Segredos Da Velta - Rod Tigre

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 261

1

SEGREDOS
DE VELTA
Rod Tigre

2
3
1-Velta e eu: Rod Tigre conta a interessante
história de como veio a conhecer a musa da
CQB, através de uma série de coincidências
que nos faz pensar que existe um destino
pré-traçado para todos nós.
A primeira vez que tive contato com a loirona
foi na seção de cartas da "Hulk" nº 39, de
setembro de 1986, da editora Abril... Lembro
que era criança e li uma carta de Emir Ribeiro
publicada na citada revista (parcialmente
reproduzida abaixo (*), e fiquei com muita
vontade de conhecer aquela super-heroína
brasileira, já que até então eu não conhecia
nenhuma...
Foi de certa forma uma boa propaganda da
Velta, e surtiu resultado, já que me levou a
adquirir uma edição dela assim que tive
oportunidade. Na época, era ainda chamada
WELTA, como vocês poderão ver a seguir.
Houve duas revistas da Abril que falaram da
Velta. E me contaram depois (e nem posso
afirmar que é verdade, pois não tenho prova),
que os respectivos editores das revistas foram
despedidos por terem falado da Velta. Porém,
não acho isso impossível, pois recentemente,
os autores do livro "100 perguntas sobre super-
4
heróis" incluíram uma pergunta onde Velta e
outras criações nossas foram citadas, e quase
cortam essa parte do texto. Contaram-me que
o texto passou a muito custo. Ou seja, é uma
verdadeira conspiração para não se falar de
quadrinho brasileiro, e está na cara - e não se
precisa ser detetive para deduzir - que são os
"syndicates" gringos que patrocinam essa
censura braba aos nossos trabalhos.
Esta é uma das razões pelas quais não os cito
de jeito nenhum, e sou contra se falar ou
desenhar seus personagens, pois sem querer,
quem faz isso não raciocina que os está
divulgando e ajudando contra nós quadrinhistas
brasileiros.
Mas demorou um pouco mais pra eu me
encontrar com a Velta novamente...
Um dia, já adolescente, encontrei num sebo a
Welta (10-abafo) nº 5... Lembrei de imediato da
carta, e comprei a revista... Não lembro quanto
foi, mas eu nunca fui de comprar gibi caro,
então foi barato... E de pensar que hoje em dia
eu já vi edição dessa época por R$ 150,00
reais...
Depois, no festival ''O Fim do Mundo'',
acontecido em São Paulo no ano de 2002
5
descolei uns zines com o Indião, da banda
punk Hino-Mortal, e entre aqueles zines falando
de movimento punk estava o Quadrinhos
Magazine com a história da Velta com sua
sósia Selda... Mesmo naquela época, quando
os desenhos de Emir não possuíam a perfeição
que apresentam hoje, eu já adorei a loira. A
arte tinha muita personalidade e era inovadora,
tinha umas poses em que ela ficava lânguida,
lembrando exatamente a personagem que
depois eu fiquei sabendo que realmente
influenciou Emir: a Pravda. E apesar de não
haverem cores, elas tinhas um ―quê‖ de
psicodélicas!

6
7
Curiosamente, a Velta, em aventuras escritas
por Jerônimo de Souza e desenhadas por
Gilberto Borba, foi a primeira super-heroína
brasileira que divulgou bandas punks do ABC e
bandas oi!, e a Hino Mortal foi uma das
primeiras bandas punks do ABC!

8
9
Nessa fase da minha vida eu não
acompanhava mais quadrinhos e esses zines
vieram à minha mão por acaso...
Aí, saíram nas bancas aquela revistinha da
Velta da editora Escala, e na sequência, pela
mesma editora, um almanaque com todas as
histórias de Mirza...

10
Depois disso, me senti compelido a voltar
para o mundo dos quadrinhos de uma vez (não
mais colecionando Marvel/DC e outros, porque
até os meus 12 anos eu colecionei quadrinhos
de todos os gêneros, onde conheci de tudo que
já foi produzido a nível mundial), mas sim
colecionando esse novo mundo que se abriu
pra mim, o dos super-heróis nacionais,
notadamente oriundos de fanzines e dos
aparentemente distantes anos 60 e 70, já que
ainda estão bem próximos e recentes ante a
amplitude do universo e sua linha temporal...
Minha grana os gringos e editores
acomodados não levam mais. Interessante é
que o Emir leva direto grana deles, já que

11
constantemente é chamado para trabalhar para
editoras de lá (desenhou uma famosa série de
cards, espécie de figurinhas modernas, muito
disputadas por colecionadores do mundo
inteiro), ou então fazendo artes originais para
fãs daquele país, coisa que ele vem fazendo
ininterruptamente há quase dois anos,
mantendo-o ocupado o tempo inteiro. Nunca
lhe falta trabalho. Assim, de alguma maneira,
e pelo menos uma vez na vida, os gringos
patrocinam nossos personagens sem saber,
visto que Emir usa o dinheiro ganho com eles
para imprimir edições e livros de sua autoria.
Vieram em seguida o álbum ―Velta contra o
Devorador‖ (o segundo mais vendido da Opera
Graphica, perdendo apenas para o da
Mirza),''Velta 30 Anos'', histórias que eu li na
net, na revista ―Impacto‖, no zine ―Heróis
Brazucas‖, mas a minha história e edição da
Velta preferida de todos os tempos é ―Velta 25
Anos‖! Que revistona caprichada, e que
aventuras envolventes! Uma narrativa que
prende o leitor do começo ao fim, juntando
elementos surpreendentes e uma arte
fascinante! Não tem como não invejar o Emir
na última história, e quem já leu sabe do que
12
eu estou falando. Quem não a leu, encomende
com o próprio ([email protected]),
pois essa revista é obrigatória para os amantes
da boa HQ! O Emir mostrou porque é o fodão:
tirou o lacre do frasco da Velta!!! Sortudo, mas
por ser o criador da mais deliciosa criatura já
inventada nos quadrinhos, ele merece!

13
14
15
Emir iniciou o romance com Velta nos quadrinhos ainda na década de 70, mas
foi só na década de 90 que eles foram para o finalmente!
E quando eu falo que a Velta é a melhor
heroína do mundo não é pra puxar saco,
porque diferente da cambada de bajuladores
que existe por aí, eu não babo-ovo e nem
pago-pau pra ninguém. Digo que a Velta é a
melhor do mundo porque eu realmente penso
isso dela. Não sei que valor tem a minha
opinião, mas enfim, a verdade é que eu acho
ela imbatível em todos os quesitos. Mais uma
vez, parabéns ao Emir Ribeiro por sua criação!
Fico feliz de hoje em dia por ter esse contato
com esse grande mestre, que é o meu autor de
16
HQ preferido! Espero que um dia o Brasil e o
mundo reconheçam a grandiosidade do talento
de Emir Ribeiro! Isso porque é o ÚNICO que
acreditou na sua personagem e foi até as
últimas consequências. Ele se fez por si
mesmo. É o único artista completo do Brasil:
desenha, escreve, tem seu estilo, e uma
persistência que é rara. Provavelmente é o
MAIOR do MUNDO. Mas merece muito mais...
Tô ligado como é foda você ter um talento da
porra e não ser reconhecido como deveria,
porque você Emir, já deve saber disso tudo.
Mas Emir, eu ainda acredito nas infinitas
possibilidades da Velta. Tamo junto,
companheiro. Sou agradecido por ter você
como um grande amigo, por ser esse exemplo
de perseverança, por ter desenhado a minha
personagem Thutharella e principalmente nos
presentear com as maravilhosas aventuras da
nossa amada musa Velta!

17
( * ) TRECHO DA CARTA PUBLICADA EM
SETEMBRO DE 1986 na revista Hulk nº 39
(Editora Abril), onde mais uma vez se prova o
descaso para com as artistas brasileiros, e
também no caso com o leitor, por parte dos
editores de revistas em quadrinhos do Brasil:
''Lembram quando saiu a primeira revista do
Hulk pela Abril? Logo em seguida mandei um
desenho dele pra vocês onde o verdão está

18
furioso prestes a esmagar um canhão que
aponta pra ele. Já que agora vão sair desenhos
dos leitores, pela lei das filas ele deveria ser o
primeiro a sair na revista do Hulk não? Ou...
será que ele foi parar na cesta de lixo?
EMIR LIMA RIBEIRO
Revista Welta
Av. Coelho Lisboa, 612
58015 - João Pessoa - PB

Resposta do Editor - Maravilha Emir, a sua


carta é como uma injeção de ânimo na veia.
Afinal não é sempre que um mestre dos
quadrinhos como Frank Miller se impressiona.
E é claro, devemos agradecer a você, que é
um dos maiores autores (desenhista e escritor)
do país e criador da heroína Welta, uma loira
estonteante capaz de emitir poderosas
descargas elétricas. E o seu desenho, segundo
informações que tive, foi parar nas mãos de um
marvete tarado que não quer devolvê-lo de jeito
algum. C'est la vie, mon ami. ''

19
Retirado da CQB

20
2- Velta, a musa dos quadrinhos brasileiros:
Rod Tigre, em meio a desenhos
sensualíssimos da loura gigante, volta a
discorrer sobre sua personagem preferida.
Gosto de super-heróis desde quando eu ainda
era apenas um bebê. Antes de aprender a ler,
já gostava. Meu pai tinha coleções de
Fantasma, Xuxá e Pequeno Sheriff, e passou
esse gosto para mim.

Gibis no formato talão de cheque que meu pai colecionava. Essa coleção
passou de pai para filho!

Fui crescendo, e por influências


provavelmente dos desenhos animados, passei
a curtir gibis Marvel e DC, mas não fiquei só
nisso. Curtia gibi mesmo, muito. Então, traçava
tudo que vinha. Lembro que gostava bastante
do Zorro, que depois descobri que era feito
pelos Brasileiros Seabra, Franco de Rosa e
Zalla (este último, Brasileiro de coração); e dos
heróis Hanna -Barbera, também feitos por aqui
(pelo Zalla). Na TV, meus programas preferidos
21
eram seriados japoneses, Ultraseven, Robô-
Gigante, Invasores de Espaço e Spectremen,
que eu também colecionava os gibis, mais uma
vez material feito por Brasileiros da equipe do
Homobono.

Também gostava dos seriados com as


heroínas gostosas Mulher-Maravilha e
Poderosa Ísis. E quando comecei a desenhar,
misturei todas essas influências. Recordo-me
22
que de maneira consciente, algo difícil de
explicar, mas já tinha esse conceito Brasileirista
de antropofagismo cultural no meu universo de
personagens. Isso com apenas QUATRO anos
de idade.
Lembro que com uns 6 anos vi o gibi do
Chiclete com Banana e o do Geraldão na
banca. Pedi para meu pai comprar e o cara da
banca disse: "esse gibi não é pra crianças! ".
Mas meu pai comprou mesmo assim, e acabou
ele gostando e se tornando colecionador do
negócio! Minha primeira Playboy foi ganha aos
7 anos. A primeira buceta da minha vida,
inesquecível, era (com todo respeito e
admiração) a muito bela (e peluda) da Lúcia
Veríssimo! Eu ia dormir com ela embaixo do
braço. Foi a principal referência da xana da
Thutharella. Inseri essas influências todas nos
meus personagens, e desde criança que
desenho hq de super-herói misturada com
mulher pelada e sexo!
Com uns 10 anos descobri uma gibiteca, a
"Gibiteca Henfil", e lá pude ter contato com
todas as grandes obras da hq mundial. Nessa
época, já era colecionador, herdando esse
gosto do meu pai, além dos gibis dele.
23
Não jogava sequer um gibi meu fora, e nessa
época já tinha uma coleção invejável. Através
da tal gibiteca conheci a história mundial dos
Quadrinhos, a fundo mesmo, e nessa época
não me importava em ler material estrangeiro,
colecionando tudo de Marvel, Dc, Bonelli, sem
dó. Se naquele tempo existisse internet,
possivelmente eu estaria perdendo o meu
tempo discutindo detalhes obscuros dos super-
heróis insignificantes de tais editoras com os
marvetinhos bilolados e DesCerebrados, e
provavelmente com os fummetados também,
24
desses que a gente encontra aos montes
espalhados por fóruns de discussão da
internet. Sorte que não existia nada disso, e eu
passava dias bastante agradáveis lendo gibis
na gibiteca, conhecendo de tudo um pouco
sobre esse mundo louco da Arte Sequencial!

Um dia, essa biblioteca de gibis se mudou


para bem longe da minha casa, mas sua
missão estava cumprida. Em termos de HQ ela
era completa. Tudo que se imaginar, tinha lá.
Fora os exemplares que eu ganhava de
amigos. A partir dessa gibiteca também passei
a procurar muitos quadrinhos pelo centro da
cidade, e foi por lá que também eu encontrei
tudo quanto é tipo de gibi.
25
E foi andando pelas ruas do centro de São
Paulo que certa vez encontrei um oásis para
qualquer amante do gibi. Ficava numa travessa
da Amaral Gurgel na Santa Cecília. Imagina
isso, QUALQUER gibi por 1 real, mas qualquer
mesmo, de qualquer época ou formato! E tinha
de tudo por lá, coleção da Ebal, Bloch, do Grilo,
Gibi Semanal, terror, e tudo mais que imaginar,
as quais comprei nessa base de preço. Eu
fazia a festa nesse sebão, que depois mudou
de dono, e esse novo fazia os preços bem
diferentes - era o contrário, muito careiro e um
tipo bem rabugento. Às vezes passo por lá e o
sujeito continua no mesmo local, fazendo cara
feia até hoje.
O outro pelo que diziam era viciado em
drogas e vendia os gibis barato só pra saciar
seu vício. Acabou na falência mesmo.
Aí, chegou a adolescência trazendo todas as
motivações típicas da idade, e eu me deixei
levar pelas minhas aspirações. Sexo, balada,
rock'n'roll e até uma dose de delinqüência
juvenil fizeram parte dessa época. Fico puto
quando dizem que eu sou isso e isso, ou que li
o livro tal para adquirir minha ideologia. Nunca

26
li nada na intenção de decorar um discurso
pronto, fiz minha cabeça vivendo intensamente
o mundo, a vida, e é assim que tiro as minhas
próprias conclusões! Os gibis eu esqueci que
existiam por mais de 10 anos. E a coleção que
eu tinha subiu! Virou moto, guitarra, presente
para amigos, amigas, namoradas e até carro.
Já tive muito gibi, muito mesmo! Até um
trabalho de macumba já paguei com gibi, para
uma mãe-de-santo que colecionava!
Sempre fui questionador, e essa minha postura
de boicote-cultural ao Estados Unidos da
América do Norte surgiu antes do que nos
quadrinhos, na música! Porque me revoltava (e
ainda incomoda) ver a nossa juventude
idolatrando músicos estrangeiros, e
escanteando ou ignorando nossos talentos
musicais, muitos superiores aos de lá de fora.
Quantos cantores, compositores ou músicos
talentosos eu vi deixando a carreira de lado ou
se prestando a fazer "covers" de músicas
estrangeiras, de sonoridade anglo-saxônica
para ser mais preciso, apenas para poderem
sobreviver fazendo o que gostam. O mesmo
que eu descobri que acontece com
quadrinhistas brasileiros, por melhores que
27
sejam são esquecidos e criticados, ou vão
trabalhar para estrangeiros. Sou fiel no meu
compromisso de divulgar e estimular um
boicote-cultural aos enlatados norte-
americanos, porque SEI que essa é não só a
solução para os Quadrinhos, mas solução para
o Brasil e para o mundo! Impedindo eles de
dominarem culturalmente, a força opressora
deles acaba. Porque a força deles vem do fato
de serem aceitos, quando não idolatrados!
Quando minha filha nasceu, sosseguei um
pouco da música, na intenção de curtir e
educar a menina, foi quando através da Velta
redescobri os Quadrinhos. Não só na qualidade
de fã e leitor, mas mais uma vez como autor.
Mantive no meu trabalho com História em
Quadrinhos a mesma posição que já tinha com
relação a música, filmes, etc, e procuro fazer
super-heróis bem brasileiros com passagens
por nossas terras, seguindo o exemplo da
Velta.
ADORO a Velta mesmo. Sou amigo do Emir
Ribeiro por acaso, ou por destino. Curto a
poderosa loira bem antes de conhecê-lo, e
quem me trouxe de volta para os quadrinhos foi
ela. O Tito Augusto Tavares disse no fotolog
28
dele que era mais fã da Velta do que eu,
porque conheceu ela antes. Pode até ser que
tenha mais gibis da Velta do que eu, mas ter
conhecido antes? Duvido!
Conheço Velta desde guri, quando ouvi falar
dela numa seção de cartas da revista Hulk em
1986, e já fiquei com aquele nome marcado na
cabeça para sempre, querendo conhecer
aquela heroína brasileira. Apesar de ser
apenas uma criança, já me perguntava por que
aqui no Brasil não tínhamos nossos próprios
super-heróis! Mas sem disputar com Tito, o
Marconi Lapada já disse que sou o fã número 1
da Velta. Independente, isso tudo é apenas
brincadeira entre amigos. Porque eu não
disputo nem com o Tito e nem com ninguém
esse título, já que para mim (e para nós, né,
Tito?) quanto mais fãs da Velta existirem,
melhor será, para que finalmente possamos ter
suas aventuras produzidas regularmente!
Quero que vocês saibam a origem das minhas
idéias. Tenho experiências de vida, da favela e
da mansão, do camarote e da sarjeta, o que
não me faz mais ou melhor do que ninguém.
Apenas não tenho vergonha de contar um
pouco da minha vida e lutar pelo que eu
29
acredito, e quem sabe, conseguir mais aliados!
A compreensão disso tudo é fundamental para
que se adote uma nova postura para com a
vida e o país. Vai além de Quadrinhos. É
exercer cidadania, e nada tem a ver com um
nacionalismo tacanho que alguns supõem que
eu defenda.
Quanto aos Quadrinhos, acho que já deu pra
ver que não sou nenhum leigo no assunto,
muito pelo contrário. A Velta me agrada porque
ela tem tudo o que eu procuro numa História
em Quadrinhos. Mistura todos os gêneros que
eu gosto. É de super-heróis (meu gênero
preferido), possuindo um vasto universo que se
expande desde os anos 70; com uma influência
de outras que durante um tempo foram minhas
paixões: as heroínas européias (sempre
imaginei Valentina ou Octobriana inseridas num
universo de super-heróis). Discute
comportamento e temas atuais, tais quais os
quadrinhos dos Irmão Hernandez e de Jayme
Martim, que antes eram de minha apreciação
(para quem não conhece os primeiros são
chicanos, norte-americanos filhos de
mexicanos, e o outro é espanhol). Lembrando
que na Velta o enfoque não costuma ser
30
apenas o do submundo, como costumam
retratar os autores estrangeiros citados, já que
os quadrinhos dos Hernandez e Jayme Martim
tem como personagens principais na maioria
das vezes mulheres marginais.

E a Velta é uma menina de família (o que


torna inclusive a aceitação dela mais fácil em
certos meios mais conservadores da
sociedade), mas existe a abordagem da
marginalidade através da participação de
personagens coadjuvantes. E outra coisa que
me atraiu pra Velta, não poderia deixar de
faltar, é mulher semi-nua, é claro, que eu gosto
desde guri e acho que não faz mal nenhum
para petizada, apesar de Velta sempre ter sido

31
direcionada para um público adulto.

Além disso, vejo no Emir Ribeiro quem eu


teria sido se não tivesse interrompido minha
produção de quadrinhos na adolescência. Se
tivesse continuado desenhando meus
personagens de infância continuamente, não
tivesse parado de praticar. Saberia desenhar
as minhas próprias histórias, o que facilitaria
muito a confecção das minhas HQs. Mas me
apaixonei pela música, deixei os quadrinhos de
lado! Por mais que eu goste de tocar, agora a
situação é diferente, meus personagens
despertaram de um sono profundo de mais de
uma década no fundo da baú, resgatados por
uma certa loira (Velta). E os Quadrinhos
voltaram a fazer parte da minha vida! Logo
mais, meus filhos de papel vão estar vivendo
suas aventuras desenhadas no Universo dos
32
Super-Heróis Brasileiros, que quer muitos
também queiram e outros combatam, já é uma
realidade!!

VELTA NA PRAIA DE CABO BRANCO, EM


JOÃO PESSOA, PB: Desenho do mestre Emir
Ribeiro, datado de 1999, e extraído da apostila
"Emir Ribeiro te ensina a desenhar", publicada
pela Editora Escala.
Nos desenhos à direita, pela seqüência, os dois
primeiros são de Elton Brunetti, coloridos por
Gianfranco Spinelli, e fazem parte da HQ
"Velta, Crânio e Redentor contra o Maníaco do
Parque."

33
O 3º, em formato horizontal, de Emir, foi
também retirado da apostila da Editora Escala

34
Retirado da: CQB

35
3- A arte dos quadrinhos eróticos no Brasil
& A arte de Emir Ribeiro: Rod Tigre faz um
levantamento histórico da produção erótica
nacional, e fala da sua predileção pela arte
do artista gráfico Paraibano.
A partir dos anos 50, e até os anos 80,
tínhamos no Brasil Carlos Zéfiro, que nos seus
quadrinhos, considerados uma obra-prima da
arte-erótica mundial, expôs todo tipo de tara, e
registrou muito bem o que era a alcova
brasileira no período.
Nos anos 60 e 70 tivemos no Brasil Mirza e
Naiara, duas vampiras sexys que além de
matarem suas vítimas pelo sangue, ainda antes
as provocavam, não raramente ficando nuas ou
praticando sexo, que eram mostrados de forma
implícita nas suas hqs.

36
37
Meu amigo Marconi Lapada contou maiores
detalhes sobre a vampira mais famosa do país
no blogue Mulheres nos Quadrinhos: ―Mirza foi
criada por Eugênio Colonnese e Luís Meri em
1967 e conquistou fãs de todas as idades, já
que de quando em quando suas revistas eram
republicadas ou ganhavam novas edições.
Mirela Zamanova, é a sétima filha de um nobre
polonês cuja família foi amaldiçoada. Após um
incidente com o namorado da irmã que queria
comer a gostosona a força, Mirela torna-se
uma vampira e adota o nome Mirza. Fingindo
ser uma modelo profissional e auxiliada pelo
corcunda horroroso Brooks, Mirza visita as
principais cidades do mundo - e crava seus
dentes nos cidadãos dos locais pelos quais
passa. Mirza apareceu também no álbum "A
Última Missão", desenhada por Watson Portela,
e publicado pela Opera Graphica Editora.

