Tese Rodrigo Fortunato de Oliveira
Tese Rodrigo Fortunato de Oliveira
Tese Rodrigo Fortunato de Oliveira
JABOTICABAL
2019
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP CAMPUS DE
JABOTICABAL
2019
Oliveira, Rodrigo Fortunato de
O48q Qualidade da carne de peito de frangos de corte in natura e
processado acometidos por peito de madeira / Rodrigo Fortunato de
Oliveira. -- Jaboticabal, 2019
120 p.
DEDICO
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
Página
RESUMO......................................................................................................IXI
ABSTRACT...................................................................................................XI
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS...............................................1
Introdução..................................................................................................1
Revisão da Literatura.................................................................................2
Considerações finais.................................................................................21
Referências Bibliográficas.........................................................................21
CAPÍTULO 2 – CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E QUÍMICA DO MÚSCULO
PECTORALIS MAJOR DE FRANGO DE CORTE ACOMETIDOS PELA
MIOPATIA PEITO DE MADEIRA.................................................................34
Resumo.....................................................................................................36
Introdução..................................................................................................37
Material e Métodos....................................................................................37
Resultados e Discussão............................................................................42
Conclusões................................................................................................52
Referências................................................................................................53
CAPÍTULO 3 – EFEITO DA MATURAÇÃO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS
DA CARNE DE PEITO DE FRANGOS DE CORTE ACOMETIDOS PELA
MIOPATIA PEITO DE MADEIRA.................................................................56
Resumo.....................................................................................................58
Introdução..................................................................................................59
Material e Métodos....................................................................................60
Resultados e Discussão............................................................................63
Conclusões................................................................................................77
Referências................................................................................................78
CAPÍTULO 4 – AVALIAÇÃO DO ARMAZENAMENTO SOBRE AS
PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS, SENSORIAIS E MICROBIOLÓGICAS
DE LINGUIÇAS TIPO FRESCAL FABRICADOS COM CARNE DE FRANGOS
ACOMETIDOS PELA MIOPATIA PEITO DE
MADEIRA......................................................................................................82
Resumo......................................................................................................83
viiii
Introdução..................................................................................................83
Material e Métodos....................................................................................85
Resultados e Discussão............................................................................89
Conclusões................................................................................................97
Referências...............................................................................................98
CAPÍTULO 5 – AVALIAÇÃO DO ARMAZENAMENTO SOBRE AS
PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS, SENSORIAIS E MICROBIOLÓGICAS
DE HAMBÚRGUERES FABRICADOS COM CARNE DE FRANGOS
ACOMETIDOS PELA MIOPATIA PEITO DE
MADEIRA.....................................................................................................100
Resumo.....................................................................................................102
Introdução.................................................................................................102
Material e Métodos....................................................................................104
Resultados e Discussão............................................................................107
Conclusões................................................................................................117
Referências................................................................................................118
ixi
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the physical, chemical
and meat quality and histomorphometry of the woody breast muscle fibers, and to
submit them to the process of maturing and production of hamburgers and fresh
sausages, in order to obtain an industrial application of this meat. Chapter 1 discusses
general considerations and literature review on the proposed theme. In chapter 2 the
physical, chemical and histological characteristics of the breast meat of broilers
affected by PM myopathy were evaluated. In Chapter 3, the possible effects of
maturation for up to seven days on the quality of breast meat of broilers affected by
the different degrees of severity of PM myopathy were evaluated. Chapter 4 evaluated
the quality of fresh sausages made with chicken breast meat affected by the different
degrees of severity of PM myopathy stored for 28 days. And in Chapter 5, the quality
of chicken burgers affected by different degrees of severity of PM myopathy stored for
120 days was evaluated. Raw chicken samples affected by the severe degree of PM
myopathy have lower physical quality compared to normal chicken meat, which can be
detrimental to meat processing. The severe meats of PM myopathy have higher levels
of docosahexaenoic and arachidonic acid, and lower fat content than normal breasts.
The histomorphometric analyzes show that the myocardial disease caused by PM
myopathy presents muscle fiber hypertrophy as compensatory mechanism in the
moderate and severe degrees in broilers. The maturation process may favor the
reduction of the weight loss by cooking and the loss of protein in the exudation in
breasts of chicken with PM myopathy. The maturation period for 3 days at 2ºC in
breasts with or without myopathy is sufficient to soften the meat, without reducing its
juiciness, suggesting that the maturation process may be of great importance for
poultry industries, especially used in breasts affected with. the myopathy. Woody
chicken breast had great potential to be used in the preparation of fresh sausage, since
sensory parameters of the product were not influenced by the addition of meat with
PM. The results of the physicochemical and sensory analyzes show that chicken meat
affected by PM myopathy can be used in industry to produce fresh sausages and
reduce the economic losses caused by this myopathy. Hamburgers made with chicken
meat affected by PM myopathy showed the same water activity that influences the
microbial load of the food, and the same protein concentration as hamburgers
produced with normal chicken meat, even though they presented inferior physical
quality. Although hamburgers produced with chicken meat affected by PM myopathy
have greater oxidative stability, storage affected the quality parameters of these
hamburgers.
INTRODUÇÃO
A avicultura brasileira desde 2004 vem garantindo a liderança mundial nas
exportações de carne de frango. Atualmente, o Brasil exporta para mais de 150
países, em todos os continentes.
Os avanços genéticos nas aves, tem proporcionado índices de crescimento e
rendimento da carne muito elevados, porém tem sido observado o surgimento de
algumas miopatias peitorais, como PSE (Pálida, flácida e exudativa), DFD (Escura,
firme e seca), estrias brancas, peito amadeirado e espaguete. Isto ocorre, pois o peito
das aves é um tecido nobre e com maior rendimento, sendo assim alvo dos programas
de seleção genética.
A miopatia peito amadeirado macroscopicamente apresenta uma extensa área
pálida, firme e com ondulações, e está associado à piora da qualidade da carne, que
pode ser alterada em função do grau de miodegeneração das fibras musculares,
alterando assim a composição química e o processamento da carne. A redução da
qualidade da carne é principalmente devido a diminuição da capacidade de retenção
de água, o que pode estar associado à dureza encontrada nos cortes com esta
miopatia (Mazzoni et al., 2015).
A indústria brasileira e os serviços de inspeção ainda têm poucas informações
e conhecimento sobre a miopatia peito amadeirado. São escassos os estudos
encontrados na literatura que envolvam todas as questões abordadas nesta pesquisa,
como o estudo da maciez e microscópico, alterações na qualidade da carne, bem
como soluções tecnológicas da carne de peito acometidas por esta anomalia.
O peito de madeira não possuí etiologia definida e a literatura não registra
prejuízo à saúde pública, porém, o corte cárneo afetado com o grau severo desta
miopatia é, geralmente, rejeitado pelo consumidor acarretando em perdas econômicas
para o setor avícola. Desta forma, são necessários mais estudos para elucidar as
alterações musculares decorrentes desta desordem muscular, e a sua interferência
ou não na qualidade do produto, como procurar formas de atenuar o problema e
aproveitamento dessa carne para diminuir o prejuízo causado na indústria.
2
Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade física, química da carne
e a histomorfometria das fibras musculares de peito amadeirado, e submeter estas ao
processo de maturação e produção de hambúrgures e linguiça frescal, com o intuito
de obter uma aplicação industrial desta carne.
REVISÃO DA LITERATURA
Qualidade da carne
A qualidade da carne é um conjunto de características desejáveis pelo
consumidor, principalmente no que se refere aos aspectos sensoriais e tecnológicos
(Warris e Brown, 2000).
A qualidade da carne dentro de um contexto amplo e complexo é descrita por
características nutricionais, higiênicas, físicas, sensoriais (suculência, aparência e
resistência a mastigação) e pela forma de apresentação do produto. As principais
exigências para obtenção de um produto de qualidade são os quesitos: aparência,
sabor, cor, suculência, textura, estabilidade oxidativa e a uniformidade. As
características físicas podem ser avaliadas através da mensuração do pH, das perdas
por exsudação e cocção assim como a mensuração da capacidade de retenção de
água (Nanni et al., 2002; Rosenvold e Andersen, 2003).
A qualidade da carne destinada ao consumo é motivo de constante
preocupação em todo o mundo (porque a carne e seus derivados são os alimentos
mais associados a doenças) (Tavares et al., 2006). Esses alimentos apresentam
composição química que os torna excelentes meios de cultura, pois apresentam alta
atividade de água e são ricos em substâncias nitrogenadas e minerais (Franco et al.
2008). Além disso, o pH próximo da neutralidade é favorável à sobrevivência e
multiplicação de inúmeros microorganismos deterioradores e patogênicos,
principalmente bactérias (Germano e Germano, 2011).
Os fatores que influenciam a qualidade da carne podem ser controlados nas
diversas etapas de criação, abate e processamento. A composição e a qualidade da
carne também são influenciados pela idade de abate, sexo, taxa de lotação, tempo de
jejum, transporte, temperatura ambiente, pendura, atordoamento, escalda e
resfriamento (Mendes e Komiyama, 2011). Sabe-se que a carne, mesmo que obtida
de animais sadios, contamina-se por micro-organismos a partir da sangria, e a
contaminação continua por todas as etapas requeridas na tecnologia de abate, bem
5
como nos açougues, feiras e supermercados (Feitosa, 1999; Oliveira et al., 2002; Silva
et al., 2004).
Estudos recentes indicaram que a miopatia peito de madeira afeta a qualidade
e as propriedades funcionais da carne, quando comparados a peitos de frango normal.
As propriedades funcionais da carne, como textura, capacidade de retenção de água
e cor em geral são prejudicadas em peitos de frangos com a miopatia peito de madeira
(Soglia et al., 2016).
Cor
A cor é uma das característica qualitativa mais importante para o consumidor
no momento da compra, constituindo o principal critério de seleção (White et al., 2006;
Muchenje et al., 2009). Segundo Ramos e Gomide (2017), a cor desperta no
consumidor o desejo de consumir ou de rejeitar o produto, além de fornecer uma
indicação, embora nem sempre correta, sobre o grau de conservação do alimento.
É influenciada principalmente pela natureza e conteúdo do pigmento miglobina
(Mb). A variação na cor da mioglobina é intrínseca ao músculo e depende de vários
fatores como, por exemplo, espécie, idade do animal, localização anatômica do
músculo e sistemas de alimentação. Outras variáveis como condições pré-abate e
estado de oxigenação e oxidação do músculo também interferem na coloração final
da carne (Abril et al., 2001).
O estado de oxidação da mioglobina é determinado pela pressão de oxigênio
presente no meio e, minoritariamente, por entidades oxidantes como radicais livres.
Os radicais livres são produzidos pela oxidação dos lipídeos presentes na carne.
Assim, estratégias que minimizem a formação de radicais livres podem ter efeito na
coloração da carne (Faustman et al., 1998). O pH final do músculo interage com o
ponto isoelétrico das proteínas miofibrilares influenciando seu estado físico e a
reflexão da luz da superfície muscular, ou seja, na cor da carne (Abril et al., 2001).
A miopatia peito de madeira afeta diretamente a coloração dos peitos de frango,
com presença de regiões com coloração pálida nos peitos de frango amadeirado
quando comparados com peitos de frango normal (Sihvo et al., 2014).
As medidas de cor no estudo realizado por Sanchez-Brambila et al. (2017) não
apresentaram diferença entre o peito de frango amadeirado e o normal independente
6
Segundo Zeola et al. (2007), quanto maior a concentração de água ligada maior a
capacidade de retenção de água do tecido muscular.
É importante ressaltar que todos os fatores que influenciam a capacidade de
retenção de água da carne in natura afetam também a capacidade de retenção de
água da carne congelada e descongelada.
Os peitos amadeirados apresentam menor capacidade de retenção de água,
composição química diferenciada, além de comprometimento na funcionalidade das
proteínas (Soglia et al., 2016). A menor porcentagem do teor de proteína seria um
indicativo de desnaturação de proteínas, o qual resulta em uma maior perda de
cozimento e menor capacidade das proteínas em reter água em produtos cárneos
(Soglia et al., 2016).
Maciez
A maciez é considerada pelos consumidores a característica sensorial de maior
influência na aceitação da carne (Alves et al., 2005). Pode ser atribuída à percepção
sensorial (paladar) do consumidor como: resistência à língua, à pressão do dente,
aderência e resíduo pós mastigatório, ou seja, uma quantidade de fatores subjetivos
(Belcher et al., 2007; Muchenje et al., 2009).
A maciez é um dos atributos mais importantes na aceitação e satisfação do
consumidor de carnes, além de ser um fator decisivo para a aquisição desses
alimentos, o consumidor consegue discernir entre diferentes categorias de maciez e
inclusive está disposto a pagar mais pela aquisição de carnes macias (Boleman et al.,
1997).
Ramos e Gomide (2017) ressaltaram que devido à complexidade dos músculos
e tecidos associados, a maciez é caracterizada por vários fatores, sendo função do
tamanho do feixe de fibras musculares e do tecido conjuntivo (perimísio) que o
envolve. O tamanho dos feixes musculares não é apenas determinado pelo número
de fibras mas também pelo diâmetro dessas. Assim, duas estruturas na carne são
diretamente responsáveis pelo seu grau de maciez: o tecido conjuntivo e as fibras
musculares.
Conforme Sarcinelle et al. (2007), a qualidade da carne está intimamente
relacionada com a maciez que, por sua vez, está associada com o tipo racial, idade,
9
fatores genéticos, tipo de manejo, estado de nutrição e tipo de corte do animal, além
de estar relacionada aos processos enzimáticos que ocorrem no músculo depois do
abate.
Contudo é importante frisar que a maciez da carne está diretamente ligada ao
conteúdo de colágeno e à idade do animal, uma vez que animais mais velhos
apresentam maior número de ligações cruzadas termoestáveis do colágeno, fazendo
assim com que a sua carne se torne menos macia e solúvel à cocção, aumentando
então a força de cisalhamento.
Dalle Zotte et al. (2017) descreveram macroscopicamente o peito amadeirado
como um músculo duro, pálido, às vezes, coberto superficialmente com pequenos
pontos de hemorragias, exsudatos e ocasionalmente com estrias brancas. Tasionero
et al. (2017) relatam que a fibrose é considerada a principal razão para a textura dura
dos peitos de frango afetados com a miopatia peito de madeira.
