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ISSN 2526-8910

Artigo Original

Desenvolvimento da Órtese de Descompressão


Occipital (ODO) para pacientes críticos em
unidades de terapia intensiva
Development of an Occipital Decompression Orthosis (ODO)
for critically ill patients in intensive care units
Lucas da Silva Muniza , Nonato Márcio Custódio Maia Sáa ,
Carlos Roberto Monteiro de Vasconcelos Filhob 
a
Universidade Federal do Pará – UFPA, Belém, PA, Brasil.
b
Universidade do Estado do Pará – UEPA, Belém, PA, Brasil.

Como citar: Muniz, L. S., Sá, N. M. C. M., & Vasconcelos Filho, C. R. M. (2023). Desenvolvimento da
Órtese de Descompressão Occipital (ODO) para pacientes críticos em unidades de terapia intensiva.
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31, e3552. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO272735521

Resumo
Introdução: Lesões por pressão são causadas por prolongado contato da pele com
alguma superfície, levando a danos consideráveis de difícil recuperação. Terapeutas
ocupacionais podem atuar na prevenção desses agravos por meio da confecção de
dispositivos de tecnologia assistiva. Objetivos: Apresentar o desenvolvimento de um
dispositivo para prevenir e tratar lesões por pressão na região occipital: a Órtese de
Descompressão Occipital. Método: Esta é uma pesquisa exploratória aplicada através
do método de gestão de projetos desenvolvida em quatro etapas. O dispositivo começou
a ser desenvolvido em 2017 em um hospital de traumas referência na região
metropolitana de Belém, PA, Brasil. Resultado: Foi realizado um levantamento dos
dispositivos disponíveis no mercado e, a partir disso, desenvolvida a Órtese de
Descompressão Occipital. Essa órtese utiliza o colchão piramidal, que é um material de
baixo custo que promove a baixa pressão constante no segmento occipital do paciente,
e foi confeccionada a partir de avaliação antropométrica. Com base na literatura e em
um estudo financeiro, criou-se um modelo aplicável na descompressão do segmento.
Esse modelo alternativo apresenta baixo custo e é eficiente para prevenir lesões por
pressão. Conclusão: A Órtese de Descompressão Occipital segue em processo de
aperfeiçoamento. Apesar de se embasar na literatura atual abordando a prevenção de
lesões por pressão, ainda é necessário realizar um estudo científico criterioso para
verificar sua eficácia. A Órtese de Descompressão Occipital apresenta limitações,
principalmente quanto à aprovação de sua utilização por instituições hospitalares.
Palavras-chave: Lesão por Pressão, Aparelhos Ortopédicos, Osso Occipital,
Serviços Técnicos Hospitalares, Terapia Ocupacional.

Recebido em Mar. 29, 2023; 1ª Revisão em Maio 30, 2023; 2ª Revisão em Jun. 27, 2023; 3ª Revisão em Jul. 24, 2023; Aceito
em Ago. 5, 2023.
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso,
distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31, e3552, 2023 | https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO272735521 1
Desenvolvimento da Órtese de Descompressão Occipital (ODO) para pacientes críticos em unidades de terapia intensiva

Abstract
Introduction: Pressure ulcers (PU) are caused by prolonged contact of the skin with a
surface, leading to significant damage that is difficult to recover from. Occupational
therapists can play a role in preventing these injuries through the creation of assistive
technology devices. Objectives: To present the development of a device to prevent and
treat PU in the occipital region: the Occipital Decompression Orthosis (ODO).
Method: This is an exploratory study applied using the project management method
and developed in four stages. The device began to be developed in 2017 in a reference
trauma hospital in the metropolitan region of Belém, state of Pará, Brazil.
Results: A survey of devices available on the market was conducted, from which the
ODO was developed. This orthosis uses the pyramidal mattress, a low-cost material
that provides constant low pressure on the patient’s occipital segment and was designed
through an anthropometric assessment. Based on a literature review and a financial
study, a model was created for decompression of the segment. This alternative model is
low-cost and effective in preventing PU. Conclusion: The ODO is still under a
refinement process. Although it is based on current literature addressing pressure injury
prevention, it is still necessary to conduct a rigorous scientific study to verify its efficacy.
The ODO presents limitations, especially regarding its approval for use by hospitals.

