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Gritos de Horror #001
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Gritos de Horror #001
E-book294 páginas3 horas

Gritos de Horror #001

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Sobre este e-book

Seis histórias curtas da Era de Ouro do terror pulp, um pequeno e singelo poema lupino e macabro, a noveleta sinistra de Algernon Blackwood que serviu de inspiração para os filmes Sangue e Pantera (1942) e A Marca da Pantera (1982), e uma entrevista imperdível com Edilton Nunes, responsável pelo site e pelas redes do grupo Stephen King Brasil - vamos conhecer um pouco de como a comunidade funciona, ter um bocado de informações quentíssimas sobre o autor, mas também conversar um pouco sobre literatura nas escolas, a importância da ficção para a cultura e para a nossa formação... ​

Tem mais: um conto inédito do nosso escritor Jefferson Sarmento: vamos nos deparar com "um pedido de ajuda muito além da realidade e da compreensão. Uma delicada trama de maldades, traições e ganância!"

E que tal testemunhar o desespero de um oficial alemão soterrado vivo em "O túmulo", de Orville R. Emerson?

Em "A maldita coisa", de Ambrose Bierce, vamos desvendar o segredo invisível por detrás da morte de um pobre caçador!

Nos subterrâneos de uma cidade grande, vamos fazer uma viagem macabra no "Metrô para o inferno", de Arthur Leo Zagat.

O aclamado escritor Robert Bloch nos brinda com uma de suas primeiras histórias em "O segredo da tumba".

Vamos conhecer o homem responsável pela publicação da obra de H. P. Lovecraft depois de sua morte. Em "Aqueles que procuram", August Derleth nos faz revisitar o horror cósmico que tornou famoso seu velho amigo e o grupo de autores que compartilhavam sua fantasia sombria.

Com o desconhecido Paul Compton vamos bisbilhotar os últimos dias de um homem cruel em "O diário de Philip Westerly", e tentar descobrir o que houve com ele e o que esconde aquele espelho imenso em seu quarto.

E para finalizar, uma "Seção de cinema" com os detalhes do filme "Sangue de Pantera" - pensado inicialmente como uma adaptação de "Feitiçarias Antigas", a noveleta de Algernon Blackwood que fecha nossa Gritos de Horror e nos leva até uma vila francesa com centenas de anos, junto com um pobre viajante inglês que descobre aos poucos que as pessoas ali se comportam como... gatos!
IdiomaPortuguês
EditoraTramatura
Data de lançamento30 de jan. de 2024
ISBN9786585657143
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    Gritos de Horror #001 - Orville R. Emerson

    Gritos de Horror #001

    Uma edição da Tramatura com velhos contos das antigas revistas pulp de terror e outros que inspiraram ou rendem homenagem aos grandes autores que primeiro pavimentaram o terror na cultura pop.

    Nesta edição você vai ler:

    Orville R. Emerson

    Ambrose Bierce

    Arthur Leo Zagat

    Robert Bloch

    August Derleth

    Charles Edgar Bolen

    Paul Compton

    Algernon Blackwood

    E um conto inédito do escritor brasileiro Jefferson Sarmento

    Sumário

    Gritos de Horror #001

    Polpa vagabunda ou A revolução cultural de Frank Munsey

    O Túmulo

    Sobre Orville R. Emerson

    A maldita coisa

    Sobre Ambrose Bierce

    Metrô para o inferno

    Sobre Arthur Leo Zagat

    O segredo da tumba

    Sobre Robert Bloch

    Aqueles que procuram

    Sobre August Derleth

    Licantropus

    O diário de Philip Westerly

    O Soro da Saúde Eterna

    Sobre Jefferson Sarmento

    Feitiçarias antigas

    Sobre Algernon Blackwood

    No escuro do cinema: Sangue de Pantera

    GRITOS DE HORROR ENTREVISTA

    Edilton Nunes

    Copyright

    Minha imaginação exige rédeas criteriosas. Tenho medo de soltá-la, pois às vezes ela me leva a lugares terríveis, além das estrelas e abaixo do mundo.