A textura dura do peito amadeirado é notavelmente diferente da textura
apresentada pelo peito normal, sendo um marcador decisivo e utilizado na indústria
avícola, através da apalpação manual, para a detecção da miopatia peito de madeira
(Wold et al., 2017). Valores superiores de compressão e força de cisalhamento foram
encontrados em frangos de corte com severidade crescente de peito amadeirado
quando comparado ao peito normal (Sanchez Brambila et al., 2017; Trocino et al.,
2015).
Oxidação lipídica
O grau de oxidação dos lipídios da carne depende da composição de
fosfolipídios, quantidade de ácidos graxos poliinsaturados, concentração de íons
metálicos, oxigênio, sal e outros oxidantes. A oxidação forma produtos como aldeídos,
lactonas, hidrocarbonetos, furanos e cetonas, que causam off-flavours indesejáveis,
rancificados devido à oxidação dos lipídios da carne (Souza et al., 2009).
Alimentos com elevado teor de lipídios são altamente perecíveis devido,
principalmente, à ocorrência de processos oxidativos aos quais os óleos estão
expostos (Silva et al., 2010).
Os fenômenos de oxidação dos lipídeos dependem de diversos mecanismos
complexos, os quais estão relacionados com o tipo de estrutura lipídica e o meio onde
10
(Tabee et al., 2008). Segundo Waraho et al. (2011), alguns componentes presentes
no alimento, como ácidos graxos livres e fosfolipídios podem aumentar
potencialmente as taxas de oxidação lipídica. Por outro lado, as proteínas são
capazes de inibir a oxidação lipídica.
Segundo Degáspari e Waszczynskyj (2004), os processos oxidativos ocorrem
principalmente quando o alimento apresenta valores de atividade de água inferiores a
0,3, pois nessa faixa atinge-se a zona de adsorção que propicia a ação catalítica dos
metais e que irá favorecer o desenvolvimento das reações de oxidação de lipídios.
Colágeno
Sabe-se que a maciez da carne pode ser influenciada pela quantidade de tecido
conjuntivo. O colágeno como principal proteína constituinte desse tecido pode ser
quantificado através da determinação da hidroxiprolina, considerando que o colágeno
possui 12,5% desse aminoácido e ainda que a hidroxiprolina é exclusiva do colágeno,
além de ser de fácil determinação.
Em sua estrutura morfológica, o colágeno é composto por monômeros de
tropocolágeno agregados para formar fibras estendidas no epimísio e perimísio ou,
principalmente, uma matriz estrutural no endomísio (Tornberg, 2005). Hadlich et al.
(2008) mencionaram que quando se estuda a influência do colágeno na maciez de
carnes, as características que mais importam são a idade de abate do animal, pois
animais mais velhos apresentam menor solubilidade do colágeno devido à
estabilidade de suas ligações cruzadas, e a localização do músculo estudado, visto
que músculos de locomoção apresentam maior quantidade de colágeno do que
músculos de suporte.
A maciez é dependente da estrutura do tecido conjuntivo e das fibras
musculares e da interação destes. A influência do colágeno na textura da carne se dá
pelo estado de suas ligações cruzadas, que com o avanço da idade do animal se
estabilizam tornando a molécula de colágeno menos solúvel, comprometendo a
maciez da carne. Assim, constitui-se um importante fator na vericação de diferenças
de maciez entre músculos de um mesmo animal (Ramos e Gomide, 2017). Segundo
Powell et al. (2000) a quantificação do colágeno total e solúvel no músculo é de grande
importância para estudar a qualidade da carne, representando somente 2-10% do
12
Ácidos graxos
Certos compostos presentes em pequenas quantidades, podem ter influência
marcante, como por exemplo: a mioglobina para a cor, o colágeno para a maciez e
substâncias voláteis, como alguns ácidos graxos, para o sabor e aroma das carnes.
A gordura é um dos componentes essenciais da dieta humana, pois, além de
fornecer maior quantidade de energia se comparada aos carboidratos e à proteína,
contém ácidos graxos não sintetizados pelo organismo, que devem estar presentes
na dieta, denominados essenciais, que são da família ômega 3 e ômega 6. Além de
13
cardiovasculares, causados por esses compostos (Zapata et al., 2001). Nem todos os
ácidos graxos saturados são considerados hipercolesterolêmicos (que aumentam os
níveis do colesterol ruim – LDL). French et al. (2003) relataram que o ácido graxo mais
indesejável seria o ácido mirístico (C14:0) porque está relacionado ao efeito sobre a
concentração plasmática das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), o qual no
estudo de Freitas et al. (2007) representou apenas 3% do total dos ácidos graxos na
carne. O ácido Palmítico (C16:0) foi citado como o de menor efeito
hipercolesterolêmico e o ácido esteárico (C18:0), com 43% do total dos ácidos graxos
saturados na carne (Freitas et al., 2007), teria efeito nulo, pois se transforma em ácido
oléico (C18:1) no organismo (Sinclair, 1993), não influenciando os níveis sanguíneos
de colesterol.
Willians (2000) comentou que mesmo sendo a composição da carne mais
insaturada do que saturada e que uma parte considerável desta não seja
hipercolesterolêmica, seria interessante aumentar a proporção de ácidos graxos
insaturados, em especial dos polinsaturados, pois vários destes estariam relacionados
a efeitos positivos à saúde humana. Em contrapartida, o aumento de ácidos graxos
insaturados na carne proporciona uma rápida e elevada oxidação, reduzindo o tempo
de vida útil, além de favorecer o aparecimento de compostos de sabores
desagradáveis pela presença da gordura (Monte et al., 2007). Quanto à relação
polinsaturados:saturados, o Department of Health (1994) cita que a razão inferior a
0,4 constitui um dieta pouco saudável, estando relacionada com doenças
cardiovasculares.
Os produtos da decomposição térmica dos fosfolipídios, mediante aquecimento
participam da reação de Maillard juntamente com compostos intermediários, sendo
estes, responsáveis por mudanças evidentes na qualidade da carne. Contudo, durante
o cozimento, uma complexa série de reações induzidas termicamente ocorre entre os
componentes não voláteis do tecido magro e gorduroso, dando origem aos que
contribuem para a sensação do aroma percebido (Madruga et al., 2005).
Comprimento de sarcômero
Quando se estudou a relação entre o encolhimento pelo frio e a dureza da
carne, descobriu-se que o comprimento do sarcômero pode ser relacionado com a
maciez final, uma vez que está diretamente relacionado à contração muscular.
Estudos nesse sentido não são recentes, tendo já sido estudados desde a década de
17
70 (Parrish et al., 1973; Culler et al., 1978; Lochner et al., 1980; Judge et al., 1989;
Olsson et al., 1994).
O sarcômero, menor unidade contrátil estrutural repetitiva da miofibrila, pode
ser medido diretamente por microscopia de contraste de fases, ou indiretamente por
difração de raio laser (Koolmes et al., 1986; Cross et al., 1980; Silva et al., 1999). De
acordo com Marsh e Leet (1966) o comprimento do sarcômero pode levar tanto ao
endurecimento quanto ao amaciamento da carne, dependendo do nível em que
ocorre. A dureza da carne permanece constante ou aumenta ligeiramente quando o
grau de encurtamento do sarcômero encontra-se entre 0 e 20%. Entretanto, a
extensão desse encurtamento acarreta aumento acentuado da dureza, em
encurtamentos de 20 a 40%, e em declínio tão acentuado quanto para valores acima
de 60%. Essa redução dramática da dureza em condições de contração extrema é
explicada pelo fato de que com o aumento do encurtamento o músculo vai por si
mesmo tornando-se mais macio por desintegrar sua própria estrutura.
De acordo com Ruddick e Richards (1975) em músculos pré-rigor e em rigor,
estendidos contidos ou excisados, observa-se alta correlação (r > 0,80) entre a maciez
e o comprimento médio dos sarcômeros. Esta correlação, no entanto, é menor (r =
0,68) quando os músculos são analisados pós-rigor. Mas, mesmo que a medida do
comprimento do sarcômero de músculos pós-rigor possa ser considerada uma
indicação grosseira do arranjo molecular das miobrilas, trata-se de um método simples
e objetivo para se estimar o grau de contração, sendo útil para se predizer a maciez
da carne.
Maturação
A maturação consiste em manter a carne sob temperaturas acima do ponto de
congelamento da carne, ou seja, ao redor de 2°C, embalada a vácuo, por um período
de estocagem estendido, com o objetivo de melhorar a maciez (Felício et al. 1982). A
extensão desta maturação está relacionada com o nível de calpaínas existentes 24
horas post mortem, que varia de acordo com a concentração inicial e sua inativação
durante o desenvolvimento do rigor mortis (Dransfield, 1994). Durante este período, a
carne é conservada embalada a vácuo a fim de se evitar o crescimento microbiano e
sua rápida deterioração. É neste processo que se observa a ação prolongada das
18
Processamento da carne
A industrialização de carnes consiste na sua transformação em produtos
cárneos, que são aqueles cujas características originais da carne fresca foram
alteradas através de tratamentos físicos e/ou químicos. O processamento da carne
fresca visa a elaboração de novos produtos e, por sua ação sobre enzimas de
microrganismos de caráter degradativo, o prolongamento da vida de prateleira. Ele
não modifica, de forma significativa, as características nutricionais, mas atribui
características sensoriais como cor e sabor, próprias de cada processo (Romanelli et
al., 2002).
Qin (2013) relata que alguns fatores afetam a qualidade do produto final de
produtos cárneos processados. As diferentes cominuições trazem variações para a
qualidade dos produtos cárneos, o que é possivelmente atribuído às diferenças no
tamanho e formato das partículas por vários métodos de trituração. Entre os métodos
utilizados para triturar, elencam-se o cortar, descascar e moer como os quais
19
Hambúrguer
O hambúrguer é um produto cárneo industrializado, obtido de carne moída dos
animais de açougue, adicionado ou não de tecido adiposo e ingredientes, moldado e
submetido a processo tecnológico adequado (Brasil, 2000). Este alimento se tornou
popular pela praticidade que representa, pois possui nutrientes que alimentam e
saciam a fome rapidamente, o que combina com o estilo de vida de quem se instala
em centros urbanos (Pinheiro et al., 2008). Mediante a popularidade do consumo de
carnes, a transformação destas em produtos industrializados é de grande importância
para praticidade, variedade e diversificação do cardápio (Costa, 2004).
Os hambúrgueres devem atender alguns parâmetros físicos e químicos:
gordura (máxima) 23,0%; proteína (mínimo) 15,0%; carboidratos totais 3,0%; cálcio
(máximo base seca) 0,1% em produto cru e 0,45% em produto cozido, conferindo
assim ao produto características sensoriais próprias que envolvem textura, cor, sabor
e odor específico do alimento (Brasil, 2000). Na venda o produto será designado de
hambúrguer seguido do nome da espécie animal acrescido ou não de recheio,
acompanhado das expressões que couberem. É considerado um produto
reestruturado, pois a peça cárnea é parcialmente ou completamente cominuída em
trituração grosseira, condimentado e novamente reconstituído e moldado (Brasil,
2000). Para se adequar às condições de armazenamento, o acondicionamento prevê
embalagens com materiais que confiram proteção apropriada ao hambúrguer (Brasil,
2000). Os produtos devem ser mantidos sob congelamento na exposição à venda.
Porém, este produto está sujeito aos mesmos problemas presentes na carne moída,
como toxinfecções alimentares e perda das características de qualidade por ação de
microrganismos deteriorantes. Isto provavelmente se dá por falta de outra proteção
20
Linguiça frescal
A linguiça do tipo frescal destaca-se por sua aceitação e comercialização. O
processo de produção utiliza carne de animais de açougue, adicionadas ou não de
tecido adiposo, e o processamento pode ocorrer em estabelecimentos de pequeno,
médio e grande porte. Ao processo, agregam-se aditivos utilizados para melhorar as
características sensoriais do produto (Silva et al., 2016). No que tange às
características físico-químicas, quando comparada às cozidas e dessecadas, esse
tipo de linguiça apresenta maior umidade (70,0%) e menor concentração proteica
(12,0%) (Brasil, 2000). De acordo com Shimokomaki et al. (2006), umidade, gordura
e proteínas são três componentes da carne considerados substratos primários que
influenciam na qualidade da matéria-prima para fins de processamento industrial.
No passado, a fabricação de embutidos era considerada mais uma arte do que
uma ciência. Com o forte crescimento na industrialização de carnes e sua relevância
econômica, tornou-se necessário um maior entendimento dos princípios envolvidos
na elaboração desses produtos (Shimokomaki et al., 2006).
No caso de embutidos frescos, a operação de moagem da carne é um fator
adicional que pode favorecer a contaminação e a multiplicação de microrganismos
(Almeida et al., 2002). A adição de sais de cura ajuda no desenvolvimento da cor, do
aroma, a reduzir a oxidação da gordura e também, a proteger contra vários
microrganismos (Terra et al., 2006). A atividade antimicrobiana dos nitritos depende
do pH e aumenta à medida que este último diminui de 7,0 a 5,0 (ICMSF, 1985).
21
Considerações Finais
Esta revisão de literatura dará embasamento a projetos que darão origem a
trabalhos a serem apresentados em congressos nacionais e internacionais e artigos
científicos a serem publicados em revistas indexadas ligadas à área de avicultura e
tecnologia de produtos de origem animal. Essa revisão também contribuirá com dados
e conclusões para indústria avícola e órgãos governamentais através da
caracterização do perfil da carne de aves comercializada e de que maneira devem se
adequar à ocorrência da miopatia peito de madeira para que continuem oferecendo
produtos de qualidade ao consumidor, bem como, as empresas de genéticas que tem
demonstrado grande preocupação com o problema que está ocorrendo no Brasil e em
outros países de grandes potenciais avícolas.
