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INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

ENGENHARIA METALÚRGICA

NICHOLAS HENRIQUE DOS SANTOS RUPP

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITO DE


POLIPROPILENO E RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Vitória

2018
NICHOLAS HENRIQUE DOS SANTOS RUPP

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITO DE


POLIPROPILENO E RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenadoria do Curso de Engenharia Metalúrgica do
Instituto Federal do Espirito Santo como requisito parcial
a obtenção do título de Bacharel em Engenharia
Metalúrgica.

Orientadora: Prof. Drª. Rosana Vilarim da Silva

Vitória

2018
À memória dos meus queridos avôs,
Arthur e José, meus primeiros heróis
e eternos mestres.
AGRADECIMENTOS

À Deus, por não ter desistido dessa alma.

À toda a minha família, em especial, ao meus pais Evandro e Terezinha, à minha


madrasta Edma, à minha avó Maria Lacy, e às minhas irmãs Maria Eduarda e Maria
Luisa pelo apoio constante e pela fé que depositaram em mim.

Aos meus tios José Luiz e Eunice, que me acolheram em boa parte dessa aventura.

À prof. Dra. Rosana Vilarim da Silva, por ter sido minha mãe no mundo acadêmico e
por ter me orientado e direcionado por tantos semestres.

À prof. Dra. Desilvia Machado Louzada e à prof. Dra. Georgia Serafim Araújo, pela
orientação, pelos “macetes” e pelas risadas.

A todos os meus colegas e amigos que me acompanharam nessa jornada, em


especial àqueles que trabalharam nesse projeto: Mateus Ciríaco Amaral, Victor de
Brito Oliveira, Thiago de Almeida e Écio Bosi Júnior.

Ao técnico Cláudio Patrocínio Junior pelo auxílio na realização dos ensaios de


flexão.

À minha amiga e conselheira Cassia, pela força nos tempos escuros.


RESUMO

Com a busca de técnicas de produção mais sustentáveis nota-se um maior interesse


dos pesquisadores em estudos relativos à reutilização de resíduos e à reciclagem de
produtos e componentes. Nesse contexto a construção civil se destaca como um
setor da indústria que é capaz de absorver seus próprios resíduos quase por
completo. Os resíduos de construção civil e demolição (RCD) possuem alto potencial
de reutilização, podendo ser utilizados como agregados na pavimentação. Nesta
área destacam-se os pavimentos permeáveis que podem atenuar outro grave
problema urbano: a impermeabilização do solo. Considerando-se tais problemas, a
proposta deste trabalho é desenvolver e caracterizar placas de material compósito
com potencial de aplicação em pavimentos permeáveis. O compósito é formado por
polipropileno (PP) e agregados RCD. As placas de compósito foram confeccionadas
pela técnica de compressão a quente e caracterizadas em termos de permeabilidade
e resistência à flexão. Foram confeccionados quatro tipos de placas sendo três do
tipo permeável e uma do tipo impermeável. Para as placas permeáveis foi analisado
o efeito da composição granulométrica do RCD e da inserção de uma tela de aço no
centro da placa atuando como reforço adicional. As placas permeáveis
apresentaram elevados coeficientes de permeabilidade, muito superiores ao mínimo
previsto pela norma ACI – 552R – 06 para concretos permeáveis. A incorporação da
tela de aço no interior das placas permeáveis promoveu aumento das propriedades
em flexão sem perda da permeabilidade. Já as placas impermeáveis apresentaram
propriedades em flexão cerca de três vezes superiores às placas permeáveis, com
mesma distribuição granulométrica e percentual de RCD. O desempenho das placas
foi comparado com os requisitos mínimos exigidos pela norma ABNT NBR 13818 –
97 para materiais de revestimento. As placas apresentaram cargas de ruptura
superiores ao mínimo exigido, porém não atenderam ao mínimo para o módulo de
resistência à flexão. Importante salientar que esta norma é específica para materiais
cerâmicos e foi utilizada neste trabalho por não haver norma pertinente. De maneira
geral, ainda há margem para se melhorar o desempenho em flexão das placas de
compósito.

Palavras-Chave: Resíduo de construção e demolição, Compósitos de matriz


polimérica, permeabilidade.
ABSTRACT

With the search for more sustainable production techniques, researchers are more
interested in research about the reuse of waste and recycling of products and
components. In this context, construction stands out as an industry that is able to
absorb its own waste almost completely. Construction and demolition waste (CDW),
has high potential for reuse and can be used as aggregates in paving. In this area
stand out the permeable pavements that can attenuate another serious urban
problem: the soil sealing. Considering these problems, the proposal of this work is to
develop and to characterize composite plates with potential for application in
permeable pavements. The composite is formed by polypropylene (PP) and CDW.
The composite plates were made by the hot pressing process and characterized in
terms of permeability and flexural strength. Four types of plates were made, three of
which were permeable and one impermeable. For the permeable plates, the effect of
the CDW granulometric distribution and the insertion of a steel grid in the center of
the plate were analyzed as additional reinforcement. The permeable plates
presented high permeability coefficients, much higher than the minimum predicted by
the ACI - 552R - 06 standard for pervious concretes. The incorporation of the steel
grid inside the permeable plates promoted increased flexural properties without loss
of permeability. On the other hand, the impermeable plates presented flexural
properties about three times superior to the permeable plates, with the same
granulometric distribution and percentage of RCD. The performance of the plates
was compared to the minimum requirements required by ABNT NBR 13818 standard
for coating materials. The plates presented rupture loads higher than the minimum
required, but did not meet the minimum for flexural modulus. It is important to note
that this standard is specific for ceramic materials and was used in this work because
there is no specific standard for the material developed. In general, there is still room
to improve the flexural performance of the composite plates.

Keywords: Construction and demolition waste, polymer martrix composites,


permeability.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema de classificação de materiais compósitos segundo o tipo


de reforço ................................................................................................. 11
Figura 2 - Estrutura do polipropileno ......................................................................... 13
Figura 3 - Estrutura de um pavimento permeável ..................................................... 15
Figura 4 - Distribuições granulométricas: a) Contínua, b) Descontínua e
c) Uniforme ............................................................................................... 17
Figura 5 - Polipropileno homopolímero H301 (à esquerda) e RCD (à direita) ........... 21
Figura 6 - RCD: faixa 1(grosso), faixa 2 (médio) e faixa 3 (fino); da esquerda para a
direita. ....................................................................................................... 23
Figura 7 - (a) Termo-prensa com molde adaptado e (b) detalhe do molde com
distribuição da mistura de RCD e PP. ...................................................... 24
Figura 8 – Tela de aço com abertura de 15 x 15 mm. ............................................... 25
Figura 9 - Permeâmetro construído especificamente para esse trabalho ................. 26
Figura 10 - Placa (P4) posicionada para o ensaio de flexão. .................................... 28
Figura 11 - Materiais que compõem o RCD da faixa 2: a) Argamassa de concreto,
b) Rochas naturais, c) Cerâmica vermelha, d) Gesso, e) Pós e f) Outros 30
Figura 12 - Superfície superior das placas: a) P2 (permeável),
b) P4 (impermeável) e c) P3 (permeável com tela) .................................. 33
Figura 13 - Placa P3 (permeável com tela): a) superfície inferior e
b) Lateral, com destaque para o posicionamento da tela. ........................ 34
Figura 14 - Superfície de fratura de uma placa P2 (permeável) ................................ 35
Figura 15 - Superfície de fratura de uma placa P4 (impermeável) ............................ 35
Figura 16 - Placa P1 submetida a um fluxo de água de uma torneira. ...................... 36
Figura 17 - Curvas de carga x deslocamento obtidas no ensaio de flexão ............... 39
Figura 18 - Detalhe de uma placa P3 sendo ensaiada em flexão após uma
deformação superior a 10 mm. ................................................................. 39
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características do polipropileno homopolímero H 301 ............................. 22


Tabela 2 - Faixas granulométricas do RCD .............................................................. 22
Tabela 3 - Características das placas confeccionadas ............................................. 25
Tabela 4 - Composição de RCD para cada faixa granulométrica
(% em massa). ......................................................................................... 31
Tabela 5 - Coeficientes de permeabilidade (K) em m/s............................................. 36
Tabela 6 - Resultados dos ensaios de flexão. ........................................................... 37
LISTA DE ABREVIATURAS

ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACI – American Concrete Iniciative

ASTM – American Society for Testing Materials

CONAMA – Conselho nacional de meio ambiente

CR – Carga de ruptura

CRe – Carga de ruptura específica

CSI – Cement Sustentable Iniciative

MRF – Módulo de resistência à flexão

MRFe – Módulo de resistência à flexão específico

NBR – Norma Brasileira

PEBD – Polietileno de Baixa Densidade

PP – Polipropileno

PVC – Policloreto de vinila

RCD – Resíduo de construção civil e demolição

SBR – Borracha estireno-butadieno


LISTA DE SÍMBOLOS

A1 – Área da sessão transversal da amostra (ensaio de permeabilidade)

A2 – Área da sessão da saída do tubo de PVC do permeâmetro

b – Largura da placa ao longo de ruptura (Ensaio de flexão)

e – Espessura média da placa (ensaio de flexão)

F – Força de ruptura (Ensaio de flexão)

hf – Altura final do nível de água (Ensaio de Permeabilidade)

hi – Altura inicial do nível de água (Ensaio de permeabilidade)

k – coeficiente de permeabilidade

L – Distância entre apoios (Ensaio de flexão)

