Spink e Medrado, 2013, Capitulo 2, Producao de Sentidos

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In: Spink, M.K.P. et. al (2013). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano.

CAPÍTULO II

PRODUÇÃO DE SENTIDO NO COTIDIANO:

Uma abordagem teórico-metodológica


para análise das práticas discursivas

Mary Jane P. Spink e Benedito Medrado

O sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais


precisamente interativo, por meio do qual as pessoas na dinâmica das
relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas
constroem os termos a partir dos quais compreendem e lidam com as
situações e fenômenos a sua volta. Neste capítulo, pretendemos discutir
pressupostos e conceitos que nos têm fornecido subsídios para apreender, por
meio da análise das práticas discursivas, a produção de sentido no cotidiano.
Em nossa perspectiva, dar sentido ao mundo é uma força poderosa e
inevitável na vida em sociedade. Esse pressuposto está na base do
desenvolvimento da Psicologia Social, seja na sua vertente sociocognitiva,
seja na sua vertente interacional. Quanto à vertente sociocognitiva, basta
recordarmos que, em suas raízes, estão as proposições da teoria da Gestalt e
sua ênfase na seletividade dos processos perceptivos. 1 Quanto à vertente
interacional, lembramos que, nas bases das teorizações sobre a interação
humana, estão os processos de comunicação e a atividade de interpretação
que os acompanha. 2
Coerentes com a perspectiva psicossocial, propomos, aqui, que a
produção de sentido não é uma atividade cognitiva intraindividual, nem

1
Ver, por exemplo: Codol, Jean Paul (1988). Vingt ans de cognition sociale. Bulletin de
Psychologie. XLII (390), 472-491.
2
Ver, por exemplo: Blumer, Herbert (1986). Symbolic Interactionism perspectives and
methods. Berkeley, Los Angeles e California: University of California Press.

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pura e simples reprodução de modelos predeterminados. Ela é uma prática
social, dialógica, que implica a linguagem em uso. A produção de sentido é
tomada, portanto, como um fenômeno sociolinguístico uma vez que o uso
da linguagem sustenta as práticas sociais geradoras de sentido e busca
entender tanto as práticas discursivas que atravessam o cotidiano
(narrativas, argumentações e conversas, por exemplo), como os repertórios
utilizados nessas produções discursivas.
Essa abordagem teórico-metodológica está embasada no referencial
do construcionismo social, 3 como apresentado no capítulo um, e alia-se aos
psicólogos sociais que trabalham, de formas variadas, com práticas
discursivas,4 sendo melhor definida a partir de três dimensões básicas:
linguagem, história e pessoa.

1. Linguagem em uso:

Introduzindo o conceito de práticas discursivas


A concepção de linguagem que adotamos está centrada na linguagem
em uso. Mais precisamente, entendemos a linguagem como prática social e,
com base em nossa abordagem teórico-metodológica, buscamos trabalhar a
interface entre os aspectos performáticos da linguagem 5 e as condições de
produção, entendidas tanto como contexto social e interacional, quanto no
sentido foucaultiano de construções históricas. Usamos, portanto,
terminologia distinta para trabalharmos em diferentes níveis de análise. É
necessária, assim, uma distinção entre discurso e práticas discursivas.
O discurso, em nossa perspectiva, remete às regularidades
linguísticas, ou, para utilizarmos uma expressão de Bronwyn Davies e Rom

3
Autores como Rorty (1979/1994), Gergen (1985) e Ibáñez (1993a) são alguns dos que se
identificam com o referencial construcionista e que embasam nossa abordagem.
4
Alguns desses autores(as) são: Moscovici (1961), Potter e Mulkay (1985), Potter e Reicher
(1987), Potter e Wetherell (1987), Jodelet (1989), Parker (1989), Davies e Harré (1990),
Potter et alli (1990), Billig (1991), Potter e Billig (1992), Shotter (1993), Potter (1996a).
5
Sobre a linguagem e sua dimensão performática, ver capítulo um.

