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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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20/09/2019 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.405 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
ADV.(A/S) : PGE-RS - PAULO PERETTI TORELLY
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


DIREITO TRIBUTÁRIO. LEI DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
11.475/2000. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. COBRANÇA
JUDICIAL DE CRÉDITOS INSCRITOS EM DÍVIDA ATIVA DA
FAZENDA PÚBLICA. REVOGAÇÃO DE PARTE DA NORMA
IMPUGNADA. CONHECIMENTO PARCIAL DA AÇÃO.
PRECEDENTES. PREVISÃO DE MODALIDADES DE EXTINÇÃO DO
CRÉDITO TRIBUTÁRIO EM LEI ESTADUAL. POSSIBILIDADE.
ESTABELECIMENTO DE COMPETÊNCIAS E IMPOSIÇÃO DE
ATRIBUIÇÕES AO PODER EXECUTIVO POR LEI DE INICIATIVA
PARLAMENTAR. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E
VIOLAÇÃO À SEPARAÇÃO DE PODERES. IMPOSIÇÃO DE
CONDIÇÃO PARA REPARTIÇÃO OBRIGATÓRIA DE RECEITAS
TRIBUTÁRIAS POR LEI ESTADUAL. INCONSTITUCIONALIDADE.
COMPENSAÇÃO DE PRECATÓRIOS COM DÉBITOS DECORRENTES
DE OPERAÇÕES FINANCEIRAS DE BANCOS PÚBLICOS ESTADUAIS.
ALTERAÇÃO DA SISTEMÁTICA DE INSTITUTO DE DIREITO CIVIL.
COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO (ART. 22, I, DA CF).
INCONSTITUCIONALIDADE. COMPENSAÇÃO DE DÍVIDAS
TRIBUTÁRIAS COM PRECATÓRIOS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
CONFIRMAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR EM MENOR EXTENSÃO.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA
PROCEDENTE EM PARTE.
1. A jurisdição constitucional abstrata brasileira não admite o
ajuizamento ou a continuidade de ação direta de inconstitucionalidade de

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ADI 2405 / RS

lei ou ato normativo já revogado ou cuja eficácia já tenha se exaurido,


independentemente do fato de terem produzido efeitos concretos
residuais. Perda de objeto parcial da ação em relação aos seguintes
dispositivos: inciso III do art. 114; parágrafo único do art. 118; e arts. 134 a
136, todos da Lei 6.537/1973 do Estado do Rio Grande do Sul, com
redação dada pela Lei 11.475/2000 do mesmo Estado. Precedentes.
2. Não há reserva de Lei Complementar Federal para tratar de novas
hipóteses de suspensão e extinção de créditos tributários. Possibilidade
de o Estado-Membro estabelecer regras específicas de quitação de seus
próprios créditos tributários.
3. Ao criar órgãos e estabelecer competências para o Poder
Executivo do Estado do Rio Grande do Sul, bem como para a
Procuradoria-Geral do Estado, a lei estadual, de iniciativa parlamentar,
viola regra constitucional que determina a iniciativa privativa do chefe do
Poder Executivo para a disciplina de sua organização administrativa (CF,
art. 61, § 1º, II, “e”).
4. É inconstitucional a norma que invade a competência própria do
Poder Executivo para dar destinação aos imóveis recebidos por dação em
pagamento decorrente de créditos tributários, bem como a que impõe a
instituição de programa de financiamento no banco do Estado, matéria
submetida à reserva de administração (art. 61, § 1º, II, “e”, c/c art. 84, II e
VI, “a”, da CF).
5. Viola o texto constitucional a norma estadual que impõe condições
para a repartição de receitas tributárias, por contrariedade ao art. 158 da
Constituição Federal. Precedentes.
6. Inconstitucionalidade, com interpretação conforme à Constituição,
sem redução de texto, do § 3º do art. 114, introduzido na Lei 6.537/1973
pela Lei 11.475/2000, com relação ao Imposto sobre a Propriedade de
Veículos Automotores (IPVA). Interferência no sistema constitucional de
repartição do produto da arrecadação do IPVA (50%).
7. Ao estabelecer condicionantes à compensação de precatórios com
dívidas decorrentes de operações financeiras nos bancos públicos
estaduais, a norma estadual alterou a sistemática da compensação.

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Norma relativa ao Direito Civil, tema inserido no rol de competências


legislativas privativas da União (art. 22, I, da CF).
8. Possibilidade de compensação de precatórios com débitos
tributários. Precedentes.
9. Inconstitucionalidade dos seguintes dispositivos legais: o art. 117;
a expressão “da Comissão de Dação em Pagamento” contida no
parágrafo único do art. 122; o caput do art. 123, as alíneas “a”, “b”, “c”,
“d”, “e”, “f”, e “g”, e parágrafo único; os §§ 2º e 3º do art. 124; a expressão
“por órgão da Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos,
podendo esta, para efetivação da avaliação, requisitar servidores
especializados de outros órgãos públicos da Administração Direta e
Indireta”, conforme o caput do art. 125; o § 2º do art. 125; a expressão
“salvo se forem área de preservação ecológica e/ou ambiental”, conforme
o caput do art. 127; os §§ 1º e 4º do art. 127; o parágrafo único do art. 128; a
expressão “sendo competente para transigir o Procurador-Geral do
Estado” do art. 130; todos da Lei Estadual 6.537/1973, com a redação dada
pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000 do Estado do Rio Grande do Sul; e
ainda o art. 98 da Lei 6.537/1973, na redação dada pelo inciso IV do art. 1º
da Lei 11.475/2000 do Estado do Rio Grande do Sul; a expressão “por
meio da Comissão de Dação em Pagamento, prevista no art. 123 da Lei nº
6.537, de 27 de fevereiro de 1973, e alterações, com a redação dada por
esta lei”, veiculada pelo § 2º do art. 4º da Lei 11.475/2000; o § 3º do art. 4º;
o art. 6º; o caput do art. 7º e parágrafo único; e o art. 8º, todos da Lei
11.475/2000 do Estado do Rio Grande do Sul.
10. Conhecimento parcial da ação. Medida cautelar confirmada em
menor extensão. Procedência em parte da Ação Direta de
Inconstitucionalidade.

AC ÓRDÃ O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros do Supremo


Tribunal Federal, em Plenário, sob a Presidência do Senhor Ministro
DIAS TOFFOLI, em conformidade com a ata de julgamento e as notas

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taquigráficas, por unanimidade, acordam em julgar parcialmente


procedente a ação direta, e, na parte conhecida, confirmar a medida
cautelar em menor extensão, declarando como inconstitucionais, com
interpretação conforme à Constituição, sem redução de texto, o § 3º do
art. 114, com relação ao Imposto sobre a Propriedade de Veículos
automotores (IPVA); bem como o art. 117; a expressão "da Comissão de
Dação em Pagamento" contida no parágrafo único do art. 122; o caput do
art. 123, as alíneas a, b, c, d, e, f, e g, e parágrafo único; os §§ 2º e 3º do art.
124; a expressão "por órgão da Secretaria da Administração e dos
Recursos Humanos, podendo esta, para efetivação da avaliação,
requisitar servidores especializados de outros órgãos públicos da
Administração Direta e Indireta" , conforme o caput do art. 125; o § 2º do
art. 125; a expressão "salvo se forem área de preservação ecológica e/ou
ambiental", conforme o caput do art. 127; os §§ 1º e 4º do art. 127; o
parágrafo único do art. 128; a expressão "sendo competente para transigir
o Procurador-Geral do Estado" do art. 130; todos da Lei Estadual nº
6.537/1973, com a redação dada pelo art. 1º, III, da Lei nº 11.475/2000 do
Estado do Rio Grande do Sul; e ainda o art. 98 da Lei nº 6.537/1973, na
redação dada pelo inciso IV do art. 1º da Lei nº 11.475/2000 do Estado do
Rio Grande do Sul; a expressão "por meio da Comissão de Dação em
Pagamento, prevista no art. 123 da Lei nº 6.537, de 27 de fevereiro de
1973, e alterações, com a redação dada por esta lei", veiculada pelo § 2º do
art. 4º da Lei nº 11.475/2000; o § 3º do art. 4º; o art. 6º; o caput do art. 7º e
parágrafo único; e o art. 8º, todos da Lei nº 11.475/2000 do Estado do Rio
Grande do Sul; mantidos os demais dispositivos atacados, nos termos do
voto do Relator.

Brasília, 20 de setembro de 2019.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.405 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
ADV.(A/S) : PGE-RS - PAULO PERETTI TORELLY
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR): Trata-se


de Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de medida liminar,
ajuizada pelo Governador do Estado do Rio Grande do Sul, em face de
dispositivos da Lei Estadual 11.475/2000, a qual introduziu alterações (i)
na Lei Estadual 6.537/1973, que dispõe sobre o procedimento tributário
administrativo no Estado do Rio Grande do Sul, e (ii) na Lei 9.298/1991,
que dispõe sobre a cobrança judicial de créditos inscritos em dívida ativa
da Fazenda Pública daquele Estado.
Eis o teor dos dispositivos impugnados:

“Art. 1º - Na Lei nº 6.537, de 27 de fevereiro de 1973, e


alterações, são introduzidas as seguintes modificações:
I – o Título IV passa a ser o Título V;
II – os arts. 114 a 123 passam a ser, respectivamente, arts.
137 a 145;
III – fica introduzido o Título IV, “Das demais formas de
extinção do crédito tributário”, integrado pelos arts. 114 a 136,
com a seguinte redação:
“TÍTULO IV
DAS DEMAIS FORMAS DE EXTINÇÃO DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 114 - A extinção de crédito tributário prevista neste

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Título fica condicionado a que:


I – na hipótese de dação de bens imóveis em pagamento:
a) o valor objeto não seja superior a 75% (setenta e cinco
por cento), do total do crédito tributário; e
b) no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) do valor
quitado pela entrega dos bens seja, na mesma data, pago em
moeda corrente nacional;
II – na hipótese de transação, o pagamento seja efetuado
integralmente em moeda corrente nacional;
III – na hipótese de compensação, os valores sejam
expressos em moeda corrente nacional.
§ 1º - O saldo eventualmente remanescente deverá ser
pago de uma só vez, integralmente ou mediante moratória.
§ 2º - A utilização de qualquer das formas previstas neste
Título somente poderá ser reutilizada pelo beneficiário
decorridos 24 (vinte e quatro) meses de sua efetivação.
§ 3º - Na data da efetivação do respectivo registro no
órgão competente, deverá ser creditado, à conta dos
municípios, 25% (vinte e cinco por cento) do montante do
crédito tributário extinto.
§ 4º - Os créditos tributários inscritos como Dívida Ativa
após 30 de abril de 1999, decorrentes de inadimplência de
imposto, não poderão ser objeto de dação em pagamento de
bem imóvel.
Art. 115 - A proposta de extinção de crédito tributário só
será recebida se abranger a sua totalidade, ou o saldo ainda
remanescente, e importará, de parte do sujeito passivo, na
renúncia ou desistência de qualquer recurso na esfera
administrativa ou judicial, inclusive quanto a eventuais verbas
de sucumbência.
Parágrafo único - A proposta não implicará a suspensão
da ação de execução fiscal ou do recolhimento de qualquer
crédito tributário, mesmo dos que se encontram sob moratória.
Art. 116 - Ao crédito tributário serão acrescidos, quando
for o caso, as custas judiciais e os honorários advocatícios.
Parágrafo único - Os honorários advocatícios do Estado

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não ultrapassarão 2% (dois por cento) do valor da dívida, e as


verbas de sucumbência correrão a conta do devedor.
Art. 117 - A aceitação da proposta de dação em
pagamento, de transação ou de compensação compete,
conforme o caso, ao Secretário de Estado da Fazenda ou ao
Procurador-Geral do Estado.
Art. 118 - A proposição de extinção de créditos tributários
não gera nenhum direito ao proponente ou ao sujeito passivo, e
sua aceitação somente se dará na hipótese de interesse da
administração pública.
Parágrafo único - O disposto no “caput” não se aplica na
hipótese de compensação.
Art. 119 - Não poderá propor extinção do crédito
tributário nos termos deste Título aquele que praticar fraude a
credores, conforme conceitua o art. 106 do Código Civil
Brasileiro, ou ainda, que praticou crime contra a ordem
tributária prevista na Lei Federal nº 8.137, de 27 de dezembro
de 1990.
Art. 120 - Anualmente, a Secretaria da Fazenda e a
Procuradoria-Geral do Estado encaminharão, dentro de suas
respectivas áreas de competência, ao Poder Legislativo,
relatório contendo os resultados apurados no ano civil anterior,
referente às extinções de créditos tributários com base neste
Título.
Art. 121 - O Poder Executivo ao regulamentar o disposto
neste Título poderá exigir certidões do devedor, do proprietário
do bem e relativas ao próprio bem.
Parágrafo único - Na hipótese de dação em pagamento, o
Poder Executivo fica autorizado a receber bens para extinção de
créditos tributários constituídos, ainda que não inscritos como
Dívida Ativa.
CAPÍTULO II
DA DAÇÃO EM PAGAMENTO
Art. 122 - Os créditos tributários inscritos como Dívida
Ativa poderão ser extintos, total ou parcialmente, mediante
dação de bens.

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Parágrafo único - O disposto no “caput” fica condicionado


à declaração do interesse da administração pública que será
definida por resolução da Comissão de Dação em Pagamento.
Art. 123 - A Comissão de Dação em Pagamento será
formada pelos representantes dos seguintes órgãos ou
entidades:
a) Secretaria de Estado da Administração e dos Recursos
Humanos (SARH);
b) Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA);
c) Procuradoria-Geral do Estado (PGE);
d) Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (SAA);
e) Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do
Sul (FIERGS);
f) Federação das Associações Comerciais do Rio Grande
do Sul (FEDERASUL);
g) Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do
Sul (FARSUL).
Parágrafo único - Os representantes serão, conforme o
caso, os Secretários de Estado ou Presidentes das Federações,
ou pessoa por estes indicadas, ficando a presidência a cargo do
representante da Secretaria da Administração e dos Recursos
Humanos, que terá o voto de desempate.
Art. 124 - A proposta de dação em pagamento será
formalizada por escrito, dela devendo constar todos os dados
necessários à identificação do proponente, do sujeito passivo,
do crédito tributário e do bem oferecido.
§ 1º - Quando se tratar de bem imóvel, deverá acompanhar
a proposta com certidão de propriedade atualizada, expedida
pelo Registro de Imóveis e planta ou croqui de situação e
localização.
§ 2º - A Comissão de Dação em Pagamento terá um prazo
máximo de 90 (noventa) dias, contados da data do protocolo da
proposta, para analisar e decidir as condições apresentadas pelo
proponente, sendo que expirado este prazo sem a devida
manifestação, importará em aceite presumido da proposta
formalizada.

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§ 3º - O prazo previsto no parágrafo anterior poderá ser


prorrogado uma única vez, por igual período, a partir da
solicitação de qualquer dos representantes da mencionada
Comissão.
§ 4º - Aceita a proposta, o interessado deverá providenciar,
no prazo máximo de 90 (noventa) dias, a documentação
necessária à efetivação da dação em pagamento.
Art. 125 - Proposta a dação, o bem oferecido será avaliado
por órgão da Secretaria da Administração e dos Recursos
Humanos, podendo esta, para efetivação da avaliação,
requisitar servidores especializados de outros órgãos públicos
da Administração Direta e Indireta.
§ 1º - O valor venal do bem imóvel oferecido será expresso
em moeda corrente nacional e convertida em quantidade de
UPF-RS, tomando-se por referência o valor desta na data da
avaliação.
§ 2º - A dação somente será efetivada com base na
avaliação procedida nos termos deste artigo, desta cabendo
recurso, uma única vez, à Comissão de Dação em Pagamento.
§ 3º - Na hipótese de proposta de dação de bem imóvel
declarado de patrimônio histórico e as áreas de preservação
ecológica e/ou ambiental, a avaliação deverá levar em
consideração os preços dos imóveis localizados na mesma
região e sem as restrições impostas às respectivas áreas.
Art. 126 - A dação em pagamento só se efetivará se o valor
do bem ou dos bens forem igual ou inferiores a 75% (setenta e
cinco por cento) do débito indicado na proposta original, que
não poderá ser renovada, substituída e nem aditada para retirar
ou incluir créditos tributários.
§ 1º - Se o valor do bem ou dos bens forem inferiores ao do
crédito indicado na proposta, o saldo devedor remanescente
poderá ser pago em moeda corrente, ainda que
parceladamente, ou compensado com crédito fiscal.
§ 2º - Se o valor do bem ou bens forem superioras a 75%
(setenta e cinco por cento) do valor do crédito tributário, o
proponente poderá, mediante manifestação por escrito:

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a) propor que a dação em pagamento se efetive


equivalente ao percentual antes mencionado, hipótese em que
não lhe caberá o direito de exigir indenização, a qualquer título,
da diferença;
b) oferecer outro bem em substituição, desde que o prazo
não exceda a 15 (quinze) dias, contado da data da ciência da
respectiva avaliação.
§ 3º - A substituição de que trata a alínea “b” do parágrafo
anterior poderá ser requerida somente uma vez, sob pena de
anulação da proposta.
§ 4º - Na hipótese do parágrafo 2º, a renúncia ao direito à
indenização, quando se tratar de bens imóveis, deverá,
obrigatoriamente, constar da escritura pública de dação de
imóvel em pagamento.
§ 5º - Não poderá apresentar nova proposta de dação em
pagamento, antes de 36 (trinta e seis) meses, aquele que efetuou
a substituição prevista no parágrafo 2º e, se for o caso, o
segundo bem não for aceito como dação em pagamento.
Art. 127 - Somente poderá ser objeto de dação em
pagamento, na hipótese de bem imóvel, quando o referido
estiver desonerado, livre de qualquer ônus, situado neste
Estado, desde que matriculado no Cartório de Registro de
Imóveis, em nome do proprietário e, em se tratando de imóveis
rurais, estes deverão ter, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da
área total própria para a agricultura e/ou pecuária, salvo se
forem área de preservação ecológica e/ou ambiental.
§ 1º - Os bens imóveis declarados patrimônios históricos e
as áreas de preservação ecológica e/ou ambiental, por ato do
Poder Executivo Federal e/ou Estadual, deverão ser aceitos
obrigatoriamente e com prioridade sobre os demais, e sua
avaliação deverá considerar os interesses ecológicos, ambiental,
cultural e educacional, independente de seu estado de
conservação.
§ 2º - A escritura pública, na hipótese de bem imóvel,
deverá ser celebrada no prazo de 90 (noventa) dias, contado da
data da ciência, ao proponente, do despacho a que se refere o

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artigo anterior, sob pena de caducidade da aceitação da


proposta.
§ 3º - O proponente arcará, na hipótese de bem imóvel,
com todas as despesas de publicação e cartoriais, inclusive as de
matrícula do título no Ofício de Imóveis competente.
§ 4º - Não poderão ser objeto de proposta de dação os
imóveis locados ou ocupados a qualquer título.
Art. 128 - Os bens recebidos na forma permitida nesta lei
passarão a integrar o patrimônio do Estado sob regime de
disponibilidade plena e absoluta, devendo os imóveis serem
tombados pelo órgão competente.
Parágrafo único - Os imóveis assim recebidos,
preferencialmente, deverão ser destinados em programas
habitacionais de interesse social ou, ainda, em programas de
assentamento agrário.
Art. 129 - O Poder Executivo poderá alienar, a título
oneroso, os bens recebidos nos termos desta lei
independentemente de autorização legislativa específica.
§ 1º - O valor da alienação dos bens na forma deste artigo
não poderá ser inferior àquele pelo qual foi recebido, acrescido
da atualização apurada mediante nova avaliação.
§ 2º - O município que manifestar interesse na aquisição
de imóvel recebido pelo Estado, deverá habilitar-se mediante
pedido acompanhado de cópia de lei que autorize a alienação e
o desconto do respectivo valor do repasse do ICMS.
§ 3º - O pagamento poderá ser feito em até 240 (duzentas e
quarenta) prestações consecutivas, mediante deduções mensais
do repasse do ICMS, formalmente autorizadas pelo município.
CAPÍTULO III
DA TRANSAÇÃO
Art. 130 - Os créditos tributários em litígio judicial
poderão ser extintos, total ou parcialmente, mediante transação
com o Estado, sendo competente para transigir o Procurador-
Geral do Estado.
Art. 131 - Na hipótese em que o sujeito passivo promover
ação judicial, visando à desconstituição do crédito tributário e a

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sentença do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul


for favorável ao réu, a multa constante do Auto de Lançamento
poderá ser reduzida em 30% (trinta por cento), caso haja
desistência do recurso da referida sentença, e o pagamento, em
moeda corrente nacional, do respectivo crédito tributário
efetue-se de uma só vez, no prazo de trinta dias, contados do
trânsito em julgado da sentença.
§ 1º - O disposto no "caput" aplica-se, também, para os
casos em que o crédito tributário foi constituído em face de
depósito judicial, após a propositura da ação judicial contra o
Estado.
§ 2º - Nas hipóteses de conversões de depósitos judiciais
em renda, aplicar-se-ão as disposições do “caput”,
dispensando-se eventuais diferenças de valores em função de
índices de atualização monetária empregados na correção dos
créditos tributários e nos respectivos depósitos.
§ 3º - O disposto no “caput” aplica-se, ainda, na hipótese
de sentença de primeiro grau.
Art. 132 - A multa constante do crédito tributário inscrito
como Dívida Ativa poderá ser reduzida de 20% (vinte por
cento), na hipótese de o devedor não oferecer embargos à ação
de execução fiscal, e o respectivo pagamento, em moeda
corrente nacional, ocorra de uma só vez no prazo fixado para
oferecer o referido recurso.
Art. 133 - Aplicam-se, no que couber, as disposições dos
arts. 1.025 e seguintes do Código Civil Brasileiro.
CAPÍTULO IV
DA COMPENSAÇÃO
Art. 134 - É assegurado ao contribuinte, inscrito do
Cadastro Geral de Contribuintes do Tesouro de Estado, o
direito à compensação, total ou parcial, de seus débitos de
natureza tributária, inscritos ou não como Dívida Ativa, em
cobrança administrativa ou judicial, com seus créditos vencidos
contra o Estado.
Parágrafo único - Os débitos vencidos do Estado para
serem objeto de compensação deverão estar representados por

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sentença transitada em julgado ou título executivo extrajudicial.


Art. 135 - Somente serão aceitos como débitos vencidos,
para fins de compensação, aqueles em que a Secretaria da
Fazenda houver empenhado em prazo superior a 30 (trinta)
dias.
Parágrafo único - Para fins do disposto neste Capítulo, o
ato administrativo de empenhar o débito a favor do
contribuinte atribui ao título extrajudicial a característica de
certeza e liquidez do mesmo.
Art. 136 - Aplicam-se, no que couber, as disposições dos
arts. 1.009 e seguintes do Código Civil Brasileiro.”;
IV – o “caput” do art. 98 passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 98 - O mandato dos Juízes e de seus suplentes tem
duração de 4 (quatro) anos, admitida uma recondução por igual
período, ficando automaticamente prorrogado o último
mandato com duração de 2 (dois) anos, e desde que observado
o disposto no § 3º do artigo anterior.”
Art. 2º - Fica revogado o § 1º do art. 9º, da Lei nº 6.537, de
27 de fevereiro de 1973, e alterações.
Art. 3º - O “caput” do art. 1º da Lei nº 9.298, de 9 de
setembro de 1991, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1º - O Poder Executivo, decorridos 180 (cento e
oitenta) dias, contados da inscrição como Dívida Ativa de
crédito da Fazenda Pública Estadual, promoverá a emissão da
respectiva Certidão de Dívida Inscrita e a remeterá para a
cobrança judicial, respeitado o limite fixado no “caput” do
artigo 2º desta lei.”
Art. 4º - Os créditos tributários inscritos como Dívida
Ativa até 30 de abril de 1999, em cobrança administrativa ou
judicial, poderão ser extintos mediante dação em pagamento de
títulos públicos emitidos pelo Estado do Rio Grande do Sul
e/ou pela União Federal.
§ 1º - A aceitação dos Títulos da Dívida Contratual
Securitizada e da Dívida Agrária, de responsabilidade do
Tesouro Nacional, deverão estar custodiados em conta mantida

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ADI 2405 / RS

por pessoa jurídica na Central de Custódia e de Liquidação


Financeira de Títulos – CETIP.
§ 2º - O Poder Executivo, por meio da Comissão de Dação
em Pagamento, prevista no art. 123 da Lei nº 6.537, de 27 de
fevereiro de 1973, e alterações, com a redação dada por esta lei,
estabelecerá a forma, o prazo e as condições em que se efetivará
o pagamento na modalidade prevista no “caput” deste artigo,
especificando, inclusive, os títulos que poderão ser objeto da
modalidade de extinção do crédito tributário previsto neste
artigo, bem como os valores pelos quais serão recebidos, tendo
em vista os encargos e os prazos de vencimento, exceto os
Títulos da Dívida Agrária que serão recebidos pelo Estado com
desconto, sobre o valor de face, estabelecido em Decreto do
Executivo, tendo por base portaria conjunta dos Ministros de
Estado da Fazenda e da Previdência e Assistência Social.
§ 3º - Os títulos recebidos referentes às parcelas
pertencentes aos municípios, previstas no inciso IV do artigo
158 da Constituição Federal, serão convertidos em moeda
corrente nacional e repassados a esses, pela Secretaria da
Fazenda, no dia do resgate dos certificados.
Art. 5º - O disposto no artigo anterior aplica-se, ainda,
para os créditos de pessoas físicas perante o Estado do Rio
Grande do Sul, decorrentes de sentença judicial transitada em
julgado, proferida em processos onde se decidiu sobre direito
de servidores públicos deste Estado, os quais forem cedidos a
pessoas jurídicas de direito privado, após a expedição do
respectivo precatório.
Parágrafo único - Os créditos contra o Estado, adquiridos
nos termos deste artigo, serão utilizados, com plena e absoluta
admissibilidade na compensação de tributos ou de qualquer
débito fiscal.
Art. 6º - Os débitos decorrentes de operações financeiras
junto à Caixa Econômica Estadual do Rio Grande do Sul e ao
Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A poderão ser pagos
ou abatidos com os créditos mencionados nos arts. 3º e 4º desta
lei, desde que tais débitos tenham sido contraídos antes de 30

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de junho de 1994 e estejam em cobrança judicial.


Art. 7º - A instalação da Comissão de Dação em
Pagamento ocorrerá no prazo máximo de 30 (trinta) dias
contados da publicação desta lei e reunir-se-á no mínimo uma
vez por mês.
Parágrafo único - A Comissão de Dação em Pagamento
terá o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da sua instalação,
para publicar no Diário Oficial do Estado o seu regimento
interno e as condições para aceitação de bens imóveis e títulos
da dívida pública.
Art. 8º - O Poder Executivo deverá instituir um programa
especial, junto ao Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A,
para concessão de financiamento, com prazo de até 60
(sessenta) meses, do montante excedente ao limite previsto no
art. 114 da Lei nº 6.537, de 27 de fevereiro de 1973, e alterações,
com redação que lhe foi dada por esta lei.
Art. 9º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação,
produzindo efeitos, quanto aos arts. 1º, 4º ao 8º, a partir do 1º
dia do segundo mês subseqüente a sua publicação.
Art. 10 - Revogam-se as disposições em contrário.”

O autor aponta a incompatibilidade de diversos dispositivos da lei


com o texto da Constituição Federal, argumentando, em síntese, que a
norma estadual ordinária não poderia disciplinar sobre os temas ali
tratados, destacando-se as seguintes (i) extinção e suspensão da
exigibilidade do crédito tributário sem atenção ao disposto no art. 146, III,
letra “b”, da Constituição, que impõe a edição de Lei Complementar para
tratar sobre normas gerais em matéria de legislação tributária; (ii)
moratória na exigência dos créditos tributários em desacordo com o
disposto no art. 150, § 6º, da CF, que determina que qualquer subsídio ou
isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido,
anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, somente
poderá ser concedido mediante lei específica; (iii) repartição de receitas
tributárias e repasses financeiros daí decorrentes sem atenção,
respectivamente, ao art. 157 até o art. 162, e aos arts. 161 e 163, todos da

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CF; (iv) vedação de dação em pagamento para quitação de créditos fiscais


inscritos em dívida ativa após 30 de abril de 1999, o que representa
afronta ao disposto no art. 5º, inciso XXXVI, da CF; (v) verba honorária
sucumbencial sem atentar para o art. 22, inciso I, da CF, que reserva esse
objeto como de competência legislativa privativa da União; (vi)
atribuições de autoridades administrativas estaduais, incluídas rotinas
estritamente administrativas, por afronta ao art. 61, § 1º, letra “e”, c/c o
art. 84, inciso III, da CF; (vii) tornar facultativa a exigência, por parte do
Poder Executivo, de certidões de regularidade de devedor, de
proprietário de bem ou relativas ao próprio bem, uma vez que se
promoveria assim ato de improbidade administrativa; (viii) equiparação
da dação a um simples ato de pagamento da dívida, a lei invade campo
legislativo reservado privativamente à União, nos termos do art. 22, inciso
I, da CF; (ix) dação em pagamento para quitação de débito fiscal,
condicionando, contudo, a sua consumação a manifestação de eventual
interesse de parte de Comissão de Dação em Pagamento; (x) criação de
órgão denominado “Comissão de Dação em Pagamento” sem atenção ao
art. 61, § 1º, inciso II, letras “a” e “e”, da CF, que dispõe sobre criação de
cargos de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e
autárquica ou aumento de remuneração, e de criação e extinção de órgãos
da administração pública; (xi) destinação dada aos imóveis recebidos por
dação, quando a lei estabelece que esses bens deverão ser incorporados
ao patrimônio estadual, invadindo o juízo de conveniência e
oportunidade da Administração Pública, além de representar afronta ao
art. 167, IV, da CF, que veda a vinculação de receitas de impostos a órgão,
fundo ou despesa, considerando que os bens recebidos em dação o são em
pagamento de tributos; (xii) autorização genérica para alienação dos bens
recebidos em dação em pagamento, sem as formalidades decorrentes do
art. 37, XXI, da CF; (xiii) disciplinar a figura da transação sem atenção ao
art. 61, inciso II, letra “e”, da CF, além de conceder reduções de parcelas
de créditos fiscais em condições de exigibilidade plena; (xiv) dação em
pagamento de títulos públicos emitidos pelo Estado do Rio Grande do
Sul para fins de quitação de débitos fiscais, o que viola os princípios da

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eficiência e da responsabilidade do gestor da coisa pública; (xv) dação em


pagamento para quitação de débitos fiscais de créditos de pessoas físicas
ante o Estado do Rio Grande do Sul, argumentando que legislação
semelhante do Estado do Espírito Santo teve sua eficácia suspensa,
cautelarmente, quando da apreciação das ADIs 2.099 e 2.126; e (xvi)
instituição de programa especial para concessão de financiamento junto
ao banco estadual, visando a quitação de débitos fiscais, representando
violação aos arts. 2º, 84, inciso II, e 167 da CF.
O autor insurge-se, portanto, contra os seguintes dispositivos legais:
art. 114, I, a e b, II, III e §§ 1º, 3º e 4º; art. 116 e seu parágrafo único; art.
117; art. 120; art. 121; art. 122 e seu parágrafo único; art. 123, a a f, art. 124
e seus §§ 1º a 4º; art. 125, §§ 1º a 3º; art. 126, §§ 1º a 5º; art. 127, §§ 1º a 4º;
art. 128 e seu parágrafo único; art. 129 e seus §§ 1º e 2º; arts. 130 a 132,
todos da Lei 6.537/1973, com a redação dada pelo art. 1º, incisos I a III, da
Lei Estadual 11.475/2000; art. 98, caput, da Lei 6.537/1973, com a redação
dada pelo art. 1º, IV, da Lei 11.475/2000; art. 1º, caput, da Lei 9.298/1991,
com a redação estabelecida pelo art. 3º da Lei 11.475/2000, bem como do
art. 4º, §§ 1º a 3º; art. 5º e seu parágrafo único; art. 6º; art. 7º e art. 8º, todos
da Lei 11.475/2000.
Ao final, requer a concessão de medida liminar para suspensão dos
dispositivos impugnados, com a posterior e consequente declaração de
inconstitucionalidade da Lei 11.475/2000.
O então relator Min. ILMAR GALVÃO, adotou o rito do art. 10 da
Lei 9.868/1999, solicitando informações à Assembleia Legislativa do
Estado do Rio Grande do Sul (Peça 4).
A Assembleia Legislativa/RS, em sua manifestação (Peça 6), sustenta
a constitucionalidade da norma, destacando a ausência dos requisitos
para concessão de medida liminar. Postula, ao final, a improcedência da
ação.
Em julgamento da medida liminar, o Plenário do SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL suspendeu a eficácia de alguns dispositivos da lei,
tendo o julgado recebido a seguinte ementa (Peça 21):

“Ação direta de inconstitucionalidade: medida cautelar: L.