L – Espessura da placa (Ensaio de permeabilidade)

t – Tempo em que o nível de água leva para percorrer a marca de hi até hf (Ensaio
de permeabilidade)
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

2 OBJETIVOS ................................................................................................... 3

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 3

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 3

3 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 4

3.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL......................................................... 4

3.1.1 Construção civil e desenvolvimento sustentável ...................................... 5

3.2 RESÍDUOS DE CONTRUÇÃO CIVIL E DEMOLIÇÃO (RCD) ........................ 7

3.2.1 Composição e aplicação dos RCD ............................................................. 9

3.3 MATERIAIS COMPÓSITOS ......................................................................... 10

3.3.1 Definições e classificação ......................................................................... 10

3.3.2 Compósitos de matriz polimérica ............................................................. 12

3.4 REVESTIMENTOS PERMEÁVEIS .............................................................. 14

3.4.1 A urbanização e a impermeabilização do solo ....................................... 14

3.4.2 Pavimentos Permeáveis ........................................................................... 15

3.4.3 Pavimentos permeáveis com materiais alternativos ............................. 18

4 METODOLOGIA ......................................................................................... 21

4.1 MATERIAIS ................................................................................................ 21

4.2 MÉTODOS.................................................................................................. 22

4.2.1 Preparação e caracterização do RCD ..................................................... 22

4.2.2 Moldagem das placas de material compósito ........................................ 23

4.2.3 Determinação do coeficiente de permeabilidade................................... 26

4.2.4 Ensaio de flexão ....................................................................................... 27

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 30

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO RCD.................................................................... 30

5.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DE PROCESSAMENTO ............ 31


5.3 PROCESSO DE MOLDAGEM DAS PLACAS ........................................... 32

5.4 ENSAIO DE PERMEABILIDADE ............................................................... 35

5.5 ENSAIO DE FLEXÃO ................................................................................ 37

6 CONCLUSÕES .......................................................................................... 41

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................................ 42

REFERÊNCIAS ......................................................................................... 43
1

1 INTRODUÇÃO

A humanidade vem enfrentando diversos problemas que são essencialmente


consequências de seus próprios atos. O modelo de produção vigente desde a
revolução industrial tem um caráter linear, sendo o seu funcionamento baseado na
extração de matérias-primas naturais, confecção de bens e posterior descarte, um
tipo de lógica que assume que os recursos naturais são infindáveis e que o meio
ambiente é capaz de absorver resíduos ilimitadamente. Paralelamente, com o
crescimento demasiado da população mundial e a urbanização de vastas áreas, há
a tendência de que cada vez mais parcelas do solo sejam impermeabilizadas. A
impermeabilização do solo tem como consequência direta a alteração dos ciclos
hidrológicos, o que pode acarretar problemas como arraste de poluentes para bacias
fluviais, a redução do volume de água dos lençóis freáticos e enchentes. Entretanto,
a partir do século XX surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, propondo
novos modelos de produção que permitissem a humanidade e as futuras gerações
uma vida confortável, sem causar grandes danos ao meio ambiente. Desde então,
tem havido uma maior preocupação em se reciclar e reutilizar materiais, bem como
buscar um modelo de desenvolvimento que causasse menos alterações nas
condições ambientais preexistentes. Diante de ambos os problemas, a construção
civil é um setor capaz de aproveitar em seus processos seus próprios resíduos, e
por vezes, resíduos de outros setores da indústria, e ainda, é o setor capaz de criar
“cidades verdes”, que possam fazer jus à premissa da sustentabilidade. Os resíduos
da construção civil e demolição (RCD), chamados popularmente de entulho,
possuem várias possibilidades de aplicação na construção civil como agregados,
especialmente na pavimentação de vias. Nesse contexto há a possibilidade de uso
desse material nos chamados pavimentos permeáveis, que são capazes de drenar a
água da chuva para seu interior e permitir que a mesma se infiltre no solo. Para a
construção de tais pavimentos são utilizados normalmente concretos asfálticos ou de
cimento Portland, entretanto, há uma ampla possibilidade de se utilizar materiais
alternativos na confecção desses pavimentos, como materiais poliméricos. É nesse
contexto que se insere a proposta deste trabalho, desenvolver um compósito a base
de polímero e RCD para ser utilizado como material de revestimento ou pavimento.
2

No caso, o polímero substitui o cimento como ligante dos agregados. Adicionalmente


pode-se obter um material permeável com potencial de aplicação em pavimentos
permeáveis. Vale destacar que a reciclagem pós uso do compósito é possível uma
vez que o polímero utilizado é do tipo termoplástico e pode ser reciclado por
processos termomecânicos.
3

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolver um compósito de polipropileno e resíduos de construção civil e


demolição (RCD), para ser aplicado como material de revestimento ou pavimentação
podendo ser permeável ou impermeável.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar o RCD em termos de composição;

Identificar a composição granulométrica mais adequada para atender aos requisitos


do compósito;

Identificar a razão em massa RCD/PP mais adequada para atender aos requisitos do
compósito;

Definir a rota de processamento mais adequada para a fabricação dos compósitos;

Obter o material compósito conforme processamento definido;

Avaliar as características e determinar as propriedades de interesse do material


compósito

Comparar as propriedades do material desenvolvido com as previstas pelas normas


que parametrizam revestimentos para construção civil.
4

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Nas sociedades mais primitivas não havia grande preocupação com a produção e
descarte de resíduos, visto que a produção de resíduos era insignificante diante da
grande assimilação ambiental. Entretanto, a partir do século XVIII, com o advento da
revolução industrial, a humanidade se viu diante de uma explosão produtiva, que
culminou em um crescimento urbano acelerado e na sociedade de consumo
(BRASILEIRO e MATOS, 2015).
Nesta nova sociedade, o desenvolvimento econômico está atrelado à transformação
da natureza, de forma a melhorar a qualidade de vida da parte beneficiada de seus
membros. Sua cultura está associada a um modelo de produção linear, no qual bens
são concebidos, projetados, construídos, utilizados, e em seguida, descartados no
meio ambiente, juntamente com os resíduos gerados durante sua produção. Fica
implícito nessa cultura produtiva que os recursos naturais disponíveis são infinitos e
que a natureza é capaz de absorver resíduos e dejetos ilimitadamente (JOHN,
2000).
Entretanto, principalmente no século XX, as consequências ambientais dessa cultura
se tornaram claras. Começam a surgir então, os primeiros questionamentos relativos
ao efeito estufa, ao aumento do consumo de energia, destruição da camada de
ozônio, poluição atmosférica e chuva ácida, consumo desmedido de matérias-primas
não renováveis, geração de resíduos, entre outros (BRASILEIRO e MATOS, 2015;
JOHN, 2000). A partir dessa preocupação, surge a ideia de desenvolvimento
sustentável. Segundo Chen e Chambers (1999), o desenvolvimento sustentável
pode ser definido como:
Aquele que permite atender às necessidades básicas de toda a população
e garante a todos a oportunidade de satisfazer suas aspirações a uma vida
melhor sem, no entanto, comprometer a habilidade das gerações futuras
de atender às suas próprias necessidades.
5

Esse conceito tem como implicação imediata a necessidade de se produzir o maior


volume de bens possível, com mínimo de recursos naturais e a menor poluição
possível. (BRASILEIRO e MATOS, 2015). Segundo Morais (2006), algumas medidas
que podem ser tomadas nesse sentido são: a redução do consumo de matérias
primas, que pode ser obtida por otimização dos processos, evitando desperdícios,
além da reciclagem e reaproveitamento; a substituição de materiais por outros mais
eficientes; o aumento da durabilidade dos produtos; a redução do consumo de
energia e a redução global da poluição.

3.1.1 Construção civil e desenvolvimento sustentável

Segundo John (2000), “[...] a construção civil é o setor da indústria cuja função é a
transformação do ambiente natural no ambiente construído, que será adequado ao
desenvolvimento das mais diversas atividades.” Este autor afirma ainda que toda
atividade econômica é precedida da construção civil, pois depende de edifícios e
instalações que são produtos desta indústria.
Brasileiro e Matos (2015) afirma que para cada 100 empregos diretos gerados pelo
setor, são gerados 62 empregos indiretos. Oliveira (2012) diz que esse setor é
prioritário na alocação de recursos escassos da economia e no fortalecimento do
setor social, devido à grande geração de empregos.
A importância do setor, em diversos aspectos, sejam eles sociais ou econômicos, é
indiscutível. Entretanto, visto o porte desta indústria, pode-se deduzir que esta seja
uma das grandes vilãs ambientais.
Estima-se que cerca de 50% dos recursos naturais extraídos sejam destinados à
construção civil (BRASILEIRO e MATOS, 2015). Mattos (2013) afirma que cerca de
50% do entulho gerado é disposto de maneira irregular na maioria dos centros
urbanos brasileiros. Além disso, ainda segundo Brasileiro e Matos (2015), a
construção civil causa danos ambientais em praticamente todos os seus processos,
desde a extração e processamento das matérias-primas, até a construção, uso e
manutenção dos produtos da construção civil.
Dentre os principais recursos naturais necessários à construção civil, estão materiais
como areias e cascalhos, que são extraídos de sedimentos aluviais. A extração
desses materiais modifica o perfil dos rios e seu equilíbrio, alterando suas estruturas
hidrológicas e hidrogeológicas. Outros materiais como rochas, são extraídos
6