23
Harré (1990), ao uso institucionalizado da linguagem e de sistemas de
sinais de tipo linguístico. Esse processo de institucionalização pode ocorrer
tanto no nível macro dos sistemas políticos e disciplinares, como no nível
mais restrito de grupos sociais. Diferentes domínios de saber tais como a
Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a História têm seus discursos
oficiais. Diferentes grupos sociais como uma organização não
governamental, um sindicato, um partido têm seus discursos. Diferentes
estruturas de poder têm seus discursos.
Sendo institucionalizado, há uma tendência à permanência no tempo,
embora o contexto histórico possa mudar radicalmente os discursos: basta
atentarmos, por exemplo, para o discurso médico sobre a
homossexualidade, ao longo dos anos. Além disso, num mesmo contexto
histórico, é possível identificar, como defendem Davies e Harré (1990),
discursos que podem competir entre si ou criar versões distintas e
incompatíveis acerca de um dado fenômeno social.
Assim concebidos, os discursos aproximam-se da noção de
linguagens sociais, que, na definição de Mikhail Bakhtin (1929/1995), são
os discursos peculiares a um estrato específico da sociedade uma
profissão, um grupo etário etc. , num determinado contexto, em um
determinado momento histórico.
Além disso, o contexto situação, interlocutores presentes ou
presentificados, o espaço, o tempo etc. molda a forma e o estilo ocasional
das enunciações, isto é, os speech genres. Segundo Bakhtin (1995), os
speech genres ou gêneros de fala, são as formas mais ou menos estáveis de
enunciados, que buscam coerência com o contexto, o tempo e o(s)
interlocutor(es). Por exemplo, ao se encontrarem, duas pessoas com
frequência empregam enunciados típicos, como: 1. Oi, tudo bem? 2. Tudo
bem, e você?; ou, num primeiro encontro: 1. Muito prazer! 2. O prazer é
todo meu! Num enterro, é comum o enunciado Meus pêsames! E, raríssimas
vezes, alguém dirá Meus parabéns!, embora, apesar da baixa probabilidade,
isso não seja completamente improvável.

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Assim, é inegável que existem prescrições e regras linguísticas
situadas que orientam as práticas cotidianas das pessoas e tendem a manter
e reproduzir discursos. Sem elas, a vida em sociedade seria impraticável.
Mas, embora o conceito de discurso aponte para uma estrutura de
reprodução social ou seja, a linguagem vista a partir das regularidades ,
ele não desconsidera a diversidade e a não regularidade presentes em seu
uso diário pelas pessoas. É, antes de tudo, uma questão de foco, de distinção
entre o que se elege como figura/fundo. Qualquer fenômeno social pode ser
visto à luz das regularidades, como no caso, por exemplo, da
Epidemiologia, em relação aos fenômenos do campo da saúde. Entretanto,
se procurarmos entender os sentidos que uma doença assume no cotidiano
das pessoas, passamos a focalizar a linguagem em uso. O olhar recai sobre a
não regularidade e a polissemia (diversidade) das práticas discursivas.
É interessante resgatar aqui a metáfora do binóculo. Se olharmos
através desse instrumento, conseguimos visualizar uma cena composta de
tal forma que a especificidade de seus elementos pouco interferem no
conjunto, a totalidade aponta para além da soma de suas partes. Vemos, por
exemplo, uma densa floresta. Ao invertermos esse mesmo instrumento,
passaremos a visualizar não mais a primeira cena, mas uma outra imagem,
uma outra cena. Vemos, por exemplo, uma formiga sobre uma pequena
folha seca. A formiga estava lá, por certo, desde a primeira observação,
porém nosso olhar, no primeiro momento, só nos permitiu nomear a
floresta. Por meio desse exercício, é possível perceber que focos diferentes
produzem objetos distintos, irredutíveis um ao outro. Não se trata, portanto,
de observar a especificidade diante do global, nem de observar o global em
detrimento da especificidade.
Usualmente, é pela ruptura com o habitual que se torna possível dar
visibilidade aos sentidos. É essa, precisamente, uma das estratégias centrais da
pesquisa social. Por exemplo, numa entrevista, as perguntas tendem a focalizar
um ou mais temas que, para os entrevistados, talvez nunca tenham sido alvo
de reflexões, podendo gerar práticas discursivas diversas, não diretamente

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associadas ao tema originalmente proposto. Estamos, a todo momento, em
nossas pesquisas, convidando os participantes à produção de sentido.
Discurso, linguagem social ou speech genre são conceitos que
focalizam, portanto, o habitual gerado pelos processos de institucionalização.
O conceito de práticas discursivas remete, por sua vez, aos momentos de
ressignificações, de rupturas, de produção de sentido, ou seja, corresponde
aos momentos ativos do uso da linguagem, nos quais convivem tanto a
ordem como a diversidade.
Podemos definir, assim, práticas discursivas como linguagem em
ação, ou seja, as maneiras a partir das quais as pessoas produzem sentidos e
se posicionam em relações sociais cotidianas. As práticas discursivas têm
como elementos constitutivos: a dinâmica, ou seja, os enunciados
orientados por vozes; as formas, que são os speech genres (definidos
acima); e os conteúdos, que são os repertórios interpretativos.
Os conceitos de enunciados e vozes caminham juntos na abordagem
de Bakhtin: ambos descrevem o processo de interanimação dialógica que
se processa numa conversação. Em outras palavras, os enunciados de uma
pessoa estão sempre em contato com, ou são endereçados a, uma ou mais
pessoas e esses se interanimam mutuamente, mesmo quando os diálogos
são internos. As vozes compreendem esses interlocutores (pessoas)
presentes (ou presentificados) nos diálogos.
O enunciado é o ponto de partida para a compreensão da dialogia.
Bakhtin (1994b) define os enunciados como expressões (palavras e
sentenças) articuladas em ações situadas, que, associados à noção de vozes,
adquirem seu caráter social. As vozes compreendem diálogos, negociações
que se processam na produção de um enunciado. Elas antecedem os
enunciados, fazendo-se neles presentes no momento de sua produção, tendo
em vista que o próprio falante é sempre um respondente em maior ou menor

