Artigo TCC Paloma Transtorno Opositor Desafiador 2023
Artigo TCC Paloma Transtorno Opositor Desafiador 2023
Artigo TCC Paloma Transtorno Opositor Desafiador 2023
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
NATAL/RN
2023
PALOMA EDUARDA GRANJEIRO DE SOUSA
NATAL/RN
2023
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE
Por
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Ma. Ivone Priscilla de Castro Ramalho (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_____________________________________________________
Dra. Blenda Carine Dantas de Medeiros
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________
Ma. Vanessa Alessandra Cavalcanti Peixoto
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
AGRADECIMENTOS
E por fim, expresso a minha profunda gratidão a minha orientadora Prof.ª Ivone,
por ser tão atenciosa e abrir meus caminhos, agradeço a sua atenção, ajuda e apoio
nas correções dedicadas a este trabalho.
RESUMO
Este artigo tem como objetivo discutir sobre o Transtorno Opositor Desafiador (TOD),
principalmente durante a Educação Básica (Educação Infantil e Anos Inicias do Ensino
Fundamental) quando ocorrem os primeiros sintomas em crianças afetadas por esse
transtorno. Será explorado como isso pode influenciar suas interações sociais no
ambiente escolar e impactar seu desenvolvimento e aprendizagem. Foi realizada uma
pesquisa bibliográfica, analisando obras de autores como Gadotti (1991), Teixeira
(2014), Viana; Martins (2022), Silva e Hercúlian (2020), Moreira (1999), Monteiro e
Melo (2022), Baião; Herenio; Carvalho (2022). Além disso, a análise é complementada
com insights provenientes de uma experiência de estágio no nível V envolvendo uma
criança de 6 anos de idade com TOD em uma escola de rede privada, fazendo
relações entre a prática realizada com os resultados da pesquisa e os estudos
de autores que investigam o TOD na educação básica. Desse modo, discute-se como
esse transtorno pode afetar o ambiente escolar, os estudantes, professores e
familiares, como também se investigam estratégias e intervenções que podem ser
adotadas para auxiliar aqueles que enfrentam o TOD, na tentativa de favorecer a
promoção de perspectivas inclusivas de ensino e aprendizagem na educação.
This article aims to discuss Oppositional Defiant Disorder (ODD), mainly during Basic
Education (Early Childhood Education and the Early Years of Elementary School)
when the first symptoms occur in children affected by this disorder. It will be explored
how this can influence their social interactions in the school environment and impact
their development and learning. A bibliographical research was carried out, analyzing
works by authors such as Gadotti (1991), Teixeira (2014), Viana; Martins (2022), Silva
e Hercúlian (2020), Moreira (1999), Monteiro e Melo (2022), Baião; Herenio; Carvalho
(2022). Furthermore, the analysis is complemented with insights from a level V
internship experience involving a 6-year-old child with ODD in a private school, making
relationships between the practice carried out with the research results and studies of
authors who investigate TOD in basic education. In this way, we discuss how this
disorder can affect the school environment, students, teachers and family members,
as well as investigating strategies and interventions that can be adopted to help those
who face ODD, in an attempt to favor the promotion of inclusive perspectives of
teaching and learning in education.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................9
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................28
REFERÊNCIAS..........................................................................................................29
INTRODUÇÃO
10
disso, considerei pertinente aprofundar meus estudos acerca da temática,
principalmente por ser algo que suscitava muitas provocações em mim.
Assim, ao longo no meu estágio, em que pude acompanhar uma criança com
Transtorno Opositor Desafiador e em conversa com seus familiares, notei que várias
questões manifestadas em sala de aula, também se refletiam em seu convívio familiar,
uma vez que alguns comportamentos surgiam em casa, embora em contextos
diferentes. Ao observar e interagir com essa criança, pude identificar que muitos dos
problemas estavam relacionados ao seu comportamento agressivo em relação aos
colegas de turma e a sua tendência a se irritar facilmente com situações cotidianas,
como uma simples formação de fila para a aula de educação física ou até mesmo uma
competição pela necessidade de terminar de copiar a agenda antes que seus colegas
de turma. Todas essas atividades aparentemente simples na sala de aula se
transformavam em desencadeadores de comportamentos negativos ou
desafiadores.
