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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO


DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA

ESTRUTURA DE COMUNIDADES DE FORMIGAS DO CERRADO

Rogerio Silvestre

Tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e


Letras de Ribeirão Preto- USP, como parte das
exigências para obtenção do título de Doutor em
Ciências. Área: Entomologia.

Ribeirão Preto
2000
O CAMINHO DAS FORMIGAS

Para Rogerio Silvestre

Na beira dos morros de Minas


Mas ainda com chão de Cerrado
Roger, Potinho, Pé-de-Pano e Mané
Iam juntos, lado a lado

Mas exceto Pé-de-Pano,


Toda a turma não andava
O caminho é que passava
Passava coruja, pomba, tucano,
Cobra, tatu, mangava
Passavam-se todos os anos passados
E os que a vida destinava

Armados de mel, sardinha e cachaça


Qualquer tempestade era motivo de graça
Atrás das formigas, atrás de aventuras
Fazer do trabalho, operárias loucuras

Não descobrimos nada, nada por descobrir


Apenas, as formigas que somos
No gozo de ir e vir

Mané
Araraquara/Nov 1995

δ
Dedicado à memória dos meus amigos
Manuel de Almeida Junior (Mané),
José Augusto Caraski (Zé Potinho) e
Izaltino Rocha Silva Filho (Tio Rocha).
Agradecimentos:

Agradeço:

Ao pessoal da Biblioteca Digital da USP.

Ao Dr. Carlos Roberto Brandão, pela orientação durante todos estes anos
pesquisando formigas.

À Universidade de São Paulo, à Fundação Amparo à Pesquisa do Estado de São


Paulo e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior, por
propiciarem o desenvolvimento desta tese.

Aos Professores e Doutores da F.F.C.L. de Ribeirão Preto- USP: Zilá Luz Paulino
Simões, Carlos Alberto Garófalo, Elenice M. Varanda, João M. F. de Camargo,
Claudio Gilberto Froehlich, Luci R. Bego, Ronaldo Zucchi, Evandro Camillo,
Fernando Sergio Zucoloto, David de Jong e Klaus Hartfelder.

Aos Professores e Pesquisadores do Museu de Zoologia da USP em nome do Diretor


Prof. Dr. Miguel Trefaut Rodrigues.

Às colegas Denise e Maria Inês da secretaria da Pós-graduação da USP- Ribeirão


Preto, que muito me ajudaram durante todos esses anos de pós.

A Lyncoln da Silva Ferreira, pela força e pela montagem do material.

Ao Prof. Rogério Rosa da Silva, pela amizade, pelas coletas na Reserva Jataí e pelas
discussões todas de ecologia de formigas.

Aos colegas da pós-graduação: Adriana, Márcia, Ricardo Paiva, Diniz, Orlando, Bia,
Antônio, Nícolas, Patrícia, Gil, Renato, Albert, Alexandre (mamíferos), Alexandre
(peixes), Angela, Sal, Rodrigo, Ronaldo, Carol, Fernado, Thomas, Marisa, Selma,
Yana, Márcio, Palmira e Christiana.

Ao Prof. Alberto Akama, pelas imagens digitalizadas.

A Tiago Courrol Ramos (in memoriam), pelas coletas em Campinaçu.

À Profa Christiane Izumi Yamamoto, pelas coletas na Serra da Mesa e pelas


contribuições ao trabalho.

Ao Prof. Bodo Hasso Dietz, pela identificação de Basicerotini e pelas coletas em


Serra da Mesa.

Ao Dr. Antônio Mayhé Nunes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,


pela identificação de Attini.

i
Aos colegas da pós-graduação do Departamento de Entomologia em Ribeirão Preto:
Ana Paula, Mario, Fernanda, Kátia, Solange, Fernando Noll, Sidney, Silvia Pedro,
Batira, Katia (baiana), Maria Lucia, Mazza, Henrique e Cacá.

À Maria Rita Mechi, pela grande ajuda nas informações da Reserva Jataí.

À Renata Andrade, secretária da PG da Entomologia, pela ajuda.

À Dione Seripieri, bibliotecária do MZ-USP, pela correção das referências.

A Carlos Campaner e Isnard de Souza Rubim, pela amizade e pelas coletas na Serra
da Mesa.

Aos funcionários e amigos do Museu de Zoologia: Maria Aparecida Sampaio


Giammusso, Mercedes Aguido da Silva, Claudia Alves de Melo, Janete da Rocha,
Marta Lucia Zamana Bonamini, Maria da Conceição Bueno, Tereza Beatriz Nunes,
Maria Regina Mendonça, Carmina Lupo, Fábio Rigote, Eric Gonçalves, Luiz
Antônio do Santos, Maria da Conceição da Silva, Joel Alves da Conceição, Júlio
César Navegantes, Nilton Correa, Elias Gomes da Silva Filho, Rogério dos Santos,
Walter Bonifácio, José Roberto dos Santos, Juvenal Jacintho, Paulo Marcelino de
Matos, José Alves de Arantes, Cláudio Riberti Servilho, Florinda Gonzaga Teixeira,
Manoela Sabiá, Isabel Bispo de Oliveira, Ambrosina Marciana Tomás, Francisco de
Assis Brum, Alzira de Jesus, Aparecido Pereira da Silva, Maria Elizabeth
Quintiliano, Célia Regina Jacyntho, Ismael Pereira de Jesus, Ageu Francisco, Maria
Nascimento Dias, Elenice Lucco, Carmela Mohrmann, Estela Maria Irineu, Gláucia
Aparecida Bio, Leopoldine Pascher, Maria Cícera A.A. Santos, Salma Marino
Namura, Marta Maria C. Grobel e Ana Maria Vasques.

Ao Instituto Florestal do Estado de São Paulo e à Estação Ecológica Jataí, em Luiz


Antônio- SP, em nome do Eng. Antonio Carlos Zanato

Aos amigos Tião do André, Horácio, Paulinho e Mondrongo, pela companhia na


Reserva Jatái e por tudo que me ensinaram nas matas da Reserva.

À Dona Cícera, Mariana, Henrique, Camila e Fernanda, por minha agradável


estadia na Reserva Jataí.

Ao Biólogo Hamilton Gaborggini (Furnas) e ao Dr. Leandro Sales do Museu


Nacional do Rio de Janeiro, pela colaboração neste trabalho, amizade e pelas
aventuras nas cavernas de Serra da Mesa.

Aos amigos e biólogos com os quais convivi nos acampamentos em Goiás: Marcelo,
Sivany, Jaqueline, Dante, Ana Paula, Denis, Fernanda, Jorge, Gabo, Vinícius,
Alexandra, Luciane, Kalita, Caetano e Luizinho.

Aos Dr Jacke W. Sites Jr., da Brigham Young University de Utah e Dr. Luiz
Flamarion de Oliveira, do Museu Nacional- UFRJ.

ii
Ao Dr. Norman Jonhson e à Flávia Eichel, pelos Formicidae remetidos ao MZUSP,
capturados em Serra da Mesa.

Aos funcionários e amigos da PUC de Goiânia: João, Nilton e Raimundo.

À Dona Raimunda e Sr. Valdomiro, pessoas básicas no dia a dia do sertão.

Ao meu tio Fermino Ronchi, que patrocinou este micro.

Aos meus pais Waldemar Silvestre e Diva Ronchi Silvestre e aos irmãos Rubens e
Roseli e familiares.

Aos meus amigos de Goiânia Nadja, Tainá, Roberto, Camila, Pê, Sheila e Luan.

A todos os meus amigos de Jaboticabal, por tudo que passamos juntos.

E um agradecimento especial para as formigas, meu material de estudo, pelas quais


tenho muita admiração.


Para a Célia, Gabriel, Maria Alice e Luna, com amor.

iii
RESUMO

O presente trabalho investiga três aspectos da estrutura de comunidades de formigas do


bioma Cerrado: interações interespecíficas, riqueza e diversidade de espécies e guildas.
Primeiramente, investiguei a influência dos comportamentos agressivos observados em
interações interespecíficas nos levantamentos faunísticos que empregam iscas, verificando a
existência de hierarquias de dominância dentro das comunidades de formigas e tentando
responder se essa eventual dominância comportamental da fonte alimentar poderia alterar os
resultados de freqüência relativa das espécies obtidos em levantamentos. Utilizei como modelo
iscas de sardinha que mimetizam fontes de proteína. Registrei os atos comportamentais de
formigas visitando 60 iscas oferecidas por 90 minutos sobre o solo de duas localidades de
Cerrado. Setenta e duas espécies foram registradas realizando 682 atos comportamentais
interativos, dos quais 352 foram agressivos, resultando na morte de 29 indivíduos. A maioria das
espécies observadas monitora constantemente o habitat à procura de alimentos, sobrepondo as
áreas de forrageamento das colônias que estão próximas, resultando assim na competição
freqüentemente observada. A maioria das iscas (85%) foi visitada nos primeiros cinco minutos
de exposição e em média 4,8 espécies (1-8) visitaram cada isca durante os 90 minutos. O
comportamento mais comum registrado foi a visita oportunista das formigas nas iscas; nesta
situação a operária encontra solitariamente a isca, coleta uma porção da sardinha e retorna ao
ninho. Muitas vezes operárias foram observadas obstruindo o acesso das outras que visitavam as
mesmas iscas, por utilizarem químicos repelentes, recrutamento de massa ou por serem
agressivas. Minhas observações indicam que, embora a dominância da isca por determinadas
espécies possa ocorrer, resultando na exclusão das espécies subordinadas, a ordem na hierarquia
de dominância pode se inverter em outra ocasião, possivelmente como resultado da distância da
fonte ao ninho, da composição de espécies interagindo na mesma isca e das diferentes estratégias
de recrutamento empregadas em cada situação.

Na segunda etapa do trabalho, realizei um levantamento da fauna de formigas em 7


localidades de Cerrado, utilizando métodos quantitativos e qualitativos. Para as coletas
quantitativas, uma área de 1ha de Cerrado sensu stricto foi escolhida em cada localidade e 25
pontos foram sorteados de um total de 121 pontos demarcados em uma grade de coleta, formada
por 11 transectos, separados 10m entre si, com 11 pontos separados, também 10m um do outro.
Em cada localidade as iscas foram oferecidas por 90 minutos no solo e na vegetação nos
períodos diurno e noturno. Um total de 4.400 iscas foram oferecidas em todas as 7 localidades,
com o objetivo de comparar a similaridade faunística entre as áreas amostradas. Utilizei ainda,
em cinco localidades, 500 iscas dispostas em Matas Ciliares (100 por localidade), no solo e na
vegetação, apenas no período diurno, em transectos cobrindo 250m lineares. Para as amostragens
qualitativas utilizei: coletas com pinça, frasco aspirador, escavação de cupinzeiros, o revirar de
pedras, a abertura de troncos, galhos e gravetos caídos, amostras de serapilheira submetidas a
funil de Berlese- Tüllgren e extrator de Winkler, a instalação de armadilhas do tipo pit- fall,
bandejas com água e para a captura de alados Malaise e armadilha luminosa. Um total de 331
espécies foi registrado, somando todas as espécies de formigas amostradas nos levantamentos
qualitativos e quantitativos nas 7 localidades de Cerrado. Neste levantamento foram registradas
as subfamílias Formicinae, Myrmecinae, Dilichoderinae, Ecitoninae, Ponerinae,
Pseudomyrmecinae e Cerapachyinae. Os gêneros Camponotus, Pheidole, Crematogaster e
Solenopsis foram os mais ricos em número de espécies. Pseudomyrmex mostrou uma grande
diversidade de espécies (29), incluindo espécies ainda não descritas. Muitas espécies foram
registradas pela primeira vez nesta latitude como Blepharidatta conops, Gigantiops destructor,
Paraponera clavata, Megalomyrmex acauna e Tingimyrmex mirabilis.

Como última etapa do trabalho, analisei a comunidade amostrada no Cerrado, tentando


revelar as guildas de formigas existentes, baseando- me na taxonomia, na preferência trófica, nos
hábitos de nidificação, nas estratégias de forrageamento, no padrão de comportamento observado
em interações interespecíficas, no tamanho das operárias, na agilidade relativa das espécies e no
tamanho da população das colônias maduras. Selecionei para análise os táxons associados com
os dados de observações de campo, considerando para este propósito um total de 110 espécies.
Uma análise de agrupamento com distância Euclidiana e ligação completa orientou a formação
de 12 guildas: predadoras grandes, patrulheiras, oportunistas, espécies crípticas, desfolheadoras,
cultivadoras de fungos sobre carcaças, mirmicíneas generalistas, dolichoderíneas de
recrutamento massivo, nômades, especialistas mínimas, cefalotíneas e dolichoderíneas coletoras
de néctar. Por fim, eu comparo a estrutura da comunidade de uma localidade no “core” do
Cerrado, com uma localidade “ilha” de Cerrado, utilizando o modelo de classificação das
guildas, demonstrando que existe uma substituição de espécies dentro dos grupos e que as
comunidades são funcionalmente semelhantes.
ABSTRACT

The present work investigates three aspects of ant community structure in the tropical dry
forest of the Brazilian Central Plateau (Cerrado): interespecific interactions, richness and
diversity of species and guilds.
Firstly, I investigated the influence of aggressive behaviors in interspecific interactions
on ant faunistic surveys that employ baits, assessing if the eventual behavioral dominance
hierarchy on the food source influences the relative frequencies observed in surveys. I used as
model sardine baits that mimic sources of protein, recording the behavioral acts of ants visiting
60 baits, offered for 90 minutes, on the soil of two Cerrado localities. Seventy-two ant species
were registered performing 682 interactive behavioral acts, of which 352 were aggressive,
resulting in the death of 29 individuals. Of the observed species, most constantly monitor the
habitat searching for food, resulting in niche overlapping, and he nce interespecific competition
was quite frequent. Most baits (85%) were visited in the first five minutes after exposition, and
in average 4,8 (1-8) species visited each bait during the 90 min. The most common behavior
registered was the opportunistic visit of ants to baits, in which individuals find the bait alone,
take some of it and leave the spot. Nevertheless some species were observed obstructing the
access of others visiting the same bait, either by releasing irritating sprays, employing massive
recruitment, or by agonistic behaviors. My observations indicate that although dominance may
occur resulting in the exclusion of subordinate species, the order in dominance hierarchies may
change, possibly as a result of the different distances from the nest to the food source, of the
species composition interacting at a given bait, and of the different recruiting strategies
employed by them in each situation.

Secondly, I check the ant fauna through qualitative and quantitative surveys in seven
Cerrado localities. For this purpose the samples include all species collected by different
techniques. To perform the quantitative surveys, one area (1ha) of Cerrado sensu stricto was
chosen before collecting events in each locality, and 25 points were randomly chosen among 121
points in a grid made by 11 transects, separated 10m either, with 11 points, also separated 10m
from each other. At each locality sardine baits were offered for 90 minutes, over the soil and on
the vegetation, at day and night periods. A total of 4400 baits in all seven localities were offered
in order to compare the ant species composition in each surveyed area. I summed to this total
500 baits set in Forests bordering rivers, on transects covering 250m, in five localities.
For the qualitative surveys, a set of general procedures was applied including general
collecting using forceps and aspirator, excavations on termites nests, the turn of rocks and
opening of rotting wood, tearing up logs and stumps, submitting litter samples to Berlese-
Tüllgren funnels and Winkler extractors, the setting of pit- fall traps and yellow water trays, and
Malaises and light-traps to capture winged forms. Summing all ants collected in qualitative and
quantitative surveys I registered 331 species. In this survey I registered the subfamilies:
Formicinae, Myrmicinae, Dolichoderinae, Ecitoninae, Ponerinae, Pseudomyrmecinae, and
Cerapachyinae. The genera Camponotus, Pheidole, Crematogaster, and Solenopsis were the
most rich in number of species. Pseudomyrmex showed a great diversity (29 species), including
undescribed ones. Several species had their first record in this latitude as Blepharidatta conops,
Gigantiops destructor, Paraponera clavata, Megalomyrmex acauna, and Tingimyrmex mirabilis.

