O Principe Com Notas de Napoleão - Nicolau Maquiavel
O Principe Com Notas de Napoleão - Nicolau Maquiavel
O Principe Com Notas de Napoleão - Nicolau Maquiavel
Nicolau Maquiavel
1ª edição — maio de 2024 — CEDET
Título original: Il Principe (1532)
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no
Brasil em 2009.
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Editores:
Ulisses Trevisan Palhavan
Gabriella Cordeiro de Moraes
Assistente editorial:
Lucas Gurgel
Tradução:
Gustavo Milano
Fabio Florence de Barros
Revisão:
Luciano Machado Tomaz
Preparação de texto:
Daniela Aparecida Mandú Neves
Capa:
Nelson Provazi
Diagramação:
Virgínia Morais
Revisão de provas:
Lidiane da Silva Ferreira Gozzo
Tomaz Lemos
Natalia Ruggiero
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
ficha catalográfica
Maquiavel, Nicolau.
O príncipe: com notas de Napoleão Bonaparte / tradução de Gustavo Milano e Fabio Florence
de Barros — 1ª ed. — Campinas, SP: Editora Auster, 2024.
Título original: Il Principe
ISBN: 978-65-80136-29-2
1. Ciência política 2. Teoria e filosofia 3. Sistemas de governos e Estados
I. Autor II. Napoleão Bonaparte III. Título
CDD – 320 / 320.01 / 321
indices para catálogo sistemático
1. Ciência política — 320
2. Teoria e filosofia — 320.01
3. Sistemas de governos e Estados — 321
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por
qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro
meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.
Sumário
Nota do Editor
Notas de Rodapé
nota do editor
C oncluída em 1513, mas publicada postumamente em 1532, O
príncipe descreve as formas de como conquistar e manter-se no
poder. Além de ser um tratado político, a obra mais conhecida de
Nicolau Maquiavel, dedicada a Lourenço de Médici, tornou-se um
manual sobre a arte de governar e um guia para todos os estrategistas.
O Rei Luís foi à Itália por causa da ambição dos venezianos, que
queriam tomar metade do estado da Lombardia naquela ocasião. Não
pretendo reprovar essa decisão do rei, pois, querendo começar a pôr
um pé na Itália sem ter nela amigo algum e sim — pelas posturas do
Rei Carlos — todas as portas fechadas, viu-se forçado a aceitar as
amizades que podia.50 Teria sido bem-sucedido se não tivesse
cometido erro algum nas outras manobras. Tendo o rei conquistado a
Lombardia, logo reouve a reputação que Carlos lhe tirara: Gênova se
rendeu; os florentinos se tornaram seus amigos; o Marquês de Mântua,
o Duque de Ferrara, os Bentivoglio, a Senhora de Forlì, os Senhores de
Faenza, de Pesaro, de Rimini, de Camerino, de Piombino, os de Luca,
os de Pisa, os de Siena, todos o buscaram para serem seus amigos.51 E
então os venezianos perceberam o quão temerários foram: em troca de
dois territórios da Lombardia, deram ao rei francês dois terços da
Itália.52 Considere-se então com que facilidade o rei poderia ter
preservado a sua reputação na Itália se tivesse seguido as regras
supracitadas e mantido seguros e protegidos todos os seus amigos,
que, por serem numerosos, fracos e receosos — alguns com medo da
Igreja, outros dos venezianos — necessitariam continuamente de seu
apoio, e por meio deles se poderia facilmente defender dos que ainda
eram poderosos.53 Mas, assim que chegou a Milão, ele fez o contrário,
ajudando o Papa Alexandre vi para que ocupasse a Romanha. Só não
reparou que com essa deliberação enfraquecia-se, perdendo os amigos
e protegidos, e fortalecia a Igreja,54 ao dar-lhe, além do poder espiritual
— que tanta autoridade lhe dá —, mais poder temporal.55 Cometido o
primeiro erro, viu-se obrigado a prosseguir, até que, para pôr fim à
ambição de Alexandre e para que este não se tornasse Senhor da
Toscana, não teve outra opção senão ir para a Itália. Não lhe bastou ter
fortalecido a Igreja e perdido os seus aliados: por cobiçar o Reino de
Nápoles, dividiu-o com o Rei da Espanha;56 ali onde ele era o
governante da Itália, agora tinha um companheiro, de maneira que os
ambiciosos daquela província e os que estivessem descontentes com
ele tivessem a quem recorrer; ali onde ele poderia deixar um rei
submisso57 a si como soberano, ao invés disso substituiu-o por um
capaz de o expulsar dali.58
É realmente muito natural e ordinário desejar conquistar, e, sempre
que os homens têm sucesso em tal empresa, serão louvados, não
desaprovados. Mas quando não conseguem e ainda assim insistem em
fazê-lo a qualquer custo, eis aí o erro e a desaprovação.59 Assim, se a
França com as suas próprias forças podia atacar Nápoles, devia tê-lo
feito; se não podia, não devia ter dividido aquele reino. Se a divisão da
Lombardia com os venezianos é desculpável por ter dado a
oportunidade de pôr um pé na Itália, aquela do Reino de Nápoles
merece desaprovação, por não fazer jus à mesma desculpa.60 Portanto,
Luís cometeu estes cinco erros: liquidou os menos poderosos,61
aumentou na Itália o poder de um poderoso, colocou ali um
estrangeiro poderosíssimo, não foi morar ali e não instituiu colônias.
Ainda assim, todos esses erros, estando ele vivo, poderiam não
prejudicá-lo, caso não tivesse cometido um sexto erro: tomar o estado
dos venezianos.62 Pois, caso ele não tivesse fortalecido a Igreja nem
trazido a Espanha para dentro da Itália, seria bastante razoável e
necessário submeter o poder dos venezianos; porém, tendo sido
tomadas aquelas duas decisões, não deveria jamais ter consentido na
ruína dos venezianos; porque, sendo poderosos, teriam sempre
mantido longe aqueles que poderiam atacar a Lombardia, seja porque
os venezianos não consentiriam sem que eles mesmos se tornassem os
novos senhores, seja porque os outros não desejariam tomá-la à
França para a dar aos venezianos: pois, para enfrentar as duas,63 os
inimigos não teriam fôlego. E se alguém dissesse: o Rei Luís cedeu a
Alexandre a Romanha e à Espanha o Reino de Nápoles para evitar
uma guerra, eu responderia com os argumentos expostos acima,
segundo os quais não se deve jamais admitir uma desordem a fim de
escapar a uma guerra, porque não se escapa de uma guerra, ela é
apenas adiada para sua própria desvantagem64 daquele que buscou
fugir dela. E se outros alegassem que o compromisso que o rei assumiu
com o Papa de fazer por ele aquela empreitada em troca da anulação
do seu matrimônio e do cardinalato de Ruão, respondo com o que
direi a seguir sobre os compromissos dos príncipes e o modo como
devem ser cumpridos.65 O Rei Luís, pois, perdeu a Lombardia por não
ter observado preceito algum daqueles seguidos por outros que
tomaram províncias e quiseram conservá-las. Isto não é nenhum
milagre, mas algo muito comum e razoável. Tratei desse assunto em
Nantes com o Cardeal de Ruão, quando Valentino — como era
popularmente conhecido César Bórgia, filho do Papa Alexandre vi —
ocupava a Romanha. Esse cardeal me disse que os italianos não
entendiam de guerra, e eu repliquei que os franceses não entendiam de
estado, porque, se entendessem, não teriam deixado a Igreja se
fortalecer tanto.66 A experiência mostrou que a grandeza desta e da
Espanha na Itália foi causada pela França, assim como a ruína francesa
proveio de ambas.67 Daí se extrai uma regra geral, que nunca ou só
raramente falha: quem é motivo de que outro se torne poderoso se
arruína,68 posto que esse poder é causado por quem tem engenho ou
força, e tanto um quanto a outra são suspeitos para quem se tornou
poderoso.69
Como esta parte é digna de atenção e de ser imitada por outros, não
quero ignorá-la.174 Quando o duque tomou a Romanha e notou que ela
estava dirigida por senhores impotentes, que preferiam roubar a
corrigir os seus súditos,175 dando-lhes assim motivo de desunião ao
invés de união176 — tanto que aquela província era repleta de
latrocínios, brigas e todo tipo de injúria177 —, julgou necessário manter
as rédeas curtas a fim de que se tornasse pacífica e obediente ao braço
régio.178 Como plenipotenciário local nomeou Ramiro de Lorca,179
homem cruel e expedito.180 Em pouco tempo, este restabeleceu a paz e
a união com enorme prestígio.181 Em seguida, o duque julgou não ser
necessária tão grande autoridade e,182 temendo que se tornasse odiosa,
instaurou um tribunal civil no meio da província com um presidente
excelente,183 no qual cada cidade tinha o seu representante.184
Consciente de que o recente excesso de rigor gerou algum ódio contra
ele, para acalmar os ânimos daqueles povos e ganhar a sua simpatia,
quis mostrar que, se alguma crueldade acontecera, não era culpa
sua,185 mas da acerba natureza de seu ministro. Aproveitando o
ensejo,186 em certa manhã mandou que o cortassem em dois pedaços e
colocassem os restos mortais na Praça de Cesena, com um pedaço de
madeira e uma faca ensanguentada ao lado. A ferocidade de tal
espetáculo deixou o povo ao mesmo tempo satisfeito e assustado.187
Para melhor esclarecer este ponto, digo que os grandes podem ser
considerados sobretudo de duas maneiras: ou agem de tal forma que
se vinculam em tudo à tua fortuna, ou não. Aqueles que a ela se
vinculam e não são corruptos278 merecem honra e apreço; aqueles que
não se vinculam a ela serão examinados de dois modos: ou fazem isso
por pusilanimidade e carência natural de coragem; então vos deveis
servir dos que forem bons conselheiros, que vos honrarão na
prosperidade e não serão perigo algum nas adversidades.279 Todavia,
quando não se vinculam por solércia e ambição,280 é sinal de que
pensam mais em si do que em vós, e destes o príncipe deve se precaver
e temê-los como se fossem inimigos declarados, pois sempre tentarão
arruiná-lo nas adversidades.281
Deve, pois, um príncipe ter grande cuidado para que de sua boca não
saia jamais uma palavra que não seja plena das cinco mencionadas
qualidades, e que, quando o virem e o ouvirem, pareça cheio de
piedade, cheio de fé, cheio de integridade, cheio de religião.505 Nada é
mais necessário simular do que esta última qualidade.506 Os homens
em geral julgam mais pelos olhos do que pelas mãos, porque todos
podem ver, mas poucos podem sentir. Todos veem o que vós
aparentais, mas poucos tocam aquilo que sois;507 e estes poucos não
ousam contrariar a opinião da maioria, que conta com a majestade do
Estado para os defender.508 Nas ações de todos os homens, e
principalmente nas dos príncipes, onde não há juiz a quem apelar, o
que conta é o resultado final. Eis, pois, o que um príncipe deve fazer
para vencer e manter o poder: os meios sempre serão considerados
honrosos e dignos de elogio,509 porque o povo se agarra às aparências e
aos eventos externos, e no mundo só há povo, já que os poucos não
têm vez quando a maioria tem onde se apoiar.510 Certo príncipe dos
dias atuais — que não convém nomear511 — não prega nada além de
paz e fé, sendo inimicíssimo de ambas; se tivesse seguido as próprias
pregações, já teria perdido tanto a reputação quanto o poder.
