Negro Macumba e Fotebol PDF
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Resumo
O artigo em questão propõe analisar brevemente a história do Candomblé no Brasil e
também explanar sobre a história dessa religião em Londrina que está localizado no
estado do Paraná. Em particular o Candomblé nessa cidade expressa várias
similaridades com Candomblé do estado de São Paulo, o presente artigo mostra algumas
pistas que nos levam a entender o porquê dessa assimilação. Outro ponto para constar
sobre Candomblé em Londrina é o fato dele ser divido em 3 gerações de casas de Santo,
a primeira com nomes como Pai João considerado um dos primeiros a cultuar os orixás
na cidade, posteriormente a segunda geração é composta por Yá Mukumby, mãe
Cincochê entre outros que são fundamentais para formulação e estruturação da religião
em Londrina, e por fim a terceira geração é composta por mães de santos que são filhas
das casas da segunda geração. Sendo assim podemos analisar a partir das gerações do
Candomblé na cidade compõem um cenário único para compreender o essa religião
como prova de resistência e afirmação da identidade negra.
O presente artigo visa traçar um panorama superficial das relações das religiões
de matriz africana, mais precisamente o Candomblé e sua presença na cidade de
Londrina. Contando com uma analise que faz um resgate histórico da formação da
religião em questão no Brasil, e posteriormente elencando personagens que compõem o
cenário complexo e com personagens resistentes dessa religião no norte pioneiro do
Paraná.
Em uma analise superficial sobre as questões das religiões de origem africana no
Brasil podemos identificar dois segmentos importantes: o Candomblé e a Umbanda, o
último surgiu em meados do século XIX tendo como premissa ser uma religião
brasileira, a Umbanda mescla vários fragmentos de religiões até então conhecidas, digo
isso pois, podemos detectar nessa religião fragmentos do catolicismo, do espiritismo de
Alan Kardec e fragmentos dos cultos dos povos animistas de África. Sendo assim
podemos encontrar em uma casa de Umbanda varias referencias aos santos do
catolicismo em seus templos, como também podemos identificar entidades de origem
africana em seus ritos, como por exemplo a saudação a Exús e a outros Orixás do
panteão das religiões de origem africanas. Por fim podemos elencar pontos comuns
entre a Umbanda e o Kardecismo são eles: o fato de acreditar em outras vidas e no fato
de acreditar que a partir da mediunidade o ser pode receber um entidade e se comunicar
com os demais.
Após explanar sobre a Umbanda devemos nos atentar ao fato do Candomblé,
pois é o objeto de estudo deste artigo em questões, partirmos dos pontos gerais e depois
suas particularidades com a cidade de Londrina. Segundo o pesquisador Reginaldo
Prandi o Candomblé teve sua constatação mais evidente após as ultimas levas de negros
oriundos de África que eram traficados para o Brasil com a finalidade de trabalhar nas
cidades e ocupações urbanas do século XIX (PRANDI, 1996). Sendo assim houve uma
maior aproximação entres os negros já enraizados no Brasil e essa aproximação
proporcionou a sistematização do culto a suas divindades. Dessa forma, podemos
identificar as regiões de África que deram as maiores influências ao Candomblé no
Brasil, segundo Anatal Rosenfeld no livro Negro, Macumba e Futebol, é valioso
ressaltar que o Candomblé é uma religião brasileira com fragmentos encontrados no
continente africano:
Entretanto é possível comprovar no Brasil as influências de duas
linhas principais de religiões africanas: a dos negros bantos, que se
originam das partes sul e leste de África (Angola, Congo e
Moçambique); e as religiões dos negros provenientes de territórios
africanos do oeste especialmente da Nigéria, cuja a influência aparece
no Nordeste brasileiro. (ROSENFELD,1993).
A partir da analise da obra de Kabenguele Munanga, houve uma separação de
pessoas oriundas da mesma região da África quando chegaram ao Brasil. O autor afirma
que os senhores de engenho considerava o fato de que se deixassem os negros da
mesma região unidos eles poderiam se organizar mais facilmente. Desse modo podemos
considerar que na sua formação o Candomblé recebeu elementos de vários pontos do
continente Africano. Em analise de campo que realizei em algumas cerimônias de
Candomblé em Londrina – Paraná consegui identificar traços da cultura indígena
existente nessa religião, digo isso ao fato do culto aos caboclos nas cerimônias de
Candomblé, personagem que remete a cultura indígena do norte do Brasil. Sendo assim
podemos afirmar que o Candomblé teve mescla de elementos religiosos e culturais de
vários pontos de África e de várias localidades brasileiras, frisando o caráter da cultura
popular brasileira.
