Marcia Regina Padrini Careli

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A HISTÓRIA DA UMBANDA: RITOS E RITUAIS

CARELI, Marcia Regina Padrini1

RU: 2707221

RESUMO

Este trabalho apresenta a história da Umbanda, seus ritos e rituais a partir de pesquisa
bibliográfica realizada em livros de autores consagrados na comunidade umbandista,
que apresentam a Umbanda como religião brasileira, espiritualista, cristã e com
influências de matrizes africanas, que tem como objetivo praticar a caridade. A
Umbanda é uma religião com práticas democráticas de acolhimento, e defende a
igualdade entre pessoas e espíritos. Tem como fundamento a humildade, que é
necessária à prática da caridade. É uma religião ritualista por apresentar diferentes
ritos e rituais, que são semelhantes nos diferentes Terreiros de Umbanda, as
diferenças encontradas estão relacionadas com o local de origem de seus Guias
Espirituais.

Palavras-Chave: Religião, Umbanda, História, Ritos e Rituais.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta a História da Umbanda, destacando suas raízes


africanas e brasileiras, suas origens a partir da constituição de seus primeiros
terreiros, bem como a consolidação de seus diferentes ritos e rituais. Considerando
que a Umbanda prima pela autonomia de cada terreiro, apresentar as formas pelas
quais os diferentes terreiros praticam a religião, a hierarquia na prática religiosa, o
ingresso dos adeptos, entre outras informações relevantes, é necessário para
conhecer a organização dos terreiros e a história de sua constituição como religião. A
Umbanda tem tradição oral na transmissão de seus ensinamentos, dessa forma, é
importante destacar a maneira pela qual foram transmitidos os primeiros
ensinamentos e as instruções iniciais para a prática religiosa, e como a Umbanda se
consolidou como religião brasileira. Na história da Umbanda, também será destacada
a sua recepção por outras religiões e a forma pela qual é concebida pelos
umbandistas.

1Aluna do curso de Ciências da Religião do Centro Universitário Internacional UNINTER.


Trabalho de Conclusão de Curso
A História da Umbanda suscita diferentes interpretações sobre a data de sua
fundação ou anunciação, quanto às suas raízes africanas ou brasileiras, e a origem
de seus ritos e rituais, que muitos acreditam que são derivados de outras religiões de
matriz africana. Consideramos importante abordar essas questões para que os
umbandistas tenham clareza sobre a religião que praticam, a fim de evitar equívocos,
como também demonstrar às outras religiões e à sociedade os fundamentos dessa
religião. Dessa forma, através de consulta e análise de diferentes fontes
bibliográficas, este artigo busca caracterizar a história da Umbanda, tendo como
objetivo colaborar para reconhecimento dessa matriz religiosa em sua essência.

2. METODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica realizada a partir de livros sobre a história da Umbanda,


que são reconhecidos e referendados pela comunidade umbandista. Foram
analisados seis livros dos seguintes autores: Culmino (2010), Rivas Neto (1996),
Sarraceni (2008) e Trindade (2014, 1986 e 2015). Na comunidade umbandista,
quando a história da Umbanda vem à tona, são estes autores mencionados, os
umbandistas os consideram como pessoas autorizadas para falar sobre a Umbanda
e a sua história.
A análise do conteúdo dos livros foi realizada, num primeiro momento, em
leitura flutuante, a fim de criar familiaridade com o texto e os autores. Num segundo
momento, o texto foi analisado a partir dos seguintes critérios: história, ritos e rituais,
com a finalidade de encontrar congruências ou divergências entre os autores e as
informações adicionais que cada autor do livro apresentou.
A partir dessa análise, o livro de Sarraceni foi descartado, apesar de ser um
excelente livro com informações importantes para à Umbanda, não trata da história
da Umbanda e nem de seus ritos e rituais. Para o levantamento da história da
Umbanda, os livros de Culmino (2010), Rivas Neto (1996) e os três livros de Trindade
(2014, 1986 e 2015) foram suficientes e se completaram nas informações sobre seus
ritos e rituais. Em relação aos ritos e rituais da Umbanda, também foram analisados
os artigos de Guilouski & Costa (2012) e Prandi (1998, 1990), a fim de esclarecer
como os conceitos de rito e ritual são tratados pelos autores.

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A análise do conteúdo destes livros indicou congruência entre os autores
sobre a história da Umbanda, quanto às suas origens, data de fundação, entre outras
informações. Pode-se dizer que a história da Umbanda apresentada pelos autores é
a mesma, ou seja, apresentam datas idênticas de sua fundação, reforçam os nomes
de seus fundadores: Caboclo das Sete Encruzilhadas e Zélio Fernandino de Moraes,
os locais e situações presenciadas por suas testemunhas no ato de sua fundação. A
congruência de informações entre os autores confere veracidade às informações
apresentadas, é a mesma história contada por pessoas distintas, mas como um único
eixo de pensamento e sequência temporal na apresentação dos fatos apurados. Em
relação aos ritos e rituais da Umbanda, a congruência persiste entre os autores, com
algumas diferenças que não interferem na concepção dos umbandistas sobre a forma
de praticar a religião, mas indicam diferenças entre as nações africanas de origem das
entidades espirituais que comandam os trabalhos espirituais, reforçando que a religião
é brasileira e tem influência de matrizes africanas.