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estadual (RS) 11.475, de 28 de abril de 2000, que introduz


alterações em leis estaduais (6.537/73 e 9.298/91) que regulam o
procedimento fiscal administrativo do Estado e a cobrança
judicial de créditos inscritos em dívida ativa da fazenda pública
estadual, bem como prevê a dação em pagamento como
modalidade de extinção de crédito tributário. I - Extinção de
crédito tributário criação de nova modalidade (dação em
pagamento) por lei estadual: possibilidade do Estado-membro
estabelecer regras específicas de quitação de seus próprios
créditos tributários. Alteração do entendimento firmado na
ADInMC 1917-DF, 18.12.98, Marco Aurélio, DJ 19.09.2003:
conseqüente ausência de plausibilidade da alegação de ofensa
ao art. 146, III, b, da Constituição Federal, que reserva à lei
complementar o estabelecimento de normas gerais reguladoras
dos modos de extinção e suspensão da exigibilidade de crédito
tributário. II - Extinção do crédito tributário: moratória e
transação: implausibilidade da alegação de ofensa dos artigos
150, § 6º e 155, § 2º, XII, g, da CF, por não se tratar de favores
fiscais. III - Independência e Separação dos Poderes: processo
legislativo: iniciativa das leis: competência privativa do Chefe
do Executivo. Plausibilidade da alegação de
inconstitucionalidade de expressões e dispositivos da lei
estadual questionada, de iniciativa parlamentar, que dispõem
sobre criação, estruturação e atribuições de órgãos específicos
da Administração Pública, criação de cargos e funções públicos
e estabelecimento de rotinas e procedimentos administrativos,
que são de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo
(CF, art. 61, § 1º, II, e), bem como dos que invadem competência
privativa do Chefe do Executivo (CF, art. 84, II). Conseqüente
deferimento da suspensão cautelar da eficácia de expressões e
dispositivos da lei questionada. IV - Participação dos
Municípios na arrecadação de tributos estaduais. 1. IPVA -
Interpretação conforme, sem redução de texto, para suspensão
da eficácia da aplicação do § 3º do art. 114, introduzido na L.
6.537/73 pela L. 11.475/2000, com relação ao IPVA, tendo em
vista que, ao dispor que "na data da efetivação do respectivo

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registro no órgão competente deverá ser creditado, à conta dos


municípios, 25% do montante do crédito tributário extinto",
interfere no sistema constitucional de repartição do produto da
arrecadação do IPVA (50%). 2. Deferimento da suspensão
cautelar do § 3º do art. 4º da L. 11.475/2000 ("Os títulos
recebidos referentes às parcelas pertencentes aos municípios,
previstas no inciso IV do art. 158 da Constituição Federal, serão
convertidos em moeda, corrente nacional e repassados a esses,
pela Secretaria da Fazenda, no dia do resgate dos certificados"),
pois a norma deixa ao Estado a possibilidade de somente
repassar aos Municípios os 25% do ICMS só quando do
vencimento final do título, que eventualmente pode ter sido
negociado. V - Precatório e cessão de crédito tributário:
plausibilidade da alegação de ofensa ao art. 100, da CF, pelos
arts. 5º e seu parágrafo único e 6º, ambos da lei impugnada, que
concedem permissão para pessoas físicas cederem a pessoas
jurídicas créditos contra o Estado decorrentes de sentença
judicial, bem como admitem a utilização destes precatórios na
compensação dos tributos: deferimento da suspensão cautelar
dos mencionados preceitos legais. VI - Licitação (CF, art. 37,
XXI) - não ofende o dispositivo constitucional o art. 129 da L.
6.537/73 c/ a red. L. 11.475/00 - que autoriza a alienação dos
bens objetos de dação por valor nunca inferior ao que foi
recebido e prevê a aquisição de tais bens por município,
mediante o pagamento em prestações a serem descontadas das
quotas de participação do ICMS. VII - Demais dispositivos cuja
suspensão cautelar foi indeferida. (ADI 2405 MC, Relator(a):
Min. CARLOS BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, DJ de 17/2/2006)”

Em síntese, no julgamento realizado pelo Plenário desta CORTE, foi


indeferida a medida liminar: quanto ao inciso III do art. 1º da Lei estadual
nº 11.475/2000, e quanto à expressão "ou mediante moratória", contida no
§ 1º do art. 114 da Lei estadual nº 9.298/1991, com a redação dada pela Lei
nº 11.475/2000; quanto ao art. 116, parágrafo único; ao art. 120; ao art. 121;
do caput do art. 122; ao art. 126 e respectivos parágrafos; ao art. 129 e aos

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§§ 1º, 2º e 3º; ao art. 131 e respectivos parágrafos; ao art. 132 e quanto ao


art. 133, todos da Lei nº 6.537, de 27 de fevereiro de 1973, com a redação
dada pela Lei nº 11.475/2000; também quanto ao art. 1º da Lei nº
9.298/1991, com o texto estabelecido pelo art. 3º da Lei nº 11.475/2000.
No mesmo julgamento, este SUPREMO TRIBUNAL deferiu a
medida liminar para suspender os efeitos dos seguintes dispositivos: art.
114, § 3º, quanto ao IPVA; do art. 117; da expressão "da Comissão de
Dação em Pagamento", contida no parágrafo único do art. 122; do art. 123,
caput, e das alíneas a, b, c, d, e, f e g, e do parágrafo único; dos §§ 2º e 3º
do art. 124; da expressão "por órgão da Secretaria da Administração e dos
Recursos Humanos, podendo esta, para efetivação da avaliação,
requisitar servidores especializados de outros órgãos públicos da
Administração Direta e Indireta", constante do caput do art. 125; do § 2º
do art. 125; da expressão "salvo se forem área de preservação ecológica
e/ou ambiental", contida no caput do art. 127; dos §§ 1º e 4º do art. 127; do
parágrafo único do art. 128; da expressão "sendo competente para
transigir o Procurador-Geral do Estado", inserida no art. 130; bem como
do art. 98 da Lei nº 6.537/1973, com redação dada pelo inciso IV do art. 1º
da Lei nº 11.475/2000; da expressão "por meio da Comissão de Dação em
Pagamento, prevista no art. 123 da Lei nº 6.537, de 27 de fevereiro de
1973, e alterações, com a redação dada por esta lei", estabelecida no § 2º
do art. 4º; do parágrafo 3º do art. 4º; do art. 5º, caput, e parágrafo único; do
art. 6º; do artigo 7º, caput, e parágrafo único; e do art. 8º, todos da Lei nº
11.475/2000 do Estado do Rio Grande do Sul.
Ao final do referido julgamento, fixou-se como termo inicial da
suspensão da eficácia dos dispositivos acima citados a data do
julgamento, isto é, 6/11/2002.
Foram opostos embargos de declaração (Peça 23), no qual o autor
pleiteou a reparação de erro material existente no acórdão do julgamento
da medida liminar.
Em posterior petição, o autor alegou a ocorrência de modificação
superveniente da legislação impugnada, requerendo, assim, a extinção da
ação quanto ao parágrafo único do art. 118 da Lei 6.537/1973, com a

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redação dada pela Lei 11.475/2000 (Peça 27).


A Procuradoria-Geral da República, em sua manifestação (Peça 33),
concordou com a prejudicialidade da ação apontada pelo autor, e
requereu a extensão do pedido de inconstitucionalidade ao inciso XIII do
art. 1º da Lei 12.209/2004, que alterou o art. 117, da Lei 6.537/1973.
O autor, ainda, trouxe aos autos (Peça 40) a informação de que a Lei
Estadual 12.209/2004 revogou o inciso III do art. 114 e o Capítulo IV do
Título IV (referentes aos arts. 134 a 136), todos da Lei 6.537/1973, com a
redação dada pela lei impugnada.
No julgamento dos embargos de declaração opostos, a CORTE os
acolheu para que “o vício processual alegado seja sanado, de tal modo que o
acórdão proferido em sede de julgamento de Medida Cautelar na ADI 2.405/RS
registre, explicitamente, o indeferimento da liminar quanto à expressão “ou
mediante moratória”, contida no § 1º do art. 114 da Lei Estadual 6.537, de 27 de
fevereiro de 1973, na redação conferida pela Lei 11.475, de 28 de abril de 2000
(norma impugnada na presente ação direta)” (ADI 2405 MC-ED, Rel. Min.
TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, DJe de 26/3/2014).
Oportuno mencionar que as alegações a respeito da perda parcial de
objeto não foram analisadas por ocasião do julgamento dos embargos de
declaração.
Efetuada a substituição de relatoria, foi pedido dia para julgamento
em 27/10/2017.
É o relatório.

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

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20/09/2019 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.405 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR): Cuida-se,


como relatado, de Ação Direta de Inconstitucionalidade, com
requerimento de medida cautelar, ajuizada pelo Governador do Estado
do Rio Grande do Sul contra a Lei Estadual 11.475/2000, promulgada pela
Assembleia Legislativa do mesmo Estado, a partir de rejeição a veto
firmado pela Chefia do Poder Executivo, que promoveu alterações na Lei
6.537/1973, que dispunha sobre o procedimento tributário administrativo,
e na Lei 9.298/1991, a qual tratou sobre a cobrança de créditos fiscais.
Em razão da amplitude do objeto da presente Ação Direta de
Inconstitucionalidade, que envolve a impugnação de inúmeros artigos da
Lei 11.475/2000 do Estado do Rio Grande do Sul, proponho que os
dispositivos impugnados sejam examinados em capítulos, de forma a
permitir uma melhor, e mais didática, compreensão da controvérsia.
Nesses termos, o exame da inconstitucionalidade dos artigos
impugnados, de acordo com os limites definidos na petição inicial, será
realizado dentro dos seguintes capítulos:

1 – Impugnações a dispositivos da lei que se encontram prejudicadas;


2 – Improcedência do pedido com a declaração de constitucionalidade dos
artigos;
3 – Procedência do pedido com a declaração de inconstitucionalidade dos
artigos;
4- Confirmação da cautelar em menor extensão.

1 – Impugnações a dispositivos da lei que se encontram


prejudicadas
Em relação a alguns dispositivos da lei estadual, a ação encontra-se
destituída dos requisitos necessários ao seu prosseguimento, visto que,
em 29 de dezembro de 2004, sobreveio a Lei 12.209 do Estado do Rio

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Grande do Sul, que revogou expressamente o inciso III do art. 114, o


parágrafo único do art. 118 e arts. 134 a 136, todos da Lei 6.537, os quais
foram alterados pela Lei Estadual 11.475/2000, ora impugnada.
A jurisdição constitucional abstrata brasileira não admite o
ajuizamento ou a continuidade de ação direta de inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo já revogado ou cuja eficácia já tenha se exaurido,
independentemente do fato de terem produzido efeitos concretos
residuais (ADI 709, Rel. Min. PAULO BROSSARD, DJ de 20/6/1994, ADI
3.885, Rel. Min. GILMAR MENDES, Pleno, DJe de 28/6/2013; ADI
2.971AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe de 13/2/2015; ADI 5159, Relª.
Minª. CÁRMEN LÚCIA, DJe de 16/2/2016; e ADI 3.408 AgR, Rel. Min.
DIAS TOFFOLI, DJe de 15/2/2017), sob pena de transformação da
jurisdição constitucional em instrumento processual de proteção de
situações jurídicas pessoais e concretas (ADI 649-5/RN, Pleno, Rel. Min.
PAULO BROSSARD, DJ de 23/9/1994; ADI 870/DF – QO, Pleno, Rel. Min.
MOREIRA ALVES, DJ de 20/8/1993). Nas hipóteses de revogação do ato
impugnado, antes do julgamento final da ação, ocorrerá a
prejudicialidade da mesma, por perda do objeto, (ADI QO 748-3/RS,
Pleno, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJ de 15/10/2006).
Decorrida a alteração, caberia ao requerente o ônus de apresentar
eventual pedido de aditamento, caso entendesse subsistentes, na novel
normativa, as inconstitucionalidades inicialmente alegadas. Entretanto, o
próprio Governador do Estado do Rio Grande do Sul, por meio de
manifestação nos autos (docs. 27 e 40), assentou a prejudicialidade da
análise da inconstitucionalidade dos dispositivos revogados pela Lei
12.209/2004.
Entende-se, portanto, superada a inconstitucionalidade arguida,
tendo em vista que os artigos inicialmente impugnados foram retirados
do ordenamento jurídico local, de forma expressa, por legislação
superveniente.
Dessa forma, não conheço da ação direta em relação aos seguintes
dispositivos: inciso III do art. 114, o parágrafo único do art. 118 e arts. 134
a 136, todos da Lei 6.537/1973, os quais foram alterados pela Lei

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11.475/2000, ora impugnada.

2 – Improcedência do pedido com a declaração de


constitucionalidade dos artigos.

2.1 - Possibilidade de nova modalidade de extinção de crédito


tributário por lei estadual (arts. 114, caput; 114, § 2º; 114, § 4º; 115, caput,
e parágrafo único; 116, caput; 118, caput; 119; e 121, parágrafo único,
todos da Lei 6.537/1973, com redação dada pelo art. 1º, III, da Lei
11.475/2000).

Como relatado, o art. 1º, III, da Lei 11.475/2000 introduziu à Lei


6.537/1973 o Título IV, o qual trata “das demais formas de extinção do
crédito tributário”, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul. Assim, em
linhas gerais, o requerente insurge-se contra a constitucionalidade da
disposição, por meio de lei ordinária, de novas hipóteses de extinção e
suspensão de créditos tributários, em afronta ao art. 146, III, “b”, da
Constituição Federal, uma vez que, para tratar de tal matéria, seria
necessária a edição de lei complementar.
No julgamento da medida cautelar, a CORTE entendeu pela
“possibilidade de o Estado-Membro estabelecer regras específicas de
quitação de seus próprios créditos tributários”, alterando o entendimento
firmado na ADI 1.917-MC, de relatoria do Min. MARCO AURÉLIO.
Vejo que a controvérsia referente à matéria posta nos autos merece
atenção em relação a duas situações. Na primeira, deve-se verificar a
possibilidade de os Estados-Membros estabelecerem, por lei ordinária,
novas modalidades de extinção e suspensão de créditos tributários; na
segunda, é preciso analisar se é admitida a utilização da dação em
pagamento de bens móveis para a quitação de créditos tributários.
No tocante à edição de leis tributárias, o legislador constituinte
distribuiu entre a União, Estados e Distrito Federal a competência
legislativa concorrente em matéria de direito tributário, reservando ao
ente central (União) o protagonismo necessário para a edição de normas

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de interesse geral e, aos demais, a possibilidade de suplementarem essa


legislação geral. É o que se depreende da leitura do art. 24, inciso I, da
Constituição da República.
Assim, coube à Lei 5.172/1966 (Código Tributário Nacional - CTN) a
função de instituir as normas gerais de direito tributário aplicáveis à União,
Estados e Municípios. A propósito, cumpre mencionar que o referido
Código, apesar de ter sido editado como lei ordinária, foi recepcionado
materialmente com status de lei complementar pela Constituição de 1967,
e assim mantido pelo constituinte de 1988.
No caso particular, em julgamento da medida cautelar, o Plenário
desta CORTE assentou, conforme os termos do relator, que “a
Constituição de 67 não reservou à lei complementar a enumeração dos meios de
extinção e de suspensão dos créditos tributários. Por igual, a de 88, salvo no que
concerne à prescrição e decadência tributários”.
E ainda, merece destaque o que disse o Min. MOREIRA ALVES
durante os debates:

“Se o Estado pode o mais, até mesmo anistiar, e, portanto, abrir


mão de seu crédito, ele pode o menos, admitir uma forma de
pagamento, que, no caso, sequer compele a Fazenda a recebê-lo, porque
exige a aceitação por parte do orçamento.”

Com essas premissas, da mesma forma como delineado no


julgamento cautelar da presente ação, entendo que a Constituição Federal
não reservou à lei complementar o tratamento das modalidades de
extinção e suspensão dos créditos tributários, à exceção da prescrição e
decadência, previstos no art. 146, III, b, da CF.
Como bem lembrado pelo Min. MOREIRA ALVES, entendo também
aplicável ao presente caso a teoria dos poderes implícitos, segundo a qual
“quem pode o mais, pode o menos”. Dessa forma, se o Estado pode até
remir um valor que teria direito, com maior razão pode estabelecer a
forma de recebimento do crédito tributário devido pelo contribuinte.
A partir dessa ideia, e considerando também que as modalidades de
extinção de crédito tributário, estabelecidas pelo CTN (art. 156), não

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formam um rol exaustivo, tem-se a possibilidade de previsão em lei


estadual de extinção do crédito por dação em pagamento de bens móveis.
Sobre essa questão, confira-se o que diz a doutrina (grifos aditados):

“A dação em pagamento, na lei civil, dá-se quando o


credor consente ‘em receber prestação diversa da que lhe é
devida’ (CC/2002, art. 356). O Código Tributário Nacional, no
texto acrescentado pela Lei Complementar n. 104/2001, só
prevê a dação de imóveis, o que não impede, a nosso ver, que
outros bens (títulos públicos, por exemplo) sejam utilizados
para esse fim, sempre, obviamente, na forma e condições que
a lei estabelecer”.
(...)
O rol do art. 156 não é exaustivo. Se a lei pode o mais
(que vai até o perdão da dívida tributária) pode também o
menos, que é regular outros modos de extinção do dever de
pagar tributo. A dação em pagamento, por exemplo, não figurava
naquele rol até ser acrescentada pela Lei Complementar n.
104/2001; como essa lei só se refere à dação de imóveis, a dação
de outros bens continua não listada, mas nem por isso se deve
considerar banida. Outro exemplo, que nem sequer necessita de
disciplina específica na legislação tributária, é a confusão, que
extingue a obrigação se, na mesma pessoa, se confundem a
qualidade de credor e a de devedor (CC/2002, art. 381). Há,
ainda, a novação (CC/2002, art. 360)”.
(AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 20ª
edição. São Paulo: Saraiva, 2014, pp. 416/417)

“O Código Tributário Nacional não esgota as


possibilidades de extinção do crédito tributário. Não versa
sobre a confusão, conquanto esta seja possível. Basta considerar
a hipótese de herança jacente, vertendo os bens para o Poder
Público: havendo tributos devidos ao próprio ente beneficiário,
poderá operar a confusão, extinguindo-se, por óbvio, a
obrigação tributária”.
(SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 9ª edição.

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São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 715)

No mesmo sentido, cite-se trecho de artigo de autoria de MARCELO


RODRIGUES MAZZEI, ALEXSANDRO FONSECA FERREIRA E ZAIDEN GERAIGE
NETO, publicado na Revista Tributária e de Finanças Públicas (vol. 119,
nov-dez/2014, Revista dos Tribunais, p. 165):

“Como visto, é constitucional que os Estados, Distrito


Federal e Municipios legislem sobre novas causas de extinção
de seus créditos tributarios. Isso porque o rol constante no art.
156 do CTN não é exaustivo, admitindo outras formas de
extinção do crédito, como é o caso do instituto da confusão,
onde ha coincidência entre a figura do credor e do devedor na
mesma relação juridica. Igualmente, dentro dos efeitos da teoria
dos poderes implicitos, mostra-se incoerente a situação juridica
onde o ente federativo credor possa anistiar ou remitir o débito
do devedor (plus) e não possa legislar sobre outra forma de
pagamento do seu crédito (minus).”