Mas voltemos ao nosso assunto. Digo que quem quer que considere a
discussão acima verá que ou o ódio ou o desprezo foram o motivo da
ruína dos referidos imperadores, e entenderá ainda a razão de parte
deles ter agido de um modo e parte de outro, contrário, e mesmo
assim entre todos eles houve bem-sucedidos e fracassados. Com efeito,
para Pertinax e Alexandre, que eram príncipes novos,599 foi inútil e
prejudicial quererem imitar Marco, que era príncipe iure hereditario,
assim como para Caracala, Cômodo e Maximino foi pernicioso imitar
Severo, por não terem tido virtude suficiente para seguir os passos
dele. Portanto, um príncipe novo, num principado novo, não pode
imitar as ações de Marco, assim como não é forçoso seguir as pegadas
de Severo;600 deve sim tomar de Severo aqueles aspectos que, para
fundar o seu estado, forem necessários, e de Marco aqueles que forem
convenientes e honrosos para conservar um estado já estável e firme.601
Por conseguinte, que esses nossos príncipes que estiveram por muitos
anos nos seus principados não acusem o acaso por terem perdido seus
reinos,740 mas sim a sua própria negligência. Em tempos de paz nunca
pensaram em implementar mudanças — o que é um erro comum nos
homens: não prever a tempestade durante a bonança —;741 depois,
quando sobrevieram tempos adversos, pensaram em fugir em vez de
se defenderem,742 esperando que o povo, cansado da insolência dos
vencedores, os chamasse de volta.743 Quando não há outras saídas, essa
é boa, embora seja muito ruim não ter outras soluções; não vale a pena
deixar-se cair por acreditar que alguém há de vos segurar. Isso ou não
acontece ou, se acontece, não ocorre estando vós seguro, por ser uma
defesa frágil e não depender de vós.744 Só são boas, confiáveis e
duradouras as defesas que dependerem de vós e da vossa virtude.745
capítulo xxv: Quanto a fortuna
pode influenciar nas coisas
humanas, e como resistir a ela
N ãodo ignoro que muitos tiveram e têm a convicção de que as coisas
mundo são governadas pelo acaso e por Deus, sem que os
homens com a sua prudência possam alterá-las; ou melhor, sem que
tenham poder algum sobre elas;746 nesse sentido, poderiam achar que
não vale a pena se preocupar por essas coisas, mas sim deixar-se guiar
pela sorte. Essa opinião tem ganhado adeptos em nossos tempos pelas
grandes mudanças verificadas nas coisas diariamente,747 fora de
qualquer alcance humano. Pensando nisso alguma vez, inclinei-me
parcialmente para esse lado. No entanto, para que o nosso livre-
arbítrio não seja anulado, penso que se possa afirmar que a fortuna
decide metade das nossas ações, e que ela mesma deixa a outra metade
ou quase isso para nós governarmos.748 Comparo-a a um desses rios
devastadores que, quando se enfurecem,749 alagam as planícies,
derrubam as árvores e os edifícios, arrastam terra de um lugar para o
outro: todos saem de sua frente, todos cedem ao seu ímpeto, sem
poder contê-lo minimamente. Por serem desse feitio, não resta aos
homens senão, em tempos tranquilos, providenciar diques e
barreiras750 para que, nas cheias, ou escoem por um canal, ou seu
ímpeto seja atenuado e produzam menos estragos e perdas.751 Algo
parecido acontece com a fortuna,752 que demonstra a sua potência
onde não há virtude robusta para fazer-lhe frente,753 e dirige a sua fúria
para onde sabe que não foram postos diques nem barreiras para detê-
la. Se considerardes a Itália, que é o palco dessas mudanças e aquela
que lhes deu o primeiro impulso, vereis que ela é um terreno sem
dique nem barreira alguma, porque, se estivesse resguardada pela
conveniente virtude,754 como a Alemanha, a Espanha e a França, ou
essa inundação755 não teria causado as grandes mudanças que se
verificaram,756 ou não teria sequer acontecido.757 E suponho que isso
baste quanto a opor-se à fortuna de modo geral.758
Se a vossa ilustre casa quiser, pois, imitar esses excelentes homens que
redimiram as suas províncias, antes de qualquer coisa, é necessário,
como verdadeiro fundamento de toda empreitada, ter exércitos
próprios, porque não se pode ter soldados melhores, mais fiéis ou mais
verdadeiros do que os que são próprios. Se individualmente já são
bons, todos juntos se tornarão ainda melhores quando se virem
comandados por seu príncipe, que os honrará e acolherá.804 É
necessário, portanto, preparar esses exércitos para poder, com a
virtude itálica, defenderem-se dos estrangeiros.805 Mesmo que a
infantaria suíça e a espanhola sejam consideradas terríveis, não
obstante ambas terem defeitos, motivo pelo qual uma terceira
modalidade poderia não somente fazer frente a elas, como também ter
a esperança de superá-las.806 Com efeito, os espanhóis não sabem se
defender das cavalarias, e os suíços têm medo dos infantes quando
estes os acometem, no campo de batalha, com ímpeto igual ao seu. De
fato, a experiência demonstrou e demonstrará que os espanhóis não
podem resistir à cavalaria francesa, e os suíços sucumbem ante a
infantaria espanhola.807 Embora deste último não tenha havido prova
cabal alguma, houve, contudo, uma primeira amostra na campanha de
Ravena, quando as infantarias espanholas se confrontaram com as
tropas alemãs, que seguem a mesma mo dalidade dos suíços; nisso, os
espanhóis, com a agilidade do corpo e a ajuda dos seus broquéis,
penetraram por debaixo das lanças adversárias e tinham a certeza de
derrotá-los, sem que os alemães tivessem como evitar; se não fosse a
cavalaria para os deter, teriam arrasado tudo. Que se possa, pois,
conhecidos os defeitos de ambas essas infantarias, constituir uma nova
que resista às cavalarias e não tenha medo dos infantes: isto será feito
com a criação de novas armas e a inovação nas modalidades.808 Estas
são coisas que, quando renovadas, dão reputação e grandeza a um
príncipe novo.809
Não se deve, enfim, deixar passar esta ocasião, a fim de que a Itália,
depois de tanto tempo, conheça o seu redentor.810 Nem posso exprimir
com que amor ele seria recebido em todas aquelas províncias que
sofreram por essas aluviões externas; com que sede de vingança, com
que obstinada fé, com que piedade, com que lágrimas. Que portas se
fechariam diante dele? Que povos lhe negariam obediência? Que
inveja se oporia a ele? Que italiano lhe negaria obséquio? A todos
cheira mal este domínio bárbaro.811 Assuma, pois, a vossa ilustre Casa
este assunto com o mesmo ânimo e com a mesma esperança com que
se assumem as façanhas justas, para que, sob a sua insígnia, esta pátria
seja nobilitada,812 e sob os seus auspícios se realize o que foi dito por
Petrarca:813
Virtù contro a furore
Prenderà l’arme; e fia el combatter corto:
Ché l’antico valore
Nelli italici cor non è ancor morto.814
Notas de Rodapé
1 Tal será o meu, se Deus me der vida para tanto (general).
2 Só há isto de bom, pouco importa o que digam; mas é-me necessário cantar no mesmo
tom que eles, até nova ordem (general).
3 Hei de obviar a isto, tornando-me o decano dos outros soberanos da Europa (general).
4 Veremos isto. O que me favorece é que não o tomei dele, mas de um terceiro, que não era
mais que uma confusão de republicanismo. O elemento odioso da usurpação não recai sobre
mim. Os formuladores de frases pagos por mim já o persuadiram disso: ele só destronou a
anarquia. Meus direitos ao trono da França não foram mal estabelecidos no romance de
Lemont... Quanto ao trono da Itália, terei uma dissertação de Montga... É disto que precisam os
italianos que se fazem de pensadores. Um romance era suficiente para os franceses. A arraia
miúda, que não lê, terá as homilias dos bispos e dos curas que eu nomeei; mais ainda o meu
catecismo aprovado pelo legado papal. Ela não resistirá a essa magia. Nada falta aí, uma vez que
o papa sagrou minha fronte imperial. Sob este aspecto, devo parecer ainda mais inamovível que
qualquer um dos Bourbons (imperador).
5 Embora a concepção de certa unidade peninsular, incluindo também algumas das ilhas
próximas, remonte à Antiguidade, a Itália, como país unificado, é uma realidade política
construída entre 1861 e 1871, isto é, muito posterior à publicação de O príncipe — nt.
6 Quantas pedras de espera eles me deixam! Todos os meus ainda estão aí, e seria preciso
que não restasse mais nenhum para que eu perdesse toda a esperança. Eu aí reencontrarei
minhas águias, meus n, meus bustos, minhas estátuas, e talvez até mesmo a carruagem imperial
da minha sagração. Tudo isso fala sem cessar a meu favor aos olhos do povo, e traz a eles a
minha lembrança (em Elba).
7 Como será o meu domínio sobre o Piemonte, a Toscana, Roma etc. (cônsul).
9 Que patifes! Eles me fazem sentir cruelmente esta verdade. Se eu não conseguisse me livrar
da tirania deles, eles me sacrificariam (imperador).
11 Eu ao menos não tinha frustrado as esperanças dos que me abriram as portas em 1796
(cônsul).
12 Foi a isto que me dediquei ao retomar este país em 1800. Perguntai ao príncipe Charles se
me saí bem. Eles não entendem nada disto; e as coisas me transcorrem como eu desejava
(imperador).
14 Sei mais do que Maquiavel a respeito disso (cônsul). Quanto a estes meios, eles não
parecem apenas ter dúvidas, mas recebem conselhos contrários: tanto melhor (em Elba).
