DIREITO - Leitura e Produção de Texto - UNIDADE 2

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FACULDADE VIDAL

Diretoria Geral
Débora Vidal Freitas Leitão
Diretoria Administrativa – Financeira
Leonardo Vidal Freitas
Diretoria Acadêmica
Priscila Gomes de Araújo Vidal Freitas
Secretaria Geral
Maria Nilda Moura Lima
Bibliotecária
Mônica Heyla Amorim Chaves

FICHA TÉCNICA
Autoria
Profª. Fernanda Kécia de Almeida
Coordenadoria do Núcleo de Educação à Distância - NEAD
Prof. Me. Marcos Wender Santiago Marinho
Revisão Textual
José de Assis Reges Júnior
Projeto Gráfico e Diagramação
Bruno de Castro e Silva Borges
Capa e Ilustração
Bruno de Castro e Silva Borges
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária: Mônica Heyla Amorim Chaves – CRB 3/978

A447l Almeida, Fernanda Kécia de


Leitura e produção de texto : unidade II /
Fernanda Kécia de Almeida. – 1. ed. – Limoeiro do
Norte: Faculdade Vidal, 2023.
15p.

1. Leitura. 2. Produção de Texto. 3. Faculdade


Vidal I. Título.

CDD 469.8
APRESENTAÇÃO UNIDADES 1 E 2

Caríssimos alunos(as),

Sejam todos(as) benvindos(as) à disciplina de Leitura e


Produção de Texto da Faculdade Vidal de Limoeiro – FAVILI.
O objetivo da disciplina é proporcionar a melhor aprendizagem
relacionada à leitura, produção, interpretação e compreensão de
texto. Para alcançarmos nosso objetivo, elaboramos o presente
material contendo as principais teorias de abordagem de texto.
Na primeira unidade, abordamos as concepções de texto,
leitura, interpretação e compreensão de textos. No que se refere
ao texto em seu aspecto estrutural, apresentamos os fatores que
contribuem para elevar palavras e frases ao nível de texto, são
eles: coesão, coerência, situacionalidade, informatividade, inter-
textualidade, intencionalidade e aceitabilidade. Também apre-
sentamos os principais conceitos de leitura para que possamos
entendê-la como constructo social. Finalizamos a unidade com
uma síntese sobre interpretação e compreensão de texto e suas
particularidades.
Na segunda unidade, discutimos os conceitos, bem
como a teoria, dos gêneros textuais nas abordagens do filósofo
russo Mikahil Bakhtin e filósofo brasileiro Luís Antônio Marcus-
chi. Por fim, apresentamos as diferenças entre os tipos textuais,
que estão relacionados aos aspectos linguísticos, e os gêneros
textuais que são textos em sua própria materialização.
Esperamos que este material de apoio sirva de auxílio na
construção e aperfeiçoamento do aprendizado no que remete à
leitura, interpretação, compreensão e produção de textos.

Profª. Fernanda Kécia de Almeida


SUMÁRIO
2. Gêneros Textuais --------------------------------- 4
2.1 Coesão textual ------------------------- -------- 4
2.2 Coerência ------------------------------------- 5
2.3 Situacionalidade -------- ----------------------- 10
2.4 Informatividade --------------------------------- 11
UNIDADE 2 - Gêneros Textuais 4

Você já parou para pensar como o seu dia a dia está organizado? Desde o
levantar ao dormir? Como você consegue se comunicar com o mundo? Como você
consegue resolver questões simples de sua rotina ou mesmo refletir sobre como a
humanidade chegou até aqui? Você pode até forjar respostas, contudo deve incluir
nessas reflexões o contato entre os seres humanos, ou seja, a comunicação com o outro.
Certamente você já leu uma notícia de jornal, já leu as mensagens de seus aplicativos
de internet, já leu o manual de instruções que veio junto ao produto que você comprou
naquela página de internet que anunciou a promoção. Todas essas ações se processam
por meio da linguagem. Podemos afirmar, seguramente, que é impossível organizar a
vida em sociedade sem a comunicação entre os indivíduos.
A maioria dos estudiosos da linguagem defende que os primeiros contatos
humanos com fins comunicativos, no nível da fala, surgiram há aproximadamente
50 mil anos. A escrita sistemática, por sua vez, data de 3.500 anos antes de Cristo. E,
somente na contemporaneidade passamos a observar e analisar a linguagem humana.
Os primeiros estudos científicos, de fato, datam do século XIX. O aprimoramento dos
estudos e a criação de várias ciências da linguagem datam do século XX. Obviamente, esse
processo de evolução tardia ocorreu conforme o desenvolvimento socio-tecnológico
da humanidade. Somente na contemporaneidade desenvolvemos estudos capazes
de conceituar e catalogar os fenômenos da linguagem que se massifica por meio dos
textos14.