    Algernon Blackwood

    Polpa vagabunda ou

    A revolução cultural de Frank Munsey

    As revistas pulp nasceram na terra do tio SAM no final do século XIX. Começaram a circular em 1896, impressas em papel feito com polpa (pulp) de celulose sem maiores enobrecimentos, muito mais barato, como forma de alcançar um público menos endinheirado, sem condições de colecionar as revistas glossy ou slicks, feitas em papel bem mais caro e luxuoso, e assumindo para si um modelo que já havia feito sucesso anteriormente com as publicações Dime Novels (literalmente romances baratos), as Short-fiction Magazines e as Penny Dreadfuls — e você achou que o título da série maravilhosa com a Eva Green vinha de onde, criança? Penny Dreadful pode ser traduzido livremente como Centavo Maldito (ou terrível, sangrento, horrível...) e era um tipo de publicação em série, que trazia histórias contadas em partes, espalhadas em várias edições — Sweeney Todd, o barbeiro louco que mata seus clientes com sua navalha afiada e entrega para sua parceira assar em deliciosos bolos de carne foi um dos personagens imortalizados nesse tipo de revista, aparecendo pela primeira vez em 1846, na série The String of Pearls.

    Pois as Pulp Magazines nada mais fizeram que evoluir esse conceito das Penny Dreadfuls e Dime Novels para distribuição em massa, popularizando histórias de aventura, faroeste, crime e mistério, ficção científica e, claro, terror! Esse tipo de publicação seguiu crescendo e atingindo gêneros e quantidades de edições variadas, e números de venda absurdos até o fim da década de 1950. Em geral, as revistas vinham em formado 18cm x 25cm e com 128 páginas, muitas delas escritas por autores consagrados e respeitados, que ajudaram a consolidar uma das plataformas culturais mais ecléticas e importantes, mais democráticas que já se viu até hoje — ouso dizer que os quadrinhos, como os conhecemos hoje (invadindo o cinema e as redes), não teriam a importância para a cultura universal que têm se não tivessem herdado o formato pulp diretamente de publicações como Doc Savage, Flash Gordon, O Sombra... que surgiram nas páginas daquelas revistas primeiro, com suas ilustrações entremeando contos de diversos tamanhos, noveletas e até romances editados em série, em vários números de uma mesma revista.

    Considerada a primeira revista pulp, a Argosy, do jornalista, escritor e editor Frank Munsey, inovou a indústria editorial de sua época usando as novíssimas impressoras de alta velocidade com papel barato para alcançar o maior número de pessoas que conseguisse, tornando suas publicações produtos de massa — trazia histórias ficcionais de ação e aventura, voltadas para a classe trabalhadora, pessoas que não estavam interessadas em edições luxuosas sobre assuntos que não lhes diziam respeito (moda, principalmente), e nem tinham dinheiro para isso.

    Frank Munsey (foto da Biblioteca do Congresso Nacional Americano)

    A Argosy, no entanto, não tinha nascido pulp — no sentido barato da palavra. Fora editada como The Golden Argosy pelo próprio Munsey, como um semanário para o público infantil, e seu primeiro número foi distribuído em 1882, pela EG Rideout, editora que faliu um ano depois.

    Munsey trabalhava no ramo financeiro em Augusta, no Maine, para a Western Union, e era leitor de uma publicação regional chamada Golden Days. Ele havia ajudado um amigo a conseguir emprego em uma editora da cidade e viu esse camarada rapidamente conseguir outra colocação numa editora de Nova York. Foi quando pensou que queria mudar de ramo, editar sua própria revista — claro que não foi simples. Teve que arrumar empréstimos, calculou errado o que precisava, perdeu um investidor, nada dava certo. Mesmo assim, o primeiro número de sua revista (que ele imaginara como uma cópia da tal Golden Days) acabou saindo — como algo completamente diferente, cortando os custos ao extremo e com apenas 8 páginas, sem firulas e sem ilustrações.

    Capa da revista The Golden Argosy, de maio de 1883

    Quando a ediora quebrou, Munsey acabou assumindo a publicação como editor geral e passou a travar uma verdadeira batalha para tornar o negócio lucrativo — as contas só começaram a fechar no azul em 1888, quando ele encurtou o nome para The Argosy e a direcionou para o público masculino em geral e garotos atrás de histórias de aventura. Seis anos depois ele mexeu novamente na revista, tornando-a mensal. Mais dois anos se passaram e a gestação das Pulp Magazines terminava, com Munsey trazendo à luz uma nova revista: sem textos de não-ficção e utilizando papel vagabundo, aquele de polpa de celulose e bordas mal cortadas, que nenhum editor de nariz em pé se dignaria a usar.

    Em 1907, Frank Munsey estava rico e a Argosy atingia meio milhão de exemplares vendidos em todos os Estados Unidos, impulsionando a criação de diversas outras revistas em formato e custo igual.

    Ao longo das décadas em que foi editada, rebatizada algumas vezes, a Argosy apresentou ao mundo escritores como Edgar Rice Burroughs (criador de Tarzan e John Carter), Robert E. Howard (que fundou o gênero espada e feitiçaria e criou o bárbaro Conan, entre diversos outros personagens), Erle Stanley Gardner (do detetive Perry Mason)... publicou fantasia, terror, ficção científica... Ray Bradbury, Arthur C. Clarke, Robert Hanson Heinlei... E inspirou toda uma gama de autores, editores, revistas, livros! E a sua novíssima Gritos de Horror, cento e tantos anos depois!