16 Não negligenciarei este ponto em toda a parte onde eu estabelecer meu reinado (general).
17 A Bélgica, que não o está senão há pouco tempo, fornece disto, graças a mim, um bom
exemplo (cônsul).
19 Tolice de Maquiavel. Podia ele conhecer tão bem como eu todo o poder da força? Hei de
dar-lhe logo uma lição contrária em seu próprio país, na Toscana, bem como em Piemonte, em
Parma, Roma etc. (imperador).
22 Hei de obviar isto por meio de vice-reis, ou por reis que não serão mais que meus
delegados: eles nada farão sem minhas ordens. Sem o que, serão destituídos (imperador).
23 É preciso, de fato, que eles enriqueçam, se, a propósito, me servirem à minha maneira
(cônsul).
30 Não vejo cometê-las senão leves contra os meus, por espírito de afabilidade: eles nem por
isso deixarão de se vingar, em meu benefício. Porventura se conhece o abc da arte de reinar
quando se ignora que, ao desagradar por pouco, é como se desagradasse por muito? (em Elba).
31 Não observei suficientemente bem esta regra; mas eles armam aqueles a quem ofendem, e
esses ofendidos me pertencem (em Elba).
33 Não os temo de maneira alguma quando os forço a permanecer aí. Eles não sairão, pelo
menos não para se unirem contra mim (cônsul).
34 Não há meio melhor para tal do que despossuí-los e se apoderar de seus despojos.
Modena, Piacenza, Veneza, Roma e Florença proporcionarão novos (cônsul).
37 Eis o belo auxílio que a Áustria encontrará contra mim nas fracas potências da Itália atual
(general).
38 Ganhá-los! Não hei de me dar ao trabalho; eles serão compelidos por minha força a
formarem um bloco comigo, sobretudo em meu plano de Confederação do Reno (imperador).
42 Isso não era o bastante: os filhos de Rômulo tinham ainda a necessidade da minha escola
(imperador).
43 O autor se refere à chamada Guerra Etólia (191–189 a.C.), em que se aliaram a República
Romana, a Liga Aqueia e o Reino da Macedônia contra a Liga Etólia e a Atamânia. Estes
últimos convidaram Antíoco iii, o Grande, do Império Selêucida, para ajudá-los, mesmo assim
foram derrotados e forçados a pagarem uma substanciosa indenização a Roma — nt.
45 Maquiavel tinha o espírito enfermo ao escrever isto; ou havia acabado de ver seu médico
(imperador).
46 Importante máxima, da qual devo fazer uma das principais regras de minha conduta
guerreira e política (general).
52 Os lombardos, a quem eu simulei que daria a Valtellina, o Bérgamo, Mântua, Bréscia etc.,
ao inocular-lhes a mania republicana, já me prestaram o mesmo serviço. Uma vez senhor de
seu território, logo dominarei o resto da Itália (general).
55 É absolutamente necessário que eu embote os dois gumes da sua espada, Luís xii não era
mais que um idiota (general).
56 Também hei de fazê-lo, mas a partilha que dele farei não me tirará a supremacia: meu
bom José jamais me disputará (imperador).
58 Sendo forçado a daí retirar meu José, não deixo de ter receios quanto ao sucessor que hei
de lhe dar (imperador).
61 Este não seria um erro, se ele não tivesse cometido os outros (general).
62 Seu erro foi não ter calculado bem seu tempo para isso (general).
65 É aqui que reside a maior arte da política; e meu parecer é que jamais podemos levá-la
suficientemente longe (general).
66 Porventura era preciso mais do que isso para que Roma anatematizasse Maquiavel?
(general).
72 Velharia feudal, que receio ser obrigado a ressuscitar, se meus generais persistirem
insistindo nisso (imperador).
75 Os caprichos dos imperadores são sempre respeitáveis. Eles têm suas razões para cultivá-
los (imperador).
76 Eu ao menos não tenho aí esses embaraços; mas tenho outros quase equivalentes
(imperador).
85 Mas Dário não era páreo para Alexandre, como [...] (cônsul).
88 Referência à guerra civil entre Júlio César e Pompeu, em 49 a.C., após o primeiro cruzar o
Rio Rubicão, no Norte da atual Itália, em direção a Roma — nt.
89 Pirro (318–272 a.C.), Rei do Epiro e da Macedônia, ambos na atual Grécia, ficou famoso
por ter sido um dos principais opositores do regime romano — nt.
93 Cápua, na atual Itália, foi destruída em 211 a.C.; Cartago, onde hoje é a Tunísia, em 146
a.C.; e a Numância, na Península Ibérica, em 133 a.C. — nt.
95 Mas isto pode ser feito ao pé da letra, de muitas maneiras, sem destruí-los, mas mudando
suas constituições (general).
96 Genebra poderia me dar algum receio; mas nada tenho a temer dos venezianos e dos
genoveses (cônsul).
97 Genebra poderia me dar algum receio; mas nada tenho a temer dos venezianos e dos
genoveses (cônsul).
102 Mostrarei que, fingindo mirar mais baixo, podemos aí chegar da mesma maneira
(general).
103 O valor é mais necessário que a fortuna; ele dá origem a ela (general).
105 Moisés, provavelmente no século xiii a.C., guiou o povo hebreu para fora da escravidão
no Egito até os umbrais da terra de Canaã, atual Israel, enfrentando no caminho diversos povos
do deserto. Já Ciro, Rei da Pérsia no século vi a.C., anexou reinos e fundou o Império
Aquemênida. Rômulo, por sua vez, segundo se relata, no século viii a.C. teria fundado a cidade
de Roma. Por fim, Teseu teria sido o lendário fundador e primeiro Rei de Atenas. A
equiparação histórica desses quatro personagens não deixa de ser intrigante, dada a significativa
discrepância que existe entre eles com relação à plausibilidade dos testemunhos documentais —
nt.
108 Não preciso de nada mais do que isto; ela há de vir; estejamos prontos a capturá-la
(general).
111 Minha loba benevolente estava em Brienne. Rômulo, havemos de te apagar! (general).
112 Os “medos” foram um antigo povo iraniano que na primeira metade do primeiro
milênio a.C. habitou na parte centro-sul do planalto iraniano, ao Sul do Mar Cáspio, até a
ascensão dos persas — nt.
115 Porventura a sua dose de sabedoria seria suficiente hoje em dia? (general).
117 Não sabemos, portanto, ter às nossas ordens bonecos legislativos? (general).
119 O velhote não sabia como providenciamos defensores ardentes, que fazem os outros
baixarem as armas (general).
120 Isto acontece apenas nos povos um tanto prudentes, e que ainda conservam alguma
liberdade (cônsul).
122 Que bela descoberta! Orar! Quem poderia ser tão covarde para fazer tamanha
demonstração de fraqueza? (general).
125 Eles hoje em dia me julgam, sobretudo após o atestado do Papa, um devoto restaurador
da religião, um enviado do céu (cônsul).
128 Este último ponto ainda não me é muito claro; devo contentar-me com os outros três
(imperador).
129 Ele jamais saiu de minha cabeça, desde os estudos da minha infância. Ele pertencia à
minha vizinhança; e possivelmente sejamos da mesma família (general).
130 Com um pouco de ajuda, sem dúvida. Eis-me como ele (cônsul).
131 “Que nada lhe faltava para reinar a não ser um reino”, paráfrase que o autor faz da frase
do historiador Justiniano presente em Epitoma historiarum Philippicarum (xxiii, 4.15): prorsus
ut nihil ei regium deesse praeter regnum videretur — nt.
132 Minha mãe com frequência disse sobre mim a mesma coisa; eu a amo por causa de suas
previsões (imperador).
134 Como imbecis que se deixam levar e nada sabem fazer por si mesmos (general).
136 Tudo deve ser obstáculo para gente assim (em Elba).
137 Os aliados não tiveram outro objetivo senão este (em Elba).
138 Alude aos imperadores romanos, dos quais falará no capítulo xix — nt.
140 Como simples particular e longe dos estados onde se é exaltado: é a mesma coisa (em
Elba).
142 Por mais ilustre que tenha sido seu destino ao nascer, quando ele vive vinte e três anos
na vida privada, como em família, longe de um povo cujo caráter foi quase totalmente mudado,
e quando é em seguida repentinamente transportado sobre as asas da fortuna, e por mãos
estrangeiras, para aí reinar, então encontrará um estado novo do tipo dos que Maquiavel aqui
menciona. Os antigos prestígios morais convencionais aí foram já por muito tempo
interrompidos, e só existem de maneira nominal (em Elba).
148 Para reinar, bem entendido. Os outros não são mais que brilhantes tolices (em Elba).
149 Sobretudo quando o fazem apenas às apalpadelas, com timidez (em Elba).
151 Eu bem gostaria que não o tivesses dito a mais ninguém além de mim; mas os outros
não sabem ler-te, o que dá no mesmo (general).
152 Tenho de que me queixar. Mas eu a corrigirei (em Elba).
153 Ludovico Sforza (1451–1508) ocupou esse cargo de 1494 a 1499 — nt.
154 Porventura conseguirei tirar-me de um embaraço maior do mesmo gênero para atribuir
reinos a meu José, a meu Jerônimo [...]? Para Luís, será o caso se restar algum do qual eu não
saiba o que fazer (cônsul). Eu bem tinha razão de hesitar quanto a este. Mas o ingrato, o
covarde, o traidor Joaquim! [...] Ele há de reparar seus erros (em Elba).
155 Os Orsini e os Colonna foram duas proeminentes e ativas famílias nobres italianas
durante a Idade Média e o Renascimento. Eles são famosos por seu envolvimento em política,
rivalidades com outras famílias e influência significativa nos assuntos do estado Papal e de
Roma — ne.
157 Eu soube fazer nascer outras, mais dignas de mim, de meu século e mais convenientes a
mim (imperador).
158 O Alexandre de tiara não me reprovaria mais que o Alexandre de elmo (imperador).
159 A experiência que já fiz, ao ceder o ducado de Urbino para conseguir a assinatura da
Concordata me provou que, em Roma como alhures, hoje em dia como outrora, uma mão lava
a outra; e isto promete (cônsul).
160 Os genoveses me abriram a Itália com a insensata esperança de que suas imensas rendas
sobre a França seriam pagas sem redução: quid non cogit auri sacra fames [a que não coage a
maldita cobiça pelo ouro]. Eles ao menos terão sempre a minha benevolência, de preferência
aos outros italianos (cônsul).
161 Custou-me caro não ter tido a mesma desconfiança para com meus protegidos e aliados
da Alemanha (em Elba).
