Qualificação V1
Qualificação V1
Qualificação V1
Escola de Engenharia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Construção e Infraestrutura
Porto Alegre
2024
JORGE LUIZ DA SILVA NUNES
Porto Alegre
2024
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Porém este setor enfrenta desafios, tais como a emissão de CO2 consequente do fabrico
do cimento, fator que toma destaque frente à pauta de mudanças climáticas no debate
internacional. Esta emissão varia de país para país, dependendo das matérias-primas e
técnicas utilizadas na produção. O Brasil tem hoje um fator de emissão de aproximadamente
610 kg CO2/t cimento, enquanto Inglaterra e China emitem 839 kg e 848 kg CO 2/ton. cimento,
respectivamente. É estimado que o seja responsável 5% do total de CO 2 emitido na atmosfera
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e, caso este ritmo seja mantido sem inovações, é estimado que no futuro o setor poderá ser
responsável por cerca de 20% do total de CO2 emitido. (JOHN, 2024).
Neste sentido, várias alternativas estão sendo desenvolvidas de forma a aperfeiçoar o
uso de cimento pela construção civil, dentre elas o uso do concreto reforçado têxtil.
Concreto reforçado têxtil (TRC - textile reinforced concrete), também chamado de
argamassa reforçada têxtil (TRM - textile reinforced mortar) é um concreto de granulação
fina, onde a armadura de aço é substituída por tramas têxteis produzidas a partir de fibras, tais
como vidro, carbono, aramida, basalto, polibenzoxazol (PBO), sisal, etc. (Figura 2).
A alta resistência à tração das fibras em relação ao seu peso e dimensões é uma das
principais vantagens da utilização de têxteis como alternativa ao aço, além da alta
flexibilidade e maior durabilidade contra ambientes corrosivos, permitindo limitar a camada
de cobertura de concreto a uma escala de alguns milímetros, possibilitando o projeto de
elementos de concreto que apresentam a mesma resistência do concreto convencional, mas
com seções transversais menores, leves e delgadas, permitindo espessuras entre 5 e 50 mm de
espessura por camada, consequentemente reduzindo o consumo de cimento quando
comparado ao sistema convencional (Figura 3).
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1. DIRETRIZES DE PESQUISA
1.2. OBJETIVOS
Como objetivo geral, foi realizado um estudo sobre resistência mecânica do TRC
imerso num ambiente de altas temperaturas, analisando experimentalmente seus parâmetros
de resistência a tração direta, pós-exposição a cargas térmicas elevadas.
1.3. PREMISSA
Uma vez que todas as estruturas estão sujeitas ao potencial risco de incidentes
envolvendo elevadas cargas térmicas, é salutar a pesquisa e entendimento do comportamento
de materiais, de forma a garantir seu melhor desempenho, eficiência e garantia de máxima
segurança a todos os usuários daquela estrutura.
1.4. DELIMITAÇÕES
A pesquisa delimita-se ao estudo dos efeitos das elevadas temperaturas apenas sob a
resistência a tração residual do TRC, com foco no comportamento da armadura têxtil visto que
o compósito é constituído pela união de vários materiais que de forma integrada fornecem sua
estabilidade mecânica, como por exemplo, sua matriz cimentícia.
1.5. LIMITAÇÕES
1.6. DELINEAMENTO
O trabalho será realizado através das etapas apresentadas no diagrama da Figura 4 e são
descritas nos próximos parágrafos:
a) Pesquisa bibliográfica;
b) Definição do programa experimental
c) Ensaios e coleta de resultados;
d) Análise dos resultados obtidos através dos ensaios;
e) Considerações finais e conclusões.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
O concreto têxtil é um material inovador, desenvolvido no início dos anos 2000 nas
universidades de RWTH Aachen University Aachen e Technische Universität Dresden, ambas
na Alemanha, onde a partir dos fundamentos do uso de fibras curtas no reforço do concreto e
princípios utilizados no dimensionamento de estruturas convencionais de concreto armado, foi
obtido um material que possibilitava a produção de elementos significativamente mais finos e
leves, mantendo a mesma resistência mecânica do concreto convencional. (HEGGER et al.,
2006).
O concreto têxtil é um material compósito que combina uma matriz cimentícia
produzida com agregados de baixa granulometria e uma armadura têxtil geralmente
confeccionada de fibras de alta resistência, tais como carbono, aramida, vidro, polipropileno
ou poliéster (Figura 5). Essas fibras tramadas em configurações bi ou tridimensionais são
incorporadas durante a moldagem dos elementos de concreto, melhorando suas propriedades
mecânicas, como resistência à tração, tenacidade e durabilidade (HEGGER et al., 2008).
Figura 5 - Sistema de reforço para concreto: (a) concreto armado convencional (b) concreto
reforçado com fibras dispersas (c) TRC.