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34
CAPÍTULO 2
Título curto
Caracterização de peito de frangos acometidos pela miopatia Peito de Madeira
Rodrigo Fortunato de OliveiraAC, Juliana Lolli Malagoli de MelloA, Fábio Borba FerrariA,
Erika Nayara Freire CavalcantiA, Rodrigo Alves de SouzaAB, Mateus Roberto PereiraA, Aline
Giampietro-GanecoB, Erick Alonso Villegas-CayllahuaA, Heloisa de Almeida FidelisA, Maísa
Santos FáveroA, Lizandra Amoroso, Pedro Alves de SouzaA e Hirasilva BorbaA
A
Universidade Estadual Paulista – UNESP, Departamento de Tecnologia, via de acesso
Professor Donato Castellane, s/n, Zona Rural, 14884-900, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.
B
Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos,
Avenida Duque de Caxias Norte, nº 225, 13635-900, Pirassununga, São Paulo, Brasil.
C
Autor correspondente. Email: [email protected]
36
Resumo: As carcaças com alterações musculares têm valor depreciado ou são condenadas pelo
serviço de inspeção, dentre elas, as miopatias peitorais têm sido objetivo de grande enfoque nas
pesquisas atuais. Este estudo objetivou caracterizar os efeitos da miopatia peito de madeira
sobre a qualidade física, química e histológica da carne de peito de frangos de corte. Foram
utilizadas 60 amostras de peito de frangos de corte machos da linhagem Cobb MX abatidos
com 45 dias de idade. Amostras normais (ausência de miopatia; grupo controle; n=20), de grau
moderado (dureza apenas em uma região do filé de peito; n=20) e de grau severo (dureza em
toda a extensão do filé de peito; n=20), sendo todas classificadas in natura. Amostras com grau
moderado da miopatia apresentaram maior (P=0,0266) capacidade de retenção de água do que
o grau severo, o que pode possivelmente, reduzir perdas nutricionais durante o armazenamento,
sendo um benefício para a indústria de processamento de carne. Foi verificado aumento
(P=0,004) da concentração de colágeno total (0,29% em amostras normais para 0,43 e 0,48%
em amostras com grau moderado e severo, respectivamente). Amostras de peito de frango
acometidas pelo grau severo apresentaram menor (P<0,0001) índice de fragmentação
miofibrilar (64,51) e menor (P=0,0002) concentração de gordura (2,17%) do que amostras de
frango normais (80,45 e 3,79%, respectivamente). Na análise macroscópica, o músculo peitoral
de aves acometidas pelos graus moderado e severo da miopatia peito de madeira apresentou
coloração, em geral, pálida com regiões enrijecidas, irregulares e avermelhadas (sufusões e
petéquias), com presença de estriações brancas. Na análise microscópica, tanto o grau
moderado, quanto o severo da miopatia caracterizaram-se pela perda do aspecto poligonal das
fibras musculares. O grau severo de peito de madeira apresentou maior discrepância no tamanho
das fibras musculares e significativa hipertrofia das mesmas. Amostras acometidas pela
miopatia peito de madeira são maiores e mais pesadas, possuem qualidade física inferior,
quando comparadas com a carne de frango normal, o que pode ser prejudicial ao processamento
da carne de aves, porém apresentam menor concentração de gordura do que peito de aves
normais. O grau severo possui níveis positivos de ácidos graxos da família ω6 que auxiliam na
redução de colesterol. A miodegeneração tem a hipertrofia muscular como mecanismo
compensatório, além da perda do aspecto poligonal, da heterogeneidade da maioria das fibras
musculares e do aumento de tecido conjuntivo intersticial e de infiltrado inflamatório em peitos
de frango acometidos pela miopatia.
Introdução
Nos últimos anos, a ocorrência da miopatia peito de madeira em frangos de corte tem
sido relatada e está associada ao rápido crescimento e desenvolvimento das aves, mas sua
etiologia permanece desconhecida (Mudalal et al. 2014; Sihvo et al. 2014; Mutryn et al. 2015).
A detecção de casos graves de peito de madeira pode ser realizada e determinada através da
palpação do músculo pectoralis major. A identificação e caracterização da miopatia peito de
madeira no abatedouro são baseadas na aparência e dureza do peito de frango (Sihvo et al.
2014) e dependem da sensibilidade, treinamento e conhecimento do avaliador.
As alterações macroscópicas são restritas ao músculo pectoralis major, caracterizadas
por áreas expansivas pálidas e endurecidas (Sihvo et al., 2014) acompanhadas ou não de
estriação branca. Ainda de acordo com o autor, músculos com miopatia peito de madeira
demonstram graus variados de fibras necróticas, fibrose, pequenas fibras em regeneração,
infiltração de células imunes e extensa deposição de colágeno fibrilar. Esta miopatia pode
alterar parâmetros importantes para processos industriais.
A miopatia peito de madeira pode ter implicações substanciais na qualidade da carne,
mas poucos estudos foram encontrados sobre caracterização da miopatia. Além disso, não há
trabalhos suficientes sobre características físicas e histomorfométricas e composição química
da carne acometida pela miopatia peito de madeira. Enquanto isso, a qualidade física e química,
como a composição histológica da carne de frango acometido pela miopatia peito de madeira,
principalmente dos filés acometidos pelo grau severo, para consumo in natura ou na fabricação
de produtos processados permanece incerto. Diante do exposto, esse estudo teve como objetivo
caracterizar física, química e histomorfometricamente a carne de peito de frangos de corte
acometidos pela miopatia peito de madeira.
Material e Métodos
caudal do filé de peito; severo (n=20) - dureza em toda a extensão do filé de peito). Foram
coletadas também 20 amostras de filé de peito classificadas como normais (ausência de
miopatia), as quais foram utilizada como grupo controle para comparação com as amostras
afetadas. Para caracterizar a profundidade afetada e a evolução do quadro, foi realizada a coleta
de fragmentos musculares de dois centímetros quadrados da área afetada e da região profunda
a ela após a coleta e classificação dos peitos de frango.
Após o estabelecimento do rigor mortis (4 horas pós abate), as amostras coletadas foram
pesadas individualmente e realizadas as análises físicas descritas a seguir. Para as análises
químicas, sub-amostras de cada grupo estudado foram congeladas (-20°C) por um período de
30 dias para posteriores análises. Foram utilizadas 60 amostras de carne de peito de frangos de
corte machos, da linhagem Cobb MX, criados em sistema intensivo tradicional e abatidos aos
45 dias de idade. As amostras foram adquiridas em abatedouro comercial (Estado de São Paulo,
Brasil) inspecionado pelo Serviço de Inspeção Federal.
Métodos
Análises físicas
Foi realizada a biometria das estruturas com o auxílio de uma régua para comprimento
(cm) e largura (cm), e de um paquímetro digital 6” (Marca Zaas Precision, AMATOOLS
Commercial e Importadora Ltda) para a espessura (cm), de acordo com metodologia de Mendes
et al. (1993).
A coloração (luminosidade - L*; intensidade de vermelho - a* e intensidade de amarelo
- b*) foi determinada imediatamente após a desossa usando um colorímetro Minolta CR-400
(Konica Minolta Sensing, Inc., Osaka, Japão) (configurações: iluminação difusa/0 ângulo de
visão, iluminante D65, componente especular incluído) calibrado para um padrão branco. O
equipamento foi posicionado em três locais diferentes da superfície externa do músculo
pectoralis major (a qual estava anteriormente em contato com a pele) e também em três locais
diferentes da superfície interna do músculo (a qual estava em contato com o osso esterno).
O pH da carne foi avaliado em triplicata usando um peagâmetro digital (Testo 205, Testo
Inc., Sparta, NJ, EUA) munido de eletrodo de penetração, o qual foi inserido na parte cranial
de cada amostra. A capacidade de retenção de água (CRA) foi determinada em triplicata
conforme descrito por Hamm (1961).
39
As amostras foram cozidas para avaliação das perdas de peso durante o cozimento
(PPC), segundo o método descrito por Honikel (1987), e os resultados foram obtidos por
diferença entre os pesos inicial e final, expressos em porcentagem. A força de cisalhamento
(maciez) foi realizada utilizando o método Meullenet-Owens Razor Shear (MORS) acoplado
ao Texture Analyser TA-XT2i nas amostras cozidas. A força de cisalhamento também foi
avaliada por meio do dispositivo Warner-Bratzler acoplado ao Texture Analyser TA-XT2i, em
que, de cada amostra cozida foram obtidas três sub-amostras com área de secção de 1 cm2, as
quais foram colocadas com as fibras orientadas no sentido perpendicular ao do dispositivo
Warner-Bratzler e submetidas ao corte (Lyon et al., 1998). A força necessária para cisalhar as
amostras foi expressa em Newton.
Análises químicas
A composição química foi determinada após a realização das análises físicas. Para as
análises químicas, sub-amostras de cada grupo estudado foram congeladas (-20°C) por um
período de 30 dias. Após congelamento, as amostras foram liofilizadas (SuperModulyo220,
Thermo Fisher Scientific Inc., Waltham, MA, USA) e moídas para posterior determinação das
concentrações de proteína e de matéria mineral, conforme preconizado pela AOAC (2011),
métodos 977.14 e 920.153, respectivamente. O percentual de umidade foi determinado por
diferença entre os pesos das amostras antes e após a liofilização (AOAC 2011; método 950.46).
A gordura foi determinada de acordo com o método proposto por Bligh e Dyer (1959).
A oxidação lipídica foi determinada nas amostras in-natura no momento de retorno do
abatedouro utilizando o teste de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARs), segundo
a metodologia descrita por Vyncke (1970). O colesterol foi determinado após adaptação do
método descrito por Saldanha et al. (2004). Foi pesado 0,5 g de amostra liofilizada em tubo
falcon de 50 mL, ao qual foram adicionados 6 mL de etanol e 4 mL de KOH 50%. Os tubos
foram mantidos em banho-maria com agitação (40 °C) até que as amostras estivessem
totalmente dissolvidas e, posteriormente, por mais 10 minutos (60 ºC). Por três vezes foram
adicionadas 10 mL de N-hexano para a separação de fases e foi retirada a fase superior da
amostra para outro tubo. Da fase superior, foram pipetadas alíquotas de 3 mL para tubos de
ensaio e foi realizada a secagem com gás nitrogênio. Após secagem, em cada tubo foi
adicionado 0,5 mL de álcool isopropílico. Os tubos foram agitados em vórtex e foram
adicionados 3 mL de reagente enzimático para análise de colesterol em sangue (Saldanha et al.
40
2004 adaptado). Em seguida, o material foi mantido em banho-maria (37 ºC) por 10 minutos.
Foi realizada leitura das amostras em espectrofotômetro (Shimadzu UV-1800, Shimadzu
Corporation, Kyoto, Japan) com λ igual a 500 nm (conforme o fabricante do kit).
Os ácidos graxos foram isolados de acordo com o método proposto por Bligh e Dyer
(1959), que remove a fase lipídica da amostra. A esterificação dos ácidos graxos foi realizada
pelo método de metilação (ISO 5509, 1978) e analisada por cromatógrafo gasoso (Shimadzu
14 B, Shimadzu Corporation, Kyoto, Japão) equipado com detector de ionização de chama e
coluna capilar de sílica fundida (Omegawax 250); H2 foi usado como gás de transporte. Os
picos foram identificados por comparação com os tempos de retenção de padrões de
composição conhecida.
As concentrações de colágeno total, solúvel e insolúvel foram quantificadas nas
amostras pela determinação do aminoácido hidroxiprolina conforme procedimentos
preconizados por Woessner Junior (1961) e Cross et al. (1973), adaptadas por Hadlich et al.
(2006). O índice de fragmentação miofibrilar (IFM) foi determinado como descrito por Culler
et al. (1978), utilizando o método do biureto (Gornall et al. 1949) para determinação da
concentração de proteínas na suspensão de miofibrilas, sendo calculado de acordo com a
seguinte fórmula: IFM= densidade óptica x 200. O comprimento de sarcômero foi determinado
como descrito por Cross et al. (1981). De cada amostra crua foram obtidas sub-amostras de 0,5
g e colocadas em tubo falcon de 50 mL às quais, em seguida, foram adicionados 15 mL de
iodeto de potássio a 1,328% e 15 mL de cloreto de potássio a 0,596%. Posteriormente, as
amostras foram homogeneizadas em Ultra-turrax (15.000 G) durante 30 segundos. As lâminas
foram preparadas com uma gota de homogenato imediatamente antes da leitura. As leituras
foram realizadas em microscópio (Novel BM2100) com contraste de fase em ampliação 1000x
(objetiva de 100x, ocular 10x). O comprimento de sarcômero foi expresso em µm.
Análise histologica
Para análise dos parâmetros histológicos da fibra muscular, amostras transversais de
dois centímetros do músculo de dez aves por grupo estudado foram retiradas da região cranio-
lateral do peito e, em seguida, armazenadas durante 24 horas em recipientes plásticos contendo
solução fixadora de Bouin. Posteriormente, as amostras foram lavadas em álcool 70% (para
remoção do fixador) e desidratadas em série de concentração crescente de etanol (70, 80, 90 e
100%). Em seguida o material foi diafanizado em xilol e infiltrado em parafina histológica.
41
Análise estatística
Os dados obtidos nas análises físico-químicas foram analisados utilizando um
delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC) com 20 repetições. Os resultados
foram analisados pelo procedimento General Linear Models do Statistical Analysis System
(SAS Institute Inc. 2002–2003). Todos os dados foram testados por análise de variância e
comparados pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%.
Resultados e discussão
Filés acometidos pela miopatia peito de madeira apresentaram maior peso (P<0,001),
maior comprimento (P=0,011) e largura (P=0,001), sendo as amostras de grau severas mais
pesadas entre todos os grupos avaliados (Tabela 1). O maior peso encontrado em filés de frango
acometidos pela miopatia peito de madeira foi consistente com outros estudos (Chatterjee et al.