163 Minhas colunas são os realistas; meus Orsinis são os jacobinos; e meus nobres serão os
chefes de ambos os grupos (general).
164 Eu já havia começado tudo isso em parte, mesmo antes de chegar ao consulado, no qual
me considero feliz por ter logo completado essas importantes operações (imperador).
166 Essas duas coisas não puderam ser aperfeiçoadas na mesma época, mas o foram desde
então (imperador).
170 Quid nescit dissimulare, nescit regnare [quem não sabe dissimular, não sabe reinar];
Luís xi não sabia o bastante. Ele deveria dizer: qui nescit fallere nescit regnare [quem não sabe
enganar não sabe reinar] (imperador).
171 O que restava de mais temível contra mim entre os meus Colonna e meus Orsini não
teve melhor sorte (imperador).
173 Porventura em vinte anos a França conheceu a ordem de que desfruta hoje e que
somente meu braço pôde restabelecer? (imperador).
174 Ela é mil vezes mais útil aos povos que odiosa a alguns tolos frasistas (imperador).
178 Acaso não foi isto que eu fiz? Era necessário um governo firme e rude para reprimir a
anarquia (imperador).
182 Eis aí porque suprimi teu ministério, e coloquei-te no beco sem saída do meu senado
(cônsul).
183 Antonio Maria Ciocchi del Monte (1461–1533) foi cardeal e tio do futuro Papa Júlio iii
— nt.
184 Criar uma comissão senatorial da liberdade individual, que, no entanto, só fará o que eu
quiser (imperador).
185 Ninguém é mais destinado do que ele, pela própria opinião pública, a se tornar o meu
bode emissário (imperador).
186 Meu sangue ferve por só poder retirar-lhe as graças, sem fazê-lo paralítico (imperador).
187 Bons tempos em que se podia aplicar esse tipo de punição, que ele bem mereceria!
(imperador).
188 Bem, muito bem feito (cônsul).
192 Não deixes de fazê-lo quando puderes; e toma providências para podê-lo (cônsul).
195 Eu ainda só pude efetuar metade desta manobra. Si vuol tempo (imperador).
196 Uma vez que levei todos os príncipes da Alemanha a este ponto, pensemos em meu
grande projeto do Norte. As mesmas coisas acontecerão, com resultados que nenhum
conquistador jamais conheceu (imperador).
197 Livre de toda condição semelhante, chegarei bem mais longe (imperador).
199 Tanto pior para ele: é preciso saber jamais estar doente, e tornar-se invulnerável em
todas as coisas (imperador).
200 Como a França me esperou depois dos meus desastres de Moscou (em Elba).
201 Por mais moribundo que estivesse, politicamente falando, em Smolensk, eu nada tive a
temer da parte dos meus (em Elba).
202 Isto não me foi difícil: a mera notícia do meu desembarque em Fréjus eliminou as
escolhas que me teriam sido contrárias (cônsul).
203 No final das contas, falando de maneira ordinária, mais vale jamais pensar nisso quando
se quer reinar gloriosamente. Esse pensamento teria congelado os meus mais ousados projetos
(imperador).
204 São bem ignorantes os escritorezinhos que disseram que ele o havia proposto a todos os
príncipes, mesmo aos que não estão, e não podem estar, no mesmo caso. Em toda a Europa,
não conheço ninguém além de mim a quem esse modelo possa ser adequado (imperador).
205 O que eu fiz de análogo era a minha situação que tornava uma necessidade, e, por
conseguinte, um dever (em Elba).
206 Meus reveses decorrem unicamente de causas análogas, sobre as quais meu gênio não
tinha poder algum (em Elba).
210 Eu tê-lo-ia logo deposto, se fosse escolhido contra o meu bel-prazer (cônsul).
211 Todos, excetuando-se o que foi escolhido, sabiam ou previam que deviam temer-me
(cônsul).
213 Meu nome basta para os fazer tremer, e farei trazê-los como ovelhas ao pé do meu trono
(cônsul).
214 Que belo motivo para contar com essa gente! Maquiavel também tinha boa-fé em
excesso (imperador).
215 O autor combina a referência à igreja da qual cada cardeal era titular, com o sobrenome
do dito cardeal. “San Pietro ad Vincula” era a igreja titular de Giuliano della Rovere, futuro
Papa Júlio ii; com “Colonna” ele alude ao Cardeal Giovanni Colonna; “San Giorgio” era a sede
de Raffaele Riario; e “Ascanio” era Ascânio Sforza. Para mais adiante: o então Cardeal de Ruão
era Georges d’Amboise — nt.
216 Eles parecem esquecer quando sua paixão o quer, mas não confiemos nisso (imperador).
221 Este, meu vizinho, como Hierão, e mais próximo no tempo do que ele, estará ainda mais
certamente na genealogia dos meus ascendentes (general).
222 A constância nesta matéria é o indício mais seguro de um caráter determinado e ousado
(general).
225 Que me concedam o consulado por dez anos, e logo farei que me concedam de maneira
vitalícia; e veremos! (general).
226 Amílcar Barca (270–228 a.C.) foi um general cartaginês que, na Primeira Guerra Púnica
(247 a.C.), tomou a Sicília das mãos de Roma — nt.
227 Não preciso de um auxílio desse tipo: todavia, preciso de outros; mas eles são fáceis de
se obter (general).
228 Ver meu 18 Brumário e seus efeitos! Ele teve a vantagem de uma maneira mais ampla,
sem nenhum destes crimes (cônsul).
229 Eu obtive bem mais. Agátocles não é mais que um anão perto de mim (imperador).
232 Tudo isso são preconceitos de crianças! A glória sempre acompanha o sucesso, pouco
importa como ele venha (imperador).
237 Que astuto personagem! Ele me suscitou excelentes ideias, desde a minha infância
(general).
238 Vaubois, tu foste o meu Vitelli. Sei ter gratidão, a propósito (general).
240 Que maroto! Há em toda essa história de Oliverotto uma série de coisas de que saberei
tirar proveito conforme às circunstâncias (general).
241 Isso se assemelhava um pouco ao grande banquete da igreja de Saint-Sulpice que fiz os
deputados me oferecerem, quando retornei da Itália, depois de Frutidor, mas a pera ainda não
estava madura (cônsul).
243 A mim bastava, por ora, assustá-los, dispersá-los e colocá-los em fuga. Era preciso
sustentar o que eu mandara dizer solenemente a Barras, a saber, que eu não gostava de sangue
(cônsul).
244 Que terminem logo a elaboração desse Código Civil, ao qual desejo dar meu nome!
(cônsul).
245 Isso dependia inteiramente de mim; e eu o obviei de forma cômoda, e progressivamente
(cônsul).
246 Tolo, que deixa arrebatarem-lhe a vida junto com a soberania! (em Elba).
247 Por esta palavra de censura, Maquiavel finge transformar tudo isso em um crime. Pobre
homem! (cônsul).
248 A boa gente dirá que Oliverotto bem o mereceu, e que Bórgia foi instrumento de uma
punição justa. Fico, no entanto, aborrecido por Oliverotto; isso não me seria de bom presságio,
caso houvesse no mundo um outro César Bórgia além de mim mesmo (cônsul).
249 Este tipo de afirmação, provinda de Maquiavel, é indício de que ele não relativiza o valor
do bem e do mal. Ao contrário, reconhece-os e os afirma, embora não tenha escrúpulos em
fazer um mal para alcançar um bem, o que, por sua vez, corrobora a sua perspectiva moral
segundo a qual os fins justificam os meios — nt.
250 Se tivessem começado por aí, como Charles ii e tantos outros, minha causa estaria
perdida. Todos esperavam por isso; e ninguém o teria culpado. Em pouco tempo, o povo não
pensaria mais no caso, e teria me esquecido (em Elba).
252 Se insistirem por muito tempo nesta operação, irão na contramão de seus interesses.
Quando a lembrança da ação que deve ser punida caduca, aquele que a punir não parecerá ser
mais que um homem de caráter cruel, pois todos terão como que esquecido o que tornaria a
punição justa (em Elba).
254 Esse método, o único que resta aos ministros, só pode ser-me favorável (em Elba).
257 Ambas as causas de ruína estão ao seu lado; a segunda está quase toda à minha
disposição (em Elba).
259 Os que, tendo começado demasiadamente tarde, começam timidamente a tentar praticá-
los sobre os mais fracos, fazem que os fortes bradem e se revoltem: aproveitemo-nos [desta
observação] (em Elba).
260 Quando os distribuímos a mãos cheias, muitos indignos os apanham; e os outros quase
não manifestam gratidão (em Elba).
261 E para que não pareçamos estar girando sobre um eixo! (em Elba).
262 Eles farão a experiência (em Elba).
263 Por mais que se prometa e até mesmo se dê, isto de nada servirá, porque o povo
permanece naturalmente sem vigor em prol de quem cai por falta de clarividência e de
longanimidade (em Elba).
265 Este meio, no entanto, não está fora do meu poder; ele já me serviu de maneira bastante
afortunada (general).
267 Esta é a situação atual do partido diretorial; façamos que ele sirva para aumentar minha
consideração junto do povo (general).
270 Nós o faremos trabalhar neste sentido, a fim de que, por um motivo inteiramente
oposto, ele tenda ao mesmo objetivo dos diretoriais (general).
271 Fingirei ter aí chegado somente por ele e para ele (general).
273 Não tive sucesso em fazer crer que eu me incluía nesse caso. Tratarei de parecê-lo mais
quando retornar (em Elba).
274 Eu, no entanto, os havia levado até esse ponto (em Elba).
275 Os meus eram insaciáveis. Esses homens de revolução jamais têm dinheiro o suficiente.
Eles só a fizeram para enriquecer; e sua cobiça cresce com seus desfrutes. Se se adiantam ao
partido que vai triunfar, e se o servem, é para obter seus favores. Eles em seguida derrubarão
aquele que elevaram, quando esgotar suas dádivas para com eles. Querendo sempre receber,
eles esmagarão também este, quando tiver deixado de dar-lhes o que querem, a fim de terem
um que lhos dê. Haverá sempre o maior dos perigos em se servir desses influenciadores. Mas,
como dispensá-los? Sobretudo eu, que não tenho outro apoio! Ah! Se eu tivesse o título de
sucessão ao trono, esses homens não poderiam nem me trair, nem me prejudicar (em Elba).
276 Como não previ que esses ambiciosos, sempre prontos para se anteciparem aos ventos
da fortuna, me abandonariam e me trairiam até mesmo quando eu estivesse na adversidade?