    Capa da Argosy AllStory Weekly.

    Pois aqui estamos, com essa nova empreitada da Tramatura, trazendo histórias pulp e clássicos do horror publicados desde o século XIX em revistas que você podia encontrar nas mais variadas lojas ali da esquina — lanchonetes, sapatarias, armarinhos, lojas de charutos e cigarros... Espero que você goste dessa viagem tanto quanto nos divertimos pesquisando, produzindo, imaginando.

    Procuramos entremear as histórias que você vai ler com autores que você certamente vai reconhecer e outros completamente esquecidos, desconhecidos, alguns que publicaram apenas uma história e nunca mais foram vistos, por exemplo. Em geral, tentamos rastrear alguma informação sobre o autor, mas confesso que não é uma tarefa realmente fácil. Revelou-se extenuante e decepcionante quando buscamos informações sobre Paul Compton, autor do conto O Diário de Philip Westerly; chegamos a discutir se a história deveria ser retirada desta edição, mas decidimos que ela tinha todo o direito de estar aqui: é uma ótima história, criativa e de horror crescente. De modo que ela conquistou seu espaço e, se você descobrir alguma informação sobre esse sujeito, fique à vontade para nos informar também!

    Bem, como você percebeu, além dos contos, vamos dar uma passeada por outras searas: neste número de estreia, por exemplo, teremos uma entrevista com ninguém menos que Edilton Nunes, fundador do site Stephen King Brasil e um dos caras mais antenados e criativos com que você pode esbarrar na Internet, capitaneando uma trupe de fãs ardorosos do nosso rei do horror moderno (o próprio King criado à base de revistas pulp e quadrinhos de terror) — aliás, um dos caras que compõem a equipe do SKBr com o Edilton, o Iury Domingues, é a fonte de inspiração para o conto "Schwartzman, o Soro da Saúde Eterna", desde humilde escritor e editor que vos escreve, e que inaugura a seção de contos originais de autores brasileiros — pretendemos manter essa seção daqui para adiante, sempre com um novo escritor nos brindando com uma história de horror inédita. Mas voltando ao Iury: foi ele quem deu o pontapé inicial para essa história quando mencionou, no grupo de Telegram do SKBr, que sempre encontava com uma senhora meio fantasmagórica, toda vestida de preto, numa determinada rua estreita por onde passava todos os dias.

    No mais, espero realmente que você goste do que vai encontrar a seguir. Garimpar essas histórias e construir essa revista-livro foi uma das coisas mais divertidas que fizemos aqui na editora (junto com sua irmã, a Científica Ficção), de modo que gostaríamos de dividir essa diversão com você.

    Ah, sim! Antes de te deixar com os fantasmas e todos aqueles gritos de horror, faço aqui um convite para você se corresponder conosco. Mande cartas, emails, directs, sinais de fumaça, mensagens telepáticas, chamados do além... aqui para nossa redação (você vai encontrar nossos endereços na última página desta edição). No próximo número, inaguraremos nossa seção de cartas e eu adoraria responder às suas dúvidas, conhecer suas sugestões e me vilipendiar com suas críticas e reclamações — mas pegue leve se for essa a sua vontade, porque a gente está aqui por amor ao ofício também, e com a intenção suprema de te fazer se divertir.

    Boa leitura!

    Jefferson Sarmento

    Janeiro de 2024

    Caá da Weird Tales, de março de 1923

    Reprodução da capa da revista Weird Tales de Março de 1923, o primeiro volume da revista, que trouxe, além do conto O Túmulo, de Orville R. Emerson, histórias de Anthony M. Rud, Julian Kilman, Joel Townley Rogers... entre outros.

    Um oficial alemão preso no desespero, na loucura de ser enterrado vivo! Um relato angustiante em busca de um facho de luz, de um sopro de ar!

    O Túmulo

    de Orville R. Emerson

    Publicado originalmente na

    Weird Tales, Volume 1, Número 1

    em março de 1923

    O fim desta história me foi contado pela primeira vez quando Fromwiller retornou de sua viagem ao Monte Kemmel com esse caso realmente muito estranho e extremamente difícil de se acreditar.

    Mas acreditei nele o suficiente para voltar ao Monte com From para ver se conseguíamos descobrir mais alguma coisa. Depois de cavar um pouco no local onde a história de From havia começado, entramos em um velho abrigo desmoronado — pelo menos suas entradas estavam todas cheias de terra. E lá encontramos, escrito em alemão, em papel de carta, uma história terrível.