Dessa forma, este artigo parte das minhas inquietações no percurso do estágio
e busca discutir sobre os principais desafios que o Transtorno Opositor Desafiador
(TOD) pode apresentar a uma criança durante a primeira fase da infância. Além disso,
destaca a maneira pela qual o processo de ensino e aprendizagem da criança pode
ser impactado na ausência de acompanhamento especializado. Isso ressalta a
importância de reavaliar abordagens pedagógicas que favoreçam a promover uma
convivência e aprendizagem mais significativas nesse contexto.
Através da minha experiência em sala de aula acompanhando uma criança com
esse Transtorno, pude constatar que, se não for abordado de maneira adequada, com
estratégias eficazes que envolvam a escola, a família e o apoio de psicólogos, ele
pode resultar em distanciamento social, exclusão na sala de aula por meio dos
colegas, e prejuízo no processo de ensino e aprendizagem, entre outros desafios. De
acordo com Silva e Herculian (2020), para que a criança tenha um bom
desenvolvimento como ser humano, precisa-se do acolhimento familiar que lhe ensine
o básico para a vivência em sociedade, e que a família a permita ter segurança,
crescimento permeado pelo aprendizado e pelas relações interpessoais.
Isso levou-me a questionar: Como podemos garantir a inclusão dessa criança
no ambiente escolar? que medidas podem ser adotadas pela escola e pela família
para promover uma inclusão mais significativa dessa criança, tanto na escola quanto
na vida social? E quais estratégias de ensino se tornam eficazes nesse contexto? Tais
11
questionamentos, presentes durante a minha atuação no estágio, suscitaram muitas
provocações/tensionamentos, que me mobilizaram na escrita deste artigo.
Sendo assim, no desenvolvimento deste trabalho, realizei uma pesquisa
bibliográfica, feita a partir do “levantamento de referências teóricas já analisadas, e
publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas
de web sites” (Fonseca, 2002, p. 32). Os achados da pesquisa estão organizados
neste artigo em quatro seções: Na primeira, apresento uma caracterização
abrangente do Transtorno Opositor Desafiador. Na segunda, discorro sobre a
importância do envolvimento da família nesse processo. Na terceira, realizo uma
discussão sobre a dinâmica do TOD no ambiente escolar, destacando, de modo geral,
as dificuldades enfrentadas por crianças que apresentam esse transtorno. Na quarta,
estabeleço relações entre o TOD e os processos de ensino e aprendizagem,
explorando alternativas e possibilidades como sugestões para melhorar esse
processo.
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O Transtorno Opositor Desafiador (TOD), também conhecido como Transtorno
de Oposição (TDO) é um distúrbio psiquiátrico que acomete geralmente crianças e
adolescentes com idade entre 6 e 12 anos. De acordo com o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5, 2014), o Transtorno Desafiador Opositor
(TDO) é definido como “[...] um padrão de humor raivoso/irritável, de comportamento
questionador/desafiante ou índole vingativa com duração de pelo menos seis meses”.
Já de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10, 2012), na
classificação F91.3, caracteriza o TDO como um transtorno de conduta, que afeta,
geralmente, jovens e é caracterizado por um comportamento provocador,
desobediente ou perturbador.
Tal comportamento é representativo na relação entre a criança e figuras de
autoridade, seja com os cuidadores, no ambiente escolar, como no ambiente familiar.