26
Na perspectiva bakhtiniana, linguagem é, por definição, uma prática
social. A pessoa não existe isoladamente, pois os sentidos são construídos
quando duas ou mais vozes se confrontam: quando a voz de um ouvinte
(listener) responde à voz de um falante (speaker) (Wertsch, 1991).
Entretanto, as vozes às quais um enunciado é dirigido podem estar espacial
ou temporalmente distanciadas. Dessa forma, inclusive o pensamento é
dialógico: nele habitam falantes e ouvintes que se interanimam mutuamente
e orientam a produção de sentidos e enunciados.
Se um entrevistado, por exemplo, ao ser indagado sobre um assunto
nha infância, quando meu

dialogia a voz do pai. Pode trazer também a voz da professora, do amigo, da


mãe. Todas essas vozes permeiam essa prática discursiva e se fazem nela
presentes, com maior ou menor ênfase, dependendo do tema em pauta, do
local, de quem pergunta, enfim, do contexto em que são produzidas. A
compreensão dos sentidos é sempre um confronto entre inúmeras vozes.
Ao mesmo tempo, é preciso entender que a linguagem é ação e
produz consequências.6 Nosso trabalho, como cientistas sociais que analisam
práticas discursivas, é exatamente estudar a dimensão performática do uso da
linguagem, trabalhando com consequências amplas e nem sempre
intencionais. Num movimento constante de argumentação, de exercício
retórico (Billig, 1991), quando falamos, estamos invariavelmente realizando
ações acusando, perguntando, justificando etc. , produzindo um jogo de
posicionamentos com nossos interlocutores, tenhamos ou não essa intenção.
Esse processo, contudo, não se restringe às produções orais. Um
texto escrito, por exemplo, constitui um ato de fala impresso, um elemento
de comunicação verbal que provoca discussões ativas: pode ser elogiado,
comentado, criticado, pode orientar trabalhos posteriores. Assim, nos dias

6
As práticas discursivas, em seu caráter performático, constituem speech acts ou atos de
fala, expressão cunhada pela etnometodologia para se referir à orientação do uso da
linguagem para a ação.

27
atuais, o rádio, a televisão, os sites da Internet etc. podem também ser
considerados atos de fala.
Além disso, um enunciado não surge, magicamente, do nada. Ele
constitui uma unidade do ato de comunicação, um dos elos de uma corrente
de outros enunciados, complexamente organizados. Em outras palavras, ao
produzir um enunciado, o falante utiliza um sistema de linguagem e de
enunciações preexistente, posicionando-se em relação a ele. O que estamos
propondo é que, no cotidiano, o sentido decorre do uso que fazemos dos
repertórios interpretativos de que dispomos.
Os repertórios interpretativos são, em linhas gerais, as unidades de
construção das práticas discursivas o conjunto de termos, descrições,
lugares-comuns e figuras de linguagem que demarcam o rol de
possibilidades de construções discursivas, tendo por parâmetros o contexto
em que essas práticas são produzidas e os estilos gramaticais específicos ou
speech genres.
Jonathan Potter e Margareth Wetherell (1987), baseados nos trabalhos
de Gilbert e Mulkay,7 definem os repertórios interpretativos como dispositivos
linguísticos que utilizamos para construir versões das ações, eventos e outros
fenômenos que estão a nossa volta. Eles estão presentes em uma variedade de
produções linguísticas e atuam como substrato para uma argumentação.
Os repertórios interpretativos, na visão desses autores, são
componentes fundamentais para o estudo das práticas discursivas, pois é por
meio deles que podemos entender tanto a estabilidade como a dinâmica e a
variabilidade das produções linguísticas humanas. Em outras palavras, esse
conceito é particularmente útil para entendermos a variabilidade usualmente
encontrada nas comunicações cotidianas, quando repertórios próprios de
discursos diversos são combinados de formas pouco usuais, obedecendo a
uma linha de argumentação, mas gerando, frequentemente, contradições.