Keywords: Pressure Ulcer, Orthotic Devices, Occipital Bone, Ancillary Services;


Hospital, Occupational Therapy.

Introdução
O Centro de Terapia Intensiva (CTI) é o local destinado a pacientes críticos que
necessitam de cuidados específicos e suporte vital de alta complexidade. De acordo com
Branco et al. (2020), o paciente crítico é aquele cuja vida está “ameaçada”, encontra-se em
estado de falência de funções vitais, precisa ser mantido sob constante vigilância, assistido
por equipamentos de monitorização e por vezes submetido à sedação, imobilidade
prolongada, ventilação mecânica e uso de drogas vasoativas. O CTI tem por objetivo
preservar e prolongar a vida humana diante de uma doença de risco. Fornecer reabilitação
especializada também faz parte dos cuidados ao paciente crítico no CTI (White et al., 2018).
Apesar da aplicação de serviços e produtos de alta densidade tecnológica, o CTI é
um ambiente que atrai inúmeras complicações ao indivíduo que não possui um
atendimento multidisciplinar adequado (Branco et al., 2020). Uma dessas complicações
é o desenvolvimento de Lesões por Pressão (LPP). As LPP ocorrem em razão de um
período prolongado de hospitalização, em cenários de comprometimento da perfusão
tissular da pele resultantes de alterações no fluxo sanguíneo no local sob pressão,
Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica, choque séptico, choque hemorrágico,
utilização de medicamentos e instabilidade hemodinâmica (Otto et al., 2019).
As LPP causam grande preocupação, visto que sua incidência impacta tanto o paciente
e seus familiares quanto o próprio sistema de saúde, elevando os riscos de infecção e os
custos com insumos e medicamentos, além de ocasionarem outros agravos (Brasil, 2017).
Por possuírem caráter iatrogênico, visto que seu aparecimento é evitável, as lesões são
multifatoriais e consideradas um problema de saúde pública mundial (Pinto, 2011).

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De acordo com o Código Penal em teor do caput, do art. 129, lesão corporal
caracteriza-se por ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem, visando tanto à
integridade física quanto psíquica da vítima. Logo, entende-se por ofensa à integridade
física qualquer alteração anatômica prejudicial ao corpo humano, como fraturas, cortes,
escoriações, luxações, queimaduras, entre outras (Brasil, 1940).
Segundo o site oficial do Jusbrasil (2014), o crime de lesão corporal, conforme
descrito anteriormente, pode ser praticado mediante ação ou omissão, como por
exemplo, a não prestação adequada de assistência à saúde. Em todo caso, as devidas
formas de punição aos responsáveis devem ser aplicadas, quando cabíveis.
Por se tratar de um acontecimento evitável, o cuidado prestado ao paciente crítico deve
levar em consideração diferentes situações, nas quais deve-se identificar os riscos potenciais de
ocorrência de LPP e tomar diferentes iniciativas que ajudem a minimizar a sua ocorrência nos
sujeitos internados. Nesse contexto, o terapeuta ocupacional desempenha papel fundamental
no planejamento e execução de estratégias visando à maior funcionalidade do paciente crítico
ou potencialmente crítico, bem como de ações voltadas à prevenção de agravos.
Dessa forma, o objetivo deste artigo é apresentar o desenvolvimento de um dispositivo
inovador, criado a partir de materiais alternativos e economicamente acessíveis, para prevenir
e tratar LPP na região occipital de pacientes críticos: a Órtese de Descompressão Occipital
(ODO). Além disso, também objetiva-se apresentar à comunidade acadêmica o uso desse
dispositivo de tecnologia assistiva (TA) como um recurso para a prevenção de LPP.