Algumas manifestações são comuns, como por exemplo, a perda da paciência, a
discussão exaltada com adultos e a atitude desafiante em receber as regras
estipuladas por figuras de autoridade. Normalmente uma manifestação comum está
em fazer de forma deliberada coisas que aborrecem outros indivíduos, ou mesmo
responsabilizar outras pessoas por seus próprios erros. O comportamento
desadaptativo torna-se notável, assim como manifestações de rancor e vingança
(Cáceres; Santos, 2018).
Para Teixeira (2014), as causas do Transtorno Opositor Desafiador são
complexas e multifatoriais. Esses aspectos são eventos, características ou processos
que aumentam as chances do desencadeamento do problema comportamental, e seu
desenvolvimento está provavelmente relacionado com uma quantidade de fatores de
risco presentes na criança. Todos esses possíveis fatores estão relacionados com
questões sociais, psicológicas e biológicas, sendo suas interações responsáveis pelo
surgimento, desenvolvimento e curso clínico da condição. É importante salientar a
necessidade de se fazer um diagnóstico através de um profissional competente e a
opinião de mais um deles como o psicólogo e o neurologista infantil, que possam fazer
o laudo médico. O transtorno se apresenta em casa, na escola e em lugares públicos,
revelando várias e diferentes teorias que justifiquem seu surgimento (Teixeira, 2014,
p. 29).
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Baião, Herênio e Carvalho (2022) afirmam que os sintomas do transtorno da
conduta costumam aparecer no período percebido entre o início da infância e a
puberdade e podem perdurar até a idade adulta. Algumas das características que
podem constar neste transtorno: comportamento afrontoso, agressivo, déficit
intelectual, convulsões e comprometimento do sistema nervoso central devido à
apresentação de uso excessivo de álcool/drogas no período pré-natal, uso de
medicamentos, traumas cranianos, por exemplo, além de antecedentes familiares
positivos para hiperatividade e comportamento antissocial. No começo precoce,
constitui maior gravidade do quadro com maior propensão a durar ao longo da vida. Já
Teixeira (2014) afirma que a característica que mais se percebe neste transtorno é a
oscilação de humor constante, podendo levá-los a se tornarem agressivos diante
disso.
Ao longo da minha vivência durante o estágio, algumas características do
Transtorno Opositor Desafiador (TOD) tornaram-se mais evidentes para mim. É
importante ressaltar que cada criança apresenta suas peculiaridades, e, no caso da
criança acompanhada, a agressividade em relação aos colegas era notória, assim
como a constante necessidade de se destacar, seja concluindo atividades antes dos
demais ou pela necessidade de sempre ser o primeiro da fila, quando contrariado.
Algumas vezes, a situação saía fora do planejado pelas professoras presente em sala,
em que a criança começava a jogar itens para cima, chutar mesas e tínhamos que
pedir ajuda a psicóloga. No caso dessa criança, o diagnóstico de TOD veio uns meses
depois do diagnóstico de TDAH, uma vez que as pesquisas mostram uma alta
prevalência entre o TDAH e os transtornos disruptivos do comportamento (transtorno
de conduta e transtorno opositor desafiante), situada em torno de 30 a 50% (Baião;
Herênio; Carvalho, 2022).
O diagnóstico do Transtorno Opositor Desafiador (TOD) é realizado por um
profissional de saúde mental durante um período contínuo de observação do
comportamento da criança, tanto no ambiente escolar quanto no âmbito familiar. O
tratamento é abordado de maneira multidisciplinar, com ênfase na terapia
comportamental e acompanhamento neurológico, que são fundamentais. Além disso,
a terapia familiar é incorporada, juntamente com estratégias de manejo, destinadas a
auxiliar a criança na autorregulação em situações desafiadoras e a melhorar seu
relacionamento com as figuras de autoridade. Em casos mais graves, nos quais os
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sintomas são mais pronunciados, a medicação pode ser considerada como parte do
tratamento (Russo, 2022a; Neurosaber, 2021).
