7 ReutilizacaoContainers Civil
7 ReutilizacaoContainers Civil
7 ReutilizacaoContainers Civil
BELO HORIZONTE
JULHO - 2018
ENDERSON LUÍS AMORIM
GÉSCICA KIARA DE OLIVEIRA
Belo Horizonte
JULHO - 2018
RESUMO
A nova relação entre o ser humano e o meio ambiente, que preconiza atender as
demandas presentes, sem impactar as gerações futuras, denomina-se
desenvolvimento sustentável. Conforme a necessidade de melhorar o nível de
consumo da população e diminuir o impacto ambiental dos assentamentos humanos
no planeta, houve inúmeras conferências mundiais que geraram protocolos
internacionais com o objetivo de rever as metas e elaborar mecanismos para o
desenvolvimento sustentável. Mediante a importância de atenuar os impactos
econômicos e ambientais, naturais e sociais, causados pelo aspecto de alto consumo
de recursos e matéria prima não renovável na indústria da construção civil, surge a
necessidade de novos conceitos construtivos. O presente estudo tem por objetivo
identificar e a analisar os benefícios da reutilização do container marítimo (CM) nas
construções residenciais, com ênfase na redução do cronograma de execução,
consumo de recursos e geração de resíduos sólidos. Adotando abordagem qualitativa,
exploratória e estudo de caso. A amostra foi a unidade de container marítimo, modelo
high cube 40' customizada para residência. A análise dos dados procedeu através da
consolidação dos documentos fornecidos pela empresa Sader Engenharia Ltda,
comparando-os às referências bibliográficas. Para isso, foram elaboradas pelos
autores planilhas de controle base que promoveram a criação de gráficos, quadros e
textos descritivos para elucidar as principiais vantagens e desvantagens da
construção de residência com a utilização do CM. Os resultados demostraram que
seu reuso apresenta-se compatível com os princípios que regem a ecoeficiência
construtiva e proporciona redução de recursos, portanto, torna-se viável para fins
residenciais. Assim, com a quebra de paradigmas e a conscientização para a
reutilização do container marítimo, uma quantidade acentuada de resíduos sólidos
deixará de ser gerada. Conforme dados do World Shipping Council (2014), mais de
dezoito milhões de containers estão sendo utilizados no mundo, e 5% destes são
descartados anualmente. Utilizados corretamente na construção civil, a vida útil de um
container marítimo pode chegar a até 100 anos.
The new relationship between human beings and the environment that advocates
meeting current demands without negatively impacting future generations is called
Sustainable Development. Following the need to improve population’s consumption
and reduce the environmental impact of human settlements in the planet, many
international protocols were created with the goal of revising the objectives and
elaborating mechanisms for sustainable development. To mitigate the economic,
environmental, natural, and social impacts caused by exacerbated consumption of
non-renewable resources from civil engineering construction, comes the need for new
concepts in construction. Through a qualitative, exploratory case study, this paper aims
to identify and analyze the benefits of reusing intermodal containers as a mean of
residential constructions, emphasizing savings in execution schedule, resources
usage and solid waste generation. The sample used was a high cube 40’ intermodal
container, made into a residential construction. All data analysis was based on
documents provided by Sader Engenharia Ltda and bibliographic references. To
identify and illustrate the main advantages and disadvantages of this alternative
construction mode, spreadsheets, graphics, and descriptive texts were elaborated.
The results show that intermodal container reuse is compatible with the principles that
guide ecoefficiency in civil construction, yielding resources savings and thus being
appropriate for residential application. According to the World Shipping Council (2014)
more than 18 million intermodal containers are being used in the world, and 5% of
those are disposed every year. If used correctly in civil construction, the lifespan of a
container can reach up to a hundred years.
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13
1.1 Problema de pesquisa ....................................................................................... 14
1.2 Objetivo ............................................................................................................. 14
1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................. 14
1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 15
1.3 Justificativa ........................................................................................................ 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 17
2.1 Histórico da construção civil ............................................................................... 17
2.1.1 Visão panorâmica ........................................................................................... 18
2.1.2 Aspectos conceituais....................................................................................... 18
2.2 Sustentabilidade na construção ......................................................................... 19
2.3 Container marítimo: Do histórico a reutilização na construção civil .................... 21
2.3.1 Tipos de containers marítimos: Especificações técnicas ................................. 23
2.3.2 Container como metodologia construtiva......................................................... 25
2.4 Exigências legais: Norma de desempenho para construção residencial - NBR
15575:2013 .............................................................................................................. 26
2.4.1 Local de implantação ...................................................................................... 27
2.4.2 Desempenho estrutural ................................................................................... 27
2.4.3 Desempenho contra incêndio e danos ............................................................ 32
2.4.4 Desempenho funcionalidade e acessibilidade ................................................. 32
2.4.5 Desempenho térmico ...................................................................................... 33
2.4.6 Desempenho acústico ..................................................................................... 35
2.4.7 Desempenho lumínico ..................................................................................... 40
2.4.8 Desempenho de estanqueidade ...................................................................... 42
2.4.9 Vida útil do projeto .......................................................................................... 43
3 METODOLOGIA DE PESQUISA .......................................................................... 44
3.2 Pesquisa quanto aos meios ............................................................................... 46
3.3 Universo de amostra .......................................................................................... 48
3.4 Formas de coletas e análise dos dados ............................................................. 50
3.4.1 Coleta de dados .............................................................................................. 50