Finally, I analyzed the Cerrado ant community trying to classify the species in guilds
based on taxonomy, throphic preference, nidification habits, foraging and recruitment strategies,
behavioral patterns observed on interespecific interactions, size of workers, “readiness of
movement” and estimated mature colony population. I selected for this analysis those taxa
associated with field observation data, considering for this purposes a total of 110 species. A
cluster analysis, with Euclidean distance, and with complete linkage oriented the formation of 12
guilds: big predators, patrollers, opportunistic, cryptic, leaf cuttings, fungus growers over
carcass, generalist myrmicines, aggressive arboreal, nomads, minimal specialist, cephalotines,
and nectars feed dolichoderines. After that I compared two Cerrado localities, utilizing the guild
model, revealing as well which species substitute others in different localities, and that the
communities are functionally similar.
SUMÁRIO

I- APRESENTAÇÃO 01
II- INTRODUÇÃO GERAL 04
A- CONSIDERAÇÕES SOBRE A ECOLOGIA DE FORMIGA S 04
B- CARACTERIZAÇÃO DO CERRADO 06
C- A BIODIVERSIDADE DO C ERRADO 11

PRIMEIRA PARTE
"INFLUÊNCIA DAS INTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS ENTRE ESPÉCIES
DE FORMIGAS NOS LEVANTAMENTOS QUE EMPREGAM ISCAS". 14

1- INTRODUÇÃO 15
2- MATERIAL E MÉTODOS 18
2.1- LOCALIDADES 18
2.2- OBSERVAÇÕES 19
2.3- CATEGORIAS COMPORTAMENTAIS 21
3- RESULTADOS 24
4- DISCUSSÃO 39
5- APÊNDICES 44

SEGUNDA PARTE
"O LEVANTAMENTO DA FAUNA DE FORMIGAS DO CERRADO " 51

1- INTRODUÇÃO 52
2- MATERIAL E MÉTODOS 55
I- LOCALIDADES 55
2.1- SERRA DA MESA - GO 55
A- ÁREAS DE ESTUDO 55
B- METODOLOGIA DE COLETA 60
2.2- ESTAÇÃO ECOLÓGICA JATAÍ- LUIZ ANTÔNIO- SP 73
2.3- FAZENDA SANTA CARLOTA- CAJURU- SP 75
2.4- ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁGUAS EMENDADAS- DF 75
II- METODOLOGIA DE ANÁLISE 76
3- RESULTADOS 79
4- DISCUSSÃO 140
4.1- RIQUEZA DE ESPÉCIES 140
4.2- DIVERSIDADE 144
4.3- SIMILARIDADE ENTRE AS LOCALIDADES 145
4.4- ESTRUTURA DAS COMUNIDADES AMOSTRADAS 146

TERCEIRA PARTE
"CARACTERIZAÇÃO DAS GUILDAS DE FORMIGAS DO CERRADO " 148

1- INTRODUÇÃO 149
1.1- CONCEITOS RELATIVOS AO TERMO GUILDAS 149
1.2- APLICAÇÃO DO MODELO DE GUILDAS 151
2- MATERIAL E MÉTODOS
2.1 - ÁREA DE ESTUDO 154
2.2- OBSERVAÇÕES 155
2.3- VARIÁVEIS E CATEGORIAS ECOLÓGICAS 160
3- RESULTADOS 169
3.1- DESCRIÇÃO DAS GUILDAS DE FORMIGAS DO CERRADO 177
3.2- APLICAÇÃO DO MODELO DE GUILDAS 184
4- DISCUSSÃO 190
4.1- A ESCOLHA DAS CATEGORIAS 190
4.2- A COMPOSIÇÃO DAS GUILDAS 192
4.3- A COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA DAS COMUNIDADES
ATRAVÉS DO MODELO DE GUILDAS 195

CONCLUSÕES 199

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 201


I- APRESENTAÇÃO

Esta tese reflete o desenvolvimento recente de ferramentas que objetivam o estudo da


biodiversidade, de acordo com as premissas adotadas pelo governo brasileiro na Conferência
Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (ECO 92) e na Agenda 21, que
implementou os programas de conservação da biodiversidade, visando a utilização sustentável
dos recursos naturais.
O crescente número de estudos das comunidades de invertebrados tem resultado na
utilização destes dados na formulação de estratégias de conservação e diretrizes para o manejo
de ecossistemas. Isto tem levado os pesquisadores a buscarem um entendimento da função
desempenhada por esses organismos na manutenção e produtividade dos ecossistemas.
A escolha da biodiversidade de Formicidae como um modelo para se estudar
diversidade veio em função de apresentarem uma distribuição geográfica ampla, serem
localmente abundantes, funcionalmente importantes em todos os níveis tróficos, facilmente
amostradas e separadas em morfo-espécies, sensíveis à cobertura vegetal e suscetíveis às
mudanças ecológicas; além disso, sua diversidade pode ser correlacionada com a de outros
componentes bióticos da área estudada. Estas particularidades conferem às formigas a
condição de serem adequadas para o uso como bio- indicadores em ambientes terrestres,
tornando-as uma ferramenta de comparação da estrutura das comunidades locais.
A escolha do Cerrado como área de investigação foi em função deste bioma estar
desaparecendo rapidamente devido ao crescimento demográfico e à expansão agropecuária no
Planalto Central. O Cerrado é protegido apenas pelo Código Florestal e não é considerado
legalmente um bioma de preservação permanente como é o caso da Mata Atlântica e da
Floresta Amazônica.
No caso do Estado de São Paulo, o Programa Estadual para a Conservação da
Biodiversidade PROBIO/SP (SMA, 1997) identificou a necessidade de ampliação da proteção
dos remanescentes de Cerrado e da definição de diretrizes que orientem os pedidos de
licenciamento e desmatamento, uma vez que as informações biológicas dessas áreas estão
dispersas e não sistematizadas.
Um outro fator que direcionou as pesquisas para as localidades de Cerrado foram as
informações sobre a representatividade da coleção de formigas do Museu de Zoologia da
USP, a maior e melhor organizada coleção de formigas neotropicais, que apontam o Cerrado e
a Caatinga como os ecossistemas brasileiros onde seria conveniente a intensificação de
coletas.

1
A primeira meta na elaboração do presente projeto, que objetiva investigar a
diversidade de formigas em diferentes áreas dentro do bioma Cerrado, foi estabelecer a
técnica de coleta que seria utilizada para comparações quantitativas entre as localidades.
Como cerrados ralos não permitem o uso do extrator de Winkler, mesmo porque estes
ambientes, ricos em gramíneas, não formam serapilheira em volume suficiente, adotei a
utilização de iscas, oferecendo-as padronizadamente em localidades selecionadas.
Entretanto, mesmo que os efeitos de eventuais relações interespecíficas em iscas sejam
minimizados pelo número de amostras, uma dúvida no emprego da técnica de iscamento é se
o comportamento dominante de certas espécies afetaria consistentemente os resultados das
estimativas da riqueza de espécie de formigas em uma localidade.
Um subprojeto foi desenvolvido subsidiariamente durante o desenvolvimento do
mestrado na tentativa de responder esta questão. Minhas observações foram complementadas
com a colaboração da Prof.a Adriana Reis Menezes, que havia efetuado observações sobre a
dinâmica de visitação a iscas na Estação Ecológica de Águas Emendadas, DF. Somei os meus
resultados obtidos na Fazenda Santa Carlota, Cajuru, SP (Silvestre, 1995) aos obtidos em
Águas Emendadas (Reis Menezes, 1998) e categorizei os tipos de comportamentos
apresentados pelas diferentes espécies de formigas visitando iscas nas duas localidades. As
análises e os resultados deste subprojeto são apresentados como primeira parte desta tese.
Com a oportunidade de participar do projeto “Inventário da fauna de Serra da Mesa-
GO”, patrocinado pela Companhia Hidroelétrica de Furnas e pela Nacional Energética SA,
realizei coletas quantitativas e qualitativas de formigas em quatro expedições a diferentes
localidades dentro da área “core” do Cerrado, nos municípios de Niquelândia, Campinaçu,
Colinas do Sul e Uruaçu, em áreas atualmente cobertas pelo lago do reservatório formado pela
barragem do Rio Tocantins, no norte do Estado de Goiás.
Apresento como segunda parte da tese os resultados do inventário da fauna de
formigas de Serra da Mesa- GO; somando esses resultados aos dos levantamentos realizados
em outras localidades cobertas por vegetação de Cerrado onde coletei formigas, sendo estas:
Fazenda Santa Carlota, município de Cajuru, SP; Estação Ecológica de Águas Emendadas,
município de Planaltina, DF (quando participei do levantamento realizado pela Prof.a Adriana
Reis Menezes) e Estação Ecológica "Jataí", no município de Luiz Antônio, SP (com a
colaboração do Prof. Rogério Rosa da Silva), totalizando 7 localidades amostradas (5 na área
"core" do Cerrado e 2 nas "ilhas" de Cerrado no Estado de São Paulo). As estimativas de
riqueza de espécies destas localidades e a similaridade faunística entre as áreas amostradas
são avaliadas e discutidas neste subprojeto.

2
A partir das informações obtidas nos períodos de observações focadas em iscas e nos
levantamentos faunísticos, pretendi aprofundar-me nos estudos sobre a estrutura de
comunidades de formigas deste bioma, tentando responder principalmente se a estrutura muda
entre as localidades ou se existem substituições de espécies dentro de estruturas semelhantes.
Para atingir os objetivos propostos, elaborei, como terceira parte desta tese, um
método de classificação da comunidade de formigas na forma de guildas, considerando
diversos aspectos da ecologia dos táxons, como por exemplo as estratégias empregadas pelas
operárias das diferentes espécies durante o forrageamento, o local de nidificação e o padrão de
comportamento observado em interações interespecíficas. Esta categorização propiciou uma
comparação funcional da estrutura da comunidade de formigas entre as áreas no "core" do
Cerrado e as "ilhas" de Cerrado do Estado de São Paulo.
Apresento inicialmente comentários sobre a ecologia das formigas e faço uma
descrição do bioma de Cerrado. A seguir a tese é dividida em três partes, cada uma delas
contendo introdução, metodologia, resultados e discussão. A primeira parte analisa a
influência das interações comportamentais entre as espécies de formigas nos levantamentos
faunísticos que empregam iscas atrativas; a segunda descreve o levantamento faunístico em
sete localidades de Cerrado e a terceira apresenta a categorização das espécies de formigas do
Cerrado em grupos funcionais, quando discuto a aplicação do modelo de guildas na
comparação da estrutura das comunidades de formigas das áreas investigadas.
Por fim, comento dentro de uma discussão geral da estrutura das comunidades de
formigas do Cerrado, à luz de todos os resultados obtidos, as possíveis aplicações deste estudo
em programas de monitoramento ambiental e no suporte às pesquisas que visam o estudo da
biodiversidade nos ambientes tropicais.

3
II- INTRODUÇÃO GERAL

A- CONSIDERAÇÕES SOBRE A ECOLOGIA DE FORMIGA S

Com um extensivo registro fóssil que começa no médio Cretáceo, tornando-se


abundante nos depósitos de âmbar de acúmulos terrestres do Oligoceno e Mioceno, as
formigas constituem o grupo de insetos sociais mais amplamente distribuído e numericamente
abundante. A eussocialidade, como característica dos grupos que apresentam: cuidado
cooperativo à prole, divisão em castas reprodutivas e sobreposição de gerações maduras na
colônia (definida por Wilson, 1971), a diversidade morfológica, a plasticidade
comportamental e o suposto “sucesso ecológico”, conferem às formigas a condição de um
precioso modelo de estudos sobre demografia adaptativa.
As formigas apresentam uma grande diversidade de formas e comportamentos
chegando a apresentar diferenças extremas de tamanho, cor, pilosidade e agressividade dentro
de um mesmo gênero. Em tamanho do corpo atingem desde menos de 1 milímetro a mais de
4cm. Em tamanho da população das colônias reúnem desde uma dezena de indivíduos a
alguns milhões. Ocupam quase todos os nichos disponíveis nos ambientes terrestres e
nidificam desde a copa das árvores a alguns metros de profundidade no solo.
Devido à sua organização social, diversidade relativamente alta e oportunismo na
ocupação de nichos, formigas têm atraído a atenção de pesquisadores de diversas áreas de
investigação como Sistemática, Biogeografia, Ecologia e Etologia. São organismos
importantes no fluxo de energia e biomassa dos ecossistemas terrestres e na evolução da
estrutura das comunidades desses ecossistemas como um todo (Hölldobler e Wilson, 1990),
tendo como característica ecológica mais relevante sua dominância em termos de abundância
local em relação a outros artrópodos (Stork, 1991). Acredita-se que nas florestas tropicais da
Amazônia, formigas e cupins compreenderiam juntos cerca de 1/3 da biomassa animal
(Hölldobler e Wilson, 1994).
Em função da diversidade do grupo, da grande plasticidade comportamental e da alta
densidade populacional nas comunidades locais, as formigas exercem um importante papel
ecológico na dinâmica do ambiente. Lévieux (1982) estima que em uma área de Savana na
Costa do Marfim a densidade populacional de formigas atinge cerca de 20 milhões de
indivíduos por hectare. O impacto de suas populações nos ambientes terrestres é relativamente
grande, uma vez que podem atuar como predadoras de artrópodos e pequenos invertebrados,

4
herbívoras desfoliadoras, coletoras de pólen e néctar e até mesmo competirem com mamíferos
na coleta de sementes (Davidson et al., 1980).
Estudos recentes têm mostrado que formigas podem desempenhar um importante
papel ecológico na composição da vegetação (Moraes, 1980; Oliveira, 1988; Oliveira &
Oliveira-Filho, 1991; Del Claro et al. 1996). As formigas arbóreas, na defesa de suas
colônias, colaboram na proteção da planta, reduzindo a herbivoria e possivelmente
aumentando seu potencial reprodutivo.
Oliveira & Brandão (1991) reconhecem 38 gêneros de formigas que visitam nectários
extra- florais (NEFs), 33 dos quais ocorrem em regiões tropicais e subtropicais e 17 em regiões
temperadas, com as subfamílias Myrmicinae, Formicinae e Dolichoderinae representadas em
ambas as macro regiões e Ponerinae e Pseudomyrmecinae apenas nos trópicos. Estes autores
concluem que a alta proporção de pla ntas com NEFs nas comunidades vegetais pode ser fruto
da pressão seletiva gerada pelo intenso forrageamento das formigas sobre as árvores e seus
efeitos na atividade de herbivoria de outros animais.
A importância dos gradientes (verticais e horizontais) dentro de um hábitat ressaltam
os efeitos do microambiente nas populações. Kusnezov (1957), Cüshman et al. (1993), Olson
(1994) e Fisher (1996) demonstram diferenças na composição das comunidades de formigas
com a altitude. Variações na fauna ao longo do ano e entre sítios são correlacionadas
positivamente com a quantidade de água disponível ou mesmo com a temperatura (Levings,
1983; Delabie & Fowler, 1993).
A competição intra e interespecífica também é um fator de grande importância na
composição das faunas locais, como também na regulação das atividades das espécies, sendo
apontada por Dobzhanski (1950) como o principal componente na evolução da estrutura das
comunidades.
A disponibilidade de alimento e de sítios de nidificação influenciam diretamente a
composição da fauna de formigas (Levings & Traniello, 1981; Traniello, 1987; Beckers et
al.,1990). A maior força seletiva na evolução da morfologia, bioquímica e etologia das
formigas está na ecologia da busca pelo alimento (Carrol & Jansen, 1973).
Espécies de uma comunidade local de formigas ocupam diferentes níveis estruturais
do hábitat, compondo desta forma grupos funcionais distintos. Podemos citar a fauna de
formigas que habita exclusivamente o dossel da vegetação, a fauna que patrulha a superfície
do solo, a fauna críptica que habita a serapilheira ou então a fauna subterrânea. Brühl et al.
(1998) demonstraram que aproximadamente 75% das espécies de uma comunidade estão

5
associadas exclusivamente a um estrato, sendo sua atividade de forrageamento e nidificação
adaptada à estrutura física deste estrato.
A capacidade de adaptação às condições extremas do meio, propicia a algumas
espécies ocuparem nichos em ambientes extremamente degradados. Existem casos de
colônias vivendo em estreitas condições de disponib ilidade de oxigênio, em locais de
inundações periódicas, casos de resistência a produtos químicos e até a longos períodos de
exposição à radiação.
Um outro caso interessante da ecologia das formigas é a adaptação de várias espécies a
ambientes ocupados pelo homem. Através da atividade mercantil mundial estas espécies
foram disseminadas para as mais diferentes regiões do planeta. Há também o caso das
espécies que são consideradas pragas agrícolas por terem sua atividade favorecida pelas
modificações antrópicas do meio, sendo responsáveis por prejuízos substanciais na
agricultura.