Para aqueles estudantes submetidos a intervenções precoces, isto é, quando
o início do tratamento ocorre logo após o aparecimento dos sintomas, o prognóstico é
mais favorável e os resultados terapêuticos são melhores, conforme destaca Teixeira
(2014 apud Santos et al, 2021). Embora o diagnóstico precoce seja benéfico para o
desenvolvimento da criança, é imperativo garantir um acompanhamento contínuo para
assegurar uma avaliação precisa. Isso vai além de simplesmente buscar soluções
imediatas.
Em contraposição, Caponi (2018), ao analisar o Manual diagnóstico e estatístico
de transtornos mentais – DSM-5 (APA, 2013), afirma que este traz discursos
fragilizados e ambíguos, genéricos e estereotipados, com pretensão de verdade,
sobre comportamentos e condutas das crianças, que podem trazer consequências
trágicas ao legitimar “estratégias de poder que podem determinar, direta ou
indiretamente, decisões sobre normalidade e patologia, sobre terapêuticas
farmacológicas, enfim, decisões sobre a vida e a o futuro das crianças classificadas
nessa categoria de transtornos” (Caponi, 2018, p. 305). A referida autora ainda critica
o Manual no que se refere ao posicionamento no que diz respeito ao diagnóstico do
TOD, em que esse documento afirma que deve ser levado em conta o sofrimento que
os comportamentos oriundos desse transtorno produzem para os outros, impactando
negativamente no funcionamento social, educacional ou profissional do indivíduo, de
modo que o sofrimento da criança pode deixar de ser a referência central, passando
a ter relevância para o diagnóstico os efeitos que essa criança provoca no
funcionamento da escola ou na família. Nesse sentido, Caponi (2018) atenta
criticamente para a possibilidade de que esses discursos abram a porta para a
medicalização de comportamentos comuns na infância.
Destaca-se, então, a importância de uma investigação minuciosa sobre o
Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e a reflexão sobre como um diagnóstico
precoce pode também ter efeitos adversos para a criança. Um diagnóstico incorreto e
a aplicação inadequada de tratamentos medicamentosos podem acarretar
consequências negativas a curto e longo prazo para essa criança. No caso da
medicação a ser prescrita para uma criança com TOD, a terapêutica considerada mais
eficaz será um psicofármaco controvertido, potente e com vários efeitos adversos
muito bem conhecidos, como a risperidona (Moynihan; Cassels, 2006). Lembremos
15
que os antipsicóticos atípicos podem causar aumento de peso e alterar o
metabolismo, aumentando o risco de diabetes. Podem também provocar efeitos
secundários relacionados à motricidade, como rigidez, espasmos musculares
persistentes, tremores e inquietação (Caponi, 2018).
Portanto, o diagnóstico precoce e incorreto do Transtorno Opositor Desafiador
(TOD) pode acarretar: medicalização inadequada, estigmatização social, intervenções
desnecessárias, impacto na identidade da criança, etc. Dessa forma, é essencial que
esse diagnóstico seja realizado com cuidado e por profissionais qualificados,
envolvendo uma avaliação abrangente do comportamento da criança em diferentes
contextos, considerando as suas características individuais, para que se possa evitar
diagnósticos precipitados e equivocados.
16
desempenhado pela família nesse processo. A família do aluno estava
constantemente presente e devidamente informada sobre as situações. Em certas
ocasiões, tornou-se necessário solicitar a presença dos pais na escola para lidar com
momentos em que não era possível contornar a situação, mesmo com a assistência
de uma estagiária de psicologia e da diretora da escola. Era necessário que os pais
fossem, pois, muitas vezes, não era possível contornar a situação, mesmo com
conversas, eles tinham que levar a criança para casa. A presença dos pais
demonstrou ser de extrema importância nesses momentos, pois, mesmo saindo de
seus compromissos de trabalho, eles prontamente compareciam. Às vezes, era a
mãe, em outras ocasiões o pai, e em alguns casos, ambos estavam presentes.
