Genetica e Racismo
Genetica e Racismo
Genetica e Racismo
Juiz de Fora
2019
Michele das Graças Pacheco Gravina
Juiz de Fora
2019
Michele das Graças Pacheco Gravina
À Deus, por permear cada momento de minha existência com o dom do amor.
Aos meus pais, Rosa e José Maurino, pelo amor e dedicação e por se fazerem exemplos a me
guiar pelos caminhos do bem.
À Tia Ana, por me mostrar que conhecimento é liberdade. Obrigada por se fazer presente,
mesmo depois de partir.
Aos colegas de turma do PROFBIO, pela generosidade, pelas boas risadas e pelo
companheirismo durante a jornada. A companhia de vocês tornou tudo mais leve.
À Marina, pelas palavras de incentivo e pelo café que renovava o ânimo depois de horas de
aula.
Aos professores do programa, pelas valiosas lições e pela compreensão com nossas limitações
de tempo e energia. Em especial à Professora Simone Moreira, coordenadora do curso, sempre
solícita e paciente para resolver os inúmeros percalços burocráticos que surgiam.
À minha orientadora, Professora Michele Munk, por seu empenho e disponibilidade, por
acreditar em meu trabalho e pela sensibilidade no olhar para a educação pública.
À Professora Heloisa Bizarro, pela contribuição na qualificação e por aceitar compor a banca
de defesa.
Ao Professor Marcelo Santos, pelo incentivo para que eu participasse do processo seletivo, pela
avaliação inicial do projeto e pelas relevantes observações durante a pré-defesa.
Às amigas Dani e Marta, pela torcida, pelo apoio logístico, pelos sorrisos, por ouvir meus
desabafos e me darem o suporte emocional necessário quando o cansaço ameaçava me vencer.
Vocês não têm ideia do quanto são partícipes desta conquista.
À toda a comunidade escolar da EE Clorindo Burnier, por tornar possível a realização deste
trabalho.
Aos alunos, fonte de inspiração para que eu sempre queira dar o meu melhor. Em especial aos
que foram sujeitos desta pesquisa, pela participação engajada e generosa nas atividades.
No Brasil, apesar do mito da existência de uma democracia racial, os vários indicadores sociais
ainda apontam para uma diferença marcante entre as condições de vida das populações de
negros e brancos; além disso, as relações sociais apresentam-se muitas vezes marcadas pelo
preconceito e comportamentos racistas que são adotados e aceitos cotidianamente. Diante da
necessidade de garantir a igualdade entre todos os cidadãos brasileiros foram criadas leis tanto
para tipificar o crime de discriminação quanto para inserir a dimensão preventiva através da
educação - Leis 7716/1989 e 9394/1996, respectivamente. Considerando que ainda é persistente
a questão da discriminação racial e avaliando a legislação em vigor, entende-se como necessária
a intervenção das diversas áreas do conhecimento, dentro do âmbito escolar, no sentido de
prover os alunos de uma formação crítica e voltada ao respeito e valorização da diversidade e
dignidade de todo ser humano. Em especial, a biologia, a partir dos conceitos de classificação
e diversidade genética, pode ser uma valiosa ferramenta para ajudar os alunos da educação
básica a reformular suas concepções a respeito da definição de raça, capacitando-os a perceber
a inadequação do termo para populações humanas. O objetivo deste estudo é apresentar uma
nova sequência didática para a abordagem de alguns conteúdos curriculares relacionados ao
tema de genética no ensino médio, tais como herança poligênica (com ênfase na herança da cor
da pele em humanos), genética humana e identidade genômica das espécies. No trabalho aqui
proposto foram realizadas ações educativas e investigativas marcadas pelas relações de
interação para abordar a temática do racismo, utilizando conhecimentos biológicos para
investigar e desconstruir o conceito de existência de raças em humanos. Analisando os dados a
partir de elementos como anotações em diário de bordo, desempenho em prova, produção de
trabalhos e dados comparativos da aplicação de questionários antes e após a exposição à
sequência didática concluímos que o conjunto das atividades propostas melhorou
consideravelmente o entendimento dos alunos sobre os conceitos abordados e sobre a não
existência de raças biológicas em seres humanos.
In Brazil despite the myth of the existence of racial democracy, the several social indicators
still point to a significant difference between the living conditions of black and white
populations; in addition social relations are often marked by prejudice and racist behavior that
is adopted and accepted daily. In view of the need to guarantee equality among all Brazilian
citizens, laws were created both to criminalize discrimination and to insert the preventive
dimension through education - Laws 7716/1989 and 9394/1996, respectively. Considering that
the issue of racial discrimination is still persistent and evaluating the legislation in force, a
school intervention is needed, in order to provide students with a critical education focused on
respect and value of the diversity and dignity of all humans. In particular, biology´s concepts
of classification and genetic diversity, can be a valuable tool to help students of basic education
actively to reformulate their conceptions about the race’s definition, enabling them to perceive
the inadequacy of the term for populations human beings. The aim of this study is to present a
new didactic sequence to approach some curricular contents related to the subject of genetics
in high school, such as polygenic inheritance (with emphasis on the inheritance of skin color in
humans), human genetics and genomic identity of species . In this work, educational and
investigative actions marked by interaction relations which carried out to address the theme of
racism, using biological knowledge to investigate and deconstruct the concept of race existence
in humans. Analyzing the data from elements such as class diary, test performance, work
presentations and comparative data from the application of questionnaires before and at the end
of the study, we concluded that the set of activities proposed improved considerably the
students' understanding of the concepts addressed and the non-existence of biological races in
humans.
1 Introdução ...........................................................................................................................14
2.10 Fatores que atuam sobre a variabilidade genética das populações ................................ 36
3 Objetivos .............................................................................................................................48
Apêndice 4 – Questões relativas aos seminários incluídas na prova bimestral ............... 107
Apêndice 6 – Produto educacional: Roteiro para utilização da sequência didática ........ 111
14
1 INTRODUÇÃO
Atualmente a escola constitui-se em uma instituição que passa por profunda crise
de identidade, refletindo as tensões entre as expectativas que os diversos setores sociais
depositam nela. Afinal, qual é o papel da educação formal escolarizada em nossa sociedade?
Muitas vertentes podem contribuir para um processo educativo de tal monta e uma
das formas de estímulo à criticidade dos educandos é aproximá-los da maneira como os
conhecimentos científicos são produzidos. Para tanto, os alunos devem ocupar o protagonismo
de sua aprendizagem, superando a perspectiva puramente transmissional de ensino – chamada
de “educação bancária” por Paulo Freire (1987). Colocar os discentes em posição questionadora
deve tornar também o (a) professor (a) um pesquisador de sua prática, fazendo de sua sala de
aula um laboratório de observações. Este modo de ensinar é a base de uma metodologia
conhecida como pesquisa-ação (Tripp, 2005). Consonante a esta proposta podemos adicionar
também a participação do aluno como investigador que toma parte no processo de pesquisa e
produção do conhecimento. Tais abordagens classificam-se entre as metodologias conhecidas
como “ensino por investigação”, que, conforme Trivelato e Tonidandel (2015), podem
contribuir no esforço de aproximar os estudantes da cultura científica.
racial, os vários indicadores sociais ainda apontam para uma diferença marcante entre as
condições de vida das populações de negros e brancos.
Para Lima & Silva (2015), “a escola deve ser um espaço para a construção da
pluralidade cultural, social e estética, ajudando a desconstruir um padrão estético de beleza
herdado da cultura europeia branca”. Considerando essa prerrogativa do espaço escolar, “é
preciso dar visibilidade ao negro/a de forma positiva e desconstruir estereótipos, com ênfase na
história desse grupo étnico que até então foi negligenciada” (Anjos e Roxo, 2014). Em
contribuição a tais demandas, o ensino de biologia pode auxiliar no processo de combate ao
racismo ao trabalhar junto aos discentes os conceitos de: (i) identidade genômica – o Projeto
Genoma Humano revelou uma similaridade genética de 99,9% entre os seres humanos e (ii)
evolução humana – o caráter adaptativo do traço “cor da pele” permite uma alta variabilidade,
graças à ação da seleção divergente; o recente surgimento dos humanos aliado ao tamanho
populacional e às altas taxas de migração não proporcionam os requisitos para estabelecer um
16
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Neste texto apresentamos as inspirações teóricas que apoiam nossa visão acerca da
educação enquanto instrumento de crítica e transformação, seguidas pela caracterização da
pesquisa-ação como estratégia investigativa, além de um breve histórico acerca do ensino de
biologia no Brasil. Abordaremos também as bases legislativas atuais pertinentes à educação
para valorização da diversidade humana, os processos históricos geradores de desigualdades e
o papel das ciências biológicas no suporte às práticas racistas – no passado – e a visão atual,
que vai justamente em sentido contrário. Finalizamos destacando algumas possibilidades de
abordagem nas aulas de biologia.
estabelecidos. É neste sentido que o presente estudo busca nas ideias de Paulo Freire as bases
para uma prática de ensino que promova a autonomia intelectual do estudante, quando considera
que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou
a sua construção” (Freire, 2018). Para Freire, uma prática assim subsidiada deve estimular a
capacidade crítica do educando.
Em um ambiente escolar como o delineado acima a escola tem um papel que vai
além de apenas preparar para o mundo do trabalho, mas deve pretender também estimular o
protagonismo social através de uma educação crítica e participativa que, segundo Betto (2018),
“ só se desenvolve em sintonia com os processos reais de emancipação em curso e as reflexões
teóricas que fundamentam tais processos”.
Inspiradas por essa perspectiva pedagógica acima delimitada optamos por adotar na
realização deste trabalho abordagens metodológicas que proporcionassem aos discentes ocupar
a centralidade do processo ensino-aprendizagem.
19
Assim como outras disciplinas do ensino médio, a biologia tem sido abordada quase
que exclusivamente sob a égide do ensino transmissional, contrastando com toda a
dinamicidade que caracteriza esta ciência. Estudar biologia desta forma torna-se maçante e
desestimulante, pois limita-se à memorização de regras, nomes, conceitos etc. Não obstante a
percepção de professores de biologia sobre esta situação, práticas arcaicas do tipo “cuspe e giz”
continuam predominando nas salas de aula de todo o país. Para modificar este cenário é
imperativo que os professores busquem respaldo em novas metodologias de ensino, que
proporcionem aos alunos se apropriarem do conhecimento de forma a torná-lo significativo.