2016; Soglia et al. 2016; Xing et al. 2017) e pode estar associado à seleção para crescimento e
deposição de massa muscular rápidos, o que excede a capacidade de sustentação muscular dos
animais (Mudalal et al. 2015; Petracci e Cavani 2011).
pH e cor da carne
A carne de frango acometida pelo grau severo da miopatia peito de madeira apresentou
maior (P<0,0001) pH (6,33) do que a carne de frangos classificados como normais (6,08) e com
o grau moderado da miopatia (6,07) conforme também foi descrito por Zhuang e Bowker (2018)
e Baldi et al. (2019). De acordo com Le Bihan-Duval et al. (2008), os maiores valores de pH
observados em amostras acometidas pela miopatia peito de madeira poderiam estar associados
ao armazenamento de glicogênio, ao peso do músculo do peito e à correlação existente entre
estas duas variáveis, fazendo com que o peito de tamanho maior apresente potencial glicolítico
reduzido, resultando em pH final mais alto. Outros autores (Zambonelli et al., 2017; Beauclercq
et al., 2017) destacaram que o pH final menos reduzido também é, provavelmente devido ao
43
estado energético e às alterações nas vias metabólicas do músculo, onde a quantidade de ácido
lático produzido na fase de rigor mortis, não foi o suficiente para reduzir o pH de filés de frango
acometidos pela miopatia peito de madeira, principalmente no grau severo.
A carne acometida pelo grau severo da miopatia peito de madeira apresentou maiores
(P<0,05) valores de L* (65,19) e de b* (3,59) na superfície externa em relação as amostras
classificadas como normais (60,86 e 0,11, respectivamente) ou como grau moderado (60,23 e
1,59, respectivamente) da miopatia (Tabela 2). Com relação à superfície interna, a carne
acometida pelo grau severo da miopatia peito de madeira apresentou maiores (P<0,05) valores
de L* (62,05) e de b* (5,16) do que amostras classificadas como grau moderado (57,89 e 2,95,
respectivamente) e amostras normais (59,79 e 2,76, respectivamente). Não houve diferença
significativa (P>0,05) entre as amostras de frango normais e aquelas acometidas pela miopatia
peito de madeira quanto à intensidade de vermelho nas superfícies externa e interna. Os
resultados de avaliação de cor indicam que as amostras acometidas pela miopatia
(principalmente no grau severo) são pálidas e amareladas, em comparação com amostras
normais, e podem ser explicados por modificações no tecido muscular após “degeneração
tecidual” provocando uma maior umidade nos músculos afetados, pela baixa capacidade de
retenção de água encontrada nos filés e pela fibrose severa (Mudalal et al. 2015; Sánchez-
Brambila et al. 2016; Baldi et al. 2019).
44
Os músculos afetados pela miopatia peito de madeira podem exibir capacidade reduzida
de retenção de água devido à miodegeneração (Mazzoni et al. 2015). Conforme verificamos, a
carne afetada pela miopatia peito de madeira apresenta propriedades tecnológicas inferiores às
da carne normal, tais como capacidade de retenção de água reduzida, alterações de textura
(Mazzoni et al. 2015) que modificam não apenas o processamento, mas a qualidade final da
carne como um todo (Mudalal et al. 2015), o que poderia estar associado à dureza característica
dos cortes com esta miopatia, mas que não foi observado neste estudo, mas o que pode ter
provocado um maior valor de L* em filés de frango acometidos pelo grau severo da miopatia
peito de madeira (Tabela 2). As perdas decorrentes do cozimento, que resultam em carnes
menos suculentas e menos macias (Moura et al. 2015), foram maiores em amostras com a
miopatia peito de madeira comparados com amostras de frangos normais. Avaliações
histológicas realizadas em nosso trabalho (Figura 3) e relatadas por Sihvo et al. (2014), Trocino
et al. (2015) e Velleman e Clark (2015), revelaram mudanças estruturais em peitos de frango
acometidos pela miopatia peito de madeira, como a degeneração da fibra muscular que contribui
45
para redução da capacidade de retenção de água, provocando maiores perdas por cozimento;
associada ao acúmulo de gordura intramuscular o que pode ter causado um maior valor de b*
em amostras acometidas pela miopatia peito de madeira na superfície externa e interna de filés
de frango, principalmente no grau severo (Tabela 2).
normalidade que ficam em torno de 58 a 104 mg/100g, dependendo do tipo de carne de frango
utilizada (Bragagnolo, 2001).
Tabela 5. Valores médios e desvio padrão das concentrações de proteína bruta, gordura,
umidade e matéria mineral; oxidação lipídica (TBARS) e colesterol da carne de peito de frangos
de corte acometidos pela miopatia peito de madeira e armazenados por 30 dias a -20 C.
Variáveis Normal Moderado Severo P-valor
Proteína (%) 24,64±0,65 23,31±0,45 22,97±0,48 0,1260
Gordura (%) 3,79±0,33a 2,76±0,22b 2,17±0,13c 0,0002
Umidade (%) 73,66±0,24b 74,20±0,15b 76,41±0,20a <0,0001
Matéria mineral (%) 1,77±0,17 1,74±0,16 1,46±0,15 0,3230
TBARS (mg MDA/kg) 0,613±0,048 0,588±0,029 0,647±0,064 0,6830
Colesterol total (mg/100g) 84,93±1,01ab 86,56±1,04a 82,49±1,09b 0,0370
a-c
Médias seguidas por letras distintas nas linhas, diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).
6:1 (Wijendran e Hayes 2004), uma vez que os AGPI são importantes para a saúde
cardiovascular.
Análise histológica
Análise macroscópica
O músculo peitoral de aves acometidas pelo grau moderado e severo da miopatia peito
de madeira apresentou coloração geral pálida com regiões enrijecidas irregulares e
avermelhadas (presença de petéquias e sufusões) caracterizadas geralmente como lesões
superficiais (Figura 2). À semelhança de Sihvo et al. (2014), observamos que a superfície
muscular era frequentemente revestida por fina camada de material límpido ou ligeiramente
turvo, moderadamente viscoso, além de petéquias dispersas e sufusões, com acúmulo de
pequenas hemorragias em alguns pontos.
Observou-se, nos grupos moderado e severo, a presença de estriações brancas paralelas
às fibras musculares, sendo que, a sua gravidade era maior quanto mais severa a a miopatia
peito de madeira. O aumento de estriações também foi associado à maior gravidade da lesão
em músculos peitorais de frangos de corte por Kuttappan et al. (2013).
A B C
Fig. 2. Músculo peitoral maior normal (A), e acometido pelo grau moderado (B) e severo (C)
da miopatia peito de madeira em frango de corte da linhagem Cobb. Observam-se estriações
esbranquiçadas no quadrante superior da peça muscular (seta branca) bem como regiões
avermelhadas (petéquias) e endurecidas na porção média e inferior do músculo (setas amarelas).
50
Análise microscópica
Na Figura 3A, 3B e 3C observaram-se fibras musculares esqueléticas de núcleos
excêntricos e tecido conjuntivo denso não modelado caracterizado como perimísio que reúne
fibras musculares esqueléticas em fascículos.
No grupo de frangos de corte com musculatura peitoral saudável observou-se relativa
homogeneidade no tamanho de fibras musculares normocoradas e poligonais. O perimísio
apresentou-se mais delgado em relação ao grupo moderado e severo, evidenciando-se a matriz
extracelular e fibroblastos, característicos do tecido conjuntivo intersticial ou de preenchimento
(Figura 2A).
Tanto o grau moderado, quanto o severo caracterizaram-se pela perda do aspecto
poligonal das fibras musculares (Figuras 3B e 3C). As fibras do músculo Pectoralis major em
frangos de corte acometidos pelo grau moderado do peito de madeira apresentaram
heterogeneidade no seu tamanho e aumento da espessura de tecido conjuntivo intersticial com
leve aumento na quantidade de adipócitos. Também foram observadas fibras degeneradas,
infiltradas por células inflamatórias, principalmente heterófilos e macrófagos. (Figura 2B). De
acordo com Sihvo et al. (2014), as fibras musculares degeneradas eram envolvidas por tecido
conjuntivo frouxamente organizado e rico em colágeno. A miodegeneração, acompanhada de
regeneração, é significativamente associada ao peito de madeira (Sihvo et al., 2016). A
expressão de fatores reguladores específicos da transcrição proteica muscular para proliferação
e diferenciação das células que promovem a regeneração do músculo em resposta a um dano
muscular depende do tipo de linhagem comercial de rápido crescimento. Isto sugere que a
etiologia da miopatia peito de madeira pode variar entre linhagens de frangos de corte
(Velleman et al. 2015).
O grau severo do peito de madeira apresentou maior discrepância no tamanho das fibras
musculares e significativa hipertrofia de algumas fibras. De acordo com MacRae et al. (2006),
quando o aumento no tamanho das fibras musculares não for acompanhado de adequado suporte
nutricional pode acarretar em estresse metabólico intermediário, devido à dificuldade de
difusão de oxigênio no tecido muscular. Observa-se também, (Figura 2C), o perimísio ao lado
de infiltrado inflamatório.
51
*
◄
Fig. 3. Fotomicrografias de seções histológicas transversais do músculo Pectoralis major de frangos de corte
acometidos pelo peito de madeira. A: Normal. Matriz extracelular (cabeça de seta); fibroblastos (seta negra). B:
Aspecto moderado do peito de madeira. Fibra muscular degenerada infiltrada por células inflamatórias (seta
verde). C: Aspecto severo do peito de madeira. Fibra muscular (seta branca), perimísio (*), adipócitos (setas
amarelas). H.E., 200X.
52
Conclusões
Amostras acometidas pela miopatia peito de madeira são maiores e mais pesadas.
Amostras de frango acometidas pelo grau severo da miopatia peito de madeira possuem
qualidade física inferior comparadas com a carne de frangos normais, o que pode ser prejudicial
ao processamento da carne de aves. Além disso, o grau severo da miopatia peito de madeira,
possui níveis considerado normais de ácidos graxos, além de possuir maior nível de ácido
araquidônico, um importande ácido graxo ω6 que reduz os níveis de colesterol. Peitos de frango
com miopatia tem menor concentração de gordura que peitos normais. A miodegeneração
provocada pela miopatia peito de madeira tem a hipertrofia da fibra muscular como mecanismo
compensatório nos graus moderado e severo em frangos de corte. A perda do aspecto poligonal,
a heterogeneidade da maioria das fibras musculares, aumento de tecido conjuntivo intersticial
e o infiltrado inflamatório caracterizam os aspectos histológicos do grau moderado e severo da
carne de peito de frangos de corte afetados pelo miopatia peito de madeira. Adicionalmente, no
teste afetivo visual do peito de frango in-natura indicaram que o consumidor reprovou os peitos
acometidos com a miopatia peito de madeira, independente do grau de acometimento.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, 2017/5754-4)
pelo auxílio à pesquisa concedido.
Conflitos de interesses
Os autores declaram não haver conflito de interesse
53
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55
CAPÍTULO 3
Título curto
Uso da maturação em peito de frangos acometidos pela miopatia Peito de Madeira
Rodrigo Fortunato de OliveiraAC, Juliana Lolli Malagoli de MelloA, Fábio Borba FerrariA,
Rodrigo Alves de SouzaAB, Mateus Roberto PereiraA, Erika Nayara Freire CavalcantiA, Erick
Alonso Villegas-CayllahuaA, Heloisa de Almeida FidelisA, Aline Giampietro-GanecoA, Maísa
Santos FáveroA, Pedro Alves de SouzaA e Hirasilva BorbaA
A
Universidade Estadual Paulista – UNESP, Departamento de Tecnologia, via de acesso
Professor Donato Castellane, s/n, Zona Rural, 14884-900, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.
B
Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos,
Avenida Duque de Caxias Norte, nº 225, 13635-900, Pirassununga, São Paulo, Brasil.
C
Autor correspondente. Email: [email protected]
58
Introdução
Nos últimos 25 anos, entre todos os produtos de origem animal, o mercado da carne de
frango apresentou a taxa de crescimento mais perceptível comparado as outras carnes e isso
pode ser atribuído à saúde, à ausência de limitações culturais e religiosas ao seu consumo, à
eficiência da produção e ao crescimento da população humana (Windhorst, 2017; Tallentire et
al. 2018).
Os avanços genéticos para crescimento e rendimento da carne de frango têm resultado
em alterações musculares que são o objetivo das pesquisas atuais, dentre elas a miopatia peito
de madeira, anormalidade muscular emergente em filés de peito de frango, que confere a
aparência desagradável à carne. A carne de peito acometida por essa miopatia é caracterizada
por dureza palpável, rigidez muscular total ou parcial e mudanças significativas nas
características de qualidade em comparação aos filés considerados normais (Tijare et al. 2016).
Além disso, os filés afetados por esta miopatia frequentemente exibem aumento de estrias
brancas em sua superfície, fluido superficial gelatinoso-viscoso e lesões hemorrágicas
petequiais (Dalle Zotte et al. 2017; Kuttappan et al. 2017). A incidência desta miopatia tem
sido relatada em diferentes países como Brasil, Itália, Finlândia, Estados Unidos e Reino Unido
(Ferreira et al. 2014; de Brot et al. 2016).
A miopatia peito de madeira prejudica a qualidade e a aparência do filé de peito, em que
filés afetados pelo grau severo podem ser rejeitados na fase de inspeção ainda no abatedouro
ou, mais tarde, durante o processamento. Como os filés de peito constituem a parte de maior
valor agregado da carcaça de frangos de corte, sua rejeição para consumo humano causa
significativas perdas econômicas. Outras preocupações incluem a redução potencial no bem-
estar animal das aves afetadas e as questões éticas relacionadas à condenação de quantidades
consideráveis de carne de frango.
Por se tratar de alteração muscular que resulta em carne de peito bastante endurecida,
uma alternativa viável para a comercialização deste tipo de carne seria o uso de técnicas de
amaciamento como a maturação que possam melhorar sua qualidade, embora esta não seja uma
prática comum na indústria avícola.
Diante do exposto, esse estudo teve como objetivo avaliar os possíveis efeitos da
maturação por até sete dias sobre a qualidade da carne de peito de frangos de corte acometidos
pelos diferentes graus de severidade da miopatia peito de madeira.
