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Artigo Original
Como citar: Muniz, L. S., Sá, N. M. C. M., & Vasconcelos Filho, C. R. M. (2023). Desenvolvimento da
Órtese de Descompressão Occipital (ODO) para pacientes críticos em unidades de terapia intensiva.
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31, e3552. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO272735521
Resumo
Introdução: Lesões por pressão são causadas por prolongado contato da pele com
alguma superfície, levando a danos consideráveis de difícil recuperação. Terapeutas
ocupacionais podem atuar na prevenção desses agravos por meio da confecção de
dispositivos de tecnologia assistiva. Objetivos: Apresentar o desenvolvimento de um
dispositivo para prevenir e tratar lesões por pressão na região occipital: a Órtese de
Descompressão Occipital. Método: Esta é uma pesquisa exploratória aplicada através
do método de gestão de projetos desenvolvida em quatro etapas. O dispositivo começou
a ser desenvolvido em 2017 em um hospital de traumas referência na região
metropolitana de Belém, PA, Brasil. Resultado: Foi realizado um levantamento dos
dispositivos disponíveis no mercado e, a partir disso, desenvolvida a Órtese de
Descompressão Occipital. Essa órtese utiliza o colchão piramidal, que é um material de
baixo custo que promove a baixa pressão constante no segmento occipital do paciente,
e foi confeccionada a partir de avaliação antropométrica. Com base na literatura e em
um estudo financeiro, criou-se um modelo aplicável na descompressão do segmento.
Esse modelo alternativo apresenta baixo custo e é eficiente para prevenir lesões por
pressão. Conclusão: A Órtese de Descompressão Occipital segue em processo de
aperfeiçoamento. Apesar de se embasar na literatura atual abordando a prevenção de
lesões por pressão, ainda é necessário realizar um estudo científico criterioso para
verificar sua eficácia. A Órtese de Descompressão Occipital apresenta limitações,
principalmente quanto à aprovação de sua utilização por instituições hospitalares.
Palavras-chave: Lesão por Pressão, Aparelhos Ortopédicos, Osso Occipital,
Serviços Técnicos Hospitalares, Terapia Ocupacional.
Recebido em Mar. 29, 2023; 1ª Revisão em Maio 30, 2023; 2ª Revisão em Jun. 27, 2023; 3ª Revisão em Jul. 24, 2023; Aceito
em Ago. 5, 2023.
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso,
distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31, e3552, 2023 | https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO272735521 1
Desenvolvimento da Órtese de Descompressão Occipital (ODO) para pacientes críticos em unidades de terapia intensiva
Abstract
Introduction: Pressure ulcers (PU) are caused by prolonged contact of the skin with a
surface, leading to significant damage that is difficult to recover from. Occupational
therapists can play a role in preventing these injuries through the creation of assistive
technology devices. Objectives: To present the development of a device to prevent and
treat PU in the occipital region: the Occipital Decompression Orthosis (ODO).
Method: This is an exploratory study applied using the project management method
and developed in four stages. The device began to be developed in 2017 in a reference
trauma hospital in the metropolitan region of Belém, state of Pará, Brazil.
Results: A survey of devices available on the market was conducted, from which the
ODO was developed. This orthosis uses the pyramidal mattress, a low-cost material
that provides constant low pressure on the patient’s occipital segment and was designed
through an anthropometric assessment. Based on a literature review and a financial
study, a model was created for decompression of the segment. This alternative model is
low-cost and effective in preventing PU. Conclusion: The ODO is still under a
refinement process. Although it is based on current literature addressing pressure injury
prevention, it is still necessary to conduct a rigorous scientific study to verify its efficacy.
The ODO presents limitations, especially regarding its approval for use by hospitals.
Introdução
O Centro de Terapia Intensiva (CTI) é o local destinado a pacientes críticos que
necessitam de cuidados específicos e suporte vital de alta complexidade. De acordo com
Branco et al. (2020), o paciente crítico é aquele cuja vida está “ameaçada”, encontra-se em
estado de falência de funções vitais, precisa ser mantido sob constante vigilância, assistido
por equipamentos de monitorização e por vezes submetido à sedação, imobilidade
prolongada, ventilação mecânica e uso de drogas vasoativas. O CTI tem por objetivo
preservar e prolongar a vida humana diante de uma doença de risco. Fornecer reabilitação
especializada também faz parte dos cuidados ao paciente crítico no CTI (White et al., 2018).
