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ISSN 1808-5733

Atualidade da obra de Tomás de Aquino


Tomás de Aquino's presente time work

Ivanaldo Santos1 - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Abstract: This study aims to show Tomás de Aquino's present time work. It was taken as
reference in the contemporary history of the studies and the importance by Tomás
de Aquino's work, Leo XVIII’s Aeterni Patris publication. From it was seen the
possibility by Tomás de Aquino’s work is a critical channel to a group of
important modern thinkers, such as Kant, Heidegger, Husserl e Wittgenstein.
Moreover, Thomás de Aquino’s work is important to think about the
contemporary problems, both of classical origin and modern, such as the logic,
the method and language. Finally, it is asserted that Tomás de Aquino’s surprising
present time in the 21st century has shown that this thinker of Middle Age
created a lasting work which is always current.
Key-words: Tomás de Aquino. Thought. Presente Time.

Resumo: O objetivo desse estudo é apresentar a atualidade da obra de Tomás de Aquino.


Toma-se como marco na história contemporânea dos estudos e da importância da
obra de Tomás de Aquino a publicação da Aeterni Patris de Leão XVIII. A partir
daí vislumbra-se a possibilidade da obra de Tomás de Aquino ser um canal de
crítica a um grupo de importantes pensadores modernos, como Kant, Heidegger,
Husserl e Wittgenstein. Além disso, a obra de Tomás de Aquino é fundamental
para se pensar os problemas da contemporaneidade, tanto os problemas de origem
clássica como os modernos, como a lógica, o método e a linguagem. Por fim,
afirma-se que a surpreendente atualidade de Tomás de Aquino, em pleno século
XXI, demonstra que esse pensador da Idade Média criou uma obra perene, ou seja,
sempre atual.
Palavras-chave: Tomás de Aquino. Pensamento. Atualidade.

Inicialmente é necessário esclarecer que o presente estudo é a versão


scientific article da palestra de abertura da Semana de Filosofia do Curso de
Filosofia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), que
ocorreu em Lorena, São Paulo, no período de 23 a 25 de maio de 2016. Um
agradecimento especial é realizado ao Dr. Mario Dias, coordenador do Curso
de Filosofia da UNISAL e organizador da Semana de Filosofia, e ao Dr. Lino
Rampazzo, líder do grupo de Pesquisa Ética e Direitos Fundamentais da
UNISAL.

1
Filósofo, pós-doutorado em estudos da linguagem pela USP, doutor em estudos da
linguagem pela UFRN, professor do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-
Graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). E-
mail: [email protected].

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O objetivo desse estudo é apresentar, de forma didática e, muitas vezes,


rápida, a atualidade da obra de Tomás de Aquino. Esse objetivo está no
centro das preocupações da Semana de Filosofia da UNISAL, em 2016, a qual
teve por tema: a Atualidade de São Tomás de Aquino. Apenas é esclarecido que o
tema da atualidade de Tomás de Aquino2 vem sendo debatido, com profundidade,
por pesquisadores tomistas, escolásticos e seguidores de outras escolas e
teorias filosóficas.
Tomás de Aquino (1225-1274) foi um frade dominicano que viveu na
Itália no século XIII. É o maior pensador da escolástica e da Idade Média.
Geralmente ele é lembrado, nos manuais de filosofia, como autor da Suma
Teológica, mas além desse importante livro, produziu vários outros (Suma Contra
os Gentios, Suma de Teologia, etc), dezenas de estudos sobre temas diversos,
como, por exemplo, a ética, a lógica, o belo e o sumo bem; produziu uma
coleção de centenas de sermões, textos curtos e opúsculos. A obra completa
do Aquinate pode ser encontra no site: http://www.corpusthomisticum.org/.
Trata-se de uma gigantesca obra que ajudou a compor e influenciou a Idade
Média, a modernidade e o pensamento contemporâneo.
Começa-se esclarecendo dois pontos fundamentais para o debate
proposto.
O primeiro é que não se propõe e não se discute o conceito de tomista e
as derivações desse conceito (neotomista, pesquisador tomista, etc)3. Limita-se
a apresenta apenas a atualidade da obra de Tomás de Aquino.