Portanto, como norma geral, o CTN previu, nos arts. 151 e 156, as
hipóteses de suspensão e extinção de créditos tributários, porém isso não
impede que os Estados, dentro do seu âmbito de atuação legislativa
concorrente e com base na teoria dos poderes implícitos, possam
regulamentar e estabelecer formas de extinção de seus créditos
tributários.
A propósito, é importante fazer um distinguishing e mencionar que
não há se cogitar incongruência entre o entendimento adotado acima com
o firmado no julgamento definitivo da ADI 1.917, cuja ementa está
transcrita abaixo:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUICIONALIDADE.


OFENSA AO PRINCÍPIO DA LICITAÇÃO (CF, ART. 37, XXI). I
- Lei ordinária distrital - pagamento de débitos tributários por
meio de dação em pagamento. II - Hipótese de criação de nova
causa de extinção do crédito tributário. III - Ofensa ao princípio

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da licitação na aquisição de materiais pela administração


pública. IV - Confirmação do julgamento cautelar em que se
declarou a inconstitucionalidade da lei ordinária distrital
1.624/1997. (ADI 1917, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, DJe de 24/8/2007)”

Nesse julgado, a CORTE analisou a constitucionalidade de lei do


Distrito Federal que dispunha sobre o “pagamento de débitos das
microempresas, das empresas de pequeno porte e das médias empresas, mediante
dação em pagamento de materiais destinados a atender a programas de Governo
do Distrito Federal”.
Apesar de ventilada a questão da necessidade de edição de Lei
Complementar para tratar das formas de extinção de crédito tributário, o
ponto principal da discussão no julgamento da ADI 1917 versou sobre o
desrespeito ao processo licitatório, em contrariedade ao art. 37, XXI, da
CF.
Corroborando esse entendimento, em uma primeira análise do ARE
779.108, o eminente Min. MARCO AURÉLIO consignou:

“Na Medida Cautelar na Ação Direta de


Inconstitucionalidade nº 2.405, relator ministro Ilmar Galvão,
acórdão redigido pelo ministro Sepúlveda Pertence, examinada
em 6 de novembro de 2002, o Tribunal, modificando
parcialmente o entendimento adotado na Medida Cautelar na
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.917, de minha
relatoria, apreciada em 18 de dezembro de 1998, assentou a
competência do legislador estadual para estabelecer regras
específicas quanto à quitação dos débitos tributários locais,
podendo dispor sobre nova modalidade de extinção de créditos
dessa natureza, notadamente a dação em pagamento.”

Ressalto que a matéria discutida nos autos do ARE 779.108 tratava


de questão relativa à criação de nova forma de extinção do crédito
tributário (dação em pagamento) por lei municipal.
Assim, por sua exatidão, reafirmo os fundamentos adotados pela

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CORTE quando da análise da medida cautelar, no sentido de não haver


reserva de Lei Complementar para tratar de novas hipóteses de
suspensão e extinção de créditos tributários, de forma que é
constitucional a previsão, na lei gaúcha, de dação em pagamento,
transação e moratória, como formas de extinção e suspensão de créditos
tributários do Estado do Rio Grande do Sul.

2.2 – Art. 114, § 1º, da Lei 6.537/1973, com redação dada pelo art. 1º,
III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 114 - A extinção de crédito tributário prevista neste


Título fica condicionado a que:
(...)
§ 1º - O saldo eventualmente remanescente deverá ser
pago de uma só vez, integralmente ou mediante moratória.”

Na inicial, o autor insurge-se contra a possibilidade de quitação de


saldo remanescente de débito tributário por meio do instituto da
moratória. Assim, aponta a inconstitucionalidade do dispositivo em três
direções: (i) por ser um favor fiscal, a moratória não poderia ter sido
prevista na lei impugnada, a qual não seria uma lei específica; (ii) a
norma estabelece “cláusula aberta e imprecisa de outorga do favor tributário”;
e (iii) por contemplar todos os tributos estaduais, o dispositivo não atende
às peculiaridades de cada um deles. Portanto, sustenta a
inconstitucionalidade com base nos arts. 5º, II; 150, § 6º; e 155, § 2º, XII, g,
todos da CF.
Não fere a Constituição Federal a previsão, na lei gaúcha, da
possibilidade de haver concessão de moratória para o pagamento de
saldo remanescente de crédito tributário oriundo de dação em
pagamento. Como bem assentado na decisão que indeferiu a cautelar
nesse ponto, o dispositivo legal não disciplinou a moratória, com seus
requisitos e condições, mas apenas previu a possibilidade de utilização
desse instituto em casos de eventual saldo remanescente de crédito
tributário.

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Como se sabe, a edição de lei que preveja a moratória como causa de


suspensão de crédito tributário deve conter os requisitos autorizativos da
medida. Com efeito, assim estabelece o art. 153 do Código Tributário
Nacional:

“Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou


autorize sua concessão em caráter individual especificará, sem
prejuízo de outros requisitos:
I - o prazo de duração do favor;
II - as condições da concessão do favor em caráter
individual;
III - sendo caso:
a) os tributos a que se aplica;
b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do
prazo a que se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de
uns e de outros à autoridade administrativa, para cada caso de
concessão em caráter individual;
c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado
no caso de concessão em caráter individual.”

Ainda que se considere que a lei impugnada tenha instituído a


moratória para quitação de saldo remanescente de débito tributário,
entendo que não houve violação ao texto constitucional.
Como afirmou o Min. ILMAR GALVÃO em seu voto, no julgamento
da cautelar, “se trata de norma pendente de regulamentação por meio de lei”,
não se podendo dizer que houve afronta ao disposto nos arts. 150, § 6º, e
155, § 2º, XII, alínea “g”, da Constituição Federal.
Além disso, diferentemente do que foi alegado na inicial, a
instituição da moratória não exige a edição de lei específica, como
demanda o § 6º do art. 150 da Constituição da República. Nesse
dispositivo, há a exigência de lei específica nos casos em que houver
qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito
presumido, anistia ou remissão, em relação aos impostos, taxas ou
contribuições. Não é o caso da norma impugnada.
A moratória, como se viu, é uma forma de suspensão do crédito

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tributário que tem como característica o diferimento do prazo de


pagamento do tributo. Serve, pois, como um favor em relação ao prazo de
pagamento, concedido ao contribuinte por parte do ente tributante, não
se enquadrando nas hipóteses do art. 150, § 6º, da CF.
Sobre o tema, assim entende a doutrina de MARCELO
ALEXANDRINO e VICENTE PAULO (grifos aditados):

“A moratória está regrada nos arts. 152 a 155 e é a única


modalidade de suspensão de crédito tributário disciplinada
com detalhamento pelo CTN. Devemos lembrar que, como
forma de suspensão do crédito tributário, a moratória encontra-
se submetida à estrita reserva legal, enquadrada no art. 97, VI,
do Código.
Não há, entretanto, para a concessão desse favor fiscal, a
exigência de lei específica, porque ela não está incluída no rol
do art. 150, § 6°, da Constituição .
Dessa forma, a moratória exige lei ordinária para a sua
concessão, por enquadrar-se no art. 97 do CNT, mas a lei não
precisa ser específica, pois não se encontra ela entre as matérias
enumeradas no art. 150, § 6º, da CF/1988 (o parcelamento,
diferentemente, exige lei específica, não por força da
Constituição, mas do próprio CTN – ART. 155-A, caput)”.
(ALEXANDRINO, Marcelo; VICENTE, Paulo. Manual de
Direito Tributário. 8ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro : Forense;
Editora Método, São Paulo, 2009, p. 346)

No mesmo sentido, leciona EDUARDO SABBAG:

“A moratória deve ser concedida por lei ordinária,


permitindo-se ao sujeito passivo que pague o tributo em cota
única, porém, de modo prorrogado. Todavia, diga-se que não se
exige para a concessão do favor ora em estudo a ‘lei específica’,
prevista no art. 150, § 6º, CF, em cujo rol constam dispensas,
como subsídios, isenção, redução de base de cálculo, concessão de
crédito presumido, anistia e remissão”. (SABBAG, Eduardo. Direito
Tributário. 8. ed.; São Paulo: Premier Máxima, 2006, p. 236)

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Portanto, revela-se constitucional o dispositivo.


2.3 – Art. 116, parágrafo único, da Lei 6.537/1973, com redação dada
pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 116 - Ao crédito tributário serão acrescidos, quando


for o caso, as custas judiciais e os honorários advocatícios.
Parágrafo único - Os honorários advocatícios do Estado
não ultrapassarão 2% (dois por cento) do valor da dívida, e as
verbas de sucumbência correrão a conta do devedor.

Alega-se a inconstitucionalidade do preceito acima por afronta ao


art. 22, inciso I, da CF. Sustenta o autor, no caso, que a verba honorária de
sucumbência é instituto de direito processual civil, logo, de competência
legislativa privativa da União.
No julgamento da medida cautelar, a CORTE considerou
constitucional a presente norma ao entendimento, no voto do relator, de
que nada impede “que o Estado renuncie, no todo, ou em parte, como no caso,
aos honorários a que tiver direito em processos de execução fiscal”.
Da mesma maneira, entendo que o preceito impugnado não ofende a
competência privativa da União para legislar sobre direito processual
civil.
Para contextualizar, o artigo em referência está situado em um
capítulo da lei que regulamenta as disposições gerais sobre a extinção do
crédito tributário estadual, no qual estão previstas normas sobre a dação
em pagamento, transação e compensação.
Nesse cenário, em que a lei trata das formas de extinção do crédito
tributário, o caput do art. 116 prevê que serão acrescidos a esse crédito, se
o caso, as custas judiciais e honorários advocatícios. Ao prever esse
acréscimo, o legislador estadual vislumbrou uma situação que é anterior
ao processo judicial, tratada no âmbito administrativo, isto é,
extrajudicialmente.
Para tornar atrativa essa proposta de extinção de crédito, o parágrafo
único da lei limitou os honorários devidos ao Estado a 2% do valor da

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dívida, razão pela qual o autor alega a inconstitucionalidade por ofensa


ao disposto no art. 22, I, da CF.
Porém, como se viu, o dispositivo impugnado não altera as
disposições da lei processual civil no que diz respeito aos honorários
advocatícios decorrentes do processo judicial, matéria pertencente ao
campo legislativo da União. A disciplina tratada na norma impugnada se
refere apenas ao âmbito administrativo, em que o Estado abre mão de
parcela de honorários a que eventualmente teria direito para possibilitar
um cenário favorável à extinção do crédito tributário por meio de dação
em pagamento, transação ou compensação.
Logo, revela-se constitucional o dispositivo.

2.4 – Art. 120 da Lei 6.537/1973, com redação dada pelo art. 1º, III,
da Lei 11.475/2000.

“Art. 120 - Anualmente, a Secretaria da Fazenda e a


Procuradoria-Geral do Estado encaminharão, dentro de suas
respectivas áreas de competência, ao Poder Legislativo,
relatório contendo os resultados apurados no ano civil anterior,
referente às extinções de créditos tributários com base neste
Título.”

A inicial aponta inconstitucionalidade da norma sob o seguinte


fundamento: a imposição de encaminhamento de relatórios, por parte da
Secretaria da Fazenda e da Procuradoria-Geral do Estado ao Poder
Legislativo, configuraria hipótese de ingerência indevida nas atribuições
dos órgãos da Administração Pública.
A CORTE rejeitou esse argumento, por entender que:

“(...) a providência não pode ser tida como incompatível


com o controle que incumbe ao Poder Legislativo, relativamente
ao desempenho da administração estadual, especialmente da
receita pública, dado que se revela da maior utilidade à
apreciação da proposta do orçamento anual da unidade

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federada”.

Acrescentou-se que, em razão da ausência de sanção para o caso de


descumprimento da norma, não haveria afronta ao princípio da
independência entre os Poderes.
Voto por manter o indeferimento da cautelar, declarando a norma
constitucional.

2.5 – Art. 121, caput, da Lei 6.537/1973, com redação dada pelo art.
1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 121 - O Poder Executivo ao regulamentar o disposto


neste Título poderá exigir certidões do devedor, do proprietário
do bem e relativas ao próprio bem”.

O requerente alega que o dispositivo citado afronta os arts. 61, § 1º,


II, alínea “e”, e 84, III, segunda parte, ambos da Constituição Federal,
além de ser uma medida impertinente, pois tornaria facultativa uma
providência que deveria ser obrigatória no que diz respeito ao “dever de
zelar pela integridade dos créditos públicos”.
Assim como previsto na decisão que indeferiu a medida cautelar
nesse ponto, entendo que a norma não transgrediu os preceitos
constitucionais indicados, pois, além de não tratar de organização da
estrutura da administração pública local, a norma apenas remeteu ao
Chefe do Executivo a regulamentação dos documentos necessários à
formalização da dação em pagamento.
Em razão disso, entendo não haver incompatibilidade da norma com
o texto constitucional.

2.6 – Art. 122, caput, da Lei 6.537/1973, com redação dada pelo art.
1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 122 - Os créditos tributários inscritos como Dívida


Ativa poderão ser extintos, total ou parcialmente, mediante

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dação de bens”.

O requerente alega que a enunciação da dação em pagamento como


modalidade de extinção de crédito tributário, na forma como tratada na
lei impugnada, representa uma inovação na ordem jurídica, contrariando
o texto constitucional. Assim, sustenta que, além de o instituto ser
estranho ao que dispõe o CTN, a lei estadual teria invadido a
competência da União para legislar sobre direito civil (CF, art. 22, I), em
razão da pretensa “equiparação da dação a um singelo ato de pagamento da
dívida, como se fora efetivado em dinheiro”.
A insurgência do requerente não merece prosperar. Como se viu,
não há incompatibilidade da utilização de dação em pagamento como
modalidade de extinção de créditos tributários.
Nos termos do voto do Min. ILMAR GALVÃO, a CORTE indeferiu a
medida cautelar sob os fundamentos a seguir, os quais peço vênia para
reportá-los como razão de decidir:

“Reportando-se ao que foi dito acima, é de considerar que


a dação em pagamento, conquanto tenha as relações entre as
partes reguladas pelas normas do contrato de compra e venda,
com essa não se confunde, se tem por objeto a extinção de uma
obrigação.
Daí a impossibilidade de ser submetida a licitação.
De outra parte, a lei sob enfoque, ao adotar a dação como
meio de viabilizar o recebimento de créditos tributários de
difícil realização, na verdade, longe de legislador sobre direito
civil, o que fez foi homenagear um dos institutos disciplinados
no Código de 1917, sendo de considerar, por fim, não ser ele
incompatível com o direito tributário, de natureza obrigacional,
sendo de todo incompreensível que se vede ao Estado utilizá-lo
para aquele fim, quando o próprio CTN prevê a dação como
meio de extinção de débito.”

Logo, não há inconstitucionalidade da norma em análise.

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2.7 – Art. 124, caput, e §§ 1º e 4º, da Lei 6.537/1973, com redação


dada pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 124 - A proposta de dação em pagamento será


formalizada por escrito, dela devendo constar todos os dados
necessários à identificação do proponente, do sujeito passivo,
do crédito tributário e do bem oferecido”
§ 1º - Quando se tratar de bem imóvel, deverá acompanhar
a proposta com certidão de propriedade atualizada, expedida
pelo Registro de Imóveis e planta ou croqui de situação e
localização.
(...)
§ 4º - Aceita a proposta, o interessado deverá providenciar,
no prazo máximo de 90 (noventa) dias, a documentação
necessária à efetivação da dação em pagamento.”

No tocante aos dispositivos acima, alega-se a inconstitucionalidade


por violação ao art. 61, § 1º, “e”, da CF, sob o fundamento de que, por ser
de iniciativa legislativa parlamentar, a norma não poderia estabelecer
atribuições ou rotinas administrativas relativas ao processamento das
propostas de dação em pagamento de créditos tributários. Sustenta o
autor que compete ao Chefe do Executivo deflagrar o processo legislativo
sobre o tema.
As normas estaduais supracitadas, diferentemente do que alega o
requerente, não afrontam o texto constitucional, uma vez que apenas
disciplinam a forma de processamento da dação em pagamento para a
extinção dos créditos tributários.
A propósito, registre-se ainda que esta CORTE, em julgamento sob o
regime de repercussão geral, fixou a seguinte tese: “Inexiste, na
Constituição Federal de 1988, reserva de iniciativa para leis de natureza
tributária, inclusive para as que concedam renúncia fiscal”. Segue abaixo a
ementa do julgado:

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“Tributário. Processo legislativo. Iniciativa de lei. 2.


Reserva de iniciativa em matéria tributária. Inexistência. 3. Lei
municipal que revoga tributo. Iniciativa parlamentar.
Constitucionalidade. 4. Iniciativa geral. Inexiste, no atual texto
constitucional, previsão de iniciativa exclusiva do Chefe do
Executivo em matéria tributária. 5. Repercussão geral
reconhecida. 6. Recurso provido. Reafirmação de
jurisprudência. (ARE 743480 RG, Relator(a): Min. GILMAR
MENDES, DJe de 20/11/2013)”

Logo, revela-se constitucional o disposto no art. 124, caput, e §§ 1º e


4º, da Lei 6.537/1973, com a redação dada pelo art. 1º, III, da Lei
11.475/2000.

2.8 – Art. 125, §§ 1º e 3º, e Art. 127, §§ 2º e 3º, da Lei 6.537/1973, com
redação dada pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 125 (...)