3.4.2 Análise de dados ............................................................................................. 51
3.5 Organização em estudo ..................................................................................... 51
3.6 Limitação da pesquisa........................................................................................ 52
4 RESULTADOS E DISCURSÂO ............................................................................ 54
4.1 Descrição do empreendimento ........................................................................... 54
4.3 Escolha do local de implantação ........................................................................ 55
4.4 Processo de customização do CM ..................................................................... 56
4.4.1 Abertura dos vãos e reforços .......................................................................... 56
4.4.2 Canalização dos dutos de eletricidade, água e esgoto .................................... 58
4.4.3 Instalação dos revestimentos internos e isolamento termo acústico................ 59
4.4.4 Revestimento externo ..................................................................................... 60
4.4.5 Revestimento cerâmico ................................................................................... 61
4.4.6 Esquadrias de portas e janelas ....................................................................... 61
4.4.7 Emassamento e pintura .................................................................................. 62
4.4.8 Tratamento e acabamento do piso existente ................................................... 62
4.5 Atendimento as exigências legais ...................................................................... 63
4.5.1 Desempenho estrutural da RCM ..................................................................... 64
4.5.2 Desempenho contra incêndio e danos da RCM .............................................. 66
4.5.3 Desempenho funcionalidade e acessibilidade da RCM ................................... 67
4.5.4 Desempenho térmico da RCM ........................................................................ 68
4.5.5 Desempenho acústico da RCM ....................................................................... 69
4.5.6 Desempenho lumínico da RCM ....................................................................... 71
4.5.7 Desempenho de estanqueidade da RCM ........................................................ 72
4.5.8 Vida útil do projeto da RCM............................................................................. 72
4.5.9 Qualificação da RCM em relação a NBR 15575:2013. .................................... 73
4.6 Etapas da construção em concreto armado ....................................................... 74
4.6.1 Características da unidade residencial ............................................................ 74
4.6.2 Implantação da residência em concreto armado ............................................. 75
4.7 Custos e tempo .................................................................................................. 80
4.7.1 Custo construtivo ............................................................................................ 80
4.7.2 Tempo construtivo ........................................................................................... 82
4.8 Resíduos da construção ..................................................................................... 84
4.9 Variações dos indicadores de custo, tempo e resíduos ...................................... 86
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 88
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 90
ANEXO .................................................................................................................... 94
ANEXO A – Artigo publicado no 1° Congresso Sul-Americano de resíduos sólidos e
Sustentabilidade – Gramado/RS .............................................................................. 94
13
1 INTRODUÇÃO
A nova relação entre o ser humano e o meio ambiente, que preconiza atender as
necessidades presentes, sem impactar as gerações futuras, denomina-se
desenvolvimento sustentável. Mediante a necessidade de melhorar o nível de
consumo da população e diminuir o impacto ambiental dos assentamentos humanos
no planeta, houveram inúmeras conferências mundiais que geraram protocolos
internacionais com o objetivo de rever as metas e elaborar mecanismos para o
desenvolvimento sustentável.
Deve-se destacar que entre os anos de 1980 e início da década de 90, o tema
sustentabilidade chegou ao âmbito da Indústria da construção civil (ICC) através da
engenharia e arquitetura, com o intuito de motivar novos conceitos e metodologias,
quebrar paradigmas e promover desafios para a preservação do planeta. Porém a
realidade das práticas sustentáveis nas execuções das construções civis, ainda é vista
como incógnita no setor de modo geral.
Aportado nesta perspectiva, o presente estudo tem por objetivo analisar os benefícios
da reutilização do CM nas construções residenciais, com ênfase na redução do
cronograma de execução, consumo de recursos e geração de resíduos sólidos,
enfatizando a necessidade de mudanças e a quebra de paradigmas com os novos
conceitos construtivos, convergindo para uma visão que preconiza ajustar os
conceitos de sustentabilidade aos processos e as práticas de execução inerentes a
indústria da construção civil.
1.2 Objetivo
1.3 Justificativa
Com isso, ações sustentáveis e que reduzem os impactos ambientais estão em voga
para a preservação e manutenção da qualidade de vida da população, sendo um tema
que deve ser debatido academicamente e socialmente em todos os âmbitos, com isso,
16
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Conforme Gil (2016), denomina-se referencial teórico, o tópico do projeto que tem por
objetivo apresentar ideias e análises sobre o tema já realizadas em outras literaturas.
Desta forma o autor do novo trabalho e o leitor, tomam conhecimento do que já existe
sobre o assunto, oferecendo contextualização e coerência a pesquisa.
Além de revisar a literatura, o elaborador do estudo apontará as lacunas detectadas
na referência bibliográfica consultada, ou mesmo as discordâncias ou pontos que
necessitam confirmação. Desta forma, permite-se novas propostas e reconstruções,
dando vida ao trabalho científico (GIL, 2016).
As relações históricas da Construção Civil podem ser rastreadas até 4000 a.C., onde
a ferramenta básica utilizada, era estritamente a mão de obra humana. Ao surgimento
da Engenharia Civil nos primórdios, cita-se a construção das pirâmides do Egito e a
grande Muralha da China que evidenciam estruturas da engenharia civil na pré-
história (STONECYPHER, 2011). Portanto, segundo Corrêa (2009), a evolução ao
longo do tempo destaca que a Construção Civil sempre esteve presente, atendendo
as necessidades básicas e imediatas da sociedade, entretanto em primeira instancia,
sem preocupações com refinamento das técnicas utilizadas e com os impactos
causados pela mesma.
Com base no conceito expresso na Cúpula Mundial em 2002 apresentado por Pais
(2002), firmando que a melhor qualidade da vida da população deverá ocorrer sem
que impacte as gerações futuras e sem o uso descompassado dos recursos naturais.
