STF - Regras Sobre Licenciamento Na Constituição Estadual

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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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25/10/2019 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.696 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO E


URBANÍSTICO. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE
DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. EMENDA 44/2000 À
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. DISPENSA DE
EXIGÊNCIA DE ALVARÁ OU LICENCIAMENTO PARA O
FUNCIONAMENTOS DE TEMPLOS RELIGIOSOS. PROIBIÇÃO DE
LIMITAÇÕES DE CARÁTER GEOGRÁFICO À INSTALAÇÃO DE
TEMPLOS. COMPETÊNCIA CONCORRENTE PARA LEGISLAR SOBRE
POLÍTICA URBANA, ORDENAMENTO E OCUPAÇÃO DO SOLO. LEI
FEDERAL 10.257/2001 E DIRETRIZES GERAIS DA POLÍTICA URBANA.
ATRIBUIÇÃO DOS PODERES PÚBLICOS MUNICIPAIS. AUTONOMIA
MUNICIPAL. PODER DE POLÍCIA E RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO.
PROCEDÊNCIA DA AÇÃO DIRETA.
1. As regras de distribuição de competências legislativas são alicerces
do federalismo e consagram a fórmula de divisão de centros de poder em
um Estado de Direito. Princípio da predominância do interesse.
2. A Constituição Federal de 1988, presumindo de forma absoluta
para algumas matérias a presença do princípio da predominância do
interesse, estabeleceu, a priori, diversas competências para cada um dos
entes federativos, União, Estados-Membros, Distrito Federal e
Municípios, e, a partir dessas opções, pode ora acentuar maior
centralização de poder, principalmente na própria União (CF, art. 22), ora
permitir uma maior descentralização nos Estados-Membros e nos
Municípios (CF, arts. 24 e 30, inciso I).
3. A Constituição, em matéria de Direito Urbanístico, embora
prevista a competência material da União para a edição de diretrizes para

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o desenvolvimento urbano (art. 21, XX, da CF) e regras gerais sobre


direito urbanístico (art. 24, I, c/c § 1º, da CF), conferiu protagonismo aos
Municípios na concepção e execução dessas políticas públicas (art. 30, I e
VIII, c/c art. 182, da CF), como previsto na Lei Federal 10.257/2001, ao
atribuir aos Poderes Públicos municipais a edição dos planos diretores,
como instrumentos de política urbana.
4. A norma impugnada, constante da Constituição Estadual,
pretendeu restringir o alcance de instrumentos de ordenamento urbano a
cargo dos Municípios, desequilibrando a divisão de competências
estabelecida no texto constitucional em prejuízo da autonomia municipal
e em contrariedade ao regramento geral editado pela União
5. O verificação de requisitos para a concessão de alvarás e
licenciamentos insere-se no Poder de Polícia, cujo exercício é atividade
administrativa de competência do Poder Executivo e, portanto,
submetida à reserva de administração (art. 2º, c/c art. 61, § 1º, II, e art. 84,
II e VI, “a”, da CF).
6. Ação Direta julgada procedente.

AC ÓRDÃ O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros do Supremo


Tribunal Federal, em Plenário, sob a Presidência do Senhor Ministro
DIAS TOFFOLI, em conformidade com a ata de julgamento e as notas
taquigráficas, por unanimidade, acordam em julgar procedente o pedido
formulado na ação direta para declarar a inconstitucionalidade da
Emenda Constitucional 44/2000 do Estado de Minas Gerais, nos termos
do voto do Relator.

Brasília, 25 de outubro de 2019.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator

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RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR): Trata-se


de Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada pela Procuradoria-
Geral da República em face da Emenda Constitucional 44/2000 à
Constituição do Estado de Minas Gerais, que deu nova redação ao seu art.
170, inciso V, e dispõe sobre “a exigência de alvará ou qualquer outro tipo de
licenciamento para o funcionamento de templo religioso” e a proibição de
“limitação de caráter geográfico a sua instalação”.
Eis o teor da legislação impugnada:

Art. 1º O inciso V do art. 170 da Constituição do Estado de


Minas Gerais passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 170 [...]
V – promoção do ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação
do solo urbano, ficando dispensada a exigência de alvará ou de
qualquer outro tipo de licenciamento para o funcionamento de
templo religioso e proibida limitação de caráter geográfico a sua
instalação.”
Art. 2º Esta emenda à Constituição entra em vigor na data
de sua publicação.

A requerente argui a existência de inconstitucionalidade formal ante


a invasão de competência do Município para legislar sobre assuntos de
interesse local (art. 30, inciso I, da CF), ordenamento territorial,