§ 1º - O valor venal do bem imóvel oferecido será expresso
em moeda corrente nacional e convertida em quantidade de
UPF-RS, tomando-se por referência o valor desta na data da
avaliação.
(...)
§ 3º - Na hipótese de proposta de dação de bem imóvel
declarado de patrimônio histórico e as áreas de preservação
ecológica e/ou ambiental, a avaliação deverá levar em
consideração os preços dos imóveis localizados na mesma
região e sem as restrições impostas às respectivas áreas.”

“Art. 127 (...)


§ 2º - A escritura pública, na hipótese de bem imóvel,
deverá ser celebrada no prazo de 90 (noventa) dias, contado da
data da ciência, ao proponente, do despacho a que se refere o
artigo anterior, sob pena de caducidade da aceitação da
proposta.
§ 3º - O proponente arcará, na hipótese de bem imóvel,

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com todas as despesas de publicação e cartoriais, inclusive as de


matrícula do título no Ofício de Imóveis competente.”

A inicial, em relação aos dispositivos acima, afirma contrariedade ao


art. 61, § 1º, II, alínea “e”, da Constituição Federal, ao fundamento de que
a lei estadual teria conferido atribuições a órgão da Administração
Pública.
No entanto, da mesma forma em que foi abordado no voto do relator
original da causa, entendo que os parágrafos acima em nada interferem
na estrutura organizacional de órgão pertencente à Administração local,
pois apenas disciplinam procedimentos ínsitos ao processo de extinção de
crédito tributário por meio de dação em pagamento, de modo que não há
se falar em reserva de iniciativa legislativa por parte do Chefe do
Executivo estadual para tratar da matéria.
Por essas razões, mantem-se o indeferimento da cautelar,
confirmando a constitucionalidade das normas.

2.9 – Art. 126, caput, e §§ 1º a 5º, da Lei 6.537/1973, com redação


dada pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 126 - A dação em pagamento só se efetivará se o


valor do bem ou dos bens forem igual ou inferiores a 75%
(setenta e cinco por cento) do débito indicado na proposta
original, que não poderá ser renovada, substituída e nem
aditada, para retirar ou incluir créditos tributários.
§ 1º - Se o valor do bem ou dos bens forem inferiores ao do
crédito indicado na proposta, o saldo devedor remanescente
poderá ser pago em moeda corrente, ainda que
parceladamente, ou compensado com crédito fiscal.
§ 2º - Se o valor do bem ou bens forem superioras a 75%
(setenta e cinco por cento) do valor do crédito tributário, o
proponente poderá, mediante manifestação por escrito:
a) propor que a dação em pagamento se efetive
equivalente ao percentual antes mencionado, hipótese em que
não lhe caberá o direito de exigir indenização, a qualquer título,

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da diferença;
b) oferecer outro bem em substituição, desde que o prazo
não exceda a 15 (quinze) dias, contado da data da ciência da
respectiva avaliação.
§ 3º - A substituição de que trata a alínea “b” do parágrafo
anterior poderá ser requerida somente uma vez, sob pena de
anulação da proposta.
§ 4º - Na hipótese do parágrafo 2º, a renúncia ao direito à
indenização, quando se tratar de bens imóveis, deverá,
obrigatoriamente, constar da escritura pública de dação de
imóvel em pagamento.
§ 5º - Não poderá apresentar nova proposta de dação em
pagamento, antes de 36 (trinta e seis) meses, aquele que efetuou
a substituição prevista no parágrafo 2º e, se for o caso, o
segundo bem não for aceito como dação em pagamento.”

Por sua precisão, reproduzo o voto do eminente Min. ILMAR


GALVÃO, no julgamento da medida cautelar:

“Sustenta o autor que, além das inconstitucionalidades


que afetam os artigos 125 e 126, já examinados, não esclarecem
o número de parcelas em que pode ser parcelado eventual saldo
devedor, deixando, ademais, de ressalvar o ICMS, com o que se
revelam ofensivas aos arts. 150, § 6.º, e 155, § 2.º, XII, g, da
Constituição.
Aduz ser impertinente, em face do art. 155, § 2.º, XII, c, a
compensação de imposto prevista no § l.º do dispositivo
impugnado.
Sem razão, no entanto, o autor: o parcelamento de débito
fiscal inscrito em divida ativa não pode ser considerado favor
fiscal para os efeitos do art. 150, § 6.º, e art. 155, § 2.º, XII, g, da
CF; a compensação, de sua vez, é tida pelo próprio CTN como
meio de extinção de crédito tributário, cabendo à lei estadual
disciplinar o modo pelo qual se fará ela.
Registre-se, por fim, que o art. 155, § 2.º, XII, c,
contrariamente ao que entendeu o autor, refere a compensação

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exigida pelo princípio da não-cumulatividade do ICMS (art.


155, 2.º, I), que se acha regulamentado pela Lei Complementar
nº 87/96, e não ao meio extintivo da obrigação tributária, não
havendo que se falar, portanto, em ofensa ao dispositivo
constitucional mencionado.”

Confirmo, nesse ponto, a decisão da CORTE que indeferiu a cautelar,


declarando constitucionais os preceitos acima.

2.10 – Art. 128, caput, da Lei 6.537/1973, com redação dada pelo art.
1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 128 - Os bens recebidos na forma permitida nesta lei


passarão a integrar o patrimônio do Estado sob regime de
disponibilidade plena e absoluta, devendo os imóveis serem
tombados pelo órgão competente.”

Na inicial, o requerente sustenta a inconstitucionalidade da norma


sob a alegação de interferência do legislador no juízo de conveniência e
oportunidade da Administração Pública.
Na ocasião do julgamento da medida cautelar, a CORTE rejeitou,
inicialmente, a tese de inconstitucionalidade por entender que a norma
apenas “preenche, de logo, em relação aos bens recebidos em pagamento de
tributos, a exigência de autorização legal para sua alienação”.
Com efeito, no tocante à alienação de imóveis públicos, o antigo
Código Civil de 1916, vigente à época da edição da lei ora impugnada,
estabelecia que esses bens manteriam o caráter de inalienabilidade
enquanto não sobreviesse lei autorizativa em sentido contrário. Seguindo
a mesma ideia, o atual Código Civil estabelece, em seu art. 101, que “os
bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei”.
Portanto, não vislumbro a interferência do legislador estadual nas
atribuições do Poder Executivo, sobretudo no que diz respeito ao juízo de
oportunidade e conveniência em relação aos imóveis recebidos por meio
de dação em pagamento.

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ADI 2405 / RS

Como ficou assentado no julgamento, o artigo em questão apenas


tratou de especificar que os bens recebidos demandariam autorização
legislativa para sua alienação, de modo que deve ser declarada a
constitucionalidade da norma.

2.11 – Art. 129, caput, e §§ 1º a 3º, da Lei 6.537/1973, com redação


dada pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 129 - O Poder Executivo poderá alienar, a título


oneroso, os bens recebidos nos termos desta lei
independentemente de autorização legislativa específica.
§ 1º - O valor da alienação dos bens na forma deste artigo
não poderá ser inferior àquele pelo qual foi recebido, acrescido
da atualização apurada mediante nova avaliação.
§ 2º - O município que manifestar interesse na aquisição
de imóvel recebido pelo Estado, deverá habilitar-se mediante
pedido acompanhado de cópia de lei que autorize a alienação e
o desconto do respectivo valor do repasse do ICMS.
§ 3º - O pagamento poderá ser feito em até 240 (duzentas e
quarenta) prestações consecutivas, mediante deduções mensais
do repasse do ICMS, formalmente autorizadas pelo município.”

O requerente alega que a liberalidade disposta nas normas em


análise seria incompatível (i) com o regime de licitação (CF, art. 37, XXI); e
(ii) com o modelo de repartição de receitas tributárias (CF, arts. 158 e 161).
No voto condutor do julgamento da cautelar, ficou assentado que:

“Os dispositivos atacados, como claramente se percebe,


em nada alteram a disciplina da repartição das receitas
tributárias prevista na Constituição nem implicam, de outro
lado, violação à exigência constitucional de licitação.”

No tocante à alegação de violação ao art. 37, XXI, da Constituição, é


importante deixar registrado que o texto constitucional instituiu um
modelo no qual a regra é que seja realizada a licitação, de forma a

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ADI 2405 / RS

preservar o patrimônio público e os princípios da legalidade, da


impessoalidade, da moralidade, da probidade, da igualdade e da
eficiência.
Entretanto, a própria Constituição deixou certa margem ao
legislador ordinário para, em determinadas hipóteses, não realizar o
procedimento licitatório, desde que presentes a razoabilidade e a
compatibilidade com os preceitos constitucionais. Citem-se, por exemplo,
os casos emblemáticos contidos na Lei 8.666/1993, referentes às hipóteses
de dispensa e inexigibilidade de licitação.
No particular, da mesma forma como manifestado pela CORTE no
julgamento da medida cautelar, entendo que a lei gaúcha não
desrespeitou a exigência constitucional de licitação ao permitir que o
Poder Executivo aliene bens recebidos por dação em pagamento
independentemente de legislação específica.
Em rigor, a lei gaúcha não dispensou a autorização em lei para a
alienação dos imóveis recebidos, mas apenas estabeleceu que não seria
necessária a edição de uma lei cujo objeto específico fosse a alienação de
imóveis. Ou seja, a autorização legislativa para alienação poderia ser
disciplinada em lei “genérica”, o que não confronta a exigência
constitucional disposta no art. 37, XXI, da CF. Além disso, a norma
impugnada não dispensou o procedimento licitatório, pois apenas previu
que as alienações não necessitariam de lei específica.
Na hipótese em análise, entendo também que não houve violação
aos arts. 158 e 161 da Constituição Federal, uma vez que o dispositivo em
exame não provocou alteração na repartição de receitas tributárias, não se
podendo afirmar que os repasses ali previstos, de alguma forma,
limitariam ou condicionariam a transferência de recursos aos Municípios,
sobretudo quando a lei estadual exigiu autorização expressa do ente
municipal para tal operação.
Em sede doutrinária, já tive a oportunidade de me manifestar a
respeito da repartição de receitas tributárias, consignando que:

“A previsão constitucional de repartição das receitas


tributárias não altera a distribuição de competências, pois não

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ADI 2405 / RS

influi na privatividade do ente federativo em instituir e cobrar


seus próprios impostos, influindo, tão somente, na distribuição
da receita arrecadada.
Assim, o direito subjetivo do ente federativo beneficiado à
participação no produto arrecadado, nos termos dos arts. 157 a
162 da Constituição Federal, somente existirá a partir do
momento em que o ente federativo competente criar o tributo e
ocorrer seu fato imponível” (Curso de direito constitucional. 33ª
ed. São Paulo, Atlas, 2017, p. 922).

Portanto, na conformidade do decidido no juízo cautelar, reputam-se


constitucionais os dispositivos em análise.

2.12 – Arts. 131 a 133 da Lei 6.537/1973, com redação dada pelo art.
1º, III, da Lei 11.475/2000.

“Art. 131 - Na hipótese em que o sujeito passivo promover


ação judicial, visando à desconstituição do crédito tributário e a
sentença do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
for favorável ao réu, a multa constante do Auto de Lançamento
poderá ser reduzida em 30% (trinta por cento), caso haja
desistência do recurso da referida sentença, e o pagamento, em
moeda corrente nacional, do respectivo crédito tributário
efetue-se de uma só vez, no prazo de trinta dias, contados do
trânsito em julgado da sentença.
§ 1º - O disposto no "caput" aplica-se, também, para os
casos em que o crédito tributário foi constituído em face de
depósito judicial, após a propositura da ação judicial contra o
Estado.
§ 2º - Nas hipóteses de conversões de depósitos judiciais
em renda, aplicar-se-ão as disposições do "caput", dispensando-
se eventuais diferenças de valores em função de índices de
atualização monetária e de juros aplicados aos créditos
tributários e aos respectivos depósitos.
§ 3º - O disposto no "caput" aplica-se, ainda, na hipótese
de sentença de primeiro grau.”

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“Art. 132 - A multa constante do crédito tributário inscrito


como Dívida Ativa poderá ser reduzida de 20% (vinte por
cento), na hipótese de o devedor não oferecer embargos à ação
de execução fiscal, e o respectivo pagamento, em moeda
corrente nacional, ocorra de uma só vez no prazo fixado para
oferecer o referido recurso.”

“Art. 133 - Aplicam-se, no que couber, as disposições dos


arts. 1.025 e seguintes do Código Civil Brasileiro.”

O requerente sustenta a inconstitucionalidade da norma por ofensa


aos princípios da razoabilidade e da eficiência, alegando que os
dispositivos estariam “premiando” o devedor de tributos com favor fiscal
em troca da desistência de recurso judicial, o que afrontaria, também, o
art. 150, § 6º, c/c o art. 155, § 2º, XII, g, da CF.
No julgamento da medida cautelar, o Plenário da CORTE entendeu
que as normas acima mencionadas não afrontariam o texto constitucional,
ao entendimento de que:

“O caput e os §§ 1º, 2º e 3º do art. 131, por sua vez, são


tidos por ofensivos aos princípios da razoabilidade e da
eficiência, por autorizarem a redução de multa nas
circunstancias descritas, além de encerrarem benefício fiscal não
previsto em lei específica, como exigido no art. 150, § 6º, da CF
e, no que concerne ao ICMS, favor fiscal não autorizado em
Convênio.
Patente, entretanto, que a transação, meio de extinção do
débito tributário, não se confunde com benefício fiscal, não
estando sujeita, por isso, ao dispositivo constitucional invocado
nem a autorização em Convênio.
A transação, por outro lado, implica, sempre, a redução da
exigência fiscal ou de seus acessórios, tendo, no caso, por
contrapartida, a realização imediata do débito tributário,
resultado nem sempre alcançado na via judicial.”

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ADI 2405 / RS

No caso dos autos, verifica-se que a lei gaúcha lançou mão do


instituto da transação para pôr fim aos litígios judiciais envolvendo
créditos tributários. Assim, conforme o referido instrumento, que
necessariamente envolve concessões mútuas de ambas as partes, as
disposições contidas na lei não se equiparam a benefício fiscal,
principalmente no que diz respeito à redução da multa tributária, que
possui um caráter acessório.
Assim, adoto as razões de decidir apresentadas no julgamento
cautelar, no sentido de declarar que as normas em comento não violam o
texto constitucional.

2.13 – Art. 3º da Lei 11.475/2000.

“Art. 3º - O “caput” do art. 1º da Lei nº 9.298, de 9 de


setembro de 1991, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1º - O Poder Executivo, decorridos 180 (cento e
oitenta) dias, contados da inscrição como Dívida Ativa de
crédito da Fazenda Pública Estadual, promoverá a emissão da
respectiva Certidão de Dívida Inscrita e a remeterá para a
cobrança judicial, respeitado o limite fixado no “caput” do
artigo 2º desta lei.”

O requerente alega que a duplicação de prazo (de 90 para 180 dias)


para remessa dos créditos inscritos em dívida ativa à cobrança judicial
afronta o disposto nos arts. 37 e 61, § 1º, II, “e”, da Carta Magna.
Entendo que a duplicação de prazo em análise não tem o condão de
causar interferência nas atribuições de órgãos da Administração Pública.
Isso porque, além de se tratar apenas de aumento de prazo que já era
previsto na legislação anterior, a edição de leis em assuntos de natureza
tributária não possui reserva de iniciativa privativa do Chefe do
Executivo.
Da mesma forma, não merece prosperar o argumento de afronta ao
princípio da eficiência (CF, art. 37), pois a norma em questão, como

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

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ADI 2405 / RS

assentado pelo relator original da causa, Min. ILMAR GALVÃO, tem a


finalidade de promover a extinção de crédito tributário, possibilitando a
dação em pagamento, que é, sem dúvida, caminho mais célere para o
adimplemento da obrigação tributária se comparada com o ajuizamento
da ação de execução fiscal.
Desse modo, não há violação à Constituição.

2.14 – Art. 4º, caput, e § 1º, da Lei 11.475/2000.

“Art. 4º - Os créditos tributários inscritos como Dívida


Ativa até 30 de abril de 1999, em cobrança administrativa ou
judicial, poderão ser extintos mediante dação em pagamento de
títulos públicos emitidos pelo Estado do Rio Grande do Sul
e/ou pela União Federal.
§ 1º - A aceitação dos Títulos da Dívida Contratual
Securitizada e da Dívida Agrária, de responsabilidade do
Tesouro Nacional, deverão estar custodiados em conta mantida
por pessoa jurídica na Central de Custódia e de Liquidação
Financeira de Títulos – CETIP.”

Na inicial, o requerente se insurge contra os dispositivos acima com


os mesmos fundamentos utilizados para a inconstitucionalidade da
utilização da dação em pagamento para a extinção dos créditos
tributários. Acrescenta que a norma, em verdade, seria uma forma de
compensação entre créditos, bem como a utilização de títulos federais
como forma de dação em pagamento esbarraria nos princípios da
eficiência e responsabilidade.
Não merecem prosperar os argumentos. Na conformidade do que
ficou assinalado na decisão do eminente Min. ILMAR GALVÃO, as
questões a respeito da dação em pagamento foram abordadas em tópico
próprio, de forma que se remetem às fundamentações ali traçadas (item
2.1).
No tocante à alegação de violação aos princípios da eficiência e da
responsabilidade do gestor com a coisa pública, como se viu nesta

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decisão, o legislador estadual lançou mão de medidas extintivas de


crédito tributário como forma de evitar ou prolongar as demandas
judiciais a respeito desses créditos. Assim, entendo que não há violação
aos postulados da eficiência ou da responsabilidade com a coisa pública
quando a legislação local visa a alternativas mais céleres para o
adimplemento das obrigações tributárias.