Exatamente na persecução deste objetivo é que o presente estudo busca nos elementos da
pesquisa-ação e do ensino por investigação a inspiração para delinear uma sequência didática
que confira ao aluno uma postura mais participativa no processo de construção de seu
conhecimento.
Uma das principais características que não foram incorporadas a este trabalho é o
direcionamento da pesquisa de forma coletiva, tendo em vista a necessidade de apresentação
prévia do projeto antes de sua execução. Logo, a proposição do problema a ser respondido
partiu individualmente da professora/mestranda e este fato compromete o modelo de agir
comunicativo, entendido por Franco (2005) como condição necessária de qualquer concepção
de pesquisa-ação.
Diante das questões discutidas, optamos por não classificar esta dissertação como
pesquisa-ação, como forma de evitar uma incorreção conceitual. Entretanto, pela natureza
22
Sasseron (2015) afirma que um ponto fundamental do ensino por investigação está
na intenção do professor em oportunizar o papel ativo de seu aluno na construção de
entendimento sobre os conhecimentos científicos. É a partir desta premissa, conjugada aos
princípios da pesquisa-ação, que idealizamos a sequência didática apresentada neste trabalho.
Sasseron (2015) destaca ainda que o ensino por investigação caracteriza-se por ser
uma forma de trabalho em que o professor tem como objetivo promover o engajamento da
turma nas discussões e, enquanto os estudantes travam contato com fenômenos naturais na
busca da resolução de um problema, exercitam práticas e raciocínios de comparação, análise e
avaliação inerentes à prática científica. Assim, admitimos que o tema da discriminação racial
seja uma questão com este potencial de engajar os alunos, visto que muitos deles podem já ter
sido vítimas ou, pelo menos, ter testemunhado tais situações em seu cotidiano.
Cada época traz os marcos de seu momento histórico nas diversas manifestações
sociais. Nas artes, na filosofia, na política, na ciência e nas práticas pedagógicas encontramos
ecos da situação socioeconômica, das ideologias em vigor, do cenário global e de quaisquer
elementos que permeiem a atividade humana. Assim, as políticas educacionais refletem
interesses e correntes de pensamento que se modificam ao longo do tempo. O ensino de ciências
e biologia no Brasil sofreu diretamente estas influências e, por conseguinte, também mudou
significativamente nas últimas décadas (Krasilchik, 1988).
Na década de 1970, como aponta Longhini (2012), o foco do ensino de ciências era
a experimentação e a vivência do método científico. As práticas eram marcadas pela
participação dos alunos na reprodução de experimentos a partir de um roteiro previamente
elaborado e que conduzia o estudante à redescoberta baseada na replicação de procedimentos.
Ao longo dos anos 1970, o ensino de ciências esteve fortemente influenciado pela
“concepção empirista de ciência, segundo a qual as teorias são originadas a partir da
experimentação, de observações seguras e da objetividade e neutralidade dos cientistas. O
objetivo principal das aulas referentes às ciências era a vivência do método científico pelos
alunos”. (Longhini, 2012).
Além disso, os anos 1970 compreenderam o período em que o Brasil estava sob
regime militar e em que várias mudanças foram implementadas na legislação educacional. Tais
mudanças sofreram forte influência de uma mentalidade tecnicista, alimentada pelo impacto da
revolução técnico-científica. Como apontado por Borba (2013), o ensino de biologia procurava
priorizar aspectos que capacitassem o educando para exercer determinadas funções técnicas:
Os anos 1980, por sua vez, foram caracterizados por proposições educacionais de
diversas correntes educativas, as quais refletiam os anseios de redemocratização da sociedade
brasileira (Borges e Lima, 2007). Pensar o ensino tornou-se permeado de ideias sobre crítica e
24
A partir dos anos 90, a educação científica passou a ser considerada uma atividade
estratégica para o desenvolvimento do país, um discurso compartilhado pela classe política, por
cientistas e educadores, independentemente de posicionamentos ideológicos. Esta ideia
apontava a existência de complexas interações entre a ciência e a sociedade; portanto, o simples
oferecimento de uma educação científica escolar não seria suficiente para a formação de
cidadãos capazes de lidar com as informações pseudocientíficas que invadiam a sociedade da
época. (Nascimento et. al., 2010).
Nascimento et. al. (2010) apontam também que, apesar de as propostas de melhoria
do ensino de ciências estarem fundamentadas numa visão de ciência contextualizada sócio,
política e economicamente, da segunda metade da década de 1980 até o final dos anos 1990, as
práticas de ensino continuaram de cunho informativo e descontextualizado, incutindo aos
estudantes a percepção da ciência sob a antiga ótica positivista, que denotava a neutralidade
como atributo da ciência.
A década de 1990 e os anos 2000 foram marcados por uma mentalidade de ensino
que conciliasse a formação acadêmica com a apropriação do conhecimento para o exercício da
cidadania, passando pela formação humana e valorização da diversidade, como apontam as
legislações deste período e que serão assunto da próxima seção.
2.5 LEGISLAÇÃO
• Art. 3º - dos princípios que devem reger a educação: o item XII estabelece a
“consideração com a diversidade étnico-racial” como um princípio norteador das ações
pedagógicas.
Além das leis supracitadas, as Diretrizes Curriculares Nacionais para educação das
relações étnico-raciais (2013) também servem como referência para o trabalho docente ao
estabelecer como princípio norteador o desenvolvimento da “consciência política e histórica da
diversidade, objetivando eliminar conceitos, ideias, comportamentos veiculados pela ideologia
do branqueamento e pelo mito da democracia racial”.
Por fim, a nova BNCC (MEC, 2018) – Base Nacional Comum Curricular -
estabelece competências gerais e específicas que o educando deve desenvolver, com mediação
do professor. Entre as competências gerais, dão suporte à tratativa da questão racial:
A questão que se apresenta nesta seção é: esse tipo de preconceito existe no Brasil
ou vivemos sob uma democracia racial?
Os dados acima ilustram uma enorme desigualdade entre as condições de vida entre
negros e brancos e é neste sentido que se considera que o racismo na sociedade brasileira é
estrutural, uma vez que a cor da pele converte-se em fator de risco para os indivíduos e
determina que o acesso a bens e serviços e o exercício de direitos seja restringido. Resta claro
que a população negra é a que mais morre, é a mais encarcerada e a que tem piores índices de
qualidade de vida.
Fonte: https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/frases-racistas-sao-pichadas-em-
muro-de-escola-em-juiz-de-fora.ghtml
Como veremos mais adiante, as causas das desigualdades evidenciadas não têm
origem biológica e não refletem nenhum tipo de hierarquia natural entre seres humanos. Logo,
faz-se necessário delimitar as condições conjunturais que culminaram com a configuração
social que presenciamos nos tempos atuais, proporcionando a percepção de que a organização
vigente é apenas recorte instantâneo de um processo que se iniciou há séculos atrás com a
colonização pelos portugueses.
Para que se possa entender como chegamos ao séc. XXI com uma sociedade ainda
tão desigual e discriminatória, precisamos buscar as raízes de nossa formação colonial e as
características desse processo; pois, como apontado por Bethencourt (2018), “determinadas
configurações de racismo só podem ser explicadas com a pesquisa de conjunturas históricas,
que precisam ser comparadas e estudadas no longo prazo”.
(Nascimento, 2016). Inicialmente, eles foram forçados a servir como mão de obra escravizada
nas plantações de cana de açúcar, sendo mantidos sob esta condição nos ciclos econômicos
seguintes transcorridos desde o período colonial (ouro, café).
Como o tratamento dispensado aos escravizados era brutal, a mortalidade entre eles
era alta e era necessário o aporte contínuo de grandes números de africanos trazidos através do
tráfico negreiro. Logo a população de negros superou a de brancos, como relata Bethencourt
(2018):
Se os negros vivem nas favelas porque não possuem meios para alugar ou
comprar residência nas áreas habitáveis, por sua vez a falta de dinheiro resulta
da discriminação no emprego. Se a falta de emprego é por causa de carência
de preparo técnico e de instrução adequada, a falta desta aptidão se deve à
ausência de recurso financeiro. Nesta teia, o afro-brasileiro se vê tolhido de
todos os lados, prisioneiro de um círculo vicioso de discriminação – no
emprego – e trancadas as oportunidades que lhe permitiriam melhorar suas
condições de vida. Alegações de que esta estratificação é “não racial” ou
“puramente social e econômica” são chavões que se repetem e racionalizações
basicamente racistas, pois o fator racial determina a posição social e
econômica na sociedade brasileira (NASCIMENTO, 2016 P. 101).
Décadas se seguiram com esse racismo velado da sociedade, que, fora do país
vendia a imagem de “democracia racial”, enquanto aqui dentro perpetuava e alargava a
distância originalmente estabelecida à força entre a senzala e a casa grande. Somente no século
XXI tímidas políticas afirmativas de direitos começaram a ser implementadas; necessárias,
porém ainda insuficientes para promover a igualdade nas condições de vida entre negros e
brancos (Nascimento, 2016). Entretanto, o aprofundamento destas questões foge ao escopo do
presente trabalho.
Por todo o processo histórico resumidamente aqui exposto, é preciso ter em mente
que o conceito de raça enquanto construção social é válido e necessário para direcionar políticas
públicas que visem corrigir as desigualdades salientadas. Entretanto, a fim de não naturalizar
estas diferenças, é importante que as pessoas saibam que não há nada biológico que determine
tais condições. Veremos nas próximas seções como a ciência já endossou o racismo e o que ela
tem a dizer atualmente a respeito do conceito de raças em seres humanos.
32
Ao lidar com a diversidade, nos mais diversos campos, existe uma necessidade
inerente ao ser humano de classificar os elementos que a compõem. Na biologia não é diferente
e o problema da Sistemática, em particular, é a diversidade biológica (Amorim, 2002).
Após a publicação de A Origem das Espécies (1859) por Charles Darwin, a ideia
de descendência comum começou a ganhar força e, no início do século XX, muitos sistematas
se debruçaram sobre o conceito de espécie a partir desta perspectiva. Até que, em 1942, o
ornitólogo Ernst Mayr formulou o conceito biológico de espécie: agrupamentos de populações
intercruzantes e que estão reprodutivamente isoladas umas das outras (Futuyma, 1998).