60
Material e Métodos
Métodos
A coloração (luminosidade - L*; intensidade de vermelho - a* e intensidade de amarelo
- b*) foi determinada imediatamente após a desossa (em amostras não maturadas) usando um
colorímetro Minolta CR-400 (Konica Minolta Sensing, Inc., Osaka, Japão) (configurações:
iluminação difusa/0 ângulo de visão, iluminante D65, componente especular incluído)
calibrado para um padrão branco. O equipamento foi posicionado em três locais diferentes da
61
superfície externa do músculo Pectoralis major (a qual estava anteriormente em contato com a
pele) e também em três locais diferentes da superfície interna do músculo (a qual estava em
contato com o osso esterno). Após três e sete dias de maturação, para a realização das analises
laboratoriais das amostras do grupo controle e dos grupos acometidos pelos graus moderado e
severo da miopatia foram removidas da incubadora BOD e, após a abertura das embalagens,
foram expostas ao oxigênio durante 30 minutos para oxigenação da mioglobina (Ledward
1992).
O pH da carne foi avaliado em triplicata usando um peagâmetro digital (Testo 205, Testo
Inc., Sparta, NJ, EUA) munido de eletrodo de penetração, o qual foi inserido na parte cranial
de cada amostra. A capacidade de retenção de água (CRA) foi determinada em triplicata
conforme descrito por Hamm (1961).
As amostras foram cozidas para avaliação das perdas de peso durante o cozimento
(PPC), segundo o método descrito por Honikel (1987), e os resultados foram obtidos por
diferença entre os pesos inicial e final, expressos em porcentagem. A força de cisalhamento foi
avaliada utilizando o método Meullenet-Owens Razor Shear (MORS) nas amostras cozidas. A
força de cisalhamento também foi avaliada utilizando o dispositivo Warner-Bratzler acoplado
ao texturômetro Texture Analyser TA-XT2i. De cada amostra cozida foram obtidas três sub-
amostras com área de secção de 1 cm2, as quais foram colocadas com as fibras orientadas no
sentido perpendicular ao do dispositivo Warner-Bratzler, e submetidas ao corte Lyon et al.
(1998). A força necessária para cisalhar as amostras foi expressa em Newton.
A perda de peso na maturação foi definida como a diferença entre o peso inicial e final
de cada amostra, antes e após a maturação, expressa em porcentagem. O volume do exsudato
foi medido com proveta graduada após a abertura das embalagens. A proteína solúvel no
exsudato foi avaliada como descrito por Hartree (1972).
A composição química foi determinada em amostra não maturadas e nas maturadas por
três e sete dias, após a realização das análises físicas. Foram liofilizadas (SuperModulyo220,
Thermo Fisher Scientific Inc., Waltham, MA, USA) e moídas para posterior determinação das
concentrações de proteína e de matéria mineral segundo preconizado pela AOAC (2011),
métodos 977.14 e 920.153, respectivamente. O percentual de umidade foi determinado por
diferença entre os pesos das amostras antes e após a liofilização (AOAC 2011; método 950.46).
A gordura foi determinada de acordo com o método proposto por Bligh e Dyer (1959).
62
A oxidação lipídica foi determinada em amostras não maturadas e nas maturadas três e
sete dias utilizando o teste de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARs), segundo a
metodologia descrita por Vyncke (1970). O colesterol foi determinado após realizarmos uma
adaptação do método descrito por Saldanha et al. (2004). Foi pesado 0,5 g de amostra liofilizada
em tubo falcon de 50 mL, à qual foram adicionados 6 mL de etanol e 4 mL de KOH 50%. Os
tubos foram mantidos em banho-maria com agitação (40 °C) até que as amostras estivessem
totalmente dissolvidas e, posteriormente, por mais 10 minutos (60 ºC). Por três vezes foram
adicionadas 10 mL de N-hexano para a separação de fases e foi retirada a fase superior da
amostra para outro tubo. Da fase superior, foram pipetadas alíquotas de 3 mL para tubos de
ensaio e foi realizada a secagem com gás nitrogênio. Após secagem, em cada tubo foi
adicionado 0,5 mL de álcool isopropílico, foram agitados em vórtex e foram adicionados 3 mL
de reagente enzimático para análise de colesterol em sangue. Os tubos foram mantidos em
banho-maria (37 ºC) por 10 minutos. Foi realizada leitura das amostras em espectrofotômetro
(Shimadzu UV-1800, Shimadzu Corporation, Kyoto, Japan) com λ igual a 500 nm.
Os ácidos graxos foram isolados de acordo com o método proposto por Bligh e Dyer
(1959), que remove a fase lipídica da amostra. A esterificação dos ácidos graxos foi realizada
pelo método de metilação (ISO 5509, 1978) e analisada por cromatógrafo gasoso (Shimadzu
14 B, Shimadzu Corporation, Kyoto, Japão) equipado com detector de ionização de chama e
coluna capilar de sílica fundida (Omegawax 250); H2 foi usado como gás de transporte. Os
picos foram identificados por comparação com os tempos de retenção de padrões com
composição conhecida.
As concentrações de colágeno total, solúvel e insolúvel foram quantificadas em
amostras não maturadas e maturadas por três e sete dias pela determinação do aminoácido
hidroxiprolina conforme procedimentos preconizados pela Association of Official Analytical
Chemists, método 990.26 (AOAC 2011). O IFM foi determinado como descrito por Culler et
al. (1978), utilizando o método do Biureto (Gornall et al. 1949) para determinação da
concentração de proteínas na suspensão de miofibrilas. O IFM foi calculado de acordo com a
seguinte fórmula: IFM= densidade óptica x 200. O comprimento de sarcômero foi determinado
como descrito por Cross et al. (1981). De cada amostra descongelada, obtivemos sub-amostras
de 0,5 g que foram retiradas com um bisturi e colocadas em tubo falcon de 50 mL, em seguida,
foram adicionados 15 mL de Iodeto de potássio (13,28g/1L de água destilada) e 15 mL de
Cloreto de potássio (5,96 g/1 L de água destilada). Posteriormente as amostras foram
63
Análise estatística
Os dados obtidos nas análises físico-químicas foram analisados utilizando um
delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC) em esquema fatorial 3x3 (três graus
de severidade da miopatia e três períodos de maturação) com 20 repetições. Os resultados foram
analisados pelo procedimento General Linear Models do Statistical Analysis System (SAS
Institute Inc. 2002–2003). Todos os dados foram testados por análise de variância e comparados
pelo teste de Tukey a um nível de significância de 5%.
Resultados e discussão
Cor e pH da carne
A carne acometida pelo grau severo da miopatia peito de madeira apresentou maior
(P<0,0001) luminosidade (L*) (63,55 ± 0,53) na superfície externa do que amostras
classificadas como normais (59,78 ± 0,59) ou com o grau moderado (60,46 ± 0,52) da miopatia.
Independentemente do acometimento pela miopatia, o valor de L* na superfície externa
diminuiu (P=0,021) de 62,09 ± 0,52 para 60,01 ± 0,56 após três dias de maturação. Houve
interação significativa entre grau de severidade e período de maturação para as variáveis
intensidade de vermelho (a*) (analisada nas superfícies interna e externa amostras) e
intensidade de amarelo (b*) (analisada na superfície externa das amostras) (Tabela 1).
64
Tabela 1. Valores médios da intensidade de vermelho (a*) e de amarelo (b*) da carne de peito
de frangos de corte acometidos pela miopatia peito de madeira maturada por até sete dias.
a* superfície interna
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 0,77 ± 0,23b 2,46 ± 0,26Aa 2,82 ± 0,26Aa (GS) 0,0003
Moderado 0,94 ± 0,22b 1,14 ± 0,22Bb 1,93 ± 0,22Ba (M) <0,0001
Severo 0,56 ± 0,26b 1,53 ± 0,22Ba 1,61 ± 0,22Ba (GS X M) 0,0170
b* superfície interna
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 2,76 ± 0,37Bab 2,22 ± 0,45Ab 3,60 ± 0,48Aa (GS) 0,0002
Moderado 2,95 ± 0,37Ba 2,85 ± 0,37Aa 3,81 ± 0,37Aa (M) 0,0018
Severo 5,55 ± 0,39Aa 3,12 ± 0,39Ab 4,04 ± 0,37Ab (GS X M) 0,0078
a* superfície externa
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 0,64 ± 0,24Ab 1,93 ± 0,27Aa 2,24 ± 0.27Aa (GS) 0,6380
Moderado 1,18 ± 0,23Ab 1,13 ± 0,23Ab 1,95 ± 0.23Aa (M) <0,0001
Ab Aa
Severo 0,92 ± 0,23 1,75 ± 0,23 1,67 ± 0.23Aa (GS X M) 0,0370
Médias seguidas por letras distintas nas colunas (maiúsculas) e nas linhas (minúsculas), são significativamente
diferentes pelo teste de Tukey (P<0,05). GS – grau de severidade; M – maturação; GSXM – interação.
Amostras acometidas pela miopatia peito de madeira maturadas por três e sete dias
apresentaram redução (P=0,0003) do valor de a* na superficie interna dos filés. Durante a
maturação, tanto amostras normais como as acometidas pela miopatia apresentaram aumento
(P<0,0001) do valor de a* da superfície interna dos filés. Com relação à intensidade de amarelo,
amostras não maturadas (0) e acometidas pelo grau severo da miopatia apresentaram maior
valor de b* (5,55) do que as amostras normais (2,76) ou as acometidas pelo grau moderado
(2,95) de peito de madeira. Após três e sete dias de maturação não houve variação do valor de
b* entre as amostras afetadas pelos diferentes graus de severidade da miopatia. Considerando
cada grau de severidade durante o processo de maturação, amostras normais apresentaram
aumento da intensidade de amarelo de 2,22 para 3,60; o valor de b* de amostras de grau
moderado não foi influenciado pela maturação; e amostras acometidas pelo grau severo da
miopatia apresentaram redução da intensidade de amarelo de 5,55 para 3,12. Quanto à
intensidade de vermelho da superfície externa das amostras, aquela que estava anteriormente
em contato com a pele do peito, ao longo do processo de maturação foi observado aumento
(P<0,0001) do valor de a* em filés de todos os tratamentos estudados.
65
PPC (%)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Bc Ba
Normal 22,54±0,78 29,21±0,78 25,82±0,78Ab (GS) <0,0001
Ab Ba
Moderado 25,89±0,82 30,08±0,78 19,52±0,78Bc (M) <0,0001
Ab Aa
Severo 25,86±0,82 35,42±0,93 23,92±0,87Ab (GS X M) <0,0001
Médias seguidas por letras distintas nas colunas (maiúsculas) e nas linhas (minúsculas), são significativamente
diferentes pelo teste de Tukey (P<0,05). GS – grau de severidade; M – maturação; GSXM – interação.
acometidas pela miopatia, maturadas (moderado: 0,45% e severo: 0,56%) ou não (moderado:
0,43% e severo: 0,41%), apresentaram maior concentração quando comparados as amostras
normais (início: 0,29% e maturado: 0,33%), o que pode causar aumento na rigidez dos tecidos,
reduzindo a qualidade da carne. O aumento da rigidez do músculo afetado por peito de madeira
está associado não apenas ao aumento da concentração de colágeno, mas também às
características estruturais e de extensão do tecido conjutivo fibroso, diâmetro da fibrila,
reticulação, densidade da fibrila e outras características estruturais (Velleman et al. 2017).
De fato, embora um conteúdo maior de colágeno solúvel, insolúvel e total tenha sido
encontrado na miopatia peito de madeira (Tabelas 4), amostras cozidas de frangos acometidas
pela miopatia apresentaram menor força de cisalhamento (Tabela 2) e, consequentemente,
maior maciez, quando comparadas ao peito de frango considerado normal, possivelmente,
devido à desnaturação e solubilização das ligações cruzadas de colágeno que ocorrem em
temperatura entre 53°C e 63ºC (Soglia et al, 2017).
Foi observado aumento do comprimento de sarcômero durante o processo de maturação
em amostras de frango normais e redução em amostras acometidas pelo grau severo da miopatia
peito de madeira, sendo que, o grau severo, com ou sem maturação, apresentou maior
comprimento de sarcômero comparado as amostras de frango normal e de grau moderado da
miopatia. Esse maior comprimento é explicado pela hipertrofia muscular apresentada em
amostras acometidas pelo grau severo da miopatia peito de madeira, promovendo o
alongamento do sarcômero. Os resultados de força de cisalhamento (WB e MORS) diminuíram
durante a maturação e também com o grau de severidade da amostra (Tabela 2), indicando que
as amostras cozidas afetadas com peito de madeira são mais macias do que as amostras normais,
confirmando também a relação do IFM e comprimento de sarcômero com a força de
cisalhamento (maciez). Acredita-se que haja relação direta entre o comprimento de sarcômero
e a maciez da carne, em que, quanto maior o comprimento de sarcômero maior a sua maciez da
carne (Cheng e Sun 2008; Pearce et al. 2011).
durante o processo de maturação nas amostras acometidas pela miopatia peito de madeira. Nam
et al. (2001) observaram que embalar carnes cruas a vácuo foi suficiente para proteger o
colesterol e os ácidos graxos da oxidação. Neste estudo todas as amostras utilizadas no processo
de maturação foram individualmente embaladas a vácuo, e possivelmente esse processo
conseguiu proteger o colesterol (Tabela 5) e os ácidos graxos (Tabela 7), principalmente os
insaturados de condições adversas que poderia ter promovido um processo de oxidação, embora
seja um composto relativamente estável. O aumento da concentração de gordura também
aumenta o colesterol presente na carne, independente da espécie, raça, ou de fatores associados
à alimentação (Pietruszka et al. 2015). Era esperado, no presente estudo, que ao diminuir a
concentração de gordura, a de colesterol total também diminuísse, com base nos estudos de
Pietruszka et al. (2015), no entanto, isso não foi observado nas amostras acometidas pelo grau
moderado da miopatia peito de madeira que estudamos.
73
Tabela 5. Valores médios de proteína bruta, lipídeo, umidade, oxidação lipídica (TBARS) e
colesterol da carne de peito de frangos de corte acometidos pela miopatia peito de madeira
maturada por até sete dias.