3 – Procedência do pedido com a declaração de


inconstitucionalidade dos artigos.

3.1 - Vício de iniciativa legislativa.

Inicialmente, é preciso tecer algumas considerações a respeito do art.


117 da Lei 6.537/1973 do Estado do Rio Grande do Sul, que sofreu
alteração legislativa durante o trâmite da presente ação direta.
Originalmente, a Lei 11.475/2000, ora impugnada, previu a seguinte
redação para o art. 117 em análise:

“Art. 117 - A aceitação da proposta de dação em


pagamento, de transação ou de compensação compete,
conforme o caso, ao Secretário de Estado da Fazenda ou ao
Procurador- Geral do Estado.”

Posteriormente, o dispositivo legal sofreu alteração em seu texto com


a edição da Lei 12.209/2004, passando a ser assim disposto:

“Art. 117 - A aceitação da proposta de dação em


pagamento ou de transação compete, conforme o caso, ao
Secretário de Estado da Fazenda ou ao Procurador-Geral do
Estado.”

Como já se viu, nos casos em que ocorrer alteração legislativa de


norma objeto de ação direta de inconstitucionalidade, deveria o
requerente demonstrar, por meio de pedido de aditamento da inicial,

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eventual subsistência de inconstitucionalidade, sob pena de


indeferimento do pedido por perda de objeto.
No entanto, como bem lembrado pela Procuradoria-Geral da
República (doc. 33):

“(...) a alteração produzida pela Lei nº 12.209/2004 não é


substancial, repetindo-se o vício de inconstitucionalidade
formal (...). Assim, no tocante a este artigo, não pode ser
considerada prejudicada a ação, devendo o pedido de
declaração de alcançar o inciso XIII, do artigo 1º, da Lei
Estadual nº 12.209/2004”.

De fato, não houve alteração substancial de sentido, pois a nova


legislação apenas excluiu de seu texto o termo “compensação”,
mantendo-se a acepção originalmente combatida pela petição inicial.
Portanto, o dispositivo em análise merece ter sua constitucionalidade
examinada na presente hipótese.
Na inicial, o requerente alega que a lei impugnada contém vícios de
iniciativa legislativa, ao argumento de que norma de origem parlamentar
não poderia dispor sobre atribuições de órgãos da Administração Pública,
em afronta ao enunciado dos arts. 61, § 1º, “e”, e 84, III, segunda parte, da
Constituição Federal.
Pois bem, na ocasião do julgamento da medida cautelar, a CORTE
suspendeu a eficácia dos dispositivos – abaixo citados em negrito –, por
entender que houve vício formal de iniciativa legislativa para o
tratamento das matérias:

“Art. 117 - A aceitação da proposta de dação em


pagamento ou de transação compete, conforme o caso, ao
Secretário de Estado da Fazenda ou ao Procurador-Geral do
Estado.”

“Art. 122 – (...)


Parágrafo único - O disposto no "caput" fica condicionado
à declaração do interesse da administração pública que será

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definida por resolução da Comissão de Dação em Pagamento.”

“Art. 123 - A Comissão de Dação em Pagamento será


formada pelos representantes dos seguintes órgãos ou
entidades:
a) Secretaria de Estado da Administração e dos Recursos
Humanos (SARH);
b) Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA);
c) Procuradoria-Geral do Estado (PGE);
d) Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (SAA);
e) Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do
Sul (FIERGS);
f) Federação das Associações Comerciais do Rio Grande
do Sul (FEDERASUL);
g) Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do
Sul (FARSUL).
Parágrafo único - Os representantes serão, conforme o
caso, os Secretários de Estado ou Presidentes das Federações,
ou pessoa por estes indicadas, ficando a presidência a cargo
do representante da Secretaria da Administração e dos
Recursos Humanos, que terá o voto de desempate.”

“Art. 124 – (...)


§ 2º - A Comissão de Dação em Pagamento terá um prazo
máximo de 90 (noventa) dias, contados da data do protocolo
da proposta, para analisar e decidir as condições apresentadas
pelo proponente, sendo que expirado este prazo sem a devida
manifestação, importará em aceite presumido da proposta
formalizada.
§ 3º - O prazo previsto no parágrafo anterior poderá ser
prorrogado uma única vez, por igual período, a partir da
solicitação de qualquer dos representantes da mencionada
comissão.”

“Art. 125 - Proposta a dação, o bem oferecido será avaliado


por órgão da Secretaria da Administração e dos Recursos

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Humanos, podendo esta, para efetivação da avaliação,


requisitar servidores especializados de outros órgãos públicos
da Administração Direta e Indireta.
(...)
§ 2º - A dação somente será efetivada com base na
avaliação procedida nos termos deste artigo, desta cabendo
recurso, uma única vez, à Comissão de Dação em Pagamento.”

“Art. 130 - Os créditos tributários em litígio judicial


poderão ser extintos, total ou parcialmente, mediante transação
com o Estado, sendo competente para transigir o Procurador-
Geral do Estado.

“Art. 1º (...)
IV – o “caput” do art. 98 passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 98 - O mandato dos Juízes e de seus suplentes tem
duração de 4 (quatro) anos, admitida uma recondução por
igual período, ficando automaticamente prorrogado o último
mandato com duração de 2 (dois) anos, e desde que observado
o disposto no § 3º do artigo anterior.”

“Art. 4º (...)
§ 2º - O Poder Executivo, por meio da Comissão de Dação
em Pagamento, prevista no art. 123 da Lei nº 6.537, de 27 de
fevereiro de 1973, e alterações, com a redação dada por esta lei,
estabelecerá a forma, o prazo e as condições em que se
efetivará o pagamento na modalidade prevista no “caput”
deste artigo, especificando, inclusive, os títulos que poderão
ser objeto da modalidade de extinção do crédito tributário
previsto neste artigo, bem como os valores pelos quais serão
recebidos, tendo em vista os encargos e os prazos de
vencimento, exceto os Títulos da Dívida Agrária que serão
recebidos pelo Estado com desconto, sobre o valor de face,
estabelecido em Decreto do Executivo, tendo por base portaria
conjunta dos Ministros de Estado da Fazenda e da

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Previdência e Assistência Social.

“Art. 7º - A instalação da Comissão de Dação em


Pagamento ocorrerá no prazo máximo de 30 (trinta) dias
contados da publicação desta lei e reunir-se-á no mínimo uma
vez por mês.
Parágrafo único - A Comissão de Dação em Pagamento
terá o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da sua instalação,
para publicar no Diário Oficial do Estado o seu regimento
interno e as condições para aceitação de bens imóveis e títulos
da dívida pública.”

Os dispositivos impugnados, de iniciativa parlamentar, ora criam


órgãos para a Administração Pública, ora estabelecem competências para
o Poder Executivo gaúcho ou para a Procuradoria-Geral do Estado.
Ao assim dispor, os artigos em análise usurpam iniciativa legislativa
privativa do Chefe do Poder Executivo, estabelecida para o Presidente da
República no art. 61, § 1º, II, “e”, da Constituição Federal, aplicado
simetricamente a todos os entes da Federação. Veja-se o teor do
dispositivo constitucional referido:

“Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias


cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao
Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República
as leis que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na
administração direta e autárquica ou aumento de sua
remuneração;
b) organização administrativa e judiciária, matéria
tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da

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ADI 2405 / RS

administração dos Territórios;


c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime
jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
d) organização do Ministério Público e da Defensoria
Pública da União, bem como normas gerais para a organização
do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da
administração pública, observado o disposto no art. 84, VI;
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico,
provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração,
reforma e transferência para a reserva”. (grifo nosso)

A jurisprudência da CORTE registra que a iniciativa privativa do


Chefe do Poder Executivo, estabelecida no art. 61, § 1º, II, “e”, da
Constituição Federal, para legislar sobre a organização administrativa no
âmbito do ente federativo, veda que os demais legitimados para o
processo legislativo proponham leis que criem, alterem ou extingam
órgãos públicos, ou que lhes cominem novas atribuições:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


ALAGONA N. 6.153, DE 11 DE MAIO DE 2000, QUE CRIA O
PROGRAMA DE LEITURA DE JORNAIS E PERIÓDICOS EM
SALA DE AULA, A SER CUMPRIDO PELAS ESCOLAS DA
REDE OFICIAL E PARTICULAR DO ESTADO DE ALAGOAS.
1. Iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo Estadual
para legislar sobre organização administrativa no âmbito do
Estado. 2. Lei de iniciativa parlamentar que afronta o art. 61, §
1º, inc. II, alínea e, da Constituição da República, ao alterar a
atribuição da Secretaria de Educação do Estado de Alagoas.
Princípio da simetria federativa de competências. 3. Iniciativa
louvável do legislador alagoano que não retira o vício formal de
iniciativa legislativa. Precedentes. 4. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada procedente.(ADI 2329, Relator(a):
Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 14/04/2010,
DJe de 25/06/2010)”.

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ADI 2405 / RS

Ainda nesse sentido: ADI 3.792, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal
Pleno, DJe de 1º/8/2017; ADI 4.211, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal
Pleno, DJe de 21/3/2016; ADI 3.169, Rel. Min. ROBERTO BARROSO,
Tribunal Pleno, DJe de 18/2/2015; entre muitos outros julgados.
Além da criação de uma “comissão de dação em pagamento”, a qual
envolveria a participação de diversos órgãos do Poder Executivo e
entidades diversas, a lei impugnada determina ao Secretário de Fazenda e
Procurador-Geral do Estado novas atribuições: (i) aceitação da proposta
de dação em pagamento ou de transação; e (ii) poderes para transigir em
litígios judiciais, no caso de transação feita com o Estado.
Há, assim, nítida interferência na estrutura e funcionamento de
órgãos públicos sujeitos à direção superior do Poder Executivo ou da
Procuradoria-Geral do Estado.
Com efeito, as atividades que constam nos dispositivos em questão
influenciam na atuação e no funcionamento da administração gaúcha,
implicam a alocação de servidores e serviços e, consequentemente, o
dispêndio de verbas públicas, ferindo o comando constitucional posto no
art. 61, § 1º, II, “e”.
Portanto, voto pela manutenção da cautelar deferida, no sentido de
serem inconstitucionais os seguintes dispositivos: art. 117; parágrafo
único do art. 122, em relação à expressão “da Comissão de Dação em
Pagamento”; art. 123, caput, e alíneas “a” a “g”, e parágrafo único; §§ 2º e
3º do art. 124; art. 125, caput, no tocante à expressão “por órgão da Secretaria
da Administração e dos Recursos Humanos, podendo esta, para efetivação da
avaliação, requisitar servidores especializados de outros órgãos públicos da
Administração Direta e Indireta” e § 2º; art. 130, no tocante à expressão
“sendo competente para transigir o Procurador-Geral do Estado”, todos da Lei
6.537/1973, com a redação dada pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000; inciso
IV do art. 1º; § 2º do art. 4º; art. 7º, caput, e parágrafo único, todos da Lei
11.475/2000.

3.2 - Independência/Separação dos poderes.

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ADI 2405 / RS

O requerente alega a inconstitucionalidade da norma ao argumento


de que a lei estadual, além de conter os vícios de iniciativa legislativa,
também apresenta ofensa aos princípios da independência e separação
dos poderes.
Assim, no que diz respeito ao art. 127, caput, e seus §§ 1º e 4º, bem
como ao parágrafo único do art. 128 da Lei 6.537/1973, com a redação
dada pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000, e também em relação ao art. 8º da
mencionada Lei 11.475/2000, a CORTE concedeu medida cautelar para
suspender a eficácia dos dispositivos abaixo por entender que a lei
gaúcha incorreu em inconstitucionalidade por indevida interferência na
autonomia do Poder Executivo local. Em negrito, seguem os trechos que
tiveram sua eficácia suspensa:

“Art. 127 - Somente poderá ser objeto de dação em


pagamento, na hipótese de bem imóvel, quando o referido
estiver desonerado, livre de qualquer ônus, situado neste
Estado, desde que matriculado no Cartório de Registro de
Imóveis, em nome do proprietário e, em se tratando de imóveis
rurais, estes deverão ter, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da
área total própria para a agricultura e/ou pecuária, salvo se
forem área de preservação ecológica e/ou ambiental.
§ 1º - Os bens imóveis declarados patrimônios históricos
e as áreas de preservação ecológica e/ou ambiental, por ato do
Poder Executivo Federal e/ou Estadual, deverão ser aceitos
obrigatoriamente e com prioridade sobre os demais, e sua
avaliação deverá considerar os interesses ecológicos,
ambiental, cultural e educacional, independente de seu estado
de conservação.
§ 4º - Não poderão ser objeto de proposta de dação os
imóveis locados ou ocupados a qualquer título.”

“Art. 128 (...)


Parágrafo único - Os imóveis assim recebidos,
preferencialmente, deverão ser destinados em programas

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ADI 2405 / RS

habitacionais de interesse social ou, ainda, em programas de


assentamento agrário.”

“Art. 8º - O Poder Executivo deverá instituir um


programa especial, junto ao Banco do Estado do Rio Grande
do Sul S/A, para concessão de financiamento, com prazo de
até 60 (sessenta) meses, do montante excedente ao limite
previsto no art. 114 da Lei nº 6.537, de 27 de fevereiro de 1973,
e alterações, com redação que lhe foi dada por esta lei.”

Verifico que as normas impugnadas promoveram indevida


interferência em matéria reservada a órgãos administrativos, em
contrariedade ao princípio da separação dos poderes (art. 2º, CF).
A aceitação ou destinação de imóvel recebido por dação em
pagamento de crédito tributário, bem como a imposição de instituir
programa de financiamento na instituição bancária, inserem-se na ideia
de atuação conforme os critérios de oportunidade e conveniência de
governança, cujo exercício é atividade administrativa de competência do
Poder Executivo e, portanto, submetida à reserva de administração (art.
61, § 1º, II, e, c/c art. 84, II e VI, “a”, da CF, aplicável aos Estados Membros
em decorrência do princípio da simetria). Nesse sentido, o precedente
firmado pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL no julgamento da ADI
821, Rel. Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, DJe de 26/11/2015,
assim ementado:

“Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Artigos 238 e 239


da Constituição do estado do Rio Grande do Sul. 3. Lei estadual
n. 9.726/1992. 4. Criação do Conselho de Comunicação Social. 5.
O art. 61, § 1º, inciso II, alínea “a” da Constituição Federal,
prevê reserva de iniciativa do chefe do Poder Executivo para
criação e extinção de ministérios e órgãos da administração
pública. 6. É firme a jurisprudência desta Corte orientada pelo
princípio da simetria de que cabe ao Governador do Estado a
iniciativa de lei para criação, estruturação e atribuições de
secretarias e de órgãos da administração pública. 7. Violação ao

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ADI 2405 / RS

princípio da separação dos poderes, pois o processo legislativo


ocorreu sem a participação chefe do Poder Executivo. 8. Ação
direta julgada procedente.”

A Jurisprudência da CORTE censura legislações editadas com o


propósito de delimitar o exercício de atribuições a encargo de órgãos
administrativos, como é o caso. Cite-se, nesse sentido, o julgamento da
ADI 776 (Rel. Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJ de 15/12/2006),
no qual invalidada lei que vedara a fixação, pela Administração, de
requisitos de idade para provimento de cargos públicos. Transcrevo o
seguinte trecho do voto do eminente Ministro Relator:

“Ainda que o legislador disponha do poder de


conformação da atividade administrativa, permitindo-se-lhe,
nessa condição, estipular cláusulas gerais e fixar normas
impessoais destinadas a reger e a condicionar o próprio
comportamento da Administração Pública, não pode, o
Parlamento, em agindo “ultra vires”, exorbitar dos limites que
definem o exercício de sua prerrogativa institucional.
Isso significa, portanto, que refoge, ao domínio
normativo da lei em sentido formal, veicular deliberações
parlamentares que visem a desconstituir, “in concreto”,
procedimentos administrativos regularmente instaurados por
órgãos do Poder Executivo, como resulta claro da norma legal
ora referida.”

Nessa mesma linha: ADI 2.364-MC, Rel. Min. CELSO DE MELLO,


Tribunal Pleno, DJ de 14/12/2001; ADI 3.075, Rel. Min. GILMAR
MENDES, Tribunal Pleno, DJ de 4/11/2014; ADI 3.343, Rel. Min. LUIZ
FUX, Tribunal Pleno, DJe de 22/11/2011; e ADI 3.169, Rel. Min. MARCO
AURÉLIO, redator para acórdão Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, DJe de 18/2/2015, assim ementada:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


QUE INTERFERE SOBRE ATRIBUIÇÕES DE SECRETARIA DE

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ESTADO EM MATÉRIA SUJEITA À RESERVA DE


ADMINISTRAÇÃO.
1. Lei que determina que a Secretaria de Segurança
Pública do Estado de São Paulo envie aviso de vencimento da
validade da Carteira Nacional de Habilitação a seus respectivos
portadores. Matéria de reserva de administração, ensejando
ônus administrativo ilegítimo.
2. Procedência da ação direta de inconstitucionalidade.”