O conceito apresentado por Mayr tem sido amplamente adotado pelos biólogos,
entretanto, vários aspectos de sua definição requerem uma discussão mais detalhada.
existem vários conceitos alternativos para espécie e, para o leitor interessado em uma
abordagem mais aprofundada, recomenda-se a leitura da vasta bibliografia produzida por Ernst
Mayr.
Foi só em 1767 que Carl Linnaeus, em seu Systema Naturae, apresentou a primeira
classificação de seres humanos de caráter científico. Nesta obra, Linnaeus distinguiu quatro
raças principais e qualificou-as de acordo com o que ele considerava suas características
principais (Linnaeus, 1767 apud Pena, 2009):
Pena (2009) ressalta que embora Linnaeus e seus seguidores não tenham inventado
o racismo, eles o reforçaram e o legitimaram, fornecendo um modelo “científico” que o
referendasse. O autor ainda explicita os interesses econômicos que estavam subjacentes ao
crescimento das teorias “científicas” das raças:
34
As ideias produzidas ao longo dos séculos XVIII e XIX a partir dos pressupostos
citados foram reunidas sob a denominação de “racismo científico”, que afirmava que os
humanos eram divididos em raças biologicamente diferentes (Pena, 2009). De acordo com a
perspectiva tipológica, indivíduos que compartilhassem as mesmas características essenciais
seriam da mesma raça.
Um dos cientistas que realizou trabalhos determinantes neste campo foi o médico
Samuel Morton, que utilizava como metodologia a medição de crânios. De acordo com Gould
(2003), Morton iniciou sua coleção de crânios humanos em 1820 e, ao longo da vida, conseguiu
juntar mais de mil exemplares. O interesse de Morton era comprovar a hipótese de que uma
hierarquia racial poderia ser estabelecida objetivamente através das características físicas do
cérebro, particularmente no que se refere ao seu tamanho. Para inferir o tamanho do cérebro,
Morton utilizava sementes de mostarda para preencher os crânios e então anotava o volume em
metros cúbicos (Gould, 2003). Um resumo de suas medições pode ser observado na tabela 1:
Os dados de Morton foram reavaliados por Gould, que concluiu que havia
falsificações e acomodações evidentemente destinadas a confirmar crenças que Morton trazia
a priori. Nesta reavaliação não foi encontrada nenhuma diferença significativa entre as raças
(Gould, 2003).
Pena (2009) ressalta que a noção de inferioridade biológica dos negros escravizados
era tão arraigada naquela época, que até mesmo os abolicionistas acreditavam nela e defendiam
36
A publicação de A Origem das Espécies (1859) veio trazer uma nova forma de se
interpretar as variações entre os seres vivos, propondo a seleção natural como mecanismo
atuante sobre a variabilidade. Embora Darwin não conhecesse a origem da variabilidade a partir
das mutações, assumia que as diferenciações entre os seres vivos se deviam à interação entre
os indivíduos da população e o meio, sob a influência do mecanismo de seleção natural
(Futuyma, 1998). As ideias de Darwin tiveram profundo impacto sobre a maneira como o ser
humano interpretava o mundo e a si próprio. Uma das revoluções ideológicas promovidas no
bojo dessas transformações foi a substituição do pensamento tipológico pelo pensamento
populacional (Mayr, 1997, 2003). A partir desta nova visão, a variação deixa de ser percebida
como imperfeição ou desvio do “tipo ideal” para se tornar um atributo real das populações de
seres vivos. Ou seja, o pensamento populacional salienta a singularidade de todos os seres vivos
(Mayr, 1997).
Sobre esta variação podemos dizer que o processo evolutivo opera em duas etapas:
(i) as variações surgem nos indivíduos por mutação e (ii) as proporções destas variantes
(frequências alélicas) mudam de geração em geração. Tais variações precisam ser herdáveis
para que este processo aconteça (Futyma, 1998).
No caso de não ocorrerem tais mudanças nas frequências dos alelos, dizemos que
as populações estão em uma condição conhecida como Equilíbrio de Hardy-Weinberg; sob esta
condição de equilíbrio os acasalamentos devem ser aleatórios, a população deve ser grande o
suficiente e os fatores evolutivos – mutação, fluxo gênico, seleção natural e deriva genética –
devem estar ausentes (Shorrocks, 1980). Uma vez que os fatores evolutivos estejam presentes,
as frequências irão se alterar. Veremos resumidamente o efeito de cada um destes fatores sobre
a variabilidade.
2. 10. 1 Mutação
Podemos conceituar mutação como o processo pelo qual são produzidas novas
variedades, ou alelos, de um gene. Elas representam alterações (substituições, adições ou
deleções) que ocorreram ao nível de um ou alguns nucleotídeos na molécula de DNA
(Shorrocks, 1980). As mutações são, portanto, a fonte da variação. Entretanto, as mudanças nas
frequências gênicas pelo processo de mutação são pequenas, uma vez que as taxas de mutação
são muito baixas (entre outros fatores, graças aos mecanismos de reparo do DNA). Para que
haja uma alteração significativa nas frequências dos novos alelos inseridos por mutação, é
preciso que outros fatores evolutivos estejam atuando (Griffiths et. al., 2001).
Proposta por Darwin em seu livro A Origem das Espécies, em 1859 (Alfred Russel
Wallace chegou, independentemente, às mesmas conclusões que Darwin e enviou suas
formulações a ele um ano antes da publicação do livro), a seleção natural é a teoria central do
processo evolutivo (Futuyma, 1998).
De acordo com Shorrocks (1980), essa teoria estava baseada em duas observações
e em duas conclusões fundamentais:
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Observações:
Conclusões:
1. Destes fatos Darwin concluiu que existe uma competição ou “luta” pela
sobrevivência, na qual muitos indivíduos são eliminados.
2. As características dos indivíduos que são favorecidos neste processo de
eliminação são transmitidas à geração seguinte e às futuras.
Nesta luta pela sobrevivência, os organismos mais adaptados ao ambiente têm uma
probabilidade maior de sobreviver e transmitir suas características às próximas gerações. A esse
processo de sobrevida e reprodução diferenciais Darwin deu o nome de Seleção Natural, em
analogia à seleção artificial feita por criadores de animais e plantas. (Griffiths et. al., 2001).
fixação de um dos alelos (no caso de seleção positiva) ou na eliminação (se a seleção for
negativa). Frequências intermediárias podem ser mantidas através de um outro tipo de seleção
– seleção estabilizadora – em que a heterozigose é favorecida (Ridley, 2006).
Uma colônia iniciada por um pequeno número de fundadores sofrerá alguma perda
genética e alelos menos comuns serão mais difíceis de estarem representados na população. Se
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a população aumentar rapidamente em tamanho pode, através das mutações, restabelecer sua
heterozigosidade. Entretanto, se permanece pequena, a deriva continua a erodir sua
variabilidade genética (Futuyma, 1998).
Cabe ressaltar que a simples migração não implica em alteração das frequências
gênicas, pois os migrantes precisam ter sucesso reprodutivo na nova população (Futuyma,
1998).
O intenso fluxo gênico entre as populações humanas, aliás, é uma das fontes de
argumentação a serem levadas em consideração para a não distinção de raças em humanos,
dada a força homogeneizadora entre populações deste fator evolutivo (Templeton, 1999).
migração entre as localidades, o que introduz variação nas populações novamente e tende a
torná-las mais parecidas umas com as outras (Griffiths et. al., 2001).
Já em relação aos efeitos da seleção natural, Griffiths et. al. (2001) afirmam que
estes são mais variáveis e dependem se as mutações em questão são vantajosas ou não, de
acordo com o ambiente.
Essa variação nas populações pode ser medida, pois as mutações se acumulam com
o passar do tempo. Isso significa que uma das formas de se medir a variabilidade genética dentro
das populações e entre elas é quantificando o número de mutações (Cavalli-Sforza e Cavalli-
Sforza, 1998).
A pele humana pode apresentar uma ampla variedade de cores e gradações, indo do
branco ao negro. Esta variação é devida à presença de um pigmento quimicamente inerte e
estável, conhecido como melanina. Este pigmento é produzido nas camadas mais profundas da
pele e se distribui na sua superfície em forma de um mosaico. A melanina é, portanto,
responsável pelo polimorfismo mais evidente no fenótipo humano: a cor da pele. Entre outras
funções, como a retenção de nutrientes na pele, este pigmento desempenha um importante papel
na proteção contra a radiação ultravioleta (Costin e Hearing, 2007). Pesquisas sobre evolução
humana apontam que a desvantagem adaptativa ocasionada pela perda de pelos do corpo que
expunha a pele dos hominídeos ao sol, foi compensada pela produção de melanina (Caro, 2013;
Jablonski et. al., 2017). Vale ressaltar que essas mudanças ocorreram de forma independente,
mas a presença de melanina mitigou os efeitos adversos da diminuição de pelos.
Enquanto em modelos animais cerca de 350 genes foram identificados como exercendo
papel direto na pigmentação, em humanos apenas um pequeno subconjunto desses genes
mostrou relação com a determinação da cor da pele (Liu, 2015).
Crawford et. al. (2017) realizaram um amplo estudo em busca destes genes e encontraram
oito variantes em seis deles, que apontaram participação direta na pigmentação da pele:
SLC24A5 (do inglês, solute carrier family 24 member 5) MFSD12 (major facilitator
superfamily domain containing 12), DDB1 (damage-specific DNA binding protein 1),
TMEM138 (Transmembrane protein 138), OCA2 (oculocutanoeus albinism) e HERC2 (HECT
and RLD Domain Containing E3 Ubiquitin Protein Ligase 2). O estudo mostrou que os
polimorfismos encontrados e compartilhados por várias populações surgiram antes mesmo do
aparecimento do homem moderno. Além disso, os autores também encontraram uma alta
variabilidade nas populações africanas. Estes achados reforçam que as mutações para peles
mais claras ou mais escuras já existiam há muito tempo e, portanto, não podem ser consideradas
como condições derivadas do isolamento das populações, o que poderia ter levado à formação
das “raças”. A presença dessas variantes em diversas populações africanas também sugere que
a maior ou menor pigmentação eram ambas condições presentes primitivamente.