É corroborada por Mikhailova (2004) preconizando que o desenvolvimento sustentável
foca no progresso da qualidade de vida da população mundial não usurpando os
recursos naturais acima da capacidade da Terra.
desenvolvimento sustentável. Para que ele evolua deve-se adequar qualquer sistema
que impacte diretamente os recursos e promova grande abrangência social, dentre
estes se encontra a construção civil.
De acordo com Brasil (2007), estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos
gerados pelo conjunto das atividades humanas no Brasil são provenientes da
construção civil. Portando, nota-se que as demandas construtivas necessitarão de
novas tecnologias, inovações, pesquisas e a utilização equilibrada dos recursos
disponíveis para minimizar a geração dos resíduos sólidos (BRASIL, 2017).
Brasil (2017) apresenta que para a ocorrência desta mudança é exigindo a quebra
dos paradigmas convencionais, através da implantação de projetos mais flexíveis que
proporcionem a redução das demolições, a racionalidade do consumo de energias, a
gestão ecológica da água, a redução gradativa dos materiais que causem grande
impacto ambiental e a modulação dos sistemas para reduzir as perdas e permitir a
reutilização de materiais. Brasil (2017) recomenda a correção de dois aspectos
pontuais focados no combate ao desperdício, sendo eles: a transformação dos
padrões de consumo, objetivando a mudança cultural e a destinação dos resíduos.
Mendes (2016) destaca no Guia Marítimo, que o transporte marítimo representa 95%
das cargas movimentadas diariamente pelo mundo, sendo que, de acordo com dados
do World Shipping Council (2014) existem cerca de dezoito milhões de containers em
circulação, e deste total, cerca de 5% é descartado todos os anos. Segundo Araújo
(2012) os containers apresentam uma vida útil no transporte de cargas entre 10 a 15
anos, sendo que após este tempo, a manutenção torna-se economicamente inviável.
Fora deste cenário do transporte marítimo, conforme Rangel (2015) sua estimativa
real é de aproximadamente100 anos, proporcionados pelo alto desempenho dos
materiais de sua composição.
Segundo Araújo (2013), em estudo para o Instituto de Logística e Supply Chain- ILOS,
o setor de transporte marítimo do Brasil tende a crescer 7,4% ao ano, nos próximos
10 anos, o que consequentemente significa que serão milhares de CM em circulação
na costa brasileira. Historicamente os containers já foram utilizados como abrigos
improvisados em países que tiveram terremotos, desastres naturais, e em guerras,
como na Guerra do Golfo em 1991, onde buracos foram feitos nos containers para
permitir a ventilação e não houve relatos de efeitos nocivos deste método. (PORTAL
METÁLICA, 2017).
Segundo Filho e Garrute (2017), existem diversos tipos de Containers Marítimos, onde
merece destacar que suas particulares e características técnicas, como media externa
e interna, tara, peso líquido, volume máximo, são estimadas. Pois estas
especificações sofrem pequenas variações de acordo com o fabricante. Ainda sobre
os estudos de Filho e Garrute (2017), referente ao comprimento, as medidas mais
comumente utilizadas são de 20 pés (20’) ou 40 pés (40’), onde essas medidas são
representadas pela sigla TEU (Twenty Feet Equivalent Unit), ou seja, unidade
equivalente a 20 pés e FEU (Forty Feet Equivalent Unit), unidade equivalente a 40
pés, outras medidas existentes são 10′, 20′, 24′, 28′, 30′,32′, 35′, 40′, 45′, 48′.
Conforme Martins (2008) a única medida do Container que não sofre variação é a sua
largura, sempre de 8 pés (8’). O material de fabricação dos Containers Marítimos é o
aço corten, conhecido também como aço patinável. Este tipo de aço, sob certas
condições atmosféricas de exposição a agentes corrosivos, desenvolve uma película
de óxido aderente que possui a função de proteção do aço, reduzindo a velocidade
da corrosão (PORTAL METÁLICA, 2017).De acordo com o Grupo Santos (2017), os
principais modelos comerciais de Container Marítimo são: Standartd, Open Top, Flat
Rack, Plataform, Reefer e Tanque, apresentados na Figura 01.
24
De acordo com Kotnik (2008), o CM pode ser considerado um material barato, o que
reduz o custo final da obra, além disso, permite produzir edificações de caráter
sustentáveis, uma vez que reciclam e reutilizam um material que fora abandonado ou
descartado nos depósitos portuários. Deve-se, porém, atentar-se, que o CM é
fabricado para o transporte de cargas, desta forma, não é habitável por si só. Portanto
Figuerola (2013), destaca que para serem reutilizados na cadeia produtiva das
construções civis, necessitam antecipadamente passar por uma seleção e inspeção
técnica para avaliar riscos de contaminação do CM. Conforme Castilho (2014) deve
ser observados o estado de conservação do piso, do amassamento dos fechamentos
laterais e cobertura, assim como a integridade da estrutura. De acordo Figuerola
(2013), os Containers utilizados na ICC são os modelos Standard de 20', 40’ e o High
cube, conforme apresenta a Figura 02, entretanto segundo o mesmo autor, o mais
indicado é o modelo High cube por possuir pé-direito maior, facilitando assim o
embutimento das instalações gerais, possibilitando o rebaixamento do teto.
25
2.3.2.1 Seleção
Conforme Figuerola (2013), a primeira etapa inicia-se na escolha técnica do CM, que
deve ocorrer ainda no terminal de estoque dos containers. Segundo o autor exclui-se
aqueles que apresentam visualmente ataque químico, problemas estruturais e tetos
danificados.