Método
O presente estudo, em sua natureza, classifica-se como pesquisa aplicada ou pesquisa
tecnológica. A pesquisa aplicada utiliza o método científico para resolver questões e
problemas específicos, buscando soluções para barreiras encontradas na práxis cotidiana.
De acordo com Silva & Zambalde (2008), esse método pode ser aplicado na geração de
novos produtos, patentes ou serviços.
Quanto aos objetivos, o estudo é exploratório. De acordo com Gil (2017), as pesquisas
exploratórias proporcionam ao pesquisador o aprimoramento de ideias e maior familiaridade
com o assunto estudado. Tais pesquisas envolvem levantamentos bibliográficos, entrevistas
e análises de exemplos/fatos.
Além disso, o estudo utiliza um método de gestão de projetos, desenvolvimento e
inovação com o objetivo de obter um produto, no caso, a Órtese de Descompressão
Occipital (ODO). Esse é um dispositivo inovador desenvolvido para atender às
especificidades locorregionais na assistência aos pacientes graves e em longos períodos
de imobilização em leito.
A ODO começou a ser desenvolvida em 2017, por meio da atuação do autor principal,
ainda enquanto residente no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE),
localizado na cidade de Ananindeua, no estado do Pará. Foram realizados levantamentos de
pesquisas e bibliografias sobre órteses, principalmente as do tipo de descompressão, utilizadas
por pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com objetivo de prevenir as LPP.
Este estudo foi dividido em etapas: 1. Levantamento bibliográfico e de mercado sobre
órteses para descompressão; 2. A descrição da confecção da ODO; 3. Estudo financeiro
da ODO; 4. Produto atual. As etapas serão melhor exploradas na seção a seguir.

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Resultados e Discussão

Etapa 1: Levantamento bibliográfico e de mercado sobre órteses para descompressão


Foi realizado um levantamento de produtos que objetivavam a descompressão da
região occipital, desenvolvidos no meio acadêmico, profissional/assistencial ou
comercializados em grande escala por empresas especializadas. O levantamento serviu
como embasamento para os autores na confecção e aperfeiçoamento da ODO.
Foram pesquisados produtos utilizando-se palavras-chave em português e inglês. Em
português, as melhores respostas foram obtidas utilizando-se os termos: “órteses para
occipital”; “coxins para occipital”; “coxins para cabeça”; “descanso para cabeça”. Para a
língua inglesa, os melhores resultados foram obtidos com os termos: “head cradle”;
“headrest”; "occipital cushion”.
As palavras-chaves acima citadas foram utilizadas separadamente. O levantamento
foi realizado por meio de sites de busca da Internet, que direcionavam para as páginas
das empresas produtoras e/ou distribuidoras dos produtos. Além disso, também foi
realizada busca nos bancos de dados SciELO e BVSalud. Essas buscas foram realizadas
entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023.
Foram considerados os dispositivos confeccionados e/ou que receberam atualização
em seu design, documentados em diferentes plataformas entre 2018 e 2023. A escolha
por esse recorte temporal se deu em razão da necessidade de se encontrar dispositivos
atualizados que seguem recomendações científicas e são efetivos na prevenção/redução
de LPP.
Os seguintes critérios de inclusão foram aplicados: ser um dispositivo para prevenção
de LPP na região occipital; apresentar imagem ou representação visual; estar descrito
como produto que pode ser utilizado para a prevenção de lesões na região occipital.
Após a seleção inicial através dos critérios de inclusão, foram aplicados os seguintes
critérios de exclusão: produtos cujo site representante solicitava a realização de um
orçamento para a visualização das especificações técnicas; produtos que apresentavam
imagens da utilização na região occipital, mas que não descreviam o objetivo de
prevenção de LPP no referido segmento. O último foi um critério chave para a pesquisa,
pois, mesmo que o produto apresentasse a imagem de utilização na região occipital, não
havia descrição de como utilizá-lo. Assim, foram minimizados possíveis erros de
inferência dos autores.
Foram selecionados 25 produtos, todos com representação visual e descrição do
objetivo de realizar a descompressão da região occipital para evitar lesões. Entretanto,
foi observado que os achados apresentavam duas limitações principais: a primeira foi o
valor da compra – o menor custo de um dos produtos achados foi de R$ 214,99,
enquanto o maior custo foi de R$ 1881,00. Além disso, nenhum desses produtos estava
disponível em lojas filiais ou por meio de revendedores no Brasil, tampouco na região
Norte; portanto, encarecendo também o valor de transporte ou importação. A segunda
limitação foi o fato de alguns produtos apresentarem design semelhante à uma rodilha
ou um donut, o que pode favorecer a ocorrência de LPP. A pesquisa de Levy et al. (2017)
demonstra que designs de dispositivos de descompressão que apresentam uma depressão
central podem, na verdade, piorar a distribuição da pressão, o que diminui a área de
contato da região occipital e aumenta os riscos de lesões.