3. A HISTÓRIA DA UMBANDA

A história da Umbanda tem início em 1908, com um jovem chamado Zélio


Fernandino de Moraes de 17 anos, que tinha acabado de concluir o curso de
propedêutica, que atualmente corresponde ao Ensino Médio, e estava se preparando
para ingressar na Escola Naval. Naquela época, Zélio começou a ter alterações de
comportamento, que não tinham uma explicação plausível que justificasse essas
alterações. Num momento, Zélio ele estava bem e, logo em seguida, contorcia-se
abaixando quase até o chão, falava e andava como se fosse uma pessoa idosa
parecendo um escravo idoso. Em outros momentos, comportava-se como um animal,
as vezes ficava numa posição garbosa, gesticulando como se fosse um índio. As
pessoas que que tinham oportunidade de presenciar suas atitudes, ficavam
espantadíssimas e sem entender o que acontecia.
Os pais de Zélio, com receio de que o filho estivesse sofrendo de alguma
doença mental, o levaram ao Dr. Epaminondas de Morais, diretor do Hospício de
Vargem Grande e tio do Zélio. No hospital, Zélio ficou internado para ser observado
de perto. Após um período, o renomado psiquiatra chamou seus pais, a fim de informar
que Zélio não estava louco e pediu que o levassem a um padre. Como Zélio tinha um
tio que era padre foi levado até ele. O padre ao observar o comportamento de Zélio,

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ministrou um exorcismo, que não teve resultado nenhum, ou seja, as alterações de
comportamento ainda continuavam. O padre, tio de Zélio, solicitou a presença de mais
dois padres para fazer mais dois exorcismos, que não tiveram nenhum resultado.
Diante da ineficácia dos métodos aplicados ao Zélio, psiquiatria e catolicismo,
e o desespero dos pais, alguém sugeriu que as alterações de comportamento eram
coisas de espiritismo, e que o melhor era levá-lo para a recém-formada Federação
Espírita de Niterói, presidida por José de Souza. Na Federação, Zélio, que estava num
de seus transes, foi convidado a sentar-se à mesa dos trabalhos. A regra da
Federação era a de que após sentar-se à mesa, as pessoas não poderiam se levantar
até o final dos trabalhos. No entanto, Zélio sentou e logo se levantou, foi até o jardim
e voltou com uma flor branca dizendo “aqui está faltando uma flor” (Trindade, 1986).
Então, José de Souza, que era médium vidente, se dirigindo ao Zélio, perguntou o
nome do espírito que estava com ele. A partir daquele momento, teve início um
diálogo, de perguntas e respostas, entre José de Souza e o Caboclo das Sete
Encruzilhadas.
Depois de ser indagado por José sobre o seu nome, o espírito incorporado
em Zélio, respondeu, “sou apenas um caboclo brasileiro” (Trindade, 1986). José
comentou que o espírito estava vestido com vestes clericais, e o espírito respondeu
“o que você vê em mim é o que sobrou de uma existência anterior, na qual fui um
padre com o nome de Gabriel Malagrida” (Trindade, 1986), que foi acusado de
bruxaria, morto na fogueira pela Inquisição, por ter previsto e anunciado o terremoto
de Lisboa em 1755 (Trindade, 1986). O Espírito continuou falando “na minha última
existência física, Deus como um Pai misericordioso concedeu-me a honra de nascer
como um caboclo brasileiro” (Trindade, 1986). José insistiu perguntando o nome do
Espírito, que respondeu “já que eu tenho que ter um nome, digam que eu sou o
Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim”
(Trindade, 1986). Depois anunciou o mais importante “venho trazer a Umbanda, uma
religião que harmonizará as famílias, e há de perdurar até o final dos séculos”
(Trindade, 1986).
Diante dessa afirmação, José perguntou ao Espírito se já não existiam muitas
religiões, utilizando o Espiritismo como exemplo. O Caboclo das Sete Encruzilhadas
respondeu que o primeiro ensinamento da Umbanda é que Deus, como um Pai
portador de uma bondade sem fim, escolheu na morte um meio de nivelar
universalmente todas as classes sociais e etnias, todos se tornam iguais na morte.