7
Gilbert, N. e Mulkay, M. (1984).
Cambridge: Cambridge University Press.

28
O foco dos estudos que adotam esse conceito deixa de ser, assim,
apenas a regularidade, o invariável, o consenso, e passa a incluir também a
própria variabilidade e polissemia que caracterizam os discursos,

propriedade que uma palavra possui (numa dada época) de representar


8

Admitir que as práticas discursivas são polissêmicas, não significa,


entretanto, dizer que não há tendência à hegemonia ou que os sentidos
produzidos possuem igual poder de provocar mudanças. Por outro lado, a
natureza polissêmica da linguagem possibilita às pessoas transitar por
inúmeros contextos e vivenciar variadas situações.
Contudo, vivemos num mundo social que tem uma história. Os
repertórios interpretativos que nos servem de referência foram histórica e
culturalmente constituídos. Trabalhar no nível da produção de sentido
implica retomar também a linha da história, de modo a entender a
construção social dos conceitos que utilizamos no métier cotidiano de dar
sentido ao mundo.

2. Tempo e história:

O diálogo entre permanências e rupturas


Buscando entender o uso dos repertórios interpretativos nas práticas
discursivas cotidianas, cedo percebemos que eles possuíam inscrições na
história, o que nos levou a trabalhar numa perspectiva temporal. Tempo, é
claro, é uma categoria fundamental na História. Como diz Fernand Braudel,

1989:34).

8
O conceito de polissemia opõe-se ao de polilexia, utilizado por linguistas contemporâneos
para designar a existência de vários sinônimos para uma mesma ideia (Lalande, 1996).

29
Entretanto, a inscrição histórica desses repertórios não é o foco de
nossos interesses. Nossa aproximação com a temporalidade dos repertórios
decorre da problemática dos contextos de sentidos. O sentido
contextualizado institui o diálogo contínuo entre sentidos novos e antigos:

não há limites (ele se estende ao passado sem fronteira e ao futuro


9
(Bakhtin, 1994a:169). Mesmo os sentidos passados, decorrentes
de diálogos travados há muitos séculos, não são estáveis; são sempre
passíveis de renovação nos desenvolvimentos futuros do diálogo. Em
qualquer momento, essas massas de sentidos contextuais esquecidas podem
ser recapituladas e revigoradas assumindo outras formas (em outros

festival de boas vindas (homecoming


Obviamente, Bakhtin fala como linguista. Mas também os historiadores

problema que tive que resolver, foi o de mostrar que o tempo se move em
er
Burke, em 1977 (Burke, 1990:39). Em seu texto clássico, História e Ciências
Sociais, publicado originalmente em 1958, Braudel aborda reiteradamente
essa questão da imbricação do presente com o passado:
itmo
diferentes: o tempo de hoje data simultaneamente de ontem, de
-se
mutuamente, com uma luz recíproca (Braudel, 1989:18-21).
Cada autor busca, a sua maneira, resolver a problemática decorrente
dessa imbricação. Braudel nos fala do tempo longo (la longue durée) e o
contrasta com o tempo breve o tempo dos acontecimentos, a escala dos
indivíduos, da vida cotidiana ou da tomada de consciência. O tempo longo é
para ele a medida da permanência, o locus de compreensão da estrutura que

30
construídos que constituem outras tantas explicações imperfeitas, mas a
que
Bakhtin, por sua vez, apresenta-nos uma divisão temporal que faz
dialogar o pequeno tempo (smalltime) e o grande tempo (great time). O
tempo pequeno engloba o dia de hoje, o passado recente e o futuro

nenhum sentido (meaning


Nosso trabalho com práticas discursivas levou-nos a propor uma
divisão temporal semelhante, embora a formação específica em Psicologia
Social tenha suscitado a necessidade de inclusão de mais um tempo: o da
vida vivida, dos processos de socialização. Assim, desde 1993 10 vimos
postulando a necessidade de trabalhar o contexto discursivo na interface de
três tempos históricos: o tempo longo, que marca os conteúdos culturais,
definidos ao longo da história da civilização; o tempo vivido, das linguagens
sociais aprendidas pelos processos de socialização, e o tempo curto,
marcado pelos processos dialógicos.
Essa forma de aproximação com os conteúdos históricos decorre da
ambição de trabalhar as práticas discursivas em diferentes níveis, buscando
apreender a cristalização em discursos institucionalizados, as posições
socialmente disponíveis e as estratégias linguísticas utilizadas para nos
posicionar na interação. Essa divisão tripartite possibilitou-nos abordar o
paradoxo de enunciados que pertencem concomitantemente à ordem das
regularidades possibilitando visualizar as permanências que sustentam o
compartilhamento e à da polissemia dos repertórios, que sustenta a
singularidade dos processos de produção de sentido.
Chamamos de tempo longo o domínio da construção social dos
conteúdos culturais que formam os discursos de uma dada época.
Deparamos aqui com as fronteiras da História Social, que focaliza
10
Ver, por exemplo, Spink (1993a; 1993b; 1994a; 1994b; 1996; 1999a; 1999b); Medrado-
Dantas (1997); Menegon (1998); Pinheiro (1998), entre outros.