26
2.3.2.3 Canteiro
Para uma residência cumprir sua função primaria que é abrigar seus moradores com
segurança e conforto necessita-se que ela possua parâmetros mínimos. Com objetivo
de padronizar as exigências, entrou oficialmente em vigor em 19 de julho de 2013 a
NBR 15575:2013 com o título geral: Edificações habitacionais - Desempenho,
27
E na falta de uma norma brasileira específica deverá ser seguido os valores das
Quadro 01 e 02.
30
Para a instalação das portas e janelas, as paredes tanto externas com as internas
atenderão as seguintes condições (NBR 15575:2013):
Para evitar possíveis gerações de foco de incêndio e danos, o edifício deverão possuir
proteções contra descargas atmosféricas conforme apresentado na NBR 5419:2001 -
Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas e as suas estruturas e/ou telhas
metálica serão aterrados com o objetivo de conduzir as descargas, dissipar as cargas
eletrostáticas e inibir possíveis problemas de corrosão por corrente de fuga (contato
acidental com componentes eletrizados), sendo corroborada está necessidade pela
Lei Nº 11.337, de 26/07/2006, que obriga a construção de instalações elétricas
compatíveis a residência e o aterramento dos sistemas das edificações.
• Que no verão tenha pelo menos uma janela do dormitório ou da sala voltada
para o oeste e as paredes externas dos outros cômodos voltados para norte.
• Que no inverno tenha pelo menos uma janela do dormitório ou da sala voltada
para o Sul e as paredes expostas dos outros cômodos voltados para Leste.
• Garantir que não haja obstrução das paredes externas e das janelas para que
incidam o sol e/ou vento nestas.
Fonte: CBIC - Guia orientativo de atendimento a norma ABNT NBR 15575/2013 (p.157)
O nível de ruído para conforto acústico é apresentado no Quadro 08, com o Nível de
pressão sonora ponderado LPA, em decibels (A) e o NC - Curva de avaliação de ruído
que é o método de avaliação de um ruído num ambiente determinado.
A Vida útil do projeto (VUP) deverá ser especificado para cada um dos sistemas que
o compõem, não podendo ser inferior os indicadores apresentados no Tabela 01.
Caso não possua indicação em projeto da VUP dos sistemas, considera-se os
desempenhos mínimos da tabela.
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Em relação aos objetivos, quanto aos fins, Gil (2016) considera três grupos de
pesquisas:
Descritiva: Gil (2016) identifica que este tipo de pesquisa tem primordialmente o
objetivo de descrever as características de uma população ou fenômeno ou
estabelecer relações entre variáveis, tendo como característica fundamental a
aplicação de técnicas padronizadas para a coleta de dados e as vezes ultrapassa a
simples identificação das relações entre variáveis, determinado a natureza desta
relação aproximando da Pesquisa Explicativa. Conforme Triviños (1987), este modelo
46
A classificação desta pesquisa enquadrou-se quanto aos fins como exploratório, pois
conforme Vergara (1998), este tipo de pesquisa é adotado em áreas com pouco
conhecimento acumulado e sistematizado e conforme detectado pouca literatura e
legislação para a utilização dos containers marítimos como metodologia construtiva
para residências. Tendo como objetivo proporcionar maior conhecimento sobre seu
potencial construtivo.
Pesquisa telematizada: Apresentada por Vergara (1998) como o tipo de pesquisa que
busca informações nos meios da telecomunicação e com o uso de computadores,
sendo exemplificado como as pesquisas realizadas na internet.
Conforme Gerhardt (2009), a análise dos dados tem o objetivo de organizar os dados
de forma a proporcionar possíveis respostas ao problema proposto, sendo
quantitativos (análise estatística) ou qualitativos (análise do conteúdo, do discurso,
outros.). Gil (2007), verifica que a maior parte das pesquisas possuem as seguintes
fases: estabelecer categorias; condicionar e tabular os dados; e analisa-los.
Como este encontra-se concluído, disponível na empresa em show room, não foi
possível acompanhar a execução das etapas de transformação do CM em residência.
Além destes limitadores, não foi possível sua alteração e testes de comportamento
estrutural, dificultando o esclarecimento de pontos relevantes da pesquisa, como o
seu desempenho antes e pós adequações.
54
4 RESULTADOS E DISCURSÂO
Nas paredes laterais do CM, no teto e na projeção das paredes para o banheiro,
utilizaram tubos retangulares similares aos dos vãos das janelas e portas conforme
apresentado na Figura 07 e sua fixação foi através de solda. Está ação vai ao encontro
da indicação do reforço estrutural relatada por Benjamin Gracia Sanxes (2013).
58
Esta malha de tubos criada, serviu de base para a instalação do drywall e outras
peças, afim de evitar furos e chumbamentos diretos nas paredes do CM, impedindo a
redução de sua estanqueidade conforme exigência da NBR 15575:2013.
Após a adaptação dos vãos do CM, conforme projetos, realizou-se a passagem dos
dutos elétricos em conduíte corrugado ¾” conforme Figura 08, além dos tubos de
esgoto e água fria em PVC. Concomitante a canalização dos dutos, foram instaladas
as bancadas em granito na cozinha e no banheiro.
59
Foi realizado revestimento cerâmico nas paredes do banheiro, área que compreende
o box e a parede da cozinha que localiza a bancada. Sendo que, após assentados, os
revestimentos receberam rejunte flexível.