Os autores apontam ainda que estudos futuros podem encontrar outros genes envolvidos
na pigmentação da pele humana, ajudando a esclarecer a história evolutiva e o significado
adaptativo deste traço. Entretanto, o compartilhamento dos polimorfismos citados por diversas
populações e a estimativa de sua antiguidade vem sublinhar nossa similaridade herdada do
berço africano, ao contrário da perspectiva tipológica de raças diferenciadas que basearam as
teorias racialistas. Na próxima seção veremos que argumentos a biologia nos traz atualmente a
favor de nossa unidade enquanto espécie.
43
populações são grandes e conectadas pelo fluxo gênico a divergência será atenuada, o que é o
caso das populações humanas.
Pena (2009) explica que as diferenças físicas entre os grupos humanos de diferentes
continentes na realidade representam adaptações morfológicas ao meio ambiente, sendo assim
produtos da seleção natural agindo sobre um pequeno número de genes.
Após a conclusão do Projeto Genoma, outra fonte de dados veio a contribuir para a
questão ao revelar uma similaridade genética de 99,9% entre os humanos (Wheeler et.al., 2008).
Além disso, o contraste entre o número de genes até agora identificados com a determinação da
cor da pele – seis (Crowford et. al., 2017) - e o número total de genes revelado pelo Projeto
Genoma - cerca de vinte e cinco mil (Pena, 2009) - reflete o quanto essa variação fenotípica é
superficial.
45
A conclusão a partir do exame dos dados coletados por vários pesquisadores que
investigam a variabilidade genética humana é que somo diferentes, mas apenas
superficialmente, como apontaram Cavalli-Sforza e Cavalli-Sforza (1998):
Umas das primeiras questões que surge ao pensarmos em como tratar este assunto
nas aulas de biologia diz respeito à questão de que conteúdos abordar? Alguns vislumbres
podem se dar a partir do estudo da legislação (seção 2.4), entretanto, a leitura destes documentos
pode por vezes tornar-se ampla demais e acabar não provendo o professor com instrumentos
pragmáticos para planejar as aulas. Logo, o trabalho realizado por outros professores pode ser
de grande valia.
Fernandes (2015) sugere uma lista com alguns conteúdos que poderiam figurar no
planejamento de professores de biologia/ciências, dentre os quais destacamos: (i) o papel da
genética na formulação de questões racistas e suas descobertas recentes; (ii) histórico das teorias
raciais construídas pela biologia que deram base para a construção do racismo científico; e (iii)
discussão da utilização do termo raça como categoria social e política, importante para se
compreender os atuais conflitos existentes na sociedade brasileira.
Tão importante quanto definir “o que” abordar é pensar sobre “como abordar” o
assunto. Um ponto a se considerar ao decidir estas questões é que concepções prévias os alunos
trazem a respeito do tema. Goodman (2012) apud Hubbard (2017) aponta que as incorreções
mais comuns que os alunos e a população em geral acreditam são: (i) traços fenotípicos – como
cor da pele e textura capilar - podem ser utilizados para identificar diferentes raças; (ii) as
pessoas das supostas raças diferentes apresentam um grau elevado de diferenciação genética e,
(iii) as diferenças entre negros e brancos são explicadas biologicamente, e não social ou
culturalmente.
3 OBJETIVOS
• Elaborar uma sequência didática que permita aos alunos ir além da apreensão de
conceitos básicos da genética, estimulando o desenvolvimento de habilidades em contextualizar
tais conceitos em situações do cotidiano; analisar os conhecimentos científicos que norteiam a
questão do preconceito racial, além de refletir sobre a natureza do fazer científico.
• Pretende-se que a sequência seja passível de reprodução em escolas de diversas
realidades e que possa auxiliar a desconstrução do conceito de raças na espécie humana, com
consequente mudança de comportamento dos alunos em relação à discriminação racial.
49
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O cenário em que a sequência didática aqui desenvolvida foi aplicado foi a Escola
Estadual Clorindo Burnier, situada na zona norte da cidade de Juiz de Fora/MG. Os alunos
participantes pertenciam à turma 3EM1, que frequentavam as aulas no turno matutino. No início
do trabalho a turma era composta por 33 alunos, mas ao final analisamos dados de 28, devido
a evasões, transferências e faltas.
Uma vez divulgadas as questões cada grupo fez a sua escolha. Como Trivelato e
Tonidandel (2015) observam, para o ensino investigativo não é condição obrigatória que se
realizem atividades de experimentação, sendo que a comparação de narrativas históricas e a
análise de dados disponíveis para gerar uma conclusão também guardam elementos da prática
científica. Ao buscar responder as perguntas, os discentes precisaram estabelecer tais
comparações, entender processos, confrontar diferentes interpretações, tirar conclusões a partir
de evidências da literatura e divulgar o resultado de seus estudos aos pares.
Após a escolha dos temas, que ocupou praticamente uma aula de 50 minutos, na
aula seguinte iniciaram-se as apresentações, um grupo a cada dia. Os estudantes foram
estimulados a realizar pesquisas por conta própria, entretanto uma bibliografia básica também
lhes foi oferecida pela professora (Apêndice 3). Para avaliação dos mesmos, a professora
recorreu à prática de registrar as atividades em um diário de bordo. As observações procuravam
54
avaliar nos alunos as seguintes habilidades: (i) capacidade de trabalhar em grupo; (ii)
compreensão de conceitos; (iii) capacidade de síntese; (iv) coerência entre as evidências
acessadas e as conclusões apresentadas; (v) qualidade gráfica da apresentação e (vi) adequação
da expressão oral.
Quanto à organização temporal e espacial, cada grupo foi orientado a apresentar seu
trabalho entre 15 e 20 minutos, com 5 minutos abertos a perguntas. O tempo restante foi
aproveitado pela professora para realizar observações e correções necessárias. Para realização
destas atividades foi utilizada a sala de vídeo da escola e todos os grupos utilizaram de projeção
de slides em suas apresentações (Figs. 4 a 7).
55
Descrições mais detalhadas sobre as apresentações serão feitas na seção relativa aos
resultados.
Após a apresentação dos trabalhos na feira, na aula seguinte foi reaplicado o mesmo
questionário que eles haviam respondido antes de iniciar a sequência didática. Entretanto, os
respondentes agora foram 28 alunos, devido às evasões/transferências. O objetivo da aplicação
deste instrumento pós-teste foi verificar se o entendimento dos alunos acerca das bases
biológicas da variação na cor da pele e sobre as origens da desigualdade socioeconômica
mudaram após a aplicação da sequência. Os resultados foram plotados em forma de gráfico no
software Excel e comparados com os resultados da aplicação pré-teste.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
30
25
20
15
10
0
Sim Não
Como podemos ver no gráfico (Fig. 8), 100% dos estudantes mostraram ter
percepção sobre a existência de manifestações de racismo na sociedade brasileira. Ressaltamos
que, a princípio, julgávamos que haveria um percentual alto, mas não nesse patamar. A ideia
inicial era a de que seria necessário sensibilizar os discentes quanto à própria condição de
viverem em uma sociedade racista; entretanto, esse primeiro dado nos indicou que a etapa de
sensibilização deveria ir no sentido de propor uma reflexão sobre as consequências desse fato
e que fatores levaram à presente situação. Este realinhamento, logo de início, vem marcar uma
importante característica de nosso trabalho inspirada na pesquisa-ação: a constante readequação
de metas e estratégias, conforme apontado em Franco (2005). Assim, esse dado inicial subsidiou
a escolha das atividades a serem desenvolvidas na etapa de sensibilização.
Fig. 9 – Respostas dos alunos à segunda questão sobre a existência de raças em humanos.
Fig. 10 – Respostas dos alunos à terceira questão, sobre as bases biológicas envolvidas.
12 11
10
6
4
4
2 2
2
0
1 gene, 2 alelos 1 gene, vários vários genes Vários genes + Não respondeu
alelos ambiente
Na quarta questão, cujos resultados podem ser vistos na fig. 11, procuramos mapear
se os alunos atribuíam alguma associação, de cunho biológico, entre a cor da pele e outras
características físicas ou comportamentais. Esta questão foi colocada porque no cotidiano é
muito comum ouvirmos a associação de determinadas características físicas com tendências de
comportamento, provavelmente um resquício das teorias racialistas já discutidas anteriormente
62
(ver Gould, 2003; Bethencourt, 2018). Entretanto, pela forma como a pergunta foi formulada,
não nos foi possível, no primeiro momento, discernir se a associação feita pelos alunos dizia
respeito a características físicas ou comportamentais. Somente nas etapas seguintes pudemos
fazer esta distinção, que será devidamente mencionada quando apresentarmos as análises das
anotações do diário de bordo. Os resultados mostram que a maior parte (21 alunos) dos
estudantes não estabelece relação entre a cor da pele e outras características; entretanto, outros
12 alunos responderam que “sim” (Fig. 11).
Fig. 11 – Respostas dos alunos à quarta questão, sobre correlação entre determinadas
características e a cor da pele.
15
12
10
0
Sim Não
A última pergunta feita aos alunos visava apurar a quais fatores eles atribuíam as
diferenças nas condições de vida entre negros e brancos. A desconstrução do conceito biológico
de raça, como planejada por nós, passa por um entendimento das origens desta desigualdade a
partir das condições históricas que estabeleceram as bases da organização social hoje vigente.
Consideramos este um aspecto crucial do trabalho, pois apenas a compreensão de que não
existem raças no sentido biológico poderia fortalecer a ideia de democracia racial, quando nossa
intenção é outra. Nosso intuito é que a partir da biologia o educando possa alcançar um outro
patamar de análise da questão, redirecionando seu olhar para a dimensão social do conceito.
Fig. 12 – Respostas dos alunos à quinta questão, sobre as origens das diferentes condições de
vida entre negros e brancos.
25
20
15
10
5
1
0
Histórico/social Genetica
perguntas. À medida que foram participando e vendo os outros colegas falarem, os demais
foram ficando mais à vontade. Um fato bastante interessante é que, apesar de longo, foi
observado que os estudantes ficaram muito concentrados na exibição do filme, alguns
manifestando suas emoções, ainda que disfarçadamente. A dinamicidade do diálogo durante as
discussões após a exibição que se estabeleceu impossibilitou que todas as falas fossem anotadas,
mas apontaremos algumas participações marcantes, além da percepção da professora sobre o
grau de envolvimento notado na turma.