    Descobrimos esse relato no dia de natal de 1918, durante a viagem no carro do coronel, vindo de Watou, em Flandres, onde o nosso regimento havia acampado. Claro, você já ouviu falar do Monte Kemmel, em Flandres: ele apareceu mais de uma vez em reportagens de vários jornais, ao mudar de mãos durante alguns dos combates mais sangrentos da guerra. Quando os alemães finalmente foram expulsos daquela posição estratégica, em outubro de 1918, iniciou-se uma retirada que não terminou até se tornar uma verdadeira corrida para ver quem conseguia entrar primeiro na Alemanha.

    O avanço das tropas foi tão rápido que as vitoriosas forças britânicas e francesas nem tiveram tempo para enterrar os seus mortos. Por mais terrível que possa parecer a quem não estava lá, em dezembro daquele ano podia-se ver os cadáveres apodrecidos dos mortos insepultos espalhados por todo o topo do Monte Kemmel. Era um lugar de paisagens horríveis e cheiros repugnantes. Foi lá que encontramos este relato.

    Com a ajuda do capelão, traduzimos a história que segue.

    •••

    Há duas semanas fui enterrado vivo! Durante duas semanas não vi a luz do dia nem ouvi o som da voz de outra pessoa. A menos que eu encontre algo para fazer, além desta escavação eterna, enlouquecerei. Então vou escrever. Enquanto durarem minhas velas, passarei parte do tempo, todos os dias, registrando no papel as minhas experiências.

    Não que eu precise fazer isso para me lembrar delas. Deus sabe que, quando eu sair, a primeira coisa que farei será tentar esquecê-las! Mas se eu não sair!...

    Sou tenente-chefe do Exército Imperial Alemão. Há duas semanas, o meu regimento controlava o Monte Kemmel, em Flandres. Fomos cercados por três lados e submetidos a um terrível fogo de artilharia, mas devido à nossa posição estratégica, recebemos ordens de defender o Monte até o último homem. Nossos engenheiros, no entanto, tornaram as coisas mais confortáveis. Numerosos abrigos profundos foram construídos, e neles estávamos relativamente a salvo de bombardeios.

    Muitos dos abrigos eram conectados por passagens, de modo que a construção toda se parecia com uma pequena vila subterrânea bastante regular, e a maior parte da guarnição nunca precisou sair da proteção deles. Mas mesmo nestas condições nossas baixas foram bem graves. As vigias tinham de ser mantidas acima do solo e, de vez em quando, um ataque direto de um dos enormes canhões ferroviários chegava mesmo a destruir alguns dos abrigos.

    Há pouco mais de duas semanas — não tenho certeza, porque perdi a conta do número exato de dias — o bombardeio habitual aumentou em cem vezes. Eu estava dormindo em um dos abrigos mais perto da superfície, junto com cerca outros de vinte soldados. O terrível agravamento dos ataques me fez acordar sobressaltado, e meu primeiro impulso foi o de ir imediatamente para um abrigo mais profundo, ligado àquele onde eu estava por uma passagem subterrânea.

    Era um abrigo menor, construído alguns metros abaixo daquele onde eu estava. Era usado como uma espécie de depósito e ninguém deveria dormir lá. Mas pareceu-me mais seguro e, sozinho, entrei sorrateiramente. Mil vezes desde então desejei ter levado outro homem comigo. Mas minhas chances de fazer isso logo desapareceram.

    Eu mal tinha entrado no abrigo menor quando houve uma horrível explosão atrás de mim. O chão tremeu como se uma mina tivesse explodido acima de nós. Se esse foi realmente o caso, ou se algum projétil explosivo de largo calibre atingiu o bunker atrás de mim, eu nunca soube.

    Depois que o choque da explosão passou, voltei para a passagem. Mais ou menos na metade do caminho, descobri que as madeiras acima dela haviam desabado, permitindo que a terra desmoronasse, deixando meu caminho completamente bloqueado.

    Então voltei ao abrigo e esperei sozinho durante várias horas, sob terríveis bombardeios. A única outra entrada para o abrigo em que eu estava era a entrada principal da trincheira acima, e todos aqueles que estiveram na superfície já haviam buscado outros abrigos muito antes disso. Portanto, eu não poderia esperar que alguém entrasse enquanto o bombardeio continuasse; e quando ele cessasse, certamente haveria um ataque por terra.