principalmente em áreas acidentadas e montanhosas de difícil acesso, sendo


necessário o desmatamento de grandes áreas e gerando problemas de estabilidade
durante a mineração (RIBEIRO et al, 2009).
A indústria cimenteira, no contexto da construção civil, também causa grandes
impactos, principalmente devido ao gigantesco volume que é produzido anualmente.
O cimento Portland é a principal matéria prima do concreto ou betão, o material mais
utilizado em todo mundo. O processo de produção do cimento Portland envolve a
calcinação de calcário, obtendo-se como subproduto um volume exorbitante de CO2,
um dos gases do efeito estufa (JOHN, 2000). Segundo a Cement Sustainability
Iniciative – CSI (2012), essa indústria é responsável por 5% das emissões desse gás
decorrentes da atividade humana. Além do CO2, essa indústria contribui com a
emissão de outros poluentes atmosféricos, como óxidos de nitrogênio, óxidos de
enxofre, poeiras, poluentes orgânicos persistentes, mercúrio e micro-poluentes.
Adicionalmente, a extração do calcário impacta significantemente no que tange o
uso do solo e às comunidades próximas às minas. Emissão de poeiras, ruído e
tráfego de máquinas pesadas são consequências inevitáveis ao processo de
mineração.
O descarte em grandes volumes e sem critérios dos resíduos de construção civil e
demolição (RCD), também geram impactos significativos, especialmente quando
efetuados em locais de preservação ambiental, onde irão afetar o equilíbrio
ecológico, causar o assoreamento de cursos d’água, favorecer processos erosivos e
de contaminação do solo por meio de lixiviação de materiais tóxicos. No meio
urbano, o descarte desse material em vias públicas e terrenos baldios prejudica o
tráfego de pedestres e veículos, incentiva o descarte de outros resíduos domésticos
ou industriais, causam a obstrução do sistema de drenagem urbano e podem vir a se
tornar potenciais zonas de proliferação de vetores de doenças. (BAPTISTA JUNIOR
e ROMANEL, 2013; SINDUSCON-SP, 2005).
Diante de tais problemas, e do porte dos mesmos, torna-se evidente que medidas
devem ser propostas para minimizar tais problemas. Kilbert (1994) propôs alguns
princípios para tal finalidade: minimizar o consumo de recursos, maximizar a
reutilização de recursos, usar recursos renováveis ou recicláveis, proteger o meio
ambiente, criar um ambiente natural e não tóxico, evitar o uso de materiais que
7

causem danos ao meio ambiente e aos usuários; e buscar a qualidade no ambiente


construído.
Apesar de ser um dos principais vilões ambientais, o setor da construção civil é a
única indústria capaz de absorver seus próprios resíduos quase que em sua
totalidade. A engenharia civil não pode, como outras indústrias, reduzir a utilização
de matéria-prima sem comprometer a qualidade e durabilidade de seu produto
(edificação), entretanto, há um alto potencial de reutilização e reciclagem desses
resíduos na própria obra ou em usinas de beneficiamento (KARPINSK et al, 2009).
Nesse contexto, a reutilização de resíduos da construção civil é uma prática
importante na busca por uma indústria de construção civil sustentável, já que evita
que certo montante de resíduos seja descartado indevidamente ou que contribuam
com o esgotamento dos aterros sanitários, bem como podem substituir em certa
proporção matérias primas naturais cuja extração e/ou processamento são
extremamente danosos ao meio ambiente.

3.2 RESÍDUOS DE CONTRUÇÃO CIVIL E DEMOLIÇÃO (RCD)

Os resíduos de construção civil e demolição (RCD) são definidos de acordo com o


Art. 2º da resolução CONAMA nº 307 (BRASIL, 2002), como:
São os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de
obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação
de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos,
rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros,
argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos,
tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de
obras, caliça ou metralha.
O Art. 3º classifica os RCD em quatro classes:
 Classe A: Resíduos recicláveis ou reaproveitáveis como agregados, tais como
componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento, etc),
argamassa, concreto, partes de peças pré-moldadas, resultantes do desperdício ou
demolição nas mesmas, além de solos provenientes de terraplanagem.
 Classe B: Resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos,
papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros.
8

 Classe C: Resíduos para os quais ainda não foram desenvolvidas tecnologias ou


aplicações viáveis que permitam sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos
oriundos do gesso;
 Classe D: Resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como
tintas, óleos, solventes, e outros materiais tóxicos ou contaminados, inclusive
matérias provenientes de clínicas radiológicas, além do amianto (incluído pela
Resolução CONAMA 348/04) (BRASIL, 2002).
O Art. 4º determina que os RCD não poderão ser dispostos em aterros de resíduos
domiciliares, áreas de “bota-fora”, encostas, corpos d’água, lotes vagos e em áreas
protegidas por lei. Os destinos permitidos para o RCD irão variar conforme a classe
deste, o que é determinado pelo Art. 10º:
 Classe A: Devem ser reciclados ou reutilizados na forma de agregados, ou
encaminhados a áreas de aterros, nas quais permanecerão devidamente estocados
para usos futuros;
 Classe B: Devem ser reciclados, reaproveitados ou enviados a áreas de
armazenamento temporário, a fim de serem reciclados futuramente.
 Classe C: Devem ser armazenados, transportados e destinados conforme normas
técnicas específicas.
 Classe D: Devem ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados
conforme normas técnicas específicas (BRASIL, 2002).
Segundo os Art. 7º e 8º dessa resolução, a responsabilidade pela devida destinação
do RCD proveniente de pequenos geradores é dos municípios, que devem
implementar um Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos de Construção
Civil. Já os grandes geradores serão responsáveis pela destinação dos seus
próprios resíduos, sendo que estes deverão apresentar um Projeto de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil juntamente com o projeto do
empreendimento, a ser analisado pelo órgão regulador público.
Em 2 de agosto de 2010 foi sancionada por decreto presidencial a Lei nº 12.305, que
se refere à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que veio unindo forças à
resolução CONAMA nº 307, de 2002. Essa lei define a maneira como o país deve
dispor seus resíduos, com incentivos a reciclagem e a sustentabilidade. Algumas
diretrizes dessa lei são a eliminação dos “bota fora” em todo território nacional;
implantação de áreas de transbordo, triagem e reciclagem de RCD; fomento a
9

medidas de redução de geração de RCD em empreendimentos, entre outras. Uma


das metas dessa lei era o fechamento dos chamados “lixões” até 2014, o que não foi
cumprido no prazo por grande parte dos municípios brasileiros.

3.2.1 Composição e aplicação dos RCD

Definir uma composição padrão para os RCD é uma questão complicada, e talvez
impossível, pois dependerá da cultura construtiva de cada região, bem como
técnicas empregadas, o que definirá quais materiais farão parte da composição do
resíduo e sua proporção. Não se pode generalizar a composição desse material,
mas seus componentes devem ser caracterizados e classificados, de maneira a se
definir uma devida aplicação para cada tipo de RCD conforme sua composição
(BAPTISTA JUNIOR e ROMANEL, 2013; KARPINSK et al, 2009).
No Brasil, há a predominância de materiais cimentícios nos RCD, seguidos de outros
materiais, como rochas, componentes de vedação (tijolos maciços e furados de
cerâmica ou de concreto), e em alguns casos, solos. Em pequenas quantidades,
verifica-se resíduos de madeira, metais e plástico. Os RCD com grande quantidade
de materiais cimentícios e rochas tendem a se apresentar como um material de alta
qualidade e ampla aplicabilidade (KARPINSK et al, 2009).
Os RCD possuem uma ampla gama de aplicações na construção civil, que
dependerá, é claro, de sua composição. Os RCD de Classe A, mais
especificamente, podem ser transformados em pó de concreto, brita 1, 2, 3 e 4, bica
de corrida para aplicação em reforço de subleitos e sub-bases para a pavimentação
de estradas, estacionamentos, calçadas e ciclovias; cobertura de estradas vicinais e
pavimentos permeáveis. Podem ser utilizados ainda como agregados em concretos
não-estruturais, na confecção de argamassas de assentamento e revestimento, além
de sua alta aplicabilidade em produtos pré-moldados (blocos, meio-fio, entre outros).
Geralmente evita-se o uso de RCD em aplicações estruturais, pois, devido a sua
heterogeneidade, é comum apresentarem propriedades inferiores às matérias
primas naturais (BAPTISTA JUNIOR e ROMANEL, 2013; BRASILEIRO e MATOS,
2015).
10

3.3 MATERIAIS COMPÓSITOS

3.3.1 Definições e classificação

Callister Junior (2002) define um material compósito como “qualquer material


multifásico que exiba uma proporção significativa das propriedades de ambas as
fases que o constituem, de maneira a ser obtida uma melhor combinação de
propriedades”, e complementa que estes devem ser concebidos artificialmente, além
de que, as fases constituintes devem ser quimicamente distintas e possuir uma
interface distinta.
Materiais compósitos são compostos normalmente por duas fases, uma fase de
reforço, que estará imersa em uma fase aglutinante, chamada mais comumente de
matriz, que transmite as solicitações mecânicas para a fase de reforço, e permite
que as partículas de reforço transfiram esforços mecânicos entre si (LEVY NETO &
PARDINI, 2006). As propriedades dos compósitos são uma função das propriedades
dessas fases constituintes, especialmente em termos das frações de cada uma
destas e da geometria da fase de reforço (CALLISTER JUNIOR, 2002).
Na maioria dos materiais compósitos é possível se obter efeitos sinergéticos ao se
combinar as fases de reforço e matriz. Os materiais que compõem a matriz e o
reforço, se isolados, não possuiriam determinadas propriedades que possuem
quando estão unidos em um material compósito (LEVY NETO e PARDINI, 2006).
Essa classe de materiais é muito ampla e abrangente, cobrindo os polímeros
reforçados com fibras, os materiais híbridos metal/compósito e os concretos
estruturais, além de outros compósitos que incorporem matriz metálica ou cerâmica
(LEVY NETO e PARDINI, 2006).
Os materiais compósitos podem ser classificados segundo diferentes critérios, por
exemplo, segundo o tipo de matriz, que pode ser metálica, cerâmica ou polimérica.
Porém o critério de classificação mais utilizado entre os autores é em relação ao
reforço. A Figura 1 apresenta um esquema de classificação simplista, apresentado
por Callister Junior (2002).
11

Figura 1 - Esquema de classificação de materiais compósitos segundo o tipo de


reforço

Compósitos

Reforçados com Reforçados Estrutural


Partículas com fibras

Contínuo Descontínuo
(Alinhado) (curto)

Partículas
grandes Reforçados Painéis em Laminados
por dispersão sanduíche

Orientado
Alinhado aleatóriamente

Fonte: Adaptado de Callister Junior, 2002.