38
Desde o final dos anos 60, quando foi criada,
Mirza disputa espaço nas bancas com a mais
famosa Vampirella, criada pelos americanos da
editora Warren. O brasileiro sempre foi um
histórico complexado, que se sente diminuído e
acha que é um perdedor nato e que os
estranjas são os tais e nós somos merda, e por
isso, quando viram Mirza e Vampirella nos
jornaleiros, tascaram logo a crítica burrificante
que a brasileira era cópia da americana. As
datas não mentem jamais, e a verdade é que
Mirza foi publicada pela primeira vez em 1967,
precursora no gênero, talvez em nível mundial,
já que estreou antes de Vampirella‖.

39
Que a Vampirella foi um plágio de Mirza é
uma ―lenda urbana‖ que se confirmou com a
descoberta de que Forrest J. Ackerman esteve
no Braisl durante o Simpósio de Ficção
Científica do II Festival Internacional do Filme
(FIF) realizado no Rio de Janeiro em março de
1969, junto com muitos outros autores
internacionais de ficção científica. Nada mais
natural que surgissem plágios depois, da
mesma maneira que já existiam antes, levando-
se em conta que a ficção científica surgiu no
Brasil conforme já expliquei em outros livros.

40
Lapada, que dividia comigo a editoração do
blogue Mulheres nos Quadrinhos, também
contou tudo sobre a Naiara: ―Lançada mais ou
menos na mesma época da também deliciosa
Mirza, Naiara foi criação do mestre desenhista
Nico Rosso, escrita por Helena Fonseca, e
publicada pela Editora Taika. As poucas
revistas que pude folhear, infelizmente, não
especificam o ano, mas, vendo as
propagandas, imagina-se que tenha sido entre

41
1967 e 1968.

Naiara é filha do Rei dos Vampiros, o Conde


Drácula, mas os dois se mostram sempre como
inimigos mortais, um querendo ferrar o outro.
Apesar de muito feminina e provocante, Naiara
tem atitudes bem sádicas, especialmente para
se livrar dos seus inimigos. Um dos detalhes
interessantes da personagem, é que a vampira
loira não gosta de morder pescoços. Sua
maneira de se alimentar é bem sofisticada:
bebe sangue em taças, e fura os pescoços com
facas, estiletes e outras armas perfurantes. Ela
também não se importa de usar outras armas
para matar: revólveres, explosivos, fogo, etc‖.

42
Uma curiosidade é que Naiara tinha um leão
de estimação, que também era vampiro,
chamado Lúcifer!

Carlos Araújo, com arte bela de Zenival,


aproveitaram a abertura da editora Bloch para
o quadrinho nacional, principalmente de terror,
para trazer a vampira Naiara de volta, ainda

43
enfrentando seu pai Drácula, tomando sangue
em cálices e se expondo nua para delírio dos
mortais... Suas aparições se deram nas
revistas do Capitão Mistério que foram
publicadas pela Bloch nos anos 80.

Outra personagem famosa desenhada por


Colonesse foi Angélica, a Filha de Satã.

44
Basílio de Almeida foi o criador dessa
personagem para a revista Spektro, editorada
por Otacílio Barros da Assunção (Ota) , que
nos anos 80 foi uma das principais publicações
de quadrinhos brasileiros. Alfredo e Maria
receberam a visita de Satanás em pessoa, que
matou Alfredo e seduziu Maria, deixando-a
grávida de uma menina. Assim nasceu
Angélica, filha de uma mortal, que morreu ao
dar a luz, e Satã, que com um leve toque de
seus dedos lhe concedeu poderes. O amor de
sua mãe, um espírito evoluído que pôs luz nas
trevas do seu ser a transformou num ser de
poderes divino-infernais!

Ela estreou em Spektro número 23, de agosto


de 1981, e em suas histórias sempre era
45
protegida de seu pai Satã. Voltou 20 anos
depois, em 2001, pelas hábeis mãos de outro
mestre do quadrinho brasileiro moderno,
Watson Portela, que numa hq em homenagem
a Colonosse, reuniu diversos personagens
seus: Mirza, Mylar, Pele de Cobra, X-Man,
Superargo, Gato e Angélica. Dessa vez,
Angélica ficou contra seu pai, e convocou os
super-heróis brasileiros para que entrem numa
guerra contra o próprio Diabo, cujo destino é a
preservação do próprio universo, e ela os
liderou nessa derradeira missão com o objetivo
de salvarem a humanidade! Essa hq se
encontra no álbum "Ultima Missão", lançado
em 2001 pela editora Opera-Graphica, mesma
editora dos álbuns "Velta contra o Devorador" e
"Velta 30 Anos".

46
A Gatinha Paulista era até que bem
comportada, mas inaugurou as personagens
femininas modernas no Brasil. Foi publicada
em 1963 e 1964, inicialmente pelo desenhista
argentino José Del Bó, sendo continuada por
Rodolfo Zalla, em um de seus primeiros
trabalhos. Flora é uma rica herdeira que vive
com sua tia idosa e sai atrás de emprego
quando a grana começa acabar, e assim vai se

47
metendo em confusões.

Mas a personagem erótica de Zalla chamava


Zuma, a sexônica, uma extraterrestres
especialista em sexualidade, na teoria... e na
prática! Ela viaja pelo universo atrás de seres
para estudar e viver experiências sexuais.

A partir de1966 começam a ser publicadas


pela editora Taika as aventuras da bruxa
48
Lucivalda. Desenhadas por Nico Rosso com
argumentos de Antônio Martins, foi um dos
maiores sucessos da época, tendo histórias
publicadas por vários anos. Lucivalda na
verdade é Marta, uma linda moça de cabelo
curto que se torna a bruxa ―caixa-alta‖, que
cobra caro por suas bruxarias certeiras! Seus
maiores inimigos eram o Vampiro e Lobis-Boy,
um cantor de bossa-nova que secretamente é
um lobisomem que canta numa banda de
jovem-guarda! Esse Lobisboy foi plagiado em
um filme norte-americano até mesmo na
camisa, idêntico! Pra mostrar que é rica
Lucivalda não voa numa vassoura mas num
possante aspirador de pó!

49
50
A maior influência da Velta é uma
personagem brasuca, trata-se de Virgínia Zipf,
uma super-heroína erótica e espacial que era
publicada na revista Fairplay, uma das
primeiras revistas de nu feminino do país, em
1967. Com argumentos de Roberto Duailibi e
ilustrações de Pierre Rousselet, esta série
narra de maneira satírica a ação de uma
agente secreta juntamente com sua amiga
51
Juno e o robô Tossê, no planeta Phyn.
Segundo seu criador, Roberto Duailib:
―A Virgínia Zipf era uma personagem
interplanetária, absolutamente livre, bonita pra
burro... cujo desenhista era um rapaz
chamado Pierre Rousselet, que tinha um traço
maravilhoso e trabalhava na Metro 3
exatamente como ilustrador. Eu escrevia e ele
desenhava‖.

Em 1970, criada por Ary Koslovsk e Paulo


César Coutinho, As metralhantes aventuras de
John Milay foi uma tira publicada no Correio da
Manhã. John Milay é "agente de forças ocultas"
que conta com a ajuda da agente chinesa Rosa
Pequimburgo, uma clara referência a escritora
e ativista comunista Rosa Luxemburgo,
mostrando que a censura da época não
prestava atenção em muitas coisas ou não era
52
tanta assim. Havia aparições de
personalidades da época, como a
cantora Marlene, Leila Diniz e do ator e
surfista Arduíno Colassanti.

53
Irina, a bruxa, é a criação feminina mais
famosa e conceituada de Edmundo Rodrigues.
Um clássico dos quadrinhos de terror
brasileiros, Irina foi publicada originalmente em
1967, em apenas 3 edições pela editora Taika.
A editora Bloch publicou a Irina em cores nos
anos 80, dando um tom avermelhado e uma
pele mais dourada a bruxa Irina, que era loira
nas capas da Taika. Aliás as cores que a Bloch
usava na colorização de suas revistas são
conhecidas por serem "berrantes" mas são um
toque clássico que hoje em dia dão charme
para edições dessa editora. Condenada a
morte por seu passado de crimes e bruxarias,
antes que as chamam consumissem seu corpo,
Irina jurou que voltaria para se vingar. Ao ser
queimada foi retratada na tela por um pintor,
cumpre a promessa e volta da morte!

54
A única coisa que pode detê-la é o "Triângulo
de Prata". Para meu amigo Lapadon está é
uma personagem muito especial, pois ela tem o
mesmo nome de sua esposa, Irina.

Cláudio Seto foi o criador de duas beldades


famosas da HQ nacional: Maria Erótica e Katy
Apache. Maria Erótica na verdade chama-se
Maria da Silva e em sua primeira fase
publicada entre 1970 e 1972 pela editora Edrel
ela é uma repórter da cidade de Guaiçara, que
realmente existe no interior paulista, mas nas
hqs da Maria Erótica é mais próxima da cidade

55
de São Paulo devido a seus enormes arranha-
céus e conglomerados comerciais. As hqs são
de uma sutil ironia, e a heroína, virgem, entra
em dilema já que também sente muito desejo
sexual, e é nesse tesão, digo nessa tensão,
que se desenrolam as aventuras e desventuras
da mocinha.

Maria Erótica desnuda-se com freqüência,


sempre involuntariamente. Tem sempre que se
livrar das investidas de Beto Sonhador, que é
obcecado por ela. Vale a pena repetir o texto
56
do chupim na hq da volta da Maria Erótica, um
pássaro preto sempre presente nas hqs de
Seto, isso já pela Grafipar em 1979: ―Caro
leitor, esse é um momento histórico dos
quadrinhos brasileiros. Um personagem
nacional está acordando de seu sono forçado
(engavetado). Fazemos votos que: o Anjo,
Jerônimo, Raio Negro, o Gáucho, Chico de
Ogum, Paquera, Vizunga, Heros, Pabeyma,
Sibele, Cibele, Capitão 7, Judoka, Mirza, Vamp,
Fikom e tantos outros tenham a oportunidade e
a sorte de Maria Erótica.‖
Eu retirei isso de uma edição que me foi
presenteada pelo próprio Seto, que, após me
ser apresentado por sua bela filha Mayumi, me
cedeu uma entrevista, sua última, vindo a
falecer, infelizmente.

Depois desse especial, Maria Erótica voltou


numa revista mensal, onde ressurgiu também
num mundo fantástico e satírico, com versões
57
safadas de personagens de contos de fadas.
Diferente da Maria do mundo real, que é
reprimida e casta, a Maria desse universo
paralelo é maliciosa, desinibida e libertina, e
além de ficar nua a maior parte do tempo,
mantém relações sexuais com diversos
homens. Pela Grafipar saíram cerca de 20
edições e outros artistas participaram da
confecção de suas hqs além de Seto tais quais
Watson, Mozart Couto, Bonini entre outros.

Posteriormente, foi-se explicado que as


aventuras da Maria Erótica nas terras dos
contos de (sa)fadas eram sonhos dela, devido
a reprimir tanto seus impulsos sexuais.
Também na Grafipar, surgiu Malícia, a irmão
mais nova e safadinha da Maria Erótica, que

58
diferente da casta Maria era totalmente liberal e
dada (em todos os sentidos). Também teve
revista própria. Em sua fase final as hqs de
Maria Erótica, além do erotismo, tinham um "q"
de super-heróis e a Maria se tornou
praticamente uma heroína enfrentando
diversos inimigos, por exemplo, o Conde
Ejácula.
A outra cria mais famosa de Seto é a
brasileira Catarina. Seus pai era um geólogo,
que ao ir ao oeste dos Estados Unidos estudar
um meteorito foi atacado por índios apaches
que dizimaram todo o grupo, deixando vivos
apenas o guia mestiço Red Fox e Catarina.
Criada pelos índios ficou conhecida como Katy
Apache. Ao crescer, Red Fox lhe contou sua
história e ela ficou sabendo que tinha uma irmã
no Brasil, Severina, quando se torna uma
caçadora de recompensas afim de juntar
dinheiro para vir ao Brasil encontrá-la. Chegou
a ter sua própria revista pela Grafipar, e no
numero 14 da revista Maria Erótica, se
encontrou com a própria, num inusitado e
divertido encontro onde ficou comprovada a
semelhança das duas, todos confundem uma
com a outra provocando gostosas confusões.
59
Aliás uma característica nos quadrinhos de
Seto são encontros de seus personagens e
referências a outros. Infelizmente a saga da
Katy Apache ficou sem final e ela nunca
reencontrou sua irmã! (chuif, chuif).

Segundo o Lapada: ―Katy Apache era uma


pistoleira do velho Oeste Americano e sua
primeira aparição foi na revista Aventuras em
Quadrinhos nº 1, da editora Grafipar, de
Curitiba. O ano não dá para saber, mas deve
ter sido 1978 ou 79.

60
Criada pelos índios apaches, a loirinha
gostosinha foi treinada na arte de matar por
outro pistoleiro chamado Jackal, ou Chacal, e
ela virou uma caçadora de recompensas. Katy
era pra lá de safadinha e andava para todo
canto apenas vestida com um poncho
mexicano e provavelmente sem soutien e nem
calcinha, deixando os bandidos taradões
quando o vento soprava mais forte. Os
pistoleiros deviam ficar de olho no corpinho da
gata ao invés de mirar no seu coração, e
acabavam se dando mal no duelo‖.
Já outro japonês, Fernando Ikoma, foi criador
de outras duas personagens marcantes dos
anos 60/ 70: Satã e Sibele! Ikoma foi um dos
mais revolucionários quadrinhistas brasileiros,

61
e suas obras deveriam ser republicadas para
as novas gerações. As obras dele e de outros,
tais quais Cláudio Seto, que eram publicadas
pela editora Edrel, são usadas como referência
para autores gringos. Neil Gayman é um que
chupa muito dessa fonte, mas em geral é um
trabalho raro de se encontrar que continua
sendo ignorado pelos brasileiros. É triste um
povo que já produziu arte de tanta qualidade
esquecer de seus artistas e suas obras.
Quando poderemos resgatar nossas
preciosidades do limbo?

Se Neil Gaiman se aproveitou do Fikon (um


super-herói criado por Fernando Ikoma) para
se inspirar pra fazer o Sandman, de SATÃ, A
ALMA PENADA Gaiman chupou os conceitos
62
da Morte. Segundo o autor, Fernado Ikoma, em
seu livro "A técnica universal das histórias em
quadrinhos", publicado pela editora Edrel: ―É
uma personagem que vive na penumbra entre
a vida e a morte. Foi uma bela mulher em vida,
que levou muitos homens a perdição e destruiu
a felicidade de inúmeros lares. Mesmo após a
morte, seu corpo foi salvo da fogueira pelo seu
criado corcunda e sem língua, que escondeu-
se entre as ruínas do castelo mal assombrado,
onde nenhum habitante daquela localidade
ousava entrar. Julgada pelos juízes do além,
recebeu como castigo pelo mal que fizera viver
nas trevas até pagar pelos seus atos, e é dessa
forma incumbida a cumprir 100 missões das
quais não poderá falhar uma sequer, do
contrário sua alma jamais encontrará a paz.
Tem por seu companheiro o mesmo criado que
fora assassinado pelos moradores do povoado
logo após ter retornado do castelo assombrado.
Ele também é condenado a mesma sina, pois
fora criminoso e delator teve o corpo disforme e
a língua cortada em represália a sua denuncia.
A personagem Satã é uma espécie de
fantasma que agora começa a praticar o bem,
combatendo a feitiçaria, as doenças psíquicas,
63
os dramas internos de pessoas desajustadas e
até mesmo atuando como um contrapeso às
injustiças que certas pessoas são vítimas. Tem
alguns poderes sobrenaturais como o caso de
se materializar e tomar o corpo de uma pessoa
deixando-a inconsciente.‖

64
Sibele A Espiã de Vênus, vivia suas aventuras
na Terra e em outros planetas, como Vênus e
Saturno. Suas aventuras saíram em revista
própria a partir de janeiro de 1969. Sibele é
filha do general Alum e de Atlanta, que são
assassinados em Saturno, onde só
sobreviveram Sibele e Pino, que foram criados
65
por Sandrel, uma raça muito inteligente, porém
não possuem mãos. Sibele jura fidelidade e
servir até a morte o povo Sandrel. Muitas foram
as hqs publicadas, inclusive com elementos de
temática erótica, caso da hq "A experiência
sexual."

66
Foi conhecendo sua filha, que também chama
Sibele, uma autêntica e linda japonesa
brasileira, que eu pude conhecer o grande
mestre da HQ nacional! Segundo o pai da
Sibele: ―Há milhares de anos Terra e Vênus
estavam muito próximo um do outro. Tinham a
67
mesma rotação, a mesma translação, o que
fazia que a Terra mesmo sendo maior nunca
recebesse luz solar, já que Vênus, sempre a
sua frente, tapava-lhe o Sol fazendo-lhe
sombra. Enfim a Terra vivia nas trevas... Vênus
era um planeta adiantado, e a Terra colônia
sua. Na Terra viviam animais gigantes e seu
povo era muito primitivo, e devido a sua
ignorância eram facilmente escravizados. A
Terra, por ser um planeta escuro, servia de
refúgio para os criminosos de Vênus. Os povos
Venusianos eram extremamente belicosos e
suas constantes guerras internas acabaram por
minar a atmosfera e afetar o próprio sistema de
gravidade, fazendo com que seu planeta se
desprendesse de sua posição e passasse a
rumar em direção ao Sol. Isso causou pânico
no planeta, mas aproximou dois grandes
generais inimigos, que juntamente com a
orientação dos juízes de Vênus resolveram
emigrar todo povo para Terra, em enormes
espaçonaves. Sibele nasceu numa dessas
espaçonaves, e era filha de um desses
generais... Na Terra, em homenagem a Atlanta,
mãe de Sibele, fundaram Atlântida. E como era
de se esperar, prosperou rapidamente. Um
68
belo dia, Vênus sofreu nova alteração em seu
sistema gravitacional e deixou de ser atraído
pelo Sol, estancando-se então na posição em
que hoje se encontra. Mas deixou de fazer
sombra à Terra, que finalmente passou a
receber luz solar. Tendo o exemplo de Vênus
bem claro nas suas mentes, os juízes
decidiram que todas as suas armas nucleares e
bombas, construídas de forma impossível de
serem desarmadas seriam enterradas num
poço muito fundo, no alto de uma
montanha.Mas o calor intenso que a Terra
recebia do Sol, fez com que o seu núcleo
esquentasse e sua enorme pressão interior fez
o surgimento dos primeiros vulcões na Terra, e
um deles surge justamente onde as armas
ficaram enterradas. Os dois generais, agora
amigos, não haviam concordado com a
determinação dos juízes quanto à destruição
das espaçonaves, justamente prevendo uma
emergência, e haviam ocultado uma pequena
mas possante nave, em que partem os pais de
Sibele com ela criança, o outro general e sua
esposa, e Pino - uma criança filha de escravos.
E assim, escapam da explosão que varre do
mapa todo o continente de Atlântida.
69
Após vagar pelo espaço, passando por
diversos percalços, pousam em Saturno,onde
se surpreendem com seres de todos os tipos.
Os anéis de Saturno filtravam e aumentavam a
luz solar fazendo de sua atmosfera semelhante
à de Vênus. Lá, são capturados por povos
hostis que os escravizam, mas Pino e Sibele
são salvos pelo povo-sem-mãos, que apesar
de notável inteligência vivem primitivamente
por não ter habilidade manual para levar
adiante suas concepções.
Com o crescimento de Pino e Sibele, tal se
torna possível, e logo com a construção dos
primeiros robôs, o povo-sem-mãos prospera
rapidamente, tornando-se alvo de cobiça...
Sibele que era de Vênus, tinha o organismo
mais forte que o de Pino, por isso reinava
simbolicamente ao mesmo tempo que fazia o
reconhecimento de Saturno tentando um
entrelaçamento dos povos, e aí que surgem
suas aventuras... Com o passar do tempo,
surge a companheira Karla, o mutante, o
animal Grou, que se tornam seus
companheiros de jornada‖.
Claro que a lista não estaria completa sem
citar o mestre Minami Keizi o fundador da
70
editora Edrel! Eu não pude conhecê-lo
pessoalmente, infelizmente, pois quando o
conheci através de um blogue em que ele
escrevia suas memórias ele logo faleceu.
Descobri que a missa de sétimo dia será na
sede da Comunidade Japonesa que ficava
perto de casa e fui até lá dar meus pêsames
para família onde conheci a filha dele. Uma
característica de Seto, Ikoma e Keizi é a
impressionante beleza de suas filhas! Pelo que
ela conversou parece que ele era um figura,
diferente da imagem um pouco triste que
passava em seus textos pessoais com relatos
íntimos no seu blogue, era um grande gozador.
Minami foi escritor de dezenas de livros de
horóscopo pois era astrólogo, sobre artes-
marciais, romances, eróticos, policiais, sob
muitos pseudônimos, e criou a revista A
Gatinha, em 1970, desenhada por ele em estilo
mangá, considerada a primeira revista Hentai
do pais!

71
Outra loira das artes-gráficas nacionais
conhecida nos anos 70 foi Ipirela. Criada pelo
desenhista gaúcho João Mottini, que teve uma
grande carreira nos quadrinhos na Argentina,
onde inclusive produziu em 1950 uma biografia
em guache de Al Capone, que apareceu na
revista de quadrinhos Sucesos. Ipirela surgiu
em 1970, tratava- se de uma bela loira que fez
muito sucesso no sul do país. Não chegou a ter
quadrinhos, mas ilustrava propagandas e as
capas dos mapas estaduais que eram vendidos
nos postos Ipiranga, além de se tornar
chaveiros que são alvos de colecionadores até
os dias de hoje.