31
processos de formação e ressignificações continuadas, os quais dão acesso
aos múltiplos significados que foram historicamente construídos. É nesse
tempo histórico que podemos apreender os repertórios disponíveis que
serão moldados pelas contingências sociais de época, constituindo as vozes
de outrora que povoam nossos enunciados. Não os temos mais como
teorias, pois muitas já perderam sua razão de ser; também não os temos
como acontecimento, tempo da vida cotidiana, da interanimação, das
ilusões. Só os temos como fragmentos e, por isso mesmo, como repertórios.
O tempo longo constitui o espaço dos conhecimentos produzidos e
reinterpretados por diferentes domínios de saber: religião, ciência,
conhecimentos e tradições do senso comum. Esses conhecimentos
antecedem a vivência da pessoa, mas se fazem nela presentes por meio de
instituições, modelos, normas, convenções, enfim, da reprodução social.
Um exemplo de como as construções do tempo longo permeiam nosso
cotidiano e nossas práticas discursivas são as obras de museu, que carregam
em suas imagens uma imensidão de sentidos, e a partir das quais podemos
delinear a representação social de um tema, como, por exemplo, a
paternidade. Desse modo, uma imagem de pai construída, digamos, na
Renascença, se faz presente em nosso cotidiano, ressignificada. É assim que
o tempo longo se faz presente. Não é uma história morta, depositada nos
tempos passados; são construções que alimentam, definem e ampliam os
repertórios de que dispomos para produzir sentido.
Definimos tempo vivido como o processo de ressignificação desses
conteúdos históricos a partir dos processos de socialização primária e
secundária (Berger & Luckmann, 1966); corresponde às experiências da
pessoa no curso da sua história pessoal. É nesse nível que ocorre a
aprendizagem das linguagens sociais.
Entramos assim no território do habitus, ou seja, das disposições
adquiridas a partir da pertença a determinados grupos sociais (Bourdieu,
1994). Como destaca Sérgio Miceli (1987), o habitus é um conjunto de
esquemas apreendidos desde a infância e permanentemente atualizados ao

32
longo da trajetória social da pessoa; esquemas que demarcam os limites da
consciência que pode ser mobilizada pelos grupos e/ou classes, sendo assim
responsáveis, em linhas gerais, pela demarcação das possibilidades de
sentidos em que operam as relações de força e poder.
Estamos falando da aprendizagem, no tempo de vida de cada um de
nós, das inúmeras linguagens sociais próprias a segmentos de classe, a
grupos profissionais, a faixas etárias etc. Trata-se das vozes situadas que
povoam nossas práticas discursivas, sejam elas externalizadas ou não.
Entretanto, o tempo vivido é também o tempo da memória traduzida em
afetos. É nosso ponto de referência afetivo, no qual enraizamos nossas
narrativas pessoais e identitárias.
O tempo curto tempo do acontecimento e tempo da interanimação
dialógica é aquele que nos possibilita entender a dinâmica da produção de
sentido. Nesse tempo, estão em pauta, concomitantemente, a possibilidade
da compreensão (understanding), da comunicação e a construção discursiva
das pessoas. Esse é o momento concreto da vida social vista como atividade
de caráter interativo. Nesse momento específico, as possibilidades de
combinação das vozes, ativadas pela memória cultural de tempo longo ou
pela memória afetiva de tempo vivido, fazem-se presentes.
O tempo curto refere-se às interações sociais face a face, em que os
interlocutores se comunicam diretamente; pauta-se, portanto, pela dialogia e
pela concorrência de múltiplos repertórios que são utilizados para dar
sentido às experiências humanas. Como as combinações são múltiplas,
deparamos, nessa escala, com a polissemia.
Focalizando o momento da interação por meio das práticas
discursivas, encontraremos polissemia e contradição. Depararemos, ao
mesmo tempo, com a processualidade e a produção situada desses
repertórios, deixando emergir a possibilidade de construção de inúmeras
versões de nossas pessoas. À medida que nos distanciamos, teórica e
empiricamente, do tempo curto, adentramos o campo das abstrações: as
tipificações de papel, as regras de discurso, as linguagens sociais e as

33
identidades sociais que povoam nosso universo; encontramos as estruturas a
que Braudel se referia.
Portanto, para compreendermos o modo como os sentidos circulam
na sociedade é necessário considerar as interfaces desses tempos longo,
vivido e curto , nos quais se processa a produção de sentido. Resulta daí
que a pesquisa sobre produção de sentido, cujo foco é o contexto de sentido
(na acepção de Bakhtin), é necessariamente um empreendimento sócio-
histórico e exige o esforço transdisciplinar de aproximação ao contexto
cultural e social em que se inscreve um determinado fenômeno social.
A concepção de história que adotamos em nossos trabalhos está,
como abordado acima, diretamente associada à compreensão das
diversidades e permanências das construções linguísticas dotadas de
sentido. Contudo, não depositamos todas as permanências no tempo longo,
nem toda diversidade no tempo curto. Permanências e diversidades
permeiam todos os tempos históricos, indistintamente, em maior ou menor
grau, e orientam as práticas discursivas das pessoas. Focalizamos, assim, a
terceira dimensão da nossa abordagem: a noção de pessoa.