Entretanto, é essencial reconhecer que nem todas as dinâmicas familiares se
desdobram da mesma maneira em casos de crianças diagnosticadas com TOD. De
acordo com Duarte Silva, Pereira e Faustino Neto (2019), na maioria dos casos, as
famílias apresentam dificuldade em lidar com o transtorno, necessitando de orientação
profissional nesse sentido. Com a atuação profissional terapêutica adequada, os pais
podem aprender a lidar melhor com mudanças comportamentais no seio familiar, com
ações de regência educacional, compreendendo estratégias como paciência e afeto
ao falar, dar bons exemplos, dialogar com a criança, praticar a escuta ativa, entre
outros. Dessa forma, quando as famílias “reconhecem e entendem a necessidade da
orientação para um melhor ajustamento/manejo comportamental, possivelmente
poderá auxiliá-los para melhor lidar com a situação” (Duarte da Silva; Pereira e
Faustino Neto, 2019, p. 246).
Compreende-se, então, que se as famílias conhecerem adequadamente como
tratar o TOD, esse transtorno poderá ter seus efeitos reduzidos e fazer com que o
indivíduo – criança ou adolescente – leve uma vida com melhor qualidade, mais feliz
e sentindo-se em igualdade com demais colegas de turma. Complementando ainda
que independente de entender a causa, a partir da percepção do TOD no indivíduo,
providências precisam ser tomadas o mais rápido possível, a fim de propiciar a ele,
em todas as relações sociais que tiver, a melhor qualidade de vida possível (Cáceres;
Santos, 2022).
Sendo assim, um aspecto importante a ser tratado é de como esses pais podem
agir a partir do diagnóstico. Os resultados da orientação dos cuidadores para com os
filhos têm sido mais assertivos quando o meio familiar é guiado pela confiança
recíproca e onde as leis, ordens, regras são esclarecidas, conversadas e combinadas
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com as crianças, em uma perspectiva clínica/terapêutica especializada. A prática de
pais se compõe, também, em uma forma de terapia breve com tempo e objetivos
preestabelecidos, os quais podem ter espaço de tempo regular e renegociados após
a análise dos resultados alcançados (Pinheiro; Haase; Del Prette, 2002).
Os chamados “treinamentos de pais” focam nos familiares como um todo e não
apenas nas atitudes de um indivíduo com sintomas de algum transtorno. O estímulo
é que os pais determinam suas práticas educativas com o objetivo de proporcionar
comportamentos mais sociáveis em seus filhos. Os pais têm uma oportunidade de
considerar e aprimorar seus próprios padrões e comportamentos e valores,
aprendendo a produzir, alegar e aplicar discursos e práticas aprimorados em
princípios éticos de respeito e promoção do crescimento humano (Baião; Herênio;
Carvalho, 2022).
Em relação aos tratamentos do TOD, Viana e Martins (2022) pontuam que a
Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) tem se mostrado eficiente nas intervenções
de crianças com Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e a participação dos pais, dos
professores e de outros membros do convívio da criança é fundamental para um
melhor resultado no tratamento do transtorno, visando melhoria no afeto, emoção e
comportamentos e também na sua aprendizagem, possibilitando uma qualidade de
vida mais saudável.
Assim, torna-se notável a importância de as famílias buscarem informações
amplas sobre o TOD e adequar-se ao posicionamento necessário após o diagnóstico.
Tal importância deve-se ao fato de que a forma correta de agir em relação aos filhos
poderá atingir o objetivo na socialização, na aprendizagem e desenvolvimento
humano do indivíduo (Baião; Herênio; Carvalho, 2022).
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profissionais – que ela dispõe. Os profissionais que fazem parte do núcleo escolar
devem ter conhecimento, mínimo que seja, sobre os diversos transtornos que
acometem os alunos, para poder auxiliá-los em suas aprendizagens, em seu
desenvolvimento (Cáceres; Santos, 2022).