72
O Fantasticman surgiu em 1978 na revista
Jogos & Diversões, da Noblet. Mas o nome
dele era ZINK, o Homem Formiga. Na década
de 80 Tony Fernandes reformula todo o
universo da série e rebatizou o personagem de
Fantastic Man, o homem do planeta Vulcano.
Desta feita a série contava com outros
personagens, como: a doutora Ápia, Zendal e
Betákamus, dois seres anfíbios do único
oceano existente no árido planeta Omega e
Tankór, o Supremo - um pseudo-deus que
escraviza os que se recusaram a servir a ele.
Foram lançadas muitas edições por editoras
diferentes ao longo dos anos 80 e 90, e Tony
Fernandes atribui o sucesso do personagem a
sua insistência. Muito do sucesso se deveu a
doutora Ápia, esposa de Fantasticman, que
aparecia nua em algumas capas, fazendo a
alegria dos meninos que na época tinham a
73
curiosidade de ver uma heroína nua. Mas na
época também foi isso que acabou com uma
das séries de Fantaticman, que passou a ser
proibida para menores de 18 anos e vendida no
meio das revistas pornográficas, perdendo seu
público alvo. Tony até hoje produz histórias,
muitas inéditas, onde o casal de Vulcano teve
vários filhos.

74
75
Ápia junto com Fantasticman também
apareceram na série Comando Justiça, de
Darlei Nunez, que desde 1995 publica HQs
com encontros entre os super-heróis brasileiros
clássicos.

76
Em 1989, Tony Fernandes cria os Guerreiros
Ninja, o casal Steve Bishop e Susan Kincaid,
quando finalmente aparecem cenas de sexo-
explicito em HQs de super-heróis nacionais! Os
personagens principais não apareciam nesses
quadrinhos, que eram produzidas de forma que
pudessem ser excluídos numa possível
reedição ―comportada‖, já que era comum nas
produções de Tony Fernandes a reedição de
histórias em outros formatos, edições e séries.
Ele era conhecido como o ―editor do no 1‖, pois
acreditava que a primeira edição sempre
vendia mais, e às vezes, lançava a mesma
série e mesmo título, sempre com o número 1.
Grande figura e lenda da HQ nacional, meu
amigo Tony Fernandes! Bishop e Susan (uma
ninja mascarada e de minissaia) são policiais e
se tornam ninjas magicamente quando ambos
tocam os anéis que possuem e que mostra o
símbolo do yin-yang.

77
O fanzine Heróis Brazucas é famoso por
apresentar em suas páginas super-heróis
brasileiros clássicos e atuais. Não poderia faltar
num zine tão completo as queridas e desejadas
musas dos quadrinhos. E o Heróis Brazucas
possui um belo time! Que bate um bolão! Bem
78
que chamam o futebol de pelada...

Além da Velta, é óbvio, as outras musas do


Heróis Brazucas são a terrível Retrato da
Morte, de Elton Brunetti, presente desde a
primeira edição e voltando varias vezes.
Débora Grando, paulistana, parece uma moça
normal, mas após um acidente em que foi a
única sobrevivente, quando se faz necessário
libera seu terrível lado negro, quando adquire
asas e metade de seu rosto se torna uma

79
caveira, não raramente ficando semi-nua.

Não menos terrível a outra musa sinistra do


Heróis Brazucas, Penitência criada pelo baiano
Marcos Franco e desenhada entre outros por
Zé Carlos Sampaio, Gilberto Borba, Marcelo
Salaza e Sandro Santos, é uma aparição que
traz justiça, e morte aos maus, em pleno sertão
baiano. Pela NHQ saíram 7 edições, entre
2009 e 2010. A mini-série Campos de Batalha
que reuniu muitos Super-herói brasileiros
conhecidos dos fanzines juntou numa mesma
histórias as musas do Heróis Brazucas, Velta,
Retrato da Morte e Penitência.

80
Designada por Deus para ser a mentora de
um grupo de heróis, Vesga é uma paranormal e
médium sempre acompanhada do
mectoplasma de sua mãe. Após ser libertada
de um hospício se torna a líder de um grupo de
81
super-heróis! Vesganicia um romance com o
lutador Mãos-Trocadas e possuí uma síndrome
a la-―Thutharella‖ que a deixa com vontade de
ficar nua a maior parte do tempo. A Liga da
Vesga é formada por Jizla, Mãos-Trocadas,
Saci-Firmeza, Gorila-Sábio, Cubanito o animal
de patins, Lázaro o ressuscitado, Curupira e o
Mãos-de-Morsa. Com referências bíblicas,
folclóricas, políticas e pornográficas, a Liga da
Vesga é um dos mais inovadores quadrinhos
de super-heróis brasileiros! Oriundos da mente
criativa de Luiz Schiavon, a Vesga foi criada
junto com seu amigo Murdok em 2002, o autor
também já criou outros heróis como o psicótico
Capitão Atormentado e já desenhou também o
Capitão Presença, o super-herói da maconha,
tendo seu material publicado em diversos
fanzines e na internet.

82
Depois de Velta, provavelmente a super-
heroína mais famosa dos fanzines e das
revistas virtuais de internet é a Águia Dourada,
criada por Maurício Rosélli Augusto publicada
pela 1ª vez em 1995. Com centenas de
páginas produzidas, ela se espalhou também
por todos os encontros entre super-heróis-
brasileiros que foram produzidos por diversos
artistas nos últimos anos.

83
Quem também apareceu em muitos encontros
foi Jaguara, com um álbum lançado em 2005.
No imenso Amazonas existe um lugar lendário
conhecido apenas por pouquíssimos índios
chamado Jaguaretama (Vale da onça), uma
terra onde existem ferozes tribos em meio a
muitos mistérios. Nele reina uma lenda vida,
seu nome é Jaguara. Após a morte de seu pai,
Aguaratã, Jaguara assumiu seu lugar liderando
os Krenakores (Índios gigantes), lutando para
resgatar a honra da tribo após o grande
massacre imposto pelos inimigos Caetés.
Agraciada pelo deus Nhanderubussu com a
milenar lança Tupã, deve reinar em absoluto
em todo Jaguaretama e lutar contra as forças
de Jurupari (Diabo indígena), que pretende
dominar o Vale e destruir a lança, única arma
capaz de subjugá-lo. Para isso, liberta seus
84
demônios, aprisionados na Terra Proibida.
Criaturas como Saci, Lobisomem, Mula-sem-
cabeça, Yara, Curupira, Cobra-norato estarão
no encalço da bela guerreira em batalhas
assustadoras e inesperadas. Jaguara terá
ainda que proteger a pureza de sua terra da
ganância do homem branco. Em uma
participação em Alfa, A Primeira Ordem, se
aproxima muito do Blenq.

85
Mas a mais antiga personagem bem
brasileira, que vivia aventuras por todo o Brasil,
é nascida no Rio de Janeiro e viveu muitos
anos na floresta amazônica, onde seu pai
estudava as plantas e minérios. As aventuras
da Morena surgiram em tiras de jornal em
1947, na arte e criação de André Le Blanc, e a
partir do número 21 da revista do Capitão Atlas,
que seguia um tom nacionalista. O Capitão
Atlas também viajava pelo Brasil e teve seu
próprio programa de TV. Isso foi durante os
anos 50,

A personagem fez tanto sucesso que acabou


superando o próprio Capitão Atlas em
popularidade e foi publicada posteriormente em
tiras-diárias de jornais pelo mundo inteiro,
inclusive Estados Unidos e América Latina
fazendo muito sucesso!

86
Segundo declaração do criador: ―Morena Flor
era uma garota muito bonita, cheia de boas
intenções, que queria que tudo andasse direito.
87
Bem, depois ela teve de entrar em conflito com
o Mal, a lutar contra os caçadores que queriam
destruir o ambiente natural, puro, onde ela
vivia. Ela era preocupada com a flora e a fauna
da Amazônia. Eu abordava temas de ecologia
que, naquela época, não existia ainda. Ela não
tinha super-poderes. Eu queria uma heroína
que fosse bem brasileira, que falasse a
linguagem brasileira, uma figura com que
qualquer brasileiro pudesse se identificar. Eu
procurava fazer com que ela usasse todos os
apetrechos comuns da vida brasileira. Eu ficava
horas observando tudo que a minha
empregada usava e falava, e incluía tudo nas
minhas tiras. Quando eu "matei" Morena Flor
(eu parei com a história porque senão ela ia
acabar perdendo a qualidade), durante muitos
meses eu andei no vazio, como se uma parte
de mim tivesse sido amputada‖.

88
89
Você já ouviu falar de Giselle, a espiã nua, e
sua filha, Brigitte Montfort? Se a resposta
negativa, pode ficar um pouco triste por
desconhecer essas personagens tão
importantes da cultura nacional... Se o Brasil
fosse um país que respeitasse seus ícones
Giselle e Brigitte teriam virado filmes, séries de
tv, jogos, brinquedos, etc... Mas por enquanto
são apenas mais duas personagens que a
memória do país teima em fazer esquecer...
O povo brasileiro adora ler, vejam por
exemplo os sucessos das Bienais do Livro em
90
plena crise mundial, e haviam escritores
dedicados a escrever livros inteligentes
simplesmente para divertir os leitores, com
ótimos personagens e enredos. Os livros de
bolso de aventuras fizeram sucesso durante
décadas, desde os anos 1930, e as
personagens mais memoráveis dessas
publicações foram as espiãs Giselle e sua filha
Brigitte. Giselle foi criada em 1952 por David
Nasser com a ajuda de Jean Manzon, que lhe
descrevia como era a França, para o jornal
"Diário da Noite". Giselle, que não sabia como
manusear uma arma e muito menos lutar artes
marciais, tinha por sua única arma seu próprio
corpo e ela não hesitava em usá-lo se esse
fosse o caminho que a levasse a descobrir
segredos dos nazistas, que durante a Segunda
Guerra Mundial ocuparam seu país natal, a
França. Sua estória incluía um alto índice de
apelo sexual que representava um dos
principais motivos para tanto sucesso. Outra
razão, não menos importante, foi a divulgação
pelos editores de que tratava-se de uma
narrativa real que constava no diário de uma
pessoa que era membro da Resistência
Francesa, encontrado na mesma prisão onde
91
sua dona vivera seus últimos dias. Os livros
continham título em francês e até o nome do
suposto tradutor, mas a imaginação por trás de
todo esse bombástico conteúdo era totalmente
brasileira.

As vendas estouraram. Atingiram um nível tão


inesperado que tanto editores quanto
distribuidores chegaram à conclusão que aquilo
não podia parar. Mas tratava-se do diário de
uma prisioneira fuzilada, isso não podia ser
revertido e Giselle tinha que morrer no quarto
livro, caso contrário os leitores perceberiam
que tudo não passava de um engodo. A
solução veio dos editores e não foi menos
original: modificou-se o texto do último livro que
ainda não havia sido impresso e nele, antes de
ser fuzilada, Giselle revela seu maior segredo
confessando à sua companheira de cárcere,
Gabrièle Ladème, que antes do início dos
conflitos ela namorara com um estrategista
92
nazista chamado Fritz Bierrenbach de quem
engravidara. Assim que dera a luz a uma
menina, o pai a raptara e a enviara para
familiares abastados que moravam em Nova
Iorque e, portanto, fora da região de um
iminente conflito. Conclui-se, dessa forma, que
Brigitte tenha nascido no ano de 1938 ou, no
máximo, em 1939. Giselle faleceu na manhã de
15 de Março de 1944 sem ter tido a
oportunidade de sequer ter dado uma olhada
na sua filha. O nome Brigitte foi escolhido pelo
pai que incluindo o sobrenome
Montfort, batizou a menina Brigitte Montfort
Bierrenbach. Foi esse detalhe que levou a
inteligência francesa, anos depois, a descobrir
que tratava-se da "filha de Giselle". Brigitte não
é filha de Paul Zingg. Giselle conheceu Zingg
durante a ocupação e tornou-se o seu marido e
foi o homem a quem ela verdadeiramente
amou. Brigitte conseguiu a cidadania
estadunidense quando atingiu a maioridade e
formou-se em jornalismo pela Universidade de
Columbia. Um dos mais importantes jornais da
cidade de Nova Iorque, o "Morning News", logo
contratou a mais brilhante aluna daquela
Universidade e é nessa condição que Brigitte
93
estréia sua primeira aventura chamada "A Filha
De Giselle No Caso Dos Discos Voadores" na
qual ela nunca sequer havia empunhado uma
arma.
Com esse argumento inicial foi lançada a que
provavelmente é a mais extensa e contínua
série de livros composta de aproximadamente
500 aventuras do mesmo personagem. Os
editores, usando a mesma fórmula de sucesso,
passaram a afirmar, então, que Brigitte era tão
real quanto Giselle, como pode-se observar no
prólogo dessa primeira aventura: ―A filha de
Giselle, Brigitte Montfort, existe, em alguma
parte do mundo, atuando sob outros nomes,
em circunstâncias análogas às que são
narradas agora neste livro. Sua verdadeira
identidade, no entanto, deixa de ser
esclarecida, por motivos bem plausíveis do
Serviço Secreto.
Nas últimas páginas das memórias de Giselle,
A Espiã Nua Que Abalou Paris, fica bem claro
que a famosa heroína da Resistência
Francesa, pouco antes de morrer fuzilada na
prisão de Cherche Midi, na manhã de 15 de
março de 1944, confessou à sua companheira
de cárcere, Gabrièle Ladème, haver dado à luz
94
uma filha, nas vésperas da Segunda Guerra
Mundial. O pai da criança — explicou Giselle —
fora um alemão que a abandonara grávida,
mas lhe raptara a menina logo ao nascer.
A famosa espiã morreu sem conhecer a
própria filha, sem sequer saber do seu nome ou
do seu paradeiro. Vinte anos depois, esta
incógnita é revelada. A filha de Giselle surge
nos Estados Unidos, bonita, elegante,
corajosa.‖
José Alberto Gueiros em 1963 tornou-se um
dos principais executivos da Editora Monterrey,
fundada sete anos antes no Rio de Janeiro
pelos sócios espanhóis Luis de Benito e Juan
Fernandes Salmeron. Uma de suas primeiras
idéias foi re-editar a estória de Giselle, desta
vez no formato de livro de bolso com capa mole
e impresso em papel-jornal. Se tão bem
sucedida quanto anteriormente, essa estória
poderia alavancar as vendas de uma nova
coleção de livros de bolso focada somente em
espionagem e investigação, fato que daria um
bom impulso no próprio negócio da Monterrey.
Nasser aconselhou-o a não comprar os direitos
da estória de Giselle porque considerava aquilo
uma verdadeira merda, tal a forma
95
desorganizada como foi escrita. Como o preço
era bastante tentador, Gueiros não ouviu seu
amigo; mas, de fato, teve que retrabalhar toda
a estória dando sentido ao drama e
reorganizando a aparição de certos
personagens. O resultado final foi equivalente
ao tamanho de 4 livros de bolso, os primeiros
da coleção ZZ7, cujo número de estréia foi
lançado em Março de 1964, portanto 12 anos
após a publicação original da estória de Giselle
concebida por Nasser.

O sucesso foi absolutamente descomunal pois


a tiragem de cada edição chegou a 500.000
cópias. Domenico Leta, da distribuidora de
revistas Fernando Chinaglia, ligou para Gueiros
e disse: ―Essa puta é uma vaca leiteira, está
dando muito leite. Não podemos parar‖. O
96
editor explicou que Nasser havia concebido
apenas aquilo, que ele estava no auge da
carreira em "O Cruzeiro" e, portanto, convidá-lo
para dar continuidade à estória estava fora de
cogitação.
Gueiros foi "o cara" que encontrou a solução
ao criar "a filha de Giselle" enquanto ainda
escrevia o quarto e último livro da saga; e,
conseqüentemente, seria correto afirmar que é
ele o pai de Brigitte Montfort. Além disso, ele
escreveu as 5 primeiras aventuras de Brigitte,
mas logo percebeu que aquilo passou a ser um
grande problema para ele pois tinha que se
dedicar quase 100% do tempo àquela
atividade.

97
Desta vez a solução veio de seu sócio, Juan
Fernandes Salmeron: ele sabia que na
Espanha existiam vários escritores que
adotaram pseudônimos de origem inglesa e
que poderiam desenvolver a estória de um
personagem que cresceu nos EUA e que tinha
conexões com a CIA. Em uma viagem a
Barcelona, Gueiros procurou a Editora Rolland
que tinha um esquema com um exército desses
escritores mencionados por Salmeron. Apesar
98
de tratar-se de uma produção em massa, eles
produziam estórias bem feitas, com riqueza de
detalhes e convincentes. Foi assim que ele
conheceu Antonio Vera Ramirez – cujo
pseudônimo é Lou Carrigan – que se
apaixonou imediatamente por Brigitte depois de
ter ouvido um resumo do argumento. Lou
Carrigan escreveu sua primeira aventura tendo
Brigitte Montfort como personagem em 1965 e
parou apenas em 1992, pois ele concordou
com o pedido da Editora Monterrey de
continuar até que a SV alcançasse a edição de
número 500 ("Uma Espiã Para A Eternidade").
Todavia, no final do ano 2000, ele foi contatado
por Juan Alberto Fernández Nunes, naquela
época diretor e o último proprietário da
atualmente falida Editora Monterrey, que
solicitou o seu apoio para lançar novos livros
sobre as espiãs no mercado brasileiro. Mas
desta vez o foco seria a mãe, Giselle. Apesar
de que Lou nunca havia escrito tendo Giselle
como personagem e apesar de que o maior
desafio seria criar um argumento
absolutamente convincente de que ela não
teria sido executada na prisão de Cherche Midi
no dia 15 de Março de 1944 como acreditava-
99
se até então (inclusive por sua própria filha,
Brigitte Montfort), Lou aceitou o pedido de Juan
Alberto e escreveu quatro novas aventuras de
Giselle Montfort: "Giselle, Mon Amour", "Uma
Tumba Em Versailles", "Um Corpo Sem
Coração" e "Operação Extermínio". Esses
livros nunca foram publicados ou traduzidos
para o Português, porque Juan Alberto morreu
num acidente de moto, mas são vendidos por
Lou Carrigan pela internet.

100
Para atender uma solicitação da Editora
Monterrey, o erotismo foi implementado como
um componente indispensável no
desenvolvimento de cada capa e o talento de
Benicio levou muitas pessoas a acreditar que
as capas dos livros foram, de fato, a principal
razão para um volume tão grande de vendas
desses livros. Não é raro ouvir de pessoas
atualmente maduras, com mais de 50 anos de
idade, relatos e até confissões de masturbação,
já que as capas desses livros era o único
material acessível e barato contendo aquilo que
era considerado o mais próximo de uma cena
de nudez. Benicio, portanto, proporcionou a
muitos leitores masculinos a sensação de
terem tido um relacionamento bastante íntimo
com Brigitte Montfort. Mas Brigitte não fazia
sucesso somente com os homens. De acordo
com Benicio: ―Brigitte representava a mulher
livre, emancipada, mais inteligente do que os
homens, rebelde, que lutava contra os
ditadores, os políticos velhacos e os conceitos
hipócritas daquela época. Brigitte se
transformou em um vício e em uma válvula de
escape para a juventude reprimida da época‖.
Brigitte foi, portanto, uma referência para as
101
mulheres, tanto pela sua beleza quanto pelo
seu comportamento e estilo de vida – e isso
teve, naturalmente, a contribuição dos textos
de Lou Carrigan.
Quase uma deusa, com longos cabelos
negros, olhos azuis, pernas roliças, pele tão
dourada quanto um pêssego, poliglota e
extremamente inteligente. A fim de definir qual
seria a aparência da personagem e como
desenhá-la em diferentes posições e situações,
Benicio primeiramente se inspirou numa
"coelhinha"que ele viu numa das edições
estadunidenses da Playboy (que não era
editada no Brasil naquele tempo) e,
posteriormente, por uma carioca chamada
Maria de Fátima Monteiro, ou ainda Maria de
Fátima Priolli, nome como ficou conhecida
depois do seu casamento com o empresário
Mário Priolli. Maria de Fátima costumava dar
aulas numa escola do Leblon e fazia parte da
alta sociedade carioca. Ganhou notoriedade
por ser uma pré-candidata do concurso Miss
Guanabara quando tinha 20 anos, mas cuja
participação acabou declinando por motivos
pessoais. A imprensa especializada e boa parte

102
do público a consideravam uma das mulheres
mais bonitas do Brasil naquela época.

Emir Ribeiro com certeza tem influência dessa


série repleta de ação e erotismo para criar sua
Velta, que também é eximia investigadora, e
que teve algumas aventuras publicadas na
forma de mini-livros de bolso ilustrados. Em
1965, Helio Do Soveral, a quem são creditadas
103
algumas histórias de Brigitte, criou Keith Oliver
Durban, também conhecido K. O. Durban mas
mais conhecido como Nocaute Durban, um
agente secreto milionário que vive numa ilha
com suas seis mulheres, sendo que no sétimo
dia ele descansa. Com capas de Benício, o
apelo erótico também predominava nessa série
de espionagem.

Hélio do Soveral produziu essa série de 6


volumes publicados entre 1974 e 1975 sob
pseudônimo Maruí Martins. Ricamente
104
ilustradas, são protagonizadas pela ruivinha
adolescente Milu do Amaral, filha do delegado,
que investiga vários casos usando o codinome
Chereta, quando veste sua moto e roupas
pretas e todos pensam que ela é um homem!
Chereta talvez tenha sido a maior heroína do
Soveral, se fosse outro país com certeza teria
tido filme, série... Livros inesquecíveis pra
quem leu!

105
Os títulos foram os seguintes: ―Chereta e o
Monstro Marinho‖ (1974), ―Chereta e as
Marionetes‖ (1975), ―Chereta e as Motocas‖
(1975), ―Chereta e o Carrossel Eletrônico‖
(1975), ―Chereta e o Homem Sem Memória‖
(1975) e ―Chereta e o Navio Abandonado‖
(1975).

Patrícia Galvão, a Pagu, é a mulher mais


importante e influente da arte das belas letras e
das histórias em quadrinhos brasileiras. Como
escritora, seus romances fizeram História! O
primeiro, "Parque Industrial", era pra ser um
romance comunista, mas foi rechaçado pelo
Partido Comunista do qual Pagu fazia parte,
considerado pornográfico! Publicado em 1933,
atualmente é considerado o último romance
modernista autentico. Em 1945, publica com
seu marido, Geraldo Ferraz, "A Famosa
Revista", romance que faz parte da fase anti-
106
comunista da ativista, desenhista e escritora,
pouco comentada pelos esquerdistas que
insistem em usá-la como símbolo, mesmo ela
tendo renegado sua militância comunista nessa
obra e em muitos outros artigos e também na
sua autobiografia, "Paixão Pagu", onde revela
que o Partido a tratava como uma prostitua!