3. Pessoa como relação social

Ao adotarmos o termo pessoa em nossos estudos e pesquisas,


estamos nos posicionando em relação ao uso de certas terminologias que
nos colocam diante de dicotomias, tais como sujeito-objeto, indivíduo-
sociedade. Com o conceito de pessoa, estamos buscando enfatizar nosso
foco sobre a dialogia, em vez de privilegiar a individualidade ou a condição
de sujeito. Essa postura não implica abandonar o indivíduo ou o sujeito,
conceitos fundadores da Psicologia, mas ressignificá-los à luz da
perspectiva construcionista, recuperando um termo pessoa que, em
última análise, pertence ao tempo longo da história.
Por um lado, o conceito de indivíduo nos remete imediatamente a
dicotomias, tais como indivíduo-sociedade e público-privado, pressupondo
cisões claras e absolutas. Falar em sujeito pode nos conduzir a dois

34
caminhos distintos, porém ambos problemáticos, ou seja, um que nos
conduz a uma distinção essencial entre sujeito e objeto ou outro que, ainda
mais complexo e perigoso, aproxima-nos da postura de sujeitável, tornar-se
sujeito a.
Como destaca A. Cuggenberger (1987), no tópico Pessoa do
Dicionário de Teologia, organizado por Heinrich Fries:
O mundo pelo qual a pessoa foi compreendida no decorrer dos séculos
é um caso típico do caminho que os conceitos percorrem através dos
tempos. Por isso, a história do conceito de pessoa é uma página

O conceito de pessoa, cuja base está na Teologia, foi aos poucos


sendo incorporado pela Filosofia, tornando-se objeto de estudo e reflexão.
Assim, na modernidade, a Filosofia assumiu como algo próprio da
disciplina a questão da pessoa. Porém, como destaca Cuggenberger, desde a
época medieval estava claro que o ser da pessoa não pode encerrar-se numa
definição formal. Vários pensadores tais como S. Tomás de Aquino, Duns
Scoto, entre outros se debruçaram sobre a questão da pessoa e propuseram
definições a partir de diferentes referenciais teológicos e epistemológicos.
O caráter relacional está na base da maioria dessas definições.
Como aponta Cuggenberger (1987), só é possível pensar em pessoas,
a partir da noção de relação. O homem ou, mais precisamente, a pessoa
está em um mundo e não apenas em um ambiente, como os animais.
Daqui provém o eu no seu caráter fundamental de pessoa, a
relacionalidade com o universo (capacidade de comunicar-se), a sua
limitação e o seu caráter de não ser um objeto
humana apresenta uma amostra do caráter misterioso da pessoa, visto
que esta não pode ser apreendida por meio de noções objetivas e

costuma apelar como o dado mais originário sobre o qual se deveria

verdade que a pessoa, quando quer fazer-se conhecer, deve voltar-se


ao outro (Cuggenberger, 1987: 244, 249, grifos do autor).

35
Essa definição nos remete, assim, ao próprio processo de produção de
sentido nas práticas discursivas do cotidiano. A pessoa, no jogo das relações
sociais, está inserida num constante processo de negociação, desenvolvendo
trocas simbólicas, num espaço de intersubjetividade ou, mais precisamente,
de interpessoalidade.
A partir dessa noção de que as práticas discursivas compreendem um
constante processo de interanimação dialógica, torna-se possível
introduzirmos o conceito de posicionamento (Davies & Harré, 1990) e
propor que a produção de sentido é sempre concomitantemente uma produção
discursiva de pessoas em interação. Dito de outra forma, ao focalizar as práticas
discursivas deparamos também com a processualidade das construções
identitárias. Posicionar-se implica navegar pelas múltiplas narrativas com que
entramos em contato e que se articulam nas práticas discursivas.
Como destacam Davies e Harré (1990), quem somos? é, pois, sempre
uma pergunta aberta com respostas mutáveis, que dependem das posições
disponíveis nas nossas práticas discursivas. Dentro dessas práticas, é
preciso entender as histórias por meio das quais produzimos sentidos em
nossas vidas, os nossos processos de socialização que possibilitam a
construção de narrativas coerentes em torno de eixos comuns, como por

de gaúchos, antropóloga, vivendo em Campinas, cursando Mestrado e


pretendendo dar continuidade à carreira acadêmica, investindo num futuro

dialógico, com a presença de outro(s) interlocutor(es), pode construir uma


narrativa, tão coerente quanto a anterior, so
fulana de tal, loira, olhos verdes, sobrancelha fina, solteira, católica não
praticante, tenho uma sobrinha maravilhosa, gosto de ser diferente, curto

conteúdo dessas narrativas é orientado pelo contexto argumentativo (Billig,


1991) que se configura no momento da dialogia.