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planejamento do uso, parcelamento e ocupação do solo urbano (art. 30,


inciso VIII, da CF) e sobre a política de desenvolvimento urbano (art. 182,
caput). Assim, a norma impugnada violaria o sistema de repartição de
competência, o princípio federativo e o princípio da autonomia
municipal. Estaria em desacordo com o princípio da laicidade, pois, ao
suspender o poder de polícia administrativa sobre os templos religiosos,
imunizá-los-ia de obrigação legal e privilegiaria a atividade religiosa,
como uma espécie de aliança entre o Estado de Minas Gerais e as
Religiões.
Adotou-se o rito dos arts. 6º e 8º da Lei 9.868/1999.
A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (peça 9)
sustenta que a aprovação da emenda seguiu os ritos necessários e buscou
a efetivação da liberdade de culto (art. 5º, inciso VI, da CF), evitando
embaraços às instalações físicas religiosas, de acordo com o estabelecido
no art. 19, inciso I, da Carta Constituinte. Argumenta ter agido dentro de
suas prerrogativas – conforme o exposto no art. 24, I, CF, competência
concorrente dos Estados e da União para legislar sobre direito urbanístico
–, e que a autoridade municipal sobre a matéria, nos termos do art. 30,
inciso VIII, deve ser restringida apenas ao que lhe “couber”.
A Advogada-Geral da União (peça 13) posiciona-se pela
procedência, pois o conteúdo da norma impugnada seria contrário às
normas federais sobre direito urbanístico (Lei 10.257/2001), extrapolando
sua competência suplementar na matéria, além de adentrar na
competência municipal para legislar sobre assuntos de interesse local e
disciplinar o uso e o ordenamento do solo em seus territórios.
A Procuradora-Geral da República (peça 15) retoma os argumentos
da inicial, e pontua ser competência municipal dispor sobre alvará e
licenciamento para o funcionamento de templos religiosos por tratar de
matéria de ordenamento urbano, dentro do domínio dos interesses
predominantemente locais.
É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR): A emenda


constitucional impugnada determinou, no Estado de Minas Gerais, a
dispensa de alvará ou outro licenciamento para o funcionamento de
templo religioso e proibiu a limitação de caráter geográfico à sua
instalação.
Dessa feita, o conteúdo impugnado, incorporado à Constituição
Estadual, tratou de restringir o exercício do poder de polícia
administrativa sobre templos religiosos, interditando ao Estado de Minas
Gerais e, principalmente, aos seus Municípios, a possibilidade de
exigirem alvarás ou licenciamentos para o funcionamento de recintos
destinados ao culto religioso. A norma também limita a possibilidade de
que o planejamento urbano das cidades mineiras imponha
condicionantes geográficos à instalação e funcionamento de templos.
Cabe verificar, inicialmente, se o Estado de Minas Gerais poderia,
legitimamente, à luz das normas de distribuição de competências
legislativas estatuídas na Constituição Federal, disciplinar o conteúdo
posto na Emenda Constitucional impugnada.
O federalismo e suas regras de distribuição de competências
legislativas são um dos grandes alicerces da consagração da fórmula
Estado de Direito, que, conforme salientado por PABLO LUCAS VERDÚ,
ainda exerce particular fascinação sobre os juristas. Essa fórmula aponta a
necessidade de o Direito ser respeitoso com as interpretações acerca de
diferentes dispositivos constitucionais que envolvem diversas
competências legislativas, para que se garanta a previsão do legislador
constituinte sobre a divisão dos centros de poder entre os entes
federativos, cuja importância é ressaltada tanto por JORGE MIRANDA
(Manual de direito constitucional. 4. Ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1990, t.
1, p. 13-14), quanto por JOSÉ GOMES CANOTILHO (Direito constitucional
e teoria da Constituição. Almedina, p. 87).

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A essencialidade da discussão não está na maior ou menor


importância do assunto específico tratado pela legislação, mas sim, na
observância respeitosa à competência constitucional do ente federativo
para editá-la (MAURICE DUVERGER. Droit constitutionnel et institutions
politiques. Paris: Presses Universitaires de France, 1955. p. 265 e ss.), com
preservação de sua autonomia e sem interferência dos demais entes da
federação, pois, como salientado por LÚCIO LEVI:

“a federação constitui, portanto, a realização mais alta dos


princípios do constitucionalismo. Com efeito, a ideia do Estado
de direito, o Estado que submete todos os poderes à lei
constitucional, parece que pode encontrar sua plena realização
somente quando, na fase de uma distribuição substancial das
competências, o Executivo e o Judiciário assumem as
características e as funções que têm no Estado Federal”.
(NORBERTO BOBBIO, NICOLA MATTEUCCI, GIANFRANCO
PASQUINO (Coord.). Dicionário de política. v. I, p. 482).”

O equilíbrio na interpretação constitucional sobre a distribuição de


competências na história do federalismo iniciou com a Constituição
norte-americana de 1787. A análise de suas características e
consequências, bem como do desenvolvimento de seus institutos vem
sendo realizada desde os escritos de JAY, MADISON e HAMILTON, nos
artigos federalistas, publicados sob o codinome Publius, durante os anos
de 1787-1788, até os dias de hoje, e mostra que se trata de um sistema
baseado principalmente na consagração da divisão constitucional de
competências, para manutenção de autonomia dos entes federativos e
equilíbrio no exercício do poder (THOMAS MCINTYRE COOLEY. The
general principles of constitutional law in the United States of America. 3. ed.
Boston: Little, Brown and Company, 1898. p. 52; DONALD L.
ROBINSON. To the best of my ability: the presidency the constitution . New
York: W. W. Norton & Company, 1987. p. 18-19). Em 1887, em seu
centenário, o estadista inglês WILLIAM GLADSTONE, um dos mais
influentes primeiros-ministros ingleses, afirmou que a Constituição dos