Entretanto, mesmo que o TRC seja um material consolidado por mais de duas décadas
de uso, ainda não há regulamentações aprovadas para seu emprego. Alguns procedimentos
pontuais foram necessários para o desenvolvimento de suas aplicações, sendo os primeiros
procedimentos gerais apresentados em 2013 para pequenos painéis de fachadas e 2014 para
reforço de estruturas internas de concreto armado, especialmente submetidas a esforços de
flexão na zona de tração sob carregamento predominantemente estático. Este último é tido um
importante marco para o concreto têxtil e deixa precedentes para futuras regulações
(SCHEERER et al., 2017).
2.2. TÊXTEIS
Os têxteis técnicos são aos materiais confeccionados com fibras de alta resistência,
como carbono, polipropileno, poliéster, aramida ou vidro, tramadas para formar malhas
flexíveis, duráveis e leves, que ao serem incorporados ao concreto, resultam na melhoria de
propriedades mecânicas (Figura 8). Estes materiais desempenharam um papel crucial na
evolução do concreto convencional para o concreto têxtil, proporcionando ganhos
significativos de desempenho estrutural, durabilidade e economia de materiais (RAUPACH et
al., 2006).
As malhas têxteis são normalmente dispostas de uma a três camadas, sendo as fibras
de carbono ou vidro as mais utilizadas na produção do TRC, permitindo customizar e otimizar
projetos ao empregar o quantitativo exato de reforço, devidamente ajustado as propriedades e
geometria do elemento ao qual será agregado (ORTLEPP et al., 2008).
Os fios da malha têxtil são constituídos por filamentos, e estes podem ser externos ou
internos. Assim, o tratamento dado aos fios de um têxtil influi na aderência entre os próprios
filamentos e entre os filamentos e a matriz, implicando em comportamentos diversos de uma
matriz reforçada com o têxtil quando ela é submetida, por exemplo, a carregamento de tração
(DONINNI et al., 2017).
Os têxteis podem ser previamente tratados por meio de um processo denominado
impregnação, que consiste em alinhadas as fibras, agrupando-as na configuração desejada e
posteriormente sendo revestidas ou saturadas com resina líquida, apresentando
comportamento termofixo ou termoplástico após o processo de cura. A impregnação assegura
que as fibras sejam completamente envolvidas pelo material de resina, proporcionando-lhes
resistência adicional, estabilidade estrutural e proteção contra agressividade ambientais
(KÖCKRITZ et al., 2006). Através da impregnação, é possível ativar os filamentos de núcleo
do feixe e transmitir a carga igualmente por toda trama (Figura 10), uma vez que este
tratamento propicia uma maior homogeneidade às mechas, resultado da colagem entre
filamentos, resultando numa melhor ativação da seção transversal de todo o têxtil (HEGGER
et al., 2006).
A indústria de têxteis faz uso de vários tipos de resina para impregnação das fibras
(Figura 11), fornecendo características específicas que influenciam diretamente o desempenho
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As fibras de vidro são produzidas a partir de sílica da areia (SiO 2) que é fundida a
temperaturas maiores do que 1350°C, a qual sendo resfriada rapidamente, resulta numa
estrutura atômica amorfa, conhecida como vidro.
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Os projetos em TRC não podem ser dimensionados a parir de modelos prescritos para
o concreto armado convencional, uma vez que o comportamento dos esforços sobre a
armadura têxtil difere daquele sobre armadura de aço, devido, entre outras, as propriedades de
aderência de cada material, sendo necessário equações específicas para o dimensionamento de
elementos neste material. As equações 2, 3 e 4 permitem o computo da capacidade de carga à
tração (Fctu) de uma seção de concreto têxtil (HEGGER et al., 2008).
3. MATERIAIS E MÉTODOS
O desempenho mecânico do TRC tem sido amplamente estudado nas últimas décadas,
estando a pesquisa do tema ainda em andamento. Apesar dos anos de investigações contínuas,
há alguma dificuldade em compilar o conhecimento obtido, pois ainda não há um método de
teste padrão (D’ANTINO, PAPANICOLAOU, 2017). A situação é ainda pior quando se trata
de carga térmica, visto que conhecimento disponível de investigações experimentais onde o
TRC, foi construído a partir de ensaios com significativas variações nas taxas de aquecimento,
nos métodos e posicionamento das medições de temperatura e nos tempos de exposição e
tipos de carregamentos, além das variações nas amostras, tais como geometria ou métodos de
fixação, resultando em certo grau, na inconsistência dos métodos de ensaio e respostas de
fenômenos relacionados a exposição a elevadas temperaturas (KAPSALIS et al., 2021).