36
A força constitutiva das práticas discursivas está em poder prover
posições de pessoa: uma posição incorpora repertórios interpretativos, assim
como uma localização num jogo de relações inevitavelmente permeado por
relações de poder. As práticas discursivas, portanto, implicam
necessariamente o uso de repertórios e posicionamentos identitários.
Diante dessas explanações, percebe-se a centralidade da linguagem
verbal em nossa abordagem. Os conceitos que utilizamos enunciados,
vozes, linguagens sociais, speech genres, repertórios interpretativos,
posicionamentos, entre outros são extremamente úteis para analisar a
produção de sentido em contextos dialógicos ou em atos de fala impressos.
Contudo, consideramos também relevante a linguagem não verbal
expressões faciais, gestos, posturas, silêncios etc. na dinâmica das práticas
discursivas. A dialogia não se esgota nem se encerra no diálogo. Embora não
constitua diretamente nosso foco de estudos, sempre que possível, registramos
tais elementos, na busca de enriquecer nossas análises, permitindo a descrição
do contexto em que as práticas discursivas de desenvolvem.
Em síntese, as reflexões em torno dessas três dimensões linguagem,
história e pessoa têm possibilitado desenvolver pesquisas em que a
reflexão teórica não constitui apenas um apêndice à problematização dos
temas estudados. Ao longo dos últimos anos, temos nos empenhado em
construir uma abordagem teórica que permita uma melhor compreensão dos
fenômenos psicossociais e da própria dinâmica da produção de sentido.
Assim, temos proposto reformulações ao modelo teórico originalmente
proposto (Spink, 1993a), à luz das nossas pesquisas empíricas e discussões
teórico-epistemológicas.11

11
Ao longo dos últimos anos, produzimos diferentes desenhos esquemáticos na busca de
possibilitar uma melhor compreensão da nossa abordagem, dando-lhe visibilidade (Spink,
1993a; 1999a). Para esta coletânea, optamos por não apresentar imagem alguma, convidando
o leitor a produzir seu próprio modelo.

37
4. Desfamiliarizando conceitos e construindo uma abordagem

Como discutido no tópico dois deste capítulo, em nossa abordagem a


produção de sentido opera na interface dos três tempos históricos: entre a
construção social dos conteúdos culturais do tempo longo, as aprendizagens
sociais que aprendemos no tempo vivido e os processos dialógicos do tempo
curto.
A mídia assume um papel fundamental na compreensão da produção
de sentido, seja porque é pervasiva no mundo contemporâneo e, portanto,
instrumental na conformação da consciência moderna, seja porque confere
uma visibilidade sem precedentes aos acontecimentos, incluindo aí as novas
informações e descobertas.
Nessa perspectiva, como aponta John Thompson (1995a; 1995b), a
mídia nos leva a uma clara reconfiguração das fronteiras entre os espaços
público e privado e à progressiva emergência de uma nova dimensão
regulatória, a ética como instância com efeito legal, situada em normas e
comitês, e não apenas como princípios gerais pertinentes ao campo da moral.
Propomos, assim, que a mídia não é apenas um meio poderoso de
criar e fazer circular conteúdos simbólicos, mas possui um poder
transformador ainda pouco estudado e, talvez, ainda subestimado de
reestruturação dos espaços de interação propiciando novas configurações
aos esforços de produção de sentido.
Os conteúdos são continuamente reconstruídos, também, pelo
movimento que lhes é dado a partir das produções nos mais variados
domínios de saber, entre eles os diversos campos científicos. A ciência foi
um dos principais amálgamas da era moderna e, apesar das crescentes
desmistificações de sua objetividade nas reflexões pós-modernas,12 continua
a ser importante esfera geradora de sentidos. Contudo, a ciência não é o
único domínio de saber.

12
Para uma reflexão mais detalhada sobre a importância do conhecimento científico, no contexto
contemporâneo, recomendamos, por exemplo, a leitura do texto de Latour e Woolgar (1997).