Proteína (%)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Aa Aa
Normal 25,20±0,61 25,41±0,69 23,55±0,82Aa (GS) <0,0001
Ba Aa
Moderado 23,31±0,58 24,91±0,58 18,80±0,65Bb (M) <0,0001
Ba Ba
Severo 22,97±0,58 23,21±0,58 19,74±0,61Bb (GS X M) 0,0401
Gordura (%)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Aa Ab
Normal 3,36 ± 0,17 1,94 ± 0,18 2,05 ± 0,18Ab (GS) 0,0232
Ba Ab
Moderado 2,61 ± 0,16 1,92 ± 0,15 1,99 ± 0,15Ab (M) <0,0001
Ca Aa
Severo 2,17 ± 0,15 1,91 ± 0,17 2,18 ± 0,15Aa (GS X M) 0,0014
Umidade (%)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 73,66±0,29Bab 73,43±0,34Bb 74,45±0,37Ba (GS) <0,0001
Moderado 74,20±0,29ABa 73,77±0,29ABa 73,56±0,30Ba (M) <0,0001
Ab Ac
Severo 76,41±0,29 74,49±0,34 77,64±0,34Aa (GS X M) <0,0001
TBARS (mg MDA/kg de amostra)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 0,61 ± 0,06Ab 0,60 ± 0,07Ab 1,28 ± 0,07Ca (GS) <0,0001
Moderado 0,59 ± 0,06Ab 0,48 ± 0,06Ab 1,65 ± 0,07Ba (M) <0,0001
Ab Ab
Severo 0,65 ± 0,06 0,56 ± 0,07 2,21 ± 0,07Aa (GS X M) <0,0001
Colesterol (mg/100g)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 84,93±1,33ABa 83,72±1,59Ba 84,26±1,88Ba (GS) <0,0001
Moderado 86,56±1,33Ab 95,03±1,33Aa 93,45±1,40Aa (M) <0,0001
Severo 82,49±1,33 Bb
94,77±1,40 Aa
91,76±1,40Aa (GS X M) 0,0002
Médias seguidas por letras distintas nas colunas (maiúsculas) e nas linhas (minúsculas), são significativamente
diferentes pelo teste de Tukey (P<0,05). GS – grau de severidade; M – maturação; GSXM – interação.
miristoléico (C14:1) e ácido ℽ linolênico (Tabela 6), no entanto, não foi verificada interação
(P>0,05) entre os fatores estudados para o restante dos ácidos graxos quantificados (Tabela 7).
Tabela 6. Valores médios da concentração de ácidos graxos saturados (AGS), ácido laurico
(C12:0), ácido miristoleico (C14:1) e ácido ℽ linolenico (C18:3n6) na gordura da carne de peito
de frangos de corte acometidos pela miopatia peito de madeira maturada por até sete dias.
AGS (%)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 32,10±0,28Ba 32,32±0,31Ba 32,72±0,28ABa (GS) 0,0461
Moderado 32,45±0,28Bb 32,46±0,28Bb 33,55±0,35Aa (M) 0,6642
Aa Aa
Severo 33,31±0,28 33,36±0,31 32,25±0,28Bb (GS X M) 0,0033
C12:0 (%)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 0,030±0,002Ba 0,024±0,002Bb 0,028±0,002Bab (GS) 0,0124
Moderado 0,036±0,002Aa 0,030±0,002Ab 0,030±0,002Bb (M) 0,0031
Severo 0,030±0,002Bb 0,027±0,002ABb 0,035±0,002Aa (GS X M) 0,0472
C14:1 (%)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 0,08 ± 0,01Ab 0,09 ± 0,01Aa 0,10 ± 0,01ABa (GS) 0,8623
Moderado 0,10 ± 0,01Aa 0,09 ± 0,01Aa 0,09 ± 0,01Ba (M) 0,0454
Severo 0,09 ± 0,01Ab 0,08 ± 0,01Ab 0,11 ± 0,01Aa (GS X M) 0,0101
C18:3n6 (%)
Período de maturação (M) (n=20) P-valor
GS (n=20) Início 3 dias 7 dias
Normal 0,18±0,01Aa 0,16±0,01Bb 0,17±0,01Aab (GS) 0,6480
Moderado 0,17±0,01ABab 0,15±0,01Bb 0,18±0,01Aa (M) 0,0731
Severo 0,16±0,01Ba 0,18±0,01Aa 0,18±0,01Aa (GS X M) 0,0182
Médias seguidas por letras distintas nas colunas (maiúsculas) e nas linhas (minúsculas), são significativamente
diferentes pelo teste de Tukey (P<0,05). GS – grau de severidade; M – maturação; GSXM – interação.
75
Tabela 7. Composição de ácidos graxos (% do total de ácidos graxos) da gordura da carne de peito de frangos de corte Cobb MX acometidos com miopatia
peito de madeira após diferentes períodos de maturação.
Graus de severidade Período de maturação P-Valor
Ácidos Graxos
Normal Moderado Severo 0 dia 3 dias 7 dias P(GS) P(M) P(GSXM)
AGMI 36,42±0,48a 35,10±0,48a 33,70±0,48b 35,20±0,48 34,53±0,48 35,49±0,48 0,0011 0,3623 0,7814
AGPI 31,02±0,50b 32,41±0,50ab 33,46±0,50a 32,18±0,50 32,71±0,50 32,01±0,50 0,0052 0,5914 0,4690
C15:0 0,070±0,002b 0,074±0,002ab 0,076±0,002a 0,076±0,002a 0,074±0,002ab 0,070±0,002b 0,0524 0,0421 0,1942
C16:1 3,61±0,12 3,55±0,12 3,35±0,12 3,41±0,12b 3,33±0,12b 3,77±0,13a 0,2961 0,0373 0,0644
C17:0 0,107±0,003b 0,109±0,003b 0,120±0,003a 0,115±0,003 0,111±0,003 0,111±0,003 0,0212 0,6114 0,1740
C17:1 0,047±0,001b 0,051±0,001a 0,049±0,001ab 0,052±0,001a 0,044±0,001b 0,052±0,001a 0,0173 <0,0001 0,1721
C18:0 7,45±0,16b 7,45±0,16b 8,09±0,16a 7,50±0,16b 8,01±0,16a 7,48±0,16b 0,0104 0,0390 0,1912
C18:1n9c 30,24±0,35a 29,07±0,35b 28,06±0,35c 29,32±0,35 28,73±0,35 29,32±0,35 0,0003 0,3951 0,7733
C18:1n7 2,05±0,04 1,95±0,04 2,00±0,04 1,96±0,04b 2,08±0,04a 1,95±0,04b 0,1260 0,0172 0,3074
C18:2n6c 24,90±0,36b 26,43±0,38a 26,40±0,36a 26,12±0,36 25,57±0,36 26,04±038 0,0061 0,5173 0,1760
C18:3n3 1,54±0,03b 1,65±0,03a 1,62±0,03ab 1,66±0,03a 1,47±0,03b 1,67±0,03a 0,0522 <0,0001 0,2901
C18:2c9,t11 0,057±0,002a 0,056±0,002a 0,050±0,002b 0,057±0,002 0,052±0,002 0,054±0,002 0,0093 0,1024 0,2132
C20:3n6 0,45±0,02 0,44±0,02 0,47±0,02 0,40±0,02b 0,53±0,02a 0,44±0,02b 0,5822 0,0033 0,4381
C20:4n6 2,05±0,15b 2,08±0,15b 2,55±0,15a 1,96±0,15b 2,63±0,15a 2,09±0,15b 0,0313 0,0054 0,2922
C20:5n3 (EPA) 0,14±0,01 0,12±0,01 0,13±0,01 0,12±0,01b 0,15±0,01a 0,12±0,01b 0,3600 0,0131 0,3724
C22:4n6 (DTA) 0,62±0,04b 0,65±0,04b 0,81±0,05a 0,61±0,04b 0,80±0,05a 0,67±0,04b 0,0111 0,0162 0,4510
C22:5n3 (DPA) 0,418±0,028b 0,434±0,028ab 0,497±0,028a 0,396±0,028b 0,524±0,028a 0,428±0,028b 0,0162 0,0063 0,5411
C22:6n3 (DHA) 0,19±0,02 0,19±0,02 0,21±0,02 0,18±0,02b 0,24±0,02a 0,18±0,02b 0,7613 0,0194 0,5552
EPA+DHA 0,33±0,02 0,33±0,02 0,34±0,02 0,30±0,02b 0,39±0,02a 0,31±0,02b 0,9654 0,0180 0,4313
ω6 28,19±0,46b 29,48±0,46a 30,43±0,46a 29,27±0,46 29,72±0,46 29,10±0,46 0,0050 0,6141 0,4544
ω3 2,34±0,04b 2,43±0,04b 2,50±0,04a 2,40±0,04 2,44±0,04 2,42±0,04 0,0261 0,8372 0,5800
Médias seguidas por letras diferentes na mesma linha, são significamente diferentes pelo Teste de Tukey (P<0,05). AGMI, Ácidos graxos monoinsaturado; AGPI, Ácidos graxos polinsaturados;
EPA, Ácido eicosapentaenóico; DHA, Ácido docosahexaenóico; DTA, Ácido docosatetraenóico; DPA, Ácido docosapentaenóico. GS – grau de severidade; M – maturação; GSXM – interação.
76
Conclusões
Amostras de frango acometidos pelo grau severo da miopatia peito de madeira
produzem mais exsudato, o que pode ser prejudicial ao processamento da carne de aves. O
processo de maturação reduz a perda de peso por cozimento e a perda de proteína na exsudação,
em peitos de frangos acometidos com miopatia peito de madeira, promovendo a melhora da
qualidade dessa carne. Além disso, o grau severo da miopatia peito de madeira, possui níveis
mais elevados de ácidos graxos polinsaturados, e o DHA, um importante ácido graxo ω3, que
é benéfico para a saúde humana tem níveis iguais, com ou sem miopatia. Peitos de frango com
miopatia não maturados são menos gordurosos que peitos normais. O período de maturação por
3 dias a 2ºC em peitos com ou sem miopatia é suficiente para amaciar a carne, sem reduzir sua
suculência, o que sugere que o processo de maturação pode ser de grande importância para
indústrias avícolas, principalmente utilizados em peitos acometidos pela miopatia peito de
madeira, o que pode permitir a inclusão de produtos com a miopatia sem prejuízos para o
consumidor e com a manutenção da qualidade da carne..
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, 2017/5754-4)
pelo auxílio à pesquisa concedido.
Conflitos de interesses
Os autores declaram não haver conflito de interesse.
78
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81
82
83
81
CAPÍTULO 4
Rodrigo Fortunato de OliveiraAC, Maísa Santos FáveroA Juliana Lolli Malagoli de MelloA,
Fábio Borba FerrariA, Erika Nayara Freire CavalcantiA, Rodrigo Alves de SouzaAB, Mateus
Roberto PereiraA, Aline Giampietro-GanecoA, Erick Alonso Villegas-CayllahuaA, Heloisa de
Almeida FidelisA, Pedro Alves de SouzaA e Hirasilva BorbaA
A
Universidade Estadual Paulista – UNESP, Departamento de Tecnologia, Via de Acesso
Professor Donato Castellane, s/n, Zona Rural, 14884-900, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.
B
Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos,
Avenida Duque de Caxias Norte, nº 225, 13635-900, Pirassununga, São Paulo, Brasil.
C
Autor correspondente. Email: [email protected]
83
1. Introdução
(Petracci e Cavani, 2012), e a miopatia peito de madeira é um dos sérios problemas que afetam
a qualidade da carne de frango (Kuttappan et al., 2016).
Os peitos de frango acometidos pela miopatia peito de madeira têm maior peso e
espessura do que o peito normal e apresentam de forma parcial ou integral, regiões endurecidas
do músculo, com superfície revestida por um “líquido túrbido” e viscoso, podendo apresentar
hemorragias petequiais e sufusões nos casos mais graves (Sihvo et al. 2014; Dalle Zotte et al.
2014). A detecção de carne de peito com a miopatia peito de madeira só pode ser manualmente
diferenciada durante a produção (Sihvo et al. 2014). Essa miopatia tem sido encontrada em
vários países do mundo, como Europa e EUA (Sihvo et al. 2014; Mudalal et al. 2015; Mutryn
et al. 2015; de Brot et al. 2016), com frequência crescente devido às maiores taxas de
crescimento e rendimento de carne exigidas pela indústria. Além disso, a carne de frango
acometido por essa miopatia tem maior taxa de perda por cozimento (Tasoniero et al., 2016).
No entanto, até o momento, não se sabe se esse declínio na qualidade da carne impacta em
outras propriedades funcionais que possam influenciar na produção de embutidos.
Como consequência de seu aspecto, o peito de frango acometido pela miopatia peito de
madeira não apresenta padrões sensoriais de comercialização direta, sendo aproveitado para
elaboração de produtos cárneos cozidos (Qin 2013; Mudalal et al., 2015), de linguiças, de ração
animal ou então são descartados. A linguiça frescal apresenta-se como opção para o
aproveitamento tecnológico de peito de frango acometido pela miopatia peito de madeira
considerando seu valor comercial. No entanto, a legislação brasileira não relata aproveitamento
de carne acometida pela miopatia peito de madeira na produção de produtos cárneos tipo
frescal. Apesar disso, ressalta-se a ausência de dados de armazenamento de linguiça de frango
elaborada com carne acometida pela miopatia peito de madeira. Nesse âmbito, estudos
envolvendo o efeito do tempo e das condições de armazenamento de produtos cárneos são
fatores essenciais no processamento desses produtos, uma vez que problemas relacionados à
estabilidade do armazenamento são comuns (Kozačins et al. 2012).
Diante do exposto, esse estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de linguiças tipo
frescal fabricadas com carne de peito de frangos acometidos pelos diferentes graus de
severidade da miopatia peito de madeira armazenadas por 28 dias.
85
2. Material e Métodos
2.2. Métodos
Nome: _____________________________________________________________Data:_____________
Você está recebendo amostras codificadas de linguiça de frango. Por favor, prove-as e avalie-as de forma global,
utilizando a escala abaixo:
9- Gostei muitíssimo
8- Gostei muito
7- Gostei moderadamente
6- Gostei ligeiramente
5- Nem gostei nem desgostei
4- Desgostei ligeiramente
3- Desgostei moderadamente
2- Desgostei muito
1- Desgostei muitíssimo
Observações _________________________________________________________________________
Figura 1. Ficha do teste de avaliação sensorial utilizando uma escala hedônica de nove pontos
para as formulações de linguiças frescal elaboradas com carne de peito acometida pela miopatia
peito de madeira.
testados por análise de variância e comparados pelo teste de Tukey a um nível de significância
de P<0,05.