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Com base nesses levantamentos, observou-se a carência de produtos economicamente


viáveis e que se adequam ao contexto do hospital em questão, onde há pacientes críticos,
politraumatizados, restritos ao leito e com menor possibilidade de mobilizações,
aumentando o risco de desenvolvimento/agravamento de LPP. Assim, a ODO surgiu
como um produto para minimizar a ocorrência e os danos causados por LPP nos pacientes
internados na UTI do referido hospital.

Etapa 2: Descrição da confecção da ODO


A confecção da ODO segue etapas de prescrição e avaliação do paciente, confecção,
dispensação e avaliação continuada, adotando protocolos de higienização rigorosos,
a fim de minimizar os riscos de infecção ao usuário.
Para a confecção da ODO, é necessária uma infraestrutura mínima: sala com
ambiente climatizado, mesa e cadeiras ergonômicas para o trabalho do profissional e
equipamentos de proteção individual. Como ferramentas de trabalho, são utilizadas uma
tesoura e um estilete comuns.
As primeiras versões da ODO foram confeccionadas a partir do uso do policloreto de
polivinila (PVC), como uma base rígida, coberta de colchão piramidal, também conhecido
como colchão ‘caixa de ovo’. Com a evolução da confecção, passou-se a utilizar o EVA
para a construção da base, o que permitia melhor replicação, simplificando a confecção e
possibilitando melhor encaixe anatômico à região occipital do paciente. Os materiais
atualmente utilizados para a confecção da ODO são acessíveis e de baixo custo; portanto,
esse dispositivo é de fácil manuseio e pode ser replicado em diferentes contextos.
Inicialmente, o molde da ODO foi desenhado e recortado em uma folha de EVA.
Posteriormente, as porções de colchão piramidal para fixação na parte anterior e as abas
laterais para fixação na porção posterior foram recortadas. O molde mede cerca de 32 cm
de largura e 24 cm de comprimento, servindo de base para padronização dos dispositivos
em uso, com colchão piramidal D28 e esparadrapo branco comum. Para a confecção do
molde, foram considerados pontos anatômicos da região occipital, utilizando-se linhas
verticais e horizontais. A linha vertical parte da protuberância occipital externa até,
proximamente, a sutura lambdoide. Para a linha horizontal, é considerada a distância
entre os tubérculos das orelhas (Figura 1).

Figura 1. Considerações anatômicas do dispositivo.


Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

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Com os moldes recortados, o próximo passo foi a preparação das tiras de esparadrapos
para fixar a estrutura, com quatro tiras para a região anterior distribuídas uniforme e
horizontalmente da região distal para central, e mais quatro tiras para a região posterior,
fixadas verticalmente nas abas laterais, duas no lado esquerdo e duas no lado direito.
Todas as porções de colchão piramidal são fixadas. A Figura 2 apresenta detalhe do
dispositivo finalizado.

Figura 2. ODO finalizada.


Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

Etapa 3: Estudo financeiro da ODO


A partir de uma análise dimensional minuciosa da ODO, podemos destacar os
seguinte: com molde principal de 32 cm de largura e 24 cm de comprimento, estão
dispositivo possui uma área de 0,0768 m2. Os moldes de suas duas abas laterais, com
largura de 5 cm e altura de 24 cm, possuem, conjuntamente, uma área de 0,024 m2.
Somando-se a área do molde principal àquela dos dois moldes das áreas laterais, obtém-
se uma área total de 0,1008 m2.
Para uma análise financeira precisa, pode-se calcular o valor por unidade de medida
(m ou m) de cada material (colchão piramidal e esparadrapo) a partir da razão entre o
2

valor total do material e a medida total do material em metro quadrado ou linear. Com
esse valor por unidade, é possível calcular o valor referente a cada material por peça
confeccionada, realizando-se o produto entre esse valor e a medida utilizada do material
específico em uma ODO.
Quanto ao colchão piramidal D28, encontra-se no mercado um produto com as
dimensões de 1,88 m x 0,88 m, resultando em uma área total de 1,6544 m2. Esse
colchão foi encontrado ao valor de R$ 78,00 no momento da construção deste
projeto. Com base nesses dados, tem-se um valor de R$ 47,15 por m2 de material.
Multiplicando-se esse valor pela quantidade de material usada em uma ODO,
obtém-se um custo de R$ 4,75. Vale notar que a partir de um único colchão
piramidal D28 é possível confeccionar aproximadamente 16 órteses.