Uma das primeiras provocações foi solicitar aos alunos que descrevessem a “turma
203” do filme. A manifestação de todos convergiu para um adjetivo: “problemática”. A
professora seguiu solicitando que eles dissessem o que achavam que provocou a realidade
experienciada por aquela turma, ao que o Aluno 1 respondeu: “eles não querem estudar”. Nesse
instante uma outra aluna (Aluna 2) observa que “muitos dos alunos do filme estavam em
situação de conflito com a lei e que isso era desestimulante para eles”. Esta aluna ressalta ainda
que aqueles jovens chegaram naquele ponto porque faltaram políticas públicas de ocupação
saudável para os mesmos. A professora então indaga como eram os relacionamentos no âmbito
daquela turma, ao que o Aluno 1 responde: “eles escolhiam os amigos de acordo com as gangues
e as gangues eram definidas pela procedência de cada um”. Um outro aluno (Aluno 3) completa:
“eles andavam com quem era da mesma raça, tipo latinos com latinos, negros com negros”. A
professora então pergunta como eles reconheciam quem era da mesma ‘raça’. Vários alunos
juntos responderam que era pela aparência, citando características como olhos puxados, cor da
pele, jeito de se vestir. A professora então pergunta quais dessas características eles achavam
que era geneticamente determinada. O aluno 4 relata que a cor da pele e o formato dos olhos.
Ao que a professora novamente questiona: e quanto à roupa? E outros traços do
comportamento? Nesse momento as opiniões divergiram, com alguns estudantes afirmando que
os aspectos comportamentais dependiam da cultura do lugar, enquanto outros associavam, pelo
menos parcialmente à genética. O aluno 1, que no início estava bastante tímido, mostrou-se
muito participativo e novamente se expressou: “mas tem coisas que tem tendência genética sim,
como os negros. Eu sou negro, mas a gente vê que entre negros existe uma maior tendência a
cometer crimes. Eu não sou assim, mas é porque meus pais me ensinaram o certo e o errado”.
A aluna 5, que parecia querer participar já há muito tempo então disse: “Mas e se todos os pais
ensinassem isso? E será que todos os jovens ali do filme têm pai e mãe? Vimos que não, acho
que isso conta mais que do que a raça da pessoa.” As discussões ficaram um bom tempo em
torno dessas questões comportamentais, até que o sinal interrompeu a aula.
65
Em relação aos conceitos formulados na fala dos alunos, observou-se que vários
deles tinham em mente a existência de raças em humanos, atribuindo características típicas a
cada uma delas e apontando uma determinação biológica para tal. Percebemos também uma
confusão sobre a transmissão de características: os alunos não discerniram muito bem entre o
mecanismo de transmissão genética e cultural. A mesma dificuldade inicial de compreensão
dos mecanismos de hereditariedade foi também encontrada por Fala et. al. (2010), ao levantar
dados sobre os conhecimentos prévios à sua intervenção no ensino. Estas foram informações
importantes a se considerar na definição futura para os temas dos seminários.
um momento que chamou a atenção até das outras turmas da escola, que saíam ao corredor para
assistir. No final da dinâmica, como era esperado, as alunas que ficaram na dianteira eram
brancas; alunos negros ficaram em posições variadas mais atrás nas casas demarcadas. Ao
observar esta disposição, os alunos foram incitados a verbalizar suas opiniões de por que aquela
disposição final dos participantes ocorreu. Foi informado a eles que em várias aplicações deste
jogo os resultados eram sempre parecidos e foi bastante ressaltado o fato de que todos partiram
do mesmo ponto. Os alunos logo perceberam a relação entre as perguntas e como as respostas
a elas favoreciam determinados alunos, mesmo que eles não fizessem nada específico para
alcançar este resultado. As perguntas (Apêndice 2) evidenciavam diferenças na história de cada
um que influenciavam seu desempenho na prova. Por exemplo, a primeira pergunta, “Sua
família esteve presente na sua infância e adolescência?” já foi um filtro inicial. Alunos que eram
oriundos de famílias em que os avós precisavam trabalhar o dia inteiro (portanto com uma
condição socioeconômica desfavorável), geralmente eram filhos de pais jovens, que ficavam
muito tempo sozinhos. Isso implicava que esses pais não tinham a vida estruturada quando do
nascimento desses alunos e, portanto, também precisavam deixar os filhos sem
acompanhamento para poder trabalhar. É sabido que esta ausência dos responsáveis influencia
no acompanhamento dos estudos, o que acaba refletindo no desempenho escolar. Observando
a disposição dos colegas ao final do jogo, a Aluna 1 afirma: “agora entendi o nome do jogo,
estes da frente são privilegiados”. Então a professora pergunta às meninas que ficaram mais à
frente se elas se sentiam privilegiadas; a aluna 2 respondeu que “não, pois eu, como meus
colegas, só tenho acesso ao básico, sem luxos”. A aluna 3 disse se achar “um pouco
privilegiada”, relatando que a oportunidade de já ter morado na Itália ampliou seus horizontes
culturais e lhe permitiu aprender uma nova língua. O aluno 4 interpela a colega que disse não
se achar privilegiada: “como assim que você só tem o básico? Mesada, curso de inglês, um
quarto só seu. Pra mim isso é sonho! Básico lá em casa é ter comida e estar com o aluguel em
dia!”. A colega pondera que “você também tem o básico, porque tem comida e onde morar.
Então, na questão de estudo, se fizermos o mesmo esforço, teremos o mesmo resultado”. As
discussões seguem ampliando em como diversos fatores poderiam desencadear toda uma
cascata de pequenos benefícios que podem gerar uma grande diferença no momento de
concorrer por uma vaga no mercado de trabalho ou em uma universidade. À medida que as
conversas vão se desenrolando, podemos perceber que mesmo aqueles que discordavam entre
si o faziam de forma adequada e respeitosa para com o colega. A busca por explicações em
retrospectiva de porque alguns se sentiam mais preparados acabou remontando ao período
colonial e à diáspora africana. Um dos alunos, negro, fez uma interessante colocação:
67
“biologicamente eu sou tão capaz quanto meus amigos, tanto é que alguns africanos trazidos à
força pra cá eram reis ou chefes lá na terra deles, então alguns de nós tem origem até nobre. O
que fez que um descendente de um rei se tornasse um pedreiro, como meu pai? Foi o fato de
que meus ancestrais foram arrastados pra cá; senão hoje eu podia estar rico lá na África”. Este
comentário causou uma reação semelhante de epifania em alguns, que então começaram a
estabelecer uma linha cronológica de acontecimentos que resultaria nas atuais condições das
populações negras. Ressaltamos que esta segunda atividade, fortemente em diálogo com o que
eles haviam estudado em algum momento na disciplina de história, mostrou-se uma poderosa
ferramenta de compreensão acerca da desigualdade social no país. Esse caráter interdisciplinar
também é característica marcante do trabalho realizado por Anjos e Roxo (2014), que, apesar
de não nomear exatamente suas atividades com o termo sensibilização, obteve percepções
semelhantes acerca do envolvimento dos alunos e sobre as potencialidades deste tipo de
abordagem.
“Eu percebi que era negra durante um teatro na escola, no ensino fundamental.
Entre os vários personagens, tinham os anjos. Eu tentei fazer o papel de um
deles, mas um colega de classe disse que eu não poderia porque anjo tem que
ser branco, loiro, de olhos azuis e de cabelo bom, e que como eu era negra, só
poderia fazer papel de demônio”. (Depoimento retirado do portal
www.geledes.org.br).
Após a leitura deste depoimento, trazido pela aluna 5, foi preciso fazer um intervalo
nas discussões, pois alguns alunos mostraram-se abalados. Após o breve intervalo, dois alunos
negros quiseram compartilhar também suas experiências, fato que até então não tinha
acontecido. As transcrições seguem abaixo:
“Eu fui até o shopping levar meu celular para a assistência técnica. Logo que
passei na frente da loja percebi que o segurança ficou atento em mim. Quando
entrei ele ficou o tempo todo me seguindo. Foi uma sensação muito ruim”
(Aluno 6).
68
“Eu voltava da igreja com meus colegas, tinha ‘neguin’ como eu e tinha outros
rapazes, brancos. Avistamos uma ‘patrulhinha’ e assim que passamos por eles,
mandaram a gente parar. Só eu e mais um colega preto fomos revistados,
segundo o policial porque a gente usava boné. Mas eu sei que se estivesse com
o mesmo boné e fosse branco, eu não ia ser revistado. Sem contar que a revista
foi um ‘esculacho’ só” (Aluno 7).
A professora então perguntou ao aluno 7 se ele já tinha sido abordado outras vezes,
ao que ele respondeu: “tô acostumado a tomar geral”. Então a professora perguntou quem já
tinha sido abordado e todos que levantaram a mão eram alunos negros (embora nem todos os
negros tenham levantado a mão). Então o aluno 6 disse: “igual a cena do filme em que a
professora pergunta quem já tinha levado tiro, só o branquelo não levantou a mão”.
Esta terceira atividade tinha como objetivo provocar nos estudantes um exercício
de empatia, especialmente entre os alunos brancos. Pensamos que este exercício é necessário
porque, para além da aprendizagem do conhecimento biológico proporcionado na fase de
construção de conhecimentos, é preciso também desenvolver as habilidades de reconhecer as
próprias emoções e as dos colegas e exercitar a empatia, conforme destacamos ao comentar a
Base Nacional Comum Curricular (MEC, 2018). Pela seriedade com que os alunos encararam
este momento, consideramos que a estratégia atingiu os objetivos pretendidos.
Com a retomada das aulas os grupos foram formados e os temas escolhidos por
cada um deles. Alguns alunos, entretanto, não quiseram compor nenhum dos grupos. Uma aluna
por ter se desentendido com os colegas e outro aluno por motivos de saúde. Definidos os temas
e as datas de apresentação de cada grupo, iniciamos a fase de construção de conhecimentos
teóricos (aulas 9 a 15) a partir da apresentação de seminários pelos alunos, de acordo com o
descrito no item anterior.