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Depois indagou José sobre o porque não visitar os humildes trabalhadores do Astral,
que apesar de não terem sido pessoas de renomes e importantes na Terra. Afirmou
que no Astral, os espíritos evoluem por meio de ensinamentos e estão livres das
mazelas próprias da Terra. Esses espíritos também trazem importantes mensagens e
energias positivas do além. E ainda questionou José quanto a dizer não para a maioria
das ordens de espíritos, se são filhos do mesmo Deus.
Naquela época, em suas sessões de trabalho espiritual, o Espiritismo só
aceitava a presença de espíritos, que em vida foram pessoas famosas, cultas ou da
aristocracia, a presença dos demais espíritos era recusada. Importante destacar que
ao Espiritismo coube o registro e o estudo das primeiras manifestações de espíritos,
realizado por Allan Kardec, pseudônimo do cientista e educador francês Hippollite
Denizard Rivail. Em 1856, Kardec publicou as mensagens recebidas de vários
espíritos sob o título de O Livro dos Espíritos. Em 1864, publicou O Evangelho
Segundo o Espiritismo e em sequência, O Céu e a Inferno (1865) e A Gênese (1867).
Allan Kardec comprovou e documentou a comunicação com espíritos, já o Caboclo
das Sete Encruzilhadas democratizou e expandiu o contato com espíritos de todas as
ordens de espíritos existentes, numa verdadeira miscigenação de etnias e culturas.
No seu diálogo com José de Souza, o Caboclo das Sete Encruzilhadas
também disse que com aqueles que sabem mais nós aprenderemos, e com os que
sabem menos nós ensinaremos. A Aumbanda, denominação utilizada pelo Caboclo
para denominar a Umbanda, será a manifestação do espírito para a prática da
caridade, no sentido do amor fraterno. Caridade e amor fraterno são as principais
características da Umbanda, que tem como base o Evangelho de Nosso Senhor Jesus
e como Mestre Supremo o Nosso Senhor Jesus Cristo. No início, o Caboclo das Sete
Encruzilhadas utilizou a palavra Alabanda para denominar a Umbanda, depois trocou
para a palavra Aumbanda, que significa Umbanda. A palavra Umbanda tem origem
sânscrita e vem sendo utilizada desde os tempos Védicos, que significa Deus ao
nosso lado, ou do lado de Deus.
Na Umbanda, considera-se que fora da caridade não há salvação, e aquele
praticante que não estuda e nem se dedica ao labor mediúnico caritativo, não poderá
ser chamado de umbandista, mas simplesmente de simpatizante (Rivas, 1996). No
final de sua fala, o Caboclo das Sete Encruzilhadas ordenou que Zélio Fernandino de
Moraes o aguarda-se no dia seguinte, na casa dele as 20 horas, e que precisaria
apenas de uma mesa coberta com uma toalha branca e uma flor branca. O Caboclo

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disse que iria anunciar as normas e regras para a fundação de uma nova religião, na
qual todas as ordens de espíritos pudessem se manifestar, e trabalhar atendendo
espiritualmente as pessoas, por meio da intermediação de médiuns.
O encontro e diálogo entre José de Souza, da Federação Espírita de Niterói,
e o Caboclo das Sete Encruzilhadas é muito importante para a Comunidade
Umbandista, porque é o dia da anunciação de uma nova religião, a Umbanda. A
fundação da Umbanda ocorreu no dia seguinte ao diálogo, no dia 15 de novembro de
1908, na casa da família de Zélio localizada à Rua Floriano Peixoto, número 30, no
município de São Gonçalo das Neves, ao lado de Niterói, no estado do Rio de Janeiro.
O público presente na Federação Espírita de Niterói, no dia da anunciação da
Umbanda, espalhou a notícia sobre a fundação de uma nova religião. No dia da
fundação da Umbanda, compareceram à casa de Zélio Fernandino de Moraes
acompanhados de suas respectivas Entidades. Entidade é a denominação utilizada
para os espíritos que estão autorizados a, por meio da intermediação de médiuns, a
atenderem e socorrerem espiritualmente o público que frequenta as casas de
Umbanda.
Na noite seguinte ao diálogo, às 20 horas, pessoas formavam uma verdadeira
romaria em frente da casa de Zélio, esperando pelos acontecimentos da noite. No
interior da casa, estavam presentes os parentes de Zélio, seus tios que eram
sacerdotes católicos, desconhecidos e quase toda a Federação Espírita,
provavelmente na espera de confirmação ou não das palavras do Caboclo das Sete
Encruzilhadas. Zélio de Moraes ainda encarnado, numa entrevista, explicou como foi
a primeira sessão da Umbanda, realizada na forma que deveria ser praticada daquela
data em diante. Disse que o Caboclo das Sete Encruzilhadas se manifestou, por meio
da incorporação e, para comprovar a sua existência, curou uma pessoa paralítica,
termo utilizado na época, que estava presente, por meio de passe espiritual. Passe
espiritual é um ritual da Umbanda, no qual a Entidade incorporada no médium ministra
a sua força espiritual para melhora do corpo e da alma da pessoa que está atendendo.
O Caboclo pediu para que essa pessoa esperasse um pouco, porque ele subiria, ou
seja, interromperia a incorporação, para que outra entidade completasse o
atendimento. Após a sua subida, um Preto Velho de nome Pai Antônio desceu, que
significa que a Entidade incorporou no corpo de Zélio, e completou o atendimento de
cura.