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O rolo do EVA medindo 45 cm x 10 m (área de 4,5 m2) e com 5 mm de espessura


é encontrado ao valor de R$ 229,90. Com isso, conclui-se que o preço por m2 é de
R$ 51,09. Como a área utilizada em uma única ODO é de 0,0768 m2, o custo é de
R$ 3,92. Utilizando-se um único rolo de EVA, pode-se confeccionar 58 ODOs.
O rolo de esparadrapo com 4,5 m de comprimento é encontrado no mercado por
um valor de R$ 15,90. Haja vista que o gasto de esparadrapo por dispositivo fica em
torno de 1,54 m, obtemos o valor de R$ 5,44 para cada órtese, o que possibilita a
confecção de aproximadamente 3 ODOs com um rolo de esparadrapo comum.
Somando todos os valores unitários correspondentes a cada material, temos um valor
total para a ODO de R$ 14,12, o que é economicamente atrativo para a realidade da saúde
pública, permitindo, com pouco investimento (comparado aos dispositivos levantados na
pesquisa de mercado), um retorno com amplos benefícios para os pacientes que necessitam
prevenir a aparição de LPP na região occipital. Vale ressaltar que esse valor corresponde
apenas ao material utilizado, não sendo adicionados os gastos com mão de obra ou material
permanente. Optou-se apenas pela exposição do valor do material em virtude de o produto
não ter objetivo mercadológico de venda, mas sim de apresentação à comunidade científica
para replicação em outros serviços que se assemelham ao ambiente no qual a ODO foi
idealizada. A Tabela 1 apresenta os dados de forma organizada para melhor visualização.
Os materiais de referência utilizados na confecção do dispositivo são apresentados na Tabela 2.

Tabela 1. Valores para a confecção da ODO.


Valor referente ao
Valor por Medida utilizada
Medida Valor total que foi utilizado
Material unidade de para a confecção
total do material para confecção da
medida da ODO
ODO
1 colchão
1,6544 m2 R$ 78,00 R$ 47,15 0,1008 m2 R$ 4,75
piramidal D28
1 rolo de EVA 4,5 m2 R$ 229,90 R$ 51,09 0,0768 m2 R$ 3,92
1 rolo de
4,5 m R$ 15,90 R$ 3,53 1,54 m R$ 5,44
esparadrapo
Soma total R$ 14,12
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

Tabela 2. Materiais de referência para o cálculo do valor da ODO.


Material Referência dos valores
Colchão piramidal – D28 Mercado Livre (2022a)
EVA Mercado Livre (2022b)
Esparadrapo Casa e Vídeo (2022)
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

Etapa 4: Produto atual


O dispositivo descrito se configura como um recurso de TA, mais especificamente,
uma órtese. A TA é uma área de conhecimento que abrange recursos, serviços, estratégias
e técnicas com o objetivo de proporcionar melhor qualidade de vida aos indivíduos com
perdas funcionais transitórias ou permanentes (Pelosi & Gomes, 2018).