2
Sobre o tema da atualidade de Tomás de Aquino, recomenda-se consultar: BEUCHOT, M. A
atualidade da filosofia tomista para à filosofia analítica. In: Àgora Filosófica, ano 10, n. 1,
jan./jan. 2010, p. 95-109. BARBUY, V. E. V. Importância e atualidade da obra de Santo
Tomás de Aquino. In: POVEDA, I. M. Aspectos do direito na obra de Santo Tomás de Aquino.
São Paulo: USP, 2013. FABRO, C. Santo Tomás de Aquino: ontem, hoje e amanhã
(entrevista concedida à revista Palabra, n. 103, Madri, março de 1974). In: Hora Presente, ano
VI, n. 16, São Paulo, setembro de 1974, p. 246-254. PIEPER, J.; JAKOSCH, A. A
atualidade da escolástica: uma retrospectiva (1959). In: Lumen Veritatis, Revista de
Inspiração Tomista, v. 6, n. 25, p. 101-108, 2013. MONDIN, B. Grandeza e atualidade de São
Tomás de Aquino. Bauru: EDUSC, 1998. CAMPOS, F. A. Tomismo hoje. São Paulo: Loyola,
1989. COSTA, E. F. A atualidade de São Tomás de Aquino. In: Estudos do Instituto de
Pesquisas Filosóficas Santo Tomás de Aquino. Recife: Círculo Católico de Pernambuco, 2001.
FAITANIN, P.; ALARCÓN, E. Atualidade do tomismo. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2008.
ALVES, A. M. R. Ser e Dever-ser: Tomás de Aquino e o debate filosófico contemporâneo. São Paulo:
Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lulio”, 2015.
3
Sobre o conceito de tomista e suas respectivas derivações, recomenda-se consultar:
FAITANIN, P. A filosofia tomista In: Aquinate, Niterói, n. 3, 2006, p. 133-146.
FAITANIN, P. O que é tomismo? In: Instituto Aquinate, 2010. Disponível em
http://www.aquinate.net/portal/Tomismo/Tomismo-significado/tomismo-
significado3edicao.htm. Acessado em 16/03/2010. ELÍAS DE TEJADA, F. Porque
somos tomistas: da Teologia à Política. Comunicação apresentada ao Convegno di Studi
per la celebrazione di San Tommaso d’Aquino nel VII Centenario, realizado em Gênova
em 1974. In: Hora Presente, ano VI, n. 16, São Paulo, setembro de 1974, p. 93-103. DIAS, J.

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O segundo é que didaticamente é possível dividir a escolástica em


quatro períodos históricos, sendo eles:

1) Escolástica medieval. Ela vai do século IX ao XV. É o período


de formação e de desenvolvimento dos grandes temas e teses da
escolástica. A escolástica medieval compreende três períodos: o da
formação (desde o século IX até fins do século XII); o apogeu
(1220 a 1347), época da fundação dos grandes sistemas escolásticos,
e o de decadência (até últimos anos do século XV), caracterizado
pela reprodução das doutrinas da fase precedente.4

2) Escolástica tardia, também conhecida como escolástica moderna,


escolástica barroca ou segunda escolástica. Quando se fala de
segunda escolástica, deve-se entender o pensamento desenvolvido,
segundo a metodologia escolástica, durante os séculos XVI e
começos do XVII, durante os quais esta forma de pensamento
alcança um grande nível intelectual.

3) Período de decadência. Esse período é marcado principalmente


pelo século XVIII. Nesse século há um grande interesse, entre
outros temas, pela filosofia de Descartes, pelos novos sistemas
filosóficos desenvolvidos por Kant e Hegel e pelo Iluminismo. Por
causa disso passa a haver uma crítica e até mesmo um espírito de
hostilidade contra a escolástica.

4) Neoescolástica. Período que vai, oficialmente, da publicação da


encíclica Aeterni Patris, do Papa Leão XIII, no dia 4 de agosto de
1879, ou seja, na segunda metade do século XIX, até os dias atuais.
De acordo com vários estudiosos5, essa encíclica provocou uma
grande profusão de estudos sobre a escolástica e, por conseguinte,
o surgimento de universidades e outros centros de estudos e de
cultura voltados para a pesquisa em torno de temas que envolvem o
pensamento escolástico. É por causa disso que se deve
compreender que a escolástica não é uma escola de pensamento
presa a Idade Média, mas está presente, entre outras formas de

C. Por que ser tomista? In: Lumen Veritatis, Revista de Inspiração Tomista, n. 1,
outubro/dezembro 2007.
4
LARROYO, F. História geral da pedagogia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
5
CAMPOS, F. A. Tomismo hoje. São Paulo: Loyola, 1989, p. 34-3. ROVIGHI, S. V. História
da filosofia contemporânea. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 650. HIRSCHBERGER, J.
História da filosofia contemporânea. São Paulo: Herder, 1963, p. 128. COSTA, E. F. A
atualidade de São Tomás de Aquino. In: Estudos do Instituto de Pesquisas Filosóficas Santo Tomás
de Aquino. Recife: Círculo Católico de Pernambuco, 2001, p. 30.