Eles farão o mesmo a meu favor, contra meu inimigo, se me virem em boas condições, mas
prontos para me traírem novamente, se eu balançar. Por que não pude formar grandes homens
com homens novos? (em Elba).
277 Isto não me é de modo algum fácil de fazer, pelo menos tanto quanto eu gostaria e
deveria fazê-lo; tentei-o em relação a... e F... e, em função disso, tornaram-se ainda mais
perigosos. O primeiro me traiu; o segundo, de quem necessito, permanece em atitude ambígua;
mas hei de ganhá-lo de uma forma ou de outra (em Elba).
281 Eu não havia percebido muito bem essa verdade; os acontecimentos fizeram-na
penetrar-me com dureza. Porventura poderei dela tirar proveito no futuro? (em Elba).
286 Aliado a Filipe v da Macedônia, Nábis, Rei de Esparta entre 207 e 192 a.C., enfrentou a
Liga Aqueia, formada por gregos e romanos — nt.
287 Sim e sim, quando o povo absolutamente não é mais do que lama (em Elba).
288 Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe durante a república romana em 133 a.C. e no
ano seguinte, tentando a sua reeleição, foi espancado até a morte por inimigos nas ruas de
Roma. Dez anos depois, em 122 a.C., seu irmão Caio foi eleito para o mesmo cargo e nele ficou
também por apenas um ano, quando o senado o pressionou, levando-o talvez ao suicídio em
121 a.C. Algumas medidas assistencialistas implementadas por Caio Graco ficaram
posteriormente conhecidas como “pão e circo”. Ambos se tornaram símbolos da defesa dos
mais pobres contra o furor assassino dos patrícios e senadores. Já Giorgio Scali foi um rico
cidadão florentino, querido pelo povo, que assumiu o poder depois do chamado Tumulto dos
Ciompi (1378), de motivações econômico-políticas. Em pouco tempo o seu prestígio se
desgastou com o povo e todos o abandonaram, até que em 1382 foi preso e decapitado — nt.
289 De tudo isso só me faltou o benefício de ser amado pelo povo; e, no entanto [...]. Mas
fazer-se amado na situação em que eu me encontrava, com as necessidades que eu tinha, era
bem difícil (em Elba).
293 Eis aí o que não intuem nesses protestos de amizade e nessas comunicações que os
tranquilizam: eles não sabem, portanto, como isto se dá! (em Elba).
294 Se eles se saíssem bem uma primeira vez, eu me vingaria, com vantagem, quando
pudesse fazê-lo, ou mandar que outro o fizesse (em Elba).
298 Com mais forte razão quando podem atacar, e fazer tremerem todos os outros (general).
301 No entanto, estive nessa situação; mas aproveitarei a primeira ocasião que se apresentar
para fazer uma fortificação em minha capital, sem que adivinhem o verdadeiro motivo (em
Elba).
302 Assim como no caso da Itália, o que posteriormente veio se chamar de Alemanha é uma
realidade política elaborada entre 1866 e 1871, embora alguns desses povos já nutrissem certa
irmandade por conta da língua, tradição e cultura comuns ou muito similares — nt.
303 Isto era adequado para tempos passados; e aqui não se trata de agressores franceses
(general).
304 De que serviram essas precauções contra o nosso ardor na Alemanha e na Suíça?
(cônsul).
305 Eu não fico durante um ano rondando, sem nada fazer, sob os muros de outrem
(cônsul).
306 O melhor meio, até mesmo o único, é contê-los a todos igualmente por meio de um
grande terror; oprimi-os, e não se revoltarão, e não ousarão nem respirar (imperador).
307 Que isto seja ou não seja assim, pouco me importa. Não tenho essa necessidade
(imperador).
309 Ah! Se eu pudesse, na França, fazer de mim mesmo Augusto e Pontífice Supremo da
religião! (general).
310 Esta ironia bem merecia todos os raios espirituais do poder temporal do Vaticano
(general).
311 Compreendes mal os interesses de tua reputação; a corte de Roma não te perdoará essa
história indiscreta (general).
312 Em 1482, os venezianos tentaram conquistar Ferrara, mas foram impedidos pela
coalizão formada pelo Papa Sisto iv, o Rei de Nápoles, o Duque de Milão e os florentinos — nt.
319 Eu não faria mal em ter vários cardeais que a mim devessem seus barretes vermelhos
(cônsul).
321 Por que então esse visionário do Montesquieu falou de Maquiavel em seu capítulo dos
Legisladores? (cônsul).
322 Quando não temos mais tropas nossas, ou quando os merce nários e auxiliares são em
número maior que elas: isto é evidente (general).
324 O original traz a frase “tomar a Itália com o giz (ou gesso)”, atribuída ao Papa Alexandre
vi, no sentido de “sem ter que ser bruto”, “comodamente” — nt.
325 Possível alusão ao polêmico Frei Jerônimo Savonarola (1452– 1498) — nt.
326 No tempo do bom homem, toda falta, seja política, seja moral, era chamada pecado: ele
não era mais indulgente quanto às faltas dos homens de estado do que os jansenistas o são
quanto aos pecados do povo (general).
327 Exércitos formados por um predecessor inimigo, e que tendes ao vosso serviço
unicamente porque os pagais, só estão a vosso serviço como exércitos mercenários (em Elba).
329 Sei disso; eles deveriam sabê-lo; mas, porventura pode ele fazê-lo? (em Elba).
330 Não existe decreto ou ordem que possa contrariá-lo; não é para ele que se faz a lei, é ele
que a dá (general).
331 Esperai por isso, quando não tiverdes mais do que mercenários (em Elba).
334 Muzio Attendolo Sforza era chefe do exército da Rainha Joana ii — nt.
335 Seja quais forem os braços em que nos atiremos, mesmo que realizem nosso desejo
principal, hão de fazer-nos, no total, mais mal do que bem (em Elba).
336 Quase não recebe outro nome senão o de homem honrado esse Bartolomeu Colleoni,
que teve tantos recursos para se tornar rei de Veneza, e que não quis sê-lo. Que tolice cometeu,
ao morrer, quan do aconselhou os venezianos a jamais deixar a outros tanto poder militar
quanto deixaram a ele mesmo! (general).
345 O diretório murmurará e decretará o quanto quiser: continuarei sendo o que sou; e, de
fato, será necessário que meu exército me obedeça (general).
349 É de fato o mais seguro: devia tê-lo feito mais do que efetivamente o fiz. Duas vezes não
foram o suficiente; tenho tudo por temer por não tê-lo feito ao menos três vezes (imperador).
351 Tanto pior para eles: e verão ainda muitos outros casos (general).
356 Gregório vii foi sobretudo bem hábil nesta matéria (general).
357 Colocar em ação, somente eu, e somente em meu proveito, esses três recursos
simultaneamente (general).
359 Também chamado de Albérico de Barbiano (1349−1409), foi Conde de Cunio — nt.
361 Faço os outros tremerem, depois de ter feito sozinho tanto quanto esses três reis juntos:
e isso contra tropas bem mais formidáveis (cônsul).
363 Falta de bom senso. E ainda por cima são elogiados! (general).
364 Covardia! Incompetência! Apunhalar, cortar, fazer em pedaços, esmagar, fulminar etc.
(general).
365 E é preciso fazer o contrário, tanto quanto possível, para ter boas tropas (general).
369 Meu sistema de aliança deve prevenir esses dois inconvenientes (cônsul).
370 Eu devia confirmá-la, quando, na verdade, estava destiná-lo a fazê-la mentir (em Elba).
371 Essas terceiras causas não fizeram senão girar no mau sentido a minha boa fortuna (em
Elba).
372 Isto é ser bem afortunado, e vencer como Papa (general).
377 Ora! Por que hesitarias tu? Porque não estimavas seu caráter moral, e porque era odioso
a muitos tolos. Mas que valor tem isso em política? (general).
378 O que é que não se toma com essas tropas? Mas porventura se o conserva tão
facilmente? (general).
380 Maquiavel está a me cortejar ao voltar a esse herói da minha genealogia (general).
381 Feliz por tê-lo podido; e mais feliz ainda por tê-lo feito (imperador).
382 Jamais se deve parecer dever a mais mínima parcela da própria glória e do próprio poder
a outro que não a si mesmo (general).
384 São-lhes necessários tempo e funestas experiências para compreender o que lhes é
indispensável (em Elba).
385 Imbecil! Mas, eventualmente não. Todo o seu conselho estava em sua cabeça; ele via a
França como um prado que podia ceifar todo ano, e tão rente quanto quisesse. Ele também teve
seu homem de Saint-Jean d’Angély, e se portou muito bem no caso de Odet (cônsul).
386 Que diferença! Não há um único dos meus soldados que não pense poder vencer por si
só (imperador).
388 Ela o é, porque lhe dei outras ainda bem melhores (imperador).
390 Julguei da mesma maneira, na primeira vez que li, ainda menino, a história dessa
decadência (general).
392 “Que nada é tão incerto ou instável quanto a fama do poder não fundado nas suas
próprias forças” (Tácito, Anais xiii, 19) — nt.
393 Eles de fato não possuem outros, isso desde que os que eles de fato possuem estejam a
favor deles (em Elba).
394 Não para eles, ou, pelo menos, não tão cedo (em Elba).
395 Está bem; mas é possível ainda mais acertadamente se referir a mim (cônsul).
396 Dizem que tomarei a pluma para escrever minhas memórias! Eu?! Escrever?! Acaso me
consideram um tolo? Já é demais que meu irmão Luciano componha versos. Divertir-se com
puerilidades desse tipo equivale a renunciar a reinar (em Elba).
401 A espada e as dragonas não o impedem, quando ele não tem nada além disso
(imperador).
405 Maquiavel! Que segredo lhes revelas! Mas eles não te leem, e jamais te leram (em Elba).
410 Quantas vezes não fiz o mesmo, desde minha juventude (imperador).
411 Jamais os prevemos todos; mas improvisamos o remédio, custe o que custar (general).
413 Por que não tomar mais do que um, quando se quer ser maior do que todos? Carlos
Magno me foi conveniente; mas César, Átila e Tamerlão não são de desprezar (general).
415 Primeira observação que fazer para bem compreender Maquiavel (cônsul).
416 Em tudo, ver as coisas como elas são (cônsul).
418 É somente de acordo com estas que os sonhadores da moral e da filosofia julgam os
estadistas (cônsul).
419 Embora nem todos sejam maus, os que o são possuem recursos e uma atividade que faz
com que todos pareçam sê-lo. Frequentemente os mais perversos são os que, perto de ti, fingem
ser os melhores (imperador).