Como pode ser observado na Figura 1, os compósitos reforçados com partículas


podem ser classificados como sendo reforçados por partículas grandes ou por
dispersão.
“Partícula grande”, nesse contexto, refere-se à característica da interação entre
partícula e matriz, que não pode ser tratada em nível atômico ou molecular, de
maneira que será empregada a mecânica do contínuo. De maneira geral, para esses
compósitos a fase de reforço é mais dura e rígida que a matriz. Dessa forma, o
reforço tende a restringir o movimento da fase matriz na sua vizinhança e, além
disso, a matriz transfere uma parcela da carga ao reforço, que suporta a mesma. As
propriedades mecânicas e térmicas desse tipo de compósitos serão diretamente
influenciadas pelo tamanho e distribuição das partículas na matriz, bem como do
contato e adesão entre fase de reforço e matriz (CALLISTER JUNIOR, 2002; LEVY
NETO e PARDINI, 2006).
Em termos práticos e econômicos, disponibilidade de materiais para reforço na
forma de partículas é muito maior do que na forma de fibras, pois a produção de
materiais na forma de partículas é muito mais simples do que na forma de fibras. A
12

maioria dos materiais podem ser convertidos em pós por processos de moagem e
por métodos como precipitação em solução, atomização e sol-gel. Além disso, há
um alto potencial de aproveitamento de resíduos, que podem ser convertidos em
partículas (LEVY NETO e PARDINI, 2006).
Em muitos casos, além de melhorar certas propriedades dos materiais, reforços
particulados podem substituir parte do volume da matriz, o que é vantajoso quando o
reforço é um material de baixo custo se comparado à matriz. Esse é o caso de
diversos polímeros com enchimento particulado mineral. Além desse exemplo,
outros compósitos reforçados por partículas são os concretos. (CALLISTER
JUNIOR, 2002; LEVY NETO e PARDINI, 2006).

3.3.2 Compósitos de matriz polimérica

Os compósitos de matriz polimérica representam a maior parcela dos compósitos


produzidos e utilizados, em uma grande diversidade de aplicações, especialmente
quando reforçados por fibras. Sua popularidade se deve especialmente a suas
propriedades à temperatura ambiente, à facilidade de processamento e ao baixo
custo (CALLISTER JUNIOR, 2002).
Os polímeros mais utilizados como matriz em compósitos podem ser classificados
de acordo com sua resposta mecânica a altas temperaturas, em termoplásticos e
termorrígidos. Os termoplásticos amolecem ao serem aquecidos e em seguida se
liquefazem, voltando a endurecer quando resfriados, em um processo reversível que
pode ser repetido. Normalmente esses materiais e seus compósitos são
conformados por aplicação simultânea de calor e pressão. (CALLISTER JUNIOR,
2002).
Já os termorrígidos ou termofixos se tornam permanentemente endurecidos quando
submetidos ao calor e não amolecem com o aquecimento subsequente. Durante o
processamento, estes passam por uma reação de cura, na qual endurecem
permanentemente (CALLISTER JUNIOR, 2002).
Os termoplásticos são normalmente conformados por fusão utilizando técnicas como
a extrusão e injeção; técnicas que empregam maquinário complexo e de alto custo.
Já os processos empregados no processamento de termorrígidos são, em geral,
mais simples e de baixo custo. Normalmente termorrígidos, como a resina poliéster,
são conformados por compressão, onde a resina ainda líquida, após a adição do
13

catalisador, é disposta em um molde, com ou sem reforço, que é em seguida


fechado e submetido a uma carga imposta por uma prensa. Esse sistema pode ou
não ser submetido a um aquecimento. Apesar da simplicidade e baixo custo de
ferramental o processo é de baixa produtividade.
Os polímeros termoplásticos são menos utilizados como matrizes em compósitos.
Alguns polímeros, como o polipropileno (PP) e as poliamidas vêm sendo utilizados
na indústria automobilística, reforçados por partículas ou por fibras curtas. Uma
vantagem dessa classe de polímeros como matriz é que são recicláveis, ao contrário
dos termorrígidos. Algumas vantagens dos termoplásticos em relação aos
termorrígidos, no geral, são a maior tenacidade à fratura, maior resistência ao
impacto e maior tolerância a danos. Entretanto a maioria desses polímeros não
atendem requisitos para aplicações estruturais (LEVY NETO e PARDINI, 2006).

O polipropileno (PP) é um polímero pertencente à classe das poliolefinas, de formula


molecular (C3H6)n e estrutura química como a mostrada na Figura 2. É amplamente
utilizado na indústria, devido a propriedades como baixo custo; fácil processamento,
especialmente por injeção e extrusão; pode ser orientado; possui boa resistência à
degradação por agentes químicos, como ácidos; pode ser estabilizado de maneira a
adquirir boa resistência ao envelhecimento térmico, possui resistência mecânica e
rigidez moderadas; boa dureza se modificado; e excelente resistência à fadiga. Além
disso, possui baixíssima densidade. Devido a essas propriedades, é muito utilizado
na confecção de fibras, cordas e malhas; recipientes e embalagens no geral,
componentes do interior de automóveis, carcaças de dispositivos e componentes,
além de componente em blendas de polietileno e borrachas olefínicas (MARK,
1999).

Figura 2 - Estrutura do polipropileno

Fonte: Callister (2002).


14

Além do já exposto sobre o PP, este polímero possui alto potencial de reciclagem,
tornando-o um material de uso favorável em um contexto de desenvolvimento
sustentável.

3.4 REVESTIMENTOS PERMEÁVEIS

3.4.1 A urbanização e a impermeabilização do solo

A expansão urbana desenfreada traz consequências ao meio ambiente, causando


problemas ao homem, como a impermeabilização do solo. A ocupação urbana
através de áreas impermeáveis, como telhados, calçadas, ruas, estacionamentos e
outros causa alterações no ciclo hidrológico natural, o que tem como resultado o
aumento de enchentes e a degradação da qualidade das águas pluviais (ARAÚJO et
al, 2000; GONÇALVES e OLIVEIRA, 2014). Pode-se observar também a redução do
volume de água dos lenções freáticos.
Os sistemas de drenagem da maioria das cidades brasileiras foram desenvolvidos
no século XIX. Seu funcionamento baseia-se basicamente na captura da água da
chuva, que será conduzida a corpos d’água ou sistemas coletores por meio de
escoamento superficial. Nesse processo, a água acaba por arrastar lixo e outros
poluentes sólidos, deteriorando a qualidade da água (MARUYAMA e FRANCO,
2016).
As medidas tomadas pelas entidades públicas no Brasil para combater as enchentes
são normalmente de caráter estrutural. As mais comumente utilizadas são as redes
de drenagem. Estas, porém, transferem a inundação de um ponto para outro a
jusante da bacia, sem que os reais benefícios da obra sejam analisados. Esses
sistemas são, em geral, caros e ineficientes, especialmente em estações chuvosas.
Essas ações atuam sobre o efeito, e não sobre a causa do problema, a
impermeabilização do solo. (ARAÚJO et al, 2000; MARYUAMA e FRANCO, 2016).
A tendência na área de drenagem urbana é buscar a manutenção das condições
próximas às de pré-ocupação do solo, utilizando-se dispositivos que permitam a
infiltração da água e retardem o seu escoamento. Um tipo de dispositivo que vem
sendo utilizado com esse fim é o pavimento permeável. Tais dispositivos são
15

capazes de reduzir grandes volumes de escoamento superficial e vazões de pico em


níveis iguais ou até inferiores aos observados antes da urbanização, além de
promover a filtragem da água (ARAÚJO et al, 2000; GONÇALVES e OLIVEIRA,
2014).