Apesar da aplicação de serviços e produtos de alta densidade tecnológica, o CTI é
um ambiente que atrai inúmeras complicações ao indivíduo que não possui um
atendimento multidisciplinar adequado (Branco et al., 2020). Uma dessas complicações
é o desenvolvimento de Lesões por Pressão (LPP). As LPP ocorrem em razão de um
período prolongado de hospitalização, em cenários de comprometimento da perfusão
tissular da pele resultantes de alterações no fluxo sanguíneo no local sob pressão,
Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica, choque séptico, choque hemorrágico,
utilização de medicamentos e instabilidade hemodinâmica (Otto et al., 2019).
As LPP causam grande preocupação, visto que sua incidência impacta tanto o paciente
e seus familiares quanto o próprio sistema de saúde, elevando os riscos de infecção e os
custos com insumos e medicamentos, além de ocasionarem outros agravos (Brasil, 2017).
Por possuírem caráter iatrogênico, visto que seu aparecimento é evitável, as lesões são
multifatoriais e consideradas um problema de saúde pública mundial (Pinto, 2011).
De acordo com o Código Penal em teor do caput, do art. 129, lesão corporal
caracteriza-se por ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem, visando tanto à
integridade física quanto psíquica da vítima. Logo, entende-se por ofensa à integridade
física qualquer alteração anatômica prejudicial ao corpo humano, como fraturas, cortes,
escoriações, luxações, queimaduras, entre outras (Brasil, 1940).
Segundo o site oficial do Jusbrasil (2014), o crime de lesão corporal, conforme
descrito anteriormente, pode ser praticado mediante ação ou omissão, como por
exemplo, a não prestação adequada de assistência à saúde. Em todo caso, as devidas
formas de punição aos responsáveis devem ser aplicadas, quando cabíveis.
Por se tratar de um acontecimento evitável, o cuidado prestado ao paciente crítico deve
levar em consideração diferentes situações, nas quais deve-se identificar os riscos potenciais de
ocorrência de LPP e tomar diferentes iniciativas que ajudem a minimizar a sua ocorrência nos
sujeitos internados. Nesse contexto, o terapeuta ocupacional desempenha papel fundamental
no planejamento e execução de estratégias visando à maior funcionalidade do paciente crítico
ou potencialmente crítico, bem como de ações voltadas à prevenção de agravos.
Dessa forma, o objetivo deste artigo é apresentar o desenvolvimento de um dispositivo
inovador, criado a partir de materiais alternativos e economicamente acessíveis, para prevenir
e tratar LPP na região occipital de pacientes críticos: a Órtese de Descompressão Occipital
(ODO). Além disso, também objetiva-se apresentar à comunidade acadêmica o uso desse
dispositivo de tecnologia assistiva (TA) como um recurso para a prevenção de LPP.
Método
O presente estudo, em sua natureza, classifica-se como pesquisa aplicada ou pesquisa
tecnológica. A pesquisa aplicada utiliza o método científico para resolver questões e
problemas específicos, buscando soluções para barreiras encontradas na práxis cotidiana.
De acordo com Silva & Zambalde (2008), esse método pode ser aplicado na geração de
novos produtos, patentes ou serviços.
Quanto aos objetivos, o estudo é exploratório. De acordo com Gil (2017), as pesquisas
exploratórias proporcionam ao pesquisador o aprimoramento de ideias e maior familiaridade
com o assunto estudado. Tais pesquisas envolvem levantamentos bibliográficos, entrevistas
e análises de exemplos/fatos.
Além disso, o estudo utiliza um método de gestão de projetos, desenvolvimento e
inovação com o objetivo de obter um produto, no caso, a Órtese de Descompressão
Occipital (ODO). Esse é um dispositivo inovador desenvolvido para atender às
especificidades locorregionais na assistência aos pacientes graves e em longos períodos
de imobilização em leito.
A ODO começou a ser desenvolvida em 2017, por meio da atuação do autor principal,
ainda enquanto residente no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE),
localizado na cidade de Ananindeua, no estado do Pará. Foram realizados levantamentos de
pesquisas e bibliografias sobre órteses, principalmente as do tipo de descompressão, utilizadas
por pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com objetivo de prevenir as LPP.