Também é verificado que a literatura, que os ensaios de térmicos são projetados num
regime permanente de temperatura, onde uma taxa de calor fixa é entregue as amostras até
que seja atingido um patamar esperado, a partir do qual a temperatura é mantida constante
durante todo o período do ensaio. Entretanto esta conformação não é aquela verificada na
ocorrência real de um sinistro, onde elevadas temperaturas são ofertadas aos elementos de
concreto em curtos períodos, a taxas variáveis de aquecimento. Outras observações
pertinentes se referem ao fato dos fornos e muflas utilizadas nos trabalhos citados não
conseguirem entregar as taxas de aquecimento preconizadas pelas curvas de incêndio
padronizadas. Também foi verificado grande variedade de patamares de temperatura durante
os ensaios térmicos (KAPSALIS et al., 2021).
Neste sentido, na tentativa de contornar a limitação trazida pela efêmera padronização
nas pesquisas e visando alcançar uma base comparativa para a boa análise de resultados,
foram elencadas as condições de contorno que guardam similaridade do referencial
bibliográfico com os objetivos deste estudo.
Do exposto, a metodologia experimental empregada visa avaliar as propriedades
mecânicas residuais do TRC, que transitou da temperatura ambiente, até aquelas avaliadas,
retornando, por meio de um resfriamento lento, novamente a temperatura ambiente.
Finalizada esta fase, os corpos de prova foram analisados para coleta final de resultados que
serviriam para verificar os impactos das variáveis sob a resistência a tração direta do TRC.
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Na seleção do cimento refratário empregado neste estudo, optou-se por seguir aquele
já utilizado na pesquisa de RAMBO (2017), uma vez que não foram relatados problemas ou
alterações com o produto ao longo de trabalho. O produto atende pelo nome comercial de
SECAR®51 da empresa Imerys, o qual segundo a empresa, se trata de um ligante hidráulico,
com teor de alumina de aproximadamente 50% e baixo teor de ferro, parâmetros que resultam
na produção de concretos adequados a suportar condições severas de trabalho, com excelentes
propriedades mecânicas. A tabela 3 apresenta a composição química do material.
3.3. TÊXTIL
A pesquisa utiliza como reforço têxtil de tela de fibra de vidro impregnada, malha
10x10mm, índice AR-360-RA-4R da empresa TEXIGLASS®, caracterizado a tabela 4.
Embora não seja o têxtil com maior resistência a esforços, se trata de um material
capaz de atender o objeto do estudo. Também é relevante salientar, que os têxteis de fibra de
vidro ainda são os mais empregados na para produção de TRC, sendo um produto de baixo
custo e facilitada disponibilidade junto ao mercado (GRIES et al.,2006).
Além disso, um requisito importante para que as fibras de vidro sejam usuais na
construção civil é ter seus fios especificamente projetados, incorporando minerais como
dióxido de silício e óxido de zircão, de forma a resistir ao meio alcalino corrosivo do concreto
(GRIES et al.,2006).
serviço, alcançando o ponto de transição vítrea (Tg) e consequente mudança do estado solido,
para o estado plástico e flexível do material. A segunda temperatura de ensaio foi definida em
250°C, tal limite foi escolhido de forma a transpor o limite da temperatura de degradação
prevista para a resina, quando ocorrem danos a sua estrutura molecular levando a uma
deterioração significativa das suas propriedades físicas e químicas, com perda de aderência e
comprometimento da resistência mecânica.
da condutividade térmica do concreto (0,8 – 1,5 W/mK) de forma que toda massa das
amostras atingisse um equilíbrio térmico com o interior da mufla e sofresse as possíveis
alterações causadas pelas cargas térmicas em todo o volume do corpo de prova.
4. ANALISE DE RESULTADOS
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
BRAMESHUBER, W.; HINZEN, M.; DUBEY, A.; PELED, A.; MOBASHER, B.;
BENTUR, A.; ALDEA, C.; SILVA, F.; HEGGER, J.; GRIES, T; WASTIELS, J; K.
MALAGA, K; PAPANICOLAU, C; TAERWE, L; CURBACH, M; MECHTCHERINE, V;
NAAMAN, A; ORLOWSKY, J; HAMELINH, P; REINHADT, W; SHAH, S; TOLEDO, R;
TRIANTAFILLOU, T; LARBI, AS; GARCIA, D; GARMENDIA, L; GOPINATH, S; JESS,
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GRIES, T.; ROYE, A.; OFFERMANN, P.; ENGLER, T.; PELED, A; Textiles: State-of the
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NGUYEN, TH; VU, XH; LARBI, AS; FERRIER, E; Experimental study of the effect of
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properties of textile reinforced concrete (TRC) subjected to elevated and high temperature
loading: Experimental and comparative study. Composites Part B: Engineering, Vol. 144,
2018.