Como se viu, a Constituição não autoriza que um ato legislativo


ingresse no domínio normativo atribuído pela Constituição aos órgãos
administrativos, impedindo, assim, que o Poder Executivo atue conforme
seu juízo de conveniência e oportunidade, típicos de sua atividade
administrativa. Caso admitida essa possibilidade, ficaria comprometido o
próprio equilíbrio e harmonia entre os Poderes, tal como delineados pelo
legislador constituinte.
Assim, entendo ser o caso de manter a cautelar deferida, declarando
inconstitucionais: a expressão “salvo se forem área de preservação ecológica
e/ou ambiental” do caput do art. 127 e seus §§ 1º e 4º; o parágrafo único do
art. 128 da Lei 6.537/1973, todos com a redação dada pelo art. 1º, III, da
Lei 11.475/2000, e também o art. 8º da mencionada Lei 11.475/2000.

3.3 - Repartição de receitas.

A inicial também aponta violação de dispositivos constitucionais


relacionados à repartição de receitas tributárias, por infringência aos arts.
157 a 163 da Constituição Federal, além dos princípios da razoabilidade,
da eficiência e da responsabilidade do gestor da coisa pública.
Em relação aos artigos abaixo, este SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL entendeu ter havido violação ao art. 158 da Constituição
Federal, sob o entendimento de que a lei estadual do Rio Grande do Sul
modificou a disciplina constitucional em relação à repartição das receitas
tributárias. Os dispositivos que tiveram sua eficácia suspensa foram os
seguintes:

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 58 de 75

ADI 2405 / RS

“Art. 114 - A extinção de crédito tributário prevista neste


Título fica condicionado a que:
(...)
§ 3º - Na data da efetivação do respectivo registro no
órgão competente, deverá ser creditado, à conta dos
municípios, 25% (vinte e cinco por cento) do montante do
crédito tributário extinto”. [Não se aplicando ao IPVA]

“Art. 4º (...)
§ 3º - Os títulos recebidos referentes às parcelas
pertencentes aos municípios, previstas no inciso IV do artigo
158 da Constituição Federal, serão convertidos em moeda
corrente nacional e repassados a esses, pela Secretaria da
Fazenda, no dia do resgate dos certificados.”

Por sua clareza, reproduzo o voto do relator original, Min. ILMAR


GALVÃO, ao apreciar o pedido cautelar nesta ação. Assim, em relação ao
§ 3º do art. 114 da Lei 6.537/1973, com a redação dada pelo art. 1º, III, da
Lei 11.475/2000, sua Excelência assim votou:

“Revela-se plausível, nesse ponto, a alegação de


inconstitucionalidade, na medida em que se impõe ao Estado o dever
de transferir aos municípios 25% do crédito tributário extinto, na
data da efetivação do registro da dação em pagamento no órgão
competente, sem considerar que, na hipótese de ICMS a repartição da
respectiva receita está sujeita a normas específicas, estabelecidas no
parágrafo único do art. 158 da CF; enquanto que, no tocante ao IPVA,
a quota dos municípios se eleva a 50% (art. 158, III).
De toda conveniência, pois, a suspensão da eficácia do
dispositivo em referência no que toca ao IPVA (art. 114, § 3º)”

No tocante ao § 3º do art. 4º da Lei 11.475/2000, o Min. ILMAR


GALVÃO assim dispôs:

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 59 de 75

ADI 2405 / RS

“Já o § 3º cuida de parcelas da arrecadação pertencentes aos


municípios, prevendo que lhes será feito o repasse em dinheiro quando
do resgate dos títulos. Tal norma deixa ao Estado a possibilidade de
somente repassar aos Municípios os 25% do ICMS de que trata o art.
158, IV, da Constituição Federal quando do vencimento final dos
títulos, que, por sua vez, podem ser negociados. Portanto, meu voto
suspende a eficácia do § 3º do artigo sob enfoque”

Nesse sentido, a jurisprudência desta CORTE registra censura à


legislação que imponha condições para a repartição das receitas
tributárias, alterando o modelo de distribuição de receitas estabelecido no
texto constitucional. Citem-se, por exemplo, os seguintes precedentes:
(grifos aditados).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


CONSTITUIÇ ÃO DO ESTADO DE SERGIPE. ICMS. PARCELA
DEVIDA AOS MUNICÍPIOS. BLOQUEIO DO REPASSE PELO
ESTADO. POSSIBILIDADE. 1. É vedado ao Estado impor
condições para entrega aos Municípios das parcelas que lhes
compete na repartição das receitas tributárias, salvo como
condição ao recebimento de seus créditos ou ao cumprimento
dos limites de aplicação de recursos em serviços de saúde (CF,
artigo 160, parágrafo único, I e II). 2. Município em débito com
o recolhimento de contribuições previdenciárias descontadas de
seus servidores. Retenção do repasse da parcela do ICMS até a
regularização do débito. Legitimidade da medida, em
consonância com as exceções admitidas pela Constituição
Federal. 3. Restrição prevista também nos casos de constatação,
pelo Tribunal de Contas do Estado, de graves irregularidades
na administração municipal. Inconstitucionalidade da
limitação, por contrariar a regra geral ditada pela Carta da
República, não estando a hipótese amparada, numerus clausus,
pelas situações excepcionais previstas. Declaração de
inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º do artigo 20 da Constituição
do Estado de Sergipe. Ação julgada procedente em parte. (ADI
1106, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno,

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 60 de 75

ADI 2405 / RS

DJ de 13/12/2002)”

“REPARTIÇÃO DE RENDAS TRIBUTÁRIAS –


PROGRAMAS DE INCENTIVO FISCAL – RETENÇÃO
INDEVIDA DE PARTE DA PARCELA PERTENCENTE AOS
MUNICÍPIOS – INCONSTITUCIONALIDADE –
PRECEDENTES. O repasse da quota do Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS devida aos
Municípios – artigo 158, inciso IV, da Carta – não pode
sujeitar-se a condição prevista em programa de benefício
fiscal. (RE 770641 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,
Primeira Turma, DJe de 21/5/2014)”

Registre-se, ainda, que o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, sob o


regime de repercussão geral (RE 572.762, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, DJe de 5/9/2008), analisou essa matéria
e firmou a seguinte tese jurídica: “A retenção da parcela do ICMS
constitucionalmente devida aos municípios, a pretexto de concessão de incentivos
fiscais, configura indevida interferência do Estado no sistema constitucional de
repartição de receitas tributárias”.
Portanto, mantenho a decisão cautelar no sentido de se considerar
inconstitucional, com interpretação conforme à Constituição, sem
redução de texto, o § 3º do art. 114 da Lei 6.537/1974, com a redação dada
pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000, apenas no que diz respeito ao Imposto
sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), bem como o § 3º do
art. 4º da Lei 11.475/2000.

3.4 - Conformidade com o julgamento das ADIs 2.059 e 2.126.

O requerente alega a inconstitucionalidade dos arts. 5º, caput, e


parágrafo único, e 6º da Lei 11.475/2000, sob o fundamento de que
legislação do Estado do Espírito Santo, de semelhante teor, foi suspensa
por esta CORTE, quando do julgamento das ADIs 2.059 e 2.126.
Os arts. 5º, caput, e parágrafo único, e 6º da Lei 11.475/2000, objetos

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 61 de 75

ADI 2405 / RS

da presente ação direta, tiveram a eficácia suspensa quando da análise da


medida cautelar. Abaixo a redação das normas:

“Art. 5º - O disposto no artigo anterior aplica-se, ainda,


para os créditos de pessoas físicas perante o Estado do Rio
Grande do Sul, decorrentes de sentença judicial transitada em
julgado, proferida em processos onde se decidiu sobre direito
de servidores públicos deste Estado, os quais forem cedidos a
pessoas jurídicas de direito privado, após a expedição do
respectivo precatório.
Parágrafo único - Os créditos contra o Estado, adquiridos
nos termos deste artigo, serão utilizados, com plena e absoluta
admissibilidade na compensação de tributos ou de qualquer
débito fiscal.”

“Art. 6º - Os débitos decorrentes de operações financeiras


junto à Caixa Econômica Estadual do Rio Grande do Sul e ao
Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A poderão ser pagos
ou abatidos com os créditos mencionados nos arts. 3º e 4º
desta lei, desde que tais débitos tenham sido contraídos antes
de 30 de junho de 1994 e estejam em cobrança judicial.”

De fato, verifico que a redação dos dispositivos ora impugnados em


muito se assemelha às normas da Lei 5.742/1998 do Estado do Espírito
Santo, conforme se vê abaixo:

“Art. 1º Os créditos de pessoas físicas perante o Estado do


Espírito Santo decorrentes de sentença judicial transitada em
julgado, proferida em processos onde se decidiu sobre direito
de servidores públicos deste Estado, podem ser cedidos a
pessoas jurídicas de direito privado, após a expedição do
respectivo precatório.
Art. 2º Os débitos decorrentes de operações financeiras
junto ao BANDES - Banco de Desenvolvimento do Espírito
Santo e ao BANESTES - Banco do Estado do Espírito Santo,
poderão ser pagos ou abatidos com os créditos mencionados no

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

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ADI 2405 / RS

Art. 1º , desde que tais débitos tenham sido contraídos antes de


30 de junho de 1994 e estejam em cobrança judicial.
Parágrafo único - Havendo saldo remanescente, após a
quitação dos débitos mencionados no “caput” deste artigo, este
saldo não poderá ser utilizado pelo pagador como previsto no
Art. 3º .
Art. 3º Os créditos contra o Estado, adquiridos nos termos
desta Lei, serão utilizados, com plena e absoluta
admissibilidade na compensação de tributos ou de qualquer
débito fiscal, com fato gerador ocorrido até 30 de junho de 1994,
executados ou não”.

Vejam-se as ementas das ADIs 2.059 e 2.126:

“LIMINAR - ADI - INFORMAÇÕES - DECURSO DO


PRAZO. As informações de que cuida o artigo 10 da Lei nº
9.868/99 devem ser prestadas em cinco dias, prazo que,
ultrapassado, viabiliza o exame do pedido de concessão de
liminar. PRECATÓRIO - CESSÃO - TRIBUTO - LIQUIDAÇÃO
DE DÉBITO. A previsão normativa de cessão de precatório e
utilização subseqüente na liquidação de débito fiscal conflitam,
de início, com o preceito maior do artigo 100 da Constituição
Federal. (ADI 2099 MC, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,
Tribunal Pleno, DJ de 19/9/2003)

“SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA - OPERAÇÕES


FINANCEIRAS - PRECATÓRIOS. De início, distancia-se do
arcabouço normativo-constitucional norma de Estado federado
prevendo a possibilidade de débitos existentes para com
sociedades de economia mista serem satisfeitos mediante
utilização de precatórios. Suspensão de eficácia do artigo 2º da
Lei nº 5.742, de 6 de outubro de 1998, do Estado do Espírito
Santo. (ADI 2126 MC, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,
Tribunal Pleno, DJ de 28/4/2000)”

Por ocasião do julgamento da ADI 2.126-MC, de relatoria do

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

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ADI 2405 / RS

eminente Min. MARCO AURÉLIO, sua Excelência consignou o seguinte:

“...Esta Corte veio a suspender a eficácia dos demais


dispositivo da Lei n.º 5.742/98 do Estado do Espírito Santo,
sendo que a Ação Direta de Inconstitucionalidade anterior — de
nº 2.099 — não envolveu o artigo 2º, ora em jogo, porquanto
objeto de veto que acabou derrubado pela Assembléia. Na
oportunidade, consignei:
"A relevância do pedido formulado faz-se presente.
Relativamente ao vício de fundo, o preceito evocado é
estrito aos Territórios. Sob o ângulo material, nota-se a
colocação em plano secundário da moralizadora regra do
artigo 100 da Carta da República, no que veio à balha para
afastar, justamente, a quebra da isonomia,
implementando-se tratamento igualitário observada a
ordem cronológica de apresentação dos precatórios. A
regência verificada, conquanto atenda à necessidade de o
Estado liquidar os respectivos débitos, acaba por conduzir
a um verdadeiro círculo vicioso. Em primeiro lugar,
estimula a negociação dos precatórios, e, diante das
notórias dificuldades de Caixa, ao que apontei, no
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º
1.098, de São Paulo, como calote oficial, induz os titulares
de precatórios a negociarem o título executivo com
deságio. Uma vez realizada a cessão, aquele que o adquira
liquidará dívida fiscal, deixando, assim, de recolher o
valor em pecúnia. Esse procedimento afasta,
iniludivelmente, a possibilidade de alcançar-se receita.
Com isso, os demais credores do Estado, até mesmo
aqueles que contam com o precatório relativo à divida
alimentícia, estarão prejudicados. Considere-se, para
tanto, a diminuição de aportes e, portanto, da receita do
próprio Estado. Há de caminhar-se, é certo, para a solução
do quadro que se verifica, atualmente, em relação às
unidades federadas e também à União, liquidando-se os
débitos para com os cidadãos em geral. Não obstante,

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ADI 2405 / RS

impõe-se o respeito ao que estabelecido na Carta da


República e que é fator de equilíbrio, de segurança
jurídica, nas relações entre cidadão e Estado.
Por tais razões, concedo a liminar pleiteada e
suspendo, até a decisão final desta ação direta de
inconstitucionalidade a eficácia da Lei n.º 5.742, do Estado
do Espírito Santo, publicada no Diário Oficial de 7 de
outubro de 1998."
Já agora, tem-se disciplina de obrigações à margem de
princípios básicos da Carta da República. A um só tempo,
adentrou-se o campo do direito civil para transformar-se em
moeda de pagamentos precatórios.
Colocaram-se em plano secundário atos jurídicos perfeitos
e acabados, no que, em relação a eles, tinha-se, até então,
regência linear como ditado pelo artigo 173 da Constituição
Federal.
Defiro a liminar e suspendo, até a decisão final desta ação
direta de inconstitucionalidade, o preceito do artigo 2.º da Lei
n.º 5.742, de 6 de outubro de 1998, do Estado do Espírito Santo,
assim procedendo quanto à cabeça do artigo e ao respectivo
parágrafo único.”

Destaco que a constitucionalidade do art. 5º, caput e parágrafo único,


da Lei Estadual 11.475/2000 será tratada em tópico adiante no voto, de
modo que passo ao exame das disposições contidas no art. 6º da lei
impugnada.
Primeiramente, cumpre registrar que a Caixa Econômica Estadual
do Rio Grande do Sul foi extinta pelo Decreto 38.536, de 27 de maio de
1998, mas tal fato não esvazia o conteúdo da norma. Assim, tendo em
vista que não houve a extinção do Banco do Estado do Rio Grande do Sul
S/A, não fica prejudicada a análise do dispositivo em questão.
Na justificativa apresentada ao projeto de lei que deu origem à Lei
11.475/2000, o parlamentar autor da proposta ponderou o seguinte (Peça
6):

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ADI 2405 / RS

“No sistema financeiro do Estado, Caixa Econômica


Estadual do Rio Grande do Sul e Banco do Estado do Rio
Grande do Sul S/A, há dívidas antigas de difícil recebimento,
tamanha foram as taxas de juros, multas, correções diversas e
troca da moeda nacional. Entendemos que estes débitos devem
ser objeto do benefício desta Lei, podendo ser eles resgatados
com títulos da dívida pública da União e/ou do Estado, bem
como por meio de precatórios do Estado do Rio Grande do Sul".

Assim, na proposição legislativa, instituiu-se um modelo de


compensação entre créditos tributários e débitos decorrentes de
operações financeiras com os bancos públicos estaduais.
Como visto, no julgamento da medida cautelar, o dispositivo teve
sua eficácia suspensa sob a justificativa da impossibilidade de utilização
de precatórios para compensação de débitos.
Nesse ponto, entendo ser o caso de confirmação da medida cautelar,
embora por outros fundamentos.
Apesar da redação do dispositivo não ser clara quanto ao
destinatário da norma, vislumbra-se que o legislador estadual pretendeu
instituir um sistema de compensação de precatórios com dívidas
decorrentes de operações financeiras junto à Caixa Econômica Estadual do Rio
Grande do Sul e ao Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A, com a
finalidade de diminuir a inadimplência perante os bancos públicos.
No que diz respeito ao instituto da compensação, o Código Civil
prevê as seguintes regras:

“Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e


devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até
onde se compensarem.
Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas,
vencidas e de coisas fungíveis.”

Analisando a norma em questão, é possível verificar o envolvimento


de ao menos três pessoas distintas: (i) o credor do precatório; (ii) a
Fazenda Pública estadual devedora; e (iii) a Caixa Econômica Estadual do

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ADI 2405 / RS

Rio Grande do Sul e/ou o Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A na
condição de credores de dívida oriunda de operação financeira. A lei
estabelece que a compensação ocorrerá desde que os decorrentes de
operações financeiras com a Caixa Econômica Estadual do Rio Grande do
Sul e com o Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A tenham sido
contraídos antes de 30 de junho de 1994 e estejam em cobrança judicial.
No entanto, ao dispor dessa maneira, alterando a sistemática
estabelecida pelo Código Civil no que toca ao instituto da compensação,
verifico que a lei estadual tratou de tema relacionado ao Direito Civil,
invadindo a competência legislativa privativa da União (CF, art. 22, I). No
mesmo sentido, os seguintes precedentes desta CORTE: ADI 4.228, Rel.
Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, DJe de 13/8/2018; ADI
3.207, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, DJe de
25/4/2018; ADI 3.605, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal
Pleno, DJe de 13/9/2017.
Assim como consignado pelo relator original da presente demanda,
embora por fundamento diverso, confirmo a medida cautelar para
declarar a inconstitucionalidade do art. 6º da Lei 11.475/2000 do Estado
do Rio Grande do Sul.

4 – Confirmação da medida cautelar em menor extensão.