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A partir desse dia, estava fundada a primeira tenda espírita da Umbanda, com
o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade. Assim como na imagem da
Santa, Maria ampara o Filho em seus braços, a Tenda seria o amparo para todos que
a ela recorressem. Em continuidade aos trabalhos, o Caboclo determinou que as
sessões seriam diárias, das 20 às 22 horas, com atendimento gratuito, obedecendo
ao lema, segundo o qual a gente deve dar o que de graça recebemos. Determinou
também que os participantes da Tenda deveriam atender ao público de uniforme
totalmente branco, confeccionado em tecido simples, complementado com calçados
brancos. A exigência do uniforme é uma forma de reafirmar a humildade que devem
ter todos os que trabalham espiritualmente, não permitindo nenhuma distinção entre
os participantes, e o branco representa a pureza de intenções que devem ter os
trabalhadores espirituais.
A notícia sobre a fundação da Tenda se espalhou muito rápido, o que
contribuiu para o aumento do número de pessoas que procuravam a Tenda, em busca
da cura de seus males. Naquela época, as pessoas sabiam que Zélio havia sido
internado com suspeita de problemas psiquiátricos, as famílias em situações
semelhantes, levavam seus parentes que estavam internados para a Tenda, para
saber se era doença mental ou mediunidade. No caso de doença mental, o paciente
recebia passe espiritual para limpeza de sua áurea espiritual, e retornava ao hospital
para dar continuidade do tratamento. No caso de mediunidade, os médiuns eram
curados de suas alterações de comportamento, e encaminhados ao desenvolvimento
espiritual.
O desenvolvimento espiritual é o nome do treinamento que os médiuns
recebem para treinar suas habilidades mediúnicas, para o atendimento espiritual e o
estudo que realizam sobre os fundamentos da Umbanda, a fim de conhecer melhor a
religião que praticam. Inicialmente, a mediunidade quando se manifesta costuma
provocar alterações no comportamento do médium, em função da ausência de
preparo para trabalhar com as Entidades que o acompanham. Testemunhas daquela
época contam que, com o passar do tempo, os próprios médicos enviavam ao Caboclo
das Sete Encruzilhada, os nomes dos pacientes internados para saber se era caso
mediúnico ou não. A cada atendimento, mais pessoas recorriam a Tenda, para as
sessões espirituais, nome determinado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, para
nomear os trabalhos espirituais, como também ensinou que o exemplo é a melhor
forma de divulgar e praticar uma doutrina como a Umbanda.

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Com o passar do tempo, Zélio já casado e pai de duas filhas, Zélia e Zilméia,
que costumavam ceder seus quartos para as pessoas em tratamento espiritual, que
precisavam de repouso, enquanto dormiam em esteiras no chão. A Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade, em seus atendimentos espirituais, continuava fazer curas
extraordinárias, como também apresentava fatos excepcionais, que eram difíceis de
explicar pela ciência e pelos conhecimentos disponíveis na época, quanto mais curas
realizadas, maior era o número de adeptos. Após dez anos de sua fundação, com
médiuns preparados e aptos a dirigir sozinhos uma sessão espiritual e o
desenvolvimento de outros médiuns, foram abertas outras Tendas Espíritas de
Umbanda.
As Tendas Espíritas abertas foram batizadas com os seguintes nomes: do
Nosso Senhor do Bonfim, de Santa Bárbara, de Nossa Senhora da Conceição e de
Cosme e Damião, entre outras. A Tenda de Nossa Senhora da Glória, em conjunto
com a Tenda de Nossa Senhora dos Navegantes, deu início aos trabalhos espirituais
com a Orixá Iemanjá, que era desconhecida na época.
No sincretismo, Iemanjá corresponde à imagem de Nossa Senhora, e o nome
Iemanjá era utilizado pelos descendentes de escravos. No entanto, como os escravos
eram naturais de diferentes nações africanas, a pronuncia de Iemanjá, assim como a
de outros Orixás, nome utilizado para denominar os Deuses nos países africanos,
sofre variações de pronuncia de acordo com a nação africana de origem.
Depois destas Tendas, foram criadas as Tendas se São Sebastião, de São
Jorge e de São Gerônimo, essa última era dirigida por Capitão Pessoa, reconhecido
como precursor do movimento Umbandista. Na época, muitos consideravam que
Capitão Pessoa era o fundador da Umbanda, mas os dados analisados indicam que
o Capitão foi preparado para assumir a direção de uma Tenda Espírita Umbandista
pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, que é o verdadeiro fundador da Umbanda.
A participação dos descendentes dos escravos africanos foi muito importante
para o desenvolvimento da Umbanda como religião, como também para a implantação
do Candomblé no Brasil, culto original das nações africanas. Na época da escravidão,
por conta da perseguição de seus senhores, que exigiam que eles praticassem a
religião católica, os escravos foram associando os Orixás que cultuavam com os
santos católicos, de acordo com suas características de personalidade e histórias de
vida. Dessa forma, começou o sincretismo cultural e de fé, no qual Santa Bárbara é
Iansã, São Jorge é Ogum, entre outras associações. A Umbanda, por trabalhar

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espiritualmente com todas as ordens de Espíritos, se constituiu como um abrigo à
cultura africana, que muito contribuiu para o desenvolvimento da Umbanda como
religião brasileira.
Na Umbanda, muito de seus rituais e saudações aos Orixás são resultados
da influência africana como, por exemplo a saudação de Saravá que surgiu a partir da
dificuldade de o escravo Banto pronunciar a letra L, o salve era pronunciado como
Salave, depois como Salava até terminar em Saravá, que é uma saudação
umbandista com muita força mística, como também o nome da dança praticada
durantes os trabalhos espirituais.
A Umbanda e a cultura africana têm muito respeito pela natureza e ao meio
ambiente, acreditam que são cuidados por Entidades e Orixás, que devem ser
reverenciados com oferendas a cada ano, para obtenção de força espiritual para os
trabalhos. As oferendas são objetos ou comida característica de cada Orixá que são
colocados na natureza, no lugar específico de cada Orixá, como cachoeiras, praia,
ravina entre outros lugares. No entanto, as oferendas devem ser removidas após o
oferecimento e trabalho, com o intuito de não poluir e nem comprometer o local em
que a oferenda foi realizada.
A Umbanda e suas práticas rendiam notícias de interesse coletivo, que foram
publicadas nos jornais da época, como o Seminário, a Última Hora entre outros
(Trindade, 1986). O primeiro livro publicado sobre a Umbanda foi O Espiritismo, a
Magia e as Sete Linhas da Umbanda, de autoria do jornalista Antônio Eliezer Leal de
Sousa, assíduo frequentador da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, o livro foi
publicado no ano de 1924, editado pela Editora do Conhecimento, localizada no
estado de São Paulo (Trindade, 1986).
Outro registro importante da história da Umbanda consiste na gravação, em
fita cassete, das sessões espirituais da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade,
gravadas por Lília Ribeiro, assídua frequentadora da Tenda e contemporânea de Zélio
de Moraes, que renderam um registro histórico dos trabalhos da Tenda, como também
o registro da história da Umbanda no Brasil. Esse material foi doado para o jornalista
Diamantino Fernandes Trindade, que é o fiel depositário desse acervo, que o utilizou
para publicar os livros História da Umbanda no Brasil (1986) e A Umbanda nos Jornais
do Rio de Janeiro (2014). Atualmente, a Umbanda é tema de diferentes livros e artigos
científicos, como por exemplo o livro de Culmino (2010) e o artigo de Prandi (1988).