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Estados Unidos era a mais maravilhosa obra jamais concebida num momento
dado pelo cérebro e o propósito do homem, por equilibrar o exercício do poder.
É importante salientar, dentro dessa perspectiva da mais maravilhosa
obra jamais concebida, que a questão do federalismo e do equilíbrio entre o
Poder Central e os Poderes Regionais foi das questões mais discutidas
durante a Convenção norte-americana, pois a manutenção do equilíbrio
Democrático e Republicano, no âmbito do Regime Federalista, depende
do bom entendimento, definição, fixação de funções, deveres e
responsabilidades entre os três Poderes, bem como da fiel observância da
distribuição de competências legislativas, administrativas e tributárias
entre União, Estados e Municípios, característica do Pacto Federativo,
consagrado constitucionalmente no Brasil, desde a primeira Constituição
Republicana, em 1891, até a Constituição Federal de 1988.
A Federação, portanto, nasceu adotando a necessidade de um poder
central, com competências suficientes para manter a união e coesão do
próprio País, garantindo-lhe, como afirmado por HAMILTON, a
oportunidade máxima para a consecução da paz e liberdade contra o
facciosismo e a insurreição (The Federalist papers, nº IX) e permitindo à
União realizar seu papel aglutinador dos diversos Estados-Membros e de
equilíbrio no exercício das diversas funções constitucionais delegadas aos
três poderes de Estado.
Durante a evolução do federalismo, passou-se da ideia de três
campos de poder mutuamente exclusivos e limitadores, segundo a qual a
União, os Estados e os Municípios teriam suas áreas exclusivas de
autoridade, para um novo modelo federal baseado principalmente na
cooperação, como salientado por KARL LOEWENSTEIN (Teoria de la
constitución. Barcelona: Ariel, 1962. p. 362).
O legislador constituinte de 1988, atento a essa evolução, bem como
sabedor da tradição centralizadora brasileira, tanto, obviamente, nas
diversas ditaduras que sofremos, quanto nos momentos de normalidade
democrática, instituiu novas regras descentralizadoras na distribuição
formal de competências legislativas, com base no princípio da
predominância do interesse, e ampliou as hipóteses de competências

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concorrentes, além de fortalecer o Município como polo gerador de


normas de interesse local.
O princípio geral que norteia a repartição de competência entre os
entes componentes do Estado Federal brasileiro, portanto, é o princípio
da predominância do interesse, não apenas para as matérias cuja
definição foi preestabelecida pelo texto constitucional, mas também em
termos de interpretação em hipóteses que envolvem várias e diversas
matérias, como na presente ação direta de inconstitucionalidade.
A própria Constituição Federal, presumindo de forma absoluta para
algumas matérias a presença do princípio da predominância do interesse,
estabeleceu, a priori, diversas competências para cada um dos entes
federativos, União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios, e, a
partir dessas opções, pode ora acentuar maior centralização de poder,
principalmente na própria União (CF, art. 22), ora permitir uma maior
descentralização nos Estados-Membros e Municípios (CF, arts. 24 e 30,
inciso I).
Atuando dessa maneira, se, na distribuição formal de competências,
houve um maior afastamento do federalismo centrípeto que sempre
caracterizou a república brasileira, na distribuição material, nossas
tradições históricas, político-econômicas e culturais, somadas ao próprio
interesse do legislador constituinte, que permaneceria como poder
constituído (Congresso Nacional), após a edição da Constituição de 1988,
acabaram por produzir grande generosidade do texto constitucional na
previsão dos poderes enumerados da União, com a fixação de
competência privativa para a maioria dos assuntos de maior importância
legislativa.
Consequentemente, concordemos ou não, no texto da Constituição
de 1988, as contingências históricas, político-econômicas e culturais
mantiveram a concentração dos temas mais importantes no Congresso
Nacional, em detrimento das Assembleias locais, como salientado por
JOSÉ ALFREDO DE OLIVEIRA BARACHO (Teoria geral do federalismo. Rio
de Janeiro: Forense, 1986. p. 317), e facilmente constatado ao analisarmos
o rol de competências legislativas da União estabelecidas no artigo 22 do

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texto constitucional.

Essa opção inicial do legislador constituinte, ao centralizar nos


poderes enumerados da União (CF, artigo 22) a maioria das matérias
legislativas mais importantes, contudo, não afastou da Constituição de
1988 os princípios básicos de nossa tradição republicana federalista, que
gravita em torno do princípio da autonomia, da participação política e da
existência de competências legislativas próprias dos Estados/Distrito
Federal e Municípios, indicando ao intérprete a necessidade de aplicá-los
como vetores principais em cada hipótese concreta em que haja a
necessidade de análise da predominância do interesse, para que se
garanta a manutenção, fortalecimento e, principalmente, o equilíbrio
federativo (GERALDO ATALIBA. República e constituição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1985. p. 10), que se caracteriza pelo respeito às
diversidades locais, como bem salientado por MICHAEL J. MALBIN, ao
apontar que a intenção dos elaboradores da Carta Constitucional
Americana foi justamente estimular e incentivar a diversidade,
transcendendo as facções e trabalhando pelo bem comum (A ordem
constitucional americana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987, p.
144), consagrando, ainda, a pluralidade de centros locais de poder, com
autonomia de autogoverno e autoadministração, para que se reforçasse a
ideia de preservação da autonomia na elaboração do federalismo, como
salientado por ALEXIS DE TOCQUEVILLE, ao comentar a formação da
nação americana (Democracia na América: leis e costumes. São Paulo:
Martins Fontes, 1988. p. 37 e ss.), que serviu de modelo à nossa Primeira
Constituição Republicana em 1891.
Nos regimes federalistas, respeitadas as opções realizadas pelo
legislador constituinte e previamente estabelecidas no próprio texto
constitucional, quando surgem dúvidas sobre a distribuição de
competências e, consequentemente, a necessidade de definição do ente
federativo competente para legislar sobre determinado e específico
assunto, que engloba uma ou várias matérias com previsão ou reflexos
em diversos ramos do Direito, caberá ao interprete priorizar o

