Crimes Eleitorais

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CRIMES ELEITORAIS: uma análise dos art.

299 e 250 do
código eleitoral.

SOUZA ALVES, Bianca Marilda1


SANTOS RODRIGUES, Guilherme2
SILVA ALMEIDA, Mariana3
LOPES FIRMINO BONFIM, Sandra4
LOPES DE SOUZA ARAÚJO, Soraya5

O presente trabalho aborda os crimes eleitorais, infrações previstas no


Código Eleitoral e em legislações correlatas, como a Lei nº 9.504/97, que
regula normas para as eleições. Os crimes eleitorais, em sua maioria, são
considerados crimes comuns, permitindo que qualquer pessoa, sem
qualificação específica, possa ser autora. Dentre esses, destaca-se a
corrupção eleitoral, definida no art. 299 do Código Eleitoral, que contempla
as modalidades ativa e passiva, envolvendo atos como dar, oferecer,
prometer, solicitar ou receber vantagens em troca de votos. Tal crime é
formal, consumando-se com a prática dos atos mencionados,
independentemente da obtenção do resultado pretendido. Além disso, o
estudo examina a falsidade ideológica eleitoral, prevista no art. 350 do
Código Eleitoral, que se configura pela omissão ou inclusão de declaração
falsa em documentos, visando fins eleitorais. Ambos os crimes visam
proteger a liberdade e a autenticidade do processo eleitoral, sendo
processados e julgados pela Justiça Eleitoral. Análises de jurisprudências do
Tribunal Regional Eleitoral reforçam a aplicação das normas e a
complexidade envolvida nos julgamentos desses delitos.

Palavras-chaves: crimes eleitorais, corrupção eleitoral, falsidade ideológica


eleitoral, Código Eleitoral, Justiça Eleitoral, dolo específico, liberdade
política, autenticidade documental.

1 INTRODUÇÃO
1
Graduando do curso de Direito. Universidade do Estado de Minas Gerais.
2
Graduando do curso de Direito. Universidade do Estado de Minas Gerais.
3
Graduando do curso de Direito. Universidade do Estado de Minas Gerais.
4
Graduando do curso de Direito. Universidade do Estado de Minas Gerais.
5
Graduando do curso de Direito. Universidade do Estado de Minas Gerais.
Crime Eleitoral é toda infração prevista como crime no Código Eleitoral, na Lei
nº 9.504/97 (Estabelece normas para a eleição) e nas demais leis que regulam o Direito
Eleitoral, a exemplo da Lei Complementar nº 64/90 (Estabelece, de acordo com o art.
14, § 9º, da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e
determina outras providências), da Lei nº 6.996/82 (Dispõe sobre a utilização de
processamento eletrônico de dados nos serviços eleitorais e dá outras providências) e da
Lei nº 6.091/74 (Dispõe sobre o fornecimento gratuito de transporte, em dias de eleição,
a eleitores residentes nas zonas rurais, e dá outras providências).
O crime eleitoral por sua maioria é considerado um crime comum, o que
significa que não há necessidade de qualquer qualificação específica por parte do autor
para que ele seja cometido. Desta forma, qualquer pessoa pode incorrer nas penalidades
previstas no código se cometer a infração penal. Como exemplo, nos crimes eleitorais
cometidos por meio da imprensa, do rádio ou da televisão, aplicam-se exclusivamente
as normas do Código Eleitoral e demais leis previstas.
Os crimes eleitorais são de ação penal pública, ou seja, qualquer cidadão tem o
direito de comunicar a infração penal através de uma notícia-crime eleitoral, que pode
ser apresentada ao Juiz Eleitoral tanto por escrito quanto verbalmente. Neste sentido, a
Justiça Eleitoral possui a competência pelo processamento e julgamento dos crimes
eleitorais e dos demais crimes conexos.
Contudo, cabe ressaltar que existe prerrogativa de foro para o Presidente e Vice-
Presidente da República (STF), para os Governadores e Vice-Governadores de Estados
e do Distrito Federal (STJ) e, por fim, Prefeitos Municipais (TREs).
Pois bem, após ver o conceito de crime eleitoral, se faz necessário estudar alguns
dos crimes previstos no Código Eleitoral.