3. Resultados e discussão
3.1. Cor
apresentada após o abate em peito acometido com essa miopatia provoca um pH mais alto,
portanto, o maior valor de pH da carne de frango com a miopatia peito de madeira pode ser
responsável por uma baixa glicólise pós-mortem. Em detalhe, o pH final mais elevado
encontrado em filés com a miopatia peito de madeira é, provavelmente, devido à diminuição
do potencial glicolítico, do estado energético e de alterações nas vias metabólicas (Zambonelli
et al. 2017).
Amostras fabricadas com carne de frangos acometidos pela miopatia peito de madeira
apresentaram maior perda de peso por cozimento do que linguiças produzidas com carne de
aves normais, com exceção de amostras armazenadas por 28 dias em que as de grau severo
apresentaram menor PPC em relação às produzidas com carne de aves normais e de aves
acometidas pelo grau moderado da miopatia. Foi observado aumento da perda de peso por
cozimento até os 28 dias em todas as amostras estudadas. O incremento na perda de peso por
cozimento em amostras produzidas com carne de aves acometidas por peito de madeira pode
ser justificado pelas falhas nas proteínas miofibrilares ou sarcoplasmáticas, alterações
histológicas que ocorrem na carne e consequente inibição das PPC dos produtos processados
(Sanchez Brambila et al. 2017; Soglia et al. 2016; Mudalal et al. 2015). Quin (2013) observou
92
que em produtos cominuídos produzidos com peito acometido pela miopatia peito de madeira,
que as perdas durante o cozimento foram reduzidas e próximas às de produtos elaborados com
carne de peito de aves normais em consequência da formação de uma rede tridimensional entre
as proteínas e a gordura da carne picada.
Quanto a maciez, não houve interação significativa entre grau de severidade da miopatia
e período de armazenamento para a variável dureza. Amostras normais e de grau moderado
apresentaram maior dureza quando comparadas às amostras produzidas com carne de aves
acometidas pelo grau severo da miopatia. O processo de armazenamento resultou em redução
da maciez das amostras. A redução da dureza observada em amostras produzidas com carne de
aves afetadas pelo grau severo da miopatia peito de madeira pode ter sido causada por
degeneração de fibra e redução do conteúdo de proteínas miofibrilares solúveis em sal (Mudalal
et al. 2015) e também pela quantidade de gordura.
Tabela 4. Perda de peso por armazenamento (PPA), atividade de água (Aw) e oxidação
lipídica (TBARS) de linguiças tipo frescal produzidas com carne de peito de frangos de corte
Ross (AP95) acometidos com miopatia peito de madeira após diferentes períodos de
armazenamento
PPA (%)
GS (n=60)
P-valor
A (n=80) Normal Moderado Severo
7 dias 3,40±0,15Ba 3,15±0,15Ca 3,43±0,15Ba (GS) <0,0001
Bb Bb
14 dias 3,21±0,15 3,55±0,15 4,04±0,15Aa (A) <0,0001
Bb Aa Aa
21 dias 3,21±0,15 4,02±0,15 4,21±0,15 (GS X A) 0,0008
28 dias 4,06±0,15Aa 4,25±0,15Aa 4,04±0,15Aa
Aw
GS (n=60)
P-valor
A (n=100) Normal Moderado Severo
Início 0,972±0,002Aab 0,968±0,002Ab 0,973±0,002Aa
7 dias 0,925±0,002Bc 0,931±0,002Bb 0,946±0,003Ba (GS) <0,0001
14 dias 0,890±0,002Ec 0,916±0,002Ca 0,901±0,002Eb (A) <0,0001
21 dias 0,902±0,002Db 0,900±0,002Eb 0,908±0,002Da (GS X A) <0,0001
Cb Db Ca
28 dias 0,911±0,002 0,909±0,002 0,919±0,002
TBARS (mg MDA/kg Amostra)
GS (n=60)
P-valor
A (n=100) Normal Moderado Severo
Início 0,38±0,04Da 0,37±0,04Ca 0,42±0,04Da
Bb Ab
7 dias 0,87±0,05 0,94±0,05 1,11±0,04Aa (GS) <0,0001
Aa Ab Cc
14 dias 1,39±0,05 0,89±0,05 0,70±0,04 (A) <0,0001
21 dias 0,66±0,04Cb 0,67±0,04Bb 0,84±0,04Ba (GS X A) <0,0001
Aa Bb Cb
28 dias 1,29±0,05 0,59±0,04 0,62±0,04
Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey
(P<0,05). Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si pelo Teste de
Tukey (P<0,05). A – Armazenamento, GS – Grau de severidade.
aumento da umidade de amostras produzidas com carne de aves afetadas pelo grau severo da
miopatia peito de madeira seguiu a tendência da adição da matéria-prima (Wold et al. 2017;
Soglia et al. 2016; Zambonelli et al. 2017), por apresentar na forma in-natura e sem
processamento, maior umidade do que peito de frango sem miopatia. Sihvo et al. (2014)
justificam que o aumento de umidade no peito acometido pela miopatia peito de madeira pode
resultar da presença de edemas no peito como consequência de processos inflamatórios. Em
geral, todos os produtos perderam umidade durante o armazenamento devido à produção de
exsudato, o que explicaria a perda de peso (Tabela 4).
Tabela 5. Valores médios de umidade, gordura e proteína de linguiças tipo frescal produzidas
com carne de peito de frangos de corte Ross (AP95) acometidos com miopatia peito de
madeira após diferentes períodos de armazenamento
Umidade (%) Gordura (%)
Grau de severidade (GS)
Normal 70,72±0,11B 4,84±1,17
Moderado 70,96±0,10B 5,33±1,97
Severo 72,00±0,09A 5,57±1,13
Tempo de armazenamento (A)
A
Início 71,55±0,15 4,79±1,12
7 dias 71,45±0,12A 5,01±1,18
14 dias 71,34±0,12A 5,26±1,18
21 dias 70,87±0,12B 5,08±1,16
28 dias 70,93±0,12B 6,10±1,17
P-valor
(GS) <0,0001 0,1170
(A) 0,0003 0,0858
(GS x A) 0,2419 0,4941
Proteína (%)
GS (n=60) P-valor
A (n=100) Normal Moderado Severo
Início 14,32±0,64Bb 17,27±0,61ABa 17,36±0,58ABa
7 dias 19,72±0,61Aa 18,76±0,61Aab 17,90±0,61Ab (GS) 0,0224
14 dias 15,47±0,61Ba 16,19±0,61 BCa
15,94±0,61BCa (A) <0,0001
21 dias 14,37±0,61Bb 17,05±0,61 BCa
16,37±0,58ABCa (GS X A) 0,0053
28 dias 15,48±0,64Ba 15,47±0,69Ca 15,45±0,58Ca
Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey
(P<0,05). Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si pelo Teste de
Tukey (P<0,05). A – Armazenamento, GS – Grau de severidade.
a 21 dias, com tendências de variação não muito claras entre as três formulações. Houve
redução da concentração proteica em amostras produzidas com carne de aves acometidas pela
miopatia peito de madeira após 28 dias de armazenamento. Não houve efeito significativo
(P>0,05) da miopatia e do armazemento na concentração de gordura de linguiças frescal. A
redução do conteúdo proteico da carne pode estar associada às mudanças notáveis da estrutura
muscular, características do músculo peitoral maior acometido pela miopatia peito de madeira
(Tasoniero et al. 2016; Soglia et al. 2016). O efeito da degradação protéica que ocorre no peito
afetado pela miopatia, provavelmente, foi contrabalançado nas amostras pela adição da pele
como fonte lipídica, juntamente com o efeito do processamento durante as etapas da moagem,
mistura e adição de sal de cura.
Com relação ao padrão do ministério da agricultura, pecuária e abastecimento para
atender a composição e requisitos minímos necessários para ser considerado uma linguiça do
tipo frescal (Brasil, 2000), somente a umidade (máximo de 70%) não foi atendida na linguiça
produzida com o grau severo da miopatia peito de madeira. Todas as linguiças, independente
do acometimento ou não da miopatia, apresentaram requisitos mínimos necessários para a
concentração de gordura (Máximo de 30%) e proteína (minímo de 15%) (Brasil, 2000).
Os parâmetros avaliados na análise sensorial (Tabela 6), com provadores não treinados,
não apresentaram diferenças (P>0,05). Os resultados da análise sensorial demonstraram um
potencial de utilização do peito de frango acometido pela miopatia peito de madeira na
elaboração de linguiças do tipo frescal, uma vez que os provadores não detectaram as diferenças
entre as características sensoriais de produtos elaborados com o peito de frango normal e com
os graus moderado e severo da miopatia peito de madeira. Os índices de aceitação para os
atributos aparência, aroma, sabor, textura e aceitação global foram superiores a 60%, indicando
que as amostras foram aceitas sensorialmente. Especificamente com relação ao sabor, todas
amostras tiveram uma boa aceitação global, pontuadas positivamente em 7,58 (gostei muito).
97
Tabela 6. Valores médios dos atributos sensoriais para linguiças de frango advindas
do músculo peitoral maior de frangos de corte Ross (AP95) acometidos com miopatia
peito de madeira advindas de análise sensorial com provadores não treinados
utilizando uma escala hedônica de 1 a 9
Tratamentos
Atributos sensoriais P-Valor
Normal Moderado Severo
Aparência 7,02±0,15 6,94±0,18 6,93±0,18 0,9096
Aroma 7,36±0,14 7,16±0,16 7,07±0,17 0,3857
Sabor 7,76±0,11 7,46±0,16 7,51±0,16 0,2043
Textura 7,17±0,15 7,52±0,15 7,32±0,16 0,2611
Aceitação global 7,43±0,12 7,29±0,15 7,28±0,17 0,6948
4. Conclusões
Apesar de amostras de linguiça tipo frescal produzidas com carne de peito de frangos
acometidos pela miopatia peito de madeira apresentarem características químicas aceitáveis, a
matéria-prima utilizada provocou uma pequena redução na qualidade física da linguiça,
principalmente na coloração, pH e perda de peso por cozimento. O armazenamento ao longo de
28 dias de refrigeração, que provocou redução da concentração de proteínas em linguiças frescal
produzidas com carne de frango acometido pela miopatia peito de madeira, apresentou efeito
positivo sobre a qualidade da linguiça. O peito de frango acometido com a miopatia peito de
madeira apresentou grande potencial para ser utilizado na elaboração de linguiça frescal, uma
vez que parâmetros sensoriais do produto não foram influenciados pela adição da carne com
peito de madeira. A carne de frango acometida pela miopatia peito de madeira pode ser utilizada
na indústria para a elaboração de linguiças frescal e diminuir as perdas econômicas causadas
por essa miopatia.
5. Agradecimentos
6. Conflitos de interesses
7. Referências
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100
CAPÍTULO 5
Rodrigo Fortunato de OliveiraAC, Maísa Santos FáveroA Juliana Lolli Malagoli de MelloA,
Fábio Borba FerrariA, Erika Nayara Freire CavalcantiA, Rodrigo Alves de SouzaAB, Mateus
Roberto PereiraA, Aline Giampietro-GanecoB, Erick Alonso Villegas-CayllahuaA, Heloisa de
Almeida FidelisA, Pedro Alves de SouzaA e Hirasilva BorbaA
A
Universidade Estadual Paulista – UNESP, Departamento de Tecnologia, via de acesso
Professor Donato Castellane, s/n, Zona Rural, 14884-900, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.
B
Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos,
Avenida Duque de Caxias Norte, nº 225, 13635-900, Pirassununga, São Paulo, Brasil.
C
Autor correspondente. Email: [email protected]
102
1. Introdução
2. Material e Métodos
Foram coletadas amostras de músculo Pectoralis Major de frangos Ross (AP 95)
machos em abatedouro comercial (SP, Brasil) inspecionado pelo Serviço de Inspeção Federal
acometidos pela miopatia “Peito de Madeira”, e classificadas por meio de palpação (Mutryn et
al. 2015) de acordo com o grau de severidade da miopatia (moderado - dureza verificada apenas
na região cranial ou na região caudal do filé de peito; severo - dureza verificada em toda a
extensão do filé de peito), bem como de um grupo controle (amostras sem a presença de
miopatias). Os frangos foram criados em sistema intensivo tradicional e abatidos aos 48 dias de
idade. Após a caracterização do grau de severidade da miopatia, as amostras foram separadas
dentro de cada categoria da anomalia e transportadas para o laboratório da universidade sob
condições de refrigeração (±4ºC).
Após 4 horas pós abate (estabelecimento do rigor mortis), as amostras coletadas foram
moídas para processamento sendo elaborados hambúrgueres contendo peito de frango de cada
grupo avaliado, de acordo com a formulação indicada na Tabela 1.
e 120 dias, sendo que em cada período foram utilizados 60 hamburgueres, sendo 20 de cada
miopatia (controle, moderado e severo).
2.2. Métodos
A cor foi determinada através do colorímetro Minolta Chrome Meter modelo CR-400
(Konica Minolta Sensing, Inc., Osaka, Japão) (configurações: iluminação difusa/0 ângulo de
visão, iluminante D65, componente especular incluído) calibrado para um padrão branco, que
utiliza o sistema CIELAB (L*, a* e b*). Foram avaliados parâmetros como luminosidade (L*),
intensidade de vermelho (a*) e intensidade de amarelo (b*) em três locais diferentes da
superfície do hambúrguer de frango.
O pH foi determinado em triplicata, utilizando um peagometro digital da marca Testo
(Testo 205, Testo Inc., Sparta, NJ, EUA) munido de eletrodo de penetração, por meio da
inserção direta no hambúrguer.
O peso dos hambúrgueres antes de congelados, foi determinado em uma balança
analítica. Posteriormente, os produtos foram submetidos ao processo de cozimento (fritura) em
grelha elétrica (George Foreman GBZ80) ainda congelados e, logo após a etapa de cozimento,
o excesso de gordura dos hambúrgueres foi removido com papel-toalha para que, em seguida,
sua massa novamente fosse determinada para avaliação das perdas de peso por cocção (PPC),
cujos resultados foram obtidos por diferença entre os pesos inicial e final, expressos em
porcentagem. Para determinação da porcentagem de encolhimento ou retração (PR), o
hambúrguer ainda congelado teve seu diâmetro médio determinado pela medição da seção
transversal em três regiões distintas, utilizando-se um paquímetro digital 6” (Marca Zaas
Precision, AMATOOLS Commercial e Importadora Ltda). Após o processo de cozimento o
diâmetro foi novamente determinado. Após, a análise de dureza foi realizada em um
texturômetro (TAXT2i, Stable Micro Systems) e os resultados foram expressos em Newton.