Após explicar alguns pontos da formação do Candomblé podemos destacar três
vertentes dessa religião, são elas o Candomblé de Ketu, Candomblé de Angola e
Candomblé de Jejê. Essas três vertentes são as nações que caracterizam uma
determinada casa de Candomblé. (PRANDI, 1996). Vinculada à determinada nação a
casa segue os preceitos e rituais a partir de sua ligação cultural e religiosa com essa
nação, porém é relevante salientar que essas instituições religiosas também podem
sofrer com influencias de outras nações, devemos destacar a oralidade na composição
dessa religião, digo isso porque as religiões de matriz africana são diferentes das
religiões cristãs que seguem a bíblia e outros escritos sagrados, a grande premissa dessa
religião em si, é seguir a oralidade.
A oralidade é um termo designado para expressar a transmissão do
conhecimento a partir da fala, a oralidade dentro das sociedades africanas tem um papel
singular e único, pois é a partir da oralidade que se transmite os signos que foram
vividos pelos ancestrais e que tem utilidade no modo de encarar a situação do presente,
elementos esses que na maioria das vezes são transmitidos pelos anciões da
comunidade.
Na passagem a seguir podemos identificar como se da à questão da oralidade e
transmissão da premissa de resistência do Candomblé:
“... sobre a transmissão oral dentro do Candomblé é possível perceber que não
se trata apenas de um sistema religioso politeísta de origem africana. Trata-se de
uma forma de resistência que atuou historicamente no Brasil há mais de quatro
séculos e que sobreviveu, com seu legado, mesmo não sendo permitido (no
período colonial ou imperial) ou sofrendo perseguição pelas policias ou elites
políticas durante o período republicano, a partir do século XIX” (LANZA [et
al.] – 2010)
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Segundo justificativa eram cultos aos demônios e por partilhar de um Estado que se diz
laico mais com fortes influencias cristãs, o Brasil perseguiu e persegue até hoje os
praticantes Candomblé.
O Candomblé em Londrina.
As falarmos de religiões de matriz africana em Londrina, devemos nos tentar
que ela deriva; a Umbanda e Candomblé. Irei explanar de maneira bem simples a
importância que a Umbanda tem para caracterizar o cenário do Candomblé em
Londrina. A grande maioria, segundo pesquisa de Sérgio Aldofo realizada em 1997
indica que os zeladores de casas de santo na cidade, primeiramente foram praticantes da
Umbanda, em passagem do livro YáMukumby: vida de Vilma Santos de Oliveira,
podemos identificar como isso é fato notório e comum aos zeladores de Londrina:
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Fazer uma explicação de casa de santo
Mukumby: a vida de Vilma Santos de Oliveira percebemos que sua feitura de santo se
deu em Jacarezinho, cidade da divisa entre São Paulo e Paraná.
Por fim Tatá Meluango que juntamente com sua companheira fundaram a casa
de Santo da nação Angola com a linhagem da família Viva Deus. Tatá Meluango e sua
companheira Mãe LóiaKatu, são pessoas fundamentais para entender a questão do
Candomblé em Londrina, pois dão origem a linhagem de casas de família Viva Deus
que são contabilizadas em grande números na cidade, são filhas dessa casas segundo
Sergio Adolfo (1997):
O Viva-Deus de Londrina, foi fundado por Tata Meluango, feito no Santo ainda
menino, na sua terra natal, Alagoas, Depois de viver anos na Bahia, onde
conheceu sua primeira esposa, MametoMulunda, filha de Santo de Tata
Feliciano, do Viva Deus de Salvador, veio para São Paulo, onde junto com ela
fundou o Viva Deus de São Paulo, em 1971. Quando eles se separam, Tata
Meluango veio para Londrina e aqui, com sua segunda esposa, LóiaKatu,
fundou o Viva Deus de Londrina, em 1986. São filhas diretas dessa casa, as
roças de Mãe KaiáSuté, KaiáUnde, Mãe Ominitá e Pai Matambelê. (Adolfo,
1997)
Outro expoente dessa segunda geração é Koifá que vem para quebrar essa
dinastia de casas de Candomblé de Angola, sendo assim pai Koifá de Logunedé é o
precursor das casas Ketu em Londrina. E que segundo o mesmo, tem ligações diretas
com a casa de Mãe Menina do Gantois.
A terceira geração das mães de santo de Londrina, são compostas por nomes
como: Lufanha, Balessi, Oiá-Baramim, Zazi, Oju-Omin, Ominitá, KaiáSuté, KaiáAndê.
As considerações finais deste artigo posso apenas concluir sobre as duas
primeiras gerações que compõem a questão histórica do Candomblé em Londrina, pois
ainda estou com primeiras aproximações com as casas da terceira geração, as
informações que compõem esse artigo servem pra contar como se deu a formação
histórica do Candomblé em Londrina e qual a sua importância hoje no cenário de luta e
afirmação da cultura e da religião oriundas de África. Esses nomes até então citados
aqui da primeira e segunda geração são marcos históricos na questão da resistência de
sua religião e de sua cultura e são geradoras de novas casas de Candomblé, e fato esse
que influencia diretamente no aumento aos adeptos dos que se declaram
candomblecistas como explicita os dados do IBGE que revelam que 0,45% da
população já se declara como adeptos das religiões de matriz africana, quebrando assim
um paradigma hegemônico, cristão, ocidental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS