes de crises, dieta baixa em FODMAP (comer
a cada 3h, evitar gorduras e refrigerantes). Alimentos relacionados:
▪ Gorduras: efeito laxativo habitual;
▪ Frutose (maçã, mel, geleia, gelatina): produtores de gases;
▪ Sorbitol (maçã, pêra, pêssego, ameixa, cereja, cidra, goma de mascar, dietéticos): dissacarídeo não absorvível;
▪ Leite: intolerância à lactose (até 200ml/dia) – pode estar associada;
▪ Café, álcool: ↑ peristalse (na forma diarreica, pode ter piora significativa);
▪ Fibras insolúveis: evitar nos diarreicos;
▪ Alimentos gaseificados: distensão e flatulência (evitar o uso).
Tratamento medicamentoso:
Sintoma predominante + intensidade dos sintomas = escolha
do tratamento (diarreia, constipação, dor, distensão).
Constipação: ↑ fibras, laxantes (se não melhorar com fibra),
agonistas de 5HT-4 (↑ motilidade do intestino);
Diarreia: antidiarreico, antagonistas de 5HT-3 (↓
peristaltismo): dor abdominal/distensão (pós-
prandial/crônica) → agentes antiespasmódicos (Buscopam,
antidepressivos).
Medicamentos
▪ Agentes que ↑ bolo fecal: Plantago, Pectina, Psyllium;
▪ Antidiarreicos: Loperamida, Racecadotrila;
▪ ATBs: Rifaximin (o uso é controverso, pois não é um
quadro infeccioso, porém a microbiota pode estar alterada);
▪ Antiespasmódicos: anticolinérgico (Buscopam), bloqueadores do canal de Ca2+ (brometo de pinaverio), relaxantes da
musculatura intestinal sem ação colinérgica (Mebeverina);
▪ Pró-cinéticos: agonistas do receptor 5-HT4 (Prucaloprida);
▪ Antidepressivos: tricíclicos (Amitriptilina) → melhora dos sintomas significativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
▪ As doenças funcionais do TGI são os distúrbios mais comuns e mais difíceis de compreender e tratar;
▪ Fisiopatologia multifatorial;
▪ Critérios de ROMA ajudam na abordagem e diagnóstico;
▪ Evitar excesso de exames e medicamentos (o diagnóstico é inicialmente clínico, baseado nos critérios de ROMA, e outras
patologias são excluídas com outros exames);
▪ Farmacoterapia direcionada a sintomas específicos;
A boa relação médico-paciente é fundamental para o sucesso terapêutico.