Nesta etapa, foram instaladas todas as esquadrias em vidro temperado 10 mm, sendo
02 (duas) janelas, e 03 (duas) portas. Também foi efetuado 01 (um) fechamento de
parede completa da sala, como apresenta a Figura 12, assim como instalados 02
(dois) marcos de madeira e 02 (duas) portas de madeira (prancheta) na suíte e no
banheiro.
62
O forro do teto e das paredes foram emassadas com massa acrílica, posteriormente
lixadas para regularização e executada a pintura com tinta látex PVA cor branco neve.
Esta etapa gerou resíduos de papelão e metal das embalagens dos produtos
utilizados.
Como não há uma legislação específica brasileira para a construção da RCM, seguiu-
se as leis vigentes relacionadas a edificações, dentre estas, a NBR 15575:2013 -
Norma de desempenho para construção residencial.
Não existe sobrecargas sobre a RCM, sendo utilizado sua cobertura original de aço
corten para servir de laje para a residência. O projeto não prevê utilização do teto para
ampliação de pavimento, assim como para instalação de nenhum material sobre o
mesmo. Sendo que, conforme conversa com o idealizador do projeto, a caixa d’agua
será instalada em um local externo a obra.
65
Mediante a análise visual, não foi encontrada nenhuma patologia que induzisse a esta
ocorrência.
Com objetivo de verificar este quesito, executou-se nas portas e janelas da residência
a sequência de dez movimentos de aberturas e fechamentos, não sendo identificado
nenhum barulho ou desalinhamento proporcionado por deformações dos elementos
estruturais.
A estrutura da construção é feita em aço corten que possui seu ponto de fusão
superior a 1.410° C, concedendo a estrutura a resistência superior a 30 min de
incêndio.
(Dormir/Dormitório para duas pessoas (2º Dormitório): Não possui esta acomodação.
Dormir/Dormitório para uma pessoa (3º Dormitório): Não possui esta acomodação.
Estar: Possui área útil para a instalação de um sofá de dois lugares, uma poltrona e
contempla em projeto uma estante.
área para a instalação de um fogão convencional com gás e forno. Para este
empreendimento será utilizado um cooktop de duas bocas sobre a bancada central.
Estudar, ler, escrever, costurar, reparar e guardar objetos diversos: Não possui esta
acomodação.
Foi observado que os armários, estante e cama deste empreendimento são com
moveis planejados, com o intuito de aproveitar ao máximo os ambientes, não
utilizando moveis de tamanho padrão.
Para averiguar este parâmetro foi utilizado um termo Higrômetro Digital MT-242
calibrado, verificando a temperatura externa ao ambiente, constou-se a temperatura
média de 31,4º C na jornada da pesquisa. Já no interior da residência efetuou-se a
aferição das temperaturas nos ambientes e constatou a máxima temperatura de
26,7ºC. Atendendo ao requisito.
A menor temperatura externa medida no período de exame foi de 24,2º C, sendo que,
acrescido os 3º C solicitado na norma, requer que o ambiente interno estive-se com
temperatura igual ou superior a 27,2º C. Mas, a máxima detectada foi de 26,7º C. Não
atendendo ao requisito na faixa de tempo do estudo.
O ambiente externo por ser uma avenida com grande movimento de veículos, foi
sinalizado como Classe de ruído III – Habitação sujeita a ruído intenso de meios de
transporte e de outras naturezas, desde que conforme a legislação.
Neste, conforme a avaliação apresentou ruído externo médio de 74,8 db (A) e o interno
médio de 36,9 db (A) no dormitório, obtendo uma variação de intensidade de 37,9 db
(A). Assim, o nível de desempenho classifica-se como intermediário.
71
Na sala de estar foi medido o nível médio de iluminação de 723 lux, no dormitório de
598 lux, na cozinha de 660 lux e no banheiro 392 lux. Nestes parâmetros todos os
ambientes foram classificados como superior.
Com base dos parâmetros do Quadro 17, todas as dependências da RCM foram
classificadas como superior, nestes foram verificados os seguintes níveis de
desempenho de iluminamento gerado por iluminação artificial: Sala de estar: 936
luxes, dormitório: 654 lux, banheiro: 554 lux e cozinha: 798 lux. Sendo considerado
superior neste quesito, os três primeiros cômodos por serem superiores a 200 lux e a
cozinha ultrapassar 400 lux.
72
Através de inspeção visual não foi identificado nenhuma mancha presente na parte
interna e externa da RCM. Para verificar o desempenho de estanqueidade, utilizou-se
uma mangueira projetando um jato continuo de água sobre a RCM e também nos
vãos que foram instaladas as portas e janelas.
Em relação aos vãos das portas e janelas, ministrou-se jatos diretos perpendiculares,
não havendo a passagem de água para o interior das acomodações. Deve ser
ressaltado que em caso de chuva de vento, que promova jatos laterais nas portas e
janelas, estas promoverão a passagem do líquido para dentro da acomodação. Este
fato é devido ao afastamento de 5 mm entre os vidros nos trilhos de movimentação
das peças. Com isso, classifica-se a construção como estanque, com a ponderação
que em chuva de vento poderá haver a passagem de fluidos para o interior do
ambiente em casos excepcionais.
Por ser um novo método construtivo no Brasil, como pouco histórico e estudos
relacionados ao desempenho da RCM, a vida útil do projeto (VUP) poderá ser
baseada conforme a durabilidade do sistema, considerando os materiais utilizados em
sua confecção apresentado no Quadro 19 em relação ao ambiente e variações
climáticas que serão expostos.
73
Observa-se no Quadro 20, que o projeto desta RCM se qualificou com algumas
ressalvas dentro das metas de desempenho de funcionalidade e acessibilidade, de
estanqueidade e de vida útil do projeto conforme parâmetros exigidos na NBR
15575:2013.