420 Digam o que disserem, o essencial é se manter e conservar a boa ordem em um estado
(cônsul).
421 Usando um termo toscano, porque avaro na nossa língua é ainda aquele que deseja
possuir por rapina, enquanto sovina nós chamamos quem se abstém demais de usar do que é
seu — nt.
423 Sim, como Luís xvi; mas acaba-se por perder seu reino e sua cabeça (imperador).
426 Isto também é excessivamente evangélico. De que serve ser liberal, se não o formos por
interesse e por vaidade? (cônsul).
427 Eis-me aí um tanto; mas recuperarei a estima por meio de fulgurantes façanhas
(imperador).
438 Meus generais sabem o que lhes dei antes, e para que chegasse ao ponto de conferir-lhes
ducados e bastões de marechal (imperador).
440 Eu o fui em atos e palavras. Quantos tolos não seduzimos com os falsos diamantes das
ideias liberais! (cônsul).
442 Eis aí o segredo da licença que conferi para os saques e as pilhagens. Eu lhes dava tudo o
que podiam apanhar, daí seu imutável apego a mim (em Elba).
443 E eu (imperador).
445 Quando não se sabe encontrar outros meios para reabastecê-la (imperador).
447 Pouco me importa, no final das contas. Terei sempre a estima, o amor dos soldados [...] e
meus senadores, e meus prefeitos etc. (imperador).
448 É isso o que acontece sempre que alguém chega com uma grande pretensão à glória da
clemência (em Elba).
449 Não cesseis de bradar-lhes que esse Bórgia era um monstro do qual se deve desviar os
olhos; não cesseis de fazê-lo, a fim de que dele não aprendam o que desconcertaria meus planos
(em Elba).
450 Entre 1501 e 1502 eclodiu em Pistoia um sangrento conflito entre duas facções: os
Panciatichi e os Cancellieri, que Florença não pôde ou não quis evitar — nt.
451 Evita com cuidado dizê-lo a eles; a propósito, eles não parecem dispostos a te
compreender (em Elba).
452 Necessito de que todos fiquem ofendidos, mesmo que seja pela impunidade dos meus
(em Elba).
453 Eles são novos; o estado é novo para eles; e não querem ser nada senão clementes (em
Elba).
454 Mas, felizmente, Virgílio não é o poeta mais amado (em Elba).
455 “Fatos penosos e a novidade que é este reino tais medidas me forçam a tomar e a pôr
guarda longe de minhas fronteiras”. (Virgílio, Eneida, trad. Carlos Ascenso André. Campinas,
sp: Sétimo Selo, 2023, p. 49) — ne.
459 Queriam enganar os príncipes, os que diziam que todos os homens são bons (cônsul).
462 Mas é preciso saber em que ela deve consistir em um príncipe de um estado tão difícil
(em Elba).
466 Nós os fabricamos, quando não os há reais. Tenho para os meus golpes de estado
homens mais doutos que Gabriel Naudé (cônsul).
467 Este foi o único giro pérfido provocado pela carta promulgada por meus inimigos (em
Elba).
469 Essa facilidade de encontrar pretextos é um dos benefícios do meu poder (cônsul).
470 Que ignorante! Não sabia ele que nós as suscitamos (cônsul).
471 Comecei por aí, para fazer marchar à Itália o exército à frente do qual fui posto em 1796
(general).
472 O meu não apresentava menos elementos de discórdia e de rebelião quando o fiz entrar
na Itália (general).
481 A não ser que isso dê muito trabalho e crie grandes embaraços (cônsul).
483 Maquiavel, admirando a esse ponto a boa-fé, a franqueza e a probidade, não parece mais
um estadista (general).
484 São os grandes exemplos que o forçam a raciocinar de acordo com meu desejo de dar
outros semelhantes (general).
486 Os tolos estão aqui neste mundo para favorecer nossos pequenos prazeres (general).
489 Tudo isso é perfeitamente verdadeiro na aplicação que Maquiavel faz à política (general).
495 Em geral, há aí, mesmo para os súditos, mais vantagem do que, de outra parte, escândalo
(imperador).
496 Os mais hábeis não conseguirão me superar. O Papa poderá dar notícia disso (cônsul).
500 Homem altivo! Se não honrou a tiara, ao menos ampliou bas tante os seus estados; e a
Santa Sé lhe deve grandes prestações. A hora da contrapartida soou (imperador).
501 Os imbecis que julgaram que este conselho se destinava a todos não sabem a enorme
diferença que há entre o príncipe e os súditos (imperador).
502 Nos dias de hoje, bem mais vale parecer honesto do que sê-lo com efeito (imperador).
505 É ainda exigir em demasia. A coisa não é fácil, e fazemos o que podemos (cônsul).
509 Triunfai sempre, não importa como; e tereis sempre razão (imperador).
512 Não tenho que temer o desprezo. Fiz coisas demasiadamente grandiosas: admirar-me-ão
mesmo a contragosto. Quanto ao ódio, colocarei vigorosos contrapesos (cônsul).
514 Est modus in rebus [há uma justa medida nas coisas] (cônsul).
516 Esforçar-se! Impossível, quando não começamos por fazê-lo (em Elba).
517 Essencial para eliminar toda esperança de perdão aos conspiradores; sem o que, tu
perecerás (cônsul).
518 Temos bem mais que o pensamento: temos a esperança e a facilidade, juntamente com a
certeza do sucesso (em Elba).
520 Dei belas provas disso: meu casamento foi a maior (imperador).
526 Lançamos em seus braços um traidor; e depois, damos um golpe de estado (cônsul).
529 Tudo por temer de uma parte, e tudo por ganhar da outra (cônsul).
530 Meus protetores nesta matéria chegaram ao mais alto grau de eficácia (imperador).
532 O povo! Acaso não é ele ingrato, e não se volta sempre para o lado daquele que vence,
sobretudo quando este o deslumbra? (imperador).
533 O espírito amolecido do nosso século não permite mais que eles se renovem (cônsul).
534 Se fossem capazes de ir a Viena fazer uma coisa assim! Uma vez que não vieram me
procurar: eamus et nos [vamos nós também] (em Elba).
535 Maquiavel esquece aqui que disse que os homens são maus (imperador).
537 Mas os grandes que fui forçado a criar ficam furiosos quando deixo por um momento de
sufocá-los de bens (imperador).
539 Tens razão em te admirares; mas era preciso destruí-lo para chegar à destruição do
trono dos Bourbons, sem a qual, no final das contas, o meu não poderia se elevar. Darei a mim
mesmo a mesma instituição, o mais cedo que eu puder (imperador).
541 No estado atual, são-lhe remetidas todas as coisas de rigor; e seus ministros reservam
para si todas as graças miúdas: às mil maravilhas (em Elba).
545 Eles me forçam a isto pelos mesmos motivos. Os soldados são sempre os mesmos,
quando deles dependemos (imperador).
546 Consegui fazer ambas as coisas; mas ainda não o suficiente (imperador).
547 Não devo dissimulá-lo: ainda me encontro na mesma situação, sob todos os aspectos
(imperador).
552 Virtudes fora de lugar nesse caso. Somos dignos de pena quando não sabemos substituí-
las por virtudes políticas da circunstância (imperador).
554 Se me fosse concedido renascer para suceder a meu filho, eu serei adorado (imperador).
559 É bem isso que querem fazer; mas vão pelo mau caminho e desconhecem a força de seu
partido (em Elba).
561 Não podemos evitar essa reputação, quando tudo o que temos é bondade (em Elba).
562 É bem pior, quando passamos a ser governados por ministros ineptos ou antipatizados
(em Elba).
564 Em mim não admiraram mais que as grandes coisas que fiz, todavia, unicamente por
eles (imperador).
565 O respeito e a admiração fazem que se contenham como se o fossem (imperador).
568 Eu quis imitar esse episódio em Frutidor (1797), quando disse aos meus soldados da
Itália que o corpo legislativo havia assassinado a liberdade na França; mas para aí não os pude
conduzir, nem eu mesmo ir. O golpe malogrado dessa vez não o foi em seguida (imperador).
570 Fui nomeado chefe de todas as tropas reunidas em Paris e nos arredores, e, atualmente,
árbitro dos dois conselhos (imperador).
571 Meu Didier era apenas o meu Diretório: bastava dissolvê-lo para aniquilá-lo
(imperador).
572 Meu Niger não foi mais que Barras, e meu Albino não foi mais que Sieyès; eles não eram
formidáveis. Nenhum deles agia por sua própria conta; e eu percebia que divergiam em seus
objetivos. O primeiro desejava restabelecer o Rei; o segundo, entronizar o eleitor de Brunswick.
Mas eu queria outra coisa; e Sétimo, em meu lugar, não teria agido melhor do que eu
(imperador).
573 Não me era necessário mais que afastar meu Niger; e tornou-se-me fácil enganar meu
Albino (imperador).
574 Foi assim que fiz Sieyès ser nomeado meu colega na comissão consular; Roger-Ducos,
que aí também admiti, não podia ser mais que uma máquina de contrapeso à minha disposição
(imperador).
575 Não precisei de tão grandes manobras para me livrar de Sieyès. Mais astuto que ele,
consegui facilmente meu objetivo em meu comitê do 22 frimário, onde eu mesmo arranjei a
constituição que me fez primeiro cônsul, e lançou meus dois colegas no beco sem saída
senatorial (imperador).
576 Não me censurarão por não tê-lo sido, de forma alguma, nessa conjuntura (imperador).
577 A minha não poderia ser maior nessa circunstância; e hei de mantê-la (imperador).
578 Eu não negligenciei, na ocasião, este meio de adquirir o amor deles (imperador).
580 Eles jamais ocorrem quando o príncipe se impõe por um grande caráter e uma grande
firmeza (imperador).
583 Digno de pena; não merece que eu detenha sequer por um instante o meu olhar sobre
ele (imperador).
584 Isso foi de justiça. Não era possível ser mais indigno de reinar do que ele (imperador).
587 Por que não as desaprova depois, fazendo-os serem castigados? (imperador).
588 Isso é merecido, quando se deixa as coisas chegarem a esse ponto (imperador).
592 Meu interesse pretende que entre uns e outros se mantenha uma certa balança, que eu
possa fazer pender ora para um lado, ora para o outro (cônsul).
593 Minha guarda imperial pode, se necessário, exercer em meu favor a função de janízaros
(imperador).
594 Quer nos preocupemos quer não: é preciso possuir uma forte guarda com a qual se
possa contar, mesmo que haja deserções entre as outras tropas excessivamente apegadas ao
povo (imperador).
596 A comparação é curiosa e ousada, mas verdadeira aos olhos de todo observador político
(imperador).