    Como eu não queria ser morto por uma granada lançada na entrada das cavernas, permaneci acordado, esperando para sair correndo aos primeiros sinais de que o bombardeio havia cessado, e me juntar aos camaradas que ainda restassem na colina.

    Após cerca de seis horas de bombardeio pesado, todos os sons acima do solo pareceram cessar. Passaram-se cinco minutos, depois dez; certamente o ataque terrestre estava chegando. Corri para a escada que levava à superfície. Dei alguns passos degraus acima. Houve um clarão ofuscante e uma explosão ensurdecedora.

    Eu me senti caindo. Então a escuridão engoliu tudo.

    •••

    Não sei por quanto tempo fiquei inconsciente naquele abrigo.

    Mas depois do que pareceu um longo tempo, senti uma dor aguda no braço esquerdo. Eu não conseguia movê-lo. Abri os olhos e encontrei apenas escuridão. Senti dor e rigidez por todo o corpo.

    Levantei-me lentamente, acendi um fósforo, encontrei uma vela, acendi-a e olhei para o relógio. Tinha parado. Eu não sabia quanto tempo havia permanecido ali inconsciente. Todo o barulho do bombardeio havia cessado. Fiquei parado e escutei por algum tempo, mas não consegui ouvir nenhum tipo de som.

    Meu olhar se voltou para a entrada da escada. Fiquei alarmado. A extremidade do abrigo, onde deveria estar a entrada, estava soterrada.

    Fui até lá e olhei mais de perto. A entrada estava completamente cheia de terra na parte inferior e nenhuma luz de qualquer tipo podia ser vista vindo de cima. Fui até a passagem para o outro abrigo, embora lembrasse que ele havia desabado. Examinei atentamente as madeiras caídas. Entre duas delas pude sentir um leve movimento de ar. Ali estava uma abertura para o mundo exterior.

    Tentei mover as tábuas o melhor que pude com um braço, apenas para precipitar uma pequena avalanche que preencheu a fenda. Rapidamente cavei na terra até sentir novamente o leve sopro de ar. Aquele deveria ser o único lugar onde eu conseguiria respirar um pouco de ar fresco.

    Eu estava convencido de que seria necessário bastante trabalho para abrir qualquer uma das passagens e comecei a sentir fome. Felizmente, havia uma boa quantidade de suprimento, alimentos enlatados e pão duro, pois os oficiais mantinham suas rações armazenadas naquele abrigo. Encontrei também um barril de água e uma dúzia de garrafas de vinho, que descobri ser muito saboroso. Depois de aliviar o apetite e esvaziar uma das garrafas, senti sono e, embora meu braço esquerdo doesse bastante, logo adormeci.

    O tempo que me permiti para escrever acabou, então vou parar por hoje. Amanhã, quando terminar minha tarefa diária de escavação, voltarei a escrever. Já sinto minha mente mais leve. Certamente a ajuda virá em breve. De qualquer forma, dentro de mais duas semanas terei conseguido me libertar. Já estou na metade da escada. E minhas rações vão durar muito tempo. Eu as dividi para que assim seja.

    •••

    Ontem não tive vontade de escrever depois de terminar minha escavação. Meu braço doía consideravelmente. Acho que o usei demais.

    Mas hoje tomei mais cuidado e me sinto melhor. E estou preocupado novamente. Por duas vezes, hoje, grandes porções de terra desabaram do lugar em que as vigas acima de mim estavam mais soltas, e a cada vez caiu mais sujeira pela passagem do que eu consigo remover em um dia. Dois dias a mais, antes que eu possa contar com a possibilidade de sair sozinho.

    As rações terão que ser esticadas um pouco mais. A quantidade diária já é bem pequena. Mas continuarei fazendo meus cálculos.

    Desde que me vi consciente resolvi que precisava ficar mais atento e, desde então, conto metodicamente os dias. No segundo dia fiz um balanço da comida, água, lenha, fósforos, velas, etc., e encontrei um suprimento abundante para pelo menos duas semanas. Naquelo momento, eu não esperava ficar mais do que alguns dias na minha prisão.

    Ou o inimigo ou nós mesmos ocuparemos a colina, disse a mim mesmo, porque é uma posição muito importante. E quem quer que agora detenha a colina será obrigado a cavar profundamente para mantê-la.

    Então, na minha opinião, era apenas uma questão de alguns dias até que a entrada ou a passagem fossem liberadas, e minhas únicas dúvidas eram se seriam amigos ou inimigos que me descobririam. Meu braço estava melhor, embora eu não pudesse usá-lo muito, e por isso passei o dia lendo um jornal velho que encontrei entre os suprimentos de comida e esperando a chegada de ajuda. Que tolo eu fui! Se eu tivesse trabalhado desde o

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