Escreveu histórias de detetive, republicadas


em 1998, na coletânea "Safra Macabra". Em
1931, cria Kabelluda, no jornal "O Homem do
Povo". De orientação comunista, Kabelluda é
uma militante e em suas histórias non-sense
antecipa os quadrinhos underground mundiais
e brasileiros, por exemplo a série "Chiclete com
Banana" de Angeli, e também as heroínas

107
esquerdistas européias (Barbarella, Valentina,
Pravda, Octobriana), surgidas nos anos 1960.

108
109
Kabelluda tem um "q" super-heroína, já que,
após sofrer um atentado, ressuscita em uma
das tiras, antecipando também a heroína Velta,
de Emir Ribeiro, a mais famosa e importante do
gênero super-herói surgida no Brasil, criada em
1973, que possui muito em comum com a
Kabelluda (ambas são loiras, cabelo comprido
e no início Velta demonstrava uma certa
simpatia pelo comunismo, o que foi descartado
a posteriori, refletindo a mudança de perfil
ideológico do autor).
Anos antes, em 1929, publica o "Álbum de
Pagu: Nascimento, Vida, Paixão e Morte", uma
HQ erótica que antecipa as "graphic-novels" e
até mesmo as "Tijuana Bibles" norte-
americana, sendo talvez a primeira HQ erótica
publicada no mundo, já que a personagem
principal, alter-ego da própria Pagu, fica nua
durante toda narrativa poética-visual.

110
Kabelluda reapareceu em 2015, em
homenagem da desenhista Aline Lemos.

Foram apenas 8 tiras, o suficiente para


influenciar personagens no mundo inteiro!
Musa da Semana de Arte Moderna de 1922,
ninfeta fatal que apaixonou todos os
intelectuais modernistas e o Brasil inteiro, que
era pequeno pra Pagu, que conquistou o

111
mundo com sua arte e a sua "Kabelluda"!

A Filha do Inca foi criada por em 1930 por


Menotti Del Picchia em um romance ilustrado
por J. U. Campos, e levada às HQs em 1960
com arte de Manoel Victor Filho. No final da HQ
ela se casa com um humano dos tempos
modernos que a liberta, já que estava sendo
mantida prisioneira sem envelhecer por
alienígenas. Se isso não a torna uma heroína,

112
no mínimo, ela sabe de muita coisa por ter
vivido centenas de anos ao lado de outra raça!

Artes de Nico Rosso (2ª edição) e J. U.


Campos (1ª edição)

Heroínas são recorrentes na obra de Menotti,


que deveria ser muito mais estudado, pois tem
importância próxima a de Lobato na vida e
obra, em boa parte, infanto-juvenil. Em 1931
cria a Rainha do Mar, antecipando a Aqualady,
Namorita e outras.
113
É a irmã do Tocha-Humana? Quase! É a
Brasa, também criação do Menotti de 1931!
Esse cara criou no mínimo 3 super-heroínas
nacionais e ninguém nunca comenta isso,
porque será? Injustiça!

Um cientista louco que cria uma raça hibrída


de animais e humanos. Alto-Evolucionário, da
114
Marvel? Não, trata-se de Hartmann, criado 41
anos antes do vilão estrangeiro, por Gastão
Cruls no livro ―Amazônia Misteriosa‖ e levado
as HQs em 1955, pela editora Ebal.

Mallila e sua mãe, a rainha das Amazonas,


Ccoya, te lembram outras amazonas? Essas
são de 1925, levadas aos quadrinhos em 1955.
desenhadas magistralmente por André Le
Blanc, que já tinha criado Morena Flor.
Podemos afirmar que a primeira mutante dos
quadrinhos nacionais foi a Princesa Ki-ky
desenhada por Julião Machado, em 1912.
Trata-se de uma Princesa que quando fala, ao
invés de voz, emite flores muito perfumadas!
Além disso, Ki-ky é idêntica a Branca de Neve

115
do Disney! No final, ela não agüenta mais não
conseguir falar, e voa pra Lua!

Careta, criada no Brasil por J. Carlos, em


1908 para ser a mascote da revista de mesmo
nome, era uma personagem meio boneca,
meio humana, que antecedeu a própria Emília!

116
117
118
119
Inaiá foi criada por Angelo Agostinni, em
1883, como coadjuvante nas aventuras do
personagem Zé Caipora. Trata-se de uma
índia, sempre com os seios a mostra. Corajosa,
enfrenta sua própria tribo para salvar a vida de
Zé Caipora! Com a sua chegada ocorre uma
mudança nas histórias do personagem, que, de
cômicas se tornam aventurescas, tornando Zé
Caipora o primeiro herói de aventuras em
quadrinhos do mundo! Segundo o pesquisador
Athos Eichler Cardoso, Inaiá é a primeira
heroína dos quadrinhos do mundo: ―A,
geralmente considerada, primeira heroína de
quadrinhos modernos é a CONNIE, de Frank
Goodwin. Aqui no Brasil ela apareceu com
outros nomes. Há um álbum dela muito raro
publicado junto com os dois primeiros do
Fantasma e o Guarany de Acquarone pelo
Correio Universal, um suplemento de
quadrinhos distribuído com jornais pelo Brasil.
A Connie é heroína individual. A protagonista.
A Inaiá aparece com o Zé Caipora, mas o papel
que ela representa é de uma heroína típica. Ela
é mais corajosa e decidida que o Zé. Salva a
vida dele três vezes. Depois ela some vira uma

120
mulher caseira. Isso em 1883. Estamos falando
de desenhos realistas.‖

No exterior, muitas heroínas europeias


eróticas influenciaram nos quadrinhos
produzidos no mundo inteiro (inclusive Brasil):
Barbarella, de Jean Claude Forest; Valentina,
de Crepax; Paulette, de Pichard; Jodelle e
Pravda, de Guy Pellaert. Esta última, principal
influência de Velta nos anos 70.Em Portugal
havia Zakarella, escrita por Roussado Pinto e
121
desenhada por Carlos Alberto Santos, uma
heroína do terror sempre nua, publicada nos
anos 70 e considerada cult por lá. Essas são
sempre lembradas e citadas pela imprensa e
acadêmicos em geral, já as brasileiras
raramente você vai ver trabalhos com a
dedicação e o carinho dessa pesquisa sobre as
Mulheres nos Quadrinho

122
As heroínas europeias sempre citadas pelos pesquisadores brasileiros
alienados que não conhecem as nossas heroínas!

A Velta foi criada nos anos 70 sob essas


influências, mas na época, o criador era fã
confesso de quadrinhos Marvel/DC, e da
Pravda, que além da moto Emir inspirou-se no
tom psicodélico da hq, influências que foram se
perdendo com o tempo, já que a Velta foi
criada nos anos 70 e nunca mais deixou de ser
publicada. Apesar disso as hqs foram
intuitivamente mais para linha autoral européia
do que para pasteurização norte-americana.
123
Emir iniciou suas hqs no Jornalzinho de Escola,
e nunca mais parou. Velta foi publicada numa
série de gibis próprios dos anos 70 e começo
dos 80, em tiras diárias publicadas nos
principais jornais do Nordeste, ao mesmo
tempo que iniciava sua trajetória nos fanzines,
não só os editados pelo próprio Emir Ribeiro -
mas por muitos outros espalhados no Brasil - o
que levou ainda nos anos 80 à criação do
Clube da Velta, que emitia até carteirinhas para
seus sócios.

A Opera Graphica lançou dois ótimos álbuns


da Velta, ainda em catálogo, e um gibizinho
colorido de hqs curtas saído pela Escala, já no
nosso século. No ano de 1998, saiu a primeira
grande publicação da Velta: "Velta 25 Anos",
um álbum luxuoso apesar de miolo impresso
em p&b. Vale encomendá-los à editora ou
diretamente com o autor.
É clara a evolução do artista Emir Ribeiro

124
desde que começou a publicar nos já tão
distantes anos 70, até seu atual estágio de
perfeição. Mas é claro que para aqueles que
gostam de criticar a arte brasileira, melhor usar
exemplos do artista ainda adolescente imberbe
para malhar a produção nacional de
quadrinhos!
O álbum que alimenta a polemica que certos
babacas querem causar em torno do
quadrinhista Emir Ribeiro vai frustrar os
opositores da Velta, que estão é fazendo
propaganda. Quandoalguns leitores que
ouvirem as críticas e mesmo assim lerem,
verão que a história não tem nada demais, e
apesar de ser dirigida ao público adulto a
leitura por uma criança não lhe causaria dano
algum. E é sim genial, uma das melhores
histórias em quadrinhos já publicada a nível
mundial! Quem não agüentar esperar pra ler
encomende com o autor!
Nos anos 80, Laerte, Angeli e Glauco (Los 3
Amigos) e outros artistas oriundos de tablóides
(Pasquim ) e zines dos anos 70 (Balão),
discutiram o comportamento dos jovens e de
parte de sua geração, incluindo discussões
abertas sobre uso de drogas e além, indo fundo
125
no comportamento sexual de parcelas da
população, não se inibindo em desenhar
genitálias, femininas e masculinas, explícitas
em quadrinhos que os ajudaram na sua fama, e
a se tornarem durante um certo tempo os
donos dos gibis mais vendidos do país
(Chiclete com Banana vendia mais que o
Homem-Aranha). Até hoje são conceituados e
têm a liberdade de desenharem pirocas e
bucetas abertamente nas tiras de jornais que
publicam na Folha de São Paulo. E mesmo
tendo esse lado mais "pervertido" (todos temos
nossas taras) eles também fazem quadrinhos
pra crianças... (o Laerte tem a Suriá, o Glauco
tem o Geraldinho e o Angeli tem o Ozzy).
De outro lado, tínhamos editoras que
apostavam forte no pornô (Sampa, Maciota,
Grafipar, Press e etc..) onde a coisa era mais
explícita mesmo, mas mesmo assim grandes
artistas se aproveitaram dessa fatia do
mercado para trabalhar, e fizeram bom
trabalhos, incluindo gente das antigas (Zalla e
Colonesse) e outros, Sebastião Zéfiro (Seabra),
Watson Portela, Mozart Couto, Rodval Matias,
Giba Camacho, Quagiro, embora muitos
preferissem usar pseudônimos para não
126
comprometerem seus nomes com trabalhos de
pornografia. O que se mostrou uma besteira,
porque atualmente tais trabalhos são inclusive
republicados em álbuns na Europa, que adora
erotismo. Emir Ribeiro foi um dos quadrinhistas
que mais produziu quadrinhos eróticos para
tais editoras. Com a dificuldade de se
aceitarem publicar hqs de outro estilo, não
gostavam de super-heróis e poderes, querendo
publicar só sexo mesmo, pois era venda certa
(parece que ainda funciona assim, sexo
vende...) foi numa brecha que ele acabou
publicando essa ÚNICA revistinha erótica de
Velta, e apenas pelo fato de haver sido muito
bem pago por ela. "As histórias secretas de
Velta", além de ser uma raridade é
desconsiderada na cronologia oficial da Velta.

127
128
129
Por incrível que pareça, o gibi erótico (ou de
sacanagem) mais vendido nos anos 80 era o
"Close", baseado na Roberta Close, atualmente
uma ex-travesti. E a maioria dos desenhistas
citados acima, e muitos outros, trabalharam
nos quadrinhos da Close, que teve longa
duração, passando por quase todas as editoras
de quadrinhos eróticos chegando até os anos
90. Foi sob encomenda de editores dessas
"revistinhas" que Emir criou Ádrian e outros
hermafroditas de um clube do qual ela fazia
parte. E para dar razão à existência de Ádrian
e as outras, estas passaram a ser
considerados filhas de Doroti.

130
Doroti quando criada, antes da Velta, era
mulher. Na verdade, Emir desencanou da
Doroti quando criou a Velta (ainda chamada
Welta). Certa vez, na escola, ele já publicava a
Velta no Jornalzinho do Grêmio, quando
colegas de classe levaram à escola, para zoar,
um livro que tinha foto de uma hermafrodita, e
pediram para Emir usar ela como inimigo da
Velta. E assim, partindo de uma zoeira juvenil e
atendendo aos bem humorados colegas, a
Doroti voltou para ser a inimiga da Velta. Doroti
não é travesti, mas sim uma alienígena doente
que pode assumir a forma que quiser, e a que
mais usa é a forma da famosa "mulher-
bengaluda".

131
132
Doroti a alienígena transmorfa ninfomaníaca.
Criada por Emir Ribeiro em 1970, de cabelos
brancos e suéter roxo, a "nossa senhora" do

133
priapismo deu uma mijada ácida que corroeu o
quadrinho mundial!
Obra-Prima do Quadrinho Brasileiro! Foi com
essa HQ que Emir Ribeiro ultrapassou Alan
Mú, Frank Milho e Nel Gayman!
Apesar de haverem referências sexuais nos
quadrinhos Velta (e existem porque Velta é um
quadrinho direcionado pra adultos), a temática
não se resume a isso. E portanto Velta não é
um quadrinho erótico... Está acima também dos
quadrinhos eróticos, porque além de não haver
sexo-explícito ou exposição de partes-íntimas,
comportamento, política, sociedade brasileira,
tudo isso é discutido de uma forma muito
inteligente nos quadrinhos da Velta. E o
principal, sem ser chato, porque a leitura de
Velta é leve e aprazível.
É tudo muito moderno, e rico intelectualmente.
Existe um universo complexo com muitos
personagens, que obviamente não se
restringem a aberração alienígena Doroti, que
está apenas em algumas histórias...
Quem não leu ainda sequer um gibi da Velta e
insiste em falar mal dela, certamente é movido
pela inveja de saber que não criará uma

134
personagem melhor. Eu sei que a Velta é
imbatível, mas tem espaço para todos num
mercado justo, sem haver necessidade de se
querer destruir aquela que é a de maior
potencial para deixarem um lugar vago para
que se ocupe com sua respectiva criação!
O Brasil é um lugar onde todas as raças
convivem pacificamente, sendo muito comuns
relações, amistosas, afetuosas e sexuais, entre
todas raças. Mas que fique bem claro: TODAS
as raças. Quando vocês excluem a Velta da
raça brasileira estão sendo RACISTAS, já que
no Brasil temos muitas loiras. NÃO É
RACISMO DESEJAR OU ACHAR LOIRAS
BONITAS! Eu gosto de loiras, morenas,
japonesas, negras ou índias. Existem mulheres
bonitas de todos os tipos...

135
E a Velta é só uma personagem de
quadrinhos. Acho ela bonita não como se acha
uma mulher bonita, mas como se vê uma obra-
de-arte! Nunca me masturbei com quadrinhos
de Velta, e duvido que alguém faça isso.
Exemplos de artistas que já trabalharam
desenhando travestis, sexo-explícito, mulheres
e homens nus e inclusive homossexualismo
foram inúmeros, e a exceção de Sérgio Lima
(homossexual assumido), de todos esses
citados não tenho conhecimento de que
nenhum seja homossexual de fato, pelo
contrário, sei é que a maioria são pais de
família responsáveis merecedores de todo
respeito, e exemplos, já que são bem-
sucedidos na profissão que escolheram. E
mesmo que fossem homossexuais, mereceriam
também todo respeito, são seres-humanos e
cidadãos respeitáveis!

136
Sérgio Lima foi um desenhista homossexual criador do Bernardão, o erótico, e
que também desenhou a famosa vida de Silvio Santos em quadrinhos
O achincalhe que fazem contra a pessoa do
Emir Ribeiro não é engraçado, mas além de
corrupto, é asqueroso...
E não se espantem se surgirem mais e mais
páginas a favor da Velta, as ações dos
canalhas que espalham aos quatro cantos da
137
internet discursos anti-Velta tem indignado
muitos. Não pensem eles que os fãs da Velta
são poucos. Somos muitos! Ela é a musa dos
Quadrinhos Brasileiros!
Velta vai muito mais na linha européia de hqs.
Se os europeus descobrem essa preciosidade,
não tenho dúvidas que irão reconhecer e
querer publicar as obras completas da Velta...
Questão de tempo. Será assim como
republicaram a incrível heroína russa
Octobriana, da qual os russos também muito se
orgulham. Os europeus gostam de qualidade e
diferencial. Descobrirão a Velta antes de nós
mesmos?

O conjunto da obra que faz de Velta uma


criação genial é a maestria entre o roteiro e o
desenho, e mais a inovação do gênero
fantástico e/ou de super-heróis.
"Chiclete com Banana" não era um risco pras
138
máfias, pois era um revista de HUMOR, apesar
de não ter sido só isso, pois continha muitos
textos, matérias até de política (de tendência
anarquista e/ou esquerdista liberal) e
comportamental, e mesmo o humor dos
quadrinhos era ADULTO. O sexo era explícito,
assim como uso de drogas, na seção de cartas
gangues urbanas se juravam de morte, e era
real aquelas tretas.... Bom, eu não lia só os
quadrinhos da Chiclete mas, ela de capa a
capa. Destaco a seção "Rancor", o zine que
vinha encartado "Jam" que tinha na revista.
Definitivamente, não era uma simples revista
de humor...
O risco para as máfias seria uma revista com
SUPER-HERÓIS BRASILEIROS. Isso eles
não permitem de maneira alguma.
A Chiclete vendia bem, mas não era um risco
para o Homem-Aranha, pois o público alvo era
diferente. Para mim o Bob Cuspe era um
super-herói, mas não é qualquer um que vai
pensar assim (o Angeli tá ligado porque
também é virginiano que nem eu), acredito que
o Bob não tenha causado grandes influências
ou estragos sobre o público habitual do
Homem-Aranha...
139
Para os que negam a existência das máfias
temos MAIS PROVAS da existência delas,
disponíveis na entrevista do mestre Gedeone.
Além disso, eram apadrinhados pelo pessoal
do "Pasquim" que com o fim do regime militar
gozavam de prestígio tanto no meio político
quanto intelectual, e eram um grupo, além dos
3 amigos, tinha o Fernando Gonzalez, o editor
Toninho Mendes, enfim, eram uma equipe que
pensava parecido, e isso facilitava as coisas.
Quando o time foi se desentendendo, as
revistas foram se desintegrando. Parece que
não foi o Collor que derrubou a Chiclete e a
Circo, mas problemas de desentendimento da
equipe que formava a revista e a editora.
Emir, por outro lado, sempre esteve sozinho
na sua batalha. Está formando sua equipe
agora. Eu orgulhosamente faço parte; se bem
que nem eu, nem os outros amigos que a
integram recebem "ordens" de Emir, como
alguns tentam insinuar! Trabalhamos
livremente naquilo que julgamos correto, e
tomamos decisões próprias.

140
Acima: VELTA,
a número um
dos quadrinhos
brasileiros, num
desenho
colorido de Emir
Ribeiro, datado
de 1997.

Abaixo: Velta em
perigo, num
desenho
colorido do
Reno, publicado
no fanzine ZAT.

141
O mais inusitado encontro de Velta com
personagens da HQ nacional aconteceu na HQ
―Festa do Quadrinho Tupiniquim‖, do Márcio
Baraldi, publicada em 1998 na ―HQ – Revista
do Quadrinho Brasileiro‖, número 2, onde há
uma festa em que os convidados são
personagens ícones do quadrinho nacional de
todos os tempos, entre personagens infantis,
cômicos e super-heróis, e a Velta
simplesmente se encontrou com Los 3 Amigos,
os cowboys alucinados criados por Glauco,
Angeli e Laerte (e depois Adão).

142
Outra personagem semelhante a Velta, mas
bem mais antiga, foi a Natureza, representação
encarnada da própria Mãe Natureza que surge
nas HQs do Janjão, publicadas na revista
Sesinho a partir de 1954, de autoria de Elísio.
Não é só uma coincidência estética, o
arquétipo evocado é o mesmo, por isso toda
essa aura maternal que a Velta emana, como
se ele fosse a ―mãe‖ dos super-heróis
brasileiros!

143
144
145
Retirado da CQB com acréscimos retirados dos
blogues Mulheres nos Quadrinhos e Primeiros
Super-Heróis do Mundo
146
4- (CHUPA ALAN MÚ) MIRACLEMAN,
PLÁGIO DA VELTA! A denúncia foi feita no
orkut por um respeitado desenhista
brasileiro:
"O Emir é um grande artista brasileiro, e seus
desenhos têm a marca do seu estilo, tão
característico como os de Jack Kirby, Joe
Sinnott ou John Buscema, são identificáveis à
primeira vista.
A opinião do "Senhor Lancaster" deve ser lida
com reservas, visto que parece haver uma rixa
de longa data entre ele e o Emir.
Em um outro tópico, eu comentei que, há
alguns dias, vi em Santa Catarina uma loura
com o corpo idêntico ao da Velta, só os cabelos
eram mais curtos. As proporções anatômicas,
os quadris, as coxas, tudo igualzinho aos
desenhos do Emir.
O que acontece é que o desenho do Emir não
segue o padrão estadunidense da
"supermodelo" peituda e de quadris estreitos,
ou das "superdeformadas" que viraram moda
há algum tempo. A Velta tem proporções
típicamente brasileiras.Já que é verão,
recomendo que vão a uma praia e observem a
enorme variedade de corpos femininos
147
diferentes que irão encontrar... e verão que as
heroínas dos quadrinhos gringos não têm nada
a ver com as belas brasileiras de nossas
praias.
Quanto à tal "experiência maluca"...já reparou
que o Emir descreveu , e muitos anos antes,
algo parecido com a tal experiência da criação
do Miracleman que foi recontada pelo Alan
Moore? Quer dizer, o Emir escreveu antes,
mas o Alan Moore é que é o gênio ? Leia a
história da origem da Velta, e depois leia o
Miracleman do Moore, tendo em mente que o
Emir escreveu a sua história muitos anos
antes...uma pessoa comum, que fica com um
corpo diferente e poderoso, graças a uma
experiência...hmmm... "

Paulo Nery
AQB: Ação dos Quadrinhos Brasileiros!
O Brasil precisa de você!
Fora da AQB não há NACIONALISMO!

