Filosofia Medieval A Contemporanea
Filosofia Medieval A Contemporanea
Filosofia Medieval A Contemporanea
HISTÓRICO-
FILOSÓFICAS DA
EDUCAÇÃO FÍSICA
E DO ESPORTE
Wilian Bonete
UNIDADE 2
Correntes filosóficas:
da Idade Média à Idade
Contemporânea
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A filosofia medieval foi produzida num período histórico que vai do
século V ao XV. Nesse período, o catolicismo ganhou força a ponto de
orientar a produção intelectual e científica de diversas correntes filosóficas,
entre elas a escolástica. Na idade moderna, observamos a partir do século
XVI o surgimento de uma nova forma de pensamento, que coloca o ser
humano no centro das reflexões e busca romper com a visão religiosa de
mundo e de valores. Pensadores modernos como René Descartes e Francis
Bacon procuram atribuir sentido aos novos rumos da filosofia e da ciência
de seu período. Já na Idade Contemporânea, a partir do século XVIII, vemos
inúmeras reflexões sobre filosofia, ciência, sociedade e ser humano, por
meio de correntes filosóficas como a fenomenologia e do existencialismo.
Neste capítulo, você vai aprender mais sobre o pensamento filosófico
desenvolvido durante a Idade Média e a busca pela articulação entre fé e
razão. Você também vai compreender sobre o lugar das mulheres na filosofia,
a partir da figura de Hipácia de Alexandria. Além disso, lançaremos um
2 Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea
Sem risco de exagerar, pode-se dizer que o medievalismo se tornou uma espécie
de carro-chefe da historiografia contemporânea, ao propor temas, experimentar
métodos, rever conceitos, dialogar intimamente com outras ciências humanas.
Isso não apenas deu um grande prestígio à produção medievalística nos meios
cultos como popularizou a Idade Média diante de um público mais vasto e
mais consciente do que o do século XIX. O que não significa que a imagem
negativa da Idade Média tenha desaparecido. Não é raro encontrarmos pessoas
sem conhecimento histórico ainda qualificando de “medieval” algo que elas
reprovam (FRANCO JUNIOR, 2001, p. 14).
Embora tenham ocorrido inúmeros avanços nas análises sobre a Idade Média,
ainda é possível nos depararmos com visões preconceituosas e esvaziadas de
reflexões históricas do período. Nesse sentido, podemos questionar: o que foi
produzido em termos de filosofia e ciência nesse período? Qual a verdadeira
relação entre igreja e formação do pensamento intelectual? O que foi produzido em
Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea 3
Se, como diz Descartes no início do Discurso do Método, o bom senso, isto
é, a racionalidade, é natural ao homem, sendo compartilhada por todos, o que
explica a possibilidade da ocorrência do erro, do engano, da falsidade? O erro
resulta, na realidade de um mau uso da razão, de sua aplicação incorreta em
nosso conhecimento do mundo. A finalidade do método é precisamente pôr
a razão no bom caminho, evitando assim, o erro.
Você sabia que foram os filósofos ingleses que elaboraram as primeiras teorias sobre
o liberalismo? Você já ouviu falar em Estado liberal? Se a função do Estado não é a
de criar ou instituir a propriedade privada, mas de garanti-la e defendê-la, qual é o
poder do soberano?
A teoria liberal — primeiro com John Locke, depois com os realizadores da
independência norte-americana e da Revolução Francesa, e no século XX com
pensadores como Max Weber — dirá que a função do Estado é tríplice:
por meio das leis e do uso legal da violência (exército e polícia), garantir o direito
natural à propriedade, sem interferir na vida econômica, uma vez que, não tendo
instituído a propriedade, o Estado não tem poder para nela interferir;
entre Estado e indivíduo intercala-se uma esfera social, a sociedade civil, sobre a qual
o Estado não tem poder instituinte, mas apenas a função de garantir as relações
sociais e arbitrar sobre os conflitos nela existente;
o Estado tem direito de legislar, permitir e proibir tudo quanto pertença à esfera
da vida pública, mas não tem o direito de intervir na esfera privada, isto é, na
consciência dos governados.