74
4.6.2.4 Estrutura
4.6.2.6 Cobertura
Nesta etapa, gerou-se vários tipos de resíduos, como, restos de cerâmicas ainda
existente no interior da unidade, plásticos de embalagens, ferramentas descartáveis,
madeiras do canteiro de obra, entre outros.
80
Com o intuito de comparação efetiva dos dois tipos construtivos, os autores não
utilizaram os dados relacionados a infraestrutura. Esta ação almejou promover uma
checagem mais assertiva entre os processos, sem beneficiar uma ou outra
modalidade, por serem instaladas em solos com parâmetros geotécnicos diferentes.
A primeira métrica comparativa foi o custo, verificou-se o gasto por etapas de cada
método e consolidou a variação econômica dos processos.
O custo para a realização da RCA é apresentado no Gráfico 02, neste tipo construtivo
verifica-se que a etapa com maior desembolso também foi para os serviços
preliminares e gerais, que contempla todos os projetos relacionados a construção.
Para sua edificação consumiu-se R$ 59.126,19. Destaca-se que também não foram
considerados os gastos com materiais e serviços referentes a infraestrutura e para a
aquisição do terreno no valor apresentado.
Em relação aos custos finais nestes projetos, salienta que a RCM economizou R$
12,727,97 em relação a RCA, ratificando a afirmação de Kotnik (2008), onde o CM por
ser tratar de um material barato, reduzindo o custo final da obra.
Verifica-se que o tempo apontado na construção de uma RCA foi de 118,5 dias. Em
relação ao processo de aquisição e customização da RCM foi de 82 dias,
proporcionado um ganho de tempo de 36,5 dias em prol do RCM. Detectou-se na
RCM a redução das etapas iniciais de construção, devida à sua característica
autoportante, afirmada por Sócrates (2012). Já na RCA além de executa-las, esta
modalidade carece de tempo pré-determinado por norma para a cura do conjunto
estrutural.
Nos três (03) indicadores avaliados (quantidade de resíduos gerado, tempo e custo)
a RCM demonstrou vantagens em relação a RCA, de acordo com o cenário estudado
na Sader Engenharia Ltda e apresentado no Gráfico 10.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
pela maior agilidade e o baixo custo. Com a utilização de containers marítimos para
construção de residências, poderá ocorrer a redução dos déficits habitacionais, além
de promover o desenvolvimento econômico dos novos empreendedores.
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,
1999.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,
2016.
LEVINSON, M. The box: How the shipping container made the world smaller
and the world economy bigger. Princeton NJ: Princeton University Press, 2003.
ANEXO
Enderson Luís Amorim (*), Gescica Kiara de Oliveira (*), Jocilene Ferreira da Costa, Jouber Paulo Ferreira
* Faculdade de Engenharia de Minas Gerais; [email protected]; [email protected]
RESUMO
A nova relação entre o ser humano e o meio ambiente, que preconiza atender as demandas presentes, sem impactar as
gerações futuras, denomina-se desenvolvimento sustentável. Conforme a necessidade de melhorar o nível de consumo da
população e diminuir o impacto ambiental dos assentamentos humanos no planeta, houve inúmeras conferências mundiais
que geraram protocolos internacionais com o objetivo de rever as metas e elaborar mecanismos para o desenvolvimento
sustentável. Mediante a importância de atenuar os impactos econômicos e ambientais, naturais e sociais, causados pelo
aspecto de alto consumo de recursos e matéria prima não renovável na indústria da construção civil, surge a necessidade
de novos conceitos construtivos. O presente estudo tem por objetivo identificar e a analisar os benefícios da reutilização
do container marítimo (CM) nas construções residenciais, com ênfase na redução do cronograma de execução, consumo
de recursos e geração de resíduos sólidos. Adotando abordagem qualitativa, exploratória e estudo de caso. A amostra foi
a unidade de container marítimo, modelo high cube 40' customizada para residência. A análise dos dados procedeu através
da consolidação dos documentos fornecidos pela empresa Sader Engenharia Ltda, comparando-os às referências
bibliográficas. Para isso, foram elaboradas pelos autores planilhas de controle base que promoveram a criação de gráficos,
quadros e textos descritivos para elucidar as principiais vantagens e desvantagens da construção de residência com a
utilização do CM. Os resultados demostraram que seu reuso apresenta-se compatível com os princípios que regem a
ecoeficiência construtiva e proporciona redução de recursos, portanto, torna-se viável para fins residenciais. Assim, com
a quebra de paradigmas e a conscientização para a reutilização do container marítimo, uma quantidade acentuada de
resíduos sólidos deixará de ser gerada. Conforme dados do World Shipping Council (2014), mais de dezoito milhões de
containers estão sendo utilizados no mundo, e 5% destes são descartados anualmente. Utilizados corretamente na
construção civil, a vida útil de um container marítimo pode chegar a até 100 anos.