148
149
150
151
Retirado Do MBB

152
5- OS 5 MAIORES DEFEITOS DA VELTA
(Por Rod Tigre, com comentários de Emir
Ribeiro)
Quem diria... Rod Tigre mostrando que não
gosta de ser parcial, apresenta um texto
mostrando os 5 maiores defeitos da sua
personagem predileta: Velta! Convidamos o
Emir para comentar, e ele aceitou. (Marconi
Lapada)
1- Dificuldade em se reunir todas as histórias
de Velta: espalhadas por diversos fanzines,
além da revista própria da editora 10-Abafo,
que circulou nos anos 70 (uma coleção rara e
cara), tiras de jornais e álbuns. Reunir a obra
completa da Velta é tarefa de arqueólogo. E se
for contar outros artistas que já fizeram hqs da
Velta, fica mais complicado ainda. Gostaria que
fosse mais fácil se encontrar os quadrinhos da
Velta, de preferência que um editora publicasse
a coleção toda da Velta, com luxo, cores e
textos engajados da CQB, e até, quem sabe,
textos críticos para mostrar imparcialidade e o
julgamento ficar por conta do leitor.
Emir Ribeiro - Eu tenho quase tudo guardado.
O problema é organizar tudo isso. Seria preciso
153
muito tempo de sobra - coisa que está cada
vez mais rara para mim.

2 - Pouca divulgação da Velta na grande


imprensa fora do eixo Norte/Nordeste. Apesar
de ser bastante conhecida no centro-sul do
país, ainda considero a penetração da Velta na
imprensa dessas regiões tímida, e devido à sua
importância, sua fama deveria ser maior nos
meios intelectuais. Não me recordo de já ter
lido matérias sobre a Velta na Folha ou no
Estado de São Paulo, ou então no Globo e
Jornal do Brasil do Rio, que eu acompanho; e
em outros jornais, acho que deve ser igual;
enquanto foram abundantes matérias sobre
154
Carlos Zéfiro em todos esses jornais (o que é
bom), mas a importância da Velta atualmente
se encontra num patamar superior, merecendo
atenção.
Emir Ribeiro- Na Folha de São Paulo, disseram
que saiu algo, por duas vezes, mas eu não tive
oportunidade de ver essas matérias.
3 - Interrupção na produção das tiras da Velta.
Acho esse um formato bem interessante, que
tenho certeza, seria muito bem trabalhado por
Emir Ribeiro, que ousaria bastante nesse
formato com a mesma liberdade que têm o
Angeli e o Glauco, por exemplo. Não me
conformo dos jornais do país não publicarem a
tirinha diária da Velta!
Emir Ribeiro - Os jornais não querem mais,
especialmente se a HQ é em continuação. Só
aceitam tiras cujas histórias comecem, e
terminem no mesmo dia. Isso não se encaixa
nas histórias dela.

155
4 - Um sítio virtual de maior capacidade: vejo
diversos personagens com sítios virtuais
vistosos, e acho que uma personagem do
tamanho da Velta estar apenas em fotologues,
blogues e páginas feitas por fãs, pouco para
ela. Creio que seria de bom tamanho, para
maior penetração no meio, um sítio oficial com
maiores requintes técnicos de navegação e
divulgação da história-em-quadrinhos Velta.
Emir Ribeiro - Enquanto para personagens
estrangeiros fazem sítios até de graça, para
personagem nacional, querem cobrar os olhos
da cara. É inviável. O investimento é maior que
o retorno. Felizmente, os amigos estão sempre

156
me presenteando com páginas em homenagem
a Velta.
5 - Maior participação dos personagens
coadjuvantes: nas hqs que eu já li da Velta e do
Emir Ribeiro, apareceram muitos personagens
interessantes que foram pouco explorados.
Gostaria de ver nas hqs da Velta, novamente, o
Esqueleto Humano (antigo parceiro do Homem
de Preto), o Espada (que já morreu, mas podia
sair uma série tipo "Os Arquivos da
FUBRAPE"), e o Exército, ambos da Fubrape;
queria ver as hqs antigas da Garota de
Borracha e mais hqs da Lonis, a mãe da
mutante Fátima, que é fascinante. Aliás, as
hqs-solo da Fátima também são ótimas.
Emir Ribeiro - Escrevi um livro de bolso da
Garota de Borracha. São nove histórias que
deságuam, na "25 anos de Velta". Ainda
editarei esse livro. As HQs de Fátima eram
feitas para quadrinhos eróticos, mas eu faziam
aparte erótica descartável. Isto é, se retirasse
as páginas de sacanagem não interfeririam na
compreensão da história.

Retirado da: CQB


157
6- SAFADEZAS INTERNACIONAIS com
VELTA!
Há umas semanas, estava rolando nos
fotologs, uma antiga discussão sobre qual a
melhor forma do quadrinho Brasileiro ter direito
a um pouco de espaço nas bancas e gibiterias.
Houve quem defendesse a proibição total da
HQ estrangeira aportar por nossa Terra
Brasilis, assim como houve gente a propor
cotas de participação da HQ nacional nas
publicações atuais - igual a hoje adotada nas
Universidades para estudantes pobres, ou de
escolas públicas ou negros e pardos.
Infelizmente, resultou em muita confusão,
porque ainda tem muita gente ainda tão
desinformada, bobinha e inocente a ponto de
acreditar que a indústria da HQ estrangeira
joga limpo para com a nossa HQ. Mas basta
lermos o fotolog do Emir Ribeiro para sabermos
de toda a verdade. Basta também falar com os
mestres da velha guarda dos quadrinhos, pois
eles tem muitas histórias de bandalheiras das
mais diversas impingidas contra eles ou seus
antigos colegas do traço. A HQ estrangeira
joga MUITO SUJO. Usa todo recurso para
esconder ou retirar as publicações Brasileiras
158
das bancas e gibiterias. É impossível haver
convivência pacífica, como pensam os pobres
ingênuos.
Mas não é só isso. Além dos "inocentes",
existem por aí os chamados "Marvetinhos
aloprados" ou os "DCrebrados", que são
alcunhas que já vimos escritas em fanzines e
mesmo na net. São assim chamados
simplesmente aqueles extremamente
deslumbrados com a HQ estrangeira, tipo
assim que não admitem de jeito nenhum nem a
existência da HQ Brasileira, da qual eles não
querem ouvir nem falar. Eles querem porque
querem os estranjas dominando por completo
os quadrinhos, sem oposição nenhuma.
Chegam ao ponto de, se uma revista dos seus
heroizinhos favoritos perigar de ser cancelada,
eles comprarem 2 ou 3 exemplares da mesma
revista, ou ainda fazerem abaixo-assinados
implorando aos berros e choros e de joelhos,
só para dar ao editor a falsa impressão de que
a revistinha preferida deles está vendendo bem
e não deve ser cancelada. Querem saber mais
pilantragens contra a HQBR?

159
Um dos quadrinhistas Brasileiros mais
atingidos pela máfia editorial dos quadrinhos foi
Emir Ribeiro, criador da estonteante Velta.
Dono de uma força de vontade e persistência
invejáveis, nem isso foi o bastante para fazer
frente ao poderio monetário e mercadológico
da indústria estranja. É ele mesmo quem nos
conta: ―Eu distribuía minhas revistas
independentes por três estados do Nordeste, e
elas estavam vendendo tão bem quanto as da
Editora Abril, na época. Mas um dia, ao viajar
para as capitais, a fim de distribuir as edições
em Pernambuco e Rio Grande do Norte (cujas
vendas eram superiores às da Paraíba), fui
surpreendido com uma recusa na recepção dos
exemplares. Alegaram ―ordens‖ vindas de São
Paulo ou a venda das distribuidoras para uma
outra do Rio de Janeiro. Mais detalhes não me
deram. Com prejuízo garantido, voltei com os
pacotaços para casa. Um baque e tanto.
Sobraram só as bancas da Paraíba, além do
correio (mas aí, é mais complicado, pois o leitor
paga antes, e só quando tenho a grana em
mãos, envio as revistas – e não há como ser de
diferente).‖
Além de ter suas revistas barradas pelas
160
distribuidoras que pertencem às mesmas
editoras que só traduzem material estrangeiro,
Emir viu também suas edições começarem a
decair em vendas, nas bancas do seu estado.
Um funcionário de uma banca acabou
confidenciando para o artista o motivo: as suas
revistas passaram a ser escondidas das vistas
do público, e assim não podiam vender bem.
Contou mais que grandes editoras enviavam
uma espécie de "fiscal", o qual fazia "rondas"
pelas bancas, pressionando e ameaçando os
banqueiros a tomar medidas de represália
contra eles, caso estes não ESCONDESSEM
as revistas brasileiras e colocassem as
estrangeiras em destaque.
Outra sujeira grossa foi contada a Emir pelo
mestre Gedeone Malagola, criador do Raio
Negro. O fato se passou com Salvador
Bentivegna, que editou revistas brasileiras e as
entregou para uma distribuidora. Sendo que a
tal só colocou nas bancas umas merrecas
pouquinhas e deixou a maior parte da tiragem
guardada mofando dentro das suas
dependências. A pobre revista Brasileira
vendeu pessimamente, e alguém contou a
falcatrua para Bentvegna, o qual, indignado e
161
decepcionado, teve um ataque cardíaco
fulminante. Tony Fernandes esclareceu, em
entrevista que ele deu pra mim para o site
Bigorna, de que forma age a máfia editorial,
atuando sob monopólio:―Esse monopólio
significa o controle total do mercado nacional e
o poder absoluto sobre quem deve ou não
permanecer nas bancas. Como isso pode
acontecer? Simples: fazendo uma má
distribuição dos concorrentes, deixando metade
da mercadoria enviada em depósitos, que após
algum tempo é devolvida com a alegação de
que não vendeu. Isso eu já presenciei no
passado. Era uma forma de controlar editores
que "ensaiavam para crescer". Por exemplo:
nos anos 80 você soltava uma revista pôster e
vendia 70%. Na seqüência, para descapitalizar
sua empresa, eles (a máfia) faziam uma má
distribuição de um outro de seus lançamentos.
Assim, você estava sempre sob controle. Num
mês se ganhava muito, no outro perdia-se
muito! Acontece que alguns editores
escaparam desse jogo, cresceram e acabaram
incomodando os "senhores do mercado". Isso,
talvez, possa explicar o atual monopólio. Outra

162
coisa: monopólio é proibido pela Constituição
Federal!‖
Outro que confirmou as pressões das grandes
editoras, pelo fato do pai dele possuir uma
banca de revistas, foi o Paulo Nery de Lima
(antigo desenhista que se iniciou na Grafipar,
de Curitiba).
Antonio Luiz Ribeiro narrou fato similar: ―Aqui
no Rio é de conhecimento geral que a Abril
pressionava (não sei se ainda faz), ao "estilo
italiano", os jornaleiros de São Paulo para
esconder/camuflar no fundo da banca as
revistas nacionais. Prática digna de Don
Corleone... Aliás, não só aqui no Rio essa
historinha é conhecida. O professor Diamantino
da Silva, meu bom amigo de Sampa, também
me confirmou esse lamentável episódio.‖
Quando é apenas uma pessoa falando, pode
ser mentira. Quando são duas, já há algum
indício de verdade. Quando são três ou mais,
não é apenas coincidência.
Novamente, nos dias atuais, Emir Ribeiro foi
vítima de outro boicote, quando seu livro
HISTÓRIA DA PARAÍBA EM QUADRINHOS foi
impedido de ser vendido nas bancas do seu

163
próprio estado. Outra vítima foi o também
paraibano Henrique Magalhães, dono da
pequena editora MARCA DE FANTASIA, que
não consegue colocar seus livros e gibis nas
bancas. Isto é, o quadrinhista brasileiro não
tem direito a uma concorrência leal, e não pode
nem botar seu produto para vender, pois é
impedido pelas máfias editoriais a mando da
indústria estrangeira.
O mal do Brasil é ter leis muito brandas, e ser
condescendente com criminosos e mafiosos,
especialmente se forem estranjas. Temos
vários exemplos por aqui: ditadores,
assaltantes de trens, nazistas, torturadores,
guerrilheiros e terroristas, que encontram asilo
e vem se deleitar no nosso paraíso tropical,
após terem praticado as maiores barbaridades
nos seus países de origem. Basta lhes faltar
uísque e caviar para aparecer a galera dos
"direitos humanos" fazendo protestos e
reclamando que os coitadinhos estão sendo
maltratados. Com os quadrinhos é a mesma
coisa. A indústria estranja massacra os artistas
brasileiros, esconde suas revistas, faz até
brasileiro morrer de ataque cardíaco e ainda
aparece aquela galera simplória baba-ôvo de
164
latrina com a mesma conversa besta de
sempre: 1) "É Xenofobia !" Não. Pelo contrário,
aqui existe muito é Xeno-idolatria, e quando
aparece quem não compactue com essa
chupação de ovo, é tido como antipatizante de
gringos. Não antipatizamos com estrangeiro
algum. Somos pessoas decentes e de bem.
Detestamos bandidos e mafiosos, sejam eles
estrangeiros ou não. 2) "É Censura !" Também
não. É reciprocidade. Quer censura maior do
que tentarem esconder nossas revistas das
bancas, para que o público não veja e não
compre ?3) "É preconceito! " Isso é que não é.
Não temos preconceito algum contra gêneros,
estilos, raças e credos. Preconceito tem "eles"
contra nós, que querem por fim da força nos
exterminar e apagar qualquer chama de arte
por aqui. Só "eles" querem ter direito a vender
suas revistas, a exibir seus filmes e vender
seus produtos. Nós não podemos ter esse
direito, e ainda somos obrigados a
dar vivas aos seus desmandos dentro da nossa
própria casa. Isso é um insulto, um acinte, um
desrespeito. NÃO ACEITAMOS ISSO de modo
algum.

165
Os infantilmente ingênuos que nada sabem da
pilantragem contra a HQ Brasileira e saem por
aí arrotando sua opinião treslouco-equivocada
contra nós defensores da HQ Nacional, devem
primeiramente botar seu cérebro para
funcionar, crescer, e aprender como é que as
verdadeiras quadrilhas agem contra o artista
nacional. Ignorância e ingenuidade tem limites.
Por isso, nós da CQB estamos fazendo como
muitos artistas nacionais já estão fazendo:
NÃO COMPRAMOS DE JEITO NENHUM as
porcarias da Marvel, DC, Bonelli ou suas
copiadoras e chupa-ôvos. Só compramos
revistas em quadrinhos Brasileiras e que
tenham qualidade técnica e editorial. Lixos
copiados de estranjas, heroizinhos "brasileiros"
com sotaque e aparência de gringos não
entram na nossa estante. É preciso que haja
originalidade, consciência e um pouco de
regionalismo por parte dos autores, além de
outras coisas caracteristicamente nossas nas
HQs.
Existem no Brasil diversos críticos de artistas
que criam e desenham super-heróis brasileiros
sérios e autênticos, vivendo suas aventuras em

166
nossas cidades e estados. Mais do que criticar,
tais críticos se portam como verdadeiros
combatentes da idéia, e usam dos artifícios
mais grotescos e questionáveis para impor seu
ponto de vista, inundando a internet e os meios
de informação com textos e comentários,
quase sempre nos estilo avacalhativo,
destruindo a obra e muitas vezes humilhando e
denegrindo o já sofrido artista brasileiro.
Sofrido, porque viver da arte no Brasil é
sobreviver em meio a percalços, à espera do
reconhecimento que muitos acreditam só vir
por sorte, e não confiam que é possível vir por
mérito! Ou então esperam ter seu talento
reconhecido por norte-americanos ou
europeus. A intenção da CQB é mudar isso,
não só abrindo espaços para produzirmos,
lutando para que se cumpra a Lei dos 50% de
quadrinhos nacionais por editora de quadrinhos
no Brasil, mas também mudando a visão que o
próprio quadrinhista brasileiro tem do seu
trabalho e da HQ Brasileira!
Uma das grandes injustiças cometidas contra
a HQ brasileira é acusá-la de plagiar tudo o que
vem de fora, principalmente "chupações" de
''comics'' norte-americanos. Que isso realmente
167
acontece em certa escala, é verdade, mas
durante muito tempo os ianques vieram beber
na nossa fonte criativa para criar ou
incrementar seus personagens.
Os super-heróis brasileiros sempre foram dos
mais criativos do mundo, e o nosso quadrinho
sempre é imitado pelos estrangeiros, até
porque nasceu por aqui mesmo pelas mãos
de Ângelo Agostini, ainda no século XIX. E
também são dele os méritos do 1º herói do
mundo e do primeiro gibi de um personagem
próprio - o Zé Caipora - e da primeira heroína,
erótica inclusive - Inaia. Mas é claro que os
norte-americanos ignoraram as datas e os fatos
e tomaram para eles os méritos de pioneiros,
assim como fazem com o avião e tudo
mais... O mais curioso e interessante é que
onde fomos mais roubados por esses ''ladrões
de personagem'' foi no estilo de HQ que mais
somos acusados de plagiá-los, justamente HQ
de super-heróis.

168
- HERÓIS BRAZUCAS (acima): Um dos últimos
baluartes de resistência à dominação cultural
estrangeira e que só publica personagens
nacionais de todos os tempos, num desfile de
arte e criatividade. Na capa traseira à
esquerda, a nossa musa VELTA (de Emir
Ribeiro, que está em todas), e na capa
dianteira o HOMEM LUA (de Gedeone
Malagola, em desenho de Eduardo Manzano).
Certa vez li na internet um texto que dizia:
―...não é mais que uma versão brasileira da
Mulher-Maravilha… para que comprar a
cópia?‖. Estava se referindo à Velta. O autor da
acusação (cujo texto acabou banido da net,
diante da revolta de vários fãs da Velta e de
quadrinhos brasileiros que repudiaram o fato de
verem tais idéias propagadas em detrimento da
nossa cultura) estava enganado, já que o que
acontece na verdade é justamente o contrário!
169
Quando disse que Velta era cópia da Mulher-
Maravilha ele apenas mentiu e inverteu as
posições. Querem realmente saber a
verdade? A melhor fase dos últimos tempos da
Mulher-Maravilha, resgatada do ostracismo, foi
desenhada pelo brasileiro Mike Deodato Jr,
TOTALMENTE INFLUENCIADO PELA NOSSA
VELTA. Isso porque, umas vezes, a MM teve a
arte-final... de quem? EMIR RIBEIRO. Ou seja,
quem copiou a Velta para se renovar foi a
Mulher-Maravilha. E foi o Emir que ensinou o
Deodato a desenhar, na verdade o tal "estilo
Deodato" é o ESTILO EMIR! Acusado
erroneamente de seguir o "estilo-Image", na
verdade o tal esilo Image seria plagiado do
estilo EMIR!
Caitlin Fairchild (Gen¹³) é uma prova disso,
porque trata-se de uma cópia da Velta!Veja o
que disse Jairo Dias sobre o assunto: ―Sim, há
muitas semelhanças entre Fairchild e Velta,
mas a mais notável é sua altura, e também a
proporção entre as pernas e o resto do corpo.
Mas a Fairchild não é a única "pirateação" vista
nos quadrinhos da Image. Sem falar de vários
personagens com poderes semelhantes aos
dos personagens da Marvel e DC, e
"chupinhados" de super-heróis de quadrinhos
desconhecidos do mercado americano. Muita
falta de imaginação por parte deles.‖ Se eles se
copiam até entre si, Jairo, imagina o que não
170
fazem com personagens de outros países!

A última copiação gringa nas hqs da obra de


Emir foi feita por Scott Rosema (Batman
Beyond) que fez um plágio das Supernovas,
filhas da Velta.O último a denunciar plágios
internacionais contra Velta foi Pablo
Fernandes, confirmem: ―Na tv note-americana,
o seriado Lost copiou a idéia do Emir da Ilha na
esquina do tempo. É muita sacanagem desses
gringos. Disseram que o Rodrigo Santoro tava
com umas revistas brasileiras lá, mostrando a
mulher brasileira e as paisagens do Brasil, e os
roteiristas viram e resolveram colocar umas
coisas dessas revistas na série. Aposto que
nessas revistas tava uma Velta 25 anos com a
história da Ilha do Tempo. Isso tem que ser
denunciado!!! E temos como provar! Alguém
tem contato com o Rodrigo Santono para
confirmar?‖.
Além disso, eu desconfio que a heroína Fogo,
a "brasileira" da DC, também foi inspirada na
Velta, pois além dos poderes parecidos, a

171
"gringa" é muito sensual e exibicionista. E tem
mais, nas palavras de Felipe Meyer: ―Muito
antes de algumas gringas atuais insistirem em
dizer que não são super-heroínas e saírem por
aí querendo fazer dinheiro como detetive
particular, Emir Ribeiro já eliminava os
uniformes de sua personagem Velta, a qual
cobrava altíssimos preços por seus serviços.
Os gringos nos copiaram? Fica difícil
comprovar, e já passaram-se muitos anos, mas
casos parecidos existem muitos!‖.

172
Alan Moore foi fundo na pesquisa a hq
nacional e logo chegou ao conhecimento das
hqs da Velta. E a partir da origem da Velta,
criou a origem do Miracleman. Antes dele Stan
Lee, outro que sempre recorreu as hqs
brasileiras para fazer suas criações, usou a
influência da Velta para criar a Mulher-Hulk.
Também houveram acusações de que a Velta
seria um plágio da Mulher Hulk. Ambas são
sensuais, gostam de se aparecer, e em suas
identidades normais são garotas mignon que
quando querem se transformam e ficam
gigantes. Bingo! Só que não. E quem explica é
Emir Ribeiro: ―Velta e Mulher-Hulk?? Onde?
Velta e Mulher-Hulk devem se parecer apenas
no branco dos olhos.
E além disso, a Velta é de 1973, enquanto a
Hulka é de 1982.
Ou seja, se alguém foi copiado, fui eu, pois criei
173
a minha personagem 9 (NOVE) anos antes. E
está tudo documentado, em diversos jornais e
revistas, além de um registro na Biblioteca
Nacional e na Escola de Belas Artes. Sem falar
que os conceitos de ambas as personagens
são absolutamente diferentes. Mas Brasileiro é
assim mesmo: sempre acha que os nossos são
inferiores ou cópias. Esse complexo de
inferioridade parece ser um defeito genético
nosso...‖
A fase da Mulher Hulk de Johnn Byrne,
então... Aquilo é a própria Velta!