2.1 Conceito de Gêneros Textuais

Todos nós, que vivemos em sociedade, necessitamos da linguagem para


manter a organização e o progresso. Assim, produzimos, receptamos e manuseamos,
diariamente, algum tipo de texto. O próprio fato de ler o presente conteúdo já se configura
como manuseio de texto.
Grosso modo, podemos definir texto como todas as manifestações de
comunicação que possuem emissor, receptor, mensagem, estrutura e objetivos
específicos. Na abordagem científica, vários estudiosos contribuíram para a conceituação
dos gêneros textuais: Joaquim Dolz, Bernard Schneuwly, Mikhail Bakhtin, entre outros.
Luiz Antônio Marcuschi nos alerta sobre as dificuldades em formular definições
para os gêneros textuais, sendo que, toda definição deve contemplar seus usos como
inerentes às práticas socio-discursivas, uma vez que se diferenciam entre uma cultura e
outra. Para o mesmo autor, os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente
vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem
para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades socio-
discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa15.

___________
14
Para saber mais sobre a linguagem humana: https://www.youtube.com/watch?v=CqYH-CTfPqU
15
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/Art_Marcuschi_G%C3%AAneros_
textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_funcionalidade.pdf p.01
Em outros termos, os gêneros textuais se fazem presentes nas situações 5
comunicativas mais diversas cumprindo o objetivo de organizar as ações humanas.
Tomemos como exemplos: um telefonema, uma videoconferência, uma aula, uma lista
de compras, uma música, uma tese, dentre muitos outros. Cada situação comunicativa
exige um determinado tipo de expressão e, consequentemente, um tipo de texto
específico.

2.2 Abondagens de Bakthin

Podemos considerar Mikhail Bakhtin16, o filósofo do diálogo, e Luíz Antônio


Marcuschi17 como dois dos maiores filósofos da linguagem humana e também da
Linguística Textual. O primeiro considera o diálogo como a base de todas as esferas
sociais de comunicação. O segundo, por sua vez, foca na estrutura e suporte dos gêneros
textuais com base nas condições comunicativas de cada comunidade.
Para Bakhtin (2000)18 a língua tem por objetivo intermediar os interesses
humanos em qualquer de suas atividades. Sem a língua não pode haver comunicação, e,
consequentemente, sem comunicação não pode haver interação humana. E quando a
interação se realiza, temos, então, esferas de atividade humana. Essas esferas mencionadas
por Bakhtin (2000) se referem à organização do diálogo, e como os lugares sociais são
definidos em situações de produção de discurso. Vejamos os exemplos abaixo:

http://www.espacociencia.pe.gov.br/?p=14484 http://www.espacociencia.pe.gov.br/?p=14484

___________
16
https://novaescola.org.br/conteudo/1621/mikhail-bakhtin-o-filosofo-do-dialogo
17
http://www.espacociencia.pe.gov.br/?p=14484
6

https://brainly.com.br/tarefa/33712542

https://www.facileme.com.br/saiu-na-midia/fomos-noticia-no-jornal-do-estado/
Observamos acima três situações diversas de interação humana. Na primeira 7
imagem vemos um anúncio do próprio suporte do anúncio. Na segunda imagem, um
trecho da canção “Apesar de você” do compositor brasileiro Chico Buarque de Holanda.
E, na terceira imagem vemos uma notícia de jornal. As três situações comunicativas
possuem objetivos diversos, emissores e receptores específicos que se processam dentro
das esferas da atividade humana.
Para Bakhtin (2000)19 todas as esferas da atividade humana, por mais variadas
que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender
que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas
da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A utilização
da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que
emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana.
Ainda, segundo Bakhtin (2000), as finalidades de cada uma dessas esferas, assim
como suas condições específicas, são reflexos dos próprios enunciados. Em primeiro
lugar, por seu conteúdo temático, e, também, por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção
operada nos recursos da língua e por sua construção composicional. Assim temos:

Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional)


fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado
isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus
tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do
discurso20.
Ainda não é possível catalogar todas essas variedades de enunciados, ou seja,
os gêneros textuais são infinitos em sua existência no tempo e no espaço. Contudo,
considerando a evolução humana, podemos observar se um determinado gênero
textual surgiu ou evoluiu a partir de um outro. Também é possível observar e analisar um
conteúdo temático, um estilo verbal e uma construção composicional.