3.4.2 Pavimentos Permeáveis

Os pavimentos permeáveis podem ser definidos como dispositivos de infiltração


pelos quais o escoamento superficial é desviado através de uma superfície
permeável para dentro de um reservatório de pedras localizado sob a superfície do
terreno (URBONAS e STAHRE, 1993 apud ARAÚJO et al, 2000).
Todo pavimento permeável possuirá uma função mecânica e uma função hidráulica.
A primeira está relacionada à resistência mecânica do material, associada a
estrutura, que permitirá ao pavimento suportar os carregamentos impostos pelo
tráfego de veículos e pessoas. A segunda função está relacionada à capacidade de
infiltração e de reservatório do pavimento. Esta é assegurada pela porosidade do
pavimento (ACIOLI, 2005; MARYUAMA & FRANCO, 2016)
A Figura 3 traz um exemplo de uma estrutura de pavimento permeável genérica.
Essa estrutura pode ser dividida, em termos de funções, em revestimento e base. O
revestimento consiste na parte superficial do pavimento, isto é, a interface. Já a base
abrange o volume do reservatório e a parte estrutural do mesmo. Normalmente as
camadas de base são compostas por pedras de granulometria grosseira, e não
possuem um material ligante que as mantem unidas.

Figura 3 - Estrutura de um pavimento permeável

Fonte: Associação Brasileira de Cimento Portland (2013).


16

Tomando-se um pavimento permeável genérico, como o da Figura 3, que recebe um


determinado volume de água em sua superfície, poder-se-ia observar que uma
grande parcela da água se infiltraria no revestimento ao invés de escoar sobre este.
Após percorrer a camada de revestimento, a água passaria por uma camada de
agregados finos e em seguida para um reservatório de pedras de granulação
grosseira e mais profundo (ARAÚJO, 2000). A partir do reservatório, a água pode
tomar dois destinos: infiltrar-se no solo ou ser coletada por um sistema de drenagem
instalado sob o reservatório de pedras. Alguns projetos podem apresentar condições
intermediárias (GONÇALVES e OLIVEIRA, 2014; MARYUAMA e FRANCO, 2016).
A camada de revestimento de um pavimento permeável é a camada de interface do
pavimento com os usuários (pedestres e veículos). Essa camada pode ser de
caráter permeável ou impermeável com infiltração localizada. Os materiais mais
comumente utilizados como revestimentos permeáveis são o asfalto poroso e o
concreto poroso ou permeável; e os impermeáveis com infiltração localizada,
principalmente nas juntas, são produtos como blocos de concreto vazados, ou
mesmo blocos de paralelepípedo ou de concreto convencionais (GONÇALVES e
OLIVEIRA, 2014; MARYUAMA e FRANCO, 2016).
Um parâmetro de extrema importância em materiais compósitos, e por extensão, em
compósitos de reforço particulado como os concretos permeáveis citados acima é o
volume de vazios ou porosidade. Tal parâmetro influencia algumas propriedades de
interesse dos materiais citados: a resistência mecânica e a permeabilidade; e,
infelizmente, de maneiras opostas. O maior volume de vazios favorece a
permeabilidade, pois esses vazios permitem a passagem de fluidos, criando um
caminho para a passagem destes. Porém, o maior volume de vazios acarreta uma
menor resistência mecânica, pois, vazios atuam no interior do material como
concentradores de tensões e favorecem a nucleação de trincas durante solicitações
mecânicas.
Existem maneiras de se controlar esse volume de vazios. Uma delas, comum para
concretos, é controlar a distribuição granulométrica dos agregados. Na distribuição
granulométrica uniforme (Figura 4-c) os agregados possuem tamanhos próximos, de
maneira que haverá espaços vazios entre os mesmos, que formam os vazios ou que
serão preenchidos pelo ligante. Na chamada distribuição contínua (Figura 4-a), são
17

utilizadas faixas granulométricas de tamanhos diferentes, nas quais os agregados


podem ser ordenados de forma que seja observado um aumento gradual do seu
tamanho. Nessa configuração, desde que sejam utilizadas as proporções corretas
das faixas, sempre haverá um grão menor que ocupará os espaços vazios entre
grãos maiores, de forma a se reduzir ao máximo os vazios, e como consequência
disso, se obter um ganho em resistência mecânica. Semelhante a essa distribuição,
existe a distribuição descontínua (Figura 4-b), na qual algumas faixas
granulométricas dentro de uma série de faixas contínuas estarão ausentes, de
maneira a se reduzir o volume de vazios até certo limite, sendo possível se obter
uma otimização entre as propriedades que dependem de maneiras opostas do
volume de vazios: a permeabilidade e a resistência mecânica.

Figura 4 - Distribuições granulométricas: a) Contínua, b) Descontínua e c) Uniforme

Fonte: Adaptado de Farias e Palmeira (2007)

Nesse contexto, Neptune e Putman (2010) desenvolveram um estudo buscando


determinar os efeitos do tamanho e gradação dos agregados sobre a porosidade,
propriedades mecânicas e permeabilidade de concretos permeáveis. Foram testadas
quinze gradações diferentes. Os resultados indicaram que em geral na medida em
que a gradação se torna menos uniforme e mais contínua, a resistência mecânica
aumenta e a porosidade e a permeabilidade diminuem. Os autores conseguiram
determinar por esse estudo uma gradação ótima, que ofereça um bom desempenho
tanto em termos de resistência mecânica quanto de permeabilidade.
18

Em termos de uso, é recomendado que os pavimentos permeáveis não sejam


utilizados em via de tráfego pesado (acima de 500 viagens médias por dia) de
maneira que sua utilização é indicada para ruas de bairros menos movimentadas ou
para estacionamentos. Além disso, seu uso também é recomendado para acesso à
residências, calçadas, ciclovias e semelhantes (MARYUAMA e FRANCO, 2016).
Há a necessidade de manutenção periódica do sistema, pois o mesmo pode sofrer
entupimento e colmatação, o que reduz drasticamente a permeabilidade do mesmo.
Além disso há riscos de contaminação do lençol freático caso esse não seja fundo o
suficiente (ACIOLI, 2005; GONÇALVES e OLIVEIRA, 2014; MARYUAMA e
FRANCO, 2016).
A colmatação pode causar a perda drástica de permeabilidade do pavimento. No
caso de blocos de material permeável, se pode efetuar a substituição dos mesmos
ou se pode inverter o lado dos mesmos. Além disso, para revestimentos porosos,
deve ser feito uma aspiração por meio de um equipamento a vácuo ou o
revestimento deve ser lavado com uma mangueira de pressão, de maneira a se
remover as partículas que causam o entupimento (MARYUAMA e FRANCO, 2016).

3.4.3 Pavimentos permeáveis com materiais alternativos

Aliando-se a diversos conceitos e técnicas que visam a sustentabilidade, muitos


pesquisadores e projetistas têm buscado desenvolver pavimentos permeáveis,
considerando-se as vantagens do uso dos mesmos ao meio ambiente,
confeccionados a partir de materiais alternativos, especialmente aqueles reciclados
ou reaproveitados, e até mesmo, matérias que possam ser posteriormente
reciclados.
Bhutta et al. (2013), por exemplo, buscaram elaborar um concreto permeável com
propriedades próximas às aceitáveis comercialmente, a partir de misturas com
agregados reciclados, provenientes de concreto triturado. Foram incorporados à
mistura do concreto polímeros dispersáveis a base de borracha de estireno-
butadieno (SBR) e látex, com o objetivo de melhorar a resistência do concreto
poroso. Foram confeccionadas misturas com agregado natural para fins de
comparação. Os autores constataram que os concretos elaborados com agregados
reciclados apresentaram maior volume de vazios e menor resistência à compressão.
Entretanto, a adição dos polímeros levou a uma redução no volume de vazios,
19

independentemente do agregado usado, sendo que também foi verificada uma


elevação da resistência à compressão com o uso do polímero. Foram observadas
relações praticamente lineares entre a resistência à compressão e a razão de vazios
total, bem como, entre o coeficiente de permeabilidade e a razão de vazios total. A
adição do polímero também facilita o processamento do concreto. Os autores
concluíram que é possível se produzir um concreto com propriedades aceitáveis ao
uso comercial a partir de agregados reciclados de concreto e com a adição de SBR
e látex.
Sata et al. (2013) estudaram a viabilidade de se produzir um tipo de concreto, com
matriz geopolimérica reforçada com RCD. O geopolímero utilizado foi produzido a
partir de cinzas voláteis com alto teor de cálcio, uma solução de silicato de cálcio
(Na2SiO3) e uma solução de hidróxido de sódio (NaOH). Os RCD utilizados como
agregados foram concreto estrutural triturado (RC) e tijolo triturado (RB). Também
foram confeccionadas amostras utilizando-se agregados naturais, a base de brita,
para fins de comparação. Os autores concluíram que o desempenho dos concretos
geopoliméricos com agregados de RCD apresentam um desempenho mecânico
menor que aquele reforçado com agregados naturais, porém contatou que o
desempenho dos primeiros em aspectos mecânicos e hidráulicos está dentro das
normas e é comparável ao dos concretos permeáveis de cimento Portland
tradicionais.
Murray et al. (2014) inovaram utilizando materiais alternativos em todos os
componentes do revestimento permeável, tanto reforço quanto matriz. Os autores
desenvolveram um pavimento permeável de quitosana, um biopolímero que é obtido
como subproduto da indústria de frutos do mar, reforçado por borracha moída, obtida
a partir de pneus usados triturados. Os autores concluíram que tal material pode ser
utilizado como revestimento permeável e é capaz de remover poluentes, como zinco
dissolvido na água e potencialmente outros metais. As propriedades finais do
material dependem da quantidade de quitosana utilizada.
Materiais poliméricos possuem um grande potencial de aplicação em revestimentos
permeáveis, diante de vários aspectos, especialmente nos aspectos de
disponibilidade como material reciclável disponível e em termos de custos.
Amaral (2015) desenvolveu placas de revestimento permeável a partir de polietileno
de baixa densidade (PEBD) reciclado e RCD. Tais placas foram conformadas por
20