598 Chegar a sê-lo assim é o mais excelente lote da roda da fortuna (imperador).
599 Há coisas boas em cada um desses modelos: é preciso saber escolher. Apenas os tolos só
conseguem se apegar a um, e imitá-lo em tudo (imperador).
601 Perfeitamente concluído; mas ainda não posso me afastar dos procedimentos de Severo
(imperador).
602 O mesmo príncipe pode ser obrigado a fazer todas essas coisas ao longo do seu reinado,
de acordo com o tempo e as circunstâncias (imperador).
603 Fala, e eu me encarrego das consequências práticas (imperador).
605 Os grandes artífices da revolução popular não querem realmente armar senão o povo.
Os poucos nobres que deixaram se introduzir em sua guarda nacional não os assustavam. Eles
bem sabiam que não tardariam a eliminá-los. E o povo, julgando-se o único favorecido, ficou
inteiramente do lado deles (imperador).
606 Como hão de sair dessa situação difícil, pois há muitos guardas nacionais que não lhes
são favoráveis? (em Elba).
608 Duvido que os aliados que estão na França possam impedir isso. E, aliás, eles logo irão
embora (em Elba).
609 Impossível neste momento para eles; e isso seria urgente. Mas conservam a minha, para
a qual eu sou tudo (em Elba).
611 Eu os vi com prazer enjoarem do serviço; e eu bem sabia que, passado o primeiro de
fevereiro, haviam de se cansar dele (cônsul).
612 Para guardar os países conquistados, não enviar senão regimentos de cuja fidelidade eu
esteja seguro (cônsul).
613 Não devemos levar esse raciocínio ao pé da letra, pois, no tempo de Maquiavel, os
cidadãos eram soldados em caso de ataque à sua cidade. Hoje em dia, não é mais com os
cidadãos que se conta para a defesa de uma cidade atacada, mas com as boas tropas nela
colocadas. Penso, portanto, como os antigos políticos florentinos, que é bom fomentar alguns
partidos nas cidades e nas províncias, para ocupá-las, quando são de caráter inquieto,
naturalmente se nenhum deles se dirigir contra mim (cônsul).
614 Especialmente na República Florentina, esses dois grupos dividiam o espectro político e
ideológico nos séculos xii–xiv. Os guelfos apoiavam o domínio papal na região, enquanto os
gibelinos defendiam o poder do Sacro Império Romano-Germânico — nt.
615 Estratagema que frequentemente me foi conveniente. Eu lhes lanço algumas pequenas
sementes de discórdias particulares quando quero desviá-los de se ocupar dos negócios do
estado, ou quando preparo secretamente alguma grande medida administrativa (imperador).
616 Talvez também, eventualmente, prudência e habilidade (imperador).
617 Em tempo de guerra, é preciso diverti-los de outra maneira, para contê-los (imperador).
620 Maquiavel deve estar contente com o proveito que tirei deste conselho (imperador).
621 Isso pode ser verdade para outros, mas não para mim (imperador).
623 Como ganhei certos nobres que, por ambição ou mediocridade de fortuna, necessitavam
de posições; e os emigrados aos quais reabri a França e devolvi seus bens... (imperador).
624 Que não fizeram eles para isso em relação a mim? (imperador).
625 É preciso saber tumultuar essa segurança quando suspeitamos que estão relaxando; e
mesmo quando não temos motivo para suspeitá-lo, alguns gracejos intempestivos têm sempre
um bom efeito (imperador).
626 Eles só me quiseram para que eu os afogasse de bens; e, como são insaciáveis, desejariam
assim mesmo um outro príncipe que me substituísse, a fim de serem também por ele
cumulados de bens. A alma deles é um tonel das Danaides, e sua ambição é o abutre de
Prometeu (imperador).
630 Assim foram construídos a Bastilha, sob Carlos o Sábio, para garantir o respeito de
Paris; e o Castelo Trombeta de Bordeaux, sob Carlos vii, para fazer o mesmo com os
bordeleses. Não percamos isso de vista (imperador).
631 Na primeira ocasião favorável, construirei uma para mim nas eminências de
Montmartre, para manter os parisienses no respeito. Ah, se eu a tivesse quando eles
covardemente se entregaram aos Aliados! O Castelo Trombeta encerrará os traidores da Garona
(em Elba).
633 Guido Ubaldo, expulso de Urbino em 1502, só pôde voltar no ano seguinte, após a
morte do Papa Alexandre vi, em agosto de 1503. Entre algumas instabilidades, a família
Bentivoglio governou Bolonha de 1401 a 1506, quando os exércitos papais, durante o
pontificado de Júlio ii, conquistaram a cidade — nt.
634 Quando tememos tanto uns quanto os outros, é definitivamente necessário tê-las, e tê-
las por toda a parte onde tememos (em Elba).
635 Mas dez que vos odeiem vos fazem com frequência um mal superior ao bem que vos
fazem cem amigos (em Elba).
640 De fato, acredito nisso, se ela não tivesse nada além disso para se defender (em Elba).
642 Foi por meio delas que eu me elevei; é unicamente por elas que posso me sustentar. Se
eu não fizesse outras novas que ultrapassassem as precedentes, eu decairia (imperador).
647 Minhas circunstâncias diferiam muito das suas em meu empreendimento na Espanha
para que eu tivesse em meu caso semelhantes sucessos. Ademais, posso dispensá-los
(imperador).
648 Fernando foi mais feliz que eu, ou teve ocasiões mais favoráveis. Fazer agir meu irmão (e
que irmão!) não é porventura como se eu mesmo agisse? (imperador).
650 Manter meus povos sempre impressionados, dando-lhes sempre assunto para falar de
meus sucessos, ou de minhas perspectivas ampliadas pelo gênio da ambição: isso só pode ser-
me grandemente útil (cônsul).
651 Foi a isto que me apliquei, sobretudo nos meus tratados de paz, fazendo sempre neles se
inserir alguma cláusula adequada para suscitar o pretexto de uma nova guerra próxima
(imperador).
652 Este é também um dos meus objetivos na sucessão precipitada dos meus
empreendimentos (imperador).
653 Mas é bem necessário que essas coisas deslumbrem por sua pompa, e não sejam
inteiramente desprovidas de uma certa aparência de utilidade pública (imperador).
654 Bernabò de Milão (1321/1323–1385), também chamado de Bernabò Visconti, foi, junto
com o seu irmão Galeazzo, responsável por estender os domínios da família na Lombardia.
Lidou com mão forte contra as investidas papais, bem como contra a peste que assolou a região
durante o seu período de senhoria. Por fim, foi deposto e morto pelo seu próprio sobrinho,
Gian Galeazzo Visconti — nt.
661 Foi assim que os neutros das coalizões precedentes se tornaram minhas presas
(imperador).
663 Observação boa para outros, e especialmente para aqueles que jamais tiveram bom-
senso o suficiente para fazê-la (imperador).
665 Assim farei falarem os príncipes da Alemanha, quando eu vier a tratar de minha grande
expedição à Rússia. Farei os outros marcharem sem isso (imperador).
666 Quod autem isti dicunt non interponendi vos bello, nihil magis alienum rebus vestris
est; sine gratia, sine dignitate, praemium victoris eritis, frase de Tito Quíncio Flaminino, então
legado romano na Grécia — nt.
667 Eles se mostraram fracos, e, por isso mesmo, podiam considerar-se perdidos
(imperador).
668 Os homens de outrora valiam, portanto, mais do que os de hoje em dia, quando tais
considerações não se aplicam, nem se fazem? Nosso século das luzes dilatou maravilhosamente
a esfera da ciência política (imperador).
671 A Rússia não percebeu isso quando abandonou a Áustria às minhas armas; verei melhor
quando se tratar de agir contra a Rússia. A Áustria e a Prússia, mesmo interessadas em sua
conservação, podem ser por mim arrastadas contra ela (imperador).
677 Sempre os há mais numerosos ou mais graves uns que os outros (cônsul).
680 Acaso alguém já multiplicou esses meios tanto quanto eu? (imperador).
685 Isso é uma grande verdade, independentemente da atenção que receba (imperador).
686 Mas essa prudência deve também se acomodar às circunstâncias. Há algumas em que o
mais difamado se torna o mais recomendável (cônsul).
687 Que pensariam de mim se eu tomasse como ministros e conselheiros amigos declarados
dos Bourbons, condecorados com suas cruzes de São Luís, cobertos de benefícios daquele que
eu substituí e que aspirava a me suplantar? (imperador).
688 Posso encontrar tudo isso num homem difamado, bem mais do que naquele cuja
reputação floresce como bálsamo (cônsul).
689 Eis aí o que é difícil: eles aí encontrarão sua ruína (em Elba).
690 Não sabemos evitá-lo quando não conhecemos os homens, e quando nos deixamos
dirigir por outros nas escolhas que fazemos (em Elba).
691 Nascido em 1459, foi catedrático de Direito em Siena, Bolonha e Florença, e depois
conselheiro e primeiro-ministro de Petrucci — nt.
694 Não dispenso esse tipo de homens, mas sempre quando aparentam uma grande
superioridade de espírito (cônsul).
695 São estúpidos e tolos. Maquiavel se esqueceu dos espíritos sistemáticos e obstinados com
seus sistemas (cônsul).
696 Os quartos se perdem, julgando com orgulho estarem a fazer o que há de melhor (em
Elba).
698 Fazer o máximo possível para que ele não possa pensar em seus interesses senão se
ocupando dos teus (cônsul).
699 Jamais: isso é bem severo; mas, se ele pensa mais em si do que em mim, é o que verei
logo; e via, via (cônsul).
700 Como sabem dissimular seus interesses sob os do meu reinado! (imperador).
701 Quando não são como os meus, gente que perdeu toda a vergonha. Resta mais
probidade no meu reino da Itália (imperador).
702 Hipócritas! Eles aprenderam hoje em dia a se fazerem importantes em todos os regimes,
mesmo nos mais díspares e mais contrários (em Elba).
703 Bom para outra época, ou para outro lugar diferente da França (imperador).
704 Quem imaginaria que eu seria a vítima? Hei de repará-lo (em Elba).
705 Eles são necessários; o príncipe precisa de seus incensos; mas ele não se pode deixar
embriagar, o que é difícil (imperador).
706 Se não me louvassem com exagero, o povo julgaria que estou abaixo de um homem
vulgar (imperador).
710 Proibamos a estes mesmos que abram a boca, caso não sejam perguntados (imperador).
713 Acrescente-se a força das circunstâncias atuais, que lhe tornam esses dois perigos ainda
mais inevitáveis, e vereis o objetivo ao qual arrastam os aduladores (em Elba).