70
O primeiro aluno (Aluno 1) do grupo iniciou com uma definição do termo para, em
seguida, explicar a importância da biodiversidade e mencionar a variável tempo e a ação da
evolução na produção da diversidade biológica, chamando atenção para os diversos níveis em
que essa diversidade pode ser percebida (molecular, morfológico, ecossistêmico). A Aluna 2
então fez uma explicação sobre classificação, listando as categorias taxonômicas de Lineu,
detendo-se com mais detalhes a duas delas: espécie e subespécie (equiparando as definições de
subespécie e raça). Foram citados exemplos de várias raças de animais e apontado o papel da
seleção artificial na geração dessas raças. Em seguida, a aluna afirmou que em seres humanos
“as coisas funcionam um pouco diferente, porque não tem seleção artificial e então todos podem
cruzar entre si, fazendo com que não se formem as raças’. Embora a afirmação careça de
aprofundamento teórico, podemos perceber nesta fala a noção, ainda que intuitiva, do papel do
fluxo gênico como força homogeneizadora das populações. Em seguida, o Aluno 3 comenta
sobre extinções de espécies e suas consequências. Finalmente, a Aluna 4 traz alguns dados
numéricos sobre os países com maior biodiversidade, citando o Brasil. Outro ponto destacado
pela estudante foi o papel dos museus para o estudo da biodiversidade, destacando as perdas
provocadas por acidentes como o incêndio no Museu Nacional (que havia ocorrido há apenas
2 dias). Em todas as colocações dos integrantes deste grupo não foram identificados erros ou
confusões conceituais. Apesar do nítido nervosismo, o grupo demonstrou bom domínio dos
conceitos, entendimento da importância de se conservar a biodiversidade, além de demonstrar
percepção dos processos geradores da biodiversidade. Este foi um ponto muito positivo, pois a
percepção da professora após anos de trabalho com este tema é de que os alunos têm muita
dificuldade em entender processos, geralmente percebendo a biodiversidade como uma
realidade dada, imutável e instantânea. A qualidade gráfica e adequação do vocabulário também
foram consideradas satisfatórias. Ao final, a professora apenas ressaltou o papel dos fatores
evolutivos mencionados, com a preocupação de não tornar o momento uma aula expositiva, o
que comprometeria apresentações futuras de outros grupos.
extremamente tímida, não conseguiu falar com desenvoltura, se atendo apenas a leitura de dois
slides: um com a definição de polimorfismo e outro com uma explicação sobre o papel das
mutações na geração destes polimorfismos. A seguir, a referida aluna mostrou uma ilustração
com tipos de mutações gênicas (inserções, deleções e troca de bases), porém não soube
descrever o que a figura mostrava. Cabe aqui a observação de que esta aluna sempre se mostrou
pouco participativa nas aulas e que tem uma aversão à exposição; de modo que devemos
considerar o quanto a situação estava sendo aflitiva para a mesma. Então a professora pediu
para que a próxima aluna – Aluna 6 – assumisse a fala. Esta aluna fez uma breve explicação
sobre o mecanismo de seleção natural, destacando o ambiente como fator a atuar sobre a
variabilidade. Interessante apontar que a estudante delimitou muito bem a condição inicial de a
variabilidade já existir a partir das mutações, destacando a aleatoriedade em detrimento do
direcionamento. Este ponto chamou bastante a atenção da professora, dado que em sua
experiência ao longo dos anos este é um dos erros mais comuns na formulação do conceito
pelos discentes. A aluna seguiu então explicando o conceito de adaptação. Neste momento
percebe-se uma confusão bastante comum entre os alunos, concebendo a adaptação apenas no
sentido de robustez física, não atentando para o aspecto primordial, que é a reprodução
diferencial. A apresentação segue com a Aluna 7 falando sobre como a variabilidade genética
se converte na diversidade de formas de vida, relembrando os processos de transcrição e
tradução. A exposição contemplou ainda que esta diversidade produzida a partir do nível
molecular precisava ser organizada, relembrando a questão da classificação, já mencionada pelo
grupo que havia apresentado na última aula. O aluno 8 assumiu a fala, voltando ao conceito de
espécie e situando o Homo sapiens no sistema de classificação de Lineu. A partir daí,
mencionou que nossa espécie, como todas as outras, também está sujeita à ação da seleção
natural e destaca que este fato ajuda a explicar a variação da cor da pele em humanos. O Aluno
9 continuou, ilustrando com o auxílio de mapas, a origem dos humanos na África e os
movimentos migratórios que se sucederam. Destacou o papel dos diferentes graus de radiação
em cada latitude e do papel adaptativo da cor da pele mediante estas variações ambientais. Esta
apresentação foi finalizada com a fala da Aluna 10 apontando que o número de genes
envolvidos nesta adaptação era muito pequeno e que esta variação era muito superficial, não
sendo um parâmetro adequado para dividir a humanidade em raças.
Este segundo grupo também contou com uma apresentação bem realizada por parte
dos integrantes, embora uma das alunas tenha apresentado muita dificuldade em se expressar.
Esta dificuldade foi percebida pela professora como uma peculiaridade da personalidade da
estudante, mas também ao não entendimento de como as mutações acontecem. No geral, os
demais integrantes se expressaram bem, utilizaram apropriadamente os slides, que foram
organizados em uma sequência coerente, embora eles tenham tido dificuldade para delimitar os
tópicos a serem abordados, refletindo na extrapolação do tempo previamente acertado.
O aluno 11 iniciou sua fala tentando abarcar uma parte que havia ficado designada
para um integrante desistente apresentar; este momento inicial foi de definição do termo
genoma e a explicação de que cada espécie tinha seu próprio genoma, sendo que o aluno
mencionou a necessidade de homologia entre cromossomos para que eles possam se parear
73
durante a meiose na formação dos gametas, correlacionando esta informação com o isolamento
reprodutivo. Em seguida foi realizada uma apresentação do Projeto Genoma Humano,
abordando um histórico, países envolvidos e objetivos iniciais. Em seguida, o Aluno 12
apresentou brevemente as descobertas, frisando o número de pares de bases, o número de genes
e o grau de similaridade entre os indivíduos da população humana – 99,9%. Este estudante
mostrava-se bastante nervoso por causa da desistência dos outros colegas e isto interferiu muito
em sua capacidade comunicativa. O Aluno 13 então traz algumas questões éticas, com
exemplos sobre como o acesso a estes dados poderiam servir de base para discriminação de
indivíduos. Menciona também as limitações da ciência ao apontar que a expectativa inicial dos
cientistas era de descobrir a partir dos dados do genoma a cura para muitas doenças, o que não
se concretizou quando da conclusão do projeto.
Como os discentes não estabeleceram nenhuma relação dos dados com a questão
racial, a professora questionou o que representava para eles o grau de similaridade genética
revelado pelo projeto. Como eles não responderam uma aluna que estava na audiência pediu
para falar, ao que a professora assentiu. A aluna em questão afirmou que “isso quer dizer que
somos muito parecidos; ou seja, não dá pra se falar em raças baseado em só 0,01% de
diferenças”. Ao retomar este dado, foi possível perceber que durante a apresentação,
provavelmente pelo nervosismo do aluno que apresentava, os colegas não se atentaram para
este dado. Agora, diante da fala da aluna, todos manifestaram bastante surpresa diante dessa
informação. Apesar de a conclusão do mapeamento ter acontecido em 2003, percebe-se que
uma grande parcela do público em geral, inclusive estes estudantes, não conhecem o que foi
revelado pelo projeto. Este parece ter sido o argumento que mais impressionou os discentes na
desconstrução do conceito de raças.
tipo de herança e citando alguns exemplos de traços transmitidos dessa forma. Chamou a
atenção a clareza que a aluna demonstrou acerca da complexidade por trás da manifestação de
um dado fenótipo, apontando, além dos efeitos do ambiente, as diferentes interações que podem
haver entre os genes envolvidos. Logo depois a Aluna 16 falou sobre os tipos de melanina e de
seu papel na proteção contra a radiação ultravioleta. A Aluna 17 então discorreu sobre os genes
(citou 5 genes, observando que ainda poderiam ter mais) envolvidos na determinação da cor da
pele, explicando em termos de efeito aditivo as diferentes combinações genotípicas possíveis e
o resultado na quantidade de melanina produzida. A estudante abordou também que a
característica cor da pele vem sendo usada para delimitar diferentes raças na espécie humana e,
neste ponto demonstrou uma não compreensão do mecanismo de herança envolvido, falando
em mistura de raças e evidenciando que entende as diferentes gradações na cor da pele como
resultado de uma mistura de genes, no sentido de diluição dos efeitos dos genes envolvidos.
Destaca-se que esta aluna tem um histórico de ser muito faltosa e em momento nenhum
procurou a professora para tirar dúvidas, como a maioria dos discentes fez durante a preparação
dos seminários. Quando questionada pela professora para explicar melhor como os possíveis
genótipos refletiriam nos fenótipos a aluna não conseguiu formular nenhuma resposta, ainda
que outra integrante do grupo tenha tentado auxiliá-la. Ficou claro que a aluna em questão não
participou da preparação para o trabalho, se limitando a comparecer no dia da apresentação.
Então a professora permitiu que a Aluna 15 respondesse, solicitando que ela complementasse
a resposta com o papel da seleção natural sobre a variação deste traço, ao que a discente
respondeu com bastante desenvoltura.
responder a nenhuma das perguntas. Como o estudo destas questões era primordial para o
entendimento da não existência de raças em humanos, neste momento, foi necessário recorrer
a uma aula expositiva. A opção por esta abordagem se justifica por não haver tempo suficiente
para que o grupo se apresentasse novamente em outra data, e porque a professora percebeu que
os integrantes não haviam estudado; logo, não teria como direcioná-los para organizar as
diferentes informações se eles não buscaram informação nenhuma.
Diante da postura deste grupo a professora precisou lembrar aos alunos que esta era
uma atividade a ser pontuada no bimestre e que forneceria os subsídios para um outro trabalho,
a ser apresentado na feira e pontuado no bimestre seguinte. Foram alertados também quanto às
suas responsabilidades diante da turma, uma vez que os conteúdos dos seminários seriam
cobrados na prova. Por fim, a professora destacou que nenhuma aprendizagem seria possível
sem que eles tivessem um mínimo de dedicação. O momento foi aproveitado também para
alertar o grupo seguinte quanto à seriedade destes momentos dos seminários.
Este grupo foi o que melhor utilizou os recursos gráficos, trouxe muitas citações e
conseguiu estabelecer uma contextualização que foi além dos conhecimentos biológicos.