compressão a quente, sendo que foram confeccionadas placas de dois perfis:


porosas (permeáveis) e não-porosas (impermeáveis). Para as primeiras, foi utilizada
uma quantidade menor de PEBD, suficiente para manter os grãos de RCD unidos,
porém, com áreas vazias no interior das placas, para as outras foi utilizada uma
quantidade de PEBD que proporcionasse o mínimo de porosidades possível. As
placas porosas apresentaram um excelente coeficiente de permeabilidade,
entretanto, apresentaram um limite de resistência à flexão baixíssimo. Já as placas
não-porosas, apresentaram bons resultados em flexão, porém, sua permeabilidade
foi desprezada, por ser muito baixa.
Seguindo uma linha semelhante de pesquisa, Christ (2016) elaborou placas de
revestimento permeável a partir de polipropileno (PP) e brita. As placas foram
confeccionadas de maneira semelhante às de Amaral (2015). Foram confeccionadas
duas misturas, uma permeável e outra impermeável para fins de comparação. Foi
utilizada a mesma faixa granulométrica que Amaral (2015), passante na peneira de
9,5 mm e retido na peneira 6,3 mm. Em termos de coeficiente de permeabilidade,
também se obteve valores comparáveis a revestimentos permeáveis comerciais. A
resistência à flexão obtida para as placas permeáveis foi muito baixa em
comparação aos revestimentos comerciais, entretanto, para as placas imermeáveis,
obteve-se resultados promissores em relação às normas que regulamentam
revestimentos para construção civil.
Ambos os autores utilizaram o método de moldagem por compressão a quente, um
método relativamente simples e de baixo custo, para se processar termoplásticos,
que são normalmente conformados por processos de custo elevado. Desta maneira,
utilizar tal método de conformação pode se mostrar muito promissor.
Nesse contexto, propõe-se, desenvolver um pavimento permeável utilizando-se
materiais alternativos, sendo estes, polipropileno como ligante e RCD como
agregado, seguindo a linha de Amaral (2015) e Christ (2016), porém buscando-se
utilizar uma distribuição granulométrica descontínua.
21

4 METODOLOGIA

4.1 MATERIAIS

Para a confecção das placas de material compósito foram utilizados polipropileno


homopolímero H 301, fornecido pela Brasken, e RCD granulado, doado pela
Ureserra, localizada no município de Serra/ES. O RCD utilizado é proveniente
predominantemente de demolição de estruturas de concreto. A Figura 5 apresenta
os materiais utilizados.

Figura 5 - Polipropileno homopolímero H301 (à esquerda) e RCD (à direita)

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

O H 301 é um polipropileno de médio índice de fluidez, com distribuição normal de


peso molecular e aditivado para uso geral. É indicado para processos de moldagem
por injeção e extrusão de fibras. Este apresenta excelente processabilidade com boa
estabilidade do fundido e bom balanço rigidez/impacto. A Tabela 1 apresenta a ficha
técnica do polipropileno H 301 (BRASKEN, 2012).
22

Tabela 1 - Características do polipropileno homopolímero H 301


Método
Propriedades Unidade Valor
ASTM
Densidade D792 g/cm³ 0,905
Módulo de flexão, secante a 1% D 790 MPa 1350
Resistência à tração no escoamento D 638 MPa 34
Alongamento no escoamento D638 % 11
Dureza Rockwell (Escala R) D758 - 98
Resistência ao impacto Izod a 23ºC D256 J/m 25
Temperatura de deflexão térmica (0,455ºC) D648 ºC 103
Temperatura de deflexão térmica (0,455ºC) D648 ºC 53
Temperatura de amolecimento Vicat (10N) D1525 ºC 153

Fonte: BRASKEN (2012)

4.2 MÉTODOS

4.2.1 Preparação e caracterização do RCD

O RCD granulado bruto, da maneira como foi recebido, foi peneirado e classificado
em três faixas granulométricas, conforme a Tabela 2.

Tabela 2 - Faixas granulométricas do RCD

Faixa Granulometria
1 (grosso) Menor que 9,5 mm e maior que 6,3 mm
2 (médio) Menor que 6,3 mm e maior que 4,8 mm
3 (fino) Menor que 4,8 mm e maior que 2,4 mm
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Os granulados retidos na peneira de 9,5 mm e passantes na peneira de 2,4 mm


foram descartados para fins de uso nesse trabalho.

Após classificados, os RCD peneirados passaram por um processo de lavagem, cujo


propósito era remover a poeira e pós presentes no material, além de resíduos, como
folhas, madeira, materiais metálicos e plásticos. Em seguida o RCD foi espalhado
sobre lonas plásticas, onde permaneceu secando por uma semana em ambiente
refrigerado. A Figura 6 apresenta as três faixas granulométricas do RCD utilizadas.
23

Figura 6 - RCD: faixa 1(grosso), faixa 2 (médio) e faixa 3 (fino); da esquerda para a
direita.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018)

Para a identificação dos materiais presentes no RCD, e seus respectivos


percentuais, foi feito um quarteamento para cada faixa granulométrica seguindo a
norma NBR NM 27 – 01. Após a obtenção das amostras, as mesmas foram
pesadas, seus componentes foram classificados e separados e em seguida pesados
individualmente.

4.2.2 Moldagem das placas de material compósito

O ferramental utilizado na confecção das placas foi uma termo-prensa com molde
adaptado. Os moldes são do tipo macho e fêmea, com 240 mm de largura e 255 mm
de comprimento. A altura pode variar entre 3 e 34 mm. A Figura 7-a apresenta a
termo-prensa e a Figura 7-b o molde já preenchido com o material a ser conformado.
24

Figura 7 - (a) Termo-prensa com molde adaptado e (b) detalhe do molde com
distribuição da mistura de RCD e PP.

Fonte: Elaborado pelo autor (2016)

Para a moldagem das placas, inicialmente, o molde é forrado com um filme de


poliimida, que atua como desmoldante. Em seguida os grãos de RCD e PP são
misturados, nas proporções pré-determinadas e vertidos no molde (Figura 7-b).
Parte do PP é reservado para ser distribuído manualmente nas laterais e centro da
placa. Um segundo filme desmoldante é disposto sobre a mistura e o molde é
fechado. O material comprimido com carga aproximada de 1 t, é aquecido até a
temperatura de 210 ºC, que é mantida por 10 min. Por fim, o molde é resfriado
lentamente até a temperatura ambiente. Foram confeccionados quatro tipos de
placa, P1, P2, P3 e P4, cujas características são descritas na

Tabela 3. Foram confeccionadas um mínimo de três placas de cada tipo.


25

Tabela 3 - Características das placas confeccionadas

% em
% em Massa Composição
massa Razão Espessura
Placas massa total granulométrica
de RCD/PP (mm)
de PP (g) Grosso/Médio/Fino
RCD
P1 10%/70%/20%
18,3 81,7 4,5 930,0 13,39
(permeável)
P2
19,9 80,1 4,0 1356,6 19,26 10%/60%/30%
(permeável)
P3
(permeável 19,9 80,1 4,0 1439,4 20,70 10%/60%/30%
com tela)
P4
28,4 71,6 2,5 1516 19,93 10%/60%/30%
(impermeável)
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

As placas P1 e P2 são placas de caráter permeável. As placas P3 também são


permeáveis, porém possuem um reforço adicional: uma tela de aço que foi inserida
no centro da placa, mostrada na Figura 8. As placas P4 são impermeáveis.
O processamento das placas P3 difere minimamente das demais placas; neste caso,
metade da mistura de PP e RCD é vertida no molde, a tela de aço é disposta sobre a
mistura e o restante da mistura é vertida sobre a tela.

Figura 8 – Tela de aço com abertura de 15 x 15 mm.


26

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

4.2.3 Determinação do coeficiente de permeabilidade

O procedimento para esse ensaio foi adaptado de Marchioni et al (2011), que utilizou
a norma ACI – 552R – 06, proposta pela American Concrete Institute, para medida
da permeabilidade de concretos permeáveis. Foi construído um permeâmetro,
mostrado na

Figura 9, específico para este trabalho. As placas foram ensaiadas inteiras, não
sendo necessária a retirada de amostras, deste modo tem-se resultados mais
representativos uma vez que o material tem estrutura muito heterogênea.
O permeâmetro consiste em duas caixas de acrílico que se encaixam perfeitamente.
A placa a ser ensaiada é posicionada exatamente no encaixe das duas caixas. A
caixa inferior possui um furo circular em uma das laterais, ao qual é acoplado um
tubo de PVC de 100 mm, conectado a um joelho, que é conectado a outro tubo,
disposto para cima. A saída deste segundo tubo deve estar nivelada à superfície
superior da placa. A caixa superior é aberta e possui duas marcações, uma a 70 mm
acima do nível da placa e outra a 290 mm. Após o encaixe da placa o sistema deve
ser devidamente vedado, inclusive os contatos laterais entre a placa e as laterais da
caixa de acrílico.

Figura 9 - Permeâmetro construído especificamente para esse trabalho


27

Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

Durante a realização do ensaio, a saída do tubo de PVC é fechada e todo o sistema


é preenchido com água. Em seguida a saída do tubo é aberta, e o tempo que o nível
de água leva para se deslocar da marca superior (290 mm) à inferior (70 mm) é
medida.
O coeficiente de permeabilidade é calculado segundo a Lei de Darcy (equação 1)
(OLEK et al, 2003; ACI – 522R – 06).