Como registrado no tópico anterior, o art. 5º, caput e parágrafo único,


da Lei Estadual 11.475/2000 teve sua eficácia suspensa quando do
julgamento da medida cautelar da presente ação, sob o fundamento de
impossibilidade de utilização de precatórios para a quitação de débitos
fiscais.
Divirjo, nesse ponto, do julgamento cautelar, entendendo pela
possibilidade da utilização de precatórios para a quitação de débitos
fiscais.
A propósito, reporto-me à doutrina especializada sobre o tema:

“(...) há impeditivos de ordem constitucional para a


compensação nos moldes do CTN? A resposta deve ser

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 67 de 75

ADI 2405 / RS

negativa. Não há, na CRFB, vedação sobre a compensação


prevista no CTN como espécie de extinção do crédito tributário.
Em outras palavras, nos termos da legislação federal, regional e
local, será autorizada a compensação, nos limites previstos no
CTN (nos termos do art. 155, §2º, XII, C, CRFB)
É indubitável, entretanto, que o ato de aquiescência da
compensação seja voluntário por parte do devedor privado e
que atenda às normas de contabilidade da Secretaria do
Tesouro Nacional, sem prejuízo aos entes federativos que
recebam recursos decorrentes da previsão constitucional de
repartição de tributos (diretamente ou por meio de fundos). (…)
(EGON BOCKMANN MOREIRA et al., Precatórios – O seu
novo regime jurídico: A visão do Direito Financeiro, integrada
ao Direito Tributário e ao Direito Econômico. 2ª ed., São Paulo,
2019, p. 103)”.

Quando da edição da lei impugnada, não havia, na Constituição


Federal, dispositivo vedando a possibilidade da compensação de débitos
tributários com precatórios.
Observo, aliás, que, posteriormente, com a promulgação da EC
30/2000, a qual alterou a redação do art. 100 da Constituição Federal e
acrescentou o art. 78 no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
referente ao pagamento de precatórios judiciários, o legislador
constituinte estabeleceu que, atendidas determinadas condições, as
parcelas de precatórios teriam, se não liquidadas até o final do exercício a que
se referem, poder liberatório do pagamento de tributos da entidade devedora
(ADCT, art. 78, § 2º). Nesse sentido, esta CORTE reputou constitucional
lei do Estado de Rondônia que autorizou a compensação de crédito
tributário com débito fiscal pendente de pagamento do ente devedor,
conforme ementa abaixo:

“CONSTITUCIONAL. PRECATÓRIO. COMPENSAÇÃO


DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO COM DÉBITO DO ESTADO
DECORRENTE DE PRECATÓRIO. C.F., art. 100, art. 78, ADCT,
introduzido pela EC 30, de 2002. I. - Constitucionalidade da Lei

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ADI 2405 / RS

1.142, de 2002, do Estado de Rondônia, que autoriza a


compensação de crédito tributário com débito da Fazenda do
Estado, decorrente de precatório judicial pendente de
pagamento, no limite das parcelas vencidas a que se refere o art.
78, ADCT/CF, introduzido pela EC 30, de 2000. II. - ADI julgada
improcedente. (ADI 2.851, Rel. Min. CARLOS VELLOSO,
Tribunal Pleno, DJ de 3/12/2004)

Com relação ao tema, foi depois editada a EC 62/2009, a qual


acrescentou os §§ 9º e 10 ao art. 100 da Constituição, prevendo o seguinte:

“§ 9º No momento da expedição dos precatórios,


independentemente de regulamentação, deles deverá ser
abatido, a título de compensação, valor correspondente aos
débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e
constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública
devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos,
ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude
de contestação administrativa ou judicial.
§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal
solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30
(trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento,
informação sobre os débitos que preencham as condições
estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos”.

Porém, os dispositivos da EC 62/2009 foram objeto de impugnação


nesta CORTE por meio das ADIs 4.357 e 4.425. Na ocasião, houve a
declaração da inconstitucionalidade da compensação prevista na redação
dos §§ 9º e 10 do art. 100 do texto constitucional. Veja-se a ementa do
julgado:

“(...) 4. O regime de compensação dos débitos da Fazenda


Pública inscritos em precatórios, previsto nos §§ 9º e 10 do art.
100 da Constituição Federal, incluídos pela EC nº 62/09,
embaraça a efetividade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV),

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ADI 2405 / RS

desrespeita a coisa julgada material (CF, art. 5º, XXXVI), vulnera


a Separação dos Poderes (CF, art. 2º) e ofende a isonomia entre
o Poder Público e o particular (CF, art. 5º, caput), cânone
essencial do Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º, caput).
(...). (ADI 4425, Rel. Min. AYRES BRITTO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe de 19/12/2013)”.

No entanto, no julgamento da Questão de Ordem levantada nas


ADIs 4.357 e 4.425, o Plenário deste SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
mitigou o entendimento anterior, modulando os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade nos seguintes termos:

“(...) 4. Quanto às formas alternativas de pagamento


previstas no regime especial: (i) consideram-se válidas as
compensações, os leilões e os pagamentos à vista por ordem
crescente de crédito previstos na Emenda Constitucional nº
62/2009, desde que realizados até 25.03.2015, data a partir da
qual não será possível a quitação de precatórios por tais
modalidades; (ii) fica mantida a possibilidade de realização de
acordos diretos, observada a ordem de preferência dos credores
e de acordo com lei própria da entidade devedora, com redução
máxima de 40% do valor do crédito atualizado.
5. Durante o período fixado no item 2 acima, ficam
mantidas (i) a vinculação de percentuais mínimos da receita
corrente líquida ao pagamento dos precatórios (art. 97, § 10, do
ADCT) e (ii) as sanções para o caso de não liberação tempestiva
dos recursos destinados ao pagamento de precatórios (art. 97,
§10, do ADCT).
6. Delega-se competência ao Conselho Nacional de Justiça
para que considere a apresentação de proposta normativa que
discipline (i) a utilização compulsória de 50% dos recursos da
conta de depósitos judiciais tributários para o pagamento de
precatórios e (ii) a possibilidade de compensação de precatórios
vencidos, próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos
inscritos em dívida ativa até 25.03.2015, por opção do credor do
precatório.

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7. Atribui-se competência ao Conselho Nacional de Justiça


para que monitore e supervisione o pagamento dos precatórios
pelos entes públicos na forma da presente decisão.
(ADI 4425 QO, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 25/03/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-152
DIVULG 03-08-2015 PUBLIC 04-08-2015)”.

Portanto, embora a CORTE tenha assentado a inconstitucionalidade


da compensação compulsória de dívidas fiscais com precatórios, ficou
assentada a validade das operações realizadas até 25/3/2015. Nesse
sentido:

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO.
SISTEMÁTICA DE COMPENSAÇÃO DE DÉBITOS
INSCRITOS EM PRECATÓRIOS. ARTIGO 100, PARÁGRAFOS
9º E 10, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. EMENDA
CONSTITUCIONAL 62/2009. INCONSTITUCIONALIDADE.
ADI 4.357 E ADI 4.425. MODULAÇÃO TEMPORAL DOS
EFEITOS. ADI 4.425-QO. VALIDADE DAS COMPENSAÇÕES
REALIZADAS ATÉ 25.03.2015. INAPLICABILIDADE ÀS
COMPENSAÇÕES JUDICIALMENTE INDEFERIDAS, AINDA
QUE PLEITEADAS EM DATA ANTERIOR AO JULGAMENTO
DA QUESTÃO DE ORDEM. NÃO CONFIGURAÇÃO DE
COMPENSAÇÃO REALIZADA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. (ARE 721.394 AgR, Rel. Min. LUIZ FUX,
Primeira Turma, DJe de 4/8/2017)

Agravo regimental na reclamação. Pedido de


compensação de débito inscrito em dívida ativa antes 25/3/2015
com precatório da respectiva Fazenda Pública rejeitado
administrativamente. Pretensão de sobrestamento da execução
fiscal até que o CNJ edite norma que viabilize novas
compensações. ADI nº 4.425/DF-QO. Ausência de aderência
estrita entre o objeto da reclamação e o paradigma da Corte.
Agravo regimental não provido. 1. Os efeitos da declaração de

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inconstitucionalidade parcial da EC nº 62/2009 na ADI nº


4.425/DF foram modulados tão somente para assegurar a
eficácia de compensações efetivamente realizadas até 25/3/2015,
hipótese não verificada na execução fiscal dos presentes autos.
2. A ADI nº 4.425/DF, no que diz respeito à possibilidade de
novas compensações de precatórios vencidos, próprios ou de
terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida ativa
até 25/3/2015, possui aplicabilidade restrita à instituição de
mero objeto de estudo no CNJ para diagnóstico da viabilidade
de novas compensações e eventual propositura de norma
regulamentadora. 3. A aderência estrita do objeto do ato
reclamado ao conteúdo das decisões paradigmas é requisito de
admissibilidade da reclamação constitucional. 4. Agravo
regimental não provido. (Rcl 24.855 AgR, Rel. Min. DIAS
TOFFOLI, Segunda Turma, DJe de 15/2/2017)

AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO.


DISPENSA DE CITAÇÃO. MANUTENÇÃO DO ATO
RECLAMADO. COMPENSAÇÃO DE PRECATÓRIOS
ALIMENTARES COM DÉBITOS TRIBUTÁRIOS. ART. 78, § 2º,
DO ADCT. ADIS 4.357 E 4.425. AUSÊNCIA DE ADERÊNCIA
ESTRITA. 1. No julgamento da modulação dos efeitos das ADIs
4.357 e 4.425, entre outras disposições, o STF afirmou a validade
de compensações realizadas com precatórios com base na EC nº
62/2009, até 25.03.2015. 2. Não guarda relação de aderência
estrita com aquele julgado decisão que afirma a impossibilidade
de compensação de débito tributário com precatório alimentar
cedido, com base no art. 78, caput e § 2º, do ADCT, dispositivos
estes que não foram objeto das ADIS 4.357 e 4.425. 3. Agravo
regimental desprovido, com aplicação da multa do art. 1.021, §§
4º e 5º do CPC/2015. (Rcl 24.074 AgR, Rel. Min. ROBERTO
BARROSO, Primeira Turma, DJe de 10/11/2016)”

Oportuno mencionar, ainda, que o legislador constituinte, atento ao


que foi decidido pelo STF nessa matéria, promulgou as Emendas
Constitucionais 94/2016 e 99/2017, prevendo o regime de compensação de

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precatórios com débitos de natureza tributária ou de outra natureza,


desde que inscritos em dívida ativa até 25/3/2015, observados os requisitos
definidos em lei própria do ente federado. Confiram-se os dispositivos do
ADCT:

“Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


que, em 25 de março de 2015, se encontravam em mora no
pagamento de seus precatórios quitarão, até 31 de dezembro de
2024, seus débitos vencidos e os que vencerão dentro desse
período, atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), ou por outro índice que
venha a substituí-lo, depositando mensalmente em conta
especial do Tribunal de Justiça local, sob única e exclusiva
administração deste, 1/12 (um doze avos) do valor calculado
percentualmente sobre suas receitas correntes líquidas
apuradas no segundo mês anterior ao mês de pagamento, em
percentual suficiente para a quitação de seus débitos e, ainda
que variável, nunca inferior, em cada exercício, ao percentual
praticado na data da entrada em vigor do regime especial a que
se refere este artigo, em conformidade com plano de pagamento
a ser anualmente apresentado ao Tribunal de Justiça local.
(...)
Art. 105. Enquanto viger o regime de pagamento de
precatórios previsto no art. 101 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, é facultada aos credores de
precatórios, próprios ou de terceiros, a compensação com
débitos de natureza tributária ou de outra natureza que até 25
de março de 2015 tenham sido inscritos na dívida ativa dos
Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, observados os
requisitos definidos em lei própria do ente federado.
§ 1º Não se aplica às compensações referidas no caput
deste artigo qualquer tipo de vinculação, como as transferências
a outros entes e as destinadas à educação, à saúde e a outras
finalidades.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
regulamentarão nas respectivas leis o disposto no caput deste

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artigo em até cento e vinte dias a partir de 1º de janeiro de 2018.


§ 3º Decorrido o prazo estabelecido no § 2º deste artigo
sem a regulamentação nele prevista, ficam os credores de
precatórios autorizados a exercer a faculdade a que se refere o
caput deste artigo”.

Faço essa atualização histórica, a qual me parece explicita a


possibilidade de compensação de débitos tributários com créditos
oriundos de precatórios, observados determinados contornos normativos.
Entendo, de todo modo, que o texto da Constituição Federal vigente
quando da norma impugnada, embora não se referisse explicitamente à
possibilidade de compensação, também não a proibia.
Na hipótese dos autos, a lei estadual permitiu, em relação aos
créditos tributários inscritos em dívida ativa até 30/4/1999, que
precatórios de pessoas físicas perante o Estado do Rio Grande do Sul,
decorrentes de sentença judicial transitada em julgado, proferida em processos
onde se decidiu sobre direito de servidores públicos deste Estado, os quais forem
cedidos a pessoas jurídicas de direito privado, após a expedição do respectivo
precatório pudessem ser utilizados em compensação aos débitos fiscais.
Não se tratou de mecanismo de compensação compulsória.
Desse modo, não confirmo a cautelar nesse ponto, e declaro a
constitucionalidade do art. 5º, caput e parágrafo único, da Lei 11.475/2000
do Estado do Rio Grande do Sul.

5 – Conclusão:

Diante do exposto, CONHEÇO PARCIALMENTE A AÇÃO DIRETA,


e, na parte conhecida, CONFIRMO A MEDIDA CAUTELAR EM MENOR
EXTENSÃO e JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a ação,
declarando como INCONSTITUCIONAIS, com interpretação conforme à
Constituição, sem redução de texto, o § 3º do art. 114, com relação ao
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); bem como
o art. 117; a expressão “da Comissão de Dação em Pagamento” contida no
parágrafo único do art. 122; o caput do art. 123, as alíneas “a”, “b”, “c”,

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“d”, “e”, “f”, e “g”, e parágrafo único; os §§ 2º e 3º do art. 124; a expressão


“por órgão da Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos, podendo
esta, para efetivação da avaliação, requisitar servidores especializados de outros
órgãos públicos da Administração Direta e Indireta”, conforme o caput do art.
125; o § 2º do art. 125; a expressão “salvo se forem área de preservação
ecológica e/ou ambiental”, conforme o caput do art. 127; os §§ 1º e 4º do art.
127; o parágrafo único do art. 128; a expressão “sendo competente para
transigir o Procurador-Geral do Estado” do art. 130; todos da Lei estadual
6.537/1973, com a redação dada pelo art. 1º, III, da Lei 11.475/2000 do
Estado do Rio Grande do Sul; e ainda o art. 98 da Lei 6.537/1973, na
redação dada pelo inciso IV do art. 1º da Lei 11.475/2000 do Estado do Rio
Grande do Sul; a expressão “por meio da Comissão de Dação em Pagamento,
prevista no art. 123 da Lei nº 6.537, de 27 de fevereiro de 1973, e alterações, com
a redação dada por esta lei”, veiculada pelo § 2º do art. 4º da Lei 11.475/2000;
o § 3º do art. 4º; o art. 6º; o caput do art. 7º e parágrafo único; e o art. 8º,
todos da Lei 11.475/2000 do Estado do Rio Grande do Sul; mantidos os
demais dispositivos atacados.
É o voto.

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Extrato de Ata - 20/09/2019

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.405


PROCED. : RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES
REQTE.(S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
ADV.(A/S) : PGE-RS - PAULO PERETTI TORELLY
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu parcialmente da


ação direta e, nessa parte, confirmou a medida cautelar em menor
extensão e julgou parcialmente procedente o pedido, declarando
como inconstitucionais, com interpretação conforme à Constituição,
sem redução de texto, o § 3º do art. 114, com relação ao Imposto
sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); bem como o
art. 117; a expressão "da Comissão de Dação em Pagamento" contida
no parágrafo único do art. 122; o caput do art. 123, as alíneas a,
b, c, d, e, f e g, e parágrafo único; os §§ 2º e 3º do art. 124; a
expressão "por órgão da Secretaria da Administração e dos Recursos
Humanos, podendo esta, para efetivação da avaliação, requisitar
servidores especializados de outros órgãos públicos da
Administração Direta e Indireta", conforme o caput do art. 125; o
§ 2º do art. 125; a expressão "salvo se forem área de preservação
ecológica e/ou ambiental", conforme o caput do art. 127; os §§ 1º
e 4º do art. 127; o parágrafo único do art. 128; a expressão
"sendo competente para transigir o Procurador-Geral do Estado" do
art. 130; todos da Lei estadual nº 6.537/1973, com a redação dada
pelo art. 1º, III, da Lei nº 11.475/2000 do Estado do Rio Grande
do Sul; e, ainda, o art. 98 da Lei nº 6.537/1973, na redação dada
pelo inciso IV do art. 1º da Lei nº 11.475/2000 do Estado do Rio
Grande do Sul; a expressão "por meio da Comissão de Dação em
Pagamento, prevista no art. 123 da Lei nº 6.537, de 27 de
fevereiro de 1973, e alterações, com a redação dada por esta lei",
veiculada pelo § 2º do art. 4º da Lei nº 11.475/2000; o § 3º do
art. 4º; o art. 6º; o caput do art. 7º e parágrafo único; e o art.
8º, todos da Lei nº 11.475/2000 do Estado do Rio Grande do Sul;
mantidos os demais dispositivos atacados, nos termos do voto do
Relator. Plenário, Sessão Virtual de 13.9.2019 a 19.9.2019.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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