Portanto, a exigência da política liberal é a seguinte: o Estado não pode intervir na
economia. O Estado deve respeitar a liberdade econômica dos proprietários privados,
deixando que elaborem as suas regras e normativas para as atividades econômicas
segundo as necessidades do próprio mercado. Por isso, essa teoria é chamada de
liberal ou liberalismo (CHAUÍ, 2012).
Depois de lecionar na cidade por longo período, no ano de 400 ela foi reco-
nhecida como responsável pelos estudos neoplatônicos. Alunos de todos os
cantos do mundo queriam assistir às suas aulas. Além de sua inteligência
fulgurante, sua eloquência e rara beleza eram notáveis. Uma lenda em seu
tempo (VRETTOS, 2005, p. 253).
Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipácia cujo pai era o filósofo Téon.
Ele a instruíra tão bem e ela se distinguia em tantas disciplinas que sobrepujava
de longe todos os filósofos; não somente os de seu tempo, como também aqueles
que desde muito a haviam precedido. Foi admitida na escola de Platão para ser
sucessora de Plotino. Tinha competência para dar a conhecer as ciências a todos
os que o desejassem. Do mesmo modo, qualquer um que tivesse paixão pela
filosofia achegava-se a ela, atraído não somente pela sua honestidade e pela
seriedade que mostrava em seus discursos, como também porque abordava os
homens com pudor e decência e a ninguém parecia indecente vê-la entre eles.
Todos a respeitavam e veneravam em razão de sua notável conduta. Todos
a admiravam, até que a Inveja armou contra ela seu braço vingador. O fato
de estar frequentemente na companhia de Orestes, prefeito de Alexandria,
inspirou contra ela uma intriga junto ao clero de Cirilo, bispo de Alexandria,
que impediu a reconciliação de Cirilo com o prefeito. Foi por isto que alguns
adeptos ardorosos de Cirilo [...] se puseram a matá-la e, no momento em que
10 Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea
Uma análise desses fragmentos nos remete à noção de que havia uma su-
premacia de ideias, numa relação de poder caracterizada pela violência física.
Além disso, a morte tentava eliminar não apenas o aspecto físico, mas também
o ideológico — a morte das ideias. Todavia, Hipácia se manteve como uma
das primeiras mulheres além do seu tempo. Outro ponto que vale destacar é
a sua bela oratória, descrita como doce e equilibrada. Muitos homens vinham
de diversas regiões tirar dúvidas, ouvir a sua prática filosófica e compreender
um pouco mais sobre a ciência (MÉNAGE, 2003).
Podemos compreender, assim, que Hipácia foi uma das grandes mulheres
da história, que desafiaram paradigmas de sua época e promoveram revoluções
em suas áreas de estudo. Ela mostrou capacidade intelectual e domínio sobre
áreas da ciência dominadas ideologicamente por homens. Aos poucos, porém,
o universo feminino foi se constituindo, e novas pensadoras contribuíram
de maneira decisiva para o conhecimento. Podemos citar como exemplos
da antiguidade Aspásia de Mileto e Diotima de Matinéia (séc. IV a.C.), e as
mais contemporâneas, como Maria Gaetana Agnesi (1718–1799), Sophie Ger-
main (1776–1831), Mary Fairfax Somerville (1780–1872), Sonya Kavaleskvy
(1850–1891), Amalie Noether (1882–1935).
A alma, a vida, a consciência não são realidades que se possam intuir, que se
possam dar por si mesmas, e se, não são fenômenos nesse sentido estrito de “o
que se mostra por si mesmo”, não podem integrar o que, fenomenologicamente,
constitui um ser humano (STRENGER, 1998, p. 329).