𝐾= 𝑙𝑜𝑔 (1)

Onde K é o coeficiente de permeabilidade em m/s, A1 e A2 são as áreas de sessão


da placa e da saída do tubo em m2, respectivamente, L é a espessura da placa em
m, hi e hf são as alturas inicial e final do nível de água em m, respectivamente,
utilizadas para a medição, e t é o tempo que nível de água leva para percorrer da
marca em hi até hf, em s. O procedimento foi repetido três vezes para cada placa,
sendo assumida a média dos três ensaios como o coeficiente de permeabilidade.

4.2.4 Ensaio de flexão

Os ensaios de flexão foram realizados em uma máquina de ensaios universal EMIC


DL 10000. Devido a inexistência de normas de ensaio específicas para este tipo de
material foram utilizadas as normas ABNT NBR 13818 – 97 e ASTM D 790 – 02, que
28

tratam, respectivamente, da especificação e métodos de ensaio para placas de


revestimento cerâmico e da regulamentação de ensaios de flexão de materiais
poliméricos e seus compósitos.
As placas foram ensaiadas inteiras, analogamente ao realizado ensaio de
permeabilidade. Os apoios e o cutelo utilizados no ensaio foram confeccionados
exclusivamente para esse trabalho conforme recomendações da norma ABNT NBR
13818 – 97. A Figura 10 apresenta uma placa já posicionada para o ensaio de
flexão.
As seguintes condições de ensaio foram utilizadas: distância entre os apoios (L) de
220 mm e velocidade de ensaio de 2,5 mm/min. Foram utilizadas células de carga
de 100 kgf e 10000 kgf, dependendo do tipo de placa. As áreas de contato entre os
apoios e cutelo com a placa foram revestidas com borracha, conforme recomendado
pela norma ABNT NBR 13818 – 97.
Figura 10 - Placa (P4) posicionada para o ensaio de flexão.

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Foram determinados a carga de ruptura (CR) e o módulo de resistência à flexão


(MRF), conforme ABNT NBR 13818 – 97, calculados por meio das seguintes
equações:
29

×
𝐶𝑅 = (2)

×
𝑀𝑅𝐹 = × (3)
×

Onde F é a força de ruptura em N, L é a distância entre apoios em mm, b é a largura


da placa ao longo da ruptura em mm e “e” é a espessura média da placa em mm.

No intuito de comparar as propriedades de placas com diferentes espessuras foram


determinadas a carga de ruptura específica (CRe) e o módulo de resistência à flexão
específico (MRFe), dados pelas equações 4 e 5. Vale citar que a determinação
destes parâmetros é iniciativa do autor e não especificação de normas.

𝐶𝑅𝑒 = (4)

𝑀𝑅𝐹𝑒 = (5)
30

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO RCD

Os materiais que compõem o RCD foram classificados visualmente como:


argamassa de concreto, rochas naturais, cerâmica vermelha, gesso, pós e outros. A
Figura 11 apresenta esses materiais separados para uma das amostras. A Tabela 4
apresenta o percentual em massa de cada material presente no RCD para cada uma
das três faixas granulométricas.

Figura 11 - Materiais que compõem o RCD da faixa 2: a) Argamassa de concreto, b)


Rochas naturais, c) Cerâmica vermelha, d) Gesso, e) Pós e f) Outros

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).


31

Tabela 4 - Composição do RCD para cada faixa granulométrica (% em massa).

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3


Faixa Granulométrica
(grosso) (médio) (fino)
Argamassa de concreto 48,59 % 48,22 % 47,46 %
Rochas naturais 46,46 % 48,11 % 46,87 %
Cerâmicas 2,25 % 1,05 % 1,19 %
Gesso 0,31 % 0,81 % 1,02 %
Pós 0,63 % 0,97 % 1,14 %
Outros 1,74 % 0,83 % 2,31 %
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Pelos dados apresentados na Tabela 4, pode-se dizer que os percentuais de cada


material para as diferentes faixas granulométricas são próximos, podendo-se
considerar que a composição das diferentes faixas é semelhante. Os materiais que
predominam na composição do RCD são a argamassa de concreto e as rochas
naturais, que se encontram em quantidades próximas e juntos esses materiais
representam mais de 94 % do RCD. Esses materiais são os mais desejáveis na
composição do RCD, por apresentarem resistência excelente. Alguns materiais
presentes, como o gesso e os pós são deletérios ao compósito. O gesso, pela sua
baixa resistência e por se dissolver em água, o que pode levar a formação de vazios
no interior das placas. Os pós podem causar preenchimento dos vazios, o que é
prejudicial à permeabilidade. Felizmente, tais materiais se encontram em teores
muito baixos no RCD, sendo que seus prejuízos ao desempenho final do compósito
podem ser desprezados.

5.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DE PROCESSAMENTO

Com base no trabalho desenvolvido por Neptune e Putman (2010), para concretos
permeáveis, e por Christ (2016) para compósitos de polipropileno e brita, optou-se
por utilizar uma distribuição granulométrica descontínua na confecção do compósito,
visando obter a melhor relação entre permeabilidade e resistência. Após testes
prévios duas composições granulométricas foram analisadas: Composição 1 (10%
do RCD grosso, 70% do RCD médio e 20% do RCD fino); Composição 2 (10% do
32

RCD grosso, 60% do RCD médio e 30% do RCD fino). A proposta é que os espaços
entre os granulados não sejam completamente preenchidos pelo polímero de modo
a garantir a permeabilidade sem perda significativa na resistência.
Além da composição granulométrica a proporção entre o RCD e o PP é outro ponto
influente na busca da melhor relação entre a permeabilidade e resistência. Para as
placas permeáveis a proporção 80/20 foi a que forneceu melhores resultados; já
para as placas impermeáveis foi utilizada a proporção 70/30. No caso das placas
permeáveis, além das placas compostas por apenas RCD e polímero, foram também
fabricadas placas reforçadas por uma tela de aço (Figura 8), inserida no centro da
peça, formando um compósito do tipo sanduíche. A intenção foi de aumentar a
resistência da placa sem perda da permeabilidade.
Para a definição da espessura das placas dois pontos foram considerados, o
primeiro é a fluidez do polímero; como o material é aquecido apenas nas superfícies,
inferior e superior, se a placa for muito espessa haverá variação significativa de
temperatura no interior da placa dificultando uma fusão uniforme do polímero e
consequente impregnação dos granulados. O segundo ponto diz respeito à Carga de
Ruptura e Módulo de resistência à Flexão, propriedades estas que são proporcionais
à espessura da mesma. Após testes prévios duas espessuras foram selecionadas:
13 mm e 20 mm (valores médios).

5.3 PROCESSO DE MOLDAGEM DAS PLACAS

A Figura 12 apresenta as superfícies superiores das placas P2 e P3 (permeáveis) e


P4 (impermeável). Pode ser observado que as placas permeáveis (Figura 12-a e
Figura 12-c) apresentam superfícies irregulares, com grãos de RCD expostos e
distribuição irregular do polímero. Essas irregularidades são consequência, em
grande parte, das limitações do processo manual. A maior concentração de polímero
nas laterais é proposital. As laterais e cantos das placas são regiões mais
vulneráveis ao desprendimento de grãos de RCD, caso não haja polímero suficiente
para liga-los. Já para as placas impermeáveis (Figura 12-b) pode ser observado o
total recobrimento da superfície da placa com polímero, bem como uma maior
uniformidade da superfície. Tal característica é desejável, pois garante a
impermeabilidade da placa.
33

Figura 12 - Superfície superior das placas: a) P2 (permeável), b) P4 (impermeável) e


c) P3 (permeável com tela)

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

As superfícies inferiores das placas se apresentaram, em geral, bem uniformes e


preenchidas por polímero, como pode ser observado na Figura 13-a que apresenta a
placa P3 (permeável com tela). São observados também pontos escuros bem
distribuídos sobre a superfície, que indicam o início de degradação térmica do
polímero. Apesar do melhor recobrimento pelo polímero, essa superfície mantém
boa permeabilidade, pois possui muitos pontos com RCD expostos, bem distribuídos
sobre a superfície. A Figura 13-b mostra a lateral da placa. Nota-se que a grade está
bem posicionada na meia espessura. Nota-se também que o polímero predomina
34

nas superfícies e que no meio da placa há muitos vazios e granulados não


recobertos pelo polímero.

Figura 13 - Placa P3 (permeável com tela): a) superfície inferior e b) Lateral, com


destaque para o posicionamento da tela.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018)

A Figura 14, apresenta as superfícies de fratura, após o ensaio de flexão, de uma


placa permeável (P2). Durante a fratura alguns granulados se desprendem da matriz
enquanto outros rompem permanecendo ligados a matriz polimérica. Nota-se que a
superfície superior é mais irregular e que há predominância de polímero na
superfície inferior, conforme já observado na Figura 13-a. Verifica-se também que,
internamente, uma pequena parcela de polímero é suficiente para manter os grãos
unidos e há um grande volume de vazios, o que é desejável.
35

Figura 14 - Superfície de fratura de uma placa P2 (permeável)

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Para as placas impermeáveis (P4), como pode ser observado na Figura 15, há
poucos vazios entre os granulados de RCD que estão bem impregnados pelo
polímero. Nota-se também excesso de polímero na superfície superior da placa.

No geral, tanto as placas permeáveis quanto as impermeáveis apresentaram boa


estabilidade, havendo pouco desprendimento de RCD após a desmoldagem.