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manifestação, na sociedade contemporânea6. Nessa encíclica Aeterni


Patris o Papa Leão XIII recomenda, entre outras coisas, a
restauração e um renascimento dos estudos escolásticos. Para ele,
na modernidade, é preciso haver um renascimento dos estudos
aprofundados sobre o homem, Deus, a natureza e o cosmo. E uma
das melhores correntes filosóficas que podem proporcionar tal
renascimento é a escolástica. Justamente a escolástica, que é a “[...]
filosofia, da qual, sem dúvida, em grande parte depende a reta razão
das outras ciências”7. É por esse motivo que o Papa Pio X
recomenda que nos seminários e demais casas de formação eclesial
para padres e outras modalidades de religiosos católicos que se
“ponha, como fundamento dos estudos sagrados, a filosofia
escolástica”8.

Baseado nessa divisão histórica, sem entrar em pormenores ou


polêmicas conceituais e teóricas, adota-se o ano de 1879, com a publicação da
encíclica Aeterni Patris9, como um marco na história contemporânea dos
estudos e da importância da obra de Tomás de Aquino. Apontam-se dois
fundamentais motivos para essa encíclica ser tão importante. Primeiro, ela foi
um documento essencial para a retomada, na modernidade, dos estudos,
pesquisas e reflexões da e sobre a obra de Tomás de Aquino. Segundo, o
espírito desse documento é que para se investigar, se compreender e até mesmo
superar o pensamento filosófico moderno é necessária uma Ida a Tomás, ou
seja, uma retomada dos estudos do corpus tomista.
Com relação à atualidade da obra de Tomás de Aquino é necessário ver
que se trata de uma das raras obras, dentro da história das ideias e da história
da filosofia, que podem ser consideradas como um arquipélago, ou seja, uma
obra que aborda um grande número de problemas (Ser, Deus, o sumo bem,

6
JUNGES, M.; CULLETON, A. Os “velhos escolásticos” continuam presentes. In: IHU
On-Line, Revista do Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 03 de dezembro de 2010,
Ano X, n. 342, p. 6-10.
7
LEÃO XIII, P. Aeterni Patris. Da instauração da filosofia cristã nas Escolas Católicas, segundo a
mente de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. In: Aquinate, Niterói, n. 12, 2010, p. 117-
151.
8
PIO X, P. Moto Próprio Doutor Angélico. Sobre a promoção da doutrina de S. Tomás de Aquino nas
escolas católicas. In: Aquinate, Niterói, n. 11, 2010, p. 111-120.
9
Sobre a importância da encíclica Aeterni Patris para a renovação, a restauração e a
atualidade da obra de Tomás de Aquino, recomenda-se consultar: ALENCAR, F. L. A
Encíclica Aeterni Patris e o movimento de restauração da filosofia tomista. In: The Chesterton
Review, Edição em Português, v. 2, n. 1, p. 107-134, 2010. DEZZA, P. Alle origini del
neotomismo. Milano: Fratelli Bocca, 1940. LOBATO, A. León XIII y el neotomismo. In:
BARQUILLA, J. B.; GARCIA, A. G. (Coord.). León XIII y su tiempo. Salamanca:
Universidad Pontificia de Salamanca, Servicio de Publicaciones, 2004.