No ambiente escolar, essas crianças tendem a ser resistentes em relação aos
conteúdos ensinados, em que é necessária atuação multidisciplinar, com tratamento
baseado em três eixos: medicação, psicoterapia comportamental e suporte escolar
(Monteiro; Melo, 2018). A medicação auxilia na melhoria da regulação emocional
diante de situações frustrantes. A abordagem da psicoterapia deve enfocar mudanças
comportamentais no seio familiar, implementando estratégias de gestão educacional.
Além disso, a instituição escolar necessita oferecer suporte, reforço positivo e um
ambiente propício para o diálogo construtivo, o que contribui para aumentar o
envolvimento do aluno com as normas escolares e o afasta de contextos prejudiciais
(Russo, 2022b).
Durante meu estágio pude observar que a criança com Transtorno Opositor
Desafiador enfrenta consideráveis desafios nas relações sociais, uma vez que seus
comportamentos desregulares acabam afastando as outras crianças. Não é fácil para
o professor lidar com situações como essa em sala de aula, uma vez que, o indivíduo
com esse transtorno tende a situações desafiadoras durante as aulas, chegando, por
vezes, a comprometer o bom desempenho da turma (Monteiro; Melo, 2018).
Durante meu estágio, percebi, por parte do aluno com TOD, comportamentos
persuasivos em situações que lhes eram de interesse pessoal, bem como atitudes
argumentativas quando se recusava a participar de atividades. Além disso, notaram-
se dificuldades em aderir regras de convívio social na escola. Dado que essa criança
tinha apenas 6 anos de idade, foi necessário adotar estratégias, específicas para
apoiar seu desenvolvimento e proteger sua integridade. Infelizmente, com frequência,
esses comportamentos eram erroneamente interpretados pela maioria como
desorganizados, falta de limites ou má educação, entre outros estereótipos.
Vale ressaltar que uma das dificuldades que enfrentei nas atividades em sala
de aula foi a irritabilidade no comportamento do aluno com TOD. Sua falta de
concentração era notável, e qualquer erro, como uma letra escrita incorretamente a
cópia equivocada de uma palavra na agenda do dia, desencadeava uma irritabilidade
que, de modo geral, era desafiadora de lidar e acabava se espalhando para outras
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situações ao longo do dia. E a tarefa de auxiliar o aluno, muitas vezes, se tornava
praticamente impossível, uma vez que ele se recusava aceitar ajuda.
Isso nos leva a refletir que muitos aspectos suscitados em casos de TOD na
escola podem provocar um processo de ensino e aprendizagem diferenciado para
esses estudantes, em que é importante o docente criar estratégias para que esse
ensino se torne mais significativo, respeitando o ritmo e interesse de cada um. Pois,
quando o assunto trabalhado pelo professor não desperta seu interesse, a criança
procura qualquer outra distração para não prestar atenção à aula, até porque se ela
não quer estudar naquele momento, ela simplesmente não o faz, e principalmente na
sala de aula que é um ambiente com regras, essa criança apresenta uma grande
dificuldade em ouvir, prestar atenção aos ensinamentos do professor e realizar as
atividades propostas (Santos; Gonzaga Filho, 2018).
Segundo Santos e Gonzaga Filho (2018), o comportamento desregular se torna
um grande impedimento para que a criança venha construir seu conhecimento. Se ela
não aceita a ajuda do professor, como ele poderá auxiliar no seu aprendizado? O
professor, então, necessita utilizar-se de técnicas para adquirir a confiança do seu
estudante e trazê-lo para perto de si.
Sendo assim, é importante saber adotar estratégias específicas para cada
situação e para cada criança, já que cada uma tem sua especificidade, ajudando-a a
melhorar suas habilidades sociais, aprendendo a lidar com suas emoções. Dentro do
contexto escolar, especificamente dentro da sala de aula, o professor encontra um
universo composto por indivíduos, que se comportam, pensam, falam, e agem de
forma completamente diferentes, cada um com seu temperamento, mas também com
suas divergências e, em muitos casos, com problemas emocionais, afetivos e sociais
(Monteiro; Melo, 2018).