Figura 15 - Superfície de fratura de uma placa P4 (impermeável)

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

5.4 ENSAIO DE PERMEABILIDADE

A Figura 16 apresenta uma placa (P1) sendo submetida a um fluxo de água de uma
torneira, uma simples demonstração visual de sua permeabilidade. Os valores para
os coeficientes de permeabilidade, obtidos a partir do ensaio proposto, são
apresentados na Tabela 5.
36

Figura 16 - Placa P1 submetida a um fluxo de água de uma torneira.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Tabela 5 - Coeficientes de permeabilidade (k) em m/s

Placas P1 P2 P3 ACI – 552


k (10-5 m/s) 750,7 ± 78,5 283,5 ± 91,2 462,8 ± 162,1 1,0
Distribuição
Granulométrica 10%/70%/20% 10%/60%/30% 10%/60%/30% -
(Grossa/média/fina)
Fonte: Elaborado pelo Autor (2018).

A norma ACI – 552R – 06 prevê que um pavimento permeável deve apresentar um


coeficiente de permeabilidade (k) maior que 1,0 x 10 -5 m/s. Pode ser observado na
Tabela 5 que todas as placas apresentaram um coeficiente de permeabilidade da
ordem de 100 vezes maior que o recomendado pela norma, demonstrando que as
placas confeccionadas apresentaram uma permeabilidade excelente. Nota-se que o
coeficiente de permeabilidade das placas P1 é bem superior ao das placas P2 e P3
o que pode estar relacionado à composição granulométrica. As placas P1 possuem,
comparativamente, uma menor porcentagem do granulado fino. O maior percentual
37

de finos nas placas P2 e P3 atuam preenchendo os vazios, o que reduz a


permeabilidade. Porém esse efeito não é significativo, pois não chega a modificar a
ordem de grandeza do valor da permeabilidade. É importante ressaltar que quanto
menor o número de vazios maior a resistência da placa.

5.5 ENSAIO DE FLEXÃO

A Tabela 6 apresenta os resultados dos ensaios de flexão sendo: CR – Carga de


Ruptura, MRF – Módulo de Resistência à Flexão, CRe – Carga de Ruptura
Específica e MRFe – Módulo de Resistência à Flexão Específico.

Tabela 6 - Resultados dos ensaios de flexão.

MRF MRFe Espessura


Placas CR (N) CRe (N/cm)
(MPa) (MPa/cm) (mm)
P1
205,7 ± 37,9 1,76 ± 0,43 154,7 ± 31,86 1,33 ± 0,40 13,39 ± 0,94
(permeável)
P2
826,8 ± 63,35 3,34 ± 0,21 429,1 ± 29,49 1,73 ± 0,10 19,26 ± 0,26
(permeável)
P3
(permeável 2041,4 ± 75,17 7,19 ± 0,10 989,0 ± 22,68 3,48 ± 0,06 20,64 ± 0,33
com tela)
P4
2331,4 ± 560,21 8,84 ± 2,20 1171,8 ± 285,80 4,44 ± 1,13 19,93 ± 0,40
(impermeável)
ABNT NBR
>1200 >32 - - -
13818
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Inicialmente, comparando-se as placas P1 e P2 em termos de CR e MR, pode-se


dizer que os valores quase que triplicaram. Duas características podem explicar tal
fato, o aumento da espessura e a composição granulométrica. Entretanto, devido a
diferença de espessuras, não é possível avaliar efetivamente o efeito das diferentes
composições granulométricas nas propriedades em flexão do material. Sendo assim,
foram determinadas as propriedades específicas, CRe e MRFe, que excluem, de
certa forma, a influência da espessura nas análises.
Nota-se que a CRe quase triplicou e houve um incremento do MRFe, o que
demonstra que a composição granulométrica utilizada nas placas P2 é mais eficiente
em termos de resistência a flexão. As placas P2 possuem um maior percentual de
38

granulado fino (30%) em relação as placas P1 (20%), em detrimento dos granulados


médios. Esse aumento no volume de granulados finos na placa ocasiona um maior
preenchimento de vazios, pois os agregados menores tendem a ocupar os espaços
vazios entre agregados maiores, como constatado no trabalho de Neptune e Putman
(2010). Os vazios atuam como concentradores de tensões, que favorecem a
nucleação e propagação de trincas. Entretanto é desejável certo volume de vazios
no material, que permita a permeabilidade.
Com o objetivo de determinar a máxima resistência do compósito, e assim avaliar a
margem de melhoramento possível para as placas permeáveis, foram
confeccionadas as placas impermeáveis, P4. O percentual e composição
granulométrica do RCD foram mantidos, sendo o percentual de polímero aumentado
de modo a reduzir ao máximo o teor de vazios; desta forma a razão RCD/PP passou
de 4,0 (placas permeáveis P2 e P3) para 2,5 (placas impermeáveis P4). Pode ser
observado na Tabela 6 que a CR e o MRF praticamente triplicaram em relação às
placas P2, devido à redução de vazios.
Com relação às placas permeáveis com tela de aço (P3), pode ser observado na
Tabela 6 que os valores de CR e MRF mais que dobraram em relação às placas P2,
também permeáveis; porém as propriedades das placas P3 são ainda inferiores às
placas impermeáveis, P4.
A Figura 17 apresenta curvas Carga x Deslocamento obtidas no ensaio de flexão; é
apresentada uma curva representativa para cada tipo de placa. Nota-se na figura
que as placas com tela (P3) apresentaram extensa deformação antes da ruptura em
virtude da ductilidade do aço. O comportamento das placas diverge bastante em
virtude das suas diferentes características.
A Figura 18 mostra uma placa P3 durante o ensaio de flexão. Nota-se que embora a
parte inferior da placa (que sofre o carregamento trativo) já apresente ruptura dos
granulados, a parte superior (que sofre carregamento compressivo) e a tela
permanecem intactos mantendo o carregamento.
39

Figura 17 - Curvas de carga x deslocamento obtidas no ensaio de flexão

P1 (Permeável) P2 (Permeável)
P3 (Permeável com Tela) P4 (Impermeável)

2500

2000
CARGA (N)

1500

1000

500

0
0 5 10 15 20 25 30 35
DESLOCAMENTO (MM)

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Figura 18 - Detalhe de uma placa P3 sendo ensaiada em flexão após uma


deformação superior a 10 mm.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Com os parâmetros obtidos nos ensaios de flexão, foi possível comparar o


desempenho das placas de compósito com os requisitos mínimos exigidos pela
norma ABNT NBR 13818 – 97 para materiais de revestimento, mais
especificamente, para os cerâmicos. Essa norma prevê valores mínimos de 1200 N
para a CR e 32 MPa para o MRF. Pode ser afirmado, pelos valores da Tabela 6, que
as placas P3 e P4 atendem a esses valores, em termos de CR, porém, estão longe
de atender em termos de MRF. É importante salientar que a norma ABNT NBR
40

13818 é destinada aos materiais cerâmicos que são materiais essencialmente


frágeis, esta norma foi utilizada neste trabalho por não haver norma pertinente tendo
em vista o material desenvolvido ser inovador.
41

6 CONCLUSÕES

O RCD utilizado nesse trabalho é composto por mais de 47% de argamassa de


concreto e por mais de 46% de rochas naturais, que são agregados de maior
resistência mecânica.

O processo de moldagem por compressão a quente mostrou-se satisfatório para a


confecção das placas de compósito.

As placas de compósito apresentaram elevados coeficientes de permeabilidade,


746,7 x 10 -5 m/s, 283,5 x 10-5 m/s e 462,8 x 10 -5 m/s, respectivamente, para as
placas P1, P2 e P3, sendo esses valores da ordem de 100 vezes maiores do que o
mínimo previsto pela norma ACI – 552R – 06 (k > 1,0 x 10-5 m/s) para concretos
permeáveis.

A alteração da distribuição granulométrica das placas, com o aumento da parcela de


agregados finos e decréscimo da parcela de agregados médios mostrou-se
promissora, permitindo um aumento considerável das propriedades em flexão sem
perda significativa da permeabilidade.

As placas de compósito impermeáveis (P4) apresentaram CR e MRF,


respectivamente, de 2331,4 N e 8,84 MPa, valores de três vezes maiores que os
obtidos para as placas permeáveis com mesma distribuição granulométrica e
percentual de RCD (P2), que foram, respectivamente, 826,8 N e 3,34 MPa.

A incorporação de uma tela de aço rígida no interior das placas permeáveis


promoveu aumento das propriedades em flexão sem perda da permeabilidade. Além
disso, tais placas suportaram deformações cinco vezes maiores do que as demais
placas, permeáveis e impermeáveis.

Comparando as propriedades em flexão das placas com os valores mínimos


exigidos pela norma ABNT NBR 13818 – 97 constata-se, que as placas P3 e P4
atendem a norma em termos de Carga de Ruptura, porém não atendem em termos
de Módulo de Resistência à flexão.
42

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

 Reduzir o tempo de residência das placas no molde, durante o resfriamento,


de maneira a evitar o início de degradação do polipropileno.
 Alterar a distribuição granulométricas das placas de compósito, aumentando
ainda mais a fração de agregados finos, pois a permeabilidade se encontra
muito alta, de maneira que há uma margem para maior redução do volume de
vazios;
 Substituir o polipropileno virgem pelo reciclado, buscando se desenvolver um
material totalmente reciclado;
 Fabricar placas com agregados naturais (brita) a fim de se comparar o
desempenho de ambos os materiais, reciclado (RCD) e natural (brita), como
reforço.
43

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