714 Ele teve boas ideias, sobretudo quando quis ser colega e igual do Papa, mesmo em
matéria de religião, e quando, tendo isso em vista, assumiu o título de Pontifex maximus; mas
ele não tinha a minha força de caráter. Ele se contentou em dizer que “se ele fosse Deus, e se
tivesse dois filhos, o primeiro seria Deus e o segundo seria rei da França”. Para mim não há se.
Sendo onipotente na Europa, farei que meu filho, se permanecer sendo o único, possua
exclusivamente a soberania da Santa Sé, juntamente com a do Império (imperador).
717 Só somos secundados quando as pessoas por quem desejamos sê-lo sabem que somos
imutáveis (imperador).
718 Isso está arranjado: eles não os darão sem antes terem consultado o meu humor e
adivinhado a minha opinião (imperador).
720 Maquiavel faz exigências excessivas. Sei melhor que ele o que convém à minha situação
(imperador).
721 A opinião está firmada. Todos sabem que posso dizer como Luís xi: “Meu conselho está
dentro da minha cabeça” (imperador).
722 Sede um Luís xiii hoje em dia; e logo vereis que Armando fará como Pepino
(imperador).
723 Não devemos, nesse caso, nos sobrecarregar com o peso de um cetro (imperador).
725 Verdade incontestável, que basta para que os ministros e cortesãos afastem o príncipe de
toda leitura de Maquiavel (em Elba).
726 Onde está a cabeça reinante capaz disso? Em uma pequena ilha do Mediterrâneo (em
Elba).
729 O apego que me demonstram a maior parte dos seus nobres me prova que eles
praticamente os esqueceram (imperador).
730 Sobretudo quando são emigrados a quem devolvemos seus bens, ou nobrezinhos pobres
a quem tornamos ricos; e os próprios ricos me são gratos por tê-los colocado em condição de
aumentar sua fortuna (imperador).
732 Eles me censurarão por este erro para justificarem o fato de me terem virado as costas
(em Elba).
735 Ter somente uma parte como inimiga deve bastar (em Elba).
736 Isto lhe é impossível com aqueles que conservou junto de si (em Elba).
738 Hei de colocar-me em melhor postura para com a coalizão, caso ela se renove (em Elba).
739 Mesmo que eu corroborasse a cessão já feita dos países que eu havia conquistado, e
mesmo que me mantivesse dentro dos limites recentemente fixados, serei sempre o imperador
dos franceses (em Elba).
740 Eles não podem se queixar de não terem sido favorecidos por ela (em Elba).
741 Vede como isso se verifica. Todos os que os cercam se pavoneiam em seus desfrutes, e
temeriam fazer má digestão se abrissem caminho para qualquer inquietação. Eu até mesmo
aposto que, se me vissem novamente, não quereriam crer na possibilidade do meu retorno. A
disposição natural deles se presta às mil maravilhas aos meus estratagemas narcóticos (em
Elba).
743 Hei de mostrar-me como um príncipe moderado, sábio, humano (em Elba).
744 Porventura terão eles outra? É possível que os abandonem, ao verem minha valentia; e, a
propósito, hei de precaver-me de maneira ativa (em Elba).
745 Nunca jamais contei senão com estas; e hei de tê-las (em Elba).
746 Sistema dos preguiçosos, ou dos fracos. Com gênio e atividade, dominamos a mais
adversa fortuna (em Elba).
747 Porventura tinha ele visto um maior número deles, e maiores, do que os que eu suscitei,
e que ainda posso produzir? (em Elba).
748 Santo Agostinho não dissertou melhor sobre o livre-arbítrio. O meu domou a Europa e a
Natureza (imperador).
749 Esta fortuna é a minha: é eu mesmo (imperador).
750 Não lhes dei nem tempo, nem facilidade para fazê-lo (imperador).
751 Minha fortuna não é do tipo que se pode reduzir assim (imperador).
753 Ela me encontrará sempre pronto a esmagá-la com o peso da minha (imperador).
758 Apesar da tua discrição, adivinhei o que pensavas, e disto tira rei proveito (general).
760 É necessário saber segui-la em suas variações, sem jamais se apoiar inteiramente sobre
ela, e isto aparentando estar seguro de seus favores (cônsul).
761 Jamais a afabilidade esteve em maior discordância com sua situação (em Elba).
762 Quando não age de maneira despropositada, seguindo sempre o seu modo natural
(cônsul).
763 Variar de acordo com a necessidade das circunstâncias, sem nada perder da própria
energia, é o que há de mais difícil, e que mais exige um grande caráter. Em pouco tempo, ver-
se-á a grandeza e a flexibilidade do meu (em Elba).
765 Um homem ser bom ao reinar porque o era antes de reinar, e para reinar, é o mais
ruinoso de todos os sistemas (em Elba).
766 Espero fazê-lo com a mais perfeita segurança: é inevitável (em Elba).
768 Bem felizmente para mim, não há mais papas como este, que lançou no Tibre as chaves
de São Pedro, a fim de se servir unicamente da espada de São Paulo (general).
769 Eu segui essa tática, não como ele, por uma tendência maquinal, mas por cálculo, e
sempre de maneira adequada (imperador).
770 Se, após o meu retorno, os aliados pensarem em pegar novamente em armas, será
necessário que eu produza entre eles o mesmo efeito (em Elba).
771 Imaginar então algo de semelhante em relação aos aliados, seguindo a marcha da
política deles (em Elba).
772 Frequentemente imprudências são necessárias; mas elas devem ser calculadas (em Elba).
773 Quantos reis, mesmo não sacerdotes, não agem com essa lenta e tola prudência! (em
Elba).
774 Se eu não prevenir tudo isso, autorizarei que me julguem indigno de reinar (em Elba).
775 No entanto, é prodigioso seguir, durante dez anos e com sucesso, o mesmo método.
Maquiavel deveria ter dito que Júlio sabia adormecer com tratados de paz a Potência que ele
queria surpreender (cônsul).
776 Quando sempre tivemos êxito com esse tipo de procedimento, e quando eles são
análogos ao nosso caráter, parece-me que temos razões suficientes o bastante para seguir na
mesma linha, todavia com uma pitada de hipócrita moderação diplomática (imperador).
777 Bem observado: as experiências que fiz quanto a esse ponto não permitem mais a menor
hesitação a esse respeito (em Elba).
778 Ela mo provou tantas vezes! Mas, se eu fosse menos jovem, não mais contaria com seus
favores. Apressemo-nos: na competição, ela não pode se decidir senão a meu favor (em Elba).
779 Maquiavel falava como romano, e eram sobretudo os franceses que ele tinha em vista.
Inversamente, os bárbaros que, com eles, devo expulsar da Itália são as casas da Áustria e da
Espanha, o Papa etc. (general).
780 Plano magnífico, cuja execução me era reservada. Começando com italianos amolecidos
como são os de hoje em dia, eu não teria conseguido; mas, sendo eu mesmo italiano, posso
fazê-lo com franceses, de quem os italianos aprenderão, sob minhas ordens, a substituí-los
depois na prática de atos de valor marcial (general).
781 O tempo presente é com certeza bem mais propício, uma vez que a repercussão da
revolução francesa na Itália aí já produziu uma comoção de reviravolta política, bem como a
fermentação dos espíritos (general).
782 Colocá-la na mesma situação para em seguida reerguê-la sob um cetro único (general).
784 Eis-me aqui: mas, para salvá-la — todavia, em meu proveito —, é necessário, antes de
tudo, inserir ferro e fogo em suas chagas (general).
787 Iniciá-la, sim; consumá-la, não. Ela é incapaz de fazer mais do que o que fez (general).
788 Mas é necessário ter a força deles para bem imitá-los (general).
791 “É justa a guerra necessária, e piedosas as armas onde não há esperança senão nelas” —
nt.
792 Há algo de verdade em tudo isso; mas o que aí vejo de mais claro é o ardor extremo de
Maquiavel em prol dessa operação (general).
793 Outros tantos milagres que se renovaram a meu favor, de maneira bem mais real que a
favor de Lourenço de Médici (general).
795 Vemos que Maquiavel queria ter sua parte nisso; eu lhe concedo, pois ele bem me serviu
(imperador).
796 Com as minhas já tão gloriosamente postas à prova na França, e que eles também hão de
ter, todo sucesso é infalível (cônsul).
797 Minha tática é invenção minha; e todos os potentados da Europa se curvaram diante
dela (imperador).
800 E eu também sou italiano! Meus rivais são exclusivamente franceses (general).
801 Foi dado unicamente ao século xviii produzir este homem até então impossível de
encontrar (general).
802 Ele só me servirá bem depois de um amálgama preliminar com o exército francês
(general).
803 Quase todas essas batalhas foram contra os franceses: Taro (1496), Alexandria (1499),
Cápua (1501, quando os franceses se aliaram aos espanhóis), Gênova (1507), Vailà (1509) e
Bolonha (1511). O caso de Mestre (1513) uniu o imperador germânico, a Espanha, Milão e o
Papa, contra os venezianos — nt.
804 Que não farei eu quando tiver, como príncipe particular de ambos, um exército italiano
juntamente com um francês! (general).
805 Ele fala apenas em se defender dos estrangeiros; eu quero também conquistá-los, e deles
fazer meus súditos (general).
806 Costume digno de pena, que a pólvora de canhão lançou no esquecimento. Esses
pretensos mestres da arte militar não eram mais que crianças (general).
807 Isso também deve ser assim hoje em dia; hei de arranjar-me adequadamente, quando
chegar o momento (general).
809 Minha tática, cujo segredo eles ainda não conhecem, me proporcionará em medida
muito maior do que seria factível para Lourenço (general).
811 Eu vi todas essas previsões realizadas em meu favor. Tudo, até a Cidade Eterna, se
glorifica por se encontrar sob meu Império (imperador).
812 Ela há de sê-lo ainda mais, se puder sê-lo sem perigo para mim (imperador).
813 “Armas contra furor / virtude tomará; e a luta é breve / que o antigo valor / no coração
de Itália não prescreve” (As rimas de Petrarca, trad. Vasco Graça Moura. Lisboa: Bertrand,
2003, p. 383). Versos extraídos do Cancioneiro, parte i, cxxviii, canção xvi, versos 93–96 —
nt.
814 Ela hoje revive quase que inteiramente, graças a mim; todavia, não permitamos que se
reúnam em um só corpo nacional, a menos que eu queira esmagar a França, a Alemanha, a
Europa inteira (imperador).