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A Umbanda também é praticada em vários países da Europa, nos Estados
Unidos e em diferentes países como, por exemplo, Japão, Colômbia, Paraguai,
Argentina e Uruguai. No Uruguai, a Umbanda é considerada como religião brasileira
e como tal, solicitam que as Tendas do país sejam afiliadas a uma Federação
Umbandista Brasileira. A ampliação das fronteiras da Umbanda para fora do país,
traduz a consistência dessa religião que, desde a sua fundação abriga e trabalha com
diferentes ordens de espíritos e agora acolhe pessoas de diferentes países.
Durante a vigência do Estado Novo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1937
e 1945, a Umbanda foi enquadrada na Seção Especial de Costumes Diversos, do
Departamento de Tóxicos e Mistificação do Rio de Janeiro, essa seção tratava de
assuntos relacionados com drogas, álcool, jogos e prostituição. Além da Umbanda,
também foram enquadrados o Kardecismo, as religiões Afro-brasileiras, a Maçonaria,
entre outros. Os grupos incluídos nessa seção sofreram perseguição policial, e foram
vítimas de extorsão em troca de proteção policial. Naquela época, os policiais se
referiam à Umbanda como macumba num sentido pejorativo, acreditavam que a
religião tinha ligações com a subversão, acobertando grupos comunistas. O
enquadramento destes grupos na seção de Costumes Diversos só terminou em 1964.
O uso da palavra macumba para designar os praticantes da Umbanda é
pejorativo, porque popularmente a palavra também é utilizada para nomear trabalhos
de magia negra, que tem a intenção de prejudicar as pessoas. Na verdade, macumba
é o nome de uma árvore africana, muito alta e com muitos galhos largos, que produz
no solo, ao redor de seu tronco, um espaço agradável para a reunião de pessoas,
protegido do sol e da chuva. Na África, quando as pessoas falam que vão para a
macumba, significa que irão se reunir ao redor da árvore, quer por lazer ou para
estudar a religião e os Orixás.
Em relação à perseguição contra os umbandistas e aos frequentadores de
religiões Afro-brasileiras, cabe destacar que o preconceito ainda persiste atualmente.
O preconceito a essas religiões está ligado a diversos fatores. O primeiro deles, está
associado com cor das pessoas que as praticam, a maioria de seus praticantes são
de etnias de pessoas com a pele parda e preta. O segundo fator está relacionado ao
grau de escolaridade e de renda, as pessoas acreditam que seus religiosos têm baixa
escolaridade e vivem com renda mínima. O terceiro fator está relacionado com a
crença que as religiões Afro-brasileiras tem como único propósito fazer trabalhos de
magia negra para conseguir o que querem, as custas de prejuízo para terceiros que,

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para esse propósito fazem parceria com demônios para conseguir o que desejam. Ao
associar esses três fatores, podemos dizer que a maioria das pessoas acredita que
os praticantes da Umbanda e de religiões Afro-brasileiras são pessoas de cor parda e
preta, com baixa escolaridade, vivendo com poucos recursos, que costumam
prejudicar as pessoas ao se associarem ao demônio.
O preconceito e a intolerância religiosa, aliados à falta de conhecimento sobre
as religiões, não é exclusividade da Umbanda e de outras religiões Afro-brasileiras.
Nas sociedades contemporâneas a intolerância a tudo e a todos, infelizmente,
representa uma das suas características, por falta de informação as pessoas atacam
os seus próximos, sem saber exatamente porque estão atacando.
Em relação à Umbanda, cabe esclarecer que quando o Caboclo das Sete
Encruzilhadas anunciou que trabalharia com todas as ordens de espíritos, incluiu
também em sua afirmação os seus praticantes. A Umbanda acolhe e socorre a todos,
sem distinção de etnia, cor, grau de escolaridade, renda, preferência sexual, entre
outros atributos utilizados para excluir e discriminar as pessoas que são diferentes de
nós.
A associação da Umbanda e das religiões Afro-brasileira com magia negra é
indevida, e revela a falta de conhecimento da população sobre as religiões praticadas
no país. Acreditamos que o ensino das religiões deve ser reforçado nas instituições
de ensino, a fim de diminuir o preconceito e a intolerância religiosa por meio da
educação. As práticas de magia negra pertencem a outro universo de conhecimento
e de prática, muito distante da Umbanda, das religiões Afro-brasileiras, e de outras
religiões.
A Umbanda foi fundada para a prática da caridade, da humildade e do estudo
sobre as relações entre os planos espiritual e material. É uma religião brasileira e
cristã, que considera Nosso Senhor Jesus Cristo como o ponto inicial e de retorno de
nossa jornada pela Terra.
Considerando a necessidade de fortalecer a Umbanda como religião,
lideranças de grupos umbandistas organizaram o primeiro congresso de Umbanda no
Rio de Janeiro, no ano de 1941, com o objetivo de fortalecer e unificar a prática da
Umbanda numa religião única. O segundo congresso foi realizado no ano de 1961, no
qual foi lançado o hino da Umbanda, de autoria, letra e música, de José Manoel Alves.
O hino representa um ponto de convergência de todas as Tendas de Umbanda no
Brasil, todos os umbandistas conhecem a letra e a música do hino, que é cantado em