Entretanto, ao final da apresentação, a professora questionou sobre a variabilidade dentro e
entre grupos populacionais, perguntando como esta configuração poderia ter se estabelecido.
Apesar de mencionarem elementos da genética de populações apropriadamente durante a
apresentação, os discentes não conseguiram perceber como aqueles mecanismos estariam
envolvidos na forma como a variabilidade se apresenta. Somente quando a professora
direcionou e fracionou as perguntas (“O que introduz uma nova variante na população?”; “Que
mecanismos podem fazer com que a variante aumente ou diminua a frequência?”; “Populações
em ambientes diferentes terão uma variação semelhante das frequências?”) eles conseguiram
responder adequadamente.
Destacamos que, embora seja necessário dar protagonismo aos alunos no processo
de construção de conhecimentos, a mediação dos professores (como na disponibilização dos
temas a serem escolhidos, a disponibilidade para tirar dúvidas e as intervenções durante os
seminários) é de fundamental importância em um processo de ensino por investigação, pois,
como apontam Trivelato e Tonidandel (2015):
De uma forma geral, podemos dizer que os altos índices de acertos na maioria das
questões nos dão uma forte indicação de que abordagens de ensino investigativas, como a
presente proposta, mostram-se eficazes na promoção da aprendizagem. Nossos dados nos levam
a crer que a associação de vários estímulos pode promover a aprendizagem a partir do exercício
de diferentes habilidades. Para preparar os seminários, os estudantes precisaram realizar busca
de informações, leituras, comparação de argumentos, síntese do que foi aprendido e estabelecer
comunicação efetiva através de linguagem adequada. Consideramos que estas práticas
proporcionam situações de aprendizagem bastante frutíferas, tendo em vista que os alunos que
mais acertaram cada questão foram justamente aqueles que prepararam apresentações sobre o
conteúdo cobrado em cada pergunta específica. Esses resultados corroboram com a “pirâmide
de aprendizagem” de Edgar Dale (Dale, 1969). Esse autor utilizava práticas pedagógicas que
favoreciam o aprendizado ativo e foi observado que alunos que participavam da pesquisa e
ensino de determinado tema tinham um melhor aproveitamento quando comparado a alunos
submetidos apenas a aulas tradicionais. Por outro lado, com exceção da questão 9, percebemos
que os estudantes obtiveram bom desempenho em todas as perguntas, indicando que assistir à
79
apresentação dos colegas também pode ter contribuído na aprendizagem dos conteúdos
relacionados.
Além disso, a forma como a busca por informações foi estimulada, a partir de
questões apontadas pela professora, coloca os alunos na perspectiva de como o conhecimento
científico é produzido, ao confrontá-los com diferentes narrativas históricas e com o conjunto
de dados produzidos pelos cientistas. A partir da análise destes dados eles precisaram fazer
conclusões e organizá-las de forma didática para a apresentação. Todos estes elementos estão
de acordo com a caracterização de Trivelato e Tonidandel (2015) a respeito do ensino por
investigação.
Quanto à questão 9, pensamos que dois fatores podem estar ligados ao baixo índice
de acertos: (i) a questão versava sobre o tema do grupo que fez apenas a leitura dos slides e a
breve explanação pode ter sido insuficiente, ainda mais considerando que a explicação foi
precedida por uma enérgica repreensão, o que pode ter interferido emocionalmente na
aprendizagem; (ii) a questão trazia no enunciado que fora elaborada para o programa de
ingresso da instituição, fator que normalmente deixa os discentes apreensivos antes mesmo de
ler a questão.
Fig. 14 – Apresentação em feira escolar dos estudantes do grupo 1 sobre Raças x DNA.
genética. Um dos fatores que parece ter comprometido um pouco o desempenho dos estudantes
foi a ansiedade, pois não estão habituados a este tipo de exposição. Estavam também muito
preocupados com a nota e com a presença da professora convidada. Estas observações não se
aplicam somente a este grupo, mas nos pareceu uma dificuldade coletiva. Isso nos indica que
mais trabalhos deste tipo precisam ser solicitados, em várias disciplinas, para estimular a
capacidade de expressão dos estudantes. Este grupo havia apresentado o seminário com o tema
de Identidade Genômica das Espécies.
Fig. 15 – Apresentação em feira escolar dos estudantes do grupo 2, sobre a percepção do racismo
na sociedade.
pessoas. Constatando que a maior parte das pessoas que entrevistaram era jovem como eles,
decidiram que a melhor maneira para atingirem seu objetivo seria criar uma página de
divulgação científica na rede social Instagram, nomeando o perfil de info_bio (Fig. 16).
Fonte: https://www.instagram.com/info_bio/
Fig. 18 – Apresentação em feira escolar dos estudantes do grupo 3, sobre o tema “Existem Raças
Humanas?”.
Fig. 20 – Apresentação em feira escolar dos estudantes do grupo 4, sobre Antropologia Criminal.
escolar, ao longo da semana que precedeu a apresentação, e revelaram as fotos, que foram
dispostas em um mosaico na parede da sala utilizada (Figura 23). Além das fotos penduradas,
também era projetada durante toda a apresentação uma sequência de slides com estas fotos.
Fig. 23 – Apresentação em feira escolar dos estudantes do grupo 5: releitura da obra Humanae.
Este grupo, que nos seminários teve um desempenho ruim ao tratar do tema Fluxo
Gênico e Estrutura Genética de Populações, continuou com dificuldades teóricas. Apenas a
Aluna 19 se apresentava, os outros integrantes participaram apenas na montagem do espaço e
da exposição. A proposta era a de motivar a curiosidade dos visitantes sobre porque existia tanta
variação na cor da pele e então explicar o que causava esta variação. No entanto, a Aluna 19
apenas se limitou a dizer que aquela variação não era representativa de uma divisão em raças.
Quando questionada o que motivava a variação observada, nem a aluna, nem os demais
integrantes souberam responder. Perguntados o que mantinha a identidade do Homo sapiens
enquanto espécie, permaneceram em silêncio. Perguntamos se o ambiente tinha relação com
aquela variação, responderam que sim, mas não conseguiram dizer como. Aqui nossa análise
foi muito clara, levando em consideração que a professora regente lecionava na turma há 3
anos, ao diagnosticar que as lacunas de aprendizagem eram resultado da total ausência de
preparação por parte dos alunos. O ensino por investigação pressupõe a participação ativa do
educando, que deve buscar, a partir da mediação dos professores, subsídios para responder aos
problemas propostos. Se não há essa busca, consequentemente não haverá aprendizado.
89
• Grupo 6 – Racismo Científico: este grupo, formado pelos Alunos 24 a 29, que
nos seminários abordou o tema Variabilidade Genética e Adaptação, veio com uma proposta de
evidenciar os erros e desvios dos trabalhos de craniometria de Samuel Morton. Para tanto,
realizaram uma simulação dos experimentos, utilizando caveiras de plástico e grãos de feijão
(Fig. 24).
Fig. 24 – Apresentação em feira escolar dos estudantes do grupo 6, sobre Racismo Científico.
mesmos grupos. Então a professora questionou por que este caráter é tão variável e o estudante
menciona o papel da seleção natural. Ele explicou sobre a origem dos hominídeos na África e
relacionou os movimentos migratórios a partir deste continente como fator importante,
relacionando a intensidade da radiação com a quantidade de melanina. Então, a professora
questionou se o nível de radiação provocou uma mutação que adaptasse a cor da pele à radiação,
ao que o aluno responde: “não, quando eles deixaram a África já existiam pessoas de coloração
diferente, a seleção atuou sobre variações já existentes. Então, as mutações aconteceram antes
mesmo da migração”. Logo depois, o Aluno 27 explicou que além do ambiente, através da
seleção natural, estão envolvidos na variação cerca de seis genes, que seguem um padrão de
herança quantitativa. A Aluna 28 assumiu a fala explicando que muitos interesses políticos e
econômicos estavam relacionados com a necessidade de se afirmar a inferioridade dos negros,
indicando as formas de colonização do Novo Mundo subsidiadas por mão de obra escravizada.
Finalmente, a Aluna 29 ressaltou que a ciência tem seus limites e que as pessoas que participam
da construção do conhecimento não estão imunes às ideologias e interesses que vigoram em
cada período histórico. Este foi o grupo que demonstrou maior capacidade organizativa,
criatividade, entrosamento e conhecimento teórico sobre as questões abordadas. Responderam
satisfatoriamente quando questionados e nos chamou a atenção a percepção dos estudantes
sobre o fato de a variabilidade ser uma condição pré-existente, sobre a qual a seleção natural
irá atuar. Este fato demonstra que os discentes alcançaram uma compreensão efetiva do
processo de seleção natural, quando é comum, até mesmo entre professores de ciências e
biologia, o equívoco de pensar neste processo como algo direcionado pelo ambiente, em vez
de selecionado. A análise do contexto histórico e social em que a ciência é produzida também
nos indica que os estudantes deste grupo ultrapassaram a mera memorização de argumentos,
demonstrando a capacidade de interpretação e leitura crítica da realidade vivida, ambas
habilidades norteadoras de abordagens como a pesquisa-ação (Teixeira e Neto, 2018) e da
educação crítica de que Freire (2018) e Betto (2018) falavam e que nos serviram como
inspiração.
autores, como Hubbard (2017) também se apoiaram na criação de momentos em que os alunos
deveriam compartilhar o conhecimento adquirido como estratégia de ensino por investigação.
25
20
15
10
5
0
0
Sim Não
25
20
15
10
5
0
0
Sim Não
12
10
8
8
4 3
2
2 1
0
1 gene, 2 alelos 1 gene, vários vários genes Vários genes + Não respondeu
alelos ambiente
As respostas à quarta pergunta estão demonstradas na figura 28. Com esta questão,
pretendíamos avaliar se os alunos atribuíam alguma ligação em nível genético entre a cor da
pele e outras características. Pela análise dos diálogos foi possível perceber que os alunos que
inicialmente responderam sim (12/33) tinham em mente características comportamentais.
Podemos perceber uma queda, de 12 para 4, de estudantes que acreditavam existir alguma
relação deste tipo. Logo, é possível hipotetizar que a sequência também contribuiu para que
mais discentes desconstruíssem este preconceito.
94
20
15
10
4
5
0
Sim Não
Na última questão (Figura 29), foi percebido que desde o começo os estudantes
entendiam as desigualdades entre negros e brancos como consequência de um processo
histórico. Somente um aluno atribuía tais diferenças à uma determinação biológica e no pós-
teste nenhum deles registrou essa percepção.