174
175
Ainda antes da chegada da internet (ou pelo
menos da migração dos quadrinhistas
brasileiros da época dos fanzines em massa
para a rede), apareceu certa vez um fanzine
anônimo chamado ―Mr Z.‖ que causou muita
polêmica na época. Tal fanzine contia
acusações de plágios e cópias feitos por
artistas como Watson Portela e Emir Ribeiro. O
Mr Z seria um precursor de figuras anônimas
que surgiram na internet (os chamados ―trolls‖),
que criticavam destrutivamente e avacalhavam
artistas nacionais. O próprio ―Mr Z‖ retornou via
internet e abriu um fotologue acusando
novamente Emir Ribeiro, dessa vez de ser
incoerente nas posições que defende, por não
ler mais super-heróis norte-americanos, mas já
ter trabalhado para a Marvel e DC Comics.
Indaguei o desenhista Carlos Henry, na
entrevista que realizei com ele para o Impulso
HQ, que tinha sido acusado por Watson de
estar por trás do Mr. Z:
176
Pelo que eu entendi o Watson acusa você de
ser o ―Mr Z‖. Já que ele faz isso publicamente,
poderia esclarecer esse assunto
definitivamente, se defendendo das acusações
ou se retratando, caso procedam?
C.H.: Fiquei sabendo depois deste tal Mister Z
e dessa turma de detratores da HQ nacional.
Eles tentaram postar opinião no meu fotolog,
mas em seguida, eu apagava! Afirmei para o
Emir que eu não sou esta figura. Ora, detesto
extremismo e sempre curti mais a HQ nacional
que a dos EUA, não por ufanismo, mas por
qualidade.
Eu lembro até hoje quando recebi uma carta
com um pôster autografado da Velta, em 1984,
foi quando me iniciei no universo dos heróis
brasileiros e procurei conhecer outros. Sei que
Emir copia algumas poses, mas autores
americanos fazem isso aos montes, por que
focam só nele? Não curto tudo que o Emir faz,
mas compro revistas da Velta, eventualmente
das que gosto.
Troco ideias vez por outra com o Rafael, filho
do Watson, e já expliquei pra ele a situação
que não sou este Mr Z e nem concordo com as
idéias dele. Rafael passou pro pai dele e ficou
177
tudo OK. Tudo isso foi muito irônico, porque
sempre defendi a HQ nacional e até hoje me
pergunto por que me confundiram com este tal
Mr Z.
Retirado do Impulso HQ

178
E a cada dia são descobertas novas cópias da
alienígena brasileira Doroti. Enquanto muitos
brasileiros ficam chocados quando se deparam
com a sádica alienígena transmorfa
ninfomaníaca, as editoras estrangeiras já estão
de olho no impacto que a personagem criada
por Emir Ribeiro em 1970 causa nos leitores de
quadrinhos. Como lá eles sabem que
personagem polêmica é sinônimo de estouro
nas vendas dos gibis, já estão criando
personagens inspiradas na Doroti.
Na série "Os Invisíveis", Grant Morrison,
plageia Emir Ribeiro com um legítimo traveco
brasileiro, o que faz da Inglaterra um antro de
plageadores do quadrinho brasuca! E não é a
única personagem que Grant plageou do Emir,
em outra hq sua rapelou o Sabido. Em
Runaways V2, uma série da Marvel, existe
Xavin namorado(a) da Karolina.... que não é
um travesti mas sim um transmorfo próximo de
um transexual, exatamente como Doroti!
Grace, personagem da série Renegados
(Outsiders) da DC, e Ultron, um andróide que
era homem e agora é mulher dos Vingadores
(Avenger) da Marvel, são outras amostras
dessa inspiração dos gringos na nossa
179
insaciável Doroti.
Mas o mais famoso plágio cometido contra a
nossa querida alienígena maluca foi Glory,
criação de Robert Liefield, que inclusive já foi
desenhada por Emir Ribeiro. Glory não possui
os "atributos" da Doroti, mas é muito
semelhante esteticamente. Uma pequena
editora norte-americana também lançou uma
revista de uma personagem chamada Velta. A
personagem também é loira e na capa chamam
ela de "Teen Dectetive". Os autores são nomes
desconhecidos e essa revista teve pouca
repercurssão, de maneira que o Emir não
conseguiu encontrar outra referência (a não ser
a capa do gibi divulgada na internet) para
processar os farsantes. E a Mulher-Elástica, do
desenho Os Incríveis, plágio da Garota de
Borracha, também de mestre Emir, de 1972!
Depois que começou, a Marvel não parou
mais de nos copiar!
E assim vai. Nós fomos tão roubados pelos
norte-americanos que nem expulsando os
quadrinhos deles das nossas bancas por uns
dez anos seria o bastante para corrigir toda
falcatrua e os danos à nossa cultura e nossos

180
artistas que eles nos causaram ao nos obrigar
a conviver com esse monopólio e essa
exploração!
É que o brasileiro tem muito complexo de
inferioridade, jamais arriscaria um processo
internacional contra uma mega-corporação.
Não foi o caso de Jorge Benjor, que entrou com
processo e ganhou uma ação contra o Rod
Stewart! Talvez agora seja um pouco tarde pro
caso dos quadrinhos, além de serem bem
menos valorizados que a nossa música (que
pelo menos garantiu um espaço e sabe
manter); o nosso cinema também fez isso...
O quadrinho norte-americano não fará a
menor falta se suprirmos a demanda com o
nosso quadrinho. A HQ norte-americana é uma
merda, mas é bem feita. É uma merda porque
toma nosso espaço, e é bom, porque o
investimento no nosso é uma merda. Mas nós
faríamos melhor, e um dia esse mercado
poderá ser nosso a nível mundial. Nunca o anti-
norte-americanismo esteve tão forte no mundo,
devido aos desmandos dessa gente... Nossos
personagens são muito bons e mais
carismáticos que os deles... Os deles
esgotaram. Os nossos tem muito mais
181
possibilidades. E de um jeito ou de outro, eles
sempre precisam de nós, quer seja nos
copiando, quer seja contratando nossos artistas
que foram fundamentais pra manutenção dos
empreendimentos deles na virada do século e
poderiam ser peças-chaves na criação do
nosso mercado por conhecer bem um
estabelecido.

RETIRADO DA CQB

182
7- CAMPANHA CONTRA A PEDOFILIA
(Por Michelle Ramos com
comentário de Emir Ribeiro)

Olá pessoal, o artista


Nestablo Ramos Neto fez
uma denúncia e ao mesmo
tempo uma chamada, para
todos os verdadeiros artistas
da Nona arte, contra um
horrível seguimento, a pedofilia nos
quadrinhos. Se já não bastasse a nojenta
realidade em que vivemos, onde nossas
crianças sofrem esse tipo de violência
diariamente, ainda querem introduzir (na
verdade já estão) nos nossos quadrinhos. Por
isso o Nestablo resolveu fazer uma denúncia
convocando todos os desenhistas e criadores
de personagens a desenharem seus
personagens usando esta camisa, mostrando
que nos verdadeiros artistas da Nona Arte não
aprovamos esse trabalho. E nem qual quer
atitude que reflita esse tipo de crime. Por isso
nós do Zine Brasil também estamos nessa com

183
ele, convidamos a todos!
Queremos ver os flogs cheios de personagens
nacionais usando esta camisa viu gente?!
Vamos dizer um NÃO a pedofilia, Não ao
crime!

Vejam o que disse Emir Ribeiro sobre a


campanha:
Impossível não atender ao chamamento da já
considerada "Madrinha dos quadrinhos
Brasileiros", a Michelle Ramos, que divulgou
campanha iniciada pelo Nestablo Ramos. Aí
está a Velta dando seu grito contra essa
anormalidade, e vestindo a camisa da
campanha.
Muito já falaram contra a sensualidade de
Velta, que é uma característica brasileiríssima.
Os que rezam pela cartilha do "Comics Code"
vivem acusando-a de ser pornográfica
(pasmem!), mas basta ler as HQs para se
constatar a mentira. Velta é uma personagem
muito sensual, mas jamais apareceram em
suas histórias menções ou mesmo o menor
incentivo à pedofilia.

184
Primeiramente, Velta sempre foi direcionada
ao público adulto - aquele que sabe o que quer,
já está plenamente definido sexualmente, e
requer um quadrinho inteligente, com temas
adultos, sem os clichês bobos de sempre, e
livre daquela censura tola norte-americana -
que se preocupa com bobagens (deixando,
porém, a violência desmedida correr solta -
sendo esta muito mais danosa do que sexo).
Vê-se muita apologia à pedofilia nos
quadrinhos japoneses. Não os leio porque não
são minha praia. Mas quem leu já comentou
sobre cenas onde aparecem menininhas com
roupas de colegiais, sempre sofrendo e
chorando durante os encontros amorosos, que
inclusive incluem estupros e sado-masoquismo.
Isso sim é prejudicial. Especialmente porque o
mangá e o tal hentai é bastante lido pela
população mais jovem, e a estes, assim, será
passada a idéia de sexo com sofrimento,
violência, angústia e... pedofilia. Mas como
estes são estrangeiros... raríssimas são as
vozes a se levantarem contra. Já na
sensualidade de Velta, aparecem vários a
combater.

185
Como bem já disse meu amigo Paulo Nery:
comparando, o que é pior dos dois casos? Nem
precisa muito raciocínio para responder.

No desenho: Velta, a representante maior da


resistência do quadrinhos brasileiros ostenta a
camiseta da Campanha contra esse crime
hediondo chamado pedofilia.

Retirado da: CQB

186
8- Rod Tigre fica indignado contra artigo
que destrata Velta!
Fiquei um pouco nervoso com o seu artigo.
Como você tem coragem de falar mal daquela
maravilhosa revista, da mais maravilhosa
personagem brasileira, Velta? Como você pôde
não gostar, eu não sei, só o que eu sei é que
definitivamente temos gostos diferentes, e
ideologias também. Porque eu, mesmo que
não gostasse de algum trabalho de quadrinho
nacional, evitaria dizer,pra não prejudicar a já
tão desprestigiada classe dos quadrinistas
nacionais.
Quando eu escrevi aqui pela primeira vez não
imaginei que seu artigo causaria tanta
polêmica, nem que Velta tinha tantos fãs…Isso
é bom, não estou só! O que eu posso te dizer é
que errar não é feio, persistir que é terrível…Se
você ainda mantém sua opinião sobre a Velta,
só lamentos pra você, mas se finalmente
reconheceu a ―mulher-maravilha‖ que ela é,
seja bem-vindo ao time! Peça desculpas ao
Emir, e a nós, fãs da Velta, somos muitos e
ativos! O Homem-Grilo fêz um gracejo
indecoroso pra nossa gostosa, e merece levar

187
um merecido ZAAAT… Nada mais justo. Mas
todos merecem uma segunda chance ao se
arrependerem.
Argumentos para se convencer de que está
vacilando com suas atitudes é o que não te
faltam. Que conste o meu nome aqui mais uma
vez para reiterar o meu compromisso na defesa
das histórias em quadrinhos do Brasil. Existe
um movimento que a cada dia ganha mais
força, e do qual orgulhosamente faço parte,
que visa a valorização da nossa cultura,
principalmente no que diz respeitoa questão -
super-heróis brasileiros - e o desenvolvimento
de um Universo de convivência para
personagens genuínos, como a nossa Velta, é
um ideal. Curve-se diante da majestosa loira,
nossa musa, Velta! Ela que nos inspira e
impulsiona!
Por ser quadrinista e criador de um
personagem devia entender mais a essência
dos quadrinhos. O que leva um autor a criar um
personagem e divulgá-lo? Acredito que exista
uma vontade de encontrar pessoas que se
identifiquem, se atraiam por sua criação, mais
ainda, se apaixonem! É esse amor dos fãs

188
pelas suas personagens favoritas, que move a
indústria, o mercado e a produção dos
quadrinhos! No caso da Velta: não existe
indústria e o mercado ainda é restrito, mas o
que levou a produção ininterrupta durante mais
de 30 anos foi que cultuadores de quadrinhos
do Brasil, e também do mundo, se
apaixonaram por ela, fazendo ela se tornar isso
que você vê, um ícone, com fãs irritados contra
quem a ofende. Você cobra argumentos em
assuntos do coração, algo quase impossível,
mas cadê sua auto-critica e os seus próprios
argumentos?! Antes de cobrar os outros, cobre
a si próprio!
Quando diz que a Velta é cópia da Mulher-
Maravilha, se você quer realmente saber, por
incrível que pareça para leigos em histórias em
quadrinhos, a melhor fase dos últimos tempos
da Mulher-Maravilha foi desenhada por um
brasileiro, Mike Deodato, totalmente
influenciado pela nossa Velta, as vezes com
arte-final de quem?
Emir Ribeiro. Portanto, quem copiou a Velta
foi a Mulher-Maravilha!

189
E para quem se interessou no movimento dos
super-heróis brasileiros a melhor maneira de
encontrar em contato com eles é através da
nova mania da internet que são os flogues dos
autores de quadrinhos nacionais. Valeu galera,
não dê ouvidos a quem diz que os heróis
brasileiros não prestam, ou que são todos
palhaços… O Brasil é uma terra infestada de
heróis e os ―melhores do mundo‖ estão entre
nós.
Não expresso minha opinião em público na
intenção de causar guerra, mas trazer razão e
seriedade na luta e no compromisso da
valorização da história em quadrinhos nacional,
essa sim minha missão! Chego a essa
conclusão para encerrar esse episódio e
promover a união dos artistas de quadrinhos
brasileiros e conscientizar a classe que
representamos no universo artístico.

190
191
Retirado de Homemgrilo.com

192
9- Falando bem, ou falando mal, estão todos
falando de Velta!
As aventuras da Velta geralmente se passam
em Belo Horizonte, cidade onde Kátia, ater-ego
da Velta, reside. Velta não é paraibana, mas é
filha de. Às vezes hqs da Velta se passam na
Paraíba, outros por todo o Brasil e até mesmo
em outros planetas!
No linguajar das hqs da Velta, Emir Ribeiro é
mais erudito do que costumam ser os
tradutores das hqs estrangeiras. Isso não deve
causar estranheza, e sim ser valorizado, por
enriquecer o vocabulário de quem lê.
A verdade é que todo mundo está gostando
da hq da Velta que está saindo no blogue
Mulheres nos Quadrinhos! Alguns não querem
dar o braço a torcer, e falam mal. Os usuários
do forum Mbb são assim...
Infelizmente alguns usuários do Mbb
escolhem alvos para constantes gracinhas com
o único intuito de se distrair com piadas. De
acordo com os critérios rasteiros que usam,
Emir Ribeiro, por ser brasileiro e nordestino,
mas precisamente paraibano, não deve ser
tratado com o mesmo respeito que outros
193
grandes artistas mundiais, mesmo que SAIBAM
que o brasileiro é tão bom, ou melhor do que
eles.
Pode ser engraçado pra alguns, mas não é
bonito, chegando inclusive a ser canalhice!
Quando um artista é escolhido pra "Cristo" no
Mbb não se mede palavras, valendo xingar até
a família, e poucos se voltam contra para não
gerar desavenças com os usuários mais
"importantes" do fórum.

É mais um sinal dos nossos tempos, onde a


inversão de valores que acontece no Brasil, e
no mundo, destrói tudo que é puro e exalta o
que está estabelecido. É exaltado tudo aquilo
que chega manipulado e não importam mais os
valores culturais, intelectuais, éticos e
altruístas. Vale tudo pelo entretenimento e
prazer imediato, passando-se por cima de
quem for para alimentar o ego!

194
Velta é uma hq de grande importância
mundial, ficando acima de todas as heroínas
criadas antes ou depois dela (inclusive
Valentina, Barbarella, Mulher-Maravilha, etc...).
É estranho brasileiros que gostam e entendem
de quadrinhos não gostarem dela, quer como
hq, quer como ícone!Devem ser homossexuais
a maioria, só pode!
O Brasil é um país que dá muitos motivos
para que a gente se envergonhe dele, mas
quem constrói um país é seu povo, e quem tem
que mudar as coisas por aqui somos nós
mesmos, porque ninguém vai fazer isso por
nós. Enquanto fica tudo que é nosso
abandonado, o estrangeiro esperto vem e toma
conta mesmo. A culpa não é deles que são
espertos, mas nossa, que aceitamos essa
situação, resignados. Muda Brasil!

Retirado da: CQB2

195
10- Watchmen não é melhor que Velta!
Citaram no orkut hqs internacionais pra fazer
comparação com a Velta. Não costumo falar
sequer uma palavra sobre hq estrangeira, para
nem mesmo citá-las. Vou abrir exceção, até
porque conheço todas hqs mencionadas no
tópico de orkut, e são todas aquém da Velta.
As hqs citadas por não saem do clima dos
super-heróis iniciada nos anos 60, onde as hqs
tradicionais refletiram o dia-a-dia da sociedade.
Creio que nada que aconteça no nosso mundo
atualmente seja tabu em hqs, e qualquer tema
esteja liberado para uma hq, mesmo q ela seja
de super-herói.
Ousar por ousar não diz nada. O que importa
é a maneira que se aborda o tema.
Todas as realidades ditas "ousadas" pelo fã
de hqs gringas que denigre Velta no orkut são
comuns em muitas outras hqs e em Velta
também. Antes do "Ricardito" (nome de garoto-
de-programa passivo) aparecer drogado se
espetando com drogas nos EUA, a melhor
amiga da Velta já tinha morrido de overdose.
Isso aconteceu em tiras de jornais. Não digo
que foi a primeira vez que isso aconteceu,
porque anos antes o melhor amigo do Spider-
196
ass também enfrentou essa barra das drogas,
sem chegar ao óbito.
Velta também já combateu a prostituição
infanto-juvenil, que ainda é muito comum por
todo o Brasil.
Ou seja, já faz tempo que quadrinhos não são
para as crianças, o Cris se surpreende com
isso porque ainda está a mercê das regras do
Código de ética norte-americano!
A HQ do Ricardito na nóia saiu no Brasil em
1986 pela Abril, 11 anos depois da hq em que a
amiga da Velta morre de overdose. No
restante, ficou o registro da opinião de mais um
ativista anti-Velta do orkut. Aliás, parecida com
a de muitos outros. Caso os agrade, fazem
parte da "média". Possuidores de uma opinião
comum.
Minha opinião também é simplesmente a
minha opinião. Não quero que a julguem
absoluta, não sou um Deus. Mas, por sua vez,
minha opinião não é nada comum, é o oposto
da deles e diferente da maioria. Por isso causa
admiração em uns e espanto em outros. Até
porque, não me interessa se a maioria gosta ou
não da Velta, até porque muitos falam mal sem
nem conhecê-la mesmo. E não me interessa
197
nada esse monte de lenga-lenga sobre as hqs
gringas, pra mim essas palavras são
dispensáveis títeres propagandistas. Me inspiro
nas minhas vivências pra validar minha opinião,
e não no que babam as Ui-uizards da vida...
Investiram alto em Watchmen e Cachaceiro
das Trevas, e não vejo no que são melhores
que Velta contra Doroti. Watchamen e
Cavaleiro das Trevas 2 são simples hqs de
encontros entre super-heróis em formato-
luxuoso e muita propaganda.
Cavaleiro das Trevas pode até ter sido ousada
para a época, mas no fundo, são hqs simples
pros parâmetros do que já foi feito na HQ no
mundo.
Só se fala tanto dessas hqs devido ao puta
investimento que fazem nelas, tanto que já
viraram até item fixo de livraria. Velta contra
Doroti ainda não é muito reconhecida
internacionalmente, mas não é totalmente
ignorada. E já existem inúmeras cópias da
Doroti no exterior.

198
E Velta ainda será lançada no mundo inteiro,
escrevam isso.
Se os heróis de Watchmen eram da obscura
Charlton, uma editora norte-americana falida,
queridos em FANZINES e o caralho a 4,
Epopéia, Eclipse e Guerra-Heróica, encontros
entre super-heróis brasileiros (ainda inéditos),
personagens ainda MAIS OBSCUROS que os
da falida editora norte-americana e também
cultuados nos ZINES (e agora internet), é
cousa mais importante! Com certeza, ao
menos, pra nós brasileiros! Como o quadrinho
brasileiro vai ter chance de dar certo se fica
uma torcida contra, que não faz nada pra
ajudar e ainda atrapalha?
Velta contra Doroti é muito mais importante,
quer para o quadrinho brasileiro, quer para o
mundial, enquanto legado da humanidade, mas
199
muuuito mais importante que Watchamen. E do
que Cavaleiro das Trevas. Ora essa, então,
vejam a parte 2: os heróis da DC se juntam pra
derrotar o Coringa, que depois eles descobrem
que na verdade é o primeiro Robin se
assumindo enquanto moçoila. Ecos da Velta
contra Doroti, que veio ANTES!
Os gringos já se ligaram em nossa expressão
criativa, e os leitores de hq mais aficcionados,
do tipo que lê e pesquisa o assunto na internet,
já estão por dentro da futura EXPLOSÃO dos
SUPER-HERÓIS BRASUCAS!
Comentário de Marconi Lapada:
Wóchimen é uma bosta!
O negócio é o seguinte, propaganda de
Marvel e Dc, na visão dos alopradinhos, é
sempre a verdade absoluta e inquestionável.
Mas se for propaganda de brasuca, só dá a
eles raiva e fobia.
Se for de Velta, então, dá raiva, fobia e ainda
vontade de zoar.
Isso tudo é produto de muita lavagem cerebral
na cabeça fraca dessa manézada.
A principal argumentação deles é que saiu
falando de comics gringos na Wizard, na I suck
200
super-dick, na Asspedia e no caráio a 4. Ora,
mas tem de sair em tudo que é lugar porque os
caras tem grana para pagar propaganda até no
inferno, e ainda contam com a ajuda do gado
dos alopradinhos Marvel e DC, que saem
fazendo propaganda gratuitamente dos seus
heroizinhos.
Desse jeito, tudo que é feito pelos super-
gringos vira besta-sella, vira campeidão de
vendagem, e vira o queridinho dos
alopradinhos. Via lavagem cerebral, até merda
vida ouro nas cabeças obtusas da nerdalhada
brasileira.