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ocasiões especiais com a finalidade de celebração e firmeza de fé. A Umbanda foi
oficializada como religião brasileira, no dia 18 de maio de 2012, por meio da Lei
12.644. Atualmente, a Umbanda consta na lista de patrimônio imaterial do Rio de
Janeiro.
A história da Umbanda, desde sua anunciação até a sua fundação, como
também os seus desdobramentos posteriores, é apresentada pelos autores Culmino
(2010), Rivas (1996), Sarraceni (2008) e Trindade (1986, 2014, 2015). A análise dos
livros desses autores, indicou congruência entre as informações e datas apresentadas
da história da Umbanda. Observa-se concordância unânime entre as informações,
sendo que as diferenças encontradas se referem a fatos ocorridos que só
acrescentam outros dados à história.
De acordo com esses autores e complementando com as informações de
Prandi (1988, 1990), pesquisador sobre a Umbanda e o Candomblé, podemos afirmar
que a Umbanda é uma religião genuinamente brasileira com influência de matrizes
africanas. Religião espiritualista e cristã, que prática a caridade ensinando seus
praticantes sobre as relações entre os universos espiritual e material. O fundador da
Umbanda é o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que apresentou seus fundamentos,
ritos e rituais, praticados até hoje pelos umbandistas do país. Os praticantes da
Umbanda representam a diversidade cultural, étnica, social, econômica, de
conhecimento entre outros adjetivos, que correspondem aos da população brasileira.
A Umbanda é uma religião democrática, porque acolhe a todos sem distinção,
tanto espíritos como pessoas, que prega a humildade como um princípio de vida. A
Umbanda está fundamentada na crença de que a intermediação entre pessoas e
espíritos colabora para o bem-estar e saúde de todos, como também que a educação
espiritual colabora para o desenvolvimento das pessoas.

3.1 UMBANDA: RITOS E RITUAIS

Na Umbanda os ritos dizem respeito aos conceitos que embasam a prática


umbandista por meio de seus rituais. Em outras palavras, o rito é a teoria e os rituais
são a teoria colocada na prática. As orientações do Caboclo das Sete Encruzilhas são
consideradas como ritos da Umbanda. Ao dizer que a Umbanda acolhe a todas as
ordens de espíritos e diferentes pessoas, esse rito significa que a religião não
discrimina ninguém, nem espíritos e nem pessoas. Na Umbanda todos são iguais, e

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uma boa forma de deixar todos os umbandistas semelhantes é a adoção do uniforme,
se todos são iguais, a vestimenta para o trabalho deve ser a mesma para todos, o uso
do uniforme branco é um dos rituais da Umbanda.
O uniforme branco é uma homenagem ao Nosso Senhor Jesus Cristo, que a
Umbanda tem como seu líder Maior. Todos são iguais e estão juntos na fé em Nosso
Senhor. Durante os trabalhos espirituais não é permitido o uso de relógios, brincos,
pulseiras e outros adereços, com exceção das alianças de noivado e casamento, que
possam diferenciar seus praticantes. A permissão para o uso de aliança está baseada
em costumes da época de sua fundação, a intenção era não provocar atritos entre os
casais participantes. O rito é que a Umbanda cultua a humildade e a igualdade entre
seus participantes, que são condições necessárias para a prática da caridade. O uso
do uniforme é só destinado aos médiuns participantes dos trabalhos.
O atendimento espiritual na Umbanda consiste na conversa entre os
participantes e os Orixás ou Guias, palavras sinônimas usadas para designar os
espíritos que trabalham na Tenda, que estão incorporados nos corpos dos médiuns.
A natureza do atendimento passa por questões de saúde, aconselhamento em
questões da vida diária e a limpeza espiritual dos participantes. A Umbanda considera
o uso de calçado branco como uma proteção aos médiuns e participantes, porque ao
fazer a limpeza espiritual, o material retirado dos participantes fica alocado no chão
da Tenda, e pode provocar problemas tanto aos médiuns como aos participantes.
No início dos trabalhos espirituais, são entoadas canções, que tem o nome de
ponto, em homenagem e louvor aos Guias Espirituais que comandam a Tenda. As
canções têm o nome de ponto, porque representam um ritual de firmeza e de
aproximação aos Guias. Em algumas Tendas, os pontos são acompanhados pelo
toque dos atabaques e, na falta de um Ogã, médium que tem o dom para tocar
atabaque, os participantes acompanham os pontos com palmas.
Na Umbanda, outro rito importante é a reverência aos Guias Espirituais por
meio de rituais de dança, que tem o nome de saravá. O saravá é uma dança específica
da Umbanda e do Candomblé, que além de ser uma reverência aos Guias, também
tem a finalidade de retirar do corpo dos médiuns todas as influências espirituais que
possam prejudicar o atendimento. O saravá é realizado sob o som dos pontos
cantados ou tocados no atabaque.
Os trabalhos são gratuitos, porque devemos oferecer de graça o que
recebemos de graça. Os trabalhos espirituais são denominados com diferentes nomes