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fortalecimento das autonomias locais e o respeito às suas diversidades


como pontos caracterizadores e asseguradores do convívio no Estado
Federal, que garantam o imprescindível equilíbrio federativo (JUAN
FERRANDO BADÍA. El estado unitário: El federal y El estado regional.
Madri: Tecnos, 1978, p. 77; MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO.
O Estado federal brasileiro na Constituição de 1988. Revista de Direito
Administrativo, n. 179, p. 1; RAUL MACHADO HORTA. Tendências
atuais da federação brasileira. Cadernos de direito constitucional e ciência
política, n. 16, p. 17; e, do mesmo autor: Estruturação da federação.
Revista de Direito Público, n. 81, p. 53 e ss.; CARLOS MÁRIO VELLOSO.
Estado federal e estados federados na Constituição brasileira de 1988: do
equilíbrio federativo. Revista de Direito Administrativo, n. 187, p. 1 e ss.;
JOSAPHAT MARINHO. Rui Barbosa e a federação. Revista de Informação
Legislativa, n. 130, p. 40 e ss.; SEABRA FAGUNDES. Novas perspectivas do
federalismo brasileiro. Revista de Direito Administrativo, n. 99, p. 1 e ss.).
Relativamente à competência legislativa concorrente, é forçoso
ressaltar que sua instituição cria o denominado “condomínio legislativo”
entre a União e os Estados-Membros, cabendo à primeira a edição de
normas gerais sobre as matérias elencadas no art. 24 da CF. Já aos
Estados, no âmbito dessa distribuição vertical de competências
legislativas, caberá o exercício da competência suplementar — quando já
existente norma geral a disciplinar determinada matéria (CF, art. 24, § 2º)
— e a competência legislativa plena — quando inexistente norma federal
a estabelecer normatização de caráter geral (CF, art. 24, § 3º).

No caso em julgamento, alega-se que a norma atacada invadiria a


competência Municipal na matéria, em afronta aos arts. 30, I e VIII, e 182,
caput, da Constituição Federal, além do princípio federativo e o princípio
da autonomia municipal.
De fato, o conteúdo legislado, incorporado ao próprio texto da
Constituição mineira, trata da delimitação de competência privativa dos
Municípios, especificamente sobre ordenamento territorial, planejamento,
uso e ocupação do solo urbano. Sobre essa matéria, a Constituição

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Federal estabelece: (a) competência da União para “instituir diretrizes para


o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos” (art. 21, inciso XX, da CF); (b) a competência concorrente da
União, Estados e Distrito Federal para legislar sobre direito urbanístico
(art. 24, I, da CF), cabendo à União o estabelecimento de normas gerais (§
1º do mesmo dispositivo constitucional); (c) a competência dos Estados
para instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões (art. 25, § 3º, da CF); (d) a competência dos Municípios para
legislar sobre assuntos de interesse local e, expressa e especificamente,
“promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano”
(art. 30, incisos I e VIII, da CF); competência material dos Municípios para
a execução da política de desenvolvimento urbano (art. 182 da CF).
O legislador federal editou a Lei 10.257/2001 com o propósito de
regulamentar os arts. 182 e 183 a CF, estabelecendo como diretriz da
política urbana, entre outras, a ordenação e controle do uso do solo, com as
seguintes finalidades (art. 2º, VI, com a redação da Lei 12.608/2012):

a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;


b) a proximidade de usos incompatíveis ou
inconvenientes;
c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos
ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana;
d) a instalação de empreendimentos ou atividades que
possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a
previsão da infra-estrutura correspondente;
e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte
na sua subutilização ou não utilização;
f) a deterioração das áreas urbanizadas;
g) a poluição e a degradação ambiental;
h) a exposição da população a riscos de desastres.

A referida Lei Federal 10.257/2001 também estabelece como


instrumentos de política urbana a disposição dos Poderes Públicos
municipais (art. 4º, III) o plano diretor, a disciplina do parcelamento, do

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uso e da ocupação do solo, o zoneamento ambiental, entre outros. Sobre o


plano diretor, destaco o previsto no art. 39 do Estatuto das Cidades:
Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação da
cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento
das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à
justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas,
respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei.