Sub-amostras de hambúrguer de frango foram inseridas no recipiente do analisador de
atividade de água (Aw) “Aqualab” (Decagon Devices Inc.), que utiliza o princípio do ponto de
orvalho (AOAC, 2011).
A perda de peso por armazenamento foi definida como a diferença entre o peso inicial
e final de cada amostra descongelada, antes e após o armazenamento, expresso em
porcentagem.
106
2.3.Análise estatística
Nome: _____________________________________________________________Data:_____________
Você está recebendo amostras codificadas de hamburguer de frango. Por favor, prove-as e avalie-as de forma
global, utilizando a escala abaixo:
9- Gostei muitíssimo
8- Gostei muito
7- Gostei moderadamente
6- Gostei ligeiramente
5- Nem gostei nem desgostei
4- Desgostei ligeiramente
3- Desgostei moderadamente
2- Desgostei muito
1- Desgostei muitíssimo
Observações _________________________________________________________________________
Figura 1. Ficha do teste de avaliação sensorial utilizando uma escala hedônica de nove pontos
para as formulações de hambúrgueres elaboradas com carne de peito acometida pela miopatia
peito de madeira.
3. Resultados e discussão
Durante o armazenamento, tanto amostras de hambúrguer fabricadas com peitos normais, como
as acometidas pelo grau moderado da miopatia apresentaram redução (P<0,0001) do valor de
a*, diferente do grau severo que sofreu aumento aos 120 dias de armazenamento.
Com relação à intensidade de amarelo, amostras de hambúrguer não armazenadas e
armazenadas por 30 dias e produzidas com peito acometido pelo grau severo da miopatia
apresentaram maior valor de b* (9,95 e 12,96, respectivamente) do que as amostras produzidas
com peito normal (7,92 e 10,37, respectivamente) ou as produzidas com peito acometido pelo
grau moderado (9,07 e 11,50, respectivamente) da miopatia peito de madeira. Após 60 dias de
armazenamento, houve variação do valor de b* entre as amostras afetadas pelos diferentes graus
de severidade da miopatia, em que amostras de hambúrguer produzidas com peitos normais,
apresentaram maior valor de b*, comparadas aos hambúrgueres produzidos com peito
acometido pela miopatia peito de madeira. Considerando cada grau de severidade durante o
processo de armazenamento, amostras de hambúrguer produzidas com peito normal
apresentaram aumento da intensidade de amarelo de 7,92 para 13,67; produzidas com peito
acometido com o grau moderado da miopatia peito de madeira aumentaram de 9,07 para 14,30;
e produzidas por peito acometido pelo grau severo da miopatia aumentaram de 9,95 para 13,44.
109
120 dias de armazenamento, provavelmente, ocorreu devido à interação dos pigmentos com os
produtos da oxidação lipídica (Kulkarni et al., 2011), promovendo a destruição da mioglobina.
Tabela 3. Valores médios de pH, perda de peso por cozimento (PPC), porcentagem de
retração (PR) e dureza de hambúrgueres produzidos com carne de peito de frangos de corte
Ross (AP95) acometidos com miopatia peito de madeira após diferentes períodos de
armazenamento
pH
GS (n=20)
P-valor
A (n=20) Normal Moderado Severo
Início 5,847±0,005Ac 5,972±0,005Ab 5,997±0,005Aa
Db Ea
30 dias 5,656±0,005 5,689±0,005 5,652±0,007Eb (GS) <0,0001
Cb Ca Ca
60 dias 5,716±0,005 5,807±0,005 5,795±0,005 (A) <0,0001
90 dias 5,714±0,005Cc 5,791±0,005Da 5,775±0,005Db (GS X A) <0,0001
Bb Ba Ba
120 dias 5,783±0,006 5,879±0,006 5,882±0,005
PPC (%)
GS (n=20)
P-valor
A (n=20) Normal Moderado Severo
Início 28,51±0,64Dc 32,58±0,57Cb 38,44±0,57Ca
30 dias 32,86±0,62Cc 38,61±0,57ABb 40,16±0,57Ba (GS) <0,0001
Bc Ab
60 dias 36,73±0,57 39,62±0,57 42,12±0,57Aa (A) <0,0001
Aa Ba Ca
90 dias 38,39±0,57 37,81±0,57 37,55±0,57 (GS X A) <0,0001
120 dias 17,31±0,51Da 16,45±0,46Ea 16,08±0,45Ca
PR (%)
GS (n=20)
P-valor
A (n=20) Normal Moderado Severo
Início 21,41±0,49Cc 24,13±0,44Cb 25,71±0,44Aa
30 dias 22,28±0,44BCb 25,61±0,44Ba 26,53±0,44Aa (GS) <0,0001
ABb Aa
60 dias 22,97±0,44 26,89±0,44 26,50±0,44Aa (A) <0,0001
Aa Da Ba
90 dias 23,86±0,45 22,65±0,44 23,12±0,44 (GS X A) <0,0001
120 dias 17,31±0,51Da 16,45±0,46Ea 16,08±0,45Ca
Dureza (N)
GS (n=20)
P-valor
A (n=20) Normal Moderado Severo
Início 167,74±6,75Da 161,45±6,75Da 154,75±6,75Ca
Da Ca
30 dias 174,70±6,92 190,05±6,75 188,00±6,75BCa (GS) <0,0001
Ca Ba ABb
60 dias 226,06±6,75 230,37±6,75 198,81±6,75 (A) <0,0001
90 dias 283,50±6,92Ba 235,94±6,75Bb 214,92±6,75Ac (GS X A) <0,0001
Aa Ab Cc
120 dias 401,50±8,37 289,40±7,32 171,82±6,92
*Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey
(P<0,05). Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si pelo Teste de
Tukey (P<0,05). A – Armazenamento, GS – Grau de severidade.
com carne afetada pelo grau severo da miopatia peito de madeira apresentaram maior
(P<0,0001) perda de peso por armazenamento (Tabela 4) aos 30, 90 e 120 dias, devido a menor
capacidade de retenção de água apresentada na matéria-prima utilizada na produção dos
hambúrgueres. A perda de peso no armazenamento em hambúrgueres aumentou de 1,56%
(amostras normais) para 12,76% (acometidas pelo grau severo da miopatia). Hambúrgueres
produzidos com carne do peito independente do acometimento pela miopatia, não preservaram
os valores da atividade de água (Aw) durante os 120 dias de armazenamento sob congelamento.
O armazenamento sob congelamento é o método indicado na preservação da qualidade dos
produtos considerados perecíveis, pois estes alimentos apresentam maiores valores para
atividade de água e quando submetidos ao processo de congelamento ocorre diminuição desses
valores. Em hambúrgueres de frango, independente da ocorrência da miopatia ou não, foram
verificados menores valores de atividade de água nos produtos que foram submetidos a
congelamento, nos diferentes períodos de análise, diminuindo as chances de sofrer ação
microbiana.
Hambúrgueres de frango produzidos com carne acometida com o grau severo da
miopatia peito de madeira, em comparação com amostras de frangos normais, apresentaram
menor variação nos valores de oxidação lipídica após 120 dias de congelamento. Hambúrgueres
produzidos com peito acometido pelo grau severo da miopatia apresentaram uma variação de
1,69 mg MDA/kg a 4,09 mg MDA/kg, enquanto que em hambúrgueres produzidos com
amostras normais, a oxidação variou de 2,32 mg MDA/kg a 9,31 mg MDA/kg no período de
120 dias de congelamento.
Campos et al. (2006) evidenciaram que os valores de TBARS devem situar-se entre 2 e
3 MDA/kg de produto, para que sabor e odor de rancidez sejam perceptíveis ao consumidor. O
aumento nos valores de TBARS em produtos elaborados com carne de frango resulta da sua
maior suscetibilidade à oxidação, por conter maior quantidade de ácidos graxos poli-
insaturados. Nos hambúrgueres, os valores de TBARS aumentaram significativamente ao 120
dias de armazenamento em todos os tratamentos, provavelmente, devido à oxidação de ácidos
graxos poli-insaturados (Mendes et al. 2008).
Tomando-se como valor máximo de 3 mg MDA/kg para percepção de rancidez, sugere-
se um armazenamento sob congelamento por 60 dias para os hambúrgueres, produtos
elaborados com peito normal e com graus moderado e severo da miopatia peito de madeira,
sem que seja observada a ocorrência de rancidez. Soglia et al. (2016) reportaram valores
114
maiores de TBARS em peitos acometidos por peito de madeira, diferentemente do que foi
observado nos hambúrgueres formulados com peitos acometidos com peito de madeira no
presente estudo. Justifica-se este comportamento pelo fato de que os hambúrgueres são
produtos heterogêneos, processados, moídos e adicionados de pele, diluindo assim o efeito da
anomalia peito de madeira no processo de oxidação lipídica. Os resultados de TBARS deste
estudo, também pode ser explicado pela atividade de água dos produtos (Tabela 4), onde a
redução da atividade de água promove uma maior oxidação lipídica nos produtos.
Tabela 4. Valores médios de perda de peso por armazenamento (PPA), atividade de água (Aw)
e oxidação lipídica (TBARS) de hambúrgueres produzidos com carne de peito de frangos de
corte Ross (AP95) acometidos com miopatia peito de madeira após diferentes períodos de
armazenamento)
PPA (%)
GS (n=20)
P-valor
A (n=20) Normal Moderado Severo
30 dias 0,15±0,26Cb 0,73±0,26Cab 1,10±0,29Ca (GS) <0,0001
BCa Ba Ca
60 dias 0,91±0,30 1,72±0,30 1,57±0,30 (A) <0,0001
90 dias 1,56±0,32Bb 1,34±0,38BCb 12,76±0,36Ba (GS X A) <0,0001
Ab Aa Aa
120 dias 24,82±0,31 28,42±0,29 28,18±0,27
Aw
GS (n=20)
P-valor
A (n=20) Normal Moderado Severo
Início 0,967±0,004Aa 0,964±0,004Ba 0,972±0,004Aa
30 dias 0,908±0,004Ca 0,896±0,004Db 0,906±0,004Cab (GS) <0,0001
ABa
60 dias 0,962±0,004 0,952±0,004Ca 0,954±0,004Ba (A) <0,0001
Bb Aa Cc
90 dias 0,951±0,005 0,989±0,004 0,890±0,005 (GS X A) <0,0001
120 dias 0,878±0,004Dab 0,872±0,004Eb 0,886±0,004Ca
TBARS (mg MDA/kg Amostra)
GS (n=20)
P-valor
A (n=20) Normal Moderado Severo
Início 2,32±0,12Ca 1,84±0,12Cb 1,69±0,12Cb
30 dias 2,12±0,12Ca 1,89±0,12Ca 1,99±0,12Ca (GS) <0,0001
Db Ba
60 dias 1,68±0,12 2,21±0,12 1,97±0,12Cab (A) <0,0001
Bb Aa Bc
90 dias 4,64±0,16 5,93±0,13 3,12±0,12 (GS X A) <0,0001
120 dias 9,31±0,16Aa 6,12±0,18Ab 4,09±0,12Ac
*Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey
(P<0,05). Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si pelo Teste de
Tukey (P<0,05). A – Armazenamento, GS – Grau de severidade.
115
O uso de carnes com direntes graus de severidade da miopatia peito de madeira não
proporcionou efeito (P>0,05) sobre a concentração de matéria mineral de hambúrgueres de
frango. Houve interação (P<0,05) entre o grau de severidade da miopatia peito de madeira e o
período de armazenamento para as concentrações de proteína, gordura e umidade em
hambúrgueres de frango (Tabela 5).
A umidade de hambúrgueres não apresentou variação significativa (P=0,8786) entre os
graus de severidade nos cinco intervalos do armazenamento (Tabela 5). Houve redução da
umidade de hambúrgueres após 60 dias, independente do acometimento da miopatia ou não.
Em geral, todos os produtos perderam umidade durante o armazenamento devido a redução da
atividade de água, o que explica a perda de peso (Tabela 4).
Hambúrgueres produzidos com amostras de frango com grau moderado e severo da
miopatia peito de madeira apresentaram maiores concentrações lipídica e menores
concentrações proteícas (30 dias de armazenamento) que hambúrgueres produzidos com
amostras de frango normal. Houve aumento (P<0,0001) da concentração de gordura e redução
da concentração proteíca nos hambúrgueres produzidos com o grau moderado e severo da
miopatia após 120 dias de armazenamento. A diferença na concentração proteica pode ser
devida a sucessivas degenerações e regenerações do tecido muscular (desnaturação proteica)
do peito de frango acometido pela miopatia peito de madeira (Soglia et al. 2016). A redução da
concentração de proteínas musculares pode também estar associada a uma menor capacidade
de retenção de água no peito de frango acometido pela miopatia peito de madeira (Petracci et
al. 2013; Dalle Zotte et al. 2017). De acordo com Huff-Lonergan e Lonergan (2005) as
mudanças na arquitetura intracelular por causa da hipertrofia provocada pela miopatia peito de
madeira também pode influenciar na habilidade das células musculares em reter a água.
A maior oxidação lipídica (Tabela 4) observada em hambúgueres de frango após 120
dias de armazenamento poderia ser resultado da maior concentração de lipídeos, e apesar do
aumento da concentração de gordura em hambúrgueres após 120 dias de armazenamento,
hambúrgueres produzidos com carne acometido pela miopatia peito de madeira sofreram menor
oxidação lipídica comparada com amostras normais. Os acréscimos nos valores de TBARS dos
hambúrgueres resultaram, provavelmente, das mudanças na estrutura da membrana proteica e
da liberação de ferro da proteína transportadora, o qual reage com o oxigênio, acelerando assim,
116
4. Conclusões
5. Agradecimentos
6. Conflitos de interesses
7. Referências
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