B- CARACTERIZAÇÃO DO CERRADO

A designação “cerrado”, empregada no Brasil, tem origem espanhola e significa


fechado, vedado, denso e provavelmente foi empregada para designar um tipo de vegetação
de difícil travessia.
O tipo de vegetação de cerrado ocorre sob diferentes formas na América do Sul, pois
sua caracterização baseia- se mais na fisionomia do que nos aspectos florísticos ou
ecológicos, sendo as formações fisionomicamente semelhantes em outras regiões do globo
(principalmente África e Austrália) conhecidas como savanas.
Adotei neste trabalho a terminologia da vegetação do Cerrado elaborada por Ribeiro &
Walter (1998) por considerar bastante abrangente, com a utilização de termos regionais de uso
difundido. Segundo estes autores existem três acepções gerais do termo cerrado de uso
corrente. O primeiro e mais abrangente refere-se ao bioma predominante no Brasil Central,
devendo ser escrito com inicial maiúscula, não tendo plural, pois existe apenas um bioma
Cerrado. O segundo termo cerrado lato sensu reúne as formações florestais, savânicas e
campestres do bioma, incluindo desde o cerradão até o campo limpo, podendo ser designado
no plural. O terceiro termo cerrado stricto sensu designa um dos tipos fitofisionômicos que
ocorrem na formação savânica, definido por uma determinada composição florística e
fisionomia.

6
Esses autores concluem, a partir de uma ampla revisão da literatura, que o bioma
Cerrado não é homogêneo quanto à fitossociologia, sendo as interações de todos os
parâmetros bióticos e abióticos que determinam a mudança nos aspectos quantitativos e
qualitativos da vegetação. O resultado dessas interações produziu uma grande variedade de
tipos, com o estabelecimento de uma vegetação em mosaico. Fatores temporais (alterações
climáticas e geomorfológicas) e espaciais (expansão e retração) permitiram o
desenvolvimento de formações florestais dentro do bioma Cerrado.
A área nuclear do Cerrado é constituída por diversas formações vegetais que vão
desde Florestas Caducifólias Tropicais que acompanham os principais cursos d’água
(Araguaia e Tocantins) até o Campo Limpo do Planalto Centro- Sul (variantes de Estepes);
tendo como limites a Caatinga (ao nordeste), a Floresta Pluvial Tropical Perenifólia e
Semicaducifólia Amazônica (ao norte), a Floresta Pluvial Estacional Tropical Perenifólia da
Encosta Atlântica (ao sudeste) e o Pantanal Mato- grossense (ao sudoeste) (Veloso, 1966).
A área nuclear do Planalto Central Brasileiro abrange os estados de Goiás, Tocantins e
parte do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Minas Gerais, alcançando ao norte os
estados do Piauí, Maranhão e na forma de penínsulas áreas ao sul de Rondônia. Outras áreas
típicas de Savana são encontradas no Amapá, Roraima, Amazonas e Pará (Eiten, 1972). Nos
seus limites ao sul o Cerrado é fragmentado na forma de manchas ou ilhas, atingindo São
Paulo e o Paraná. Todas as áreas juntas compreenderiam aproximadamente 25% do território
Nacional (Ferri, 1977).
O Cerrado do Planalto Central apresenta uma estação chuvosa típica de verão com
estiagem no inverno, sendo classificado como tipo Aw de Köppen. A média anual de
precipitação fica em torno de 1300 a 1600mm e a temperatura média em torno de 20o C.
Mesmo no inverno existem dias muito quentes, apesar das noites serem frias. As altitudes
onde ocorrem as várias fisionomias de Cerrado variam de 300m na Baixada Cuiabana, 1200m
na Chapada Diamantina e mais de 1600m na Chapada dos Veadeiros (IBGE, 1989).
Diversos tipos de cerrados ocorrem sobre diferentes tipos de solos. O cerradão é muito
freqüente em latossolos; o cerrado sentido restrito é comum em areias quartzosas, latossolo
amarelo e podzólico vermelho-amarelo; o campo sujo é mais freqüente em plintossolos e
planossolo s; as veredas podem aparecer em solo hidromórfico cinzento e glei húmico e o
cerrado rupestre em solos litóicos (Reatto et al., 1998).

7
A classificação da vegetação do Cerrado proposta por Ribeiro & Walter (1998) inclui
11 tipos fitofisionômicos. A seguir apresento as formações consideradas por estes autores,
juntamente com exemplos de espécies vegetais comumente encontradas nestas áreas.

Formações Florestais

1- Mata Ciliar
Características: Acompanha rios de médio e grande porte, não formando galerias, com
tamanho proporcional ao leito do rio. Ocorre geralmente em terrenos acidentados e apresenta
transição não evidente com outros tipos de vegetação. Cobertura arbórea de 50 a 90%. Altura
das árvores variando de 20 a 25m. Aspecto semidecíduo. Espécies freqüentes: Anadenanthera
spp. (angico), Aspidosperma spp. (peroba), Inga spp. (ingá), Tabebuia spp. (ipê), Cecropia
pachystachya (embaúba).

2- Mata de Galeria
Características: Acompanha rios de pequeno porte formando corredores fechados, onde as
copas das árvores se tocam. Localiza-se nos fundos de vales com pouca drenagem. Aspecto
perenifólio com transição brusca para outras coberturas. Árvores de 20 a 30m. Cobertura
arbórea de 70 a 90%. Apresenta grande número de epífitas. Subtipos: Mata de Galeria
Inundável e não Inundável. Espécies freqüentes: Copaifera langsdorffii (pau d'óleo),
Carinyana rubra (jequitibá), Xylopia sericea (pindaíba vermelha), Cedrela odorata (cedro),
Croton urucurana (sangra d’água).

3- Mata Seca
Características: Não possui associação com cursos d’água. Solos geralmente ricos. Apresenta
diversos níveis de cadulcifolia e freqüentes afloramentos rochosos. Subtipos: Mata Seca
Sempre Verde, Semidecídua e Decídua. Altura das copas entre 15 a 25m. Cobertura de 70 a
95% na época chuvosa e inferior a 50% na época seca. Espécies freqüentes: Amburana
cearensis (imburana), Cassia ferruginea (canafístula preta), Centrolobium tomentosum
(araribá), Anadenanthera colubrina (angico), Jacaranda caroba (caroba), Myracrodruon
urundeva (aroeira).

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4- Cerradão
Características: Espécies mais próximas às de cerrado sentido restrito. Aspecto xeromórfico.
Altura média das copas de 8 a 15m. Dossel contínuo cobrindo de 50 a 90%. Poucas epífitas.
Solos profundos bem drenados. Subtipos: Cerradão Distrófico (solos pobres) e Mesotrófico
(solos mais ricos). Espécies freqüentes: Caryocar brasiliensis (pequi), Lafoensia pacari
(mangaba-brava), Pterodon emarginatus (sucupira), Qualea grandiflora (pau-terra),
Sclerobium paniculatum (carvoeiro), Bauhinia bongardii (unha de vaca), Agonandra
brasiliensis (pau- marfim).

Formações Savânicas

5- Cerrado sentido restrito


Características: Xeromorfismo, árvores baixas, tortuosas, retorcidas, com cortiça grossa,
densa pilosidade e com evidência de queimadas periódicas. Solos ácidos com excesso de
alumínio. Subtipos: Cerrado Denso- cobertura entre 50 a 70%; Cerrado Típico- cobertura de
20 a 50%; Cerrado Ralo- cobertura de 5 a 20%; Cerrado Rupestre- cobertura de 5 a 20%, com
afloramentos rochosos. Espécies típicas: Caryocar brasiliensis (pequi), Byrsonima spp.
(murici), Curatella americana (lixeira), Hancornia speciosa (mangaba), Annona crassiflora
(araticum), Hymenaea stigonocarpa (jatobá-do-cerrado), Qualea spp. (pau-terra),
Sclerolobium aureum (carvoeiro), Dimorphandra mollis (faveiro), Tocoyena formosa
(jenipapo), Anacardium humile (cajuí), Campomanesia pubescens (gabiroba), Vellozia
squamata (canela de ema).

6- Parque de Cerrado
Características: Árvores agrupadas em locais específicos do terreno. Altura média das árvores
de 3 a 6m. Provável interação da paisagem com cupinzeiros (murundus). Espécies arbóreas
semelhantes às de cerrado típico e espécies herbáceas semelhantes às de campo limpo.

7- Palmeiral
Características: Predominância de palmeiras nos campos abertos; praticamente não existem
dicotilidôneas. Subtipos: Macaubal (Acromia aculeata), Guerobal (Syagrus oleracea),
Babaçual (Attalea speciosa) e Buritizal (Mauritia flexuosa). Em certos locais ocorre a
presença de palmeiras de outra espécies como a buritirana (Mauritiella armata).

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8- Vereda
Características: Emergência de Mauritia flexuosa em meio de agrupamentos mais ou menos
densos de espécies arbustivo-herbáceas, circundadas por Campo Limpo geralmente úmidos.
Altura média de 12 a 15m. São comuns próximas às nascentes ou nas bordas de Matas de
Galerias, em áreas de pouca drenagem, com afloramento do lençol freático. Destacam-se os
gêneros de gramíneas: Andropogon, Aristida, Paspalum e Trachypogon.

Formações Campestres

9- Campo Sujo
Características: Fisionomia herbáceo-arbustiva encontrada em solos rasos de baixa fertilidade,
muitas vezes com árvores esparsas pouco desenvolvidas do cerrado sentido restrito. Subtipos:
Campo Sujo Seco (lençol freático profundo), Campo Sujo Úmido (lençol freático alto) e
Campo Sujo com Murundus. Famílias mais freqüentes: Poacea e Cyperacea.

10- Campo Rupestre


Características: Fitofisionomia predominantemente herbáceo-arbustiva, com árvores de até
2m de altura. Ocorrem geralmente em altitudes maiores de 900m, em áreas com afloramentos
rochosos. Poucas espécies lenhosas concentram-se nas fendas das rochas. Presença de muitos
endemismos. Famílias freqüentes: Asteraceae, Bromeliaceae, Cactaceae, Cyperaceae,
Iridaceae, Labiatae, Orquidaceae, Velloziaceae.

11- Campo Limpo


Características: Campo de gramíneas com árvores muito distantes. Dependendo da umidade e
topografia pode ser dividido em: Campo Limpo Seco, Úmido e com Murundus. Quando
ocorrem em áreas planas inundadas periodicamente são conhecidos como campos de várzea.
Gêneros freqüentes: Rhynchospora, Burmannia, Drosera, Utricularia, Paspalum, Panicum.

10
C- A BIODIVERSIDADE DO C ERRADO.

A biodiversidade é um assunto que domina as discussões nas esferas políticas e


científicas a nível mundial. O que tem sido enfatizado com mais freqüência é a necessidade de
se proteger as Florestas Tropicais Úmidas; no entanto, Redford et al. (1990) alertam para o
desaparecimento de biomas também de grande importância com relação à fauna e flora que
suportam; é o caso do Pantanal e das Florestas Secas de Altitude da Amé rica do Sul.
Pimm & Gittlemamn (1992) apontam, em suas considerações sobre diversidade
biológica baseadas em estudos de área, que as Florestas Secas podem conter 18% mais
gêneros e espécies que aquelas encontradas na Planície Amazônica e abrigar uma proporção
muito maior de grupos endêmicos. Mares (1992) calcula que o Cerrado contém 53% mais
espécies endêmicas de mamíferos do que aquelas encontradas nas Florestas Tropicais
Úmidas.
O Cerrado do Planalto Central Brasileiro está seriamente ameaçado, isto se deve
principalmente ao crescimento demográfico no Brasil Central, à expansão agropecuária na
região, a extração de minérios e de carvão vegetal e à prática de queimadas já descritas desde
o início do século passado pelo naturalista August de Saint-Hilaire. A destruição das áreas
tropicais se procede tão rapidamente que trabalhos como inventários de fauna não podem ser
totalmente concluídos antes que os ambientes sejam profundamente alterados.
O Cerrado é um bioma em mudança pela ação do homem; a fragmentação dos hábitats
tem levado ao desaparecimento de espécies e a alterações na cadeia trófica (Alho, 1990). A
preferência do solos sob Cerrado para o plantio de pastagens e a criação de gado, vem sendo
há várias décadas um fator de modificação intenso das condições naturais do bioma. Souza
Dias (1990), estima que 37% da área do bioma de Cerrado já perdeu sua cobertura primitiva e
que apenas 7% da paisagem natural é preservada em forma de reservas. O autor alerta ainda
que caso esse quadro não se reverta, o Cerrado terá um destino pior que o da Mata Atlântica.
Quanto à diversidade de plantas, Eiten (1982) indica que o Cerrado pode conter mais
de 400 espécies por hectare, sendo mais de 150 espécies lenhosas/ha na sua forma mais densa
(cerradão) e 40 - 80 espécies lenhosas/ha nas suas formações abertas. Esta flora tem
elementos de número considerável oriundos de outros tipos de vegetação como a Mata
Atlântica e a Mata Amazônica. São exemplos disso o ipê-branco (Tabebuia alba), a erva-de-
teiú (Casearia sylvestris), o paú-d’óleo (Copaífera langsdorffii) e a sucupira (Bowdichia
virgilioides).