Por tudo isso, embora os Estados-Membros detenham a competência


para editar legislação suplementar em matéria urbanística (art. 24, I, da
CF), impõe-se reconhecer o protagonismo que o texto constitucional
conferiu aos Municípios em matéria de política urbana, de onde se
conclui que a norma editada pelo Estado de Minas Gerais exorbitou da
sua competência, a um só tempo: (a) contrariando as normas gerais
editadas pela União; e (b) avançando sobre área de interesse
eminentemente local, e portanto, de competência dos Municípios.
A jurisprudência desta CORTE, reconhecesse como de interesse local
(art. 30, I, da CF) o ordenamento territorial e o planejamento urbano e a
fiscalização de áreas de uso e ocupação do solo, cabendo à União e aos
Estados legislar de forma geral, através de diretrizes, sob pena de
infringir a autonomia municipal.

EMENTA: - CONSTITUCIONAL. MUNICÍPIOS:


CRIAÇÃO: PLEBISCITO: ÂMBITO DA CONSULTA
PLEBISCITÁRIA: C.F., art. 18, § 4º. DISTRITOS: CRIAÇÃO,
ORGANIZAÇÃO E SUPRESSÃO: COMPETÊNCIA: C.F., art.
30, IV. TERRITÓRIO DO MUNICÍPIO: ADEQUADO
ORDENAMENTO: C.F., art. 30, VIII.
I. - Criação de municípios: consulta plebiscitária:
diretamente interessada no objeto da consulta popular é apenas
a população da área desmembrada. Somente esta, portanto, é
que será chamada a participar do plebiscito. Precedente do
S.T.F.: ADIn 733- MG, Pertence, 17.06.92, "DJ" 16.06.95. Ressalva
do ponto de vista pessoal do relator desta no sentido da

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ADI 5696 / MG

necessidade de ser consultada a população de todo o município


e não apenas a população da área a ser desmembrada (voto
vencido na ADIn 733-MG). Ação não conhecida, no ponto,
tendo em vista a superveniência da EC nº 15, de 1996.
II. - A criação, a organização e a supressão de distritos, da
competência dos Municípios, faz-se com observância da
legislação estadual (C.F., art. 30, IV). Também a competência
municipal, para promover, no que couber, adequado
ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do
uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano -- C.F., art.
30, VIII -- por relacionar-se com o direito urbanístico, está
sujeita a normas federais e estaduais (C.F., art. 24, I). As
normas das entidades políticas diversas -- União e Estado-
membro -- deverão, entretanto, ser gerais, em forma de
diretrizes, sob pena de tornarem inócua a competência
municipal, que constitui exercício de sua autonomia
constitucional.
III. - Inconstitucionalidade do art. 1º das Disposições
Transitórias da Lei Complementar 651, de 1990, do Estado de
São Paulo, que dispondo a respeito das áreas territoriais
denominadas subdistritos, equiparam-nas a Distritos. Ofensa ao
art. 30, IV.
IV. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada
procedente no tocante ao artigo 1º das Disposições Transitórias.
Improcedente quanto ao artigo 12, não conhecida a ação quanto
ao art. 1º, § 3º.
(ADI 478, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno,
julgado em 09/12/1996, DJ 28/2/1997)

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
MUNICIPAL. EMPRESA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
AEROPORTUÁRIOS. ADMINISTRAÇÃO CONSTATOU
SITUAÇÃO IRREGULAR NA EDIFICIAÇÃO.
FISCALIZAÇÃO DE ÁREAS DE USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO. COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO

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ADI 5696 / MG

MUNICÍPIO. LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO. INTERESSE


PÚBLICO. NECESSIDADE DE REEXAME DE NORMAS
INFRACONSTITUCIONAIS. SÚMULAS 279 E 280/STF.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM
APLICAÇÃO DE MULTA.
I – O Tribunal de origem entendeu que a conduta da
Administração Pública Municipal que, após verificar a situação
irregular na edificação e, exercendo a sua competência
constitucional no que se refere à fiscalização de áreas de uso e
de ocupação do solo, não concedeu licença para funcionamento
até a correção das irregularidades, está pautada estritamente na
legislação vigente e no interesse público.
II - Este entendimento está em harmonia com a
jurisprudência desta Corte no sentido de que compete ao
Município legislar sobre os assuntos de interesse local e
promover, no que couber, o adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e
da ocupação do solo.
III – Para divergir dessa decisão seria necessária a
reanálise da legislação local, além do reexame do conjunto
fático-probatório dos autos, o que é vedado pelas Súmulas 279 e
280 desta Corte.
IV - Agravo regimental a que se nega provimento, com
aplicação de multa (art. 1.021, § 4°, do CPC).
(ARE 1133582 AgR, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 6/12/2018)

Em sentido semelhante: RE 602557 AgR (Rel. Min. TEORI


ZAVASCKI, Segunda Turma, DJe 15/12/2016), ARE 975613 AgR (Rel. Min.
ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe 3/10/2016), RE 582859 AgR (Rel. Min.
CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, DJe 21/10/2013).
Ainda sobre ordenamento territorial urbano e limitação ao direito de
construir, fixou-se, em múltiplos julgados a competência Municipal para
legislar sobre a matéria ARE 802652 AgR (Rel. Min. DIAS TOFFOLI,
Segunda Turma, DJe 3/12/2018); RE 925994 AgR-ED (Rel. Min. DIAS
TOFFOLI, Segunda Turma, DJe 28/5/2018); ARE 1093981 AgR (Rel. Min.