Lidar com essas dificuldades e irritabilidades de uma criança com TOD pode-
se tornar um trabalho desafiador, mas com persistência, apoio escolar, familiar e
profissional, é possível ajudá-la a desenvolver essas habilidades e a se relacionar
melhor com os outros. O processo pode ser gradual, mas é importante lembrar em
manter o apoio e a compreensão ao longo do caminho. Então, quais estratégias de
ensino podem ser adotadas nesses casos? Primeiro, vamos entender um pouco de
como ocorrem os processos de aprendizagens no geral, e discorreremos sobre
algumas possibilidades que podem ser instauradas na escola para lidar com esse
transtorno, na seção seguinte deste artigo.
21
4 EXPLORANDO A RELAÇÂO ENTRE TOD E OS PROCESSOS DE ENSINO E
APRENDIZAGEM
22
espaço de escuta para a pessoa com TOD; trabalho colaborativo entre escola e
família, da pessoa com TOD, estabelecer regras que devem ser comuns nos dois
ambientes; promover ambientes formativos para os professores; informar se o
discente está sendo acompanhado por profissionais como psicólogos,
psicopedagogos, entre outros; falar de forma a convencê-la em vez de confrontá-la,
ou contra argumentá-la; traçar planos personalizados a partir das características
específicas junto à equipe especializada.
Ainda de acordo com esse Guia, para orientar especificamente os professores,
apresentam-se algumas práticas a serem implementadas na sala de aula, tais como:
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Um ponto importante a ser tratado nesse tópico é a ludicidade em atividades
com crianças com TOD, uma vez que para lidar com estudantes com esse transtorno,
o professor deve sempre procurar algo que desperte interesse neles, nunca ir de
encontro aos conflitos e questionamentos que o mesmo enfrenta, além disso, é
importante que o educador tenha uma postura adequada, pois estudantes com TOD
tendem a imitar modelos que para eles são significativos (Monteiro; Melo, 2018).
Monteiro e Melo (2018) ainda complementam que, para que o comportamento
dessa criança seja modificado, é de extrema importância que se trabalhe de forma
lúdica. O professor pode trazer para sala jogos e brincadeiras educativos que irão
estimular esses estudantes a se envolverem nas vivências da escola. Ao brincar, a
criança aprende a pensar, a lidar com situações adversas, rever sua realidade e a
partir daí cria seus conceitos, os quais irão conduzi-las a uma vivência única dentro
do seu contexto social. Através do brincar, a criança apreende conceitos e cria
realidade, o que repercute durante toda a sua vida.
Em razão de estratégias feitas acerca da ludicidade, a pesquisa realizada por
Utzig et al (2022) fornece dados que permitem identificar a necessidade da promoção
de estratégias adaptativas para cada tipo de especificidade educacional, além da
compreensão acerca do TOD e da individualidade de cada estudante, para que possa
construir ou possibilitar espaços de ensino e aprendizagem em sua integralidade.
Isso significa que tais atividades se tornam mais eficazes quando o professor e
a escola, de modo geral, compreendem a importância de estratégias educacionais
adaptadas às potencialidades e singularidades individuais de cada estudante,
concebendo-se uma prática de forma multidimensional (comportamental, acadêmica
e emocional) e multicontextual (família e escola) envolvendo diversos profissionais,
como psicólogo, assistente social, educadores e a família. Esse envolvimento de
profissionais especializados, docentes e familiares pode ser considerada uma ação
satisfatória em relação aos comportamentos agressivos e disruptivos dos estudantes
com TOD, assim como nas relações sociais, demonstrando a importância do
planejamento priorizando a especificidade de cada criança (Utzig; Castro; Dias; Balk,
2022).O desenvolvimento infantil, tem como base os aspectos emocionais, sociais e
físicos da criança durante seus primeiros anos de vida, terá um impacto direto na
formação e na personalidade do indivíduo quando adulto, por isso a importância dos
pilares: família e escolas trabalharem juntos.