Este estudo foi dividido em etapas: 1. Levantamento bibliográfico e de mercado sobre
órteses para descompressão; 2. A descrição da confecção da ODO; 3. Estudo financeiro
da ODO; 4. Produto atual. As etapas serão melhor exploradas na seção a seguir.
Resultados e Discussão
Com os moldes recortados, o próximo passo foi a preparação das tiras de esparadrapos
para fixar a estrutura, com quatro tiras para a região anterior distribuídas uniforme e
horizontalmente da região distal para central, e mais quatro tiras para a região posterior,
fixadas verticalmente nas abas laterais, duas no lado esquerdo e duas no lado direito.
Todas as porções de colchão piramidal são fixadas. A Figura 2 apresenta detalhe do
dispositivo finalizado.
valor total do material e a medida total do material em metro quadrado ou linear. Com
esse valor por unidade, é possível calcular o valor referente a cada material por peça
confeccionada, realizando-se o produto entre esse valor e a medida utilizada do material
específico em uma ODO.
Quanto ao colchão piramidal D28, encontra-se no mercado um produto com as
dimensões de 1,88 m x 0,88 m, resultando em uma área total de 1,6544 m2. Esse
colchão foi encontrado ao valor de R$ 78,00 no momento da construção deste
projeto. Com base nesses dados, tem-se um valor de R$ 47,15 por m2 de material.
Multiplicando-se esse valor pela quantidade de material usada em uma ODO,
obtém-se um custo de R$ 4,75. Vale notar que a partir de um único colchão
piramidal D28 é possível confeccionar aproximadamente 16 órteses.
Tal dispositivo foi nomeado órtese em virtude de seguir os conceitos descritos por
Ramos et al. (2021). Órteses são dispositivos de TA aplicados na região externa ao
segmento corporal com o intuito de auxiliar a prevenção de lesões e deformidades e a
manutenção da amplitude do movimento articular, da força muscular e da
potencialização da função do membro, conforme a necessidade do paciente. A confecção
de uma órtese requer profundos conhecimentos, desde a escolha e compreensão dos
materiais, até as análises anatômica, de funcionalidade e da necessidade individual de
cada patologia e sujeito, para que o modelo atenda a todos os aspectos necessários para
tornar-se eficaz no processo terapêutico (Ramos et al., 2021).
No contexto hospitalar e da terapia intensiva, nota-se como o terapeuta ocupacional,
uma vez capacitado para tal, tem papel fundamental na prescrição e confecção desse
recurso de TA, planejando e executando estratégias de adaptação, orientação e
capacitação, visando maior funcionalidade do paciente crítico ou potencialmente crítico,
bem como ações voltadas para a prevenção de agravos (Brasil, 2013).
Na literatura, observam-se medidas utilizadas pelas equipes assistenciais para evitar o
aparecimento de LPP. Feitosa et al. (2020) realizaram uma revisão de literatura que apontou
10 produções brasileiras que abordam estratégias utilizadas para prevenir e tratar LPP, entre
elas: exame constante da integridade da pele, limpeza e hidratação, uso de placas e coberturas,
mudança de decúbito a cada duas horas, mobilização precoce do paciente e garantia de boa
ingestão de nutrientes. Além disso, destaca-se a estratégia de proteção de proeminências ósseas.
A estratégia de proteção das proeminências ósseas é corroborada pela pesquisa de
Mervis & Phillips (2019). Esse estudo indica diferentes métodos para proteger as
proeminências ósseas, dentre eles, o uso de superfícies de suporte, especificamente as
classificadas pelos autores como constant low pressure (CLP), em tradução livre: baixa
pressão constante. Essa pressão refere-se à quantidade de força aplicada no contato da
proeminência óssea com alguma superfície. Essa força pode ser reduzida ao lançar-se
mão de materiais que a redistribua e, consequentemente, proteja o segmento.
Um material que se adequa à característica de baixa pressão constante é o colchão
piramidal (Barreto, 2016), que é a principal matéria-prima para a confecção da ODO.