11
Mendonça et al. (1998) listam 282 táxons de Pteridófitas pertencentes a 51 gêneros e
19 famílias registradas até o momento no Cerrado e 6.389 táxons nativos de Fanerógamas
pertencentes a 1.093 gêneros dentro de 151 famílias. Dez famílias contribuíram, neste
trabalho, com mais de 51% da riqueza florística do Cerrado, sendo elas: Leguminosae,
Compositae, Orchidaceae, Gramineae, Rubiaceae, Melastomataceae, Myrtaceae,
Euphorbiaceae, Malpighiaceae e Lythraceae.
Muitas plantas do Cerrado têm utilidades medicinais, aromáticas e alimentares para a
população local como o pequi (Caryocar brasilienses), o murici (Byrsonima spp.), a mangaba
(Hancornia speciosa), os cajus (Anacardium spp.), o barbatimão (Stryphnodendron
adstringens), a catuaba (Anemopaegma arvense), o cumaru (Dipteryx alata), o jatobá
(Hymenaea stignocarpa), a sucupira (Bowdichia virgilioides), dentre muitas outras (Rizzini et
al., 1991). Atualmente grande parte da população urbana das cidades circundadas pelo
Cerrado desconhece a utilidade da maioria das plantas nativas, daí a importância de resgatar o
acervo cultural (Almeida, 1998).
Existem no Cerrado plantas que são reconhecidas por sua atividade biológica e
farmacológica produzindo substâncias como lignanas, diterpenos, flavonóides, saponinas,
com ação anti- inflamatória, antimicrobiana, fungicida, inseticida, etc. A indústria
farmacêutica utiliza plantas do Cerrado para produção de hormônios, para síntese de
contraceptivos, para extraírem substâncias citotóxicas, perfumes e cosméticos (SMA, 1997).
A diversidade de mamíferos é relativamente alta, sendo abundantes roedores e
marsupiais. Dentre os mamíferos de grande porte são comuns o lobo-guará (Crysocyon
brachyurus), o veado-catingueiro (Mazama gouazoubira), o tamanduá-bandeira
(Myrmecophaga tridactyla), o tatu-bola (Tolipeutes tricinctus), a preguiça (Bradypus
torquartus) o bugio (Alouatta caraya), etc. Embora em vias de extinção ainda existem onças
no Cerrado e é comum nas andanças pelo Cerrado encontrarmos as suas fezes.
A diversidade de aves também é exuberante. Foram registradas em Goiás pela equipe
do projeto Fauna de Serra da Mesa, aves das seguintes famílias: Tinamidae, Ardeidae,
Accipitridae, Falconidae, Cracidae, Rallidae, Columbidae, Psittacidae, Cuculidae, Strigidae,
Caprimulgidae, Trochilidae, Trogonidae, Momotidae, Galbulidae, Bucconidae, Ramphastidae,
Picidae, Dendrocolaptidae, Furnariidae, Formicariidae, Conopophagidae, Pipridae, Tyranidae,
Hirundinidae, Troglodytidae, Mimidae, Muscicapidae, Emberizidae, Parulidae, Vireonidae,
Icteridae e Corvidae. São comum as espécies de aves como a ema (Rhea americana), a
seriema (Caryana cristata), a juruva (Baryphytenyus ruficapillus), o joão de barro (Furnarius
rufus), o bico de agulha (Gaubula ruficauda), o saí azul (Dacnis cayana), a gralha cãcã

12
(Cyanocorax cyanopogon), o curiango (Caprimulgo rufus), o arapaçú (Dendrocolapts
platyrostris), o gavião carrapateiro (Mivalgo chimachima), o gavião carijó (Buteo
magnirostris), o guaxe (Cacicus cela), o bico de brasa (Monasa nigrifrons), a mariquita
(Basileuterus flaveoulus) e muitos outros belos pássaros. Esta relação contém diversos
pássaros migrantes como o sabiá- americano (Catharus fuscescens) e pássaros considerados
endêmicos como o soldadinho (Antilophia galeata). Silva (1997), sugere como prioritária a
criação de uma Reserva Ecológica no vale do Rio Paranã em Goiás, por considerar uma área
com grande diversidade de pássaros endêmicos.
Minha experiência em participar dos levantamentos faunísticos na região de Serra da
Mesa, que tiveram a participação de especialistas em diversos grupos animais, ajudou- me a
consolidar a idéia de que o bioma Cerrado é, na verdade, muito mais rico do que as medidas
de conservação até hoje adotadas permitem supor. Foram coletadas espécies consideradas
raras da maioria dos grupos animais investigados, sugerindo que os esforços de coleta
empregados até o momento não fazem justiça à riqueza que o Cerrado deve mostrar. Apesar
de não ter sido possível comparar até o momento as listas de fauna ali coletada com a riqueza
conhecida em outros biomas, todos os pesquisadores envolvidos foram unânimes em afirmar
que as coletas superaram as expectativas.
Também durante as viagens a Serra da Mesa foram coletados fragmentos ósseos
fossilizados de anfíbios, lagartos, serpentes, aves e mamíferos, retirados das cavernas da
região antes do enchimento do lago, na intenção de se iniciar um estudo paleontológico de
microvertebrados do Quaternário do Estado de Goiás (Sales et al., 1999). Esses autores
comentam que observa-se uma considerável correspondência entre a fauna fóssil das cavernas
e a fauna atual de micromamíferos de Serra da Mesa. O estudo dessa fauna holo-pleistocênica
associado aos estudos faunísticos recentes poderá trazer informações que permitam uma
melhor compreensão dos padrões e processos evolutivos pertinentes à biota dessa região.

13
PRIMEIRA PARTE

INFLUÊNCIA DAS INTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS ENTRE

ESPÉCIES DE FORMIGAS NOS LEVANTAMENTOS QUE EMPREGAM

ISCAS

14
1- INTRODUÇÃO

Romero & Jaffé (1989) discutem as dificuldades em se comparar a eficiência relativa de


diferentes procedimentos de coleta aplicados a ambientes diversos e a não existência de uma
forma direta de se analisar resultados de levantamentos que empregaram diferentes métodos de
coleta. Concluem que cada método empregado amostra um conjunto diferente de espécies.
Uma técnica de amostragem que vem sendo freqüentemente utilizada para se estimar a
riqueza de espécies de formigas é o registro das freqüências relativas das espécies atraídas a iscas
(Benson e Brandão, 1987; Silvestre, 1995, Moutinho, 1991a e Reis Menezes, 1998). A mesma
técnica vem também sendo empregada no estudo de parâmetros que afetam a estrutura das
comunidades de formigas (Andrade Neto, 1987; Benson & Harada, 1988; Matos et al., 1994).
Diferenças nos hábitos comportamentais das diferentes espécies frente às fontes
alimentares geram dúvidas se os levantamentos que empregam iscas estão realmente amostrando
a fauna total que visita este tipo de fonte alimentar ou se está privilegiando as espécies
comportamentalmente dominantes em detrimento das subordinadas.
Na competição pelo alimento as formigas empregam um rico repertório de técnicas, das
quais monopolizar um território, patrulha ndo-o continuamente, é a mais comum. Muitas espécies
impedem ainda o acesso de outras aos alimentos empregando recrutamento de massa, onde
operárias utilizam repelentes químicos eficientes.
Os métodos de forrageamento comumente empregados por formigas de colônias
sedentárias podem ser agrupados em três categorias: individual, onde uma operária coleta
alimentos independentemente das outras; com recrutamento, onde operárias procuram o alimento
isoladamente, mas a coleta é feita por um sistema coordenado entre os indivíduos e de grupo,
onde operárias coletam independentemente, mas movendo-se por trilhas ou colunas definidas
(Bernstein, 1975). Estes três tipos de comportamento podem ser exemplificados pelos grupos
Ponerini, Camponotini e Attini.
As variáveis ambientais que mais comumente afetam o forrageamento são a distribuição,
densidade e renovação na disponibilidade do alimento (Schoener, 1970). A forma pela qual uma
espécie procura e captura o alimento depende principalmente da quantidade de alimento
disponível, sua distribuição espacial e temporal, sua resistência a ser capturado e da capacidade
de carregamento de cada operária forrageira (Levings & Traniello, 1981).
Segundo Levings e Traniello (op. cit.) os tipos de recursos utilizados por formigas podem
ser divididos em três categorias: os que persistem por um período razoavelmente curto, por

15
exemplo um inseto morto, os que persistem por um período razoavelmente longo, por exemplo
frutos ou sementes e os recursos persistentes, por exemplo colônias de afídeos.
A capacidade de forragear num determinado tipo de categoria de recurso está associada
ao aprendizado, tipo de orientação empregado, morfologia do animal, distância da jornada até a
fonte de alimento, stress térmico, qualidade e densidade do recurso e status nutricional da
colônia (Traniello, 1989).
A razão de depósitos de marcas químicas, a persistência em uma determinada direção, a
atração a novas fontes e trilhas, o efeito da concentração do feromônio no recrutamento, além de
propriedades como razão de evaporação, velocidade de locomoção e tamanho das populações
são fatores determinantes no comportamento de grupo (Edelstein-Keshet, 1995).
Bred et al. (1987) mostraram em seus estudos com Paraponera clavata que respostas
graduais de comportamento aparecem dependendo da quantidade e qualidade das fontes
alimentares.
Hunt (1974) analisou as preferências alimentares e de locais de forrageamento de duas
espécies de formigas com requisitos ecológicos similares e concluiu que as diferentes fases de
atividade apresentadas sugerem como elas podem coexistir no mesmo espaço. A temperatura da
superfície do solo foi apontada como sendo um dos fatores que regulam a atividade dos
forrageadores das duas espécies; outro fator apontado como determinante foi a agressividade da
espécie dominante em relação à outra, o que forçou um deslocamento da espécie dominada, que
passou a forragear em horário onde a temperatura não era favorável à dominante.
Moutinho (1991b) relacionou a atividade de duas espécies de Pheidole com a temperatura
do solo, concluindo que diferenças nos horários preferidos de forrageamento e na composição
relativa dos itens que compõem as dietas das espécies possibilitam a sua coexistência.
Torres (1984), estudando a coexistência de espécies de formigas em comunidades de
Porto Rico, tenta responder se espécies que têm seus nichos sobrepostos com o de outras
tenderiam a ser mais agressivas. Seus resultados indicam que agressões entre formigas de
espécies diferentes são menos freqüentes em áreas florestadas quando comparadas à áreas
cobertas por outras formações, incluindo agroecossistemas, sugerindo que agressões
interespecíficas nas fontes alimentares prevalecem em hábitats de estrutura mais simples e que
nem sempre a sobreposição de nichos induz à agressividade.
Bernstein (1975) constatou que formigas do deserto de Mojave, na Califórnia, adotam
diferentes estratégias de forrageamento em resposta às variações na densidade de alimento. Onde
o alimento é relativamente abundante, as mesmas espécies utilizam o método de coleta

16
individual durante todas as estações do ano, enquanto a coleta é feita em grupo onde e quando o
alimento é escasso.
Levings (1983) discute o emprego da flexibilidade e territorialidade na procura e
obtenção do alimento pelas formigas de uma comunidade e conclui que uma espécie
provavelmente interage com muitas outras com requisitos ecológicos similares ao longo do
tempo, o que pode resultar em dois efeitos seletivos opostos: na especialização, que reduz o
número de espécies interativas e na alta flexibilidade e generalidade no comportamento, que
aumentariam a probabilidade de contingências.
A intenção do presente trabalho foi avaliar as diferentes respostas comportamentais de
formigas frente às outras espécies nas iscas e determinar se existe uma hierarquia preestabelecida
de dominância dentro da comunidade, o que indicaria que em um levantamento faunístico deste
tipo apenas as espécies dominantes estariam sendo amostradas, desta forma não representando a
diversidade de espécies deste segmento da comunidade.
Num objetivo mais restrito, minhas observações indicam se essa eventual dominância
afeta ou não os resultados de levantamentos de faunas de formigas que empregam iscas atrativas.
Para tanto estudei a dinâmica de visitação a iscas de sardinha oferecidas no solo em duas
localidades de Cerrado, anotando a seqüência das espécies que chegaram às iscas e o seu
comportamento quando confrontadas com outras espécies.
A primeira questão que investiguei foi a existência de comportamentos agressivos
interespecíficos na disputa pelas iscas oferecidas e a possibilidade de se categorizar os atos
comportamentais observados. Quando constatada dominância na fonte alimentar, como ela
ocorreu? Que categorias comportamentais, estratégias de forrageamento e determinantes
morfológicos estariam envolvidos nas interações que resultaram na dominância da fonte? Uma
determinada espécie é sempre dominante independentemente de quais outras espécies estão
presentes na mesma isca?
Estabeleci critérios para categorizar as espécies que visitaram as iscas. A categorização
de dominância e fluxo dos indivíduos nas iscas geram conjuntos que representam as “síndromes”
comportamentais exibidas em cada evento em que uma espécie foi observada interagindo com
outra nas iscas, sendo possível, dessa forma, ordenar as espécies comportamentalmente dentro
das interações.

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2- MATERIAL E MÉTODOS

2.1- LOCALIDADES

As observações foram realizadas em duas localidades de cerrado; uma na área core


próximo à Brasília- DF e outra em uma mancha de cerrado no nordeste do Estado de São Paulo.
Apesar dos trabalhos nas duas localidades não terem sido realizados nas mesmas épocas e
períodos acredito que a soma das observações permite definir o universo das interações
comportamentais interespecíficas normalmente envolvidas na disputa por fontes alimentares.
A Estação Ecológica de Águas Emendadas (E.E.A.A.) localiza-se a cerca de 45km ao
norte de Brasília- DF, próximo à cidade satélite de Planaltina (15o 31-35’ S; 47o 32-37’ W). Está
na área central do bioma Cerrado e engloba áreas de Cerrado Típico, Cerradão e áreas em
regeneração pós fogo. Sua área, limitada pelo polígono formado pelas rodovias DF-13, BR-20,
DF-17 e DF-2 é de aproximadamente 10.000km2 . Faz parte da Estação a Lagoa Mestre D'Armas,
também denominada de Lagoa Bonita (Felfili & Silva Jr., 1993).
A E.E.A.E. abriga a nascente de dois córregos que fluem em direções opostas, indo em
direção à duas bacias hidrográficas diferentes. Para o norte, corre o córrego Vereda Grande que
vai se juntar às águas do rio Maranhão (Bacia Amazônica) e em direção sul, desce o córrego
Fumal, que escoa através do rio Corumbá afluente do Paranaíba (Bacia Platina).
Segundo Ferreira (1976) o cerrado constitui-se na formação mais representativa da área;
na Estação essa formação mostra variações em seu desenvolvimento em função de diferenças
edáficas, de tal modo que, às vezes, o estrato arbóreo se adensa e se torna mais robusto e, outras
vezes, as copas se distanciam e o estrato fica mais raquítico.
Foi escolhido um local onde as copas das árvores (que atingem até 6m de altura) se
tocam, apesar do número de plantas em cada estrato ser relativamente baixo. O estrato herbáceo
é composto na sua maior parte por gramíneas que dominam sobre a serapilheira, que é quase
inexistente.
A temperatura desta região varia pouco ao longo do ano (22o C em média) sendo as
estações bem marcadas por diferenças nas médias de precipitação. Os meses dezembro e janeiro
são os mais chuvosos, podendo ultrapassar 300mm, enquanto nos meses de junho e julho a
precipitação pode chegar a 0mm (dados obtidos no CPAC- Centro de Pesquisas Agropecuária
dos Cerrados).
As observações nessa localidade foram realizadas entre janeiro a dezembro de 1992 pela
Prof.a Adriana Reis Menezes, em área sujeitas a queimadas constantes (Reis Menezes, 1998).

18
A Fazenda Santa Carlota, localizada no município de Cajuru, Estado de São Paulo
(21°18’-27’ S; 47°12-20’ W), está próxima à região dos "mares de morros", a cerca de 20Km a
oeste do afloramento do complexo cristalino brasileiro (Arqueano) no município de Mococa, SP.
As cotas altimétricas variam de 600 a 900m e o clima pode ser classificado como tropical
de altitude. A média de precipitação anual dos últimos 30 anos é de aproximadamente 1500mm e
a temperatura média do ar em torno de 18,6°C. Os meses mais frios (junho, julho e agosto)
correspondem aos mais secos, onde a precipitação pode chegar a 0mm e a temperatura mínima
atingir 0°C; nos meses mais quentes (dezembro, janeiro e fevereiro) a precipitação pode
ultrapassar 300mm e a temperatura máxima atingir 38°C. Os dados de temperatura e precipitação
durante a época das observações foram fornecidos pela Estação Meteorológica da Usina Amália
que dista 15Km do local da coleta.
As florestas e as plantações de cana são substituídas por cerrados no declive para o vale
do rio Pardo, onde o solo é arenoso e lixiviado, suportando um estrato herbáceo com predomínio
das gramíneas e um estrato arbustivo-arbóreo com destaque para paus-terra (Qualea spp.),
barbatimão (Stryphnodendron spp.), pequi (Caryocar brasiliensis), murici (Byrsonima spp.) e a
lixeira (Curatella americana), entre outras (Pedro, 1992).
O local escolhido para as observações está dentro de uma mancha de Cerrado Típico,
com extensão aproximada de 400ha no limite sul da fazenda, entre os córregos das Pedras e
Barra Branca, à direita da pequena estrada que conduz ao rio Pardo, num declive pouco
acentuado, distando aproximadamente 200m da mata ciliar do rio. As observações nessa
localidade foram realizadas entre junho a novembro de 1993, numa área que era utilizada para
plantações de café e pastagens até a década de 1960 (Silvestre, 1995).