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ética, política, governo, lógica, problemas do mundo físico, etc) e que esses
problemas foram e continuam a ser investigados pela filosofia.10
Por causa disso, desde o ano de 1879, passando por todo o século XX,
até chegar às primeiras décadas do XXI, foi desenvolvido um fecundo diálogo
entre o pensamento de Tomás de Aquino, sem entrar nas querelas e polêmicas
que envolvem os comentadores, interpretes e historiadores dessa obra, e as
correntes do pensamento contemporâneo ligado à filosofia e as
humanidades.11
Esse é o motivo central da obra do Aquinate está, de um lado, ligada a
Idade Média, a escolástica e aos demais movimentos socioculturais medievais,
Nesse sentido, Tomás de Aquino é m pensador medieval. No entanto, do
outro lado, sua obra está ligada aos grandes problemas da filosofia e da
humanidade, ela ajuda a repensar, e reposicionar e até mesmo a construir
novos espaços, novas discussões em torno dos problemas clássicos
filosóficos.12
Em grande medida, o renascimento dos estudos tomistas, tendo como
um dos eixos motores a Aeterni Patris, provocou uma espécie de revolução. Não
se trata de uma revolução armada ou algo semelhante, mas do fato de que tanto
dentro do universo católico, eclesial e, de certa forma, (neo)escolástico, como
principalmente dentro das estruturas culturais, artísticas e sociais da sociedade,
houve um profundo incremento da obra do Aquinate. Ao mesmo tempo, esse
incremento tem provocado, ao redor do mundo, o surgimento de
universidades, de centros de estudos, centros cultuais, de revistas
universitárias e culturais e de uma série de atividades e ações, no campo
eclesial e civil, visando uma maior integração entre o pensamento neotomista,
a sociedade civil e a cultura, seja essa cultura a clássica e/ou moderna.13
Esse renovado interesse pela obra de Tomás de Aquino teve como uma
das consequências positivas o surgimento de uma série de escolas, de círculos
e de grupos que, com intuições e interesses diversos, ajudaram a renovar e
aprofundar os debates sobre os problemas da modernidade, especialmente do
século XX e XXI, do ser humano e da Igreja. Entre esses grupos é possível
citar, por exemplo, o Círculo de Cracóvia, na Polônia, um importante grupo
de investigação sobre a lógica, a matemática e o método científico que
realizava suas pesquisas a partir da obra de Tomás de Aquino; nesse círculo
destaca-se a figura do lógico tomista Józef Maria Bocheński, um dos mais
importantes lógicos do século XX, Escola Tomista de Lublin, também na
Polônia, fundada pelo teólogo tomista Karol Józef Wojtyła – o Papa João
Paulo II –; Círculo de Notre Dame, nos EUA, Círculo de Louvain, na Bélgica,
10
STRATHERN, P. São Tomás de Aquino em 90 minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
11
VAN ACKER, L. O tomismo e o pensamento contemporâneo. São Paulo: Convívio, 1983.
12
FAITANIN, P. A Sabedoria do Amor. Iniciação à Filosofia de Santo Tomás de Aquino. Niterói:
Instituto Aquinate, 2008.
13
TRUC, G. Le retour à la Scolastique. Paris: La Renaissance du Livre, 1919. AMEAL, J. A
revolução tomista. Braga, Portugal: Cruz, 1952.

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Círculo Tomista de Beuron, na Alemanha, o qual tem como um dos seus


membros mais ilustres a importante filósofa contemporânea Edith Stein,
Círculo Tomista de Lisboa e de Coimbra, ambos em Portugal, Escola
Gregoriana, em Roma, Círculo Tomista de Buenos Aires, na Argentina e
grupos tomistas espalhaos nas principais cidades do Brasil (Rio de Janeiro,
Recife, São Paulo, Porto Alegre, etc).
Com isso, é possível se afirmar que a obra do Aquinate, fortemente
presente no século XXI14, especialmente dentro do ambiente universitário15,
inflienciou a cultura e o debate das ideias em vários países, como, por
exemplo, EUA16, Itália17, Colômbia18, México19 e Brasil20.
Além disso, importantes pensadores do século XX e XXI foram
influenciados e produziram suas obras por meio da influência e da pesquisa
rigorosa da obra do Aquinate. Entre esses pensadores é possível citar, por
exemplo, Étienne Gilson, Cornelio Fabro, Jacques Maritain, Anthony Kenny,
Battista Mondin, Józef Maria Bocheński, Karol Józef Wojtyła – o Papa João
Paulo II –, Edith Stein, Josef Pieper, Peter Thomas Geach, John Haldane,
Mario Micheletti e Frederick D. Wilhelmsen.
Já no tocante ao panorama brasileiro21, ou seja, as pesquisas e aos mais
importantes intelectuais do Brasil influenciados por Tomás de Aquino, é
possícel citar, por exemplo, Leonardo Van Acker, Fernando Arruda Campos,
Alexandre Correia, Dom Odilão Moura, Urbano Zilles, Gustavo Corção e
Henrique Cláudio de Lima Vaz.
Logo após a publicação da Aeterni Patris, em 1879, um despertar de
pesquisas e de publicações (livros, artigos científicos, etc) sobre os pontos de
diálogo e, ao mesmo tempo, a possibilidade da obra de Tomás de Aquino ser
um canal de crítica a um grupo de importantes pensadores modernos.
Baseado nesse processo de diálogo e de crítica surgiu, dentre outros, o