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ADI 5696 / MG

LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe 12/4/2018); ARE 875475 AgR-segundo


(Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, DJe 19/3/2018); ARE 780070
ED (Rel. Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe 28/04/2016).
Portanto, a Constituição do Estado de Minas Gerais, com a redação
dada pela EC 44/2000 ao art. 170, V, delimitou competências municipais
de forma destoante do estabelecido na Constituição Federal (art. 21, XX,
art. 24, I, e art. 182, da CF), ao veicular restrição material ao conteúdo dos
instrumentos de política urbana cuja titularidade é atribuída pela
legislação federal aos Municípios.
Ao assim proceder, o legislador constituinte decorrente exerceu
indevidamente o seu poder de auto organização (art. 25 da CF), em
prejuízo da autonomia municipal. Registre-se, nesse sentido, os
precedentes da Jurisprudência da CORTE em que apreciados dispositivos
de Constituições Estaduais que, a pretexto de organizar e delimitar
competência de seus respectivos Municípios, atentaram contra o princípio
da autonomia municipal, expressão do próprio princípio federativo (art.
18, c/c arts. 29 e 30 da CF):

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade.


Constituição do Estado do Espírito Santo. Alteração da redação
de parte dos dispositivos impugnados, eliminando-se as
expressões objeto do pedido. Parcial prejudicialidade da ação.
Previsão de julgamento das contas anuais do presidente da
câmara municipal pela respectiva casa legislativa. Ofensa ao
modelo constitucional. Agressão aos arts. 31, § 2º; 71, I e II; e 75
da Lei Fundamental. Conhecimento parcial da ação, a qual,
nessa parte, é julgada procedente.
1. Prejudicialidade parcial da ação, em virtude de
alteração substancial da redação dos incisos I e II do art. 71 da
Constituição do Estado do Espírito Santo, a qual resultou na
eliminação das expressões impugnadas.
2. A Constituição Federal foi assente em definir o papel
específico do legislativo municipal para julgar, após parecer
prévio do tribunal de contas, as contas anuais elaboradas pelo
chefe do poder executivo local, sem abrir margem para a

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ADI 5696 / MG

ampliação para outros agentes ou órgãos públicos. O art. 29, §


2º, da Constituição do Estado do Espírito Santo, ao alargar a
competência de controle externo exercida pelas câmaras
municipais para alcançar, além do prefeito, o presidente da
câmara municipal, alterou o modelo previsto na Constituição
Federal.
3. Ação direta de inconstitucionalidade de que se conhece
parcialmente e que se julga, na parte de que se conhece,
procedente.
(ADI 1964, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno,
julgado em 04/09/2014, DJe de 8/10/2014)

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 224 DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO AMAPÁ. GARANTIA DE
"MEIA PASSAGEM" AO ESTUDANTE. TRANSPORTES
COLETIVOS URBANOS RODOVIÁRIOS E AQUAVIÁRIOS
MUNICIPAIS [ARTIGO 30, V, DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL] E TRANSPORTES COLETIVOS URBANOS
RODOVIÁRIOS E AQUAVIÁRIOS INTERMUNICIPAIS.
SERVIÇO PÚBLICO E LIVRE INICIATIVA. VIOLAÇÃO DO
DISPOSTO NOS ARTIGOS 1º, INCISO IV; 5º, CAPUT E
INCISOS I E XXII, E 170, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL.
1. A Constituição do Brasil estabelece, no que tange à
repartição de competência entre os entes federados, que os
assuntos de interesse local competem aos Municípios.
Competência residual dos Estados-membros --- matérias que
não lhes foram vedadas pela Constituição, nem estiverem
contidas entre as competências da União ou dos Municípios.
2. A competência para organizar serviços públicos de
interesse local é municipal, entre os quais o de transporte
coletivo [artigo 30, inciso V, da CB/88].
3. O preceito da Constituição amapaense que garante o
direito a "meia passagem" aos estudantes, nos transportes
coletivos municipais, avança sobre a competência legislativa

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local.
4. A competência para legislar a propósito da prestação de
serviços públicos de transporte intermunicipal é dos Estados-
membros. Não há inconstitucionalidade no que toca ao
benefício, concedido pela Constituição estadual, de "meia
passagem" aos estudantes nos transportes coletivos
intermunicipais.
5. Os transportes coletivos de passageiros consubstanciam
serviço público, área na qual o princípio da livre iniciativa
(artigo 170, caput, da Constituição do Brasil) não se expressa
como faculdade de criar e explorar atividade econômica a título
privado. A prestação desses serviços pelo setor privado dá-se
em regime de concessão ou permissão, observado o disposto no
artigo 175 e seu parágrafo único da Constituição do Brasil. A lei
estadual deve dispor sobre as condições dessa prestação,
quando de serviços públicos da competência do Estado-
membro se tratar.
6. Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade da conjunção aditiva "e" e do vocábulo
"municipais", insertos no artigo 224 da Constituição do Estado
do Amapá.
(ADI 845, Rel. Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado
em 22/11/2007, DJe de 6/3/2008)

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE - ART. 75, § 2º, DA
CONSTITUIÇÃO DE GOIÁS - DUPLA VACÂNCIA DOS
CARGOS DE PREFEITO E VICE-PREFEITO - COMPETÊNCIA
LEGISLATIVA MUNICIPAL - DOMÍNIO NORMATIVO DA
LEI ORGÂNICA - AFRONTA AOS ARTS. 1º E 29 DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
1. O poder constituinte dos Estados-membros está
limitado pelos princípios da Constituição da República, que
lhes assegura autonomia com condicionantes, entre as quais se
tem o respeito à organização autônoma dos Municípios,
também assegurada constitucionalmente.