___________
20
https://www.escrevendoofuturo.org.br/arquivos/6479/bakhtin-mikhail-estetica-da-criacao-verbal-sao-paulo-
martins-fontes-2003.pdf p.79
Vejamos os dois textos que seguem: 8

https://www.ifmg.edu.br/santaluzia/imagens/comunicado-urgente-diante-do-atual-cenario-de-emergencia-em-
saude-em-decorrencia-da-infeccao-humano-pelo-coronavirus-covid-19-o-ifmg-santa-luzia-esta-adotando-
medidas-e-acoes-recomendadas-pelo-minist-9.png/view

https://novaescola.org.br/conteudo/12530/blog-de-alfabetizacao-sequencia-didatica-para-trabalhar-genero-
textual-bilhete
A primeira observação que podemos fazer sobre os dois enunciados acima se 9
refere à diversidade de contexto sociocomunicativo. No primeiro exemplo, observamos
o contexto formal, universitário, em que há o intuito de informar a comunidade sobre os
cuidados a serem tomados no período de pandemia de COVID19. No segundo exemplo,
podemos observar um suposto objetivo de informar – posteriormente, o mesmo texto se
transformou em uma espécie de texto secundário conhecido por “meme” com o intuito
de divertir – produzido em um contexto informal de comunicação. Ambos exemplos se
constituem de conteúdo temático, estilo verbal e construção composicional específicos
de sua própria situação comunicativa.
Bakhtin (2000), além de salientar a heterogeneidade dos gêneros do discurso
(orais e escritos), também defende que é por meio dos gêneros do discurso que
relacionamos as variadas formas de exposição científica e todos os modos literários
(desde o ditado até o romance volumoso)21.
Devemos, portanto, atentar para a extrema heterogeneidade dos gêneros do
discurso e também para as dificuldades de definições e categorizações. Importa, também,
saber que há diferença essencial existente entre o gênero de discurso primário (simples)
e o gênero de discurso secundário (complexo). Os gêneros secundários do discurso
— o romance, o teatro, o discurso científico, o discurso ideológico, etc., aparecem
em circunstâncias de uma comunicação cultural, mais complexa e relativamente mais
evoluída, principalmente escrita: artística, científica, sociopolítica. Vejamos um exemplo
de discurso secundário:

CA PÍT ULO II

Do livro

Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os
motivos que me põem a pena na mão.
Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito,
levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes
anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-
cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e
pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas
de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto
e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que
as tomam nos bicos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as figuras das estações, e
ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por
baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já
ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter
sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido.
Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília
velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com
a exterior, que é ruidosa

___________
21
https://www.escrevendoofuturo.org.br/arquivos/6479/bakhtin-mikhail-estetica-da-criacao-verbal-sao-paulo-
martins-fontes-2003.pdf p.279
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a 10
adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto
é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou
menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal
comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva
o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me
desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos,
mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar
a geologia dos campos santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de
menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua
que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa.
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos,
aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato
que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce
e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto
em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal. (...) (Dom Casmurro, Machado de Assis)22.

O trecho acima é retirado de um dos livros mais importantes da Literatura


Brasileira. Escrito por Machado de Assis, crítico e ideológico por natureza, trata-se de
uma obra do meio artístico literário do mais alto escalão desse ramo, onde podemos
observar a ideologia do autor latente durante todo o percurso da narrativa. Trata-se,
pois, justamente, de um gênero do discurso secundário pelas suas necessidades mais
apuradas de composição. Diferentemente de uma notícia de jornal ou um bilhete que
não requerem esforço ideológico e outros pré-requisitos.