14
SANTOS, I. Estudos Tomistas para o Século XXI. João Pessoa: Ideia, 2013.
15
SANTOS, I. A presença de Tomás de Aquino nas universidades. In: Aquinate (Niterói), v.
21, p. 14-24, 2013.
16
VALBUENA, O. P. Actualidad de la filosofía escolástico-tomista en Norteamérica. In:
Salmanticensis, N. 2, 1955, p. 90-102.
17
VIA, V. La. La piú recente attivitá neo-scolastica in Italia. In: Giornale Critico della Filosofia
Italiana, 1923, p. 231-271.
18
ANDRADE, C. V. El movimiento neotomista. In: Thesaurus, Colômbia, Tomo XL, N. 2,
1985, p. 328-348.
19
BEUCHOT, M. El tomismo en el México del siglo XX. México: UNAM-UIA, 2004.
ROBLES, O. El movimiento filosófico neo-escolástico en México. In: Filosofía y Letras, N.
23, 1946.
20
ZILLES, U. A filosofia neotomista e sua influência no Brasil. In: Grandes tendências da
filosofia do século XX e sua influência no Brasil. Caxias do Sul: EDUCS, 1987.
21
VÉLEZ-RODRÍGUEZ, R. Panorama do pensamento político brasileiro na
contemporaneidade. In: Pensado de La Mancha, 2015.

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tomismo kantiano (diálogo e crítica da obra de Kant)22, o tomismo


heidegeriano (diálogo e crítica da obra de Heidegger)23, o tomismo
fenomenológico (diálogo e crítica da fenomenologia desenvolvida por
Edmund Husserl)24, o tomismo wittgenstariano (diálogo e crítica a obra de
Wittgenstein)25 e uma equilibrada postura de denúncia e de crítica aos erros e
aos limites do marxismo26.
O processo de diálogo e de crítica entre o Aquinate e o pensamento
moderno continua até os dias de hoje. No entanto, por razões diversas, que
não serão abordadas nesse estudo, a partir da década de 1950 cresce o
interesse de filósofos não alinhados diretamente com o tomismo, com a
escolástica e com os estudos medievais em torno da obra de Tomás de
Aquino.
Esse interesse provocou uma onda de diálogos, estudos e investigações
sobre a obra de Tomás de Aquino e os problemas filosóficos centrais na
contemporaneidade. É difícil enumerar, de forma detalhada, todas as áreas e
problemas que foram abarcadas por essa onda de estudos sobre e com o corpus
tomista. Por exemplo, houve estudos tanto clássicos (Deus, o ser, a matéria, o
sumo bem, etc) como também modernos (lógica, método, linguagem, etc).
Didaticamente será apresentado um pequeno conjunto de cinco problemas
que foram investigados tendo por base a obra de Tomás de Aquino.
22
MIRANDA, M. C. T. O ser da matéria: estudo em Kant e Tomás de Aquino. Recife:
Universitária, 1976. SILVEIRA, C. F. G. C.; SOUZA SALLES, S. Natureza humana e
projeto: o pseudodilema kantiano e a originalidade tomista. In: Revista Portuguesa de Filosofia,
p. 391-410, 2012.
23
HEIDEGGER, M. História da filosofia, de Tomás de Aquino a Kant. Petrópolis: Vozes, 2009.
CAPUTO, J. D. Heidegger e a teologia. In Revista Perspectiva Filosófica, v. 2, p. 26-36, 2007.
LEPARGNEUR, H. Heidegger e Tomás de Aquino: uma alternativa no tocante ao ser.
In: Síntese, Revista de Filosofia, v. 25, n. 81, 2015. MARTINS, D. S. Tomás e Heidegger.
In: Revista Portuguesa de Filosofia, p. 21-44, 1953.
24
STEIN, E. ¿Qué es filosofía?: un diálogo entre Edmund Husserl y Tomás de Aquino. Madri:
Ediciones Encuentro, 2001. QUADROS, E. M. O método fenomenológico e a mística.
In: Revista Espaço Acadêmico, v. 13, n. 149, p. 36-42, 2013. CAMPOS, F. A. Tomismo de
Edith Stein: um diálogo com a fenomenologia de Husserl. In: Convivium, v. 49, n. 6, 1982, p.
528-534. FAITANIN, P. A “individuação da pessoa” em Edith Stein: o legado de Husserl e
de Tomás de Aquino. In: Coletânea, Revista do Mosteiro de São Bento, Rio de Janeiro, Ano
II, Fasc. 4, 2003, p. 163-176. SANTOS, I. O tomismo fenomenológico de Edith Stein. In:
Notandum (USP), v. XV, p. 101-110, 2012.
25
SALUCCI, A. Notas sobre Wittgenstein, São Tomás de Aquino e o "Mentalismo". In:
Lumen Veritais, v. 4, n. 16, 2011. VEIGA, B. Crítica à ontologia do Tractatus a partir do
realismo de Tomás de Aquino. In: Aquinate, n. 14, 2011, p. 51-62.
26
CAMPOS, F. A. Realismo tomista e realismo marxista. In: Revista Brasileira de Filosofia,
julho-dezembro, 1980, p. 297-305. CAMPOS, F. A. O tomismo no diálogo com o
marxismo a respeito do problema de Deus. In: Revista Brasileira de Filosofia, outubro-
dezembro, 1976, p. 411-426. CORREIA, A. O tomismo é incompatível com o marxismo. Rio de
Janeiro: Colégio Pedro II, 1976. SANTOS, I. Tomás de Aquino e a Teologia da Libertação:
aproximações e impossibilidades. In: Coletânea, Rio de Janeiro, ano X, Fasc. 20, jul./dez.
2011, p. 249-266.