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2. O art. 30, inc. I, da Constituição da República outorga


aos Municípios a atribuição de legislar sobre assuntos de
interesse local. A vocação sucessória dos cargos de prefeito e
vice-prefeito põem-se no âmbito da autonomia política local,
em caso de dupla vacância.
3. Ao disciplinar matéria, cuja competência é exclusiva dos
Municípios, o art. 75, § 2º, da Constituição de Goiás fere a
autonomia desses entes, mitigando-lhes a capacidade de auto-
organização e de autogoverno e limitando a sua autonomia
política assegurada pela Constituição brasileira.
4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada
procedente.
(ADI 3549, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno,
julgado em 17/09/2007, DJe de 30/10/2007)

No que diz respeito à possibilidade de imposição de limitações


geográficas, consigno que a inconstitucionalidade formal ora apontada não
afasta a apreciação da constitucionalidade material de restrições que
venham a ser estabelecidas em planos diretores editados pelos
Municípios, em vista, inclusive, da Jurisprudência da CORTE que aponta
a necessidade de conciliação dessa política pública com outras garantias
constitucionais. Veja-se, a título de exemplo, o teor da Súmula Vinculante
49, a qual afirma que “ofende o princípio da livre concorrência lei municipal
que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em
determinada área”.
Naturalmente, eventuais embaraços ao livre exercício da liberdade
religiosa, do qual o funcionamento dos templos é uma legítima expressão,
merecerão escrutínio rigoroso quanto à sua constitucionalidade. No
entanto, não se mostra idônea a previsão geral e abstrata, veiculada no
texto da Constituição Estadual, de limitação ao conteúdo dos planos
diretores a cargo dos Poderes Públicos municipais.
Por fim, assinalo que a dispensa, também em caráter genérico, de
alvarás e licenciamentos de quaisquer natureza caracteriza providência
de tão amplo espectro que finda por afastar competências administrativas

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que não poderiam ser objeto de tratamento em sede legislativa.


Além da já apontada inconstitucionalidade formal, o conteúdo da
EC 44/2000 também padece de inconstitucionalidade material na medida
em que invade matéria reservada a órgãos administrativos, em
contrariedade ao princípio da separação dos poderes (art. 2º, CF).
A definição dos melhores critérios para o exercício do poder de
polícia administrativa, como a verificação da observância de normas de
construção e manutenção de edificações destinadas à frequência aberta ao
público, constitui mérito reservado à atuação do administrador, que não
poderia ter sido transigido pelo legislador estadual, muito menos em
sede de emenda à Constituição Estadual.
A Jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL registra a
censura da CORTE às legislações editadas com o propósito de delimitar o
exercício de atribuições legais e constitucionais a encargo de órgãos
administrativos. Cite-se, nesse sentido, o julgamento da ADI 776 (Rel.
Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJ de 15/12/2006), no qual
invalidada lei que vedara a fixação, pela Administração, de requisitos de
idade para provimento de cargos públicos. Transcrevo o seguinte trecho
do voto do eminente Ministro Relator:

Ainda que o legislador disponha do poder de


conformação da atividade administrativa, permitindo-se-lhe,
nessa condição, estipular cláusulas gerais e fixar normas
impessoais destinadas a reger e a condicionar o próprio
comportamento da Administração Pública, não pode, o
Parlamento, em agindo “ultra vires”, exorbitar dos limites que
definem o exercício de sua prerrogativa institucional.
Isso significa, portanto, que refoge, ao domínio
normativo da lei em sentido formal, veicular deliberações
parlamentares que visem a desconstituir, “in concreto”,
procedimentos administrativos regularmente instaurados por
órgãos do Poder Executivo, como resulta claro da norma legal
ora referida.

Nessa mesma linha: ADI 2.364-MC, Rel. Min. CELSO DE MELLO,

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Tribunal Pleno, DJ de 14/12/2001; ADI 3.075, Rel. Min. GILMAR


MENDES, Tribunal Pleno, DJ de 4/11/2014; ADI 3.343, Rel. Min. LUIZ
FUX, Tribunal Pleno, DJe de 2.111/2011; e ADI 3.169, Rel. Min. MARCO
AURÉLIO, redator para acórdão Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, DJe de 18/2/2015, assim ementado:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


QUE INTERFERE SOBRE ATRIBUIÇÕES DE SECRETARIA DE
ESTADO EM MATÉRIA SUJEITA À RESERVA DE
ADMINISTRAÇÃO.
1. Lei que determina que a Secretaria de Segurança
Pública do Estado de São Paulo envie aviso de vencimento da
validade da Carteira Nacional de Habilitação a seus respectivos
portadores. Matéria de reserva de administração, ensejando
ônus administrativo ilegítimo.
2. Procedência da ação direta de inconstitucionalidade.