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Tal dispositivo foi nomeado órtese em virtude de seguir os conceitos descritos por
Ramos et al. (2021). Órteses são dispositivos de TA aplicados na região externa ao
segmento corporal com o intuito de auxiliar a prevenção de lesões e deformidades e a
manutenção da amplitude do movimento articular, da força muscular e da
potencialização da função do membro, conforme a necessidade do paciente. A confecção
de uma órtese requer profundos conhecimentos, desde a escolha e compreensão dos
materiais, até as análises anatômica, de funcionalidade e da necessidade individual de
cada patologia e sujeito, para que o modelo atenda a todos os aspectos necessários para
tornar-se eficaz no processo terapêutico (Ramos et al., 2021).
No contexto hospitalar e da terapia intensiva, nota-se como o terapeuta ocupacional,
uma vez capacitado para tal, tem papel fundamental na prescrição e confecção desse
recurso de TA, planejando e executando estratégias de adaptação, orientação e
capacitação, visando maior funcionalidade do paciente crítico ou potencialmente crítico,
bem como ações voltadas para a prevenção de agravos (Brasil, 2013).
Na literatura, observam-se medidas utilizadas pelas equipes assistenciais para evitar o
aparecimento de LPP. Feitosa et al. (2020) realizaram uma revisão de literatura que apontou
10 produções brasileiras que abordam estratégias utilizadas para prevenir e tratar LPP, entre
elas: exame constante da integridade da pele, limpeza e hidratação, uso de placas e coberturas,
mudança de decúbito a cada duas horas, mobilização precoce do paciente e garantia de boa
ingestão de nutrientes. Além disso, destaca-se a estratégia de proteção de proeminências ósseas.
A estratégia de proteção das proeminências ósseas é corroborada pela pesquisa de
Mervis & Phillips (2019). Esse estudo indica diferentes métodos para proteger as
proeminências ósseas, dentre eles, o uso de superfícies de suporte, especificamente as
classificadas pelos autores como constant low pressure (CLP), em tradução livre: baixa
pressão constante. Essa pressão refere-se à quantidade de força aplicada no contato da
proeminência óssea com alguma superfície. Essa força pode ser reduzida ao lançar-se
mão de materiais que a redistribua e, consequentemente, proteja o segmento.
Um material que se adequa à característica de baixa pressão constante é o colchão
piramidal (Barreto, 2016), que é a principal matéria-prima para a confecção da ODO.
O colchão piramidal apresenta uma estrutura delgada, com diferentes alturas em toda a
sua extensão, o que aumenta a área de contato e, portanto, diminui a pressão. Pontos
positivos da utilização do colchão piramidal para a confecção da ODO incluem fácil uso
e manuseio, por sua leveza, e valor de produção menor comparado ao de outros produtos
pesquisados, além de não necessitar de energia elétrica e apresentar baixa manutenção.
Um ponto negativo desse material é a existência de produtos com baixa qualidade no
mercado, que têm baixa durabilidade e apresentam uso inadequado, afetando a
qualidade das órteses confeccionadas (Barreto, 2016).
Barreto (2016), em pesquisa experimental que acompanhou uma equipe com
capacidade técnica para a prestação da assistência, relata que não houve diferença
significativa na prevenção de LPP entre o uso de colchão piramidal e de outros tipos de
superfícies. Esse dado sugere que tanto o uso do colchão piramidal como o de outros
colchões é eficaz na prevenção de LPP; porém, a preferência pelo colchão piramidal se
deu pela facilidade de compra, além desse material permitir cortes, moldagem e
manuseio para as transformações e utilização especificamente para a construção de
órteses que protegem segmentos do corpo, quando avaliado por um profissional
capacitado na área de TA, a exemplo do terapeuta ocupacional.

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Como anteriormente citado, existem materiais na literatura que propõem o alívio


da pressão na região occipital. Entretanto, para poder lançar mão desses dispositivos,
a equipe assistencial deve, primeiramente, entender como funciona o processo de
descompressão. Katzengold & Gefen (2018) apontam alguns critérios que
dispositivos de descompressão em região occipital devem seguir para serem
adequados ao uso, como design específico para cada paciente e suas especificidades,
manutenção do posicionamento/alinhamento com o corpo e adaptação ou ajuste às
curvas anatômicas.
Vale ressaltar que, para melhor efetividade, o dispositivo não pode ser coberto com
materiais grossos couro sintético ou edredom, haja vista que esses materiais podem
favorecer o aquecimento do segmento occipital, provocando rompimento da proteção
tissular. Com base na experiência dos autores, recomenda-se apenas a utilização de
fronhas simples, como as usadas em almofadas ou travesseiros, a fim de manter a baixa
pressão constante favorecida pelo colchão piramidal.
Outro ponto a ser destacado são os dispositivos que apresentam um formato de
rodilha ou donut, com uma abertura central em seu design. Embora esses dispositivos
tenham como objetivo reduzir a pressão, alguns estudos mostram que seu uso pode
produzir efeito contrário, prejudicando a redistribuição da pressão na região
occipital, podendo causar deformações permanentes na estrutura óssea do segmento
(Katzengold & Gefen, 2018; Levy et al., 2017).
Além disso, é recomendado que dispositivos de descompressão para a região occipital
não sejam confeccionados utilizando-se estratégias de improviso, como a utilização de
rolos, toalhas, cobertores ou ataduras, como é comumente observado em UTIs, haja
vista que sua utilização pode não manter posicionamento e romper a integridade tissular,
aumentando o risco de ocorrência de lesões (Waters et al., 2011).
As ODOs foram confeccionadas com materiais acessíveis e de baixo custo: colchão
piramidal, etileno acetato de vinila (EVA) e esparadrapo. O modelo considera a posição
anatômica e é indicado para uso contínuo.
Um ponto a ser destacado é que cada órtese pode ser usada por aproximadamente
sete dias, com variações dependendo da perda de densidade. Dessa forma, caso o
paciente necessite de uso contínuo por um tempo prologando, é possível que haja a
necessidade de substituição para manter a baixa pressão constante e minimizar a
ocorrência de LPP. O tempo de uso é um ponto de comparação entre as ODOs e as
órteses pré-fabricadas, haja vista que as disponíveis no mercado tendem a apresentar vida
útil um pouco mais longa.
Dessa forma, a estratégia da utilização da ODO, com o objetivo de evitar a
ocorrência de LPP, corrobora alguns achados na literatura, já que esse dispositivo
utiliza um material que favorece a redistribuição da pressão – o colchão piramidal,
desde que sejam seguidas as recomendações de manter alinhamento corporal, ser
desenvolvido especificamente com base na antropometria de cada paciente e adaptar-
se às curvas anatômicas dos usuários. Além disso, o dispositivo não apresenta depressão
central, o que permite manter o posicionamento sem aumentar o risco de surgimento
de LPP.