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O primeiro problema é a lógica. Trata-se de um problema central na


filosofia produzida no século XX. Tomás de Aquino ajudou a interpretar o
pensamento de Gottlob Frege27, apontado como o fundador da lógica
moderna e um dos maiores filósofos da linguagem do século XX. Sem contar
que por meio da obra do Aquinate foram desenvolvidas importantes pesquisas
no campo da lógica, formando o que se convencionou chamar de tomismo
lógico28. Uma das grandes contribuições da obra de Tomás de Aquino a
filosofia contemporânea é exatamente aos estudos da lógica.
O segundo problema é a filosofia analítica e os estudos no campo da
linguagem.
De um lado, um dos mais importantes campos de investigação da
contemporaneidade é a filosofia analítica e suas respectivas investigações
ligadas, dentre outras, as questões do método, da ciência, da linguagem e
todos os campos de aplicação dessas questões no mundo sociocultural. A obra
de Tomás de Aquino, um dos arquipélagos da filosofia, não poderia ficar parada
diante do desenvolvimento, dos problemas e dos debates promovidos pela
filosofia analítica. Com isso, surge no século XX e XXI o tomismo analítico29.
Essa corrente do tomismo tem a missão de dialogar, criticar e aprofundar os
debates promovidos pela filosofia analítica.
Do outro lado, o século XX foi o século da investigação em torno da
linguagem, fala-se até de um giro ou virada linguística30 nesse século. Esse giro