2 CORRUPÇÃO ELEITORAL
Previsto no art. 299 do Código Eleitoral, a corrupção eleitoral reúne as duas
modalidades de corrupção: a ativa, consubstanciada nos núcleos verbais dar, oferecer e
prometer; e a passiva, nos verbos solicitar e receber, vejamos:
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem,
dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para
conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita:
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.
O crime de corrupção eleitoral ocorre de forma imediata, sendo suficiente a
simples realização de um dos atos previstos no caput (dar, oferecer, prometer, solicitar
ou receber). Além disso, é considerado um crime formal, já que sua consumação não
depende do resultado, ou seja, da real entrega do benefício em troca do voto ou da
abstenção, não importando se o eleitor influenciado realmente votou no candidato
indicado.
Desse modo, são considerados culpados para fins penais tanto aquele que
compra voto quanto aquele que o vende. Aquele que compra é acusado de corrupção
ativa e aquele que o vende é acusado de corrupção passiva.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, já o sujeito passivo deve ser
exclusivamente um eleitor.
O elemento subjetivo do crime é o dolo, exigindo-se o especial fim de agir,
vinculado à finalidade de obtenção do voto ou abstenção.
O bem jurídico protegido pela corrupção eleitoral é a liberdade no exercício dos
direitos políticos, especialmente o direito de voto.
Ressalta-se que a conduta de corrupção eleitoral poderá, ao mesmo tempo, caracterizar a
capacitação de sufrágio, prevista no art. 41-A da Lei das Eleições.
Considerando todo o exposto acima, confira o entendimento jurisprudencial do
TER:
RECURSO. AÇÃO PENAL. ELEIÇÃO 2016. CORRUPÇÃO ELEITORAL
ATIVA. ART. 299 DO CÓDIGO ELEITORAL. ABSOLVIÇÃO NA
ORIGEM. DISTRIBUIÇÃO DE VALES-COMBUSTÍVEL EM TROCA DO
VOTO. COMPROVADAS A MATERIALIDADE E AUTORIA
DELITIVA. PROVIMENTO.
O tipo previsto no art. 299 do Código Eleitoral é crime formal, não
necessitando da ocorrência do resultado naturalístico, como o efetivo voto ou
abstenção em favor do corruptor. Exigido, outrossim, para sua caracterização,
a presença do chamado dolo específico, que, no caso, é a intenção de obter ou
dar voto ou prometer ou conseguir abstenção. No caso, o acusado, com a
finalidade de obter votos para o seu irmão, ofereceu vantagem a eleitor,
incidindo, assim, nas penas do delito de corrupção eleitoral. Comprovada,
mediante provas documentais e testemunhais, a distribuição de vale-
combustível em troca de voto em favor de candidato a vereador.
Configuradas a materialidade e a autoria delitivas. Condenação. Provimento.
(TRE-RS - RC: 47594 TAPEJARA - RS, Relator: LUCIANO ANDRÉ
LOSEKANN, Data de Julgamento: 18/09/2018, Data de Publicação:
DEJERS - Diário de Justiça Eletrônico do TRE-RS, Tomo 172, Data
21/09/2018, Página 5)

3 FALSIDADE IDEOLÓGICA ELEITORAL


O crime de falsidade ideológica eleitoral está previsto no art. 350 do Código
Eleitoral, vejamos:
Art. 350. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele
devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da
que devia ser escrita, para fins eleitorais:
Pena - reclusão de até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa, se o
documento é público, e reclusão de até três anos e pagamento de 3 a 10 dias-
multa se o documento é particular.
Parágrafo único. Se o agente da falsidade documental é funcionário público e
comete o crime prevalecendo-se do cargo ou se a falsificação ou alteração é
de assentamentos de registro civil, a pena é agravada.