RETIRADO DA COMUNIDADE DO ORKUT:


Adoro/Odeio Tópico S.H.BR MBB!
201
11- VELTA do mestre EMIR RIBEIRO!
A Velta é, sem dúvidas, a personagem mais
importante das Histórias em Quadrinhos do
Brasil, para a qual já dediquei muitos artigos,
atualmente perdidos pela internet afora, mas os
que eu conseguir encontrar estarão reunidos
novamente para leitura, no meu livro.
Velta é publicada interruptamente desde 1973
por seu autor, que escreve e desenha suas
histórias, Emir Ribeiro! Ele começou num
jornalzinho do colégio, ainda adolescente, com
apenas 14 anos. Logo seu talento foi
percebido, aos 16 anos, já publicava Velta e
seus demais personagens nos mais
importantes jornais da Paraíba. Nunca mais
parou, fazendo da Velta a personagem
brasileira de quadrinhos de super-heróis com
mais páginas publicadas, em todos os tempo!
Já há algum tempo, circulam revistas virtuais
da personagem, a primeira série que era
postada no SENARTE QUADRINHOS durou 6
números e reprisou a série ―Velta contra
Doroti‖, a série mais recente, VELTA: A
SUPER-DETETIVE, que se encontra no
número 19, e é postada regularmente no
blogue ROCK & QUADRINHOS SCANS, de
202
autoria de Flávio, e é uma ótima oportunidade
para conhecer as aventuras da loira mais
famosa dos quadrinhos brasileiros!

Algumas capas mostram edições imaginárias


de como seriam revistas da Velta lançadas
203
pelas extintas editoras de quadrinhos Bloch,
famosa por seus gibis com cores berrantes e
repletos de gírias, e Ebal, com seu estilo mais
formal.

204
Retirado do blogue quadros ao vivo

205
12- PRECONCEITO CONTRA AS MULHERES
NOS QUADRINHOS
Texto de Rod Tigre e Marconi Lapada

Velta e seu expressivo olhar.

Como nosso blog MULHERES NOS


QUADRINHOS aborda um tema que gostamos
muito (MULHER), não podemos deixar de falar
de preconceitos que existem contra o sexo
feminino até nas histórias em quadrinhos.
Vejam só se isso não acontece.
Quando alguém se depara com um gibi onde
aparece uma mulher sensual na capa, qual é a
primeira impressão que bem a mente de quem
206
olha? Que perguntas essa pessoa faz ao
jornaleiro ou banqueiro?
Como eu já vimos isso acontecer de montão,
então podemos falar sem medo de erros. As
perguntas são: ESTO É UM GIBI ERÓTICO?
ESTO É UM GIBI PORNOGRÁFICO?
Quer dizer que mulher com pouca roupa ou
em pose sensual é sinônimo de prostituta? O
preconceito arraigado nas mentes das pessoas
só lhes deixa pensar dessa forma
preconceituosa em relação às mulheres? E
isso é tão forte que mesmo os homossexuais,
que são também vítimas de preconceitos no
meio social, são MENOS COMBATIDOS que
as mulheres.
Querem exemplos? Então, lá vai. Da mesma
forma, se alguém vai numa banca e vê um gibi
com um fortão bombadão na capa, de
sunguinha e roupa colante será que essa
pessoa pergunta ao jornaleiro algo tipo assim:
ESTE É UM GIBI GAY? ESTE É UM GIBI
PORNOGRÁFICO PARA HOMOSSEXUAIS?
Sinceridade? NUNCA VIMOS NINGUÉM
FAZER ESSE TIPO DE PERGUNTA. Mas
quando o desenho é uma mulher, vão logo
perguntando se é erotismo, prostituição ou
207
pornografia.
Que preconceito dos infernos é este? E a
discriminação é MUITO MAIOR quando é uma
MULHER BRASILEIRA. Vamos a mais
exemplos. Alguém já viu se fazerem a mesma
pergunta quando há uma heroína americana na
capa de um gibi? Tem quem pergunte se é gibi
erótico ou pornográfico? NÃO TEM. Nós nunca
vimos. Mas se for heroína Brasileira, então,
perguntam logo se é gibi de sacanagem, sem
nem ao menos olhar o interior e se certificar
que não tem nada demais.

208
Com a musa da nossa CQB (Central de
Quadrinhos Brasileiros), a VELTA, acontece
isso quase sempre. Gente que não lê suas
histórias costuma acusá-la de ser pornográfica
ou erótica, o que é uma grande mentira e
também um gigantesco preconceito. Não
passam de opiniões baseadas em
superficialidade ou em discriminação.

209
A verdade verdadeira mesmo é que Velta é
apenas uma personagem sensual, mas que
aborda temas adultos e para adultos, mas sem
perder a classe e sem usar de vulgaridade. A
abordagem às vezes é de uma sensibilidade
que não se vê em nenhuma outra personagem,
e isso os leitores do MULHERES NOS
QUADRINHOS poderão constatar quando
publicarmos aqui a série inteira de CINCO
histórias da edição 25 ANOS DE VELTA.

Aliás, vamos mais além. Velta dá muitos bons


exemplos. Coisa que os críticos superficiais na
sua visão estreita e direcionada não

210
conseguem ver nem com lupa. A loura sempre
se mostra uma estudante para lá de aplicada,
que se preocupa com seus estudos, além de
ser uma dona de casa exemplar (inclusive
mostrando o quanto a mulher é explorada nos
serviços caseiros pelos machistas). Velta
também não fuma, não bebe e nunca se droga.
Pelo contrário, ela odeia cigarros, é totalmente
contra bebedeiras, e luta contra as drogas.
PORQUE OS OPOSITORES DELA NÃO
VÊEM essas boas qualidades e exemplos?

Mas vão se pegar justamente pela sua parte


sensual, que não prejudica em nada qualquer
leitor, seja ele jovem ou adulto. E mesmo
assim, Emir Ribeiro, autor da personagem, faz
questão de deixar impresso na capa a tarja
QUADRINHOS ADULTOS, avisando o
comprador do que ele irá adquirir. E mesmo
211
assim, sendo um quadrinho direcionado ao
público maior de 18 anos, não achamos
vulgaridade dentro da revista. VELTA usa
roupas curtinhas, na maioria das vezes, mas
nunca aparece completamente nua nas suas
histórias. O máximo que foi visto até agora, e
mesmo assim não tão evidente e destacado, é
o ângulo da cintura pra cima, coisa que pode
ser vista em qualquer novela da televisão ou
em desfiles de carnaval (e em QUALQUER
horário de exibição). As intimidades da louraça
detetive são preservadas, mas ela não se
exime de usar roupas provocantes como as
mostradas nas imagens.
Os vilões e vilãs da história é que são amorais
ou imorais (afinal, são criminosos), mas
novamente sem uso de qualquer cena sexual
explícita. Tudo é feito com bom gosto e sem
traço algum de vulgaridade.

212
Doroti, a aberração alíenigena libertina é
veêmentemente combatida pela mocinha
Velta.

213
retirado de Mulheres nos Quadrinhos

214
13- MULHER ESTUPENDA & VELTA
Texto de Rod Tigre e Marconi Lapada
Uma das mais notórias criações nos
quadrinhos de super-heróis no Brasil nos
últimos tempos é a deliciosa criação de João
Marreiro, a Mulher-Estupenda. Publicada
regularmente no zine Manicomics e em
diversos outros espalhados pelo Brasil, tais
quais Clube dos Super-Heróis (ao lado do
Crânio), Heróis Forever e em zines próprios, e
também por ter diversas histórias publicadas na
net no sitio Areia-Hostil, em pouco tempo a

215
Mulher-Estupenda se tornou uma conhecida
personagem da hqnacional, com diversos fãs
espalhados pelo Brasil. Mas quem é a Mulher
Estupenda?
A aparência frágil da professora Carol Rosas
engana, não queiram deixar essa mulher
nervosa porque na verdade ela é a Mulher
Estupenda, capaz de fazer tremer o chão!
Possui inimigos como Dr. Diávolo, Maçarico, o
Boneco-de-Neve e a Mulher-Estupenda-
Negativa e um jovem parceiro, o Rapaz
Asssombroso.
A Mulher-Estupenda resgata a inocência das
antigas HQqs de super-heróis e é desenhada
no estilo da Era de Ouro dos Quadrinhos. São
comuns aparições de antigos personagens
norte-americanos dessa época nas HQs da
Estupenda, já que seus direitos são de uso
público! Confesso que não me agradam tais
aparições. As HQs da Mulher-Estupenda são
ótimas e não precisam desse recurso. Porém o
autor revelou a dificuldade em se usar
personagens clássicos brasileiros, sempre
atrelados a burocráticas regras de direitos
autorais, e as vezes, os detentores dos direitos
são uns chatos! Veja bem não estou
216
concordando com o uso indevido de
personagens, mas as inclusões de
personagens, por exemplo, o Capitão 7, o Raio
Negro, o Capitão Estrela, Mistyko, Capitão
Gralha, Bat-Carlos, Kutang e tantos outros
numa HQ da Mulher-Estupenda são uma
homenagem e um resgate dos nossos tesouros
quadrinisticos, revelam nosso glorioso passado
tão deixado de canto, não são uma apropriação
indevida, mas um ato de cidadania do autor!
Recentemente fiquei sabendo pelo próprio
J.J., notícias exclusivas do blog "Mulheres nos
Quadrinhos" essas aqui rapaziada e moçada,
que vão aparecer personagens clássicos
brasileiros nas HQs da Estupenda. Ela vai se
encontrar com o Raio Negro, com o Capitão 7 e
com o Levram, este último criação do próprio
João na infância. E já teve um personagem que
se fantasiou de Falcão Negro numa aventura
da professorinha que voa. As aventuras da
Mulher Estupenda são simples e divertidas, em
poucas páginas elas sempre dão seu recado
de maneira que mostram que uma boa hq não
precisa de muitas parafernálias e tramas
complicadas pra agradar o leitor.

217
Levram criado na infância por J.J. Marreiro
Foi cogitado nos fotologs se levantando as
possibilidades, um encontro entre duas
heroínas brasileiras, justamente a Mulher-
Estupenda e a magnífica Velta, inclusive com
direito a "Semana do Personagem" e desenhos
de All Silva, .... e Gerson Write, que apresentou
um argumento muito interessante, deveriam os
autores estudar a possibilidade de tal encontro!
Gostei da idéia, e acho que se se desenvolver
mais o roteiro, resulta uma boa hq!

218
Agora encontro que eu quero ver mesmo é o
Mirza & Velta no traço do Colonesse! Aí galera
que curte heroínas nacionais, vamos fazer uma
campanha pro Colonesse desenhar logo essa
história porque o Emir Ribeiro já fez o
roteiro*...

219
220
Deixo aqui mais uma sugestão pro J.J.
Marreiro criador da Estupenda, a troca do " S "
em seu uniforme por " E " para uma
maior aproximação com o Brasil, inclusive
poderia se dar isso numa hq especial de 10
anos da Mulher-Estupenda, numa aventura
empolgante, deve estar chegando essa data
não? Veja abaixo o argumento de "Mulher-
Estupenda & Velta" retirado
de http://fotolog.terra.com.br/gerson :
"O esperado encontro!!!! Mulher Estupenda e
Velta! Elas se encontram, mas não é pra
tricotar nem pra trocar receita de bolo! Elas vão
é pro braço mesmo! O que terá acontecido
para que nossas maiores heroínas se
enfrentem nesta luta mortal????
Podia ser este o argumento da História: As
duas raças extra-terrestres, que deram os
poderes pra Velta e pra Mulher Estupenda
221
entram em guerra interestelar pela posse do
Planeta Terra ( por ser um lugar cheio de
mulher gostosa, heheheh) , então os generais
das duas raças usam de subterfúgios para
enganar nossas heroínas, uma achando que a
outra é a ponta de lança da invasão. Na terrível
luta, que escurece os céus e devasta a terra,
Rapaz-Assombroso e o sócio da Velta na
agência de detetives Gilberto Gomes
descobrem a verdade, alertando-as, que se
juntam para dar um cacete nos militares
alienígenas, restaurando a democracia nestes
planetas, e a paz intergaláctica. Neste
momento, acordo suando, desnorteado, e
percebo que tudo foi um sonho delirante, fruto
deste desejo de ver a aventura com estas
gatinhas, bom, pelo menos é o que eu
pensava, pois um alienígena bate na porta,
pedindo uma mãozinha, porque o disco voador
dele caiu no meu quintal e precisa empurrar pra
pegar no tranco..."
Teve mais uma semelhança entre Velta e a
Mulher-Estupenda. Emir Ribeiro quando
perguntado numa entrevista quem seria a
mulher ideal pra representar Velta no cinema
ou num seriado ele respondeu Mari Alexandre,
222
a mesma que o João escolheu para
representar a Estupenda numa situação
parecida. Eu e o Rod já achamos que o ideal
seria a Grazi, pois ela é a cara da Velta, talvez
o Emir tenha respondido a Mari Alexandre
porque naquela época ninguém sabia quem era
Grazi, mas eu encontrei no fotolog de Heli
Mascarenhas uma arte-de-fã da Mulher
Estupenda feita a partir de uma foto da Grazi. E
a Velta também foi homenegeada com outra
arte-de-fã de Heli, mas a escolhida foi outra
modelo de revista de mulher-nua.

A Mulher-Estupenda já se envolveu em
polêmicas no turbulento universo dos
quadrinhos nacionais, e já foi alvo das
223
armações dos "Vilões dos fotolog", Sincerovsky
espalhou em seu blog calúnias a respeito da
Mulher-Estupenda, dizendo que ela era criação
de um norte-americano e que o João teria
comprado a personagem deste. Uma
inverdade, esse foi um boato que o próprio
João espalhou no início da carreira da
Estupenda, exercício que fez parte do processo
de criação e desenvolvimento da personagem.
De quebra, trouxe a público um desenho de
Alexandre Menezes que havia sido censurado
no Terra, e eu não tinha tido a oportunidade de
ver ainda. Interessante ver uma personagem
comportada como a Mulher-Estupenda nessa
posição, gostei muito do desenho, exceto pela
presença do Super-Lixo, deixo bem claro,
porque afinal, quem não gosta de ver uma
super-heroína gostosona pelada? Só os bichas
que não gostam! Fica aqui mais uma sugestão
pro J.J. , explorar mais o lado sensual da
Mulher-Estupenda, se ela tem peitão e bundão
e é gostosa, tem mais é que se mostrar mais
como fazem as mulheres brasileiras,
conhecidas pela sua sexualidade a flor da
pele!

224
225
*O encontro Mirza & Velta foi publicado pela
editora Júpiter 2 no ano de 2012
Retirado de Mulheres nos Quadrinhos

226
14- EMIR RIBEIRO MANDA EDITORES
NORTE-AMERICANOS PASTAR!
(Por Marconi Lapada, Rod Tigre, e Tito
Augusto)
Estadunidense é mesmo um bicho muito
prepotente. Quer todos a seus pés, prestando
reverência. Já o brasileiro tem vocação para
ser vassalo, especialmente dos dominantes.
Mas nem todo mundo se dobra à arrogância
deles. Há pessoas que colocam a honra e o
amor próprio acima de tudo, e são capazes até
de recusar a receber dinheiro para não ser
humilhado. Uma dessas pessoas,
orgulhosamente é o inspirador maior da
existência da CQB. Claro que falamos de Emir
Ribeiro.
Desde 1993, Emir faz trabalhos para editoras
norte-americanas, tendo atuado em
personagens conhecidos e pouco conhecidos
dos quadrinhos, sozinho ou em conjunto com
outros artistas brasileiros.
Nos fotologues do Terra, Emir narrou e contou
em detalhes o quanto é difícil trabalhar para os
gringos. Fazem sujeiras diversas, substituem
assinaturas e creditam o trabalho de um artista
227
para outro (que nada fez) mas está com seu
nome em evidência. E são de uma chatice sem
limites, exigindo o impossível dos artistas.
Mas mesmo assim, há um verdadeiro exército
de candidatos, gente morrendo de coceira para
entrar no concorrido mercado de quadrinhos
dos EUA, que por sinal anda em baixa e quase
moribundo. Mas aqui no Brasil, os quadrinhos
de lá imperam absolutos, tendo fãs
absolutamente irracionais e sem qualquer
senso de ridículo e auto-crítica.
Enquanto existem milhares loucos de vontade
de faturar dólares, ver seu nome nos créditos
de um gibi gringo, e até mesmo fazer o trabalho
gratuitamente... Emir Ribeiro se recusou até a
ser pago. Chutou eles para escanteio. Deu
cartão vermelho. Enfim. Mostrou que ainda
existe brasileiro com vergonha na cara e tutano
nos ossos.
Para um desenhista ou arte-finalista ser
contratado para trabalhar num título dos EUA,
ele precisa provar seu talento aos exigentes
editores, através de amostras em tamanho A3.
Portanto, fazer amostras é uma exigência para
contratar os serviços de um desenhista ou arte-
finalista. O artista tem de fazer duas ou três
228
páginas de graça, caprichadas, com cenas de
ação, enfocando o personagem para o qual
pretendem contratar o cara, para verificarem
se encaixa no perfil requerido. Ou seja, o
Brasileiro tem de perder tempo, gastar material
e fazer até três páginas gratuitas para
concorrer ao trabalho. De uns anos para cá, de
saco cheio, Emir se recusou a fazer qualquer
nova amostra, e disse que se quisessem
analisar seu trabalho, que fossem consultar
seus desenhos publicados pela internet.
Recentemente, uma editora escolheu Emir
para arte-finalizar um novo gibizinho, mesmo
sem ele fazer as amostras. Mas, sendo um
novo formato de publicação, forneceram-lhe um
tamanho, que era o original da revista
impressa. Com as poucas explicações de
sempre dadas pelos editores gringos aos
artistas, Emir pensou que era o formato original
da arte (afinal, para quê lhe interessaria
formato da revista impressa, se o que valia
para ele era o formato dos originais?). Portanto,
os editores cometeram uma senhora burrice.
Emir fez as cinco primeiras páginas no formato
reduzido, quase o tamanho de um cartão
(metade de uma folha A4), ou seja, formato A5.
229
E depois, vieram dizer que não era assim, e
que estava errado, e que ele havia arruinado a
arte original do Daniel Brandão, que havia feito
o lápis e enviado a imagem pela internet.
Habituados a serem paparicados e adulados
aos montes, por certo, os gringos esperavam
que Emir fosse se ajoelhar, pedir desculpar e
refazer as cinco páginas de novo no tamanho
certo. Mas em vez disso ele simplesmente deu
um chega para lá neles todos, e em bom
português (eles que fossem traduzir). Disse
que a partir de então não faria mais trabalho
algum para os americanos, mesmo que
pagassem muito bem.
Pois é, galera. Alguém do velho time dos
deslumbrados faria algo assim? Recusar
trabalho? Recusar dinheiro? Mas o nosso
amigo fez. Colocou sua honra e amor próprio
acima dos bens monetários, e se recusou a ser
humilhado pelos dominantes. Quem não teme
opressores, faz isso. Peita os desgraçados. E
lhes manda pastar no capinzal mais próximo.
O MERCADO NORTE-AMERICANO ESTÁ
DESMORONANDO - Notícia dada à CQB por
um amigo nosso que está passando uma
temporada nos EUA, trabalhando num empresa
230
de brasileiros. (Por nosso correspondente em
território inimigo).
Ele prefere não se identificar, a fim de não
virar alvo dos tolos que adoram, fazem
oferendas e rezam para os heróis
estadunidenses, mas enviou um relato que
merece ser lido por quem pensa que os
imperialista estão ainda por cima da carne
seca. Vejam e leiam.
"Eu estou morando em uma cidade que fica
próxima a Nova Iorque, onde estão as editoras
dos personagens gringos. Essa cidade é onde
os endinheirados norte-americanos vem residir,
a fim de fugir do agito da cidade grande, e por
isso acabam morando nas redondezas da
cidade, em espécies de chácaras, ou em
terrenos bem grandes onde constroem
enormes casas). Enfim, a tal cidade acaba
atraindo os imigrantes que vem aqui trabalhar,
já que os gringos não querem pegar no pesado
e nem trabalham nos empregos mais simples -
estes eles deixam para os latinos, a quem
acham pessoas inferiores e ideais para
serviços braçais.
Já estive aqui antes, há uns oito a dez anos

231
atrás, e ia nos comércios locais, como
mercado, farmácia, tabacaria e etc. E nesses
comércios havia e ainda há revistas e
publicações de diversos temas, como no Brasil,
e também tinha os quadrinhos americanos
(esses que o pessoal aí babam-ovos). Mas
agora que voltei, fui nos mesmos comércios e
para minha surpresa, as revistas estão lá, mas
de quadrinhos americanos praticamente não
tem mais nada! Só achei alguma coisa, e muito
pouca, em duas grandes livrarias, mas eram
raros títulos, e nem mesmo a Wizard tinha. Em
uma tinha, além das revistas mensais (mas
mesmo assim alguns títulos estavam meio
escondidos), algumas encadernações dessas
"novelas gráficas" que há algum tempo foram
publicadas aí no Brasil, como a morte de um
super-bobo (antiga, portanto), e outras coisas
ainda dos anos 90, tudo indicando que se
tratavam de ENCALHE, e que demonstravam
estar lá expostas há muito tempo.
A única coisa em comum nessas duas
livrarias eram publicações em mangás, que
eram muitas, mas também com cara de
encalhe.
Então, concluí por observação e que os
232
quadrinhos aqui não estão com essa bola toda,
e se bobear, no Brasil vende-se mais e se
consomem mais quadrinhos do que aqui.
Parece que esses personagens gringos já não
causam mais interesses nos próprios gringos, e
o que mantém eles vivos aqui são os desenhos
animados e os filmes, que depois geram uma
quantidade de bugigangas que a garotada
consome, como bonecos, brinquedos e
guloseimas com as estampas dos
personagens.
Então, acho que a situação dos quadrinhos
aqui está pior que no Brasil, pois
provavelmente os consumidores desses
quadrinhos locais estejam concentrados lá em
Nova Iorque, sendo que no restante do país a
movimentação de vendas deles continua bem
fraca, ao contrário do que ocorre no Brasil, que
tem grandes consumidores no Rio de Janeiro e
em São Paulo, mas nos demais estados
mantendo uma vendagem sem grandes saídas.
Eu acho que se um dia esses personagens
deixarem de ser publicados aí no Brasil, ou que
se diminua o consumo, certamente essas
editoras norte-americanas vão bambear as
pernas, pois creio eu que o Brasil e mais
233
alguns paises, juntos, são os maiores
consumidores desse lixo que trava o nosso
desenvolvimento quadrinhístico nas bancas,
pois aqui, ELES ESTÃO VOANDO BAIXO,
quase caindo mesmo.
Então, quando vemos ai sítios dizendo que tal
publicação é sucesso nos Estados Zunidos...
sei não... Acho que É MENTIRA.
Outro fator em relação ao pessoal que quer
trabalhar para os norte-americanos, fazendo
quadrinhos: Como não vendem muito como
antigamente, eles tem que cortar os custos. Já
que os americanos não trabalham por pouco,
muitos desenhistas bons migraram para
publicidade (igual ao Brasil), por isso, recrutam
o pessoal de fora, pagam pouco (em relação ao
que pagam a um artista local), possibilidade de
estar renovando o traço (trocando o
desenhista), e sem ter vínculo empregatício
com ninguém. É mais ou menos como
acontece com o pessoal que vem trabalhar
aqui (o que pagam aqui para brasileiro é pouco,
e é preciso economizar muito, pois o custo de
vida é alto. Mesmo assim, enviar algum
dinheiro para parentes no Brasil é possível, e o
que sobra dá para ir vivendo com certo
234
sacrifício. Em comparação com o Brasil, em
relação ao que a grande maioria ganha aí, é
como se tivéssemos um bom salário, mas em
relação ao ganho pelo americanos é uma
mixaria. Por isso, pagar desenhistas brasileiros
ou de outro país nesses valores é economia e
ganho para as editoras que andam com as
pernas bambas.
É apenas questão de tempo. Uma hora ou
outra, o pessoal vai enjoar desses quadrinhos
enlatados aí no Brasil, e eles vão sumir ou vão
se reduzir drasticamente, como aconteceu
aqui. O bom mesmo seria se tivéssemos pelo
menos mais uns 3 estúdios como o do Maurício
dominando o mercado, e aí não teria mais
espaço para os gringos (falo em uma editora ou
estúdio que publicasse material variado
brasileiro)."
Além de campeões da propaganda e da
programação mental nas pessoas fracas de
personalidade, os estadunidenses ainda
promovem farsas gigantescas para se
mostrarem os todo-poderosos e senhores do
mundo. Na época da corrida espacial, quando
temiam serem superados pela União Soviética,
os gringos engendraram um ardiloso plano e
235
montaram a maior FARSA já registrada no
mundo. Inventaram que pisaram na Lua antes
dos russos. Hoje já se sabe que foi uma
mentira colossal, uma farsa sem precedentes,
que enganou toda a humanidade. É só uma
amostra do que são capazes para manipularem
os povos da Terra.