24
Vygotsky, em sua obra, centrou-se na ideia de emergência da psique humana,
transgredindo os padrões de uma sociedade acostumada a uma concepção imutável
e estática do indivíduo e da sociedade. Sendo assim, esse autor traz uma
enriquecedora contribuição ao perceber as pessoas e o mundo como um processo
permanentemente em movimento e transformação, deixando transparecer a sua
crença na plasticidade, na capacidade do indivíduo de criar processos adaptativos
com o intuito de superar os impedimentos que encontra (Costa, 2006). Esse teórico
parte do entendimento de que o desenvolvimento humano tem por base as relações
sociais, nas interações de sujeitos históricos e culturais, compreendendo que as
aprendizagens e não-aprendizagens na escola são atribuídas ao movimento
possibilitado pela forma como as interações estão organizadas entre os sujeitos que
vivenciam a educação (Garcia, 1999). Tais estudos caminham para a qualidade de
proposições de trocas, nas diferentes situações de ensino e aprendizagem, o que
pode significar diferentes possibilidades de desenvolvimento para crianças com TOD
(Tacca, 2008).
A importância da reflexão do quão é possível utilizar outros métodos
pedagógicos, além dos habituais, para desafiar os estudantes incluídos nesse
contexto provoca a busca por novas formas de aprendizagem. Ao mesmo tempo, vale
ressaltar a carência de estudos em relação às estratégias educacionais de crianças
com TOD e a necessidade de novas pesquisas, pois são imprescindíveis para que a
Educação Inclusiva possa avançar (Utzig; Castro; Dias; Balk, 2022).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Reconhecemos a relevância da ludicidade na adaptação de crianças com TOD
na educação básica, assim como as alternativas que professores e a gestão escolar
podem empregar para promover uma aprendizagem e socialização mais eficazes para
esses alunos com o Transtorno.
Um ponto que merece destaque é a carência de artigos que disponham de
informações abrangentes sobre o Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e a
necessidade contínua de condução de novos estudos. Isso é fundamental para
ampliar nosso entendimento a respeito do TOD, o que, por sua vez, contribuirá para
uma compreensão mais abrangente da educação inclusiva nas escolas.
REEFERÊNCIAS
27
DUARTE DA SILVA, Josefa Paula; PEREIRA, Fabíola Gracia Azevedo; FAUSTINO
NETO, Paula. A importância da parceria família e escola no enfrentamento às
peculiaridades do TOD. In: Unisanta Law and social Science, vol. 8, n. 2, 2019.
GADOTTI, M. (org.). Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione (Série
Pensamento e Ação no Magistério), 1991.
GREVET, EH, Bau CH, Salgado CA, Fischer AG, Kalil K, Victor MM et al. Lack of
gender effects on subtype outcomes in adults with attention-
deficit/hyperactivity disorder: support for the validity of subtypes. Eur Arch
Psychiatry Clin Neurosci, 256:311-9, 2006.
OLIVEIRA, Silmara Sartoreto; JOVALENTE Ana Paula Costa; JESUS, Maria Luíza
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PINHEIRO, M. I. S., HAASE, V. G., DEL PRETTE, A., AMARANTE, C. L. D., & DEL
PRETTE, Z. A. P. (2006). Treinamento de habilidades sociais educativas para
pais de crianças com problemas de comportamento. Psicologia: Reflexão e
Crítica, 19(3), 407-414.
28
RUSSO, Fabiele. Diagnóstico do transtorno opositor desafiador: como é feito.
Disponível em https://neuroconecta.com.br/diagnostico-do-transtorno-opositivo-
desafiador-como-e-feito/ publicado em 2 de novembro de 2022b.
29