ABSTRACT
The new relationship between human beings and the environment that advocates meeting current demands without
negatively impacting future generations is called Sustainable Development. Following the need to improve population’s
consumption and reduce the environmental impact of human settlements in the planet, many international protocols were
created with the goal of revising the objectives and elaborating mechanisms for sustainable development. To mitigate the
economic, environmental, natural, and social impacts caused by exacerbated consumption of non-renewable resources
from civil engineering construction, comes the need for new concepts in construction. Through a qualitative, exploratory
case study, this paper aims to identify and analyze the benefits of reusing intermodal containers as a mean of residential
constructions, emphasizing savings in execution schedule, resources usage and solid waste generation. The sample used
was a high cube 40’ intermodal container, made into a residential construction. All data analysis was based on documents
provided by Sader Engenharia Ltda and bibliographic references. To identify and illustrate the main advantages and
disadvantages of this alternative construction mode, spreadsheets, graphics, and descriptive texts were elaborated. The
results show that intermodal container reuse is compatible with the principles that guide ecoefficiency in civil
construction, yielding resources savings and thus being appropriate for residential application. According to the World
Shipping Council (2014) more than 18 million intermodal containers are being used in the world, and 5% of those are
disposed every year. If used correctly in civil construction, the lifespan of a container can reach up to a hundred years.
INTRODUÇÃO
A nova relação entre o ser humano e o meio ambiente, que preconiza atender as necessidades presentes, sem impactar as
gerações futuras, denomina-se desenvolvimento sustentável. Porém, a realidade das práticas sustentáveis nas execuções
das construções civis, ainda é vista como incógnita no setor de modo geral, sendo que Laurino (2012) pesquisador da
Fundação Dom Cabral, relata que no Brasil, cerca de 30% de todo material utilizado na construção civil é desperdiçado.
Basicamente as construções de edifícios e residências no Brasil constituem-se em concreto armado, estruturas pré-
moldadas em concreto e metal. Dentre os resíduos sólidos provenientes dos diversos setores econômicos, existe o
Container Marítimo (CM), sendo este, detentor de propriedades que favorecem a sua inserção na cadeia produtiva da
construção civil.
A utilização do Container Marítimo na Indústria da Construção Civil (CM-ICC) é considerada uma alternativa para
fabricação de residências e empreendimentos comerciais. Sua característica estrutural pode reduzir etapas construtivas e
consequentemente o consumo de insumos como: água, areia, brita, cimento, madeira, energia dentre outros, remetendo a
aspectos de redução do tempo, custo da construção, impactos ambientais e sociais, afirmando a necessidade da
transformação da conduta humana em prol da preservação e manutenção dos recursos necessários para a longevidade das
futuras gerações.
Aportado nesta perspectiva, o estudo tem o objetivo de analisar uma modalidade construtiva pouco disseminada no Brasil,
enfatizando a necessidade de mudanças e a quebra de paradigmas com os novos conceitos construtivos, convergindo para
uma visão que preconiza ajustar os processos e as práticas de execução inerentes a indústria da construção civil aos
parâmetros de sustentabilidade.
OBJETIVOS
O presente estudo tem por objetivo identificar e a analisar os benefícios da reutilização do container marítimo (CM) nas
construções residenciais, com ênfase na redução do cronograma de execução, consumo de recursos, geração de resíduos
sólidos e o atendimento a Norma de desempenho – NBR 15575:2013.
METODOLOGIA
Conforme Gil (2016) os métodos científicos são um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos objetivando
alcançar uma meta. Sendo confirmado por Lakatos (1993), que os define como a junção de operações mentais e processos
adotados nas investigações que seguem linha lógica.
Fundamentando-se este estudo, nos conceitos relacionados à metodologia científica, a pesquisa classifica-se como
aplicada, por basear-se no conhecimento prático para a solução do problema pontual que se constitui em como utilizar na
modalidade construtiva, o resíduo container, oriundo do descarte marítimo, após atingir sua vida útil no transporte de
cargas.
Adotando para este, abordagem qualitativa, por se tratar de ramo pouco difundido no Brasil, exibindo restrições
bibliográficas, legislação nacional específica e de construtoras que utilizem o CM como elemento estrutural para
edificações.
Sua classificação quanto aos fins enquadra-se como exploratório, devido ao pouco conhecimento acumulado para a
utilização dos containers marítimos como metodologia construtiva para residências. E em quanto aos meios, enquadra-se
como estudo de caso por proporcionar conhecimento amplo sobre um tipo específico de sistema construtivo.
O universo pesquisado constitui-se de uma empresa de Belo Horizonte/MG atuante na indústria da construção civil, a
qual possui entre os seus segmentos de negócios a utilização de containers como sistema construtivo para residências. A
amostra foi a unidade de container marítimo, modelo high cube 40’.
Para a elaboração do estudo, foram realizadas visitas às dependências da empresa, especialmente ao galpão, onde ocorre
a estruturação e a transformação do CM em residência. Ocorreram entrevistas semiestruturadas aos engenheiros
responsáveis pelo projeto e pesquisas documentais no arquivo empresarial.
A análise dos dados procedeu através da consolidação dos documentos fornecidos pela empresa, comparando-os as
referências bibliográficas. Para isso, foram criadas pelos autores, planilhas de controle base, incluindo quantitativos de
recursos, tempo de execução, exigências de desempenho e geração de resíduos. Promovendo a criação de gráficos, tabelas
RESULTADOS
Para a construção de residência em Belo Horizonte – MG, a empresa Sader Engenharia Ltda utilizou como base, um
container High Cube de 40 pés, remodelando-o para residência unifamiliar de 29,74 m² (Comprimento: 12,19m, largura
2,44 m e altura: 2,9 m). Neste, é contemplado um quarto, um banheiro e uma cozinha conjugada com a sala, conforme
Figura 1.
Para a aquisição do container marítimo deste projeto, o proprietário da Sader Engenharia contatou a empresa especializada
em vendas de container marítimo, a qual possui sede na cidade de Santos-SP. Nesta, foi realizada triagem do CM,
eliminando os containers que possuíam visivelmente ataques químicos e principalmente chapas danificadas, o que
acarretaria interferência direta no prumo das paredes internas e a redução do espaço útil da residência em container
marítimo (RCM).