2.2- OBSERVAÇÕES

As iscas utilizadas para as observações de comportamento foram elaboradas com cerca de


1cm3 de sardinha preservada em óleo comestível em lata, dispostas em pedaços de papel
higiênico de 20 X 10cm dobrados. Foram observadas formigas visitando 60 iscas; 30 em cada
localidade. As iscas foram distribuídas no solo (sobre o “folhiço”), ficando exposta pelo período
de 90 minutos, totalizando 90 horas de estudos.
Foram registrados e descritos todos os atos comportamentais que as espécies empregaram
durante a visitação às iscas. Os principais parâmetros observados foram: tempo que os
indivíduos demoraram para localizar as iscas, número de formigas de cada espécie presentes na
isca em intervalos de 5 minutos (fluxo de indivíduos), número de espécimens capturados ao final

19
de cada período de observação, ação e reação das espécies envolvidas e tipos de dominância e
exclusão.
Foi tomada também uma medida do tronco das operárias que se encontravam nas iscas no
final das observações (90 minutos), já que tal medida não sofre efeitos do estado fisiológico do
indivíduo, numa tentativa de avaliar o efeito do tamanho dos indivíduos nas interações que
apresentaram dominância. Para as espécies com polimorfismo acentuado tomou-se medidas do
tronco das operárias mínimas e máximas (soldados). A medida utilizada é conhecida
tradicionalmente em trabalhos de taxonomia de formigas como “medida de Weber” (WL); em
vista lateral, do início da curva ascendente da face anterior do pronoto diagonalmente ao bordo
externo das placas posteriores do propódeo.
A seguir, as espécies foram enquadradas em categorias de tamanho definidas
arbitrariamente. Para investigar se existe correlação positiva entre maior tamanho e
agressividade e menor tamanho com a taxa de exclusão, utilizei os dados obtidos em Águas
Emendadas, considerando apenas 2 categorias de tamanho: formigas pequenas (p) de 0 a 2,5mm
e grandes (G) > que 2,5mm. Para avaliar a influência do tamanho no estabelecimento da
dominância estudei a fauna de Cajuru, adotando os seguintes critérios de medidas: mínima (m)
de 0 a 1mm, pequena (p) de 1 a 2mm, média (M) de 2 a 3mm e grande (G) > que 3mm.
Para as análises de Águas Emendadas foi utilizado o método de contingência (“oneway”),
expressando os dados que dizem respeito às duas variáveis; cada uma podendo assumir dois
diferentes valores (variáveis categóricas). Para se testar a relação entre elas foram comparadas as
proporções de resultados “favoráveis” de uma delas (variável independente) com os dois
possíveis resultados da outra (variável dependente). O teste comumente utilizado neste caso é o
Qui-quadrado, que compara os valores observados com os valores que seriam esperados caso
não houvesse relação entre as variáveis; entretanto, quando algum dos valores esperados da
tabela de contingência for menor ou igual a 5 é recomendado o teste exato de Fisher (ver Rosner,
1990), que gera resultados similares ao do Qui-quadrado para amostras relativamente grandes.
Um outro método para medir a relação entre as variáveis (também utilizando tabelas de
contingência) consiste na razão de “Odds” (“Odds ratio”), que também compara a probabilidade
de “sucessos” da variável independente caso a variável dependente assuma cada um dos dois
diferentes valores. A diferença entre o Qui-quadrado e o “Odds ratio” é que enquanto o primeiro
trabalha com a diferença entre as proporções, o segundo trabalha com a razão entre elas.
A hipótese nula neste caso é que a agressividade não estaria relacionada ao tamanho. Foi
considerado tamanho como variável independente e agressividade como variável dependente. A
variável tamanho pode assumir dois valores: pequenas e grandes. Foi considerado para este fim

20
que formigas grandes e agressivas representariam o “sucesso”. O mesmo foi feito para espécies
que foram excluídas: tamanho como variável independente e a exclusão como variável
dependente e a hipótese nula neste caso foi que a exclusão não estaria relacionada ao tamanho.

2.3- CATEGORIAS COMPORTAMENTAIS

Os atos comportamentais exibidos pelas espécies que visitaram as iscas e que interagiram
agressivamente foram divididos em duas categorias chamadas de Ação, o comportamento de
ataque e Reação, o de defesa.

AÇÃO

1. Avançar = Ir em direção ao indivíduo de outra espécie com as mandíbulas abertas, num


movimento abrupto, interpretado como uma forma de ameaça.
2. Morder = Agarrar com as mandíbulas partes do corpo do outro indivíduo por alguns instantes.
3. Roubar a isca = Retirar a isca do indivíduo que a carregava.
4. Exibir a região do ferrão ou ferroar = virar o gáster para baixo do ventre, muitas vezes
exibindo o ferrão.
5. Levantar o gáster = Agitar o gáster, aparentemente expelindo químicos repelentes.
6. Matar = Agressões que resultaram na morte do indivíduo agredido.

REAÇÃO

1. Permanecer na isca = O Indivíduo não sai da isca mesmo depois de agredido.


2. Fugir = O indivíduo agredido deixa a isca rapidamente.
3. Exibir a região do ferrão ou ferroar o agressor (ver acima).
4. Levantar o gáster (ver acima).
5. Lutar = Os dois indivíduos engajam-se em "disputa corpórea".
6. Matar = O indivíduo agredido, neste caso, mata o agressor.

Cada espécie de formiga registrada, foi também classificada em categorias que


expressavam o seu comportamento em relação ao tipo de dominância observada, sendo definidos
dois parâmetros para avaliação: o primeiro relativo ao tipo de interação, que indica
principalmente a dominância ou exclusão da fonte alimentar e o segundo relativo ao fluxo dos

21
indivíduos que cada espécie apresentou na visitação das iscas, indicando também se este fluxo
foi voltado para a parte de baixo da isca, o que torna a contagem inviável.

1. Quanto à interação:
1.0 - não dominou.
1.1- dominou por ser a única na isca.
1.2 - dominou por ser abundante (ver abaixo).
1.3 - dominou por ser agressiva (ver abaixo).
1.4 - dominou por ser abundante e agressiva (ver abaixo).
1.5 - excluída da isca.

2. Quanto ao fluxo:
2.0 - indivíduos isolados visitaram as iscas.
2.1 - fluxo fraco: de 3 a 10 ind./ 90 min.
2.2 - fluxo médio: de 11 a 30 ind./ 90 min.
2.3 - fluxo intenso: mais de 30 ind./ 90 min.
2.4 - freqüentou a porção ventral da isca.

As espécies consideradas “não dominantes” foram aquelas que, na maioria das interações
em que se envolveram, não interferiram na obtenção do alimento e nem no fluxo das outras
espécies que visitaram as mesmas iscas; não foram consideradas as agressões isoladas sem
influência no panorama geral das interações.
Foi considerada “dominante” a espécie que excluiu, impediu ou diminuiu o fluxo das
outras na isca.
Foi considerada “abundante” a espécie que apresentou um fluxo relativamente intenso na
isca, com tantos indivíduos que restringiu espacialmente a presença de outras espécies.
Foi considerada “agressiva” a espécie que avançou em direção às outras (ação
principalmente individual), mordeu, matou ou liberou algum repelente químico, excluindo outras
espécies da isca.
Foi considerada abundante e agressiva aquelas espécies com fluxo intenso que
apresentaram principalmente estratégias de defesa em grupo.
Foi considerada “excluída” a espécie que ocupava a isca durante a observação e ao final
desta teve seu fluxo reduzido a zero devido à presença de uma espécie dominante; foi aplicada a
mesma denominação àquelas espécies que foram impedidas de chegar à isca.

22
Esta classificação possibilitou a ordenação do comportamento em conjuntos de números
que indicam, o primeiro par, os tipos de respostas comportamentais que a espécie apresentou nas
interações; o segundo, a intensidade do fluxo dos indivíduos da espécie e o terceiro, a freqüência
das categorias em relação ao número total de registros. Por exemplo o conjunto [1.3],[2.2],[3/3]
significa que esta espécie dominou por ser agressiva, com um fluxo de indivíduos na isca
considerado médio e que isto aconteceu nas três oportunidades em que foi observada, enquanto o
conjunto [1.0],[2.0],[1/6] significa que esta espécie neste evento não dominou a isca, que apenas
visitantes isolados foram observados nesta isca e que este comportamento ocorreu apenas uma
vez nas seis iscas em que a espécie foi registrada dentro das 60 observações.

23
3- RESULTADOS

Nos 60 períodos de observações realizados nas duas localidades foram registradas


72 espécies de formigas atraídas às iscas, sendo 40 em Águas Emendadas e 43 em Cajuru;
onze espécies, portanto, comuns às duas localidades. Todos os indivíduos coletados estão
depositados na coleção do MZ-USP; trazem rótulos indicando que foram coletados nas
observações de dinâmica de visitação à iscas e de determinação indicando os códigos
usados neste texto para morfo-espécies dos gêneros onde a atribuição de nomes não é
possível.
Foram obtidos 252 registros de espécies em iscas no total (130 para Cajuru e 122
para Águas Emendadas). Considerei para os cálculos de freqüência apenas os registros de
espécies que puderam ser capturadas e identificadas.
A tabela 1 (pág. 27) lista as espécies com freqüência relativa maior que 2% nos 60
períodos somados, em pelo menos uma das localidades estudadas. Nove espécies
alcançaram esta freqüência em cada uma das localidades; das mais freqüentes ainda, quatro
espécies registradas em Águas Emendadas não foram registradas em Cajuru e vice e versa.
Na figura 1 (pág. 27) apresentamos o número de registros obtidos nas iscas a cada
intervalo de 5 minutos, para os sessenta períodos de observações. Nessa figura são
considerados todos os registros de espécies (298), incluindo aquelas que não puderam ser
capturadas e identificadas (27 registros para Águas Emendadas e 20 para Cajuru).
A tabela 2 (pág. 28) mostra quais espécies interagiram em cada observação, quais
dominaram as iscas e o tempo que demoraram para as localizar. Em média as espécies
demoraram 29,23 minutos ± 19,48 (desvio padrão) para localizar a isca, que recebeu a
visita em média de 4,8 espécies de formigas. Em 85% das observações (51 em 60) as iscas
foram localizadas nos primeiros 5 minutos.
Foram registrados, durante as 90 horas somadas de observações, 352 atos
comportamentais agressivos entre as espécies, resultando na morte de 22 indivíduos que
visitavam as iscas. A principal forma de agressão foi “morder" com 199 registros e a reação
mais freqüente foi "fugir da isca" com 190 registros. Somando a esses valores as reações
aos atos agressivos (330 registros), resultou em um total de 682 atos comportamentais,

24
além disso outros 7 indivíduos morreram devido à reação aos seus atos agressivos (tab. 3,
pág. 32).
Na tabela 4 (pág. 33) apresento os conjuntos de pares de números indicando as
“síndromes” comportamentais observadas para cada espécie conforme as categorias
estabelecidas no material e métodos. Na figura 2 (pág. 38) apresento um gráfico indicando
a porcentagem de espécies por categoria comportamental em relação à interação [1.0] a
[1.5], observadas nas duas localidades e na figura 3 o mesmo em relação ao fluxo [2.0] a
[2.4].
Na tabela 5 (pág. 35) estão os resultados do teste de contingência e da razão de
“Odds” quanto à agressividade para as observações realizadas em Águas Emendadas. Das
40 espécies observadas 30 delas agrediram outras espécies; lembrando que para tal análise,
as espécies foram divididas apenas entre grandes e pequenas e o número de agressões foi
somado (isto é quantas ve zes agrediu e quantas vezes foi agredida).
Os resultados do teste de contingência relativos ao tamanho versus exclusão em
Águas Emendadas são mostrados na tabela 6 (pág. 35). Neste caso também foram
separadas as espécies entre grandes e pequenas e somados o número de vezes que uma
espécie excluiu outra espécie da isca e o número de vezes que foi excluída.
Nos 60 períodos de observações realizados, em 41 deles ficou caracterizada a
dominância de uma espécie em relação às outras que visitavam a mesma isca durante os 90
minutos. Das 21 ocasiões em que uma espécie foi considerada dominante nas observações
realizadas na E.E.A.E, apenas uma isca foi dominada por uma única visitante [1.1] (quanto
à interação, ver material e métodos), seis iscas foram dominadas por espécies mais
abundantes que as demais [1.2], duas por espécies que apresentaram um comportamento
agressivo [1.3] e doze por espécies abundantes e que adotaram ainda comportamentos
agressivos [1.4]. Dentro das 20 ocasiões onde uma espécie foi considerada dominante nas
observações realizadas em Cajuru, sete iscas foram dominadas por espécies mais
abundantes que as demais [1.2], três por espécies que apresentaram comportamento
agressivo [1.3] e dez foram dominadas por espécies abundantes e que adotaram também
comportamentos agressivos [1.4].
Das 72 espécies observadas nas duas localidades de cerrado, 68 apresentaram
comportamento do tipo não-dominante [1.0] e/ou [1.5] apesar de que entre elas 12 também

25
receberam o “status” de dominante em pelo menos um dos eventos [1.1] a [1.4] e apenas 4
enquadram-se exclusivamente na categoria de “dominante”: Solenopsis saevissima,
Camponotus sp. 8, Solenopsis sp. 3 e Solenopsis sp. 5. Em apenas 28% dos casos (17/60) a
primeira espécie que encontrou a isca foi registrada co mo a mais abundante ao fim de 90
minutos.
Na tabela 7 (pág. 36) listo as espécies excluídas, quais as excluíram e, no caso de
Cajuru, também aquelas que reduziram em muito o fluxo de outras; nesta mesma tabela
apresento as categorias de tamanho do tronco em que classificamos arbitrariamente as
operárias envolvidas nas interações de dominância.
Foram selecionados no apêndice A (pág. 44) alguns gráficos que melhor ilustram a
sucessão de espécies nas iscas e as diversas situações em que ocorreu a dominância por
uma espécie; por questões de conveniência o fluxo dos indivíduos às iscas são apresentados
a cada intervalo de 15 minutos. No Apêndice B (pág. 47) apresento um sumário dos dados
de comportamento das espécies mais freqüentes nas duas localidades, responsáveis por
mais de 5% dos registros e das 4 espécies que adotaram exclusivamente comportamentos
dominantes, retirados dos protocolos de registros de observações.

26
Tabela 1- Espécies de formigas mais freqüentes (registradas no mínimo 5 vezes num total de 252
registros- 130 para Cajuru e 122 para Águas Emendadas, isto é, mais de 2%), nos 60 períodos de
observações de dinâmica de visitação às iscas oferecidas por 1h e 30min., no solo, em duas
localidades de cerrado.

Freqüência Relativa
Espécies
E.E.A.E- DF. Cajuru- SP. Média para as 2
localidades
Camponotus crassus 7,4 % 7,7 % 7,5 %
Camponotus rufipes 14,7 % 0 7,1 %
Pheidole sp. 1 5,7 % 7,7 % 6,7 %
Pheidole sp. 3 0 11,5 % 5,9 %
Camponotus sp. 1 0 10,8 % 5,5 %
Pachycondyla obscuricornis 9,8 % 0,8 % 5,1 %
Cephalotes pusillus 1,6 % 5,4 % 3,6 %
Brachymyrmex sp. 3 0 6.9 % 3,6 %
Pheidole gertrude 4,9 % 1,5 % 3,2 %
Camponotus sp. 6 4,9 % 0 2,4 %
Ectatomma edentatum 4,9 % 0 2,4 %
Linepithema sp. 2 4,9 % 0 2,4 %
Pheidole sp. 8 0 3,8 % 2,0 %

Figura1- Histograma representando o tempo que as 72 espécies observadas


nas 60 iscas de sardinha expostas por 90 minutos cada no solo em Águas
Emendadas e Cajuru demoraram para encontrar as iscas em 298 registros.
100

90

80

70

60

número de registros 50

40

30

20

10

0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
tempo em minutos

27
Tabela 2- Espécies que interagiram nas iscas, horário do início das observações e tempo (em
minutos) que cada espécie levou para encontrar cada uma das 60 iscas expostas por um período de
90 min. nas duas localidades de cerrado. Observações de 1 a 30 = Águas Emendadas; de 31 a 60 =
Cajuru. Média de 4,4 minutos para que a 1a espécie localizasse a isca e de 4,8 espécies visitando
cada isca ao longo de 90 min. O sinal (*) indica que a espécie dominava a isca ao final da
observação.