38
Encontramos uma definição de saber bastante rica na obra de Michel
Foucault (1987a), que não poderia ter outro nome: A arqueologia do saber.
Segundo ele, o saber compreende o domínio constituído pelos diferentes
objetos que irão ou não adquirir um status científico; refere-se ao espaço
em que a pessoa pode tomar posição para falar dos objetos de que se ocupa
em seu discurso; define também o campo de coordenação e de subordinação
dos enunciados em que os conceitos aparecem, se definem, se aplicam e se
transformam. Enfim, Foucault define o saber como as possibilidades de
utilização e de apropriação oferecidas pelo discurso.
No caso do termo domínios, é Pierre Bourdieu (1983a), em Questões
de Sociologia, que torna essa noção mais clara, a partir do conceito de
campo. Temos novamente uma definição prenhe de sentidos: o campo seriam
espaços de posições estruturados, cujas propriedades dependem das posições
nesses espaços. Em cada campo encontra-se uma luta entre o novo, que está
entrando (heresia), e o dominante (ortodoxia), que tenta defender e expulsar a
concorrência. Um campo se constitui, entre outras coisas, por meio da
definição dos objetos de disputas e dos interesses específicos.
É nesse jogo em que a negociação e o poder se inscrevem. Ao
falarmos sobre domínios de saber estamos, portanto, remetendo-nos a um
conjunto de conhecimentos que orientam, mas não determinam, um modo
de pensar e compreender um fenômeno.
Às posturas construcionistas sobre o conhecimento e aos estudos que
levam à desmistificação progressiva do fazer-em-ciência, somam-se as
perspectivas políticas da ressignificação da diferença e da denúncia das
relações opressivas que se desenham no interior do campo científico.
Na visão construcionista, a produção de sentido se processa no
contexto da ação social. Alia-se à tradição hermenêutica de processo
criativo mediado pelas expectativas e pressupostos que a pessoa traz para a
situação, à tradição interacionista de valorização da presença real ou
imaginada do outro e à onipresença da linguagem na perspectiva das
práticas discursivas.

39
Contudo, vale ressaltar que rejeitamos em nossas pesquisas, tanto o
realismo ingênuo, aquele que postula a existência de um mundo que precisa
ser descoberto, revelado, por meio de uma relação imediata e invariante entre
pesquisador (sujeito) e realidade (objeto), como o subjetivismo extremo, que
atribui a capacidade de conhecer exclusivamente às propriedades da mente
individual, à subjetividade e aos determinantes psicodinâmicos.
Em nossa perspectiva, a produção do conhecimento deve ser
considerada antes como uma atividade construcionista construída num
tempo e espaço específicos e construtiva de uma realidade intersubjetiva
do que como uma aplicação das faculdades especulares, representacionais,

efeito, como destaca Richard Rorty:

como sua sugestão de que se pudéssemos chegar aos dados reais, não

escolha racional (Rorty, 1994:321).


Na tentativa de superar essa dicotomia realismo-subjetivismo,
representada no pensamento filosófico pelos paradigmas empirista e
idealista, adotamos uma postura construcionista social, pautada pela visão
hermenêutica da produção de conhecimento.
Como abordado no capítulo um, o construcionismo social está
interessado em identificar os processos pelos quais as pessoas descrevem,
explicam e/ou compreendem o mundo em que vivem, incluindo elas
próprias. Nesse sentido, o foco de estudos passa das estruturas sociais e
mentais para a compreensão das ações e práticas sociais e, sobretudo, dos
sistemas de significação que dão sentido ao mundo.
Adotar a postura construcionista implica, invariavelmente, abdicar da
epistemologia tradicional que difere interno-subjetivo-mente de externo-
objetivo-mundo. O conhecimento, nessa perspectiva, não é nem uma
interiorização dos processos sociais nem a exteriorização dos processos
psicodinâmicos. O foco do construcionismo é a interanimação dialógica,

40
situando-se, portanto, no espaço da interpessoalidade, da relação com o
outro, esteja ele fisicamente presente ou não.

uma visão especular, representacional do


conhecimento e adotar a perspectiva de que o conhecimento não é algo
que se possui, mas que se constrói em coletividade. Assim, Rorty propõe
que a conversação seja a mola propulsora das ciências, que devemos mantê-
la fluindo, num infinito empenho pela verdade, mas nunca com a pretensão
de esgotá-la.
Com a aceitação da postura construcionista, não definimos quais
métodos têm mais possibilidades de traduzir como os fatos são. A
concepção de fatos como construções sociais pressupõe que os métodos
produzam, antes de tudo, versões de mundo, podendo ter maior ou menor
poder performático dependendo do contexto de produção, do momento
histórico, das relações sociais em que ocorre essa produção, aliados à
intencionalidade de quem produz e do grau de conformidade de quem recebe. 13
A compreensão das práticas discursivas deve levar em conta tanto as
permanências como, principalmente, as rupturas históricas, pela
identificação do velho no novo e vice-versa, o que possibilita a explicitação
da dinâmica das transformações históricas e impulsiona sua transformação
constante. Por meio dessa abordagem, buscamos construir um modo de
observar os fenômenos sociais que tenha como foco a tensão entre a
universalidade e a particularidade, entre o consenso e a diversidade, com
vistas a produzir uma ferramenta útil para transformações da ordem social.

13
Essa dimensão metodológica, entre o rigor e a interpretação, será melhor explorada no
capítulo quatro.

41

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