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Alisson Salvador de Souza
Como eu não pude comparecer a aula de campo e não consegui estar
presente na aula das duas alunas de mestrado, pois em uma das aulas precisei comparecer a uma atividade do Projeto Expedições Geográficas, então optei por fazer uma resenha do documentário “Brasília, Contradições de uma Cidade Nova”, que já havia sido citado em sala de aula e me despertou interesse.
Resenha do Documentário “Brasília, Contradições de uma Cidade Nova”
O documentário “Brasília, Contradições de uma Cidade Nova”, dirigido por
Joaquim Pedro de Andrade em 1967, é uma obra que traz uma visão crítica sobre a capital brasileira, Brasília, sete anos após sua inauguração, quando a cidade já tinha mais de 300 mil habitantes e em um contexto histórico de Ditadura Militar e durante o documentário podemos observar como isso afeta a visão do diretor, mostrando a repressão aplicada sobre a população de baixa renda, mas também pode se pensar que algumas coisas podem ter sido deixadas de fora na produção final do documentário, para que não houvesse nenhum tipo de bloqueio sobre o documentário.
No começo do documentário podemos ver como foi construída a cidade de
Brasília, seus principais eixos, as construções das edificações, dos comércios, comentando como a cidade foi planejada com muitas áreas verdes, o lago artificial e o planalto central que remete de alguma maneira a casa tradicional brasileira. Brasília foi inaugurada em 1960, durante o governo de Juscelino Kubitschek, com o objetivo de ser a capital brasileira, uma cidade onde pessoas que viviam em regiões com dificuldades financeira, poderiam se mudar para lá e encontrar a sua oportunidade para mudar de vida, sendo essas regiões principalmente o nordeste e o norte do país, uma cidade que atendesse as necessidades modernas da sociedade e que ao mesmo tempo seria uma cidade igualitária, onde pessoas de diferentes classes sociais dividiram o mesmo espaço e tivessem o mesmo acesso as áreas de lazer, comércio e outras necessidades. No entanto, o documentário de Andrade mostra as contradições inerentes a esse projeto que imaginou que solucionaria a questão da moradia na cidade. Uma das principais contradições destacadas no documentário é a segregação social, enquanto a elite desfrutava das áreas bem planejadas e modernas, como as super quadras citadas no documentário, e trabalhavam em cargos públicos e privados que tinham um salário maior, trabalhando próximo as regiões centrais da cidade, os trabalhadores que construíram a cidade viviam em condições precárias nas periferias da própria Brasília ou em cidades satélite, que chegavam ficar a 3 horas da capital, sendo o transporte feito até essas cidades com enormes filas para o embarque e sem nenhum conforto, além das moradias que eram precárias nessas cidades, segundo Andrade, mais de 60% dos trabalhadores de Brasília moravam nessas regiões mais afastadas. Essa disparidade evidencia o fracasso do projeto de Brasília em alcançar uma verdadeira igualde social.
Esses trabalhadores que ajudaram a construir a cidade como um todo, viam
em Brasília uma oportunidade de melhoras sua qualidade de vida e de suas famílias, pois vinham de regiões onde a oferta de trabalho era escassa e com trabalhos mal remunerados, e quando Brasília estava em fase de construção e o ramo da construção civil estava com uma demanda muito alta de trabalhadores, e não havia muita mão de obra na região, então os operários que optavam por migrar para a região tinham um salário muito acima da média paga em suas regiões natal, variando de 3 até 5 vezes o que recebiam, mas quando a cidade foi inaugurada, e a quantidade de obras diminuiu, o número de trabalhadores aumentou, eles não precisavam mais oferecer um salário alto, pois já tinha sido construído um exército de reserva na cidade, quem não aceitasse receber o salário baixo, ficaria desempregado. Com a piora dos salários, os trabalhadores não tinham mais condições de se manter na cidade de Brasília, que também foi se elevando o custo de vida, então esses operários e suas famílias foram para as cidades satélites, que mostrando mais uma contradição do planejamento, não tinham nenhuma característica como a de Brasília, foram se expandindo sem nenhum planejamento, além disso os operários tinham que passar grande parte de seus dias em meios de transporte, e quando a gente se coloca no lugar desses trabalhadores que esperavam uma vida melhor em uma cidade prometida como a solução dos problemas, conseguimos entender as entrevistas dadas pelos trabalhadores no documentário, onde reclamam das condições de trabalho da capital, que haviam se arrependido de ter saído de sua cidade natal, pois, não haviam encontrado uma melhora de vida em Brasília e muitas vezes teriam deixado para trás pessoas que amavam, na esperança de ter possibilidade de trazer elas depois, nessa entrevistas muitos relatam que pretendiam retornar para suas terras em breve. No documentário aparece cenas de famílias sendo despejadas de suas moradias, o filme não explica muito bem o motivo, o que a moradora cita, é que houve uma ação feita pela Policia Militar de Goiânia, expulsando eles de suas moradias, roubando seus animais, seus móveis, mas quando a mulher cita que foi despejada em uma época de frio, que houve mortes de crianças e adultos por conta disso, é inevitável correlacionar com o despejo da ocupação Tiradentes II, onde 60 famílias foram despejadas em uma madrugada de 7º graus de temperatura, assim podemos ver que o autoritarismo do estado não ocorreu apenas no período de ditadura militar, esse autoritarismo persiste até os dias atuais e não há perspectiva de melhora, além disso, o estado parece aplicar a mesma solução nessas duas situações, despejar as famílias que estão em luta por moradia e dignidade, e não dar uma solução para o problema, assim, podemos ver a importância da organização dos movimentos sociais, sejam ele pela lutas de terras, de moradia, de direitos iguais, pois, o estado vai governar sempre para uma minoria, os mais ricos, e se o povo não se organizar, isso nunca vai mudar.
Podemos observar também a Universidade de Brasília, que foi inaugurada em
1962, logo após a criação da capital, com o objetivo de ser referência para as demais universidades do país, mas refletindo o resultado do planejamento da cidade, a universidade acabou por desenvolver os mesmos problemas que ocorriam em outras universidades, não sendo assim uma referência nacional.
O documentário “Brasília, Contradições de uma Cidade Nova” é uma crítica
planejamento da capital brasileira. Ele expõe as falhas de um modelo que, esperava solucionar algumas questões de moradia através de um planejamento prévio de uma cidade, supondo que a desigualdade vinha de como as cidades eram feitas. Mas que não conseguiu resolver as profundas desigualdades sociais do país causadas pelo sistema econômico vigente, revelando que não é o espaço que produz as desigualdades, mas que o contrário é verdadeiro, como as segregações socioespaciais foram aumentando com o passar do tempo depois da inauguração, os trabalhadores que levantaram uma cidade do zero, não tinham condições de ter uma casa na própria cidade que construíram, ou se mudavam para periferias da cidade ou em cidades satélites que ficavam a horas de viagem, nós podemos observar isso em tempos atuais nas grandes metrópoles brasileiras, trabalhadores cada vez mais morando em regiões afastadas, tendo que gastar o que há mais de precioso em sua vida, o tempo, para se transportar até seu emprego, muitas vezes ganhando um salário não digno de seu esforço, deixando de passar esse tempo com sua família, com seu filho(a) recém-nascido(a), a desigualdade social não é só no salário que se vê, é no tempo que o trabalhador passa no transporte lotado, enquanto o rico esta em seu carro confortável chegando em sua casa cedo, é a comida que está no prato do pobre com suas condições limitadas, enquanto o rico desperdiça sem pensar duas vezes, é o primeiro passo do filho que o rico viu, enquanto o pobre estava suado em seu trabalho, pensando na sua família, (quero deixar claro, que quando digo o rico e o pobre, não me refiro ao gênero masculino, mas as classes sociais), é quando o rico esta dormindo em sua casa segura, em um condomínio fechado e o pobre está com seu filho buscando um lugar seguro enquanto a ação de repressão policial está acontecendo em sua comunidade, a desigualdade vai muito além do dinheiro, as condições de vida não são iguais, as oportunidades não são iguais, o mundo como um todo é a terra da desigualdade.