3 - o Texto em Suas Linguagens Orais e Escritas

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COMUNICAÇÃO

E LINGUAGEM
Unidade 3
O texto em suas modalidades
orais e escritas
CEO

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

DIRETORA EDITORIAL
ALESSANDRA FERREIRA

GERENTE EDITORIAL

LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS

PROJETO GRÁFICO

TIAGO DA ROCHA

AUTORIA

LUDOVICO OMAR BERNARDI


LUDOVICO OMAR BERNARDI
AUTORIA

Olá. Sou Doutor em Letras, Mestre em Engenharia de


Produção e Especialista em Didática e Metodologia do Ensino
Superior, com uma experiência técnico-profissional na área de
Comunicação e Linguagem de mais de 25 anos. Profissionalmente,
além da docência, sou Diretor Acadêmico do Ensino Regulado
da MoveEdu Inovação e Educação, tendo já atuado como Diretor
Geral da Estácio Amazonas, como Superintendente Estratégico
dos Salesianos, Diretor de Campus da UniCesumar e Diretor
de Pós-Graduação da mesma Instituição, além de professor
de Graduação da Universidade Tiradentes (UNIT), tanto na
modalidade presencial quanto a distância, Diretor do EAD do
Centro Universitário Fametro e, atualmente, sou professor
Unidade 3

convidado dos cursos de especialização, modalidade MBA, da


Fundação Getulio Vargas (FGV), ministrando as disciplinas de
Comunicação e Relacionamento Interpessoal; Comunicação
Interpessoal; Comunicação Empresarial; Português Jurídico;
Técnicas de Apresentação e Comunicação na Era Digital. Tenho
experiência na área de Linguística, com ênfase em Linguística
Aplicada, e Semiótica, atuando principalmente nas seguintes
áreas: Comunicação e Linguagem; Análise do Discurso; e Redação
Publicitária e Empresarial. Sou apaixonado pelo que faço e
adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão
iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes.
Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito
estudo e trabalho. Conte comigo!

4 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
ÍCONES
Unidade 3

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 5
Princípio interacional do texto e as práticas sociais
SUMÁRIO

cotidianas ................................................................................. 10
A semântica e suas alterações......................................................................... 14

Bora entender as alterações semânticas?..................................................... 16

Linguagem verbal e não verbal na comunicação do dia a


dia ............................................................................................. 27
O contínuo na fala e na escrita da língua: norma e
variação..................................................................................... 41
Tecnologias da Informação na comunicação........................ 59
A revolução contemporânea em matéria de comunicação e
conhecimento...................................................................................................... 61

As comunidades virtuais e os movimentos sociais...................................... 68


Unidade 3

Brasil, junho de 2013......................................................................................... 75

Em síntese............................................................................................................ 78

6 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Seja bem-vindo à disciplina de “Comunicação e
Linguagem”, Unidade 03. Nesta unidade, você dominará textos,

APRESENTAÇÃO
considerando o princípio interacional do texto aplicado às
práticas sociais cotidianas. Entenderá que variantes linguísticas
são as duas ou mais formas que veiculam um mesmo sentido e
compõem o conjunto de uma mesma variável linguística, bem
como os desdobramentos de se optar por uma ou outra variante
em determinada situação de comunicação. Isso porque não existe
uma divisão radical entre situações formais e informais, mas sim
um continuum de formalidade, que será de seu conhecimento.
Além disso, será capaz de identificar, no contexto da comunicação
verbal e não verbal, as marcas da situação de produção e
da relação dialógica de emissor e receptor na produção dos
textos e nas interações orais do cotidiano, bem como situar

Unidade 3
os elementos e o contexto da fala e da escrita, enfatizando
as marcas da situação de produção e da relação dialógica de
emissor e receptor nos processos de comunicação. Isso porque,
para compreender o mundo de forma plena e comunicar-se, o
ser humano usa duas formas de expressão: verbal e não verbal,
que são muitas vezes campos complementares e simultâneos.
Ademais, a comunicação não se dá apenas por palavras, mas por
toques, gestos, cheiros, gostos, sons, imagens visuais, que nada
mais são do que recursos comunicativos que aguçam nossos
sentidos. Aliás, como as palavras, os sentidos também adaptam
o ser humano ao meio socioambiental, constituindo fontes de
conhecimentos. Por fim, entenderá o papel das tecnologias da
informação no estabelecimento da comunicação em diferentes
contextos sociais, já que graças às tecnologias de informação e
comunicação passamos de um mundo, inegavelmente, em que
as interações eram concebidas como sendo sempre lineares,
para o mundo de interações não lineares. Essas interações se
caracterizam basicamente pelo fato de não ser possível prever

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 7
o resultado de um fenômeno apenas tendo como base a causa
APRESENTAÇÃO

a que é submetido. Essa potencialização desencadeia interações


comunicacionais por meio de encadeamentos, multiplicidades,
singularidades, incertezas, desordem e hipertextualidade. E
então, bora mergulhar nesse universo?
Unidade 3

8 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 03. Nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências

OBJETIVOS
profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Desenvolver as habilidades comunicacionais e aplicá-


las na construção de textos, considerando o princípio
interacional do texto aplicado às práticas sociais
cotidianas.

2. Identificar, no contexto da comunicação verbal e não


verbal, as marcas da situação de produção e da relação
dialógica de emissor e receptor na produção dos textos
e nas interações orais do cotidiano.

3. Situar os elementos e o contexto da fala e da escrita,

Unidade 3
enfatizando as marcas da situação de produção e da
relação dialógica de emissor e receptor nos processos
de comunicação.

4. Aplicar as tecnologias da informação no estabelecimento


da comunicação em diferentes contextos sociais.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 9
Princípio interacional do
texto e as práticas sociais
cotidianas
Ao término desta unidade, você será levado
a dominar textos, considerando o princípio
interacional aplicado às práticas sociais cotidianas.
OBJETIVO Para tanto, acrescentaremos aos elementos
básicos da comunicação mais um componente:
o referente, que diz respeito ao contexto da
mensagem, ou seja, à informação ou ao objeto
da comunicação. Além disso, você será capaz de
identificar, no contexto da comunicação verbal
e não verbal, as marcas da situação de produção
e da relação dialógica de emissor e receptor na
Unidade 3

produção dos textos e nas interações orais do


cotidiano, bem como situar os elementos e o
contexto da fala e da escrita, enfatizando as marcas
da situação de produção e da relação dialógica de
emissor e receptor nos processos de comunicação.
Isso porque o ser humano usa duas formas de
expressão: a verbal e a não verbal, que são, muitas
vezes, campos complementares e simultâneos.
Por fim, entenderá o papel das tecnologias da
informação no estabelecimento da comunicação
em diferentes contextos sociais, já que graças
às tecnologias de informação e comunicação
passamos de um mundo, inegavelmente, em
que as interações eram concebidas como sendo
sempre lineares para o mundo de interações não
lineares. Um mundo que vive em rede. E então?
Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

10 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Já discutimos que estão envolvidos em todo e qualquer
processo de comunicação, elementos como emissor, receptor,
canal, código e mensagem. Agora é hora de nos aprofundarmos
neles e acrescentarmos mais um componente a esse processo:
o referente, que diz respeito ao contexto da mensagem, ou seja,
à informação ou ao objeto da comunicação. Assim, tal qual um
quadro tem uma moldura, toda e qualquer mensagem tem um
contexto. Daí o fato de tratarmos de assuntos banais com nossos
amigos ou mesmo de assuntos mais complexos, variando-se a
forma de abordagem ou apresentação, ou seja, buscando uma
ou outra moldura ou referente.

Mas então qual é a principal barreira para a efetividade


da comunicação? Simples, ela reside no fato de sua medida ser

Unidade 3
sempre o homem, esbarrando, portanto, qualquer tentativa de
traçar normas à sua efetividade, na individualidade de cada ser.

Ainda assim, Lasswell (1978, p. 105), buscando a efetividade


da comunicação, propõe-nos um modelo comunicacional
pautado em cinco pilares, também já apresentados por alto a
você. Vamos a eles:

1º pilar: quem?

Por mais que nos pareça óbvia a resposta, se eu vou


me comunicar com alguém, quem faz a comunicação sou eu, o
ponto-chave a ser definido é o papel que represento socialmente.
Consideremos que se escrevo a meu filho, nessa comunicação
sou o pai, e meu papel social me traz benefícios. Vamos um
pouco mais a fundo: se você ouve na rua uma mãe esbravejar
com seu filho, “menino, se você não fizer isso agora, eu juro que
lhe mato”, certamente você não chamará a polícia, pois o papel
social nela investido autoriza essa comunicação. Se envio um
e-mail aos meus subordinados de setor, eu sou o chefe. É preciso
considerar, conforme Penteado (2012, p. 14), que “na sociedade

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 11
moderna o homem desempenha grande variedade de papéis,
e a comunicação será tanto mais inteligível, quanto mais claro
estiver definido em que capacidade o emissor se comunica”.

2º pilar: diz o quê?

O que comunicar depende, para a significação, primeiro


de uma análise da quantidade de informações necessárias,
seguido de um exame da qualidade dessas informações. Evite,
portanto, informações inoportunas, e pergunte-se sempre:
quanto é necessário comunicar para que o receptor entenda a
mensagem?

Assim, para dizer o quê, tenha sempre:

• Um objetivo em mente.
Unidade 3

• Informações suficientes sobre o fato.

• Disposição para planejar a estrutura de comunicação a


ser feita.

• Conhecimento do significado de todas as palavras


necessárias na comunicação.

• Tratamento do assunto com propriedade.

3º pilar: a quem?

É o receptor quem condiciona a forma da comunicação.


Assim, para a efetividade comunicacional, deve-se primeiro
observar o uso de um mesmo código, por mais que posições
sociais permitam compreensões distintas de um mesmo
vocábulo. Depois, o nível de conhecimento do receptor para a
compreensão da mensagem, sua experiência e imaginação, bem
como os possíveis desencadeadores de distração. Por fim, e não
menos importante, a disposição do receptor para o entendimento
da mensagem.

12 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
4º pilar: por que meio?

O meio, canal adequado, pode garantir o êxito da


comunicação. De nada adianta enviar um e-mail comunicando
uma decisão da diretoria de folga a um grupo de colaboradores
no próximo feriado, prolongando-o, se estes não têm acesso à
internet em suas atividades laborais.

5º pilar: com que finalidade?

Ter em mente a finalidade da comunicação é sinônimo


de prevenção de distorções e mal-entendidos. Observe que um
e-mail já solicita o preenchimento do campo assunto. Isso se faz
para clareza do objetivo da comunicação, para se evitarem os
desagradáveis “por quês”.

Unidade 3
Figura - Pilares

Quem? Diz o quê? A quem?


Comunicador Mensgem Receptor

Com que
Por qual meio?
finalidade?
Meio
Efeito

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

Algumas dicas para tornar sua comunicação eficaz:

• Com quem você vai se comunicar? Quem é? Que tipo de


pessoa ela é? De quanto auxílio essa pessoa necessita
para entender e aceitar o que você vai dizer?

• Entre emissor e receptor, quem decide o gabarito da


comunicação é o receptor.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 13
• O que você quer dizer? A mensagem é clara em sua
própria mente? Você ainda tem pormenores para
verificar?

• Cabe ao emissor precisar o papel em que faz a


comunicação, assim como a seleção do meio pertinente
e da forma apropriada.

• Como você está transmitindo as informações? Sua


abordagem está correta? Você está usando palavras
adequadas às circunstâncias?

• O objetivo da comunicação não é necessariamente


concordância, e sim, compreensão.

• Como você se certifica de que conseguiu ser entendido


pelo receptor? Que informações você quer para a
Unidade 3

confirmação? Que perguntas você pode fazer?

• A linguagem na comunicação deve ser compartilhada


entre emissor e receptor, fazendo comum a significação
de experiências e símbolos.

• Preste atenção nas palavras escritas e faladas de outras


pessoas, nos símbolos utilizados. Use o vocabulário
e simbologias das pessoas com quem você quer se
comunicar.

A semântica e suas alterações


Acho que você concorda comigo que seria no mínimo
ingênuo associar o significado ao objeto de estudo da semântica.
Para isso, seria necessário um consenso sobre o que é significado
entre os linguistas. Retomando Ullmann (1964, p. 111), “o
significado é um dos termos mais ambíguos e controversos da
teoria da linguagem”.

14 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Ainda segundo o autor, o significado da palavra
“é a relação recíproca e reversível entre o som
e o sentido” (1964, p. 117). Em outras palavras,
IMPORTANTE podemos afirmar que, se alguém ouvir uma
determinada palavra ou expressão, se remeterá,
de pronto, ao objeto que ela nomeia e, por
conseguinte, compreenderá seu significado.

Nesse sentido, Marques (2001, p. 15) afirma que os


estudos semânticos ainda não foram amplamente estudados,
graças à falta de um conceito “preciso, consensual e abrangente
do que seja semântica”. Para a autora, aliás, todas as definições
de semântica e delimitações a respeito do seu objeto de estudo
se revelam parciais e insuficientes, de modo que o conhecimento

Unidade 3
que se tem a respeito de significado em uma perspectiva
científica é insignificante. Entretanto, é inegável a importância do
significado no que tange à língua.

Para Oliveira (2008), é difícil precisar o objeto


de estudo da semântica, que pode, por sua vez,
configurar o significado das palavras, a condição
IMPORTANTE de verdade das frases, as mudanças dos atos
de fala ou significado. Segundo o autor, aliás, a
questão epistemológica mais séria para o campo
da semântica é a não resposta à pergunta “O que
é significado?” Por outro lado, “a ausência de uma
definição consensual não é justificativa para que
não se dê um pouco mais de atenção aos estudos
do significado. Afinal, não há uma definição
consensual de língua e, nem por isso, ela deixa de
ser estudada” (OLIVEIRA, 2008, p. 12). Afinal, você
deve concordar comigo: o objeto de estudo da
linguística é a língua.