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com sessão culto, entre outros, mas sempre com o mesmo significado, a prática da
caridade. Na Umbanda, após os procedimentos iniciais de entoar os pontos, defumar
o ambiente, acender velas aos Guias, as saudações para Jesus Cristo e aos Guias,
os participantes rezam para Nosso Senhor e aos Guias agradecendo a ajuda e a
proteção recebida, como também pedindo que os trabalhos transcorram da melhor
forma possível e na paz de Cristo.
A reverência aos Guias e a Nosso Senhor Jesus Cristo, assim como a
obediência aos seus ensinamentos são rituais do rito que diz que aprendemos com
os que sabem mais e ensinamos os que sabem pouco. A Umbanda considera que os
Guias Espirituais tem maior vivência e sabedoria do que os encarnados, porque
recebem ensinamentos, antes de iniciar sua missão de caridade nas Tenda de
Umbanda. O ensinamento sobre a Umbanda e a vida espiritual, assim como sua
prática, são transmitidos aos médiuns em sessões destinadas exclusivamente ao
ensinamento e preparo dos médiuns. Outro ponto da prática da Umbanda é a
disciplina exigida dos médiuns durante os atendimentos. A disciplina tem a finalidade
de coibir atitudes que não representam os ensinamentos do Caboclo das Sete
Encruzilhadas, como também os que não estão no rol de ritos e rituais da Umbanda.
As tendas espirituais da Umbanda podem ser denominadas de diferentes
formas, como por exemplo de Centro, Casa, Terreiro, entre outras, de acordo com a
cultura dos Guias que comandam a casa. A organização espacial dos Terreiros
consiste num altar, no qual estão as imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos
Guias que estão à frente do comando espiritual do Terreiro, entre outros objetos de
firmeza espirituais significativos aos seus participantes. Os atabaques ficam ao lado
do altar ou no fundo, dependo do espaço do Terreiro. Os atabaques têm panos ao seu
redor e no topo, nas cores dos Guias Dirigentes do Terreiro.
Em relação às imagens utilizadas na Umbanda, muitos terreiros adotam o
sincretismo entre os Santos e os Guias. Dessa forma, Nossa Senhora é Iemanjá, São
Gerônimo representa Xangô, Santa Bárbara é Iansã, entre outros. O nome do Terreiro
ou Tenda é determinado pelo Guia Espiritual responsável pelo atendimento espiritual
e a formação dos médiuns, como Terreiro de Xangô e Iansã, entre outras
denominações.
A Umbanda considera que os médiuns, são pessoas com habilidades
mediúnicas, que permitem o intercâmbio entre o médium e o Guia, são orientados por
Guias específicos, que assumem o papel de pai e mãe espirituais do médium,

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responsáveis pela orientação, proteção, ensinamento e preparo do médium para a
prática da caridade. É costume na Umbanda que os médiuns usem guias de proteção
e de trabalho, confeccionadas com miçangas nas cores de seus pais de cabeça e dos
Guias com os quais trabalha espiritualmente. Popularmente, acredita-se que todos os
médiuns incorporam espíritos, mas seus ritos e rituais indicam que a mediunidade é
diversa e permite aos médiuns assumirem diferentes funções, como por exemplo os
responsáveis pelo toque do atabaque, da entoação dos pontos, da recepção das
pessoas que procuram o Centro, entre outras responsabilidades.
Na Umbanda, os Terreiros são coordenados por seus dirigentes espirituais,
nomeados de Pais ou Mães de Santo, que além da administração do Terreiro e dos
trabalhos espirituais são os responsáveis pelo acolhimento, ensino e a formação dos
médiuns. O tempo de preparo de um médium até a sua formatura é de
aproximadamente de dez anos, nem todos serão formados para serem dirigentes. Os
médiuns que se formam dirigentes, possuem a responsabilidade de abrir seu próprio
Terreiro, a fim de dar continuidade à Umbanda.
A Umbanda tem na natureza e no meio ambiente como um lugar de firmeza,
o rito é preservar a natureza em seu estado natural. É a natureza que fornece as ervas
para os banhos e chás utilizados nos atendimentos espirituais, como também as
plantas para ornar os Terreiros. A natureza é o lugar para saudar os Guias Espirituais,
por meio de oferendas que tem o nome de obrigação, entre outros rituais. O rito diz
que na natureza deixamos só o que pode ser aproveitado por ela, os plásticos, papel
entre outros materiais que não são biodegradáveis devem ser trazidos de volta e
jogados no lixo, com a finalidade de não poluir e não degradar o ponto de firmeza dos
Guias Espirituais.
A análise dos livros e artigos sobre a história da Umbanda indicou congruência
entre os autores Culmino (2010), Guilouski & Costa (2012), Rivas (1996), Sarraceni
(2008), Prandi (1988 e 1990) e Trindade (1986, 2014, 2015). A religião é única em
seus ritos, mas nos rituais existem pequenas variações em decorrência da Nação
Africana ou Brasileira, de origem dos Guias Espirituais que comandam os Terreiros,
mas não interferem na essência da Umbanda. Os ritos e rituais apresentados são os
mais comuns aos Terreiros de Umbanda, e tem potencial para permitir aos leitores
uma ideia sobre o funcionamento dos Terreiros. A Umbanda é uma religião com
muitos ritos e rituais, pode-se dizer que a Umbanda é também uma religião ritualista.
Nos livros e artigos analisados, observa-se que há congruência e concordância entre