Este é um dado importante para nossa avaliação, pois uma abordagem puramente
biológica acerca do conceito de raça poderia levar os discentes a ignorarem a materialidade do
termo enquanto construção social. Por isso nossa preocupação em contextualizar as
informações teóricas do campo biológico a partir da interseção com a história (especialmente
ressaltada nas atividades de sensibilização); para que não houvesse um fortalecimento da ideia
equivocada de que vivemos sob uma democracia racial.
Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se
reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar. A boniteza de ser gente
se acha, entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar. Saber
que devo respeito à autonomia e à identidade do educando exige de mim uma
prática em tudo coerente com este saber (FREIRE, 2018 p. 60).
Além disso, durante todo o trajeto nossas percepções foram utilizadas para planejar
as atividades seguintes, como é preconizado por qualquer abordagem que pretenda aliar
pesquisa e ação, como indica Tripp (2005).
Anjos e Roxo (2014). Isso implica em um maior número de aulas envolvidas, para que haja
uma sensibilização devidamente adequada.
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103
5 – As diferenças nas condições de vida entre negros e brancos no Brasil têm origem:
( ) histórica/social
104
( ) genética
2 – Você considera que teve uma boa convivência com eles? Se sim, dê um passo adiante.
6 – Se você estudou a maior parte do ensino básico em escola pública, dê um passo atrás.
7 – Se você já teve problemas sem fazer amizades ou conseguir emprego em função de sua
aparência, dê um passo atrás.
8 – Se você já percebeu que as pessoas te trataram ou olharam diferente por causa da sua cor,
dê um passo atrás.
9 – Se você já ouviu piadas por conta da cor da sua pele ou por causa de seu cabelo, dê um
passo atrás.
12 – Se você encontra facilmente cosméticos para seu cabelo e cor de pele, dê um passo adiante.
13 – Se os seus erros já foram alguma vez atribuídos à sua cor, dê um passo atrás.
14 – Se você teve acesso a uma alimentação equilibrada durante seu crescimento, dê um passo
à frente.
15 – Se quando você vai procurar emprego sente que o que importa são apenas as suas
qualificações e habilidades, dê um passo à frente.
16 – Se você alguma vez foi a única pessoa de sua cor na sala de aula ou ambiente de trabalho,
dê um passo atrás.
17 -Se você tem folga nos feriados de sua religião, dê um passo à frente.
105
21 – Se você pode andar livremente, sem medo de ser confundido com um bandido, dê um
passo à frente.
22 – Se você já sentiu como se não houvesse uma representação real de pessoas de seu grupo,
dê um passo atrás.
1 – Links:
https://darwinianas.com/2017/01/17/existem-racas-humanas/
https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/genes-revelam-evolucao-da-cor-da-pele-rebatem-
teorias-racistas-21941459#ixzz5B2e1m9zr
https://nossaciencia.com.br/colunas/elite-brasileira-usou-ciencia-para-disseminar-preconceito-
racial/
https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2017/12/complexa-genetica-que-define-cor-
da-pele.html
https://super.abril.com.br/historia/ciencia-contra-racismo/
http://cienciahoje.org.br/artigo/abaixo-as-racas/
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/03/ciencia/1535974124_908508.html
https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/a-genetica-das-racas/
2 – Livros:
GOULD, S.J. A Falsa Medida do Homem. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 369 p.
PENA, S.D.J. Igualmente Diferentes. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009, 116 p.
3 – Revistas:
7 – (ENEM) Define-se genoma como o conjunto de todo o material genético de uma espécie,
que, na maioria dos casos, são as moléculas de DNA. Durante muito tempo, especulou-se sobre
a possível relação entre o tamanho do
genoma — medido pelo número de pares de bases (pb) —, o número de proteínas produzidas e
a complexidade do
organismo. As primeiras respostas começam a aparecer e já deixam claro que essa relação não
existe, como mostra a tabela abaixo.
10 –
“[...]O que posso ser por fora
Não determina o que há por dentro
Cor de pele, cabelo e crânio
Isso é velho pensamento
Cada ser é um indivíduo
E em seu DNA contido
Constitui um firmamento
Nem isto, nem aquilo. Maria da Saúde da Silva. Disponível em: http://cienciahoje.org.br/ciencia-e-arte-unidas-contra-o-
racismo/
109
O cordel acima é uma produção artística-cultural que trata da temática racismo e biologia. Sobre
este assunto, podemos afirmar, EXCETO:
Produto Educacional elaborado por Michele das Graças Pacheco Gravina, sob orientação da
Prof.ª Dr.ª Michele Munk, a partir da dissertação “O Ensino de Genética como Instrumento de
Combate à Discriminação Racial”, apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em
Ensino de Biologia em Rede Nacional/PROFBIO – polo UFJF, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Biologia.
112
1 INTRODUÇÃO
3.1 SENSIBILIZAÇÃO
Outras atividades podem ser utilizadas nesta etapa, como análise de discurso em
obras literárias e musicais. O importante é considerar os interesses dos alunos para engajá-los
nas atividades para que possam refletir sobre a problemática e possíveis intervenções.
• Aula 9 – definição dos grupos de trabalho: esta aula deve ser utilizada para
que o docente apresente os temas para os seminários e promova a definição dos grupos de
trabalho. Os temas especificados em nossa sequência estão listados na tabela 1 da seção
anterior; entretanto, os professores podem definir outras temáticas que melhor atendam às
peculiaridades de seus alunos, sendo que os temas aqui listados ficam a título de sugestão.
Sugere-se também que nesta aula seja fornecida aos alunos uma bibliografia básica (Apêndice
C), enfatizando, no entanto, que eles devem realizar pesquisas adicionais. O objetivo ao propor
aos estudantes a apresentação dos seminários é proporcionar uma vivência de maior autonomia
na construção dos conhecimentos teóricos, além de aproximá-los das metodologias e
linguagens da ciência, tendo em vista que o ensino por investigação é uma tônica desta
sequência. Deve-se observar que a atribuição dos temas deve ser feita de forma a levar os
discentes a adotar uma postura de pesquisa, análise, comparação e divulgação dos
conhecimentos produzidos pelos cientistas. Outras metodologias ativas podem ser utilizadas
pelos professores (sala de aula invertida, aprendizagem baseada em problemas etc.).
116
• Aulas 10, 11, 12, 13, 14 e 15 – apresentação dos seminários: este momento
em que os discentes apresentam as discussões e conclusões sobre os temas escolhidos para
apresentarem deve ter parâmetros claros de avaliação por parte dos professores, que precisam
estar atentos à cobertura mínima necessária para a compreensão da variabilidade genética
humana, no que diz respeito à determinação da cor da pele. Recomendamos que os docentes
interfiram o mínimo possível, a fim de permitir que os alunos vivenciem a utilização da
linguagem para comunicação de conhecimentos científicos. É necessário estar atento (a) à
correção conceitual e compreensão dos processos, tanto pelos alunos que apresentam quanto
pelos ouvintes. Aspectos nos quais os professores devem dedicar especial atenção são: os níveis
em que a diversidade se manifesta; como surgem novas formas alélicas e como elas se
expressam no fenótipo; como os mecanismos evolutivos atuam sobre a variabilidade; como
funciona a herança do tipo quantitativa (em especial no caso do caráter cor da pele); o papel da
seleção natural na evolução deste caráter; interesses econômicos e ideologias subjacentes ao
“fazer científico”. Caso os professores identifiquem incorreções ou tratamento insuficiente
destes tópicos recomenda-se que faça as intervenções que julgar necessárias.
APÊNDICES DO ROTEIRO:
A) QUESTIONÁRIO (PRÉ E PÓS-TESTE)
5 – As diferenças nas condições de vida entre negros e brancos no Brasil têm origem:
( ) histórica/social
( ) genética
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2 – Você considera que teve uma boa convivência com eles? Se sim, dê um passo adiante.
6 – Se você estudou a maior parte do ensino básico em escola pública, dê um passo atrás.
7 – Se você já teve problemas sem fazer amizades ou conseguir emprego em função de sua
aparência, dê um passo atrás.
8 – Se você já percebeu que as pessoas te trataram ou olharam diferente por causa da sua cor,
dê um passo atrás.
9 – Se você já ouviu piadas por conta da cor da sua pele ou por causa de seu cabelo, dê um
passo atrás.
12 – Se você encontra facilmente cosméticos para seu cabelo e cor de pele, dê um passo adiante.
13 – Se os seus erros já foram alguma vez atribuídos à sua cor, dê um passo atrás.
14 – Se você teve acesso a uma alimentação equilibrada durante seu crescimento, dê um passo
à frente.
15 – Se quando você vai procurar emprego sente que o que importa são apenas as suas
qualificações e habilidades, dê um passo à frente.
16 – Se você alguma vez foi a única pessoa de sua cor na sala de aula ou ambiente de trabalho,
dê um passo atrás.
17 -Se você tem folga nos feriados de sua religião, dê um passo à frente.
21 – Se você pode andar livremente, sem medo de ser confundido com um bandido, dê um
passo à frente.
22 – Se você já sentiu como se não houvesse uma representação real de pessoas de seu grupo,
dê um passo atrás.
1 – Links:
https://darwinianas.com/2017/01/17/existem-racas-humanas/
https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/genes-revelam-evolucao-da-cor-da-pele-rebatem-
teorias-racistas-21941459#ixzz5B2e1m9zr
https://nossaciencia.com.br/colunas/elite-brasileira-usou-ciencia-para-disseminar-preconceito-
racial/
https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2017/12/complexa-genetica-que-define-cor-
da-pele.html
https://super.abril.com.br/historia/ciencia-contra-racismo/
http://cienciahoje.org.br/artigo/abaixo-as-racas/
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/03/ciencia/1535974124_908508.html
https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/a-genetica-das-racas/
2 – Livros:
GOULD, S.J. A Falsa Medida do Homem. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 369 p.
PENA, S.D.J. Igualmente Diferentes. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009, 116 p.
3 – Revistas:
http://www.editorarealize.com.br/revistas/ceduce/trabalhos/TRABALHO_EV047_MD1_SA3
_ID1774_08062015234216.pdf. Acesso em: 26 ago. 2017.