O CM foi transportado da cidade de Santos - SP para Belo Horizonte - MG através de carreta com adaptação de pino
Lock, sendo descarregado no galpão da empresa Sader Engenharia por meio de caminhão munck. Este local é equipado
com oficina de serralharia, em condições para evitar ocorrências climatéricas desfavoráveis, permitindo maior controle
dos defeitos da produção e maximizando o rendimento em comparação aos trabalhos efetuados diretamente no canteiro
de obra.
Em relação a logística para a instalação do CM no local, considerou-se primordialmente a altura da rede elétrica pública,
a dimensão das vias de acesso e o horário de menor trânsito de veículos, com o objetivo de permitir a manobra da carreta
e do caminhão munck. Estas analises foram cruciais para a viabilização do projeto.
Os resíduos predominantes gerados nos processos, consistiram em recortes, pedaços e fragmentos de: aço corten; PVC;
conduítes; gesso acartonado; lã de vidro; tubo metálico, embalagens de papelão; ecogranito; cerâmica branca; perfis
metálicos; pó de madeira e embalagem metálica dos produtos utilizados (tintas, verniz, entre outros).
Como não há legislação específica brasileira para a construção da RCM, seguiu-se as leis vigentes relacionadas a
edificações, dentre estas, a NBR 15575:2013 - Norma de desempenho para construção residencial.
A verificação dos parâmetros de desempenho, se deu mediante a aferição das características térmicas, acústicas, lumínica
e de umidade no local de sua instalação, localizado em uma das principais avenidas de Belo Horizonte, MG (Avenida
Amazonas). As medições foram realizadas no período entre 09:05 hs ás 16:25 hs, em momentos variados durante a jornada
da pesquisa e em pelo menos seis pontos distintos da área ao redor da residência e em seu interior.
Com o intuito da comparação mais efetiva dos dois tipos construtivos, os autores não utilizaram os dados relacionados a
infraestrutura. Esta ação almejou promover uma checagem mais assertiva entre os processos, sem beneficiar uma ou outra
modalidade, por serem instaladas em solos com parâmetros geotécnicos diferentes.
Referente aos custos, verifica-se que a realização da RCA exigiu R$ 59.126,19, sendo que a etapa, Paredes e vedações,
nesta modalidade construtiva exibiu a maior variação, desembolsando além R$ 6.718,07 em relação a RCM. Já a RCM
demandou R$ 46.398,22, apresentando uma variação no custo final de R$ 12.727,97, conforme apresentado por etapas
no Figura 4.
Ressalta-se que nestes valores, não são contemplados os materiais e serviços relacionados a infraestrutura e a aquisição
do terreno.
As etapas consideradas para a elaboração dos custos foram as mesmas utilizadas para o estudo do tempo. Verifica-se que
o prazo apontado na construção de uma RCA foi de 118,5 dias. Enquanto a RCM exigiu 82 dias, contemplando o processo
de aquisição e customização, proporcionado uma diferença de 36,5 dias, conforme demonstrado no Figura 5.
Na comparação apresentada na Figura 06, constata-se a proporção de madeira 0,310 m³/m² maior para a RCA, sendo a
geração do resíduo de gesso acartonado 0,121 m³/m² superior na RCM.
Desconsiderando a classificação por tipo de material, verifica-se que a RCA produziu 1,428 m³/m² de resíduos no total,
ocasionando uma geração de 0,823 m³/m² acima do valor apresentado na RCM que foi de 0,605 m³/m² edificado.
CONCLUSÕES
A utilização de container marítimo apresenta-se compatível com os princípios que regem a ecoeficiência construtiva,
portanto, torna-se viável o seu reuso para fins residenciais. A reutilização deste como residência, promove benefícios,
como a redução do seu descarte no meio ambiente, menor quantidade de recursos para sua customização em comparação
a construção em concreto armado e a diminuição da quantidade de resíduos gerados.
Observa-se que o projeto desta RCM, qualificou-se com algumas ressalvas dentro das metas de desempenho de
funcionalidade e acessibilidade, estanqueidade e vida útil do projeto, conforme parâmetros exigidos na NBR 15575:2013,
apresentando vantagens em relação a RCA nos três (03) indicadores avaliados (quantidade de resíduos gerado, tempo e
custo) conforme o cenário estudado nesta empresa e ilustrado na Figura 7.
Por sua vez, o CM apresenta diferencial de flexibilidade em relação a metodologia construtiva em concreto armado,
permitindo ser transportado para qualquer outro ambiente após sua construção.
Deve-se ressaltar que, através da quebra dos paradigmas e do desenvolvimento científico, surgirão métodos construtivos
que impactem positivamente para a redução dos resíduos e consumo de recursos, consolidando os conceitos de
sustentabilidade à realidade das práticas executivas do setor da construção civil.
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Nacional. 2. ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.
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8. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2016.
9. KOTNIK, J. Container Architecture. Barcelona: Links, 2008. 253 p.
10. LAURINO. Lucas Amaral. Gestão sustentável de resíduos da construção civil. Fundação Dom Cabral. 2012.
11. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. . Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1993
12. PAIS, Andreia A. V. e Rodrigues, Paulo Fernando. Desenvolvimento Sustentável: A problemática do
desenvolvimento sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002.Porto. Faculdade de Economia da Universidade do
Porto. 2002
13. RANGEL, Juliana. Construção em contêiner: Vantagens e Desvantagens. 2015. Disponível em: <
https://sustentarqui.com.br/dicas/construcao-em-conteiner >. Acesso em 24 out. 2017.
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