O colchão piramidal apresenta uma estrutura delgada, com diferentes alturas em toda a
sua extensão, o que aumenta a área de contato e, portanto, diminui a pressão. Pontos
positivos da utilização do colchão piramidal para a confecção da ODO incluem fácil uso
e manuseio, por sua leveza, e valor de produção menor comparado ao de outros produtos
pesquisados, além de não necessitar de energia elétrica e apresentar baixa manutenção.
Um ponto negativo desse material é a existência de produtos com baixa qualidade no
mercado, que têm baixa durabilidade e apresentam uso inadequado, afetando a
qualidade das órteses confeccionadas (Barreto, 2016).
Barreto (2016), em pesquisa experimental que acompanhou uma equipe com
capacidade técnica para a prestação da assistência, relata que não houve diferença
significativa na prevenção de LPP entre o uso de colchão piramidal e de outros tipos de
superfícies. Esse dado sugere que tanto o uso do colchão piramidal como o de outros
colchões é eficaz na prevenção de LPP; porém, a preferência pelo colchão piramidal se
deu pela facilidade de compra, além desse material permitir cortes, moldagem e
manuseio para as transformações e utilização especificamente para a construção de
órteses que protegem segmentos do corpo, quando avaliado por um profissional
capacitado na área de TA, a exemplo do terapeuta ocupacional.
Conclusão
Atualmente, a ODO está em processo de aperfeiçoamento, para se tornar um
dispositivo terapêutico inserido no protocolo institucional de rotina da UTI de um
hospital privado de Belém. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi, primeiramente,
apresentar a ODO na literatura acadêmica como um dispositivo que pode auxiliar a
redução da ocorrência de LPP em pacientes críticos em longos períodos de internação e
restrição ao leito.
Apesar da ODO estar embasada na literatura atual que aborda a prevenção das LPP, ainda
é necessário um estudo científico criterioso para apontar sua eficácia, por meio de pesquisas
que incluam grupos de controle e randomizados, em ambiente de UTI com pacientes com
trauma, que é o contexto no qual o dispositivo foi primeiramente elaborado e aplicado.
A ODO apresenta limitações, principalmente quanto à aprovação de seu uso por
instituições hospitalares, a necessidade de capacitações para preparar o profissional no
momento de sua avaliação, prescrição, confecção e dispensação, de habilidades motoras
para sua confecção, entre outros pontos.
Outra limitação, que também pode ser uma fortaleza, é o ineditismo do dispositivo, que
utiliza materiais que, originalmente, não têm a função de serem transformados em órteses
de descompressão. Isso limita os achados em bases de dados quanto a experiências anteriores.
Entretanto, o objetivo de apresentar esse dispositivo para a comunidade científica
será seguido em publicações futuras dos próprios autores abordando os resultados da
continuidade da pesquisa quanto à real eficácia do produto.
Destaca-se a pertinência de elaborar e dar continuidade aos estudos com este dispositivo
inovador, haja vista a ampliação do leque de possibilidades dos terapeutas ocupacionais em
UTI, além da redução dos custos hospitalares na oferta de assistência ao paciente crítico.
A confecção desse dispositivo pela equipe de terapia ocupacional passou a ser
reconhecida, permitindo a construção e ampliação de um Laboratório de Tecnologia
Assistiva dentro do HMUE, assim como em outros hospitais da região, onde os
dispositivos são atualmente confeccionados sob a gerência de terapeutas ocupacionais.
Por fim, vale ressaltar que a ODO é constantemente atualizada a fim de prevenir e
tratar LPP no segmento occipital dos pacientes. Novos modelos podem surgir, bem
como modelos que objetivam a descompressão em outros segmentos do corpo, a partir
dos princípios utilizados na ODO.
Referências
Barreto, V. P. M. (2016). Efetividade de superfícies de suporte na prevenção de lesões por pressão: um estudo
experimental (Tese de doutorado). Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Branco, M. J. C., Lucas, A. P. M., Marques, R. M. D., & Sousa, P. P. (2020). The role of the nurse in
caring for the critical patient with sepsis. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(4), 1-7.
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Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília. Recuperado em 01 de março de 2023, de
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Pressão em serviços de saúde. Brasília: ANVISA. Recuperado em 1 de março de 2023, de
https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/notas-
tecnicas/notas-tecnicas-vigentes/nota-tecnica-gvims-ggtes-no-03-2017.pdf/view
Editora de seção
Profa. Dra. Mariana Midori Sime