Retirado da CQB
236
15- Artigo: Será que quem gosta de Alan
Múúúúú também gosta de heroizinho azul
de pinto mole à mostra?
Por Marconi Lapada

A bilionária indústria de quadrinhos dos


Estados Unidos se move à base de
propaganda incessante e cooptação de bobos
úteis a seus planos de dominação cultural. Aqui
no Brasil, essa indústria encontrou um terreno
adubado e fértil para engordar sua conta
bancária. Ou seja, não faltam bobos alegres
brasucas para servirem de moleques de
recados aos cartolas das grandes editoras.
237
O mais hilariante é que essas figurinhas
tragicômicas, apesar de estarem sendo usadas
como massa de manobra para arrebanharem
mais compradores para a superada HQ gringa,
ainda se arrogam de saberem tudo sobre
quadrinhos. Leia-se: o "tudo" que sabem lhes
foi transmitido por revistas "chapa branca".
Convencionou-se chamar essa manada de
bobos-alegres de "alopradinhos" ou, como
alguns se auto-classificam, "nerds".
A nerdaiada, no momento, está em alvoroço
em decorrência das propagandas repassadas
por uma mídia que se vende fácil a quem pagar
mais. Os bobões aloprados Marvel e DC estão
em frenesi na espera de mais um filmezinho
insosso de super-heróis, agora baseado (?!) no
mirabolante resultado de uma diarréia mental
expelida pela mente pervertida e nublada por
drogas do alucinado Alan Moore. Estou falando
daquela droga impressa chamada Washman
ou Atchimem, ou coisa que o valha. Ou seja,
apenas um X-Men semi-pornográfico com
toques meio extravagantes. Quem tem bom
senso, bom gosto, não é chegado a ficar de
contemplação a pênis azul à mostra, não gosta
de ver quadrinhos com comissários de polícia
238
pelados, agora vai ter de passar mal com o
alarido que os aloprados farão antes e depois
das idéias desvairadas daquele piolhento inglês
desfilarem pela telona dos cinemas.
A vantagem para mim e alguns amigos com
pensamento livre e idéias próprias é a de não
cairmos nessa armadilha mercadológica e não
assistirmos ao mais novo caça-níqueis
computadorizado. Isto é, não cairemos na tolice
de dar nosso suado e mirrado dinheiro para ir a
um cinema ver outro besteirol da indústria dos
comics. E melhor ainda, não teremos o
desagrado de ver o pinto azul do heroizinho do
Alan Moore na forma humana e tridimensional,
junto com mais um grupelho de bestalhões
fantasiados.
Quem deverá sentir turgescência com essa
palermice cinematográfica são os nerds
aloprados, os mesmos bobões extasiados de
mentes infanto-juvenis que hoje bajulam e
adulam o barbudo inglês de aspecto sebáceo.
Também deverão estar presentes e exultantes
na sala de projeção alguns cabeleireiros,
maquiadores, estilistas, e talvez também fãs da
Xuxa. E, por inferência simples, aposto que a
alguns dias do lançamento, acampará na porta
239
do cinema um certo bobalhão "escritor" de
determinado artigo ridículo e idiota, onde não
apenas soltou a franga, mas o galinheiro inteiro
de elogios delirantes e imorais ao Rasputin dos
quadrinhos.
Acontece que, toda essa idolatria burra e
depravada é injustificada. Os aloprados dão
importância demais àquele espantalho de
urubu. O que ele faz hoje, brasileiros já fizeram
com décadas de antecedência. Quadrinho
adulto no Brasil existe desde os tempos do
império, de autoria de Ângelo Agostini, quando
lançou a primeira heroína erótica do mundo, a
Iniaia, mostrando-se sempre nua e provocando
os homens. Personagem antigo, horripilante e
adulto, o Garra Cinzenta é brasileiro, dos anos
30. A sacanagem já corria solta nos anos 50 e
60, com Carlos Zéfiro e seus catecismos. Nos
anos 70, Emir Ribeiro afrontava a censura
militar com sua sensual Velta, tendo como
inimiga a traveca espacial Doroti, nas páginas
de um jornal de colégio.
Mas o rebanho não sabe nada disso, ou finge
não saber. Só tem olhos para Marvel e DC, ou
para Alan Moore. Quando é o barbudo bretão
que bota heróis pelados de pinto azul ou
240
travestis se masturbando numa história em
quadrinhos, é elogiado como supra-sumo da
genialidade, da inovação, da ousadia, do tapa
na cara do sistema certinho dos comics. A
ignorância, o preconceito e o ódio que os
aloprados sentem por seu próprio país os cega
para o óbvio e para os fatos comprovados de
que artistas brasileiros já ousavam há bem
mais tempo que Alan Múúúúú. Mas, sendo do
Brasil, essas primazias são esquecidas,
ignoradas ou ridicularizadas. Isso porque
brasileiro sempre se sentiu pequeno diante dos
estrangeiros e nasceu com aquela doença
provinciana e servil da vassalagem aguda. Ou
como já disseram pela net: "brasileiro tem
tendência a ser capacho de estrangeiro".
Basta a mídia colocar o barbudo sebento no
pedestal e lá vai a nerdaiada se ajoelhar, rezar
de mãos postas para o céu e, se brincar, ainda
se flagelam no concreto em imolação ao deus
piolhento estrangeiro. Por quê? Porque ele vem
da metrópole, do primeiro mundo, da fonte de
toda a mídia, e por isso tem privilégio e pode se
dar o luxo de segregar sua diarréia mais
liquefeita e pútrida, que a manada brasileira vai
sempre dizer amém aos berros de "É o
241
máximo!" ou "É linda, maravilhosa e genial!".
Alan Moore, então, não é mais que um sujeito
excessivamente super-valorizado por uma
cambada estúpida manipulada e sem vontade
própria.
Os quadrinhos não perderam a inocência com
esse cara suja da Inglaterra. O terror adulto
brasileiro de Shimamoto, de R. F. Lucchetti, de
Nico Rosso, de Mozart Couto, de Watson e
tantos outros já faziam a cabeça das massas
bem antes. Todavia, o produto da província
sempre passou a quilômetros dos olhos com
viseiras nas laterais dessa jumentada tiete
descerebrada. Essa turba é igual àqueles
outros asnos que ficam ao relento no meio da
rua, embaixo das sacadas de hotéis,
esperando ansiosamente que o astro
estrangeiro bote por um microssegundo a cara
na janela, para depois explodir em delírio, se
descabelando, pulando num pé só e caindo de
bruços no asfalto, em convulsões
esmunhecadas e aos berros: - Meu ídolo olhou
para mim. Ai, ai, ai, ui, ui, ui. Estou feliz...
Os deuses gringos podem praticar crimes,
consumir drogas, dar péssimos exemplos, mas
o alopradinhos sempre verão quaisquer ações
242
destes como excentricidades, atitudes
ousadas, lindas, admiráveis, e geniais. Ou seja,
arranjaram outro nome para viciado e
toxicômano.
Isso nos leva a uma inquietante conclusão: os
alopradinhos não se importam com a obra, mas
somente com a deificação e a adulação doentia
e desmedida. Quem vive em eterno estado de
servilismo é assim, está sempre de cabeça
baixa, de mãos postas esperando o deus deles
dar nem que seja uma olhadinha para seu lado.
Mas, nos quadrinhos, os deuses desse gado
burro nem precisam olhar, bastam existir... Fico
imaginando o Alan Moore aqui, na frente dos
aloprados. Iam dar uma cheirada bem fungada
e aspirante nos sovacos dele. Isso sendo bem
leve na previsão, porque acho que iam cheirar
outras partes.
Mas, como diz a regra da bajulação, quem
não fizer parte do gado aloprado, não
embarcando nessa salivação de ovo sem
propósito, é qualificado de "chato", "invejoso",
"retrógrado", "xenófobo" e até "preconceituoso".
Depois, o próximo passo é fazer igual à
propaganda nazista: repetir tanto a mentira que
está alojada em suas cabeças que esta passa
243
a ser a verdade absoluta e inquestionável.
Asilo, hospício e clínicas de desintoxicação
cerebral para esses aloprados.

Falei.

Marconi Lapada é fundador da CQB – Central


de Quadrinhos Brasileiros

Retirado: Papo de Quadrinhos

244
16- QUADRINHEIRO -EMIR RIBEIRO
Por Bartolomeu Vaz

Eu sou um sujeito chato, mas principalmente


coerente. Afora isso sou também leal às
pessoas a quem chamo de amigas, e não
admito ser atraiçoado. Também detesto gente
falsa, que numa hora lhe elogia e por trás lhe
enfia uma faca. Gosto de cobrar das pessoas o
mesmo procedimento. Um certo gajo traidor
vagabundo - que nem vale a pena dizer o nome
- espalhou calúnias a meu respeito pela
internet. Acusou-me de criar um blog para
destratá-lo. Acusou-me de me aproximar de um
grupo de fãs do quadrinheiro Emir Ribeiro com
algum interesse escuso. Acusou-me de haver
245
criticado o mesmo Emir Ribeiro, coisa que
nunca fiz. E por fim, enredou uma trama que
tirou uma página minha do ar, sem que eu
tivesse lhe feito qualquer desfeita ou sujeira. O
sacripanta agiu por pura molecagem e
maldade.
Para contrariar esse vilão da internet, e
também por causa de uma tremenda
coincidência, resolvi abrir uma seção para falar
justamente do injustiçado artista já citado, por
quem o safado nutre uma obsessão doentia e
um ódio inexplicável.
A coincidência foi do namorado de minha filha
caçula conhecer um amigo que detinha em seu
poder diversos e antigos fanzines onde se
falava do artista paraibano, em matérias,
entrevistas e desenhos. Pedi-lhe para
conseguir-me fotocópias, e em seguida,
transcrevi alguns trechos e desenhos que
possivelmente nem o próprio Emir deve
possuir. Portanto, que ele fique à vontade para
copiar os textos e desenhos que publicarei a
seguir.

246
+ Trecho retirado do fanzine MINI-HQ nº 1 de
1988, numa entrevista dirigida por Antonio
Gabriel.
"GABRIEL: Se você fosse um dia convidado
para trabalhar para a Marvel, que personagem
gostaria de desenhar?
EMIR - Eu preferiria trabalhar em meus
próprios personagens. No início, claro, aceitaria
desenhar o que eles me incumbissem.
Devagarzinho, tentaria impor e lançar meus
personagens. Mas se fosse para escolher, iria
preferir personagens femininas, pois minha
especialidade sempre foi desenhar mulheres."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Sem dúvida,


Emir Ribeiro ainda era um rapazinho inocente
naquela época, e nem fazia idéia de como é
fechado aquele círculo de quadrinheiros
gringos. Não sabia que sua pretensão jamais
seria atingida, vez que os americanos não tem
interesse algum por personagens estrangeiros
e que não sejam aquele repetitivo metiê deles.
"GABRIEL: O que pensa a respeito das atuais
editoras brasileiras que publicam HQ?
EMIR - Só divulgam trabalhos estrangeiros.

247
Agora, com a pressão de muitos leitores é que
começam a aparecer algumas revistas com
trabalhos nacionais. São poucas para o
potencial que temos, mas já é um começo. O
norte-americano é patriota demais. Faz
questão em divulgar os produtos, cultura e
artes de sua terra. Aqui, os editores só pensam
no lucro imediato. Nossa cultura e artes que se
danem."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Em 18 anos,


esta é uma resposta que continua atual.
Coitadinho, com uns vinte e poucos anos,
ainda tinha esperança de que poderia mudar
essa chupação de ovo em cima dos
americanos, e que as HQs nacionais teriam
mais espaço. O que vemos é exatamente
o oposto. O quadro ficou pior e crônico. Os
leitores, os editores e os próprios quadrinheiros
cada dia estão mais lobotomizados e
colonizados pelos gringos. Quanto decepção
deve estar sentindo!
+ Trecho retirado do fanzine REPÓRTER HQ
nº 13, de janeiro de 1989. O texto é de Laudo
Ferreira Júnior, adaptado de "Artes/Cultura" de
novembro de 1988.
248
"Para quem ainda não a conhece, Velta já
possui mais de 15 anos de existência, e já se
tornou uma frisson entre os quadrimaníacos,
possuindo adoradores pelo Brasil inteiro,
inclusive um fã-clube que edita regularmente
um fanzine do "Clube da Velta."
Emir, no passar destes 15 anos, editou
aventuras de sua loira de várias maneiras,
desde fanzines xerocados até mini-revistas,
incluindo uma edição especial pela extinta
PRESS EDITORIAL.
Seu traço é único, marcante, combinando muito
bem todo o sensualismo da personagem com a
ficção científica e aventura, e de quebra, um
leve toque do bonito estilo "noir" em seus
quadrinhos.
Vale a pena conhecer e sentir o profundo
carinho que o autor apresenta a seus leitores."
INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Apesar do
traço e dos enredos do gajo terem evoluído,
Velta é ainda uma desconhecida do grande
público. Passarem-se pois mais outros 15
anos, e Velta e o quadrinho brasileiro ainda
padece do mesmo mal, sendo que com
sintomas mais perversos.
249
+ Trecho retirado do fanzine PHANZYNE nº 2,
de janeiro/fevereiro de 1988, numa entrevista
conduzida por Marcelo José Leonardi.
"MARCELO - Qual o futuro, na sua opinião, dos
quadrinhos brasileiros?
EMIR - Nem opino mais sobre o futuro. A
despeito do que aconteceu no passado, o
futuro do quadrinista nacional deverá ser o
mesmo: produzir seu trabalho para poucas
pessoas lerem, enquanto os americanos
comem a maior fatia do mercado. Já deixei de
ser otimista quanto a isso. As grande editoras
nunca nos darão vez. Fica apenas a esperança
vaga por um acontecimento inesperado."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Bem se vê


que, no interregno entre uma entrevista e outra,
o gajo teve uma enorme decepção e se
conscientizou que o futuro era negro. Apesar
disso, o vemos até hoje, 18 anos depois, ainda
lutando e incentivando outros a lutarem para
que essa estagnação mude. O homem é um
guerreiro. Daqueles que não se entregam
mesmo com tudo em seu desfavor. É um bravo
que brigará até a última bala, ao contrário dos
seus críticos idiotas parasitas, que serão
250
lembrados (SE FOREM lembrados) como
facínoras traidores que são, com os rabos
sentadinhos em suas poltronas, protegidos, e
sem pregar um prego numa barra de sabão.
Não sabem o que defender um ideal, ou o que
é ter fibra.

"MARCELO - O quadrinista brasileiro está mais


interessado em explorar os gêneros da moda,
ou ele tem procurado inovar?
EMIR - Quem não explora os gêneros da moda
não publica. É a crua verdade. As editoras,
mesmo pequenas, sempre exploram os
modismos estrangeiros. Se tal personagem não
se encaixa nesses moldes, acaba engavetado.
Veja a excelente BRIGADA DAS SELVAS do
Ailton Elias, por exemplo. Um excelente idéia, e
original, acima de tudo. E que chance ele tem?
Só conseguiu publicar um número de uma
revista em uma pequena editora, que para
variar, faliu."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Tenho essa


Brigada das Selvas e concordo: é ótima. E aqui
está mais uma resposta atualíssima. E a
situação se agravou. A alienação se massificou
251
a um tal ponto que as pessoas acham normal o
colonialismo cultural e idiomático.
+ Trecho retirado do fanzine RISCO TOTAL nº
5, de 1997 (não menciona o mês). O texto é do
próprio Emir.
AS HISTÓRIAS
ADULTAS DE VELTA -
Foi a opção inicial
sobre a linha que Velta
iria seguir. Tanto que
suas primeiras
histórias, apesar da
repressão da época,
seguiam temas adultos,
quando os heróis
importados os
ignoravam por puritanismo ou pela censura do
"Código de Ética".
No jornal do colégio, tinha de submeter as
páginas para apreciação de uma comissão de
professores, para depois afixá-las no jornal. Eu
apresentava as páginas amenas (as primeiras)
e depois afixava as "apimentadas", onde Velta
provocava e exibia sua enorme e redonda
bunda. Era um sucesso. A turma levava as
páginas para casa, e outras coisa do gênero.
252
Foi necessário pedir um vidro para o jornal
mural.
Quando achei uma brecha nos jornais do
Estado, daqueles que circulavam por todas as
cidades e bancas, tive de repensar os temas
adultos, roupas e poses provocantes de Velta.
Tanto que as primeiras HQs, de agosto de
1975, recataram a esfuziante loura. Mas não
deu para resistir. Fui gradativamente soltando
as amarras. As roupas de Velta foram
diminuindo e voltando ao ponto de sua criação.
Um dia, a coisa foi notada. Na história "A
quadrilha do caolho", um bandido encurrala a
loura de forma que ela não pode disparar suas
rajadas. A solução é rápida: Velta desabotoa o
cinto e solta a tanga, exibindo sua bunda para
o bandido, que fica tão deslumbrado que se
descuida o suficiente para ser desarmado. Na
segunda-feira estourou a bomba: a Primeira
Dama do Estado viu e não gostou. Vieram
pedir para maneirar!

253
Hoje os tempos são outros, mas Velta
prosseguirá se mantendo de acordo com sua
proposta inicial, na linha adulta."
+ Trecho retirado do fanzine CENTHURION nº
3, de dezembro1989/janeiro de 1990, numa
entrevista conduzida por Joelmo Machado.
"JOELMO - Qual personagem estrangeiro que
você teria vontade de desenhar?
EMIR - Nenhum me interessaria a ponto de
querer desenhá-lo. Gosto de Hulk e Batman,
mas não os desenharia para qualquer editora,
salvo se fosse bem pago para isso."
INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: O gajo é
mesmo coerente. Mesmo antes de entrar para
o mercado norte-americano, ele, diante de uma
pergunta hipotética, disse a mesma coisa que
254
diz hoje, 16 anos depois, e após haver
trabalhado para os gringos. Deixou claro que
seu trabalho é autoral e não se deslumbrou ou
desmunhecou por ter ido desenhar para os
gringos. E mesmo assim, trabalhou para os
caras, mas não esqueceu seus fãs brasileiros,
pois manteve os fanzines em circulação e não
parou de editar suas revistas por conta própria,
mesmo com periodicidade incerta. É, por
conseguinte, motivo de admiração alguém se
manter fiel às suas propostas primeiras e não
ter virado a casaca por ter ganhado uns
dólares.
O trabalho autoral é a independência completa.
O artista não está amarrado a estilo algum e
nem precisa ter preocupação em ser encaixado
neste ou naquele gênero. O gênero é o DELE.
Quem gostar, consome, e quem não gostar não
o consome. Lastimável que ainda haja imbecis
energúmenos querendo que o gajo puritanize
sua Velta e a transforme numa freira só porque
ela tem super-poderes. E na cabeça dessa
ratazada desmiolada, quem tem super-poderes
é super-herói, e deve se reger pelo Comics
Code dos gringos e ser assexuado. Tamanha e
inominável idiotice é esta. E Emir Ribeiro faz
255
muito bem em não dar uma migalha de atenção
a essa cambada estúpida.
Para finalizar, a ADBSS-2000 apresenta um
material praticamente inédito e possivelmente
esquecido até pelo próprio Emir Ribeiro.
Entretanto, o velho Bartô aqui sabe de toda a
história. Antes do grande cartunista HENFIL
nos deixar em consequência da AIDS, Emir
Ribeiro prestou-lhe uma homenagem, enviando
para o dito cujo uma HQ, a qual
orgulhosamente apresento aqui. Uma HQ que
ninguém jamais esperou ler: VELTA, HENFIL e
a tara do famoso cartunista por pés femininos.
Cortesia do velho Bartô Vaz que achou
fortuitamente em um fanzine. Morda-se de
inveja, Blenq Gonzalez!

256
257
258
259
260
RETIRADO DA ADBSS - ASSOCIAÇÃO DOS
DESENHISTAS BRASILEIROS SEM SERVIÇO
261

Você também pode gostar