A esse propósito, segundo Roth (1998), um dos motivos


do “abandono” da semântica está associado à dificuldade de

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 15
determinação de seu objeto de estudo, haja vista uma não
determinação do que seja significado. Ademais, não há uma
distinção entre significado e sentido. Logo, proponho que
utilizemos, eu e você, neste curso, a adoção do termo significado
em vez de sentido. Isso porque entendo que o sentido está
relacionado às questões pragmáticas, ao passo que o significado
corresponde às questões semânticas.

Bora entender as alterações


semânticas?
Valendo-se de ironia, Salústio (apud DALPIAN, 1988, p.
105) diz, em “A conjuração de Catilina”, que “nós perdemos o
verdadeiro sentido das palavras, porque ser pródigo com os bens
Unidade 3

dos outros chama-se generosidade; a audácia nos crimes chama-


se bravura”. Ainda nessa linha de raciocínio, vale pegarmos
o Hino Rio-Grandense, o qual valoriza os feitos da Revolução
Farroupilha: “Sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra”.
Assim, pensando como Salústio, você e eu deduziremos que o
sentido de “façanhas” revela-se perdido, quando nelas passam
a ser inclusos os negros nas frentes de batalha, de modo que a
apropriação indevida (neste caso o verdadeiro sentido se revela
oculto) de gado. Em outras palavras, acho que concordamos
quanto a isso, o vocábulo revolução carece de ser revisto, já que
o combate não advém do povo, mas de estancieiros, os quais
tinham, nitidamente, seus interesses a serem defendidos. Logo,
vale o que diz Bréal (1992, p. 78): “É preciso ver o inevitável efeito
de uma falsa delicadeza: dando nomes honestos às coisas que
não o são, desonram-se os nomes honestos.”

16 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Figura - O sentido das palavras está intrinsecamente ligado ao contexto, o que pode
ocasionar mudanças no significado, sejam elas permanentes ou temporárias.

Fonte: Freepick

Unidade 3
Fica fácil, não é mesmo, você e eu deduzirmos que o
sentido dos vocábulos está associado ao contexto, de modo que
o significado também pode mudar, seja de forma permanente
ou temporária. Consoante Andrade (2011, p. 1), “assim como as
palavras mudam sua forma e sua sintaxe através dos tempos,
também seu significado vai se modificando com o passar dos
anos, em decorrência de uma série de fatores sociais e culturais”.

Acerca das relações semânticas, Said Ali (1971, p. 55), diz


que:
alteração de uma espécie anda quase sempre
ligada a uma ou mais alterações de espécie
diferente. O domínio semântico de um termo
aumenta ou diminui com perda ou lucro do
domínio de outro termo. Um vocábulo sofre
certa mudança semântica muito característica;
já outros vocábulos do mesmo tipo, nas
mesmas condições, permanecem sem
modificação alguma ou alteram o significado
de maneira muito diversa.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 17
Nesse sentido, ainda de acordo com Said Ali (1971),
diferentemente do que já apregoaram parte dos linguistas, é
falaciosa a tese de que as palavras possam ter seu significado
modificado de acordo com leis ou tendências. Nada se revela,
aliás, retomando Bréal (1992), mais quimérico do que consentir
com tendências para justificar alterações de significados de um
vocábulo. Isso porque, para GODOIS e DALPIAN (2010, p. 07):
Levando-se em consideração que a língua é
viva e sofre modificações como todo ser vivo,
é possível concluir que as palavras estão
em constante aperfeiçoamento de forma a
satisfazer as necessidades dos que dela fazem
uso. Nesse sentido, o significado das palavras
é móvel e pode restringir-se, expandir-se,
enfim, adaptar-se.
Unidade 3

Sim, você deve estar se perguntando agora: como se


explicam então as mudanças de significado? Vamos lá, Bréal
(1992) defendia o princípio de que existem mudanças explicáveis
pela natureza das palavras. Trata-se, pois, de transfigurações
relacionadas à ampliação ou restrição do sentido, à metáfora ou
polissemia, ao espessamento do sentido e às palavras abstratas,
aos grupos articulados e aos nomes compostos.

Ullmann (1964), por sua vez, distinguiu fatores que


venham a favorecer as alterações semânticas e as causas dessa
alteração. Em seus estudos, um dos fatores mencionados pelo
linguista húngaro foi o modo descontínuo como uma língua
pode ser transmitida de uma geração para outra, de modo que
equívocos cometidos por uma criança em relação ao significado
de uma palavra, se não esclarecidos, poderão acarretar uma
mudança semântica.

18 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Ademais, a perda de motivação ou mesmo a
imprecisão do significado interferem no significado
dos vocábulos, revelando-se perfeitamente
VOCÊ SABIA? factível a possibilidade de uma palavra tomar um
significado novo sem perder seu significado inicial,
quer seja por um curto espaço de tempo ou ainda
permanentemente, quando o novo significado
substitui o significado original. Por fim, ainda
segundo Ullmann (1964), alterações semânticas
também podem ser decorrentes de contextos
ambíguos, isto é, um vocábulo é tomado em dois
sentidos distintos, e o significado da expressão no
conjunto, entretanto, permanece inalterado.

Isso porque a estrutura do vocabulário é o fator mais

Unidade 3
importante no favorecimento da mudança semântica, pois é
“uma estrutura instável em que as palavras individuais podem
adquirir e perder significados” (ULLMANN, 1964, p. 390). A seguir,
você encontrará um quadro com as principais causas da mudança
semântica apontadas por Ullmann (1964):
Quadro – Causas da mudança semântica

Linguísticas: observáveis quando duas palavras são empregadas


simultaneamente em um mesmo contexto, podendo o sentido de uma palavra
ser transferido para outra.
Históricas: ainda que objetos, instituições, conceitos científicos, ideias mudem
com o passar do tempo, eles podem conservar o nome. O carro de hoje em
dia, por exemplo, já significava no séc. I a. C. veículo de quatro rodas, e ainda
que não tenha muitas similaridades com os veículos daquele período, preserva
o nome.
Psicológicas: trata-se das alterações de significado derivadas do tabu, que é
definido por Ullmann (1964, p. 408) como algo proibido e “de importância vital
para o linguista porque impõe uma proibição não só sobre certas pessoas,
animais e coisas, mas também sobre os seus nomes”. Por exemplo, os judeus,
por não poderem se referir a Deus, acabaram por substituir a palavra por
Senhor, o que persiste até os dias de hoje, inclusive na língua portuguesa, no
francês Seigneur, no inglês the Lord.

Fonte: Elaborado(a) pelo(a) autor(a) (2022).

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 19
Professor, as alterações semânticas acometem todos
os vocábulos? Sim, até mesmo nomes próprios podem sofrer
alterações, em especial relacionadas à extensão do significado.
Peguemos dois exemplos concretos, Amélia, cujo sentido original
na língua portuguesa do Brasil esteve associado a um nome
próprio feminino. Com o passar do tempo, entretanto, Amélia
passou a designar a mulher serviçal, amorosa, passiva, aquela
que é capaz de aceitar tudo (HOUAISS; VILLAR; FRANCO, 2001),
bem como Manuel, empregado para designar um nome próprio
masculino, especialmente em Portugal. Entretanto, no Brasil,
Manuel passou a ter um significado pejorativo, mané, que por
sua vez significa “indivíduo sem capacidade, pouco inteligente,
bobo, paspalhão” (HOUAISS; VILLAR; FRANCO, 2009).

Na concepção bem-humorada de Silva (2000),


Unidade 3

compositor carioca: “Mané é um homem / Que


moral não tem / Vai pro samba, paquera / E não
IMPORTANTE ganha ninguém”. Vale destacar que as razões dessa
associação ao nome Manuel com o significado que
tomou a palavra mané são incertas, mas é muito
provável que se relacione a um acontecimento
histórico de Portugal: a fuga da coroa para o Brasil,
que, com isso, revelou pouca inteligência e até
mesmo covardia.

Ainda no campo das pesquisas semânticas, Gabas Jr


(2006) defende não ser possível ainda na história da linguística
um modelo abstrato de mudança semântica, como viveram as
mudanças fonético fonológicas e gramaticais. Isso graças, de
acordo com GODOIS e DALPIAN (2010, p. 08-09):
à incapacidade de um só modelo de análise
semântica abarcar todas as questões que
envolvem o significado. De fato, uma só teoria

20 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
não daria conta da complexidade do assunto,
já que aí estão envolvidas questões históricas,
psicológicas, sociais, linguísticas, filosóficas,
entre tantas outras. Com essas afirmações,
é possível concluir que ainda falta um bom
caminho para se chegar a uma determinação
de todos os aspectos relacionados ao estudo
do significado das palavras.

Em Ullmann (1964), também encontramos a metáfora, a


metonímia e a elipse como causadoras de alterações semânticas.
No caso específico da metáfora e da metonímia, por serem
pelo autor consideradas mais abrangentes no que se refere às
alterações semânticas, agora serão descritas. Pois bem, vamos
partir do filme “O carteiro e o poeta”.

Unidade 3
Na película, o carteiro queria compor poesias à
sua amada e busca o poeta para ensiná-lo a criá-
las. Este, por sua vez, com bastante má vontade,
IMPORTANTE diz ao carteiro que o primeiro passo para que tudo
fosse possível era ele aprender a criar metáforas.
Estas, por sua vez, não figuram apenas na poesia,
mas também na linguagem corriqueira. “O mar
está cheio de cavalos, de cães, de anêmonas, de
estrelas; o jardim está cheio de bocas-de-lobo, de
línguasdesogra, de bolas-de-neve; e muito mais
poderíamos citar, pésdecabra, criados-mudos,
amores-perfeitos [...]” (GUIRAUD, 1972, p. 65).

Ademais, o corpo humano é também bastante inspirador


da linguagem metafórica — os braços de madeira, os pés da
mesa, a cabeça do alfinete, a garganta do diabo, entre outras.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 21
Figura - O termo ‘pé da mesa’ é um exemplo de catacrese, pois utilizamos a palavra ‘pé’
para descrever a parte da mesa que sustenta sua estrutura, mesmo não sendo uma parte
anatômica de um pé humano.

Fonte: Freepik
Unidade 3

Nesses exemplos, percebemos a catacrese em ação, ou


seja, segundo Dubois et al. (1978, p. 101), a catacrese “é uma
metáfora, cujo uso é tão corrente que não é mais sentida como
tal”. Para Bueno (1965, p. 167):
a metáfora consiste no emprego de um
símbolo por outro, mas de ordem diferente.
Não está em comparar símbolo com símbolo,
mas no fato de empregar um símbolo tão fora
do seu meio natural que, através dele, seja a
mente humana levada a evocar o outro.

Logo, uma metáfora não deixa de ser uma comparação,


entretanto com a ausência de elementos comparativos. Assim,
em vez de afirmar que determinada formação na cidade de
Foz do Iguaçu, no Paraná, se abre como a Garganta do Diabo, o
que seria uma comparação, a metáfora confirma-se quando se
nomeia as Cataratas do Iguaçu a Garganta do Diabo.

Por outro lado, Dubois et al. (1978, p. 411) apresenta-nos


uma visão um tanto quanto distinta da concepção de Bueno. Para

22 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
os autores, “a metáfora consiste no emprego de uma palavra
concreta para exprimir uma noção abstrata, na ausência de todo
elemento que introduz formalmente uma comparação.”

De todo modo, creio estar claro para você e para mim


que a metáfora e a metonímia contribuem para que mudanças
semânticas ocorram e, de acordo com Ullmann (1964), a
metonímia revela-se menos interessante que a metáfora, haja
vista o fato de descobrir relações novas surgindo tão somente
entre palavras relacionadas entre si. Entretanto, ainda assim,
é inegável o fato de constituir fator igualmente relevante na
mudança semântica.

Igualmente tratando a metonímia e a metáfora, Garcia

Unidade 3
(2001) diverge de Ullmann (1964), ao afirmar que, de acordo com
GODOIS e DALPIAN (2010, p. 08-09),
aquela é muito mais comum como processo
propiciador da mudança de significado
do que esta. Isso porque a metáfora é um
processo que envolve uma similaridade de
significados, enquanto a metonímia envolve
uma contiguidade de significados.

Para Garcia (2001), para que haja uma similaridade entre


dois significados, é preciso que haja uma relação entre um
significado e outro; já para haver uma relação de contiguidade
entre dois significados, basta que os fatores que constituem
um dos significados tenham algo a ver com os fatores do outro
significado, ou seja, que os dois significados tenham algum ponto
em comum. O ponto em comum pode abranger diversos tipos
de relação, como partetodo, continente-conteúdo, lugar-coisa,
coisa-característica, causaefeito, autor-obra, formas, objetivos
ou funções comuns.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 23
Por fim, caro(a) estudante, inegável é o fato de que esses
fatores e causas acabam por desencadear consequências da
mudança semântica. Essas consequências, por sua vez, acabam
por se relacionar à extensão e à restrição do significado e ao
desenvolvimento de significados “ameliorativos” (como vimos
nesta unidade) ou mesmo pejorativos.
Unidade 3

24 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você deve ter aprendido que a semântica e as suas
alterações são elementos essenciais no princípio
interacional do texto e nas práticas sociais
cotidianas.
Durante a exploração deste capítulo, discutimos
como a semântica, que trata do estudo do
significado das palavras e de como elas se
relacionam, desempenha um papel crucial
na comunicação humana e na construção de
significados compartilhados. Constatamos que
a semântica está em constante evolução e é

Unidade 3
influenciada pelas práticas sociais e culturais de
uma comunidade.
As alterações semânticas ocorrem ao longo do
tempo, refletindo as mudanças nas atitudes,
crenças e nos valores das pessoas. Essas
mudanças são impulsionadas por diversos fatores,
como avanços tecnológicos, movimentos sociais
e influências culturais externas, além do uso
cotidiano da linguagem. Portanto, as palavras
e expressões adquirem novos significados, o
que afeta diretamente a maneira como nos
comunicamos e como interpretamos o mundo ao
nosso redor.
Nesse contexto, também enfatizamos a
importância da interação entre os indivíduos
na construção e negociação de significados.
Através das trocas comunicativas, as pessoas
compartilham interpretações e entendimentos
mútuos, contribuindo para a construção de normas
sociais e convenções linguísticas que moldam a
semântica das palavras.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 25
É fundamental estar ciente das alterações
semânticas em curso, pois elas podem gerar
ambiguidades e desafios na comunicação. À medida
que os significados das palavras se modificam,
diferentes interpretações podem surgir, levando a
mal-entendidos e conflitos. Portanto, é necessário
adaptar e contextualizar nossa linguagem de
acordo com as práticas sociais predominantes, a
fim de promover uma comunicação mais eficaz e
compreensão mútua.
Portanto, neste capítulo, aprendemos que a
semântica e suas alterações são fundamentais para
compreendermos o princípio interacional do texto
e as práticas sociais cotidianas. Entender como
a semântica evolui e como as interações sociais
moldam o significado das palavras nos permite
Unidade 3

nos adaptarmos às mudanças, promovendo


uma comunicação mais fluida e harmoniosa em
diversos contextos sociais.