Águas Emendadas, DF.

Obs Início Espécie Tempo Obs Início Espécie Tempo


1 9:05 h Odontomachus chelifer * 40 2 10:40 h Pheidole sp. 1 * 3
Pheidole sp. 10 7
Pachycondyla obscuricornis 25
Camponotus ? 37
3 12:40 h Camponotus rufipes * 4 4 9:00 h Ectatomma edentatum 3
Linepithema sp. 2 7 Camponotus ? 15
Brachymyrmex sp. 1 7 Pachycondyla obscuricornis 15
Pachycondyla obscuricornis 21
Pheidole sp. 11 25
5 11:00 h Camponotus sp. 6 4 6 12:45 h Pachycondyla. obscuricornis 7
Brachymyrmex sp. 1 25 Camponotus rufipes 15
Camponotus rufipes 26 Camponotus ? 16
Pheidole sp. 1 38 Cephalotes atratus * 20
Ectatomma edentatum 55 Camponotus ? 35
Pachycondyla obscuricornis 58 sp. ? 46
7 8:30 h Ectatomma permagnum 10 8 10:05 h Pachycondyla obscuricornis 1
Pheidole sp. 10 20 Ectatomma edentatum 9
Ectatomma edentatum 30 Ectatomma permagnum 46
Trachymyrmex papulatus 33
Camponotus sp. 4 35
Camponotus ? 38
Pachycondyla obscuricornis 67
9 11:40 h Pachycondyla obscuricornis 1 10 16:30 h Camponotus crassus * 1
Camponotus crassus * 5 Trachymyrmex dichrous 5
Camponotus rufipes 27 Pheidole sp. 1 13
Pheidole ? 30 Camponotus sp. 4 22
Cephalotes ? 40 Linepithema sp. 2 23
Pheidole sp. 19 33
11 8:30 h Pheidole sp. 11 40 12 10:30 h Camponotus ? 1
Camponotus crassus 40 Camponotus rufipes * 2
Pachycondyla obscuricornis 43 Pachycondyla ? 2
Brachymyrmex sp 1 * 62 Camponotus sp. 5 38
Camponotus rufipes 87 Cephalotes pavonii 90
13 8:15 h Camponotus rufipes * 3 14 9:55 h Linepithema sp. 2 1
Linepithema sp. 2 37 Camponotus rufipes * 3
Camponotus sp. 6 5
Ectatomma ? 5
sp. ? 10

28
Obs Início Espécies tempo Obs Início Espécies tempo
15 12:10 h Solenopsis saevissima * 2 16 8:20 h Camponotus ? 1
Camponotus crassus 5 Ectatomma edentatum 5
Pheidole sp. 14 20 Camponotus crassus 7
Pachycondyla obscuricornis 25 Linepithema sp. 2 25
Camponotus rufipes 30
Pheidole sp. 12 43
Atta ? 65
Cephalotes pusillus 90
17 10:00 h Camponotus ? 0,5 18 8:35 h Pheidole gertrudae * 4
Camponotus sp. 6 1 Odontomachus chelifer 17
Pheidole sp. 12 3 sp. ? 23
Camponotus rufipes 5 Cephalotes atratus 49
Cephalotes pusillus 7 Camponotus sp. 6 60
Camponotus ? 18 Camponotus rufipes 75
Atta ? 40
Linepithema sp. 2 42
19 10:10 h Camponotus rufipes * 1 20 9:10 h Camponotus rufipes * 7
Pheidole sp. 15 14 Camponotus sp. 5 13
Cyphomyrmex transversus 18
Pheidole sp. 1 23
Brachymyrmex sp. 2 34
Camponotus ? 35
Pheidole sp. 16 71
21 11:00 h Crematogaster sp. 3 1 22 13:30 h Camponotus rufipes * 2
Pheidole sp. 2 5 Pheidole sp. 17 5
Cephalotes pavonii 27 sp. ? 46
Camponotus sp. 8 * 32 Camponotus ? 55
Solenopsis sp. 1 50 Cephalotes ? 68
Camponotus ? 52 Dinoponera australis 69
sp. ? 70
Pachycondyla ? 79
23 9:00 h Camponotus rufipes 1 24 11:00 h Camponotus crassus 1
Pheidole sp. 1 3 Camponotus rufipes 3
Pheidole gertrudae 7 Pheidole sp. 1 3
Pachycondyla obscuricornis 8 Pseudomyrmex termitarius 14
Camponotus ? 24 Dinoponera australis 28
Ectatomma edentatum 39 Camponotus sp. 6 75
Pheidole sp. 13 58
25 14:15 h Pheidole gertrudae * 2 26 8:40 h Pheidole gertrudae * 0,5
Camponotus rufipes 7 Camponotus sp. 4 18
Camponotus sp. 6 9 Solenopsis sp. 2 54
Camponotus crassus 64
27 10:15 h Crematogaster sp. 3 1 28 12:30 h Camponotus crassus 3
Camponotus sp. 4 2 Pheidole gertrudae * 9
Pheidole sp. 18 2 sp. ? 15
Camponotus sp. 7 11 Odontomachus chelifer 42
Pheidole gertrudae * 31
29 8:50 h Camponotus rufipes 17 30 10:35 h Paratrechina longicornis 3
Pheidole sp. 1 17 Camponotus crassus 25
Pachycondyla striata 24 Pheidole sp. 15 * 30
Pachycondyla obscuricornis 26
Dinoponera australis 33

29
Cajuru, SP

Obs Início Espécie Tempo Obs Início Espécie Tempo


31 11:00 h Pheidole sp. 3 * 1 32 13:00 h Pheidole sp. 2 3
Paratrechina longicornis 25 Camponotus sp. 1 * 57
Pseudomyrmex ? 45 Pheidole sp. 3 75
Odontomachus bauri 65
33 10:30 h Pheidole sp. 1 16 34 10:15 h Pheidole sp 3 * 2
Pheidole sp. 3 48 Odontomachus chelifer 6
Hylomyrma balzani 70 Pheidole sp. 7 11
Camponotus sp 1 35
Camponotus sp 2 40
Atta sexdens rubropilosa 40
Cephalotes pusillus 86
35 12:20 h Camponotus crassus 2 36 9:00 h Brachymyrmex sp. 3 2
Crematogaster sp. 2 5 Crematogaster ? 10
Brachymyrmex sp. 3 12 Pheidole sp. 3 12
Pheidole sp. 3 14 Odontomachus chelifer 20
Cephalotes pusillus 15 Pheidole gertrudae 30
Solenopsis sp. 10 43 Pheidole sp. 8 40
Pheidole sp. 8 53 Paratrechina longicornis 42
37 12:55 h Camponotus sericeiventris 3 38 14:35 h Camponotus crassus 1
Camponotus crassus 5 Ectatomma permagnum 2
Cephalotes pusillus 36 Pheidole sp. 1 6
Solenopsis sp. 6 39 Solenopsis sp. 6 * 50
Brachymyrmex sp. 3 49 Brachymyrmex sp. 3 63
Cephalotes ? 66
39 9:45 h Crematogaster sp. 1 1 40 11:45 h Pheidole sp. 2 9
Camponotus crassus 18 Camponotus crassus * 20
Pheidole sp. 3 27 Camponotus sp. 1 30
Crematogaster sp. 2 * 60 Pseudomyrmex ? 67
Pheidole sp 8 70
41 10:20 h Camponotus crassus 3 42 12:00 h Pheidole sp. 3 5
Pheidole sp. 1 3 Camponotus sp. 1 10
Pseudomyrmex tenuis 20 Solenopsis sp. 5 * 16
Pheidole sp. 2 * 54 Crematogaster ? 75
Cephalotes ? 66
Camponotus cingulatus 81
43 9:30 h Pheidole sp. 9 3 44 10:00 h Pheidole sp. 9 1
Pheidole sp. 1 18 Pheidole sp. 4 1
Camponotus crassus 24 Camponotus sp. 1 7
Pheidole sp. 3 60 Solenopsis saevissima * 20
Ectatomma brunneum 32

30
Obs Início Espécie Tempo Obs Início Espécie Tempo
45 10:00 h Crematogaster sp. 1 2 46 16:00 h Camponotus ? 3
Pheidole sp. 3 6 Solenopsis sp. 4 4
Pseudomyrmex ? 6 Pheidole ? 14
Ectatomma permagnum 10 Pachycondyla striata 20
Camponotus sp. 1 13 Brachymyrmex sp. 3 22
Pheidole ? 13 Pheidole sp. 3 * 36
Camponotus sericeiventris 55
47 14:50 h Camponotus sp. 1 2 48 16:40 h Pheidole sp. 3 2
Pheidole sp. 1 * 5 Camponotus sp. 1 * 5
Pachycondyla obscuricornis 5 Solenopsis sp. 9 33
Pachycondyla striata 75
49 10:30 h Pheidole sp. 1 * 4 50 12:15 h Pheidole sp. 6 9
Pheidole ? 10 Pachycondyla ? 12
Linepithema sp. 1 10 Camponotus sp. 1 25
Pachycondyla striata 15 Odontomachus ? 59
Camponotus sp. 3 22 Solenopsis sp. 7 69
Cephalotes pusillus 70
51 16:50 h Pheidole sp. 3 5 52 10:15 h Pheidole sp. 3 * 0,5
Pachycondyla ? 6 Camponotus sp. 1 1
Camponotus sericeiventris 10 Pheidole sp. 8 2
Cephalotes pusillus 35
53 12:00 h Pheidole sp. 4 3 54 8:30 h Brachymyrmex sp. 3 * 5
Camponotus sp. 1 5 Pachycondyla ? 65
Pseudomyrmex tenuis 5 Solenopsis sp. 6 90
Crematogaster ? 65
Pheidole sp. 1 80
Solenopsis sp. 8 90
55 10:15 h Camponotus sp. 1 3 56 8:45 h Camponotus crassus 2
Pheidole sp. 1 8 Pheidole sp. 1 * 10
Brachymyrmex sp. 3 8 Pheidole sp. 3 10
Pseudomyrmex tenuis 20 Cephalotes pusillus 37
Ectatomma permagnum 29
57 10:00 h Camponotus sp. 1 0,5 58 10:10 h Pheidole sp. 4 1
Pheidole sp. 5 * 0,5 Brachymyrmex sp. 3 17
Ectatomma ? 5 Pachycondyla villosa 17
Pseudomyrmex ? 30 Solenopsis sp. 3 * 20
Cephalotes pusillus 28
Camponotus crassus 37
Camponotus sericeiventris 50
59 12:00 h Pheidole sp. 5 5 60 17:30 h Pheidole sp. 1 2
Crematogaster sp. 2 * 9 Ectatomma permagnum 20
Brachymyrmex sp. 3 9 Camponotus crassus 24
Pheidole gertrudae 13 Crematogaster ? 40
Camponotus sp. 1 15 Pachycondyla ? 50
Pheidole sp. 8 90 Solenopsis saevissima * 60

31
Tabela 3- Número de registros dos atos comportamentais exibidos nas interações comportamentais
(ver texto) entre as 72 espécies de formigas que visitaram as 60 iscas de sardinha expostas por 90
minutos cada no solo em duas localidades de cerrado (total de 90 horas de observações).

Atos Comportamentais Número de Registros

AÇÃO Águas Emendadas, DF Cajuru, SP Total

Avançar 45 53 98
Roubar a isca. 01 02 3
Exibir ferrão 02 07 9
Levantar o gáster 02 19 21
Morder 123 76 199
Matar 06 16 22

Total 179 173 352

REAÇÃO Águas Emendadas, DF Cajuru, SP Total

Permanecer na isca 37 37 74
Fugir da isca 118 72 190
Exibir ferrão 02 01 03
Levantar o gáster 01 03 04
Lutar 10 42 52
Matar 05 02 07

Total 173 * 157* 330

* A diferença no total de registros (16 para Cajuru, SP e 6 para Águas Emendadas, DF.) é devida à
morte dos indivíduos agredidos.

32
Tabela 4- Conjuntos representando as “síndromes” comportamentais (ver texto) exibidas pelas 72
espécies de formigas observadas em iscas de sardinha expostas no solo de duas localidades de
cerrado em 60 períodos de 90 minutos cada. Obs: 1o par = tipo de interação, 2o par = fluxo dos
indivíduos, 3o par = número de vezes que as categorias apareceram em relação ao total de vezes que
a espécie foi observada.

PONERINAE

Dinoponera australis [1.0],[2.0],[3/3] Ectatomma edentatum [1.0],[2.0],[2/6]


[1.0],[2.1],[2/6]
[1.0],[2.3],[2/6]
Ectatomma permagnum [1.0],[2.1],[6/6] Ectatomma brunneum [1.0],[2.1],[1/1]
Odontomachus bauri [1.0],[2.1],[1/1] Odontomachus chelifer [1.0],[2.0],[2/5]
[1.0],[2.1],[2/5]
[1.1],[2.0],[1/5]
Odontomachus minutus [1.0],[2.4],[1/1] Pachycondyla villosa [1.5],[2.2],[1/1]
Pachycondyla [1.0],[2.1],[7/13] Pachycondyla striata [1.0],[2.0],[2/4]
obscuricornis [1.0],[2.2],[1/13] [1.0],[2.1],[1/4]
[1.0],[2.3],[3/13] [1.0],[2.2],[1/4]
[1.5],[2.1],[2/13]

PSEUDOMYRMECINAE

Pseudomyrmex tenuis [1.0],[2.1],[3/3] Pseudomyrmex termitarius [1.0],[2.0],[1/1]

DOLICHODERINAE

Linepithema sp. 1 [1.5],[2.1],[1/1] Linepithema sp. 2 [1.0],[2.4],[5/6]


[1.5],[2.4],[1/6]

MYRMICINAE

Atta sexdens rubropilosa [1.5],[2.2],[1/1] Cephalotes atratus [1.0],[2.2],[1/2]


[1.2],[2.3],[1/2]
Crematogaster sp. 1 [1.0],[2.1],[1/2] Crematogaster sp. 2 [1.0],[2.4],[1/3]
[1.5],[2.2],[1/2] [1.4],[2.3],[2/3]
Crematogaster sp. 3 [1.5],[2.2],[1/2] Cyphomyrmex transversus [1.0],[2.0],[1/1]
[1.5],[2.3],[1/2]
Hylomyrma balzani [1.0],[2.4],[1/1] Pheidole gertrudae [1.0],[2.1],[2/8]
[1.4],[2.3],[4/8]
[1.4],[2.4],[1/8]
[1.5],[2.1],[1/8]
Pheidole sp. 1 [1.0],[2.3],[2/17] Pheidole sp. 2 [1.4],[2.3],[1/4]
[1.0],[2.4],[7/17] [1.5],[2.2],[2/4]
[1.4],[2.3],[4/17] [1.5],[2.3],[1/4]
[1.5],[2.1],[1/17]
[1.5],[2.3],[3/17]