Diferente da falsidade material encontrada nos artigos anteriores do código,


aqui, a falsidade ideológica atinge a essência e o propósito do documento, mesmo que
ele seja formalmente correto e válido.
Omitir significa ocultar ou deixar de mencionar uma declaração que deveria
constar em um documento público ou privado. Inserir quer dizer adicionar ou incluir,
enquanto fazer inserir refere-se ao ato de acrescentar uma declaração ao documento por
meio de uma outra pessoa.
A lei pune mais severamente a falsidade ideológica eleitoral em documentos
públicos devido aos efeitos mais graves que essa ação pode causar, bem como se o
crime for praticado por um funcionário público.
O elemento subjetivo do crime é o dolo, contudo, a expressão "para fins
eleitorais" exige a presença de dolo específico.
O crime se concretiza quando ocorre a omissão ou a inclusão de uma declaração
em um documento público ou privado, com objetivos eleitorais. Trata-se de um crime
formal, pois não é necessário que a ação criminosa produza um resultado específico
para que o delito seja configurado.
O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, tanto o funcionário público
quanto um particular. O crime tem natureza comum. O sujeito passivo nesse caso é o
Estado.
Ademais, o objeto jurídico do crime é a fé pública eleitoral e a autenticidade dos
documentos.
Neste sentido, confira o entendimento jurisprudencial do TER:
RECURSO. CRIME ELEITORAL. ART. 350 DO CÓDIGO ELEITORAL.
FALSIDADE ELEITORAL. IMPROCEDÊNCIA. ABSOLVIÇÃO.
ACERVO PROBATÓRIO INSUFICIENTE PARA FORMAÇÃO DE
JUÍZO CONDENATÓRIO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.
DESPROVIMENTO.
O delito tipificado no art. 350 do Código Eleitoral trata da prática de conduta
consistente em omitir, em documento público ou particular, declaração que
dele deveria constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa, para fins
eleitorais. Alegada inserção de documento falso em processo de prestação de
contas eleitorais, mediante recibo simulando a prática de doação estimável
em dinheiro, a qual jamais existiu. Acervo probatório escasso e insuficiente
para comprovar a ocorrência do fato narrado nos autos. Manutenção da
sentença absolutória. Provimento negado.
(TRE-RS - RC: 9296 BARRA DO RIBEIRO - RS, Relator: JOÃO BATISTA
PINTO SILVEIRA, Data de Julgamento: 07/05/2019, Data de Publicação:
DEJERS - Diário de Justiça Eletrônico do TRE-RS, Tomo 83, Data
10/05/2019, Página 5)

3 CONCLUSÃO
O presente estudo evidencia a complexidade e a relevância dos crimes eleitorais
no contexto jurídico brasileiro, destacando a necessidade de uma abordagem robusta
para sua prevenção e repressão. A corrupção eleitoral e a falsidade ideológica ameaçam
a integridade do processo democrático ao comprometer a liberdade de voto e a
autenticidade dos documentos eleitorais.
Dessa forma, é imperativo que o sistema jurídico evolua para enfrentar as
nuances dos crimes eleitorais, garantindo que a legislação acompanhe as mudanças
sociais e tecnológicas que impactam o cenário eleitoral, assegurando, assim, um
ambiente eleitoral justo e equitativo para todos os cidadãos.

REFERÊNCIAS
NETO, Jaime Barretos. DIREITO ELEITORAL – 10. Ed. Salvador: Juspodivm,
2020.
LEI Nº 4.737 DE 15 DE JULHO DE 1965. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737compilado.htm. Acesso dia 06 agosto
de 2024.

Tribunal Regional Eleitoral – RS. Disponível em:


https://www.tre-rs.jus.br/jurisprudencia/emtema-novo/crimes-eleitorais/falsidade-
ideologica-eleitoral-caixa-2. Acesso em 06 de agosto de 2024.

Tribunal Regional Eleitoral – RS. Disponível em:


https://www.tre-rs.jus.br/jurisprudencia/emtema-novo/crimes-eleitorais/compra-de-
votos. Acesso 06 de agosto de 2024.

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