27
LEME, C. T. Teoria da linguagem em Santo Tomás de Aquino e em Gottlob Frege:
algumas possíveis aproximações. In: Pandora Brasil, n. 59, outubro, 2013, p. 1-16.
28
Sobre o tomismo lógico, consultar: SCHMIDT, R. W. The Domain of Logic according to Saint
Thomas Aquinas, The Hague: Nijhoff, 1966. RODRÍGUEZ, J. L. F. Metafisica y lógica: estúdios
sobre Tomás de Aquino. Universidad de Navarra: Navarra, 1991. BOCHENSK, I. M.
Problemas e perspectivas da história da lógica. In. Aquinate, n. 7, 2008. LANDIM FILHO,
R. F. Predicação e Juízo em Tomás de Aquino. In: Kriterion (UFMG. Impresso), Belo
Horizonte, v. XLVII, n. 113, p. 27-49, 2006. LANDIM FILHO, R. F. A Questão dos
Universais segundo a Teoria Tomista da Abstração. In: Analytica (UFRJ), v. 12, p. 11-33,
2008. LANDIM FILHO, R. F. Tomás de Aquino: Realista Direto?. In: Analytica (UFRJ), v.
15, p. 13-38, 2011.
29
Sobre o tomismo analítico recomenda-se consultar: BERTI, E. Il "tomismo analitico" e il
dibattito sull'Esse ipsum. In: BERTI, E. Nuovi studi aristotelici. Vol. IV/2, L’influenza di
Aristotele. Brescia, Morcelliana, 2009. CASTRO, S. J. En torno, al tomismo analítico. In:
Estudios Filosoficos, 2000, v. 49, n. 140. POUIVET, R. Le thomisme analytique, à Cracovie et
ailleurs. In: Revue Internationale de Philosophie, LVII, 2003, p. 251-270. PÉREZ DE
LABORDA, M. Tomismo Analítico, en Fernández Labastida, F. – Mercado, J. A.
(editores), Philosophica: Enciclopedia Filosófica On Line, URL:
http://www.philosophica.info/archivo/2007/voces/tomismo_analitico/Tomismo_Analiti
co.html. Acessado em 16/06/2009. MICHELETTI, M. Tomismo analítico. Aparecida: Ideias
& Letras, 2009. SANTOS, I. O tomismo analítico. In: Aquinate (Niterói), v. 14, p. 20-30,
2011. SANTOS, I. A relação entre o neotomismo e o tomismo analítico. In: Ágora Filosófica
(UNICAP. Impresso), v. 1, p. 43-54, 2010. SANTOS, I. Precursores brasileiros do
tomismo analítico. In: Studium (Instituto Salesiano de Filosofia), v. 22, p. 175-201, 2008.
30
RORTY, R. El giro linguistico. Madri: Paidos, 1990.

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aconteceu porque, no século XX, a linguagem tornou-se o centro das


preocupações investigativas da filosofia, uma espécie de filosofia primeira em
nível linguístico. Grandes escolas de pensamento, grandes projetos de
pesquisa e debates foram desenvolvidos, em várias partes do mundo,
incluindo os grandes centros de pesquisa na Europa e nos EUA, em torno da
linguagem. Mais uma vez o tomismo é convocado a contribuir com esse
importante debate. Isso levou ao surgimento de um tomismo linguístico31 que,
além de ter a linguagem como fonte central de suas preocupações,
desenvolveu um diálogo com importantes filósofos da linguagem, como, por
exemplo, Mikhail Bakhtin32 e teóricos da pragmática linguística como John
Austin e John Searle33.
O terceiro problema são os debates e as investigações envolvendo a
educação e, por conseguinte, a filosofia da educação. Os séculos XX e as
primeiras décadas do XXI presenciaram um intenso debate filosófico, e
também no campo das demais áreas das humanidades (história, direito,
sociologia, etc), em torno da educação. Os motivos desse interesse não serão
abordados no presente estudo. No entanto, é necessário frisar que as
perguntas socráticas – O que ensinar? Como ensinar? –; voltaram novamente
ao centro do debate no campo das ideias. A obra de Tomás de Aquino, que
desde a sua formulação original sempre se preocupou com os problemas
ligados a educação e a filosofia da educação, tornou-se um dos eixos para a
fundamentação, reflexão e compreensão dos problemas e dilemas que a
educação enfrenta no mundo contemporâneo. Por isso, afirma-se que uma
das grandes contribuições para uma análise mais acurada dos problemas da
educação e da filosofia da educação na sociedade atual foi dada pela obra do
Aquinate.34