33
Pheidole sp. 3 [1.0],[2.0],[2/15] Pheidole sp. 4 [1.0],[2.0],[2/3]
[1.0],[2.1],[1/15] [1.5],[2.2],[1/3]
[1.0],[2.3],[1/15]
[1.2],[2.2],[3/15]
[1.4],[2.3],[1/15]
[1.5],[2.1],[6/15]
[1.5],[2.2],[1/15]
Pheidole sp. 5 [1.4],[2.3],[1/2] Pheidole sp. 6 [1.0],[2.1],[1/1]
[1.5],[2.2],[1/2]
Pheidole sp. 7 [1.0],[2.4],[1/1] Pheidole sp. 8 [1.0],[2.4],[5/5]
Pheidole sp. 9 [1.5],[2.2],[2/2] Pheidole sp. 10 [1.0],[2.4].[2/2]
Pheidole sp. 11 [1.5],[2.3],[1/2] Pheidole sp. 12 [1.0],[2.4],[2/2]
[1.5],[2.4],[1/2]
Pheidole sp. 13 [1.0],[2.4],[1/1] Pheidole sp. 14 [1.5],[2.1],[1/1]
Pheidole sp. 15 [1.2],[2.4],[1/2] Pheidole sp. 16 [1.0],[2.4],[1/1]
[1.5],[2.4],[1/2]
Pheidole sp. 17 [1.0],[2.4],[1/1] Pheidole sp. 18 [1.0],[2.4],[1/1]
Pheidole sp. 19 [1.0],[2.4],[1/1] Solenopsis saevissima [1.4],[2.3],[2/3]
Solenopsis sp. 1 [1.5],[2.4],[1/1] Solenopsis sp. 2 [1.0],[2.4],[1/1]
Solenopsis sp. 3 [1.2],[2.3],[1/1] Solenopsis sp. 4 [1.5],[2.1],[1/1]
Solenopsis sp. 5 [1.2],[2.3],[1/1] Solenopsis sp. 6 [1.0],[2.1],[1/3]
[1.0],[2.2],[1/3]
[1.2],[2.3],[1/3]
Solenopsis sp. 7 [1.0],[2.4],[1/1] Solenopsis sp. 8 [1.0],[2.4],[1/1]
Solenopsis sp. 9 [1.0],[2.4],[1/1] Solenopsis sp. 10 [1.0],[2.0],[1/1]
Trachymyrmex dichrous [1.0],[2.1],[1/1] Trachymyrmex papulatus [1.0],[2.0],[1/1]
Cephalotes pavonii [1.0],[2.0],[2/2] Cephalotes pusillus [1.0],[2.0],[3/9]
[1.0],[2.1],[2/9]
[1.0],[2.2],[1/9]
[1.5],[2.0],[3/9]

FORMICINAE

Brachymyrmex sp. 1 [1.0],[2.4],[2/3] Brachymyrmex sp. 2 [1.0],[2.0],[1/1]


[1.4],[2.3],[1/3]
Brachymyrmex sp. 3 [1,0],[2.1],[1/9] Camponotus cingulatus [1.0],[2.1],[1/1]
[1.0],[2.4],[3/9]
[1.2],[2.3],[1/9]
[1.5],[2.1],[4/9]
Camponotus crassus [1.0],[2.0],[3/19] Camponotus rufipes [1.0],[2.0],[4/18]
[1.0],[2.1],[3/19] [1.0],[2.1],[4/18]
[1.0],[2.2],[2/19] [1.0],[2.2],[2/18]
[1.0],[2.4],[2/19] [1.2],[2.3],[4/18]
[1.3],[2.2],[1/19] [1.4],[2.3],[3/18]
[1.4],[2.3],[2/19] [1.5],[2.1],[1/18]
[1.5],[2.1],[6/19]

34
Camponotus sericeiventris [1.0],[2.0],[1/4] Camponotus sp. 1 [1.0],[2.1],[5/14]
[1.0],[2.1],[1/4] [1.0],[2.2],[1/14]
[1.0],[2.2],[1/4] [1.0],[2.4],[1/14]
[1.5],[2.0],[1/4] [1.3],[2.2],[1/14]
[1.4],[2.3],[1/14]
[1.5],[2.1],[4/14]
[1.5],[2.3],[1/14]
Camponotus sp. 2 [1.0],[2.1],[1/1] Camponotus sp. 3 [1.0],[2.2],[1/1]
Camponotus sp. 4 [1.0],[2.0],[1/4] Camponotus sp. 5 [1.0],[2.1],[1/2]
[1.0],[2.1],[2/4] [1.5],[2.0],[1/2]
[1.0],[2.2],[1/4]
Camponotus sp. 6 [1.0],[2.0],[3/6] Camponotus sp. 7 [1.0],[2.0],[1/1]
[1.0],[2.1],[2/6]
[1.0],[2.3],[1/6]
Camponotus sp. 8 [1.3],[2.2],[1/1] Paratrechina longicornis [1.0],[2.4],[4/5]
[1.5],[2.2],[1/5]

Tabela 5- Tabela de contingência (“oneway”) do número de registros obtidos nas interações


envolvendo agressividade entre as espécies de formigas que interagiram nas 30 observações
realizadas em iscas de sardinha expostas por 90 min. no solo da E.E.A.E. (obs: 29 espécies num
total de 40).

Grande Pequena Total Proporção de Razão de Intervalo Qui2 (1)


Grande “Odds” Confiança
99%
Agrediu 78 96 174 0,4483 3,4859 1,834 25,97
6,6197 Pr>Qui2=0
Foi agredida 31 133 164 0,189

Total 109 229 338 0,3225

Tabela 6- Resultados da tabela de contingência (“oneway”) do número de espécies por tamanho nas
interações envolvendo exclusão entre as espécies observadas em 30 iscas de sardinha distribuídas
no solo da E.E.A.E. por 90 minutos.

Grande Pequena Total Proporção de Razão de Intervalo Qui2 (1)


Grande “Odds” Confiança
99%
Excluiu 5 11 16 0.3125 1,5151 0,1962 p1=0,4742
11,062 p2=0,6968
Foi excluída 3 10 13 0.2308

Total 8 21 29 0.2759
p1= uni-caudal; p2= bi-caudal

35
Tabela 7- Espécies de formigas excluídas ou espécies que tiveram seu fluxo de indivíduos
drasticamente reduzido nas iscas; espécies que as excluíram e tamanho relativo do tronco de
operárias mínimas e máximas nas interações competitivas ocorridas nas 60 iscas oferecidas por 90
minutos cada em duas localidades de cerrado. Categorias de tamanho (WL) para Águas Emendadas:
pequenas (p)= 0- 2,5 mm, grande (G) mais de 2,5 mm.

Interações em Águas Emendadas, DF.

Excluída Tamanho Excluiu Tamanho

Camponootus crassus p Solenopsis saevissima p


Camponotus rufipes G Pheidole gertrudae p
Camponotus sp. 5 G Camponotus rufipes G
Crematogaster sp. 3 p Pheidole gertrudae p
Pheidole sp. 19 p
Linepithema sp. 2 p Camponotus rufipes G
Pachycondyla obscuricornis G Camponotus rufipes G
Solenopsis saevissima p
Paratrechina longicornis p Pheidole sp. 15 p
Pheidole sp. 11 p Brachymyrmex sp. 1 p
Camponotus rufipes G
Pheidole sp. 14 p Solenopsis saevissima p
Pheidole sp. 19 p Camponotus sp. 8 p
Pheidole sp. 15 p Camponotus rufipes G
Pheidole sp. 18 p Pheidole gertrudae p
Solenopsis sp. 1 p Camponotus sp. 8 p

36
Tabela 8- Espécies de formigas excluídas ou espécies que tiveram seu fluxo de indivíduos
drasticamente reduzido nas iscas; espécies que as excluíram e tamanho relativo do tronco de
operárias mínimas e máximas nas interações competitivas ocorridas nas 60 iscas oferecidas por 90
minutos cada em duas localidades de cerrado. Categorias de tamanho (WL) para Cajuru: mínimas
(m) = 0-1 mm; pequenas (p) = 1-2 mm; médias (M) = 2-3 mm e grandes (G) > 3 mm.

Interações em Cajuru, SP.


Excluída Tamanho Excluiu/Reduziu Tamanho
Atta sexdens rubropilosa pMG Pheidole sp. 3 p
Brachymyrmex sp.3 m Solenopsis saevissima mp
Solenopsis sp. 3 m
Pheidole sp. 3 p
Camponotus crassus pM Crematogaster sp. 2 m
Pheidole sp. 1 m
Solenopsis saevissima mp
Solenopsis sp 3 m
Solenopsis sp. 6 m
Camponotus sericeiventris G Solenopsis sp. 3 m
Camponotus sp. 1 p Solenopsis saevissima mp
Pheidole sp. 1 m
Pheidole sp. 3 p
Pheidole sp. 5 m
Crematogaster sp. 1 m Pheidole sp. 3 p
Linepithema sp. 1 m Pheidole sp. 1 m
Pachycondyla villosa G Solenopsis sp. 3 m
Pheidole gertrudae mp Solenopsis saevissima mp
Pheidole sp. 1 m Camponotus crassus pM
Solenopsis saevissima mp
Solenopsis sp 6 m
Pheidole sp. 2 mp Camponotus crassus pM
Camponotus sp. 1 p
Pheidole sp. 3 p Pheidole sp. 1 m
Camponotus crassus pM
Camponotus sericeiventris G
Camponotus sp. 1 p
Crematogaster sp. 2 m
Odontomachus chelifer G
Solenopsis sp. 5 mp
Pheidole sp. 4 m Solenopsis sp. 3 m
Pheidole sp. 5 m Solenopsis saevissima mp
Pheidole sp. 9 m Pheidole sp. 1 m
Solenopsis saevissima mp
Solenopsis sp. 4 m Pheidole sp. 3 p
Cephalotes pusillus pM Camponotus crassus pM
Pheidole sp. 1 m
Pheidole sp. 3 p
Solenopsis sp. 3 m

37
Figura 2- Porcentagem de espécies registradas em cada uma das 6
categorias comportamentais em relação à interação [1.0] a [1.5] ( ver
material e métodos), apresentadas pelas 72 espécies observadas na EEAE
e em Cajuru.

[1.0]
[1.5] 52%
26%

[1.4] [1.1]
10% [1.3] [1.2]
3% 1%
8%

Legenda- [1.0]= não dominou; [1.1]= dominou por ser única; [1.2]= dominou por ser abundante; [1.3]=
dominou por ser agressiva; [1.4]= dominou por ser abundante e agressiva e [1.5] excluída da isca.

Figura 3- Porcentagem de espécies registradas em cada uma das 5


categorias comportamentais em relação ao fluxo [2.0] a [2.4] (ver material
e métodos), apresentadas pelas 72 espécies observadas na EEAE e em
Cajuru.

[2.4]
23%
[2.3]
18% [2.0]
17%

[2.2]
[2.1]
18%
24%

Legenda- [2.0]= indivíduos isolados; [2.1]= fluxo fraco; [2.2]= fluxo médio; [2.3]= fluxo intenso e [2.4]=
freqüentou a porção ventral da isca.

38
4- DISCUSSÃO

O número de espécies observado nas duas localidades não representa a fauna total
que pode ser capturada em iscas; o principal objetivo desta parte inicial da tese foi obter
uma amostragem representativa dos atos comportamentais envolvidos nas interações. A
similaridade faunística entre as duas localidades também não foi avaliada através destes
resultados, uma vez que a metodologia empregada não visava tal objetivo.
Embora as observações tenham sido registradas por pessoas diferentes, os critérios
de categorização do comportamento foram os mesmos e os registros obtidos puderam ser
perfeitamente somados para a análise pretendida.
Foi observado nas duas localidades de Cerrado a sobreposição das áreas de
forrageamento de diversas espécies de formigas visitando iscas, assim como em outros
estudos realizados em outros ambientes (Petal, 1978; Andersen, 1986 e Hölldobler, 1987)
que demonstram ser comum, no caso de formigas, a sobreposição do nicho.
Foram registradas “lutas” e exibições de comportamentos agressivos entre os
indivíduos das espécies observadas em uma isca, resultando em alguns casos (ver apêndice
A, pág. 44) na monopolização e na defesa do recurso pelas operárias de uma das espécie
interagentes, impedindo o acesso das outras. A estrutura da comunidade que patrulha o
solo pode estar sendo determinada pela competição por "simples exploração de recursos”
(Krebs & Davies, 1996).
O tempo de exposição das iscas, adotado arbitrariamente no início desse estudo,
mostrou-se suficiente, já que 94% dos registros de espécies foram obtidos até os primeiros
75 minutos de observação e apenas 6% nos últimos 15 minutos. Aparentemente a isca
resseca após os 90 minutos e parece deixar de ser tão atrativa; em várias oportunidades foi
observado ainda o esgotamento da sardinha carregada aos pedaços ao ninho.
No caso de levantamentos faunísticos que visam o registro de um maior número de
espécies, podemos sugerir o tempo de 60 minutos de exposição como sendo o mais
adequado para amostrar um maior número de espécies.
Berstein (1975), estudando espécies de formigas do deserto da Califórnia, sugere
que a maneira pelas quais as forrageadoras de uma colônia forrageiam varia com a
densidade do alimento, podendo uma colônia diminuir seu raio de ação quando este é
abundante. A distância percorrida durante o forrageamento é, neste caso, inversamente
proporcional à disponibilidade do alimento.

39
As espécies estudadas no deserto da Califórnia dependem exclusivamente de
sementes e "reduzem" a competição interespecífica estabelecendo um espaçamento regular
entre as colônias. No caso de áreas mais complexas e de biomassa maior como o Cerrado,
a estrutura da vegetação pode suportar um número maior de espécies e permitir uma maior
sobreposição de nichos. Nesta situação a estratégia de forrageamento ótima pode não ser a
mesma observada no deserto.
Andersen (1986) propôs uma categorização dos táxon de formigas de uma
comunidade na região árida do sudeste da Austrália, segundo sua interação com a espécie
dominante na região (Linepithema humile). No presente trabalho foi proposto uma
categorização das espécies segundo seu comportamento frente às outras que visitam a
mesma fonte alimentar. Das 30 “sindromes” comportamentais possíveis combinando
interação e fluxo registramos espécies em 18 delas.
Esses resultados indicam que o domínio de uma fonte alimentar não é prerrogativa
de determinadas espécies comportamentalmente agressivas, mas de espécies que
empregam também outras estratégias importantes nesse contexto, como por exemplo o
recrutamento em massa.
Apesar de não ter sido possível quantificar a distância da fonte ao ninho nas
observações, esta variável parece ter grande influência na dominância da isca por uma
determinada espécie, mesmo não estando a ordem de chegada das espécies nas iscas
associada ao seu domínio; isto é, nem sempre a primeira espécie que localiza a isca
resultará na dominante.
A "dominância" de uma fonte alimentar por uma espécie de formiga parece estar
associada à ao tamanho da colônia, à estratégia de forrageamento adotada por cada espécie
em diferentes situações, ao local, época e período de atividade preferenciais e
principalmente à atratividade do alimento e status nutricional em que as colônias das
espécies interagentes se encontram no momento.
Espécies que adotam comportamento de recrutar companheiras do ninho têm
teoricamente maiores possibilidades de dominar a fonte de alimento (Traniello, 1989). Na
maioria das iscas observadas nesse estudo onde se observei dominância, o domínio de uma
espécie sobre as outras que compartilhavam a mesma isca foi devido à estratégia de
recrutamento em massa (ver gráficos do apêndice A, que ilustram esta situação).
Uma das espécies que excluiu outras foi Solenopsis saevissima, registrada apenas 3
vezes nas observações, mas sempre dominando completamente a isca, excluindo ou

40
reduzindo a população de todas as espécies com as quais interagiu. Na observação 44 (ver
Apêndice B, pág. 47), ficou bem caracterizado o aumento do número de indivíduos de
Solenopsis saevissima com o passar do tempo, recrutados por formação de trilha.
Nos casos em que o domínio da isca resultou da agressividade dos indivíduos, o
resultado da interação variou conforme as espécies com as quais interagiu e como se deu a
partição do recurso. Por exemplo, algumas espécies agressivas não impediram o fluxo das
que freqüentavam a porção ventral do papel que suportava a isca. Esses resultados sugerem
que não existe uma condição hierárquica de dominância preestabelecida neste tipo de
hábitat e sim que certas situações favorecem ora uma espécie ora outra.
Num par de espécies que competem por uma fonte alimentar, no caso iscas de
sardinha, uma delas pode dominar a isca comportamentalmente excluindo ou impedindo o
acesso da outra à fonte; em outra ocasião a situação inversa pode ocorrer, isto é, a que
havia dominado age desta vez como subordinada. Este foi o caso de Pheidole sp. 1, que foi
excluída por Camponotus crassus em uma ocasião, mas a excluiu em outra (tab. 7, pág.
36). Existem casos como o de Pheidole sp 3 que excluiu outras espécies quase tantas vezes
quanto foi excluída (ver Apêndice B, pág. 48).
Muitas espécies oportunistas, evitam interações agressivas e geralmente coletam o
alimento com rapidez até serem deslocada por outra espécie mais agressiva ou abundante.
As Ponerinae (ver tab. 3, pág. 32), apesar de serem geralmente predadoras
agressivas, quase nunca dominaram a isca, possivelmente devido à estratégia individual de
forrageamento que empregam; entretanto quase sempre atingiram a fonte alimentar e
coletaram alimento, mesmo na presença de outras espécies. Pachycondyla obscuricornis
(ver apêndice B, pág. 50) nitidamente emprega uma estratégia de obtenção de recursos
diferente daquela empregada pela maioria das espécies pequenas que visitam iscas; embora
sejam relativamente grandes e agressivas não conseguem monopolizar a fonte alimentar
sempre que confrontadas com espécies que utilizam estratégias de ataque em grupo, como
por exemplo Solenopsis saevíssima cujas operárias liberam repelentes químicos. Quase
sempre que P. obscuricornis visita uma isca consegue retirar pedaços relativamente
grandes da sardinha e carregá- los ao ninho; é necessário um número bem maior de
indivíduos de uma espécie pequena, trabalhando por muito mais tempo, para coletar a
mesma quantidade de alimento, do que os indivíduos isolados, relativamente maiores,
carregam.