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Conclusão
Atualmente, a ODO está em processo de aperfeiçoamento, para se tornar um
dispositivo terapêutico inserido no protocolo institucional de rotina da UTI de um
hospital privado de Belém. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi, primeiramente,
apresentar a ODO na literatura acadêmica como um dispositivo que pode auxiliar a
redução da ocorrência de LPP em pacientes críticos em longos períodos de internação e
restrição ao leito.
Apesar da ODO estar embasada na literatura atual que aborda a prevenção das LPP, ainda
é necessário um estudo científico criterioso para apontar sua eficácia, por meio de pesquisas
que incluam grupos de controle e randomizados, em ambiente de UTI com pacientes com
trauma, que é o contexto no qual o dispositivo foi primeiramente elaborado e aplicado.
A ODO apresenta limitações, principalmente quanto à aprovação de seu uso por
instituições hospitalares, a necessidade de capacitações para preparar o profissional no
momento de sua avaliação, prescrição, confecção e dispensação, de habilidades motoras
para sua confecção, entre outros pontos.
Outra limitação, que também pode ser uma fortaleza, é o ineditismo do dispositivo, que
utiliza materiais que, originalmente, não têm a função de serem transformados em órteses
de descompressão. Isso limita os achados em bases de dados quanto a experiências anteriores.
Entretanto, o objetivo de apresentar esse dispositivo para a comunidade científica
será seguido em publicações futuras dos próprios autores abordando os resultados da
continuidade da pesquisa quanto à real eficácia do produto.
Destaca-se a pertinência de elaborar e dar continuidade aos estudos com este dispositivo
inovador, haja vista a ampliação do leque de possibilidades dos terapeutas ocupacionais em
UTI, além da redução dos custos hospitalares na oferta de assistência ao paciente crítico.
A confecção desse dispositivo pela equipe de terapia ocupacional passou a ser
reconhecida, permitindo a construção e ampliação de um Laboratório de Tecnologia
Assistiva dentro do HMUE, assim como em outros hospitais da região, onde os
dispositivos são atualmente confeccionados sob a gerência de terapeutas ocupacionais.
Por fim, vale ressaltar que a ODO é constantemente atualizada a fim de prevenir e
tratar LPP no segmento occipital dos pacientes. Novos modelos podem surgir, bem
como modelos que objetivam a descompressão em outros segmentos do corpo, a partir
dos princípios utilizados na ODO.

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Desenvolvimento da Órtese de Descompressão Occipital (ODO) para pacientes críticos em unidades de terapia intensiva

Contribuição dos Autores


Lucas da Silva Muniz: concepção do texto, organização de
fontes, revisão. Nonato Márcio Custódio Maia Sá:
orientação, revisão, análise das fontes. Carlos Roberto
Monteiro de Vasconcelos Filho: concepção do texto,
redação do texto, organização de fontes. Todos os autores
aprovaram a versão final do texto.

Autor para correspondência


Lucas da Silva Muniz
e-mail: [email protected]

Editora de seção
Profa. Dra. Mariana Midori Sime

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