31
Sobre as pesquisas do tomismo em torno da linguagem, recomenda-se consultar: BRASA
DÍEZ, M. Tomás de Aquino y el análisis linguística. In: Studium, n. 16, 1976. ROIG
GIRONELLA, J. La filosofia del linguaje y la filosofia aristotélica de Tomás de Aquino. In:
Pensamento, n. 28, 1972. LAUAND, J. Revelando a linguagem. São Paulo:
Factash/CemorocFeusp, 2015. SANTOS, I. Linguagem e epistemologia em Tomás de Aquino.
João Pessoa: Ideia, 2011. SANTOS, I. Tomás de Aquino e a semântica tradicional. In:
Aquinate (Niterói), v. 20, p. 28-38, 2013. SANTOS, I. Linguagem e conhecimento na Suma
Teológica de Tomás de Aquino. In: Notandum (USP), v. XIV, p. 127-138, 2011.
32
SANTOS, I. O enunciado: uma aproximação entre Tomás de Aquino e Mikhail Bakhtin.
In: Perspectiva Filosófica (UFPE), v. 1, p. 141-156, 2011.
33
SANTOS, I. A linguagem na escolástica medieval: a perspectiva de Tomás de Aquino. In:
Mirabilia (Vitória. Online), v. 16, p. 134-155, 2013.
34
LAUAND, J. Abordagens Filosóficas - Educação e Linguagem. São Paulo:
Factash/CemorocFeusp, 2015. LAUAND, J. (Org.). Cultura e Educação na Idade Média. 2. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2013. LAUAND, J.; HIROSE, C. (Orgs.). Filosofia e Educação:
Interfaces. São Paulo: Factash/CemorocFeusp, 2011. LAUAND, J. Filosofia, Linguagem, Arte
e Educação: 20 conferências sobre Tomás de Aquino. São Paulo:
Factash/ESDC/CEMOrOc, 2007. LAUAND, J. En diálogo con Tomás de Aquino. Madrid:
Ediciones del Orto, 2005.

AQUINATE, n. 29 (2016), 23-32. 31


ISSN 1808-5733

O quarto problema são os debates, problemas e desafios no campo da


ética, da bioética e dos direitos humanos. De um lado, a sociedade
contemporânea é marcada por um intenso debate sobre problemas – os quais
não serão abortados no presente estudo –, limites, possibilidades, avanços e
ameaças a dignidade da pessoa humana. A obra do Aquinate, que desde o
século XIII, está voltada para problemas ligados à ética, é convocada a ser, no
atual modelo societário, um espaço de debate, crítica, reflexão e a criação de
proposições que visam esclarecer e orientar os grandes debates no campo da
ética, da bioética35 e dos direitos humanos36.
O quinto e último problema é o que se convencionou chamar de pós-
modernidade. No presente estudo não se debate o conceito e se existe ou não
uma pós-modernidade. O fato concreto é que em vários países (EUA, Inglaterra,
França, Brasil, etc) pensadores tomistas e/ou seguidores de outras correntes
de pensamento tem se dedicado a pensar o conceito, os problemas e as
possibilidades de aplicação da pós-modernidade. Essas possibilidades de
aplicação são postas tanto no campo teórico como também dentro do mundo
sociocultural. Com esse amplo movimento tem-se, mesmo que de forma
provisória, um tipo de tomismo pós-moderno37.
Por fim, afirma-se que muito mais pode ser descrito e debatido sobre a
questão da atualidade da obra de Tomás de Aquino. Uma obra que tem
ajudado a realização e o desenvolvimento de importantes pesquisas dentro de
várias correntes da filosofia contemporânea (logica, filosofia da linguagem,
filosofia do direito, ética, bioética, etc) e de outras áreas das ciências humanas.
A surpreendente atualidade de Tomás de Aquino, em pleno século XXI,
demonstra que realmente esse pensador da Idade Média criou uma obra
perene, ou seja, sempre atual.

35
DERISI, O. N. Los fundamentos metafícios del ordem moral. 3 edición. Madrid: Instituto Luis
Vives de Filosofia, 1969. SANTOS, I. Tomás de Aquino e o aborto. In: TQ. Teologia em
Questão, v. X, p. 43-62, 2012. LAUAND, J. Teologia e Ética - estudos tomasianos. São Paulo:
CemorocFeusp - Factash, 2013.
36
MADEIRA, J. A escolástica e os direitos humanos. In: IHU On-Line, Revista do Instituto
Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 03 de dezembro de 2010, Ano X, n. 342, p. 30-32.
37
HIBBS, T. S. MacIntyre´s Postmodern Thomism”. In: The Thomist, n. 57, 1993, p. 277-
287. BEUCHOT, M. Actualidad de la filosofía tomista en la posmodernidad. In: SANTOS,
I. (Org.). Estudos Tomistas para o Século XXI. João Pessoa: Ideia, 2013, p. 22-31. DIP, R.
Segurança jurídica e crise pós-moderna. São Paulo: Quartier Latin, 2012.

AQUINATE, n. 29 (2016), 23-32. 32

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