41
A preferência de uma espécie por um determinado tipo de alimento é determinada
pelas razões de crescimento, desenvolvimento e reprodução coloniais, que são, por sua vez,
dependentes da quantidade e qualidade do alimento ingerido. Tudo isso leva a um
sincronismo da fenologia da espécie com a do recurso alimentar, moldado principalmente
por semioquímicos associados ao acasalamento, ovoposição, defesa e outras relações intra
e interespecíficas com influência no comportamento da espécie (Hagen et al., 1984).
As iscas de sardinha utilizadas para esse estudo são recursos de curta duração e de
caráter imprevisível, o que não impediu que todas tenham sido visitadas, no período
determinado para este estudo, por um número relativamente grande de indivíduos e
espécies. O fato de representarem recurso de curta duração pode ter gerado ainda uma
superestimativa das espécies consid eradas subordinadas, visto que posso estar incluindo
nesta categoria aquelas espécies que dão preferência a recursos mais persistentes, mas que
também atuam como oportunistas.
Os resultados apresentados na tabela 5 (pág. 35) indicam com 99% de confiança
que a hipótese de independência entre tamanho e agressividade deve ser rejeitada (Qui-
quadrado= 25,97) e mais do que isto, o resultado da razão de “Odds” (maior que 1) aponta
para uma relação positiva entre tamanho e agressividade, ou seja, espécies maiores tendem
a sofrer menos agressões. Já para os resultados analisados sobre a exclusão da isca, a
hipótese nula (independência entre exclusão ou não da isca e tamanho) não foi rejeitada
(ver tabela 6, pág. 35) (teste exato de Fisher= 0,47- uni-caudal e 0,69- bi-caudal). Além
disso, o intervalo de confiança (99%) para a razão de “Odds” inclui o valor 1, o que reforça
a conclusão de que o tamanho não tem relação com a exclusão; isto significa que espécies
de tamanho relativamente grande não excluem obrigatoriamente outras espécies da fonte
alimentar.
Nas observações de Cajuru (tab. 8, pág. 37) notamos que as espécies menores
dominaram a maioria das iscas onde ocorreu dominância. As categorias mínima e/ou
pequena (m, mp, p) aparecem 33 vezes entre as espécies que excluíram ou reduziram
significativamente o fluxo das outras, num total de 39. As espécies que se enquadram nas
categorias pequena/média (pM) aparecem apenas 4 vezes como dominantes e as espécies
que se enquadram na categoria grande (G) aparecem apenas 3 vezes como excludentes de
outras espécies.

42
A questão principal que me propus a investigar foi se os comportamentos de
dominância de espécies de formigas em relação às outras em iscas atrativas influenciariam
na composição das amostras e, por conseguinte, afetariam resultados de levantamentos
faunísticos que empregam iscas. Apesar de ter observado que algumas espécies realmente
dominaram iscas e excluíram consistentemente outras, isso não deve influenciar
consideravelmente os levantamentos se um número suficientemente grande de amostras for
utilizado e se for observada a aleatoriedade na distribuição das iscas. Se uma área
relativamente grande for amostrada, a freqüência de registros, que é um indicador da
probabilidade de encontrarmos uma colônia, independe da agressividade e densidade de
forrageadores, mas da distribuição e freqüência relativa da espécie dentro do hábitat.

43
Apêndice A. Alguns histogramas selecionados (ver texto) para ilustrar a sucessão das espécies em
iscas onde houve dominância. A intervalos de 15 minutos foi registrado o número de indivíduos de
cada espécie presente na isca.

Observação 32

Camponotus sp 1 Pheidole sp 2 Pheidole sp 3

20

18

16
número de indivíduos

14
12

10

4
2

0
15 30 45 60 75 90
tempo em minutos

Observação 39
Crematogaster sp 2 Crematogaster sp 1 Pheidole sp 3 Pheidole sp 8 C. crassus

50

45

40
número de indivíduos

35
30

25

20

15
10

0
15 30 45 60 75 90
tempo em minutos

44
Observação 40
C. crassus Camponotus sp 1 Pheidole sp 2 Pseudomyrmex ?

20

18
16
número de indivíduos

14

12
10

4
2

0
15 30 45 60 75 90
tempo em minutos

Observação 44

S. saevissima Camponotus sp 2 Pheidole sp 9 Pheidole sp 4 E. quadridens

40

35

30
número de indivíduos

25

20

15

10

0
15 30 45 60 75 90
tempo em minutos

45
Observação 46
Pheidole sp 3 Pheidole ? Camponotus ? Solenopsis sp 4 Brachymyrmex sp 3 P. striata

30

25
número de indivíduos

20

15

10

0
15 30 45 60 75 90
tempo em minutos

Observação 49

Pheidole sp 1 Pheidole ? Linepithema sp 1 P. villosa Camponotus sp 3 Z. pusillus

35

30

25
número de indivíduos

20

15

10

0
15 30 45 60 75 90
tempo em minutos

46
Observação 58
Solenopsis sp 3 Pheidole sp 4 Brachymyrmex sp 3 C. crassus
C. sericeiventris P. villosa Z. pusillus

20
18
16
número de indivíduos

14
12
10
8
6
4
2
0
15 30 45 60 75 90
tempo em minutos

Observação 60

S. saevissima Pheidole sp 1 C. crassus Crematogaster ? E. permagnum Pachycondyla ?

100

90

80
número de indivíduos

70

60

50

40

30

20

10

0
15 30 45 60 75 90
tempo em minutos

47
Apêndice B- Sumário dos registros de comportamentos apresentados pelas espécies que
receberam exclusivamente o “status” de dominante e daquelas com freqüência relativa acima
de 5 % nos 60 períodos de observações realizados em iscas dispostas por 90 minutos, no solo
de duas localidades do Cerrado.

Solenopsis saevissima
Dominou completamente a isca na observação 15, recrutando cerca de 200 indivíduos
entre operárias e soldados, sendo bastante agressiva em relação às outras espécies que
tentavam se aproximar. Na observação 44 a isca foi colocada muito próxima ao seu ninho,
mas as Solenopsis só a localizaram após 20 minutos de exposição; rapidamente tomaram
conta da isca, levantando o gáster e aparentemente expelindo uma substância repelente;
aproximadamente 300 indivíduos visitaram a isca, mas sem transportar pedaços da sardinha
para o ninho e sim cobrindo a isca com pedacinhos de folhas, grão de terra e gravetos. A isca
já estava quase toda encoberta quando foi coletada após 1h e 30min. de observação. Na
observação 60 (pág. 31) foi bastante agressiva e dominou totalmente a isca ocupando
principalmente a parte de baixo do papel; muitas interações agressivas com Pheidole sp 1 e
Camponotus crassus foram registradas e o comportamento de inclinar o gáster para cima teve
mais uma vez o poder de repelir as outras espécies.

Camponotus sp 8

Essa espécie foi registrada apenas uma vez (obs. 21) e dominou a isca por sua
agressividade ([1.3] quanto à interação) chegando a matar vários indivíduos de outras espécies
com as quais interagiu; apresentou um fluxo médio na isca [2.2] sendo bastante rápidas, ágeis
e agressivas.

Solenopsis sp 3

Dominou a observação 58 (pág. 31) por ser abundante e apresentar um fluxo intenso
de indivíduos na trilha. Espécies como Pachycondyla villosa, Camponotus sericeiventris e
outras espécies presentes tentaram “roubar” pedaços de sardinha da isca mas foram
impedidas, pois as Solenopsis levantavam o gáster em sua direção e as repeliam (ver gráfico
58, apêndice A).

Solenopsis sp 5

Foi muito abundante na observação 42 e dominou completamente a isca; as


Camponotus sp 1, que visitavam a mesma isca, passaram à parte de baixo do papel. Excluiu
Pheidole sp 3, também voltando o gáster para cima.

Camponotus crassus

Foi registrada 19 vezes nas duas localidades. O comportamento desta espécie variou
muito em função de com quais outras interagiu. Apresentou um fluxo fraco de indivíduos
[2.1] em 9 observações, mas foi bastante abundante e agressiva nas observações em que
dominou (9, 10 e 40- ver tabela 2). Foi muito abundante e agressiva na observação 35
excluindo Pheidole sp 3 e Cephalotes pussilus (ver tabela 2, pág. 28), mas não dominou
completamente a isca pois Crematogaster sp 2 permaneceu em abundância principalmente na
parte de baixo do papel. Em algumas observações as Camponotus crassus não retiraram
pedaços de sardinha para o ninho, apenas ficaram sobre a sardinha lambendo o seu óleo. Na
observação 40 interrompeu o fluxo de Pheidole sp 2 e agrediu Camponotus sp 1; foi
considerada a espécie dominante mesmo com um fluxo muito variado, chegando até mesmo a
freqüentar a porção ventral da isca por um longo período de tempo. Na observação 41 agrediu
e matou várias Pheidole sp 1, mas perdeu a posse da isca para Pheidole sp 2 que foi mais
abundante no final dos 90 minutos. Já na observação 56 as Pheidole sp 1 foram muito
abundantes e excluíram as Camponotus crassus.

Camponotus rufipes

Por ser uma espécie muito freqüente na E.E.A.E foi observada várias vezes totalizando
18 registros em 30 observações. Mostrou uma grande variação do comportamento nas iscas
(ver tabela 3, pág.32). Dominou em 7 iscas (obs: 3, 12, 13, 14, 19, 20 e 22), não dominou em
10 (obs: 5, 6, 9, 11, 16, 18, 23, 24 e 29) e foi excluída na observação 25 por Pheidole
gertrudae (ver tabela 7, pág. 36). No caso de sua interação com essa espécie ficou bem claro
que a dominância estava ligada ao número de indivíduos que conseguiam chegar à isca,
provavelmente como conseqüência do ninho estar próximo da isca. Na observação 19 por
exemplo o ninho estava a menos de 1 metro de distância da isca e as Camponotus rufipes
dominaram- na completamente; com 75% da observação realizada cerca de 80% da sardinha já
havia sido carregada para o ninho e no final (90 min), já sem sardinha, elas carregavam
pedaços de papel embebidos em óleo. Pheidole sp 15 foi excluída nesta isca.

Pheidole sp 1

Registrada 17 vezes nas duas localidades (freqüência relativa de 6,7% no total de


registros). Dominou as observações 2, 47, 49 e 56; marcou trilha e recrutou outras operárias;
freqüentou também a isca pela porção ventral. Compartilhou a isca com Hylomyrma balzani
na observação 33 sem ser registrada nenhuma agressão entre as duas espécies. Teve seu fluxo
interrompido por Solenopsis sp 6 na observação 38 e por Camponotus crassus na 31. Excluíu
Pheidole sp 9 na observação 43 e mesmo com mais de cem indivíduos presentes na isca foi
excluída por Camponotus crassus. Interagiu agressivamente na observação 47 com
Camponotus sp 1, quando foram mortas algumas operárias de Pheidole sp 1, mesmo assim
dominou a isca pois seu ninho se localizava bem próximo dela. Dominou completamente a
isca na observação 60 até os sessenta minutos, quando as Solenopsis saevissima as
localizaram e expulsaram.

Pheidole sp 3

Registrada apenas em Cajuru, SP, em 15 iscas, com uma dinâmica de visitação


bastante diversificada. Não dominou em 4 oportunidades; dominou a isca em outras 4 e foi
excluída em 7 delas (ver tabela 3, pág.32). Nas observações 32 e 33 apenas um indivíduo foi
coletado na isca. Na observação 44 chegavam e saíam da isca em duas longas trilhas bastante
movimentas e com direções opostas, vindas possivelmente de ninhos diferentes (nenhuma
agressão entre elas foi registrada). Na observação 39 excluiu Crematogaster sp 1 mas teve seu
fluxo bastante reduzido por Crematogaster sp 2 que recrutou em grande número (ver tabela
3). Na observação 46 apesar de várias outras espécies localizarem a isca antes dela, dominou
completamente, mesmo apesar de seu ninho estar a mais de 4 metros de distância. Na
observação 51 alcançou um fluxo intenso na isca em poucos minutos, pois o seu ninho estava
a menos de 1 metro dela. Mesmo as mais de 50 operárias e alguns soldados sobre a sardinha

49
não foram suficientes para evitar que as Camponotus sericeiventris, mais agressivas,
colonizassem a isca; a visita das Pheidole sp 3 ficou consequentemente restrita à parte de
baixo do papel higiênico. Na observação 52 alcançou também um fluxo grande em poucos
minutos e durante todo o período observado disputou a posse da isca com Camponotus sp 1;
depois de muitas agressões manteve o domínio da isca. Na última observação em que foi
registrada, teve seu fluxo reduzido por Pheidole sp 1, que foi mais abundante.

Camponotus sp 1

Obteve 14 registros apenas em Cajuru, SP. Foi caracterizado claramente o


recrutamento na observação 32 onde um indivíduo subiu e desceu da isca sem levar pedaço
algum; em seguida vá rias operárias caminharam pelo trajeto em direção a isca em “tandem
running”. Várias agressões foram registras entre Camponotus sp 1 e Camponotus crassus,
com as duas espécies apresentando comportamentos bastante semelhantes de ataque e defesa,
principalmente através de investidas individuais. Na observação 42 visitava a parte superior
da isca, competindo com Pheidole sp 3, até que o fluxo das Solenopsis sp 5 aumentou
consideravelmente, forçando as Camponotus a freqüentarem a porção inferior da isca; quando
este contato ocorreu, uma Camponotus sp 1 mordeu e matou uma Solenopsis sp 5,
apresentando um comportamento de segurar o indivíduo entre as mandíbulas e curvar o seu
gáster para baixo paralelamente ao eixo de seu corpo (aparentemente expelindo ácido
fórmico). O fluxo das operárias dessa espécie variou muito na observação 45 devido ao
contato com várias espécies presentes na isca; a sua agressividade aumentava quanto mais
indivíduos da sua espécie estivessem presentes. Foi muito agressiva na observação 47
chegando a matar algumas Pheidole sp 1, que se defendiam as vezes com 2 ou 3 operárias
atacando uma única Camponotus; em duas oportunidades operárias de Pheidole foram mortas
e permaneceram grudadas nas pernas das Camponotus, que as arrastavam para fora da isca;
depois de várias tentativas frustadas as Camponotus foram deixando de visitar a isca
gradativamente. Dominou a isca na observação 48 com um fluxo intenso, estando o seu ninho
próximo à fonte alimentar; excluiu Pheidole sp 3 e aparentemente os indivíd uos ficavam mais
tempo na isca alimentando-se quando nenhuma outra espécie estava presente; quando outra
espécie aparecia, o trabalho de retirada de pedaços para o ninho se tornava mais freqüente.
Chegou a dominar completamente a isca na observação 50, mas após o