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os autores. As diferenças encontradas dizem respeito apenas às diferenças culturais
dos Guias Espirituais, dirigentes dos Terreiros.
Nos ritos e rituais existem divergência entre os dirigentes dos Terreiros, Pais
e Mães de Santo, que ainda estão distantes de uma solução, que no caso seria a
concordância de todos. A maior dificuldade é que muitos dirigentes, por conta própria
e sem consulta aos Guias Espirituais, em função de opiniões próprias ou de seus
afiliados, modificam os ritos e os rituais, o que os torna incompreensíveis para a
maioria dos umbandistas. Atualmente, o grande desafio da Umbanda é resolver suas
divergências internas, em relação aos ritos e rituais, sem perder de vista a diversidade
cultural de seus participantes encarnados e espirituais. Uma alternativa seria a
compilação da maioria dos rituais praticados, analisar sua fundamentação por meio
dos ritos adotados, e submeter o material à análise e discussão de todos os Pais e
Mães de Santo da Umbanda, que são os responsáveis pela preservação e
disseminação dos ritos e rituais. Se não for possível reunir todos os dirigentes, a
discussão poderia ser realizada por meio virtual. De qualquer forma, fica a sugestão
para uma próxima pesquisa.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa bibliográfica realizada com os livros de autores, reconhecidos na


Umbanda, e o complemento dessas informações com a análise de dois artigos
científicos, se mostrou eficiente para conhecer e relatar a história da Umbanda, seus
ritos e rituais. Todos os autores pesquisados são unânimes em reconhecer a
Umbanda como uma religião genuinamente brasileira, com influências de matrizes
africanas.
É uma religião espiritualista e cristã, que tem como o seu maior objetivo a
prática da caridade. A Umbanda é uma religião democrática, acolhe a todos que a
procuram, tanto encarnados como os espíritos de todas as ordens de espírito. Prega
a humildade e o tratamento igualitário de seus participantes, e não cobra pelos
atendimentos espirituais.
O fundador da Umbanda é o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que contou
com a intermediação de Zélio Fernandino de Moraes. Foi fundada no ano de 1908, e
atualmente tem 113 anos de prática de caridade. A história da Umbanda apresenta o

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desenvolvimento dessa religião, como também os seus ritos e rituais, que tiveram
início com o Caboclo das Sete Encruzilhadas. A pesquisa bibliográfica também indicou
que os ritos e rituais são semelhantes em todos os Terreiros de Umbanda, sendo que
as diferenças encontradas dizem respeito às diferenças culturais dos Guias Espirituais
que dirigem os terreiros, em função de seus locais de origem. No entanto, as
divergências encontradas em relação aos ritos e rituais não compromete a essência
da Umbanda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CULMINO, A. História da Umbanda: uma religião brasileira. São Paulo, Madras,


2010.

GUILOUSKI, B.; COSTA, D. R. D. Ritos e Rituais. http://notícias


gospelmais.com.br/livro-islamismo-professor-jesus-mulçumano-4009 html. - II
Jointh,20e21. Agosto de 2012.p 91 a 109.Escola de Educação e Humanidades
PUCPR Jornada Interdisciplinar de Pesquisa em Teologia e Humanidades.

PRANDI, R. Referências Sociais das Religiões Afro-brasileiras, Sincretismo,


Branqueamento, Africanização. Universidade de São Paulo, Brasil. Horizontes
Antropológicos. Porto Alegre ano 4 n.8 p. 151-167. Jun. 1988 http//dx. Doi,
org/10.1590/50104-718319980000100008.

PRANDI, R. Modernidade com Feitiçaria: Candomblé e Umbanda no Brasil do


Século XX. Tempo Social, Revista de Sociologia. Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2(1):49-74, 1990.

RIVAS NETO, F. Fundamentos Herméticos de Umbanda. São Paulo, Editora


Ícone,1996.

SARRACENI, R. Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada: a religião dos


mistérios e um hino de amor a vida. São Paulo, Madras,2008.

TRINDADE, D.F. História da Umbanda no Brasil: a Umbanda nos Jornais do Rio


de Janeiro, volume 2, São Paulo, Editora do Conhecimento, 2014.
TRINDADE, D.F. Iniciação à Umbanda. São Paulo, Tríade Editorial, 1986.

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TRINDADE, D.F. (org.). História da Umbanda no Brasil: Memórias de uma
Religião, volume 3, São Paulo, Editora do Conhecimento, 2015.

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