Mencione-se ainda o julgamento da ADI 5501-MC (Rel. Min.


MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 19/5/2016, DJe de
31/7/2017) no qual suspensa a eficácia de lei que autorizara o
fornecimento de substância sem registro (caso fosfoetalonamina - “pílulas
do câncer”), sob fundamento de invasão da competência administrativa
reservada a órgão do Poder Executivo. E, também com pertinência para o
caso, destaco a Jurisprudência da CORTE que tratou de leis estaduais que
veicularam dispensa genérica à exigência de licenciamento ambiental,
como afirmado no julgamento da ADI 5312 (julgado em 25/10/2018, DJe
de 8/2/2019) e na ADI 5077 (julgado em 25/10/2018, DJe de 22/11/2018),
ambas de minha relatoria, a última assim ementada:

Ementa: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL E
AMBIENTAL. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE
DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA. LEI
3.213/2013 DO ESTADO DE RONDÔNIA. MINERAÇÃO E
GARIMPAGEM. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 22 de 25

ADI 5696 / MG

DA UNIÃO (ART. 22, XII, DA CF). LICENCIAMENTO


AMBIENTAL. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. PRIMAZIA
DA UNIÃO PARA FIXAR NORMAS GERAIS (ART. 24, VI, VII
E VII, § 1º, 30, I E II, E 225, § 1º, IV, DA CF). EXERCÍCIO DO
PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL. SEPARAÇÃO DOS
PODERES (ART. 2º DA CF). RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO
(ART. 2º, 61, § 1º, II, “E”, 84, II E VI, “A”, DA CF). COBRANÇA
DE TAXA PELO EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA (ART.
145, II, DA CF), POR MEIO DE LEI DE INICIATIVA DO
LEGISLATIVO. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
INICIATIVA RESERVADA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA.
PARCIAL PROCEDÊNCIA.
1. Compete privativamente à União legislar sobre jazidas,
minas, outros recursos minerais e metalurgia (CF/1988, art. 22,
XII), em razão do que incorre em inconstitucionalidade a norma
estadual que, a pretexto de regulamentar o licenciamento
ambiental, impede o exercício de atividade garimpeira por
pessoas físicas.
2. A diretriz fixada pelo constituinte, de favorecimento da
organização da atividade garimpeira em cooperativas (art. 174,
§ 3º, da CF), não permite o extremo de limitar a prática de
garimpagem apenas aos associados a essas entidades, sob pena
de violação à garantia constitucional da liberdade de iniciativa e
de livre associação (art. 1º, IV, art. 5º, XX, e art. 170, parágrafo
único, da CF).
(...)
4. O licenciamento para exploração de atividade
potencialmente danosa, como é o caso da lavra de recursos
minerais, insere-se no Poder de Polícia Ambiental, cujo
exercício é atividade administrativa de competência do Poder
Executivo e, portanto, submetida à reserva de administração
(art. 61, § 1º, II, e, c/c art. 84, II e VI, “a”, da CF). 5. A definição
do valor cobrado a título de taxa pelo exercício do poder de
polícia (art. 145, II, da CF) pode ser estabelecida em sede
legislativa, por iniciativa concorrente dos Poderes Executivo e
Legislativo, pois não há falar em iniciativa reservada em

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 23 de 25

ADI 5696 / MG

matéria tributária (ARE 743480, Rel. Min. GILMAR MENDES,


Tribunal Pleno, julgado sob o rito da repercussão geral, DJe de
19/11/2013).
6. Medida Cautelar confirmada e Ação Direta julgada
parcialmente procedente.

Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE a ação direta, para


declarar a inconstitucionalidade da EC 44/2000 do Estado de Minas
Gerais.
É o voto.

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Voto Vogal

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.696 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Atentem para os


procedimentos relativos ao itinerário processual das ações trazidas à
apreciação deste Tribunal. Nada obstante a iniciativa em prol da
racionalidade no regular andamento dos trabalhos do Pleno, cuja
atividade judicante tem sido sobremaneira dificultada pela invencível
avalanche de processos, tem-se por premissa inafastável, considerada a
formalização de processo objetivo, a impropriedade de o Supremo
pronunciar-se, não em ambiente presencial, mas no dito Plenário Virtual,
quando há o prejuízo da organicidade do Direito, do devido processo
legal, afastada a sustentação da tribuna.
Faço a observação reiterando, por dever de coerência, ser o
Colegiado – órgão democrático por excelência – somatório de forças
distintas, cujo resultado pressupõe colaboração, cooperação mútua entre
os integrantes, quadro de todo incompatível com a deliberação em âmbito
eletrônico.

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Extrato de Ata - 25/10/2019

Inteiro Teor do Acórdão - Página 25 de 25

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.696


PROCED. : MINAS GERAIS
RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente o


pedido formulado na ação direta para declarar a
inconstitucionalidade da Emenda Constitucional 44/2000 do Estado
de Minas Gerais, nos termos do voto do Relator. Plenário, Sessão
Virtual de 18.10.2019 a 24.10.2019.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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