2.3 Abordagem de Marcuschi

Por sua vez, Marcuschi foca na contemporaneidade para conceituar e


categorizar os gêneros textuais, considerando principalmente a evolução tecnológica para
o surgimento e evolução dos gêneros. Segundo o mesmo autor: não são propriamente
as tecnologias que originam os gêneros e sim a intensidade dos usos dessas tecnologias
e suas interferências nas atividades comunicativas diárias23.
Marcuschi também chama a atenção para os suportes dos gêneros textuais.
Esses são uma espécie de ‘abrigo’ necessário para a veiculação dos enunciados. O
advento das tecnologias digitais, fomentou a necessidade da análise do suporte. Assim,
os grandes suportes tecnológicos da comunicação tais como o rádio (que veicula, por
exemplo, os gêneros textuais música, notícias, propagandas etc.), a televisão, o jornal, a
revista, a internet, são ‘abrigos’ para grande variedade de gêneros textuais. Conforme os
suportes evoluem, as formas discursivas surgem ou se modificam.
Devemos atentar, também, para o fato de que esses novos gêneros não são
inovações absolutas, quais criações ab ovo, sem uma ancoragem em outros gêneros já
existentes.

___________
22
https://ddcus.org/pdf/summer_reading/11th_grade/Dom_Casmurro-Machado_de_Assis.pdf
23
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/Art_Marcuschi_G%C3%AAneros_
textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_funcionalidade.pdf
O fato já fora notado por Bakhtin [1997] que falava na ‘transmutação’ dos 11
gêneros e na assimilação de um gênero por outro gerando novos24. A própria tecnologia
de suporta o gênero textual já tende a ser evolução de uma outra pré-existente. O mesmo
ocorre com o próprio gênero textual que, na maioria dos casos, modifica-se a partir de um
gênero anterior, seja em seu suporte ou em sua estrutura. Observe no infográfico abaixo
a evolução da escrita e dos seus respectivos suportes. Consequentemente podemos
deduzir a evolução de muitos gêneros textuais.

https://cpdec.com.br/a-evolucao-da-escrita-dos-hieroglifos-ao-whatsapp/

2.4 Tipologia Textual

Nos tópicos anteriores aprendemos o conceito de gêneros textuais, e também


as abordagens socio-discursivas de Bakhtin e Marcuschi. Outro ponto imprescindível para
a compreensão dos gêneros textuais é a distinção entre gênero e tipo textual. A maioria
dos estudiosos da linguagem concordam que a comunicação verbal somente é possível
por meio de um gênero textual que compõe a atividade sociocognitiva e histórica de
cada comunidade. Os gêneros, por sua vez, são compostos por características diversas
que podem ser distinguidas conforme o objetivo dos interlocutores. Podemos utilizar
por exemplo, uma partida de futebol: para que a mesma seja melhor compreendida pelo
interlocutor esta é narrada, ou seja, o percurso cronológico da partida é falado por um
locutor.

___________
24
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/Art_Marcuschi_G%C3%AAneros_
textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_funcionalidade.pdf
Outro Também, podemos observar descrições e argumentações durante a narração, e, 12
esporadicamente, injunções. Já, numa receita de bolo, não é comum nos depararmos
com argumentações, mas somente descrições e injunções: Vejamos:
Conforme as teorias de Douglas Biber (1988), John Swales (1990), JeanMichel 13
Adam (1990), JeanPaul Bronckart (1999), (a) Usamos a expressão tipo textual para designar
uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição
{aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais
abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação,
exposição, descrição, injunção. (b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção
propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa
vida diária e que apresentam características sóciocomunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica. Os tipos textuais são apenas
meia dúzia, os gêneros são inúmeros25.

Podemos citar como exemplos de gêneros textuais:

• mural,
• carta comercial, carta pessoal,
• romance, comédia,
• reportagem jornalística, notícia,
• aula expositiva, conferência,
• reunião de condomínio, reunião de pais e professores
• horóscopo,
• receita culinária,
• bula de remédio,
• lista de compras,
• cardápio de restaurante,
• manual de instruções,
• outdoor,
• inquérito policial,
• resenha, edital de concurso,
• piada,
• conversação espontânea,
• conferência,
• bate-papo,
• aulas virtuais e assim por diante.

Cada um dos exemplos acima possui uma estrutura específica determinada pela
situação comunicativa. Na aula expositiva por exemplo, como o próprio nome já indica,
há a prevalência da sequência expositiva. Na lista de compras, por sua vez, predomina a
sequência descritiva, no manual de instruções, a injuntiva, e assim por diante. Ressalvemos
que um único gênero textual pode variar em suas sequências, ou seja, dentro de um gênero
narrativo, por exemplo, podemos comumente encontrar descrições, argumentações etc.

___________
25
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/Art_Marcuschi_G%C3%AAneros_
textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_funcionalidade.pdf
Marcuschi ilustra melhor a distinção entre tipos textuais e gêneros textuais 14
com o quadro sinóptico abaixo26:

TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS

1. constructos teóricos definidos por 1. realizações linguísticas concretas defini-


propriedades linguísticas intrínsecas; das por propriedades sóciocomunicativas;

2. constituem sequências linguísticas 2. constituem textos empiricamente real-


ou sequências de enunciados e não são izados cumprindo funções em situações
textos empíricos; comunicativas;

3. sua nomeação abrange um conjun- 3. sua nomeação abrange um conjunto


to limitado de categorias teóricas deter- aberto e praticamente ilimitado de desig-
minadas por aspectos lexicais, sintáticos, nações concretas determinadas pelo canal,
relações lógicas, tempo verbal; estilo, conteúdo, composição e função;

4. designações teóricas dos tipos: nar- 4. exemplos de gêneros: telefonema, ser-


ração, argumentação, descrição, injunção mão, carta comercial, carta pessoal, ro-
e exposição. mance, bilhete, aula expositiva (...) etc.

Esclarecida a distinção entre tipos textuais e gêneros textuais, podemos, a partir


de agora, reconhecer e evitar o uso equivocado da expressão “tipo de texto”, por muitas
vezes usada equivocadamente até mesmo em livros didáticos de língua portuguesa.
É evidente que em todos estes gêneros também se está realizando tipos
textuais, podendo ocorrer que o mesmo gênero realize dois ou mais tipos. Assim, um
texto é em geral tipologicamente variado (heterogêneo). Veja-se o caso da carta pessoal,
que pode conter uma sequência narrativa (conta uma historinha), uma argumentação
(argumenta em função de algo), uma descrição (descreve uma situação) e assim por
diante27.

___________
26
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/Art_Marcuschi_G%C3%AAneros_
textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_funcionalidade.pdf
27
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/Art_Marcuschi_G%C3%AAneros_
textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_funcionalidade.pdf
Para reforçar essa distinção, vejamos o exemplo abaixo, onde podemos 15
categorizar o tipo textual como narrativo, descritivo e argumentativo, por seguirem
determinados critérios linguísticos inerentes ao narrar, descrever e argumentar, e o
gênero textual como tirinha.

https://portuguese.stackexchange.com/questions/4566/por-que-tirinha

A partir do exemplo acima, podemos observar que o tipo textual está


relacionado ao fato de ele ser composto por seus traços linguísticos específicos que
predominam em meio ao texto, ou seja, o conjunto dos traços textuais, que incluem,
pessoas, tempo verbais e outros, formam as sequências. No caso específico do texto
acima, observamos as sequências predominantes narrativa e argumentativa. Enquanto o
gênero textual se caracteriza pelo composto geral do enunciado (que inclui a estrutura
linguística, intenção dos interlocutores, dentre outros quesitos).
Para concluirmos o tópico, ressalvamos que os gêneros textuais, sejam eles
orais ou escritos estão incluídos nessas mesmas premissas citadas anteriormente.
Também, concebemos o estudo dos gêneros como uma oportunidade de compreensão
da língua e da interação humana em seus diversos modos de enunciação. Assim,
concordamos com as palavras de Marcuschi, quando o mesmo afirma que tudo o que
fizermos linguisticamente pode ser tratado em um ou outro gênero. Em outros termos,
todas as ações humanas em comunidade se fazem por meio dos textos. E quanto à
diversidade de gêneros, essa é pauta de estudos e análises inesgotáveis.
Na unidade seguinte, discutiremos sobre os textos falados e escritos, como
parte inerentemente sequencial aos estudos dos gêneros textuais. Para a produção, a
leitura e a interpretação adequados dos textos, faz-se necessárias a explanação de suas
modalidades orais e escritas.

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