26 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Linguagem verbal e não verbal
na comunicação do dia a dia
Podemos dizer que a comunicação verbal
externaliza aspectos psicofísicos e socioculturais
do ser humano, consistindo, pois, em um meio
OBJETIVO de comunicação e expressão de ideias, vindo-nos
a permitir a interpretação de intenções nas mais
variadas circunstâncias de produções culturais.

Por conseguinte, dominar o sistema simbólico de uma


língua, bem como entender a linguagem como uma atividade
cognitiva e discursiva garante ao indivíduo possibilidades de
interação e participação social. Isso porque é pela linguagem

Unidade 3
que nos expressamos, estabelecemos relações interpessoais,
partilhamos nossa visão de mundo, agimos sobre o outro,
alteramos representações da realidade e produzimos cultura.
Figura – Linguagem

Fonte: Pexels

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 27
A linguagem verbal engloba o uso de palavras e estruturas
linguísticas que formam um sistema simbólico complexo,
permitindo-nos expressar uma ampla gama de pensamentos,
sentimentos, desejos e necessidades.

A linguagem verbal é uma ferramenta poderosa que


nos capacita a articular ideias de maneira precisa e detalhada.
Através dela, podemos compartilhar informações, comunicar
nossos pontos de vista, expressar nossas emoções e estabelecer
conexões com os outros. É por meio da linguagem verbal que
construímos narrativas, explicamos conceitos complexos,
contamos histórias e transmitimos conhecimento.

Além disso, a linguagem verbal desempenha um papel


fundamental na construção da nossa realidade social. As palavras
Unidade 3

que usamos e as estruturas linguísticas que empregamos


moldam a forma como percebemos o mundo ao nosso redor
e como interagimos com ele. Através da linguagem verbal,
podemos criar significados compartilhados, estabelecer normas
sociais e construir identidades individuais e coletivas.

É importante ressaltar que a linguagem verbal não é


apenas um conjunto de palavras isoladas, mas também envolve
aspectos, como gramática, sintaxe, semântica e pragmática. A
maneira como organizamos as palavras em frases, a escolha
de certos termos e o uso de elementos linguísticos específicos
podem influenciar profundamente a forma como nossas
mensagens são interpretadas.

No entanto, é essencial reconhecer que a linguagem


verbal não existe isoladamente. Ela está intrinsecamente ligada
à linguagem não verbal, que inclui gestos, expressões faciais,
entonação e outros elementos comunicativos. A combinação
harmoniosa entre a linguagem verbal e não verbal é fundamental
para uma comunicação eficaz, uma vez que as expressões

28 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
não verbais podem reforçar, complementar ou até mesmo
contradizer as palavras que utilizamos.

A linguagem verbal desempenha um papel fundamental


na comunicação do dia a dia. É por meio dela que expressamos
nossos pensamentos, ideias, sentimentos e necessidades,
estabelecendo uma conexão com as outras pessoas.

Na comunicação cotidiana, utilizamos a linguagem


verbal para transmitir informações, fazer solicitações,
compartilhar histórias, expressar opiniões e realizar
IMPORTANTE negociações. Através das palavras, conseguimos
comunicar de maneira precisa e detalhada,
escolhendo os termos adequados e organizando-os
em frases e discursos coerentes.

Unidade 3
A linguagem verbal permite-nos construir significados
compartilhados, uma vez que utilizamos palavras que têm um
entendimento comum dentro de determinada comunidade
linguística. É por meio desse entendimento mútuo que nos
comunicamos efetivamente e garantimos que nossas mensagens
sejam compreendidas pelos outros.

Além disso, a linguagem verbal desempenha um papel


importante na expressão de nossa identidade e na construção
de relacionamentos interpessoais. Através das palavras que
escolhemos, podemos expressar nossa personalidade, valores,
crenças e atitudes, permitindo que os outros nos conheçam
melhor e estabeleçam vínculos conosco.

No entanto, é importante reconhecer que a linguagem


verbal pode ser ambígua e estar sujeita a interpretações
diversas. O contexto, as emoções, as experiências individuais e
as diferenças culturais podem influenciar a compreensão das
palavras utilizadas. Portanto, é fundamental considerar esses

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 29
elementos ao se comunicar verbalmente e estar aberto ao
diálogo para esclarecer mal-entendidos.

Já sei, você deve estar agora se perguntando: “e


a comunicação não verbal, professor?”. Segundo
Oliveira (2007, p. 7), “para compreender o mundo
VOCÊ SABIA? de forma plena e comunicar-se, o ser humano usa
duas formas de expressão: verbal e não verbal,
que são muitas vezes, campos complementares e
simultâneos”. Isso porque a comunicação não se
dá apenas por palavras, mas por toques, gestos,
cheiros, gostos, sons, imagens visuais, que nada
mais são do que recursos comunicativos que
aguçam nossos sentidos. Para Alcure (1996, p. 16),
“como as palavras, os sentidos também adaptam o
ser humano ao meio socioambiental, constituindo
fontes de conhecimentos”.
Unidade 3

A esse propósito, Barthes (1964, p. 38) questiona-nos:


“será que a imagem é simplesmente uma duplicata de certas
informações que o texto contém e, portanto, um fenômeno de
redundância, ou será que o texto acrescenta novas informações à
imagem?”. Indo um pouco mais a fundo na indagação de Barthes,
veremos que o próprio autor defende relações recíprocas entre
o verbal e o não verbal, sendo dele a apresentação de referências
de ancoragem e relais. No que diz respeito à ancoragem,
entendamos, pois, o papel da legenda de uma foto. É ela que nos
conduzirá à captação de um significado previamente escolhido
para a imagem, considerando ou abandonando alguns aspectos.
Refere-se, de acordo com Guimarães (2013, p. 125):
A ancoragem à polissemia de significados
que uma imagem pode suscitar em uma dada
cultura e à escolha de um desses significados
de maneira particular. O texto serve para
conduzir a uma única interpretação, fazendo

30 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
com que sejam evitados alguns sentidos ou
que se lhe acrescentem outros; tem, pois,
uma função elucidativa e seletiva.

Já com relação ao relais, Barthes (1964) esclarece-nos que


texto e imagem se complementam por serem fragmentos de um
sintagma mais geral, realizando-se a unidade da mensagem em
um grau mais avançado.

Em outras palavras, recuperando as duas noções,


podemos dizer que consiste a ancoragem em uma estratégia de
referência direcionada do texto à imagem, ao passo que, na relais,
o receptor tem sua atenção dirigida da imagem à palavra ou da
palavra à imagem. O ponto em comum? A complementaridade
entre o verbal e o não verbal, de modo a tornar a comunicação

Unidade 3
humana mais acessível, rica e passível de compreensão. Isso
porque, quando usamos a palavra, lançamos mão do raciocínio e
da compreensão, estruturando nossas mensagens ou explicações
verbais em uma sequência mediata e organizada. Por outro lado,
ao nos valermos da linguagem não verbal como mapa, nossa
apreensão é global e imediata.
Figura - A comunicação eficaz envolve não apenas a linguagem verbal, mas também
a linguagem gestual, expressões faciais e posturas corporais, que juntas transmitem
mensagens e significados mais completos.”

Fonte: Freepik

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 31
A linguagem não verbal desempenha um papel crucial
na comunicação do dia a dia, complementando e enriquecendo
a linguagem verbal. Ela engloba uma variedade de elementos,
como expressões faciais, gestos, postura corporal, tom de voz,
contato visual e proximidade física.

Na comunicação cotidiana, a linguagem não verbal


desempenha um papel significativo na expressão de emoções,
atitudes e intenções. Por exemplo, uma expressão facial
sorridente pode transmitir alegria e simpatia, enquanto uma
postura corporal tensa pode indicar desconforto ou ansiedade.
Além disso, o tom de voz e a entonação podem transmitir
emoções, como alegria, tristeza, raiva ou surpresa.

A linguagem não verbal também desempenha um


Unidade 3

papel importante na interpretação de mensagens.


Muitas vezes, o significado real de uma mensagem
IMPORTANTE pode ser transmitido mais claramente pela
linguagem não verbal do que pelas palavras
utilizadas. Por exemplo, uma pessoa pode dizer
algo com sarcasmo, mas sua expressão facial e
tom de voz indicam que ela está brincando.

Além disso, a linguagem não verbal é influenciada


por fatores culturais. Certos gestos ou expressões podem ter
significados diferentes em diferentes culturas. É importante ter
sensibilidade cultural ao interpretar e utilizar a linguagem não
verbal, para evitar mal-entendidos ou ofensas inadvertidas.

A combinação adequada da linguagem verbal e não


verbal é essencial para uma comunicação eficaz. Quando a
linguagem não verbal está em sintonia com a linguagem verbal, as
mensagens são reforçadas e a comunicação torna-se mais clara
e impactante. Por outro lado, inconsistências entre a linguagem

32 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
verbal e não verbal podem gerar confusão e falta de confiança
na comunicação.

Portanto, a linguagem não verbal desempenha um papel


fundamental na comunicação cotidiana, complementando e
ampliando a linguagem verbal. Ao estar atento aos sinais não
verbais e utilizá-los de forma coerente, podemos transmitir
mensagens de maneira mais completa e entender melhor as
intenções e emoções dos outros.

O segredo, portanto, de uma comunicação plena


está na capacidade de o indivíduo harmonizar a
comunicação verbal e a não verbal, partindo do
IMPORTANTE pressuposto da voluntariedade verbal, estruturada
em um processo, cujo início se dá no universo das

Unidade 3
ideias e se encerra no enunciado da mensagem,
ou da involuntariedade do comportamento não
verbal, que nem sempre obedece a uma lógica
clarividente, já que podem estar associados
a aspectos culturais ou mesmo se realizarem
em determinadas circunstâncias. Imagine, por
exemplo, um grupo de adolescentes conversando
descontraidamente, sem a presença de adultos.
Naturalmente gesticularão muito e lançarão
mão de comportamentos que imediatamente
serão tolhidos ao perceberem, por exemplo, a
aproximação da mãe de um deles do grupo.

A descontração e informalidade cederão espaço ao


contido e ao formal. Isso porque, retomando Castro (2013, p. 06):
“em público, por questões sociais e pessoais, é comum o controle
dos movimentos corporais e do uso do espaço. Isso se dá porque
se consegue perceber o que pode incomodar aos outros, graças
à capacidade de empatia”.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 33
Logo, não apenas as palavras permitem a interação
social, já que feições e gestos traduzem nossos comportamentos
enquanto falamos (ser expansivo ou retraído), quer seja em
um grupo de amigos, em um evento social ou mesmo em uma
reunião de trabalho. Nesse sentido, bastante claros revelamse os
requisitos para um processo de comunicação exitoso:

Mas de onde decorre a dificuldade de entendimento de


uma mensagem verbal? O primeiro ponto é considerar que a
compreensão de uma palavra passa por variedade de sentido
e graus de abstração. Em outras palavras, o significado de
uma palavra não está nela, mas em quem a lê/escuta, já que a
compreensão passa pela experiência concreta do termo vivida
pelo receptor. Logo, a compreensão exata da mensagem é
dependente da adequação da linguagem ao público, cabendo
Unidade 3

ao emissor a escolha de um repertório vocabular que traduza a


mensagem sem dúvidas ou ruídos de comunicação.

Por fim, retomando Adorno (2003), a realidade é uma


construção da própria linguagem, sempre mediada pelos
discursos. Logo, para o homem contemporâneo, a verdade está
em suspeição.

A comunicação eficaz requer a harmonização e a


coerência entre a linguagem verbal e não verbal. Inconsistências
entre essas duas formas de comunicação podem levar a mal-
entendidos e interpretações equivocadas por parte do receptor
da mensagem. Portanto, é fundamental estar consciente da
importância de alinhar nossas palavras com nossas expressões
faciais, gestos e linguagem corporal para transmitir nossas
mensagens de forma clara e coerente.

Quando nossas palavras estão em harmonia com nossa


linguagem não verbal, a mensagem transmitida torna-se mais
clara e compreensível. Por exemplo, se expressamos verbalmente

34 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
uma ideia positiva, mas nossas expressões faciais ou postura
corporal transmitem tensão ou desinteresse, a mensagem pode
ser interpretada de forma contraditória, causando confusão no
receptor.

A linguagem não verbal pode transmitir


informações adicionais, como emoções, atitudes,
intenções e níveis de confiança. Ela complementa
IMPORTANTE e reforça a mensagem verbal, conferindo-lhe um
significado mais completo. Portanto, é importante
estar atento aos sinais não verbais que estamos
enviando, como contato visual adequado, gestos
apropriados e linguagem corporal coerente com o
que estamos dizendo.

Unidade 3
A falta de coerência entre a linguagem verbal e não
verbal pode gerar desconfiança e prejudicar a comunicação
interpessoal. Se as palavras e a linguagem não verbal não
estiverem alinhadas, pode haver uma sensação de falta de
autenticidade ou sinceridade na mensagem transmitida. Por
exemplo, se alguém elogia verbalmente, mas sua expressão
facial e tom de voz indicam desaprovação, a mensagem pode ser
percebida como falsa ou desonesta.
Figura - A coerência entre a linguagem verbal e não verbal é essencial para uma comunicação
clara e efetiva, garantindo que as palavras e expressões faciais estejam alinhadas,
transmitindo uma mensagem consistente e compreensível.

Fonte: Freepik

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 35
Portanto, para uma comunicação eficaz, é essencial estar
consciente da importância de alinhar a linguagem verbal com a
linguagem não verbal. Isso envolve estar atento à forma como
expressamos nossas palavras, bem como às expressões faciais,
gestos e postura corporal que acompanham nossa comunicação.
Ao fazê-lo, podemos transmitir nossas mensagens de forma clara,
coerente e autêntica, promovendo uma compreensão mútua e
fortalecendo os relacionamentos interpessoais.

Reconhecemos que tanto a linguagem verbal quanto a


linguagem não verbal são influenciadas por uma série de fatores,
incluindo aspectos culturais, contextuais e individuais. Normas
culturais, crenças, valores e experiências pessoais desempenham
um papel significativo na forma como usamos e interpretamos a
linguagem.
Unidade 3

As normas culturais estabelecem padrões de


comportamento e comunicação que são compartilhados por
uma determinada comunidade. Essas normas podem afetar
a escolha das palavras, o uso de expressões faciais, gestos e
postura corporal. Por exemplo, a forma de saudação, os níveis de
formalidade e os gestos considerados apropriados podem variar
entre diferentes culturas.

Além disso, as crenças e os valores individuais também


moldam a linguagem verbal e não verbal. Nossas convicções
pessoais influenciam a forma como nos expressamos e como
interpretamos as mensagens dos outros. Por exemplo, uma
pessoa com uma crença arraigada em determinado assunto
pode usar uma linguagem mais emotiva ou enfatizada ao falar
sobre esse tema.

36 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
O contexto também desempenha um papel
fundamental na interpretação da linguagem.
O ambiente físico, o relacionamento entre os
IMPORTANTE interlocutores, o propósito da comunicação e
outros elementos contextuais podem influenciar
a forma como usamos e compreendemos a
linguagem verbal e não verbal. Por exemplo, a
mesma palavra ou gesto pode ter significados
diferentes em diferentes contextos.

Dessa forma, é essencial ter sensibilidade cultural e


adaptabilidade ao se comunicar em diferentes contextos e
com pessoas de diferentes origens culturais. Isso envolve estar
aberto a aprender sobre as normas e práticas culturais de

Unidade 3
outras pessoas, respeitando suas diferenças e ajustando nossa
comunicação de acordo. Ter consciência de nossos próprios
preconceitos e suposições também é importante para evitar
julgamentos precipitados e promover uma comunicação inclusiva
e respeitosa.

A título de exemplo, imagine uma situação em que você


está em um país estrangeiro, participando de uma reunião de
negócios. Durante a reunião, você faz uma apresentação e utiliza
uma linguagem verbal clara e objetiva para transmitir suas
informações.

No entanto, você percebe que os participantes da reunião


têm expressões faciais mais neutras e não estão fazendo muitos
gestos durante a sua apresentação. Isso pode dar a impressão
de que eles estão desinteressados ou não concordam com o que
você está dizendo.

Nesse contexto, é importante lembrar que diferentes


culturas têm maneiras distintas de se expressar verbal e não
verbalmente. Alguns grupos culturais podem ser mais reservados

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 37
e valorizar uma expressão facial neutra durante a comunicação,
como uma forma de demonstrar respeito e profissionalismo. Os
gestos podem ser menos frequentes ou mais sutis.

Ao entender essas normas culturais, você pode adaptar


sua comunicação para adequar-se ao contexto. Isso pode incluir
ajustar a frequência e o estilo dos gestos, adotar uma expressão
facial mais neutra e adaptar o tom de voz para adequar-se ao
tom geral da reunião.

Ao ser sensível às influências culturais e contextuais,


você pode garantir uma comunicação mais efetiva, facilitando a
compreensão mútua e promovendo um ambiente de trabalho
harmonioso. É importante estar aberto a aprender sobre as
normas e práticas culturais locais, respeitando as diferenças e
Unidade 3

adaptando-se conforme necessário para uma comunicação mais


eficaz.

38 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você deve ter aprendido que a linguagem verbal e
não verbal desempenham papéis complementares
e fundamentais na comunicação do dia a dia.
Durante a exploração deste capítulo, discutimos a
importância da linguagem verbal, que envolve o uso
de palavras e estruturas linguísticas, na transmissão
de informações e significados. A linguagem verbal
é um sistema simbólico complexo que nos permite
expressar pensamentos, sentimentos, desejos
e necessidades. Através dela, podemos articular
ideias de forma precisa e detalhada.

Unidade 3
No entanto, também destacamos a relevância da
linguagem não verbal, que inclui gestos, expressões
faciais, postura corporal, tom de voz e outras
formas de comunicação não baseadas em palavras.
A linguagem não verbal complementa e enriquece
a linguagem verbal, transmitindo nuances
emocionais, atitudes, intenções e contextos
sociais. Ela desempenha um papel fundamental
na expressão de emoções, na interpretação de
mensagens e na criação de conexões interpessoais.
Ao longo do capítulo, também exploramos como
a comunicação eficaz requer a harmonização e a
coerência entre a linguagem verbal e não verbal.
Inconsistências entre as duas podem levar a
mal-entendidos e interpretações equivocadas.
Portanto, é fundamental estar consciente da
importância de alinhar nossas palavras com nossas
expressões faciais, gestos e linguagem corporal
para transmitir nossas mensagens de forma clara
e coerente.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 39
Além disso, reconhecemos que a linguagem verbal
e não verbal são influenciadas por fatores culturais,
contextuais e individuais. Normas culturais,
crenças, valores e experiências pessoais podem
moldar a forma como usamos e interpretamos a
linguagem. Portanto, é essencial ter sensibilidade
cultural e adaptabilidade para garantir uma
comunicação efetiva em diferentes contextos e
com diversas pessoas.
Unidade 3

40 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
O contínuo na fala e na escrita
da língua: norma e variação
Ao término deste capítulo, você será capaz de entender
como funciona o contínuo na fala e na escrita da língua,
abordando a temática da norma e variação linguística.
OBJETIVO Essa compreensão será fundamental para o exercício
de sua profissão, permitindo uma comunicação mais
eficaz e apropriada em diferentes contextos.
E então? Motivado para desenvolver essa competência?
Vamos lá. Avante!

No estudo da língua, é fundamental compreender o


contínuo presente na fala e na escrita, explorando as relações

Unidade 3
entre norma e variação linguística. O contínuo na fala e na
escrita refere-se à variedade de formas linguísticas utilizadas
em diferentes contextos comunicativos, que variam desde a
linguagem coloquial e informal até a linguagem mais formal e
padronizada.

A norma linguística representa o conjunto de regras e


convenções estabelecidas em uma determinada comunidade
linguística, que definem a forma considerada “correta” ou
“padrão” de se comunicar. Essa norma pode ser baseada em
gramáticas prescritivas, manuais de estilo ou convenções sociais.

No entanto, é importante reconhecer que a língua é


dinâmica e está em constante evolução. A variação linguística
é uma realidade natural e inevitável, resultante de fatores
como a diversidade regional, o contato entre diferentes grupos
linguísticos, as mudanças sociais e culturais, entre outros.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 41
Figura - A variação linguística é um fenômeno natural que reflete a diversidade cultural
e regional, manifestando-se por meio de diferentes sotaques, gírias e expressões,
enriquecendo a comunicação e promovendo a inclusão linguística.
Unidade 3

Fonte: Freepik.

Essa variação pode ser observada em diversos aspectos


da língua, como pronúncia, vocabulário, gramática e até mesmo
no uso de gírias e expressões idiomáticas. A variação linguística
reflete as diferentes identidades, origens e experiências dos
falantes, tornando a língua um fenômeno vivo e rico em
diversidade.

É importante destacar que a variação linguística não


implica necessariamente em «erro» ou «incorreção», mas sim
em diferentes formas de expressar-se que são válidas dentro de
seus contextos específicos. O reconhecimento e a valorização
dessa variação contribuem para uma compreensão mais ampla e
inclusiva da linguagem, promovendo o respeito pela diversidade
linguística e cultural.

42 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Você conhece o Localingual?
O Localingual disponível no QR-Code, é um mapa
interativo que apresenta a diversidade linguística
ACESSE ao redor do mundo. Através desse mapa, é possível
explorar as diferentes línguas faladas em cada região,
bem como obter informações sobre o número de
falantes e a distribuição geográfica dessas línguas. O
mapa interativo permite uma experiência imersiva,
permitindo que os usuários explorem e aprendam
sobre as línguas de diferentes países e regiões. É uma
ferramenta valiosa para compreender a riqueza e a
complexidade da diversidade linguística global.

Unidade 3
No estudo do contínuo na fala e na escrita, é essencial
compreender as normas estabelecidas e reconhecer as variações
presentes na língua. Isso nos permite adaptar nossa comunicação
de acordo com o contexto, levando em consideração fatores, como
o público-alvo, o propósito da comunicação e as expectativas
socioculturais.

Ao explorar o contínuo na fala e na escrita da língua,


podemos desenvolver uma competência linguística mais
abrangente, capaz de lidar com a diversidade e adaptar-se às
diferentes situações comunicativas. Essa compreensão nos capacita
a utilizar a linguagem de maneira mais eficaz, respeitando a norma
padrão quando necessário, mas também apreciando e valorizando
as variações linguísticas que enriquecem a nossa comunicação.

Vimos que variantes linguísticas são as duas ou mais


formas que veiculam um mesmo sentido e compõem o conjunto

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 43
de uma mesma variável linguística. A variação pode ocorrer no
vocabulário ou léxico: imagine um brasileiro em uma situação
corriqueira, como fazendo um pedido em um restaurante. Se
ele estiver no Pernambuco, vai pedir macaxeira cozida. Mas, se
o cenário for o sul do país, o mesmo prato terá o nome de aipim
ou mandioca. A variação pode dar-se ainda na morfologia (como
o apagamento ou não da vogal indicando infinitivo) e na sintaxe
(estrutura das frases).

Em se tratando do registro ou do nível de linguagem,


pode-se dizer que a variante linguística está condicionada ao grau
de formalidade da situação comunicativa dos falantes. Assim, há
registros ou níveis de linguagem mais e menos formais.

Ainda sobre o estudo do registro, é preciso considerar


Unidade 3

dois fatos centrais: primeiro, as variantes de registro perpassam


as demais variações. Depois, não existe uma decisão radical
entre situações formais e informais, mas sim um continuum de
formalidade, ou seja, o ajuste da linguagem e, portanto, do grau
de formalidade a cada situação de comunicação que o falante vive.

Pois bem, vale lembrar que é hora de ser tratado


o continuum de formalidade: é comum falarse em
registro formal e informal como se fossem dois
IMPORTANTE polos opostos e como se fosse possível distingui-
los. Contudo, uma reflexão mais atenta mostra
que as situações comunicativas em que os falantes
se envolvem podem exigir um grau bem variado
de formalidade. A título de ilustração, a conversa
com um colega de trabalho que você acabou de
conhecer não é tão informal quanto uma com
um colega antigo — mas é menos formal do que
uma conversa que você teria com o presidente
da empresa. Além disso, ser informal oralmente é
diferente de ser informal por escrito.

44 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
O continuum de formalidade é um aspecto fundamental
a ser abordado ao considerarmos a linguagem e suas variações.
Muitas vezes, é comum categorizar a linguagem em registro
formal e informal, como se fossem dois extremos opostos. No
entanto, uma análise mais aprofundada revela que as situações
comunicativas podem exigir diferentes graus de formalidade.

Além disso, é crucial entender que ser informal na


comunicação oral não é necessariamente o mesmo que ser
informal na comunicação escrita. As normas e convenções
linguísticas podem diferir entre esses dois modos de expressão.
Por exemplo, em um bate-papo informal, é comum usar gírias,
expressões informais e até mesmo abreviações. No entanto,
em um contexto escrito, como em um e-mail profissional ou um

Unidade 3
documento formal, espera-se um registro mais padronizado e
adequado à norma padrão da língua.

Essa reflexão sobre o continuum de formalidade


nos permite compreender que a linguagem é
flexível e se adapta às diferentes situações e
IMPORTANTE propósitos comunicativos. Ao reconhecer as
variações de formalidade e entender como elas se
aplicam oralmente e por escrito, somos capazes de
ajustar nossa linguagem de acordo com o contexto
e as expectativas comunicativas.

Mas, grosso modo, o que representa ser formal em uma


situação de comunicação? Simples, primeiro, o distanciamento
do fato comunicado, de modo a serem preservados o espaço
para o contraditório, a não denotação de qualquer envolvimento
subjetivo de quem está comunicando (raiva, ódio, contentamento
excessivo), a manutenção do foco no que está sendo discutido,
e não nas pessoas envolvidas, além de cordialidade e educação.
A título de ilustração, imagine uma situação em que você, ao

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 45
perceber uma mentira na fala de alguém, opte por dizer que ela
está “faltando com a verdade” em substituição da construção
“você está mentindo”.

É extremamente pertinente destacar que as variações


de registro formal e informal não se limitam apenas ao grau
de formalidade, mas também abrangem variações de estilo em
um sentido mais amplo. É importante considerar que o uso da
linguagem está diretamente ligado aos contextos comunicativos
específicos.

Um exemplo ilustrativo disso é o linguajar utilizado


por um médico. Ao interagir com colegas de profissão, mesmo
em situações informais, é comum que eles utilizem termos
específicos do jargão médico. No entanto, ao se comunicar de
Unidade 3

maneira formal em um contexto que não esteja relacionado à


medicina, como ao redigir uma solicitação a um órgão público, o
médico não recorreria a esse jargão especializado. Nesse caso, a
escolha do estilo de linguagem seria diferente e se adequaria às
normas convencionais e ao público-alvo específico.

Portanto, a variação de estilo linguístico não está restrita


apenas ao grau de formalidade, mas está intimamente ligada
a outros fatores da situação comunicativa, como o propósito
da comunicação, o público-alvo, o contexto e as normas
estabelecidas. Cada contexto demanda uma adaptação específica
da linguagem, levando em consideração esses elementos.

46 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Ao compreender essa relação entre a variação de
estilo e os fatores da situação comunicativa, torna-
se possível utilizar a linguagem de forma adequada
IMPORTANTE e efetiva. É necessário adaptar o registro linguístico
e o estilo de acordo com as expectativas e as
normas do contexto em que nos encontramos.
Essa habilidade é essencial para estabelecer uma
comunicação clara, precisa e adequada, garantindo
uma interação bem-sucedida e satisfatória.

Como já vimos anteriormente, de modo a contemplar


as peculiaridades da comunicação, linguistas têm se dedicado
em elaborar descrições mais flexíveis e amplas do grau de
formalidade comunicativa. Destaca-se nessa empreitada, ainda

Unidade 3
que dos anos 1960, a descrição elaborada por Bowen, que
retrata o uso da linguagem como um continuum, indo do ponto
mais formal até o mais informal e variando também conforme a
modalidade de comunicação (oral ou escrita). Veja a seguir:
Figura – Continuum dos registros ou níveis de linguagem

Mais formal

Modalidade Oratório
ex.: sermão.
Oral
Formal (deliberativo)
ex.: conferência, palesta.
Hiperformal
ex.: sentença
Coloquial
judical.
ex.: conversa entre colegas
não muito íntimos.
Formal
ex.: correspondência
oficíal.
Casual
ex.: conversa entre amigos. Semiformal
ex.: carta comercial.
Familiar
ex.: conversa
familiar privada. Informal
ex.: carta a amigo ou parente.

Modalidade
Pessoal
ex.: bilhete na geladeira. Escrita
Menos formal

Fonte: BOWEN apud TRAVAGLIA, 2002 (p. 54).

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 47
Retomando o que já foi estudado, as variações
de registro perpassam todas as outras variações,
ou seja, independentemente de qual variedade
IMPORTANTE linguística o falante domine, sempre poderá se
expressar de maneira mais ou menos formal, de
acordo com a situação comunicativa em que se
encontre.
A título de ilustração, imagine agora um lavrador
analfabeto que tenha sido convocado a comparecer
em um tribunal para dar um testemunho em
determinado caso. Mesmo sem ter jamais
frequentado a escola, o homem vai perceber que se
trata de uma situação formal e, em consequência,
vai se expressar de maneira mais cuidada, mais
monitorada que a habitual. Naturalmente ele
não conseguirá obedecer à norma culta tão bem
Unidade 3

quanto um indivíduo com escolarização completa,


mas certamente tentará escolher e combinar as
palavras da maneira que julgar ser a mais correta.
Assim, por exemplo, se está acostumado a falar
“Cheguemo”, no tribunal talvez fale “Cheguemos”
ou “Chegamo”, na tentativa de aproximar-se da
forma culta “Chegamos”. Estará, portanto, usando
uma variedade linguística popular em um registro
formal.

Em resumo, todas as variedades linguísticas têm registros


mais formais e menos formais, de modo que cada um de nós
pode falar e escrever de maneira mais descontraída ou atenta
conforme a situação comunicacional, independentemente de
sermos mais ou menos escolarizados, de morarmos nesta
ou naquela região, de sermos jovens ou velhos, homens ou
mulheres.

48 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Figura - O registro formal e informal são variações linguísticas utilizadas em diferentes
contextos sociais.

Unidade 3
Fonte: Freepik

Já sei, você deve estar se perguntando agora acerca de


uma exposição oral ou da língua falada, propriamente dita, não é
mesmo?! Então, vamos lá! Uma característica marcante da exposição
oral é a bipolaridade estabelecida entre os participantes — embora
reunidos em uma espécie de “conversa”, o expositor (ou o grupo de
expositores) e a audiência não ocupam posições equivalentes.

O primeiro representa um “especialista” no tema


abordado, alguém que detém uma grande quantidade de
conhecimentos sobre ele. Os componentes da plateia, por sua
vez, são um pouco mais difíceis de caracterizar. Eles podem
até dominar o tema tão bem quanto o expositor, mas talvez
estejam interessados em conhecer o ponto de vista dele ou
alguns detalhes inéditos. Porém, na maioria das vezes a plateia
é formada por “leigos”, isto é, pessoas que possuem um nível de
conhecimento do tema bem inferior ao do expositor.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 49
Na exposição oral ou na língua falada, é comum estabelecer
uma dinâmica bipolar entre os participantes envolvidos. Embora
estejam reunidos em uma espécie de “conversa”, o expositor
(ou grupo de expositores) e a audiência não ocupam posições
equivalentes.

O expositor é frequentemente visto como um “especialista”


no tema abordado, alguém que detém uma quantidade
significativa de conhecimento sobre o assunto. É esperado que o
expositor tenha uma compreensão mais aprofundada do tema e
seja capaz de transmitir informações relevantes e detalhadas aos
ouvintes. Sua função principal é informar, persuadir ou entreter
a audiência, utilizando seu domínio do assunto para transmitir
uma mensagem clara e coerente.
Unidade 3

Por outro lado, os componentes da plateia podem ter


diferentes características e motivações. Alguns membros da
audiência podem ter conhecimento igual ou até mesmo superior
ao expositor, mas estão interessados em conhecer o ponto de
vista dele ou em obter detalhes adicionais sobre o tema. No
entanto, na maioria das vezes, a plateia é formada por “leigos”,
ou seja, pessoas que possuem um nível de conhecimento sobre
o assunto inferior ao do expositor.

A plateia, geralmente, busca adquirir informações,


esclarecer dúvidas ou familiarizar-se com um
tópico específico por meio da exposição oral. Nesse
VOCÊ SABIA? contexto, é esperado que os ouvintes estejam
abertos a aprender e absorver os conhecimentos
compartilhados pelo expositor.

É importante ressaltar que essa dinâmica bipolar entre


o expositor e a plateia não significa que a contribuição da
audiência seja menos valiosa. Embora a expertise do expositor
seja reconhecida, a interação e a participação ativa da plateia

50 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
podem enriquecer a experiência de exposição oral, permitindo
perguntas, comentários e a troca de ideias.

Portanto, na exposição oral, é comum estabelecer uma


polaridade entre o expositor e a audiência, com o expositor
sendo visto como um especialista no tema e a plateia variando
em termos de conhecimento e interesses. Essa dinâmica visa
fornecer informações e criar um ambiente propício para a troca
de conhecimentos e experiências entre ambas as partes.

Professor, mas e se a circunstância de comunicação for um


debate, vale ainda a bipolaridade da exposição? Vamos lá, que eu
te explico! Um debate nada mais é que um evento comunicativo
em que existem no mínimo três polos: dois deles ocupados

Unidade 3
por indivíduos — os debatedores — que defendem pontos de
vista conflitantes sobre o tema, enquanto o último é ocupado
pela plateia. A plateia, em geral, ocupa uma posição inferior à
dos debatedores, ou porque não conhece o tema o suficiente,
ou porque não tem autoridade para expor sua opinião ou tomar
decisões. Os debatedores, porém, estão em pé de igualdade:
pelo menos em tese, todos têm a mesma autoridade para opinar
e decidir. Observe agora a figura a seguir, que acredito elucidar
muito bem essa questão:
Figura – Diferenças entre exposição oral e debate

Exposição oral Debate


Dois polos em posição Três polos, dois deles em
assimétrica pé de igualdade

Expositor Debatedor A Debatedor B


Plateia
Plateia

Fonte: GUIMARÃES apud TRAVAGLIA, 2002 (p. 227).

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 51
Uma outra prova dessa diferenciação é o tempo reservado
para os atores em cada evento comunicativo. Em uma exposição
oral, o palestrante ou enunciador geralmente fala muito mais do
que a plateia. Apenas no final abrese um espaço para que os
espectadores façam perguntas ou comentários. Já no debate, um
dos princípios é justamente conceder a todos os debatedores o
mesmo tempo de fala. A plateia do debate pode manifestarse,
mas, assim como ocorre na exposição, o espaço reservado a ela
é bem restrito.

Na exposição oral, é comum que o palestrante ou


enunciador ocupem a maior parte do tempo de
fala. Geralmente, a plateia é mais passiva, ouvindo
IMPORTANTE atentamente enquanto o palestrante apresenta
suas informações ou argumentos. Normalmente,
apenas no final da exposição é aberto um espaço
Unidade 3

para que os espectadores façam perguntas ou


comentários, mas esse tempo reservado para a
interação com a plateia é limitado.

Por outro lado, no debate, um dos princípios


fundamentais é a concessão igualitária de tempo de fala para
todos os debatedores. É esperado que cada participante tenha
a oportunidade de apresentar seus argumentos e refutar
as posições adversárias dentro de um tempo estabelecido
previamente. Essa igualdade de tempo de fala permite que
todas as perspectivas sejam consideradas e debatidas de forma
equitativa.

Embora a plateia em um debate possa se manifestar, a


participação dela geralmente é mais restrita quando comparada
à exposição oral. A plateia pode fazer perguntas ou comentários,
mas a interação com os debatedores é guiada e moderada
de forma a manter o foco no confronto e na discussão dos
argumentos apresentados pelos participantes principais.

52 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Essa diferenciação no tempo de fala entre a exposição
oral e o debate reflete a natureza mais unidirecional da
exposição, em que o palestrante domina a comunicação, e a
natureza mais interativa do debate, em que há uma distribuição
mais equilibrada do tempo de fala entre os participantes.

Professor, mas se a situação de comunicação for um


diálogo formal, uma entrevista de emprego, por exemplo?
Bem, vamos lá. Primeiro, chegue com antecedência ao local do
encontro, evite gírias e expressões coloquiais, tome cuidado
com cacoetes gestuais ou linguísticos, obedeça à norma padrão,
mantenha uma postura relaxada e natural (lembre-se: seu corpo
fala). Em relação à apresentação pessoal, todo cuidado é pouco —
salvo em situações excepcionais (como uma empresa conhecida

Unidade 3
pelo ambiente descontraído), a roupa deve ser formal, discreta
e em tons neutros. Deve ser evitado todo tipo de excesso, seja
no perfume, na maquiagem ou nas joias. Além disso, como você
manterá contato próximo com o entrevistador, é fundamental
estar atento ao asseio, inclusive da barba, das unhas e do cabelo.

Quanto à preparação para a entrevista, cabe a você, como


candidato, cumprir basicamente com duas “lições de casa”:

• Aprenda sobre a empresa: entre no site da companhia e


estude os tipos de produtos ou serviços que ela oferece,
sua história, missão, valores, estrutura, quantas
filiais possui, quais programas sociais ou ecológicos
desenvolve. Enfim, tente descobrir o máximo que puder
sobre a empresa. Na hora da entrevista, você deve
demonstrar estar bem informado sobre a organização,
o que denotará não apenas afinidade com ela, mas que
você tem duas das qualidades que os selecionadores
valorizam muito: interesse e iniciativa.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 53
• Estude sua própria trajetória acadêmica e profissional:
o mínimo que se espera de um candidato é que ele seja
capaz de recontar a própria vida de maneira coerente.
Esteja preparado para explicar por que optou por sua
carreira e, também, por que deixou seu último emprego
ou pretende deixar o atual. Se foi demitido, seja franco
a respeito, sem se fazer de vítima nem dar importância
exagerada ao fato.

A seguir, você encontrará um quadro que preparei para


você, a partir do que dizem os especialistas em como você deve
se comportar durante uma entrevista de emprego:

• Mantenha o celular desligado.


• Cumprimente o entrevistador com um aperto de mão firme. Seja
Unidade 3

simpático, mas não force um excesso de intimidade.


• Não dê respostas do tipo “sim” ou “não”. Mostre que você consegue
articular as ideias, porém sem se estender demais.
• Ouça com atenção as perguntas do entrevistador e jamais o interrompa.
• Se você não tiver nenhuma experiência profissional, enfatize os
pontos positivos de sua formação. Destaque cursos extracurriculares,
participação em eventos, qualquer tipo de vivência que tenha lhe trazido
amadurecimento pessoal e profissional.
• Se o entrevistador fizer uma pergunta do tipo “qual é seu maior defeito?”,
evite clichês, como o “perfeccionismo”. Seja objetivo no reconhecimento
do problema e mencione que medidas você está tomando ou pretende
tomar para resolvê-lo. Por exemplo: se seu inglês é fraco, cite isso como
um defeito, mas indique que vai se matricular em um bom curso.
• Esteja preparado para informar sua pretensão salarial. Jamais a justifique
com base em necessidades pessoais (por exemplo, “preciso ganhar X para
poder pagar o aluguel e a faculdade”), e sim na média do mercado.
• Jamais fale mal de ex-empregadores ou ex-colegas.
• No final da entrevista, mostre interesse e disponibilidade para participar
das outras etapas do processo seletivo.

Fonte: GUIMARÃES apud CALDEIRA, s/d; GALLO, 2009 (p. 239).

54 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Bem, em síntese, podemos dizer que:

A principal diferença entre a exposição oral e o debate


reside no formato e no objetivo de cada um. A exposição oral
envolve a apresentação de informações ou argumentos de
maneira unilateral, em que um indivíduo ou grupo expõe seu
ponto de vista sem a participação direta ou contraditória dos
ouvintes. Geralmente, a exposição oral é mais estruturada e
organizada, com o objetivo de informar, persuadir ou entreter
o público.

Por outro lado, o debate é uma forma de comunicação


interativa em que duas ou mais pessoas apresentam e defendem
pontos de vista opostos sobre um tópico específico. O debate

Unidade 3
é caracterizado pela discussão e confronto direto de ideias,
permitindo a troca de argumentos, refutações e réplicas entre
os participantes. O objetivo do debate é avaliar diferentes
perspectivas e alcançar uma conclusão baseada em argumentos
lógicos e convincentes.

Na exposição oral, o foco está principalmente na


transmissão de informações e no controle da mensagem pelo
expositor. O expositor tem o papel principal e detém o tempo
e a atenção do público para apresentar seus pontos de vista
de forma coerente e persuasiva. O público, por sua vez, é mais
passivo, absorvendo a informação apresentada.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 55
Já no debate, o foco está na discussão dinâmica e
na confrontação de ideias. Os participantes têm a
oportunidade de expor seus argumentos, refutar
IMPORTANTE as posições adversárias e defender suas próprias
perspectivas. O público também desempenha um
papel ativo, observando o debate e avaliando os
argumentos apresentados para formar sua própria
opinião. Uma exposição oral é desenvolvida em sete
etapas: abertura, introdução, desenvolvimento,
recapitulação e síntese, conclusão, participação do
público (opcional) e encerramento.

Quem vai participar de um debate deve: estar atento ao


tempo (em geral curto) que terá para se manifestar, preparar
um resumo para uso próprio, prever os contra-argumentos dos
Unidade 3

oponentes, pensar em como refutá-los e, ainda, ensaiar táticas


para apresentar seus argumentos e contraargumentos.

Antes de uma entrevista de emprego, o candidato deve


fazer duas “lições de casa”: estudar em detalhes a empresa
que oferece a vaga; avaliar a própria trajetória profissional e
acadêmica, preparando-se para responder a qualquer sobre elas.

56 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você deve ter aprendido que o estudo do contínuo
na fala e na escrita da língua é essencial para
compreender as relações entre norma e variação
linguística.
Ao longo deste capítulo, exploramos como a
língua apresenta uma diversidade de formas e
estilos linguísticos, que variam desde a linguagem
coloquial e informal até a linguagem mais formal
e padronizada. Compreendemos que a norma
linguística estabelece as regras e convenções
consideradas “corretas” ou “padrão”, enquanto

Unidade 3
a variação linguística reflete a diversidade de
identidades, experiências e contextos sociais dos
falantes. Aprendemos a valorizar a importância
da norma padrão em determinados contextos,
como na comunicação formal ou escrita, ao
mesmo tempo em que reconhecemos a validade
e a riqueza das variações linguísticas presentes na
fala cotidiana e em diferentes regiões. Também
entendemos que a variação linguística não implica
em erro ou incorreção, mas sim em diferentes
formas de expressar-se que são válidas dentro
de seus contextos específicos. A valorização
da diversidade linguística nos permite ter uma
visão mais inclusiva e respeitosa da linguagem,
promovendo a compreensão e a valorização das
diferentes formas de comunicação. Portanto, ao
compreender o contínuo na fala e na escrita da
língua, ganhamos uma competência linguística
mais abrangente, capaz de adaptarmo-nos às
diferentes situações comunicativas.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 57
Aprendemos a utilizar a linguagem de forma eficaz,
respeitando a norma padrão quando necessário,
mas também apreciando e valorizando as variações
linguísticas que enriquecem nossa comunicação
e refletem a diversidade da nossa sociedade.
Esperamos que este capítulo tenha ampliado sua
compreensão sobre o tema e o incentivado a
explorar ainda mais a complexidade e a riqueza da
língua em suas diferentes manifestações. Agora,
é hora de aplicar esse conhecimento em suas
práticas comunicativas e continuar a desenvolver
sua competência linguística. Parabéns pelo
progresso e avante na jornada do conhecimento
linguístico!
Unidade 3

58 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Tecnologias da Informação na
comunicação
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender como funcionam as Tecnologias da
Informação na comunicação. Esse conhecimento
OBJETIVO será fundamental para o exercício de sua profissão,
independentemente da área em que você atua.
Então, pronto para adquirir esse conhecimento
e avançar na utilização das Tecnologias da
Informação na comunicação? Vamos lá, juntos,
explorar esse fascinante universo digital e
desenvolver competências que serão essenciais
para o seu sucesso profissional. Avante!

Unidade 3
Presencia-se, no momento, uma importante discussão
acerca de um novo projeto democrático, estabelecido por
uma sociedade em rede. Esta, por sua vez, estruturada por
assembleias, que são destituídas das tradicionais lideranças
institucionais, caracterizadas pelo descentramento e originárias
dos ditos movimentos de indignação. O combustível desse
projeto, conforme Castells (2013): a sensação de empoderamento,
nascida do desprezo por governos e pela classe política, sendo
essa sensação estimulada pela indignação provocada pela
cumplicidade percebida entre as elites financeira e política
e desencadeada pela sublevação emocional resultante de
algum evento insuportável. Forma de viabilizá-lo? Por meio de
movimentos sociais, verdadeiros atores de superação do medo,
mediante a proximidade construída nas redes do ciberespaço e
nas comunidades do espaço urbano.

Assim, passamos de um mundo, inegavelmente, em que


as interações eram concebidas como sendo sempre lineares
— aquelas onde as causas pequenas geravam consequências

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 59
pequenas e as causas grandes geravam consequências grandes
— para o mundo de interações não lineares. Interações essas
que se caracterizam basicamente pelo fato de não ser possível
prever o resultado de um fenômeno apenas tendo como base
a causa a que este é submetido, como outrora se imaginou.
Essa potencialização desencadeia interações comunicacionais
por meio de encadeamentos, multiplicidades, singularidades,
incertezas, desordem e hipertextualidade.
Figura - No mundo de interações não lineares, a multiplicidade de conexões é constante e a
hiperconectividade ampliam a complexidade das relações entre os elementos.
Unidade 3

Fonte: Freepik

Há que se considerar, conforme bem define Castells (2013),


que esses movimentos online são, além de autorreflexivos, virais
e discutem qualquer coisa, e qualquer mensagem que tenha
receptividade se torna exponencial. Enfim, se considerarmos que
vivemos os efeitos da explosão da terceira bomba do século XX,
como Albert Einstein nos anunciou na década de 1950, “a bomba
das telecomunicações”, movimentos sociais desencadeados
online são legítimos merecedores de estudos e análises, pois já

60 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
têm internalizada essa mudança, sendo a AnonymusBr4sil um
exemplo da vivência dessa transformação no Brasil.

Consequências: o ciberespaço e as interações nele


estabelecidas provocam impactos significativos no modo
de pensar-se as categorias: sociedade e conhecimento. Por
conseguinte, revigoram, no campo social, utopias, que animam
as mentes das pessoas, e a educação precisa debruçar-se sobre
toda essa produção de conhecimento, sendo a AnonymousBr4sil
um canal de “Móbil-izados”.

Assim, o objetivo desta parte da unidade é estudar


a mediação do não humano AnonymousBr4sil como parte
constitutiva do humano, cuja hibridização a modernidade

Unidade 3
tentou nos fazer esquecer. E, ainda, insistiu na separação e na
purificação desses híbridos — sujeitos e objetos — ou saltando
da estrutura para a interação individual, sem dar atenção às
mediações, às redes que se formam antes de ir de um ponto a
outro. Pretende-se, amparado na Teoria Ator-Rede (TAR), Lemos
(2013), demonstrar, na AnonymousBr4sil, a Educação como ação
que se dá na troca entre consciências, de modo a derrubar o
dogma sujeito de um lado e mídias de outro, mergulhando na
impureza da mediação e contaminando a relação com o mundo,
que ainda é entendida como não mediada, demonstrando que a
educação não é assunto apenas de humanos, mas também de
seus inertes e desviantes ou impuros objetos.

A revolução contemporânea
em matéria de comunicação e
conhecimento
A sociedade urbana mundial explora, progressivamente,
um terceiro estado: o estado “móvel”. Essa nova condição

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 61
multiplica os contatos, contribui para o reencontro e a reconexão
da humanidade consigo mesma. Por conseguinte, o crescimento
demográfico não leva mais à separação e ao afastamento como
outrora, no tempo dos caçadores-coletores, mas, ao contrário,
conduz à intensificação dos contatos em escala planetária.

O social deixa, assim, de ser para tornar-se evento,


acontecimento comunicativo, único e assistêmico. A esfera
comunicativa, nesta perspectiva, não pode ser mais pensada
apenas como mídia, isto é, como um conjunto de meio e
instrumentos de repasse de fluxos de informações. A comunicação
deixa também de ser o elo de junção entre os atores para tornar-
se forma constituidora. (LEMOS, 2013, p. 14-15).

Assiste-se a um momento de redução considerável


Unidade 3

da influência do poder público sobre a sociedade. Uma das


causas possíveis? A ascensão dos modos de comunicação
descentralizados (telefone, microcomputadores, i-pads, tablets,
impressoras, smart-phones, televisão por satélites etc.),
tornandose mais difícil o controle destes pelo poder político.
Lemos (2013, p. 23) lembra que “na expressão ‘ator-rede’, “o ator
não é o indivíduo e a rede não é a sociedade”. O ator é rede e a
rede é um ator, ambos são mediadores de uma associação”.

Isso justifica porque as pessoas conectadas à internet, na


China, são objeto de inquietude paranoica do poder. Até mesmo
as equipes de Gorbatchev reconheceram o desenvolvimento
das interconexões — internas ou com o exterior, como uma
condição sine qua non do progresso técnico, econômico e social:
abertura, transparência, glasnot. Logo, essa interconexão, base
concreta dos processos de inteligência coletiva que engendram a
prosperidade econômica e social na sociedade contemporânea,
se choca frontalmente com o sistema burocrático em vigor.

62 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
EXEMPLOS: praça Tahrir, no Cairo, 25 de janeiro de 2011,
“A Tunísia é a solução”, uma revolução da liberdade e da
dignidade; os indignados da Espanha, maio de 2011, que
ao começarem a acampar nas principais praças da cidade
em todo o país, proclamam “a Islândia é a solução!”; os
nova-iorquinos, 17 de setembro de 2011, ao ocuparem os
espaços públicos em torno do Wall Street nomeiam seu
primeiro acampamento de praça Tahrir, e, só pra constar,
o mesmo ocorre com os ocupantes da praça Catalunya,
em Barcelona; no Brasil, junho de 2013, “Não é por 20
centavos. É por Direitos” e “Desculpe o transtorno. Estamos
mudando o Brasil”.

Em se tratando das relações de poder, no entanto, o

Unidade 3
tipo de poder favorecido pela extensão do ciberespaço não é o
poder hierárquico, burocrático ou territorial à antiga. Trata-se
de um poder nascido na capacidade de aprender e de trabalhar
de maneira cooperativa, relacionado ao grau de confiança e de
reconhecimento recíprocos, reinantes em um contexto social.
Ainda segundo Lemos (2013, p. 15):
Excluindo o elemento formante e agregador
dos fluxos informativos, a representação
sociológica do social conseguiu narrar
apenas uma parte da complexidade do
conjunto de relações, perdendo, assim, o
dinamismo ecológico das agregações e não
conseguindo avançar na direção de uma
teoria ecossistêmica do ato que reunisse os
diversos atores humanos e não, envolvidos no
agir.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 63
Há ainda que se destacar o fato de o ciberespaço encarnar
um original dispositivo de comunicação, que bem o distingue
das outras formas de comunicação de suporte técnico. “O
Ciberespaço possibilita transbordamentos e reformatações do
espaço de significações, numa produção que acelera os tempos
das notícias e pluraliza sua topologia” (PORTO; BORTOLIERO,
2012, p. 15). Enquanto a imprensa, a edição, o rádio e a televisão
funcionam segundo um esquema em estrela, ou “um para
todos”, onde um centro emissor envia mensagens na direção
de receptores passivos e, sobretudo, isolados uns dos outros, o
ciberespaço permite reciprocidade e interação.

Enquanto os dispositivos de mídia anteriores ao


ciberespaço criam comunidades, “público”, afinal, um grande
número de pessoas recebe as mesmas mensagens e as partilha,
Unidade 3

em consequência, pactua um contexto, o ciberespaço apresenta


a arquitetura do “todos para todos”, um esquema de rede,
o qual não cria público, pois a partilha de um contexto em
grande escala é muito difícil, mas permite que o contexto seja
imposto pelos centros emissores. Trata-se da liberação do polo
e da autopublicação, como bem define Lemos (2013, p. 23,):
“Na expressão ‘ator-rede’, o ator não é o indivíduo e a rede não
é a sociedade. O ator é rede e a rede é um ator, ambos são
mediadores de uma associação”.

O ciberespaço abriga milhares de grupos de discussão


(ou ews groups). O conjunto desses fóruns eletrônicos constitui a
paisagem movediça das competências e das paixões, permitindo
assim atingir outras pessoas, não com base no nome, no endereço
geográfico ou na filiação institucional, mas segundo um mapa
semântico ou subjetivo dos centros de interesse. Na verdade,
o endereçamento por centro de interesse e a comunicação

64 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
“todostodos” são condições favoráveis ao desenvolvimento de
processos de inteligência coletiva.

Há que se considerar que até agora o espaço público de


comunicação era controlado por intermediários institucionais
que preenchiam uma função de filtragem e de difusão entre
os autores e os consumidores de informação. O ciberespaço
provoca essa “desintermediação”, cujas implicações políticas e
culturais não são findas de avaliação, chegando-se ao que Lemos
(2013, p. 25) define como teoria ator rede (TAR):
A TAR é interessante, pois busca identificar
justamente as associações entre atores,
vistos como mediadores ou intermediário,
destacando as redes que se formam com a

Unidade 3
circulação da ação entre eles, entendendo
as estabilizações, ou caixas-pretas que se
forma como algo momentâneo. Ela abandona
o pensar em macroestruturas já que essas
só aparecem, se aparecerem, a posteriori.
Essência estrutura não são aqui explicações
casuais.

Tal fato levanta imediatamente questões relativas à


pertinência e à garantia de autenticidade das informações.
Deplora-se, por vezes, que qualquer um, podendo publicar o
que bem entender não há mais, no ciberespaço, garantia quanto
à qualidade da informação. Para responder a esse argumento,
devese observar, em princípio, que na Internet a quase totalidade
dos documentos é “assinada”, podendo-se, geralmente,
identificar com facilidade o grupo de imprensa, a universidade ou
a empresa que coloca uma informação à disposição do público.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 65
Figura - Na era da internet, a busca pela autenticidade das informações se torna essencial
para evitar a propagação de fake news e garantir a confiabilidade dos conteúdos online.

Fonte: Freepik
Unidade 3

E mais, numa boa lógica comunicacional, quanto mais há


concentração ou monopólio dos meios de informação, mais há
risco que se estabeleça uma verdade oficial “às ordens”.

Para Lemos (2013, p. 35-36):


Rede é o movimento da associação, do social
em formação. [...] O ator é rede, a associação
é rede e a inscrição atravessa as categorias
posicionadas no micro ou no macro. A rede
não é conexão, mas composição. [...] Mais do
que explicar os fenômenos, tendo como causa
a sociedade ou o social, o social será aquilo
que emerge das associações, das redes.

Vale observar que o imenso hiperdocumento planetário


da Web integrará progressivamente a totalidade das obras do
espírito. Se a isso se acrescer o correio eletrônico e os grupos
de discussão, a interconexão mundial dos computadores estará
tomando sentido sob os olhos do globo: ela materializa (de

66 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
forma parcial, mas significativa) o contexto vivo, mutante, em
inflação contínua da comunicação humana. Vale dizer da cultura,
da produção do conhecimento.

Observe-se esse processo quase embriogênico: a aparição


de um hiperdocumento produzido e lido virtualmente por todos,
a emergência de um metatexto que contém potencialmente
todas as mensagens e as entrelaça. Esse objeto muito estranho
que aparece no horizonte antropológico manifesta a mensagem
plural e não totalizável que a humanidade envia para si mesma,
o banho semântico que ela secreta e que a alimenta. Uma
mensagem, uma obra, não passa de uma interface entre seres
humanos, um modo objetivo de pôr subjetividades em relação.
Ora, o ciberespaço opera, pela primeira vez na escala da espécie,

Unidade 3
e num modo imanente, uma mediação potencial entre o conjunto
das subjetividades.

Considere-se também que o Estado, as religiões, a


mídia, outras formas culturais, sociais, até mesmo econômicas,
pretenderam representar coletivos humanos, dar-lhes uma
forma. Mas todas essas tentativas de representação são parciais
e redutoras. Surpreende que a internet seja irrepresentável e
que o ciberespaço seja oceânico e sem forma. Talvez seja assim
porque encarnam a primeira materialização não redutora da
cultura, ou seja, do contexto ou do hipercontexto mediador. Logo,
torna-se visível hoje que a totalidade dinâmica da sociedade é
irrepresentável. Ora, só há virtualmente uma sociedade. Pode-
se agora indicar que a relação da humanidade consigo mesma
é intotalizável, ainda mais que ela é efetiva e, precisamente,
porque está sendo tecida. Para Lemos (2013, p. 53-54):

• A rede é o próprio movimento associativo que forma


o social. Ela é circulação, a inscrição de influências e
actantes sobre actantes, tradução, mediação até a

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 67
sua estabilização como caixa-preta. A rede constitui o
espaço e o tempo na mobilidade das traduções e na
fixação de estabilizações e pontuações.

Dessa maneira, observa-se que a rede é bem mais


complexa do que tem sido discutido e se observa que, na cultura
contemporânea, mediadores não humanos, objetos inteligentes,
computadores, servidores, software, redes, smartphones, tabletes
etc. Ajudam o humano a fazer muitas coisas, provocando
mudanças em no comportamento cotidiano.

As comunidades virtuais e os
movimentos sociais
No mundo contemporâneo, a noção de comunidade vem
Unidade 3

sendo ressignificada, ainda que classicamente todas as suas


concepções destaquem as relações de proximidade de território,
de vizinhança e o sentimento de pertencimento a um determinado
grupo. Em consonância com os estudos desenvolvidos por
Lemos (2013), evoluímos do tempo penso, logo existo, para o
me associo, logo existo. Para o autor, a associação é a raiz da
sociedade. Somos o que se forma nas associações. Assim, fica o
questionamento sobre que tipo de associações podemos usar
para a circulação e produção do conhecimento?

Nos pressupostos de Castells (2013), as comunidades


virtuais são organizadas em torno de um interesse ou finalidade
compartilhados, embora, algumas vezes, a própria comunicação
se transforme em objetivo, estendendo-se como uma rede
eletrônica de comunicação interativa autodefinida. Desse
modo, diferencia-se as comunidades virtuais de outros grupos
de discussão, pela qualidade dos laços de mantidos entre os
participantes.

68 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Chega-se, então, a um importante ponto: é desses grupos
de discussão que surgem os movimentos sociais, espontâneos,
em sua origem, desencadeados por uma centelha de indignação,
seja por aversão a ações de governantes, ou ainda a um evento
específico. Como bem destaca Castells (2013), tratase de
movimentos sem liderança, não pela falta de líderes em potencial,
mas pela profunda e espontânea desconfiança da maioria dos
participantes do movimento em relação a qualquer forma de
delegação de poder e pela proposição de horizontalidade e
da autonomia. Para Castells (2013, p. 163), “a horizontalidade
das redes favorece a cooperação e a solidariedade, ao mesmo
tempo em que reduz a necessidade de liderança formal”. E mais
(CASTELLS, 2013, p. 165):

Unidade 3
São muito políticos num sentido fundamental.
Particularmente, quando propõem e praticam
a democracia deliberativa direta, baseada
na democracia em rede. Projetam uma nova
utopia de democracia em rede baseada em
comunidades locais e virtuais em interação.
[...] O que esses movimentos sociais em rede
estão propondo em sua prática é uma nova
utopia no cerne da cultura da sociedade em
rede: a utopia da autonomia do sujeito em
relação às instituições da sociedade.

Saímos da cultura de massa para a cibercultura pós-


massiva, em que a autopublicação assume um papel de relevância
e toma conta da cena. Essa liberdade e a descentralização do
sujeito do discurso utilizam interfaces que criaram um espaço
informativo, em que as informações circulam de forma livre
diariamente, por meio das redes sociais da internet RSIs.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 69
Esse cenário fica claro quando do reporte a junho de
2013 no Brasil. Nos noticiários, a categorização do perfil dos
manifestantes: com a manchete “Veja relatos de participantes de
protesto em SP”, o portal de notícias G1.com noticiou em 14 de
junho de 2013, de São Paulo, às 20h10 — “Multidão no ato de
quinta é diversa e não representa um só grupo. G1 conversou
com dezenas de manifestantes”. Vale aqui ressaltar que o dia 13
de junho foi o marco zero do movimento na capital paulistana.
Dentre os perfis apresentados, a que o G1 nomeia de “as
várias ‘caras’ do protesto em SP”, estudantes da rede pública e
privada (ensino médio, pré-vestibular, superior, pós-graduação),
presidente da União Municipal de Estudantes Secundaristas
(Umes) em São Paulo, integrantes de ONGs, jornalista, atendente
de telemarketing, auxiliar de enfermagem, advogado, poeta,
Unidade 3

anarco-punk, torcedores de futebol, executivo, militante político


e pós-doutorada em Psicologia. E mais, segundo o Datafolha
(2013), 85% não têm partido político de preferência, 77% possuem
nível superior, 22% são estudantes, 53% têm menos de 25 anos e
71% participaram pela primeira vez de protestos.

Ainda segundo Pierre Lévy (1999, p. 130), a criação de


uma comunidade no ciberespaço “[...] não é irreal, imaginária ou
ilusória, trata-se simplesmente de um coletivo mais ou menos
permanente que se organiza por meio do novo correio eletrônico
mundial”.

Sobre o combustível do movimento no Brasil? As redes


sociais. Formaram-se comunidades virtuais das quais resultou a
classificada pelos veículos de comunicação de massa “onda de
protestos que se alastrou pelo País”. Com hashtags “#acordabrasil,
#Anonymous, #AnonymousBrasil, #BrasilAcordou, #ChangeBrazil,
#ManifestationsCup, #MudaBrasil, #OGiganteAcordou,

70 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
#OGiganteFoiPraRua, #SemViolência, #Vdevinagre, #VemPraRua”,
saiu-se, como bem enunciou um dos cartazes presentes no
movimento fotografados pela imprensa e manifestantes, das
redes sociais para as ruas – “Saímos do Facebook”. Esse cartaz,
a propósito, foi parte de uma matéria postada na fanpage
MelhorQueBacon, por Samir Duarte, manifestante, em 19 de
junho de 2013, às 14h, que trazia por título “24 Momentos dos
protestos em São Paulo que você não verá na TV”. A referida
página conseguiu, nessa publicação, em poucas horas, 14.155
curtidas e teve 18.795 pessoas falando a respeito dela.

As comunidades virtuais apoiam-se na interconexão


e são as essências organizacionais de redes e articulações no
ciberespaço. Como toda comunidade, as virtualmente constituídas

Unidade 3
precisam de acordos para a convivência e procedimentos sociais.
Como nas relações presenciais, as formadas nas comunidades
virtuais também precisam de determinados padrões normativos,
visando à organicidade do seu funcionamento. Isso faz com que
as pessoas otimizem seu tempo no estabelecimento de contatos
e interações de todos os tipos, de modo que esses pactos
normativos sejam efetivados.

Retomado o quadro Brasil de protestos, de São Paulo,


Rio de Janeiro, Brasília, Nova York, noticiou a Folha de S. Paulo
online em 18 de junho de 2013, às 4h: “Manifestações atingem
12 capitais e têm cenas de violência”. No corpo da matéria,
destacava-se que os protestos pelo Brasil atingiam 12 capitais,
reuniam mais de 215 mil pessoas, tendo-se cenas de violência
em sete delas: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Brasília,
Porto Alegre, Maceió e Curitiba.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 71
Ganhava destaque também o fato de o evento
ter reunido a maior quantidade de manifestantes
desde a mobilização dos “caras-pintadas” pelo
VOCÊ SABIA? impeachment do presidente Fernando Collor de
Mello, em 1992, com a ressalva de que, embora
tenha havido atos que concentraram mais
gente desde então pelo país, esses atos não
tiveram caráter de protesto. Dentre as bandeiras
dos manifestantes, o jornal noticiava (2013):
“As manifestações de ontem (17) carregaram
diversas bandeiras além de questionar as tarifas
do transporte coletivo — da ética na política a
investimentos em saúde e contra gastos da Copa
de 2014”.
Unidade 3

Também no dia 18 de junho de 2013, o mesmo jornal


Folha de S. Paulo, porém em edição impressa, trazia como
manchete de capa: “Milhares vão às ruas ‘contra tudo’; grupos
atingem palácios”. No subtítulo, “*Manifestação é a maior do
país desde o ‘Fora, Collor’ (1992) *Em São Paulo, mais de 65 mil
pessoas protestam, diz DataFolha *Congresso e sede do governo
paulista sofrem tentativa de invasão”.

No dia 19 de junho de 2013, à frente de uma foto que


remontava a destruição e a violência em São Paulo, a Revista
Veja, edição 2.326, ano 46, nº 25, tinha como capa: “CONTRA O
AUMENTO/A revolta dos jovens/Depois do preço das passagens,
a vez da corrupção e da criminalidade”.

Assim, na visão de Couto e Fonseca (2005, p. 53),


o desenvolvimento das comunidades
virtuais pressupõe o estabelecimento de
interconexões, sendo as redes colaborativas

72 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
fenômenos dinâmicos de uma sociedade
em busca de novas formas de expressão e
organização.

À vista disso, torna-se o ciberespaço propício ao


desenvolvimento criativo de possibilidades, pois nele as
questões sobre a realidade que se busca estabelecer são viáveis
a partir de condições que devem ser fixadas com a articulação
de redes de cooperação, por sua vez capazes de gerar ações e
resultados sociais. Portanto, as proposições de um ciberespaço
e a criação de comunidades virtuais são respostas aos limites
organizacionais de uma dada realidade.

Para Castells (2013), os movimentos sociais são os atores


de uma mudança histórica. Há que se destacar o fio comum que

Unidade 3
os une, na mente das pessoas, suas experiências de revolta, a
despeito de contextos amplamente diversos em termos culturais,
econômicos e instituições: a sensação de empoderamento. Esta
nasce do desprezo por seus governos e pela classe política,
sendo estimulada pela indignação provocada pela cumplicidade
percebida entre as elites financeira e política e desencadeada
pela sublevação emocional resultante de algum evento
insuportável. Como se torna possível? Pela superação do medo,
mediante a proximidade construída nas redes do ciberespaço e
nas comunidades do espaço urbano.

Nesses pressupostos, torna-se evidente a presença


do estabelecimento virtual na constituição das comunidades
virtuais, que por sua vez se caracterizam por quatro aspectos:

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 73
Quadro – Aspectos das comunidades virtuais.

Relação de interatividade entre os participantes.

Vários participantes comunicadores efetivando a


interatividade.

O espaço público para os membros da comunidade


interagirem via troca de mensagens individuais e ou
coletivas.
Unidade 3

Alto grau de associação fixada por um quantitativo


perene de associados para efetivar a comunicação.

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

A propósito da interatividade, Primo e Cassol (apud


COUTO; FONSECA, 2005) estipulam que ela ocorre quando duas
ou mais pessoas realizam, simultaneamente, um determinado
trabalho, com os mesmos objetivos, no qual cada um espera
que o outro participante acabe sua participação para depois se
expressar. Nessa relação, cada participante propicia aos demais
membros a efetiva troca. Segundo os autores, aliás, para que haja
um sistema interativo, fazem-se necessárias três características:

I. Interruptabilidade, pela possibilidade de um membro


do grupo interromper o processo e expressar-se
quando desejar.

74 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
II. Granularidade, em que se atribui a menor expressão
realizada pelo participante, podendo ser um gesto ou
um murmúrio.

III. Degradação graciosa, que ocorre quando não se tem


a resposta imediata à pergunta formulada.

Desse modo, é difícil ter sempre as respostas necessárias


e não se deve forçar determinados padrões para as trocas,
especialmente entre pessoas, apesar de mediadas por
computadores.

Portanto, inegável torna-se admitir que as comunidades


virtuais presentes na internet produzem alterações nas formas de
relacionamento, comunicação e conhecimento. Tal constatação

Unidade 3
permite inferir que a utilização da rede pelos internautas parte
de um conhecimento anterior, e esses sujeitos buscam outras
informações significativas, ou então vão obter conhecimentos
através de novas informações, que se relacionam com aspectos
relevantes da estrutura de conhecimento de cada pessoa.

Brasil, junho de 2013


É importante destacar, que o epicentro das
manifestações das comunidades virtuais no Brasil: a fanpage
AnonymousBr4sil. Além da cobertura total dos protestos nacional
e internacionalmente, a página informou cidade a cidade do país
acerca das passeatas — texto postado em 15 de junho de 2013:
“BRASIL. ACORDOU/PROCURE SUA CIDADE NA DESCRIÇÃO E
MANIFESTE-SE”. Ainda nessa postagem, o internauta encontrava
a seguinte descrição: “ATENÇÃO! Ctrl + F é uma boa dica para
encontrar sua cidade”. Logo a seguir a esse texto, em ordem
alfabética, o leitor encontrava links para 388 cidades brasileiras,

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 75
dentre elas 22 capitais e pequenas cidades, com horários e locais
das aglomerações para início das passeatas. Vale considerar o
alcance da publicação: apenas no momento da postagem 2.576
pessoas curtiram e 2.816 compartilharam.

Ainda sobre a página AnonymousBr4sil, ela traz em


sua abertura, espaço denominado de capa da fanpage, pelo
Facebook, uma foto em preto e branco com cinco pessoas de
terno, todas com máscaras, estando uma ao centro e as outras
quatro divididas em duas colunas, perfiladas em “V”. Acima
delas, a inscrição “ANONYMOUS BRASIL/NÓS SOMOS UMA
LEGIÃO”. A seguir, “FACEBOOK.COM/ANONYMOUSBR4SIL”. À
esquerda, em um espaço denominado de imagem do perfil,
um rosto mascarado, tendo a máscara a estampa da bandeira
do Brasil — agora a foto é colorida. Abaixo desse perfil, em
Unidade 3

um espaço definido como “Sobre”, pelo Facebook, “Nós somos


uma ideia. Uma ideia que não pode ser contida, perseguida e
nem aprisionada. Nós somos Anonymous”. Vale ressaltar que o
internauta pode sugerir uma edição para esse espaço, criando
ele mesmo um texto de descrição e postando-o na fanpage da
comunidade virtual.

Outro ponto, ao se clicar sobre o item “Sobre”, tem-se a


informação do nascimento da página, 18 de julho de 2012, bem
como a website da legião: www.AnonymousBr4sil.net. Nessa
janela, o internatua tem acesso à descrição da legião (2013):

76 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Permita-nos apresentar como Anonymous, e
Anonymous apenas. Nós somos uma ideia. Uma
ideia que não pode ser contida, perseguida nem
VOCÊ SABIA? aprisionada. Somos uma ideia que surgiu em 2004
e sempre seguiu uma linguagem de memética e
muitas sátiras. Hoje, Anonymous é uma ideia de
mudança, um desejo de renovação. Somos uma
ideia de um mundo onde a corrupção não exista,
onde a liberdade de expressão não seja apenas
uma promessa, e onde as pessoas não tenham
que morrer lutando por seus direitos. Não somos
um grupo. Somos uma ideia de revolução.
Acreditamos que cada geração encontra sua forma
de lutar contra as injustiças que encontra. Temos
em mãos pela primeira vez o poder de produzir,

Unidade 3
distribuir e trocar informações. Uma oportunidade
nunca vista antes na história para colaboração e
construção de um mundo onde a esperança, a
dignididade e a justiça sejam princípios a serem
respeitados.
Nós não somos uma organização e não temos
líderes. Oficialmente nós não existimos e não
queremos existir oficilamente. Nós não seguimos
partidos políticos, orientações religiosas, interesses
econômicos nem ideologias de quaisquer espécies.
Anonymous não pede dinheiro nem qualquer
favor ou benefício a ninguém. Mais uma vez:
Anonymous não tem líderes. Se alguém lhe disser
que representa ou lidera Anonymous, este alguém
não conhece a ideia Anonymous, porque nós não
podemos ser representados ou liderados, porque
isto é o que somos: uma ideia.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 77
Vamos agora ao dado mais importante da fanpage
AnonymousBr4sil, o alcance: 1.058.083 pessoas curtiram a
página, ao passo que 3.192.526 estavam falando sobre isso
(28jun2013, 13h54). Há ainda que se considerar que os protestos
tiveram início em 13 de junho — momento em que a fanpage já
havia conquistado 758 mil pessoas curtindo e 848.338 falando
sobre ela (13jun2013, 13h) — estendendo-se estes até 11jul2013.
Outro ponto: extrapolou-se também nesta data o número de
1.100.000 curtidas na fanpage.

Em síntese
“Nós saímos do Facebook”: esta foi a inscrição lida em
muitos dos cartazes que vimos durante as manifestações de
junho de 2013 no país. Poderíamos traduzi-la em “Somos as
Unidade 3

redes sociais e aqui estamos”, mais de três milhões de pessoas


ou, ainda, “Nasci no Face, mas vivo na rua”. Sim, os movimentos
criaram novos espaços ao se apoderarem do espaço público. E
mais, esses novos espaços se tornaram plataformas nas quais
pode passar qualquer coisa, a qualquer momento. E o mais
interessante: sem um centro, pois, se caso este houvesse, o
movimento em si seria destituído.

Assistiu-se, no Brasil, à perfeita transição da indignação


para a esperança, a partir de uma comunicação autônoma, híbrida
— rede (internet), espaços urbanos, espaços institucionais. A
deliberação passou a estar fora das instituições formais ou
constituições. Tendo por chave a emoção — possibilidade de
sentir-se junto com outras pessoas, porém não em forma de
comunidade — abriu-se um novo espaço: o da autonomia.
Superou-se o temor, “juntos podemos”, fazendo surgir o espaço
da autorreflexão, discutindo-se qualquer coisa. Os manifestantes,
cujo perfil nos revela grau de instrução e repúdio à violência,
sinaliza-nos uma crise crescente de representação. Projeto? Uma

78 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
nova democracia, em rede, cuja base esteja em assembleias, que
sejam capazes de se questionarem a si mesmas, dissolvendo
as instituições, sem um líder. Um experimento de organização
de movimentos sociais, que desmente o arraigado pressuposto
de que nenhum processo sociopolítico pode funcionar sem
qualquer tipo de orientação estratégica e de autoridade vertical.
Uma nova utopia, e nessa empreita, há que se considerar que as
utopias animam as mentes das pessoas — o próprio liberalismo,
o socialismo e mesmo a democracia foram utopias para se iniciar.

Enfim, funda-se um período de transição histórica, de


desligitimação do sistema político, via movimentos rizomáticos,
isto é, movimentos que nunca desaparecem, estão por aí,
simplesmente aparecem e, virais, difundem-se velozmente,

Unidade 3
desde que a mensagem tenha receptividade, traz-se à tona
uma crise profunda da legitimidade das Instituições políticas a
que conhecemos nos últimos duzentos anos. E o mais precioso:
para esses movimentos, indivíduos são mais relevantes do
que partidos. Dada sua condição viral, independentemente de
institucionalizações, o que é importante não são eles, mas as
sementes que deixam. Ou seja, os movimentos sociais são os
atores da mudança histórica.
Figura – “Os movimentos sociais são os atores da mudança histórica.”

Fonte: Freepik

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 79
Portanto, o que parece irreversível, seja no Brasil ou
no mundo, e a AnonymousBr4sil o representa muito bem, é o
empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a
consciência dos jovens de que tudo que se sabe do futuro é que eles
o farão. Ao retomarmos a AnonymousBr4sil, vale ressaltar que ela
se intitula uma ideia de revolução, que acredita que cada geração
encontra sua forma de lutar contra as injustiças e a encontra,
tendo o poder de produzir, distribuir e trocar informações.
Trata-se de uma oportunidade nunca vista antes na história para
colaboração e construção de um mundo onde a esperança, a
dignidade e a justiça sejam princípios a serem respeitados, não
sendo uma organização, não tendo líderes. Aliás, há ênfase no
fato de oficialmente não existir e não querer existir, não seguindo
partidos políticos, orientações religiosas, interesses econômicos
Unidade 3

ou ideologias de quaisquer espécies. AnonymousBr4sil é,


simplesmente, um canal de “Móbil-izados” híbrido.

Assim sendo, não é o espaço de aprendizagem esse híbrido,


constituído por múltiplas mediações, um artefato construído para
abrigar um discurso, no qual retirando os não humanos tudo
perderia o sentido? O que se dá é a mediação o tempo todo, mas
essa rede tende a ser esquecida numa atitude de purificação,
instituindo-se campos de saberes, campos políticos separados. Há
que se considerar que na AnonymousBr4sil, a exemplo de tudo
ao nosso redor, só temos proliferação de híbridos e de redes se
constituindo e se desfazendo o tempo inteiro, e que a mediação
está inserida na materialidade dos dispositivos, no desdobramento
das redes que dão apoio. Assim, quanto mais sujeito, mais objeto.
Quanto mais objeto, mais sujeito.

A questão, portanto, não é banir a tecnologia da sala de


aula, mas associá-la, e isso depende do professor e do aluno,
pois o ensino dá-se a distância, aliás sempre se deu, observe-se a
atitude de ouvir e falar, a leitura do objeto livro, o texto e o autor, o

80 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
professor e o aluno. Na verdade, a concepção de tecnologia versus
conhecimento foi evocada, embora no discurso, como instrumento
de gestão, de autonomia do aluno ou mesmo de facilitação de
materiais, ao passo que, na prática, atendeu e atende à condição
de objeto de empoderamento do professor. Por conseguinte, o
que se viu na AnonymousBr4sil, e que deve se estender às salas
de aula, é a tecnologia nos colocando como causa. É preciso sair
da ideia de objeto (o que está jogado) e passar a pensar em coisas
(aquilo que nos coloca em causa). Os objetos não são extensão
(algo externo adicionado), são, na verdade, parte da rede que
nos constituem. A AnonymousBr4sil, a exemplo de todas novas
mídias, transformou objetos separados dos sujeitos em coisas,
ocasionando uma simetria entre humanos e não humanos, via
uma postura analítica (reconhecimento da agência dos objetos

Unidade 3
sobre nós, humanos). Isso posto, o sujeito e os objetos não podem
ser pensados como fenômenos isolados, nem a ação como algo
bem determinado. Ela parte de algum lugar.

Explorar os efeitos do sentido decorrentes da


intermediação entre linguagem verbal e não verbal
no processo de constituição do texto/discurso é o
SAIBA MAIS objetivo deste artigo. Toda pesquisa do autor se
baseia seguinte indagação: “A combinação palavra
e imagem é complementar na conformação
do texto?” “Existe autonomia da imagem?” A
investigação concluiu ser a associação entre as duas
linguagens o meio mais eficaz para interpretação
dos sentidos transmitidos pelo texto/discurso. Vale
muito a leitura e mergulhar nesse universo! Para
saber mais, clique no QR-Code.

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 81
Ao longo deste capítulo, exploramos o impacto
das Tecnologias da Informação na comunicação e
como elas têm revolucionado a forma como nos
RESUMINDO conectamos e interagimos. Esperamos que você
tenha adquirido uma compreensão mais profunda
de como essas tecnologias funcionam e de como
podem ser aplicadas de forma eficaz em sua vida
pessoal e profissional.
Através do estudo das redes sociais, mensagens
instantâneas, e-mails, videoconferências e outras
ferramentas digitais, você aprendeu sobre as
diversas possibilidades e os benefícios que as
Tecnologias da Informação oferecem para facilitar
a comunicação em tempo real, superando barreiras
geográficas e promovendo a troca de informações
de maneira ágil e eficiente.
Unidade 3

No entanto, também discutimos os desafios


e as questões relacionadas às Tecnologias da
Informação na comunicação, como a segurança
digital, a privacidade e o gerenciamento adequado
das informações. É fundamental estar ciente
dessas questões e adotar práticas responsáveis ao
utilizar essas tecnologias, garantindo a proteção de
dados e a ética no uso da comunicação digital.
Concluímos que o domínio das Tecnologias da
Informação na comunicação é essencial no mundo
atual. O uso inteligente e estratégico dessas
ferramentas pode abrir portas, criar oportunidades
de networking, facilitar a colaboração e ampliar a
visibilidade em diversos campos profissionais.
Portanto, encorajamos você a continuar explorando
e aprimorando suas habilidades no uso das
Tecnologias da Informação na comunicação. Esse
conhecimento permitirá que você se mantenha
atualizado em um mundo em constante evolução
tecnológica, garantindo uma comunicação eficaz e
assertiva em todos os aspectos da sua vida.

82 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Estamos confiantes de que, ao desenvolver
essa competência, você estará preparado para
enfrentar os desafios e tirar o máximo proveito das
oportunidades proporcionadas pelas Tecnologias
da Informação na comunicação. Avance com
confiança nesse universo digital e esteja pronto
para se adaptar às novas tecnologias e tendências
que surgirão.
Parabéns por ter concluído este capítulo! Continue
explorando e aprimorando suas habilidades no uso
das Tecnologias da Informação na comunicação,
pois isso certamente contribuirá para o seu
sucesso pessoal e profissional. Avante, rumo a um
futuro conectado e cheio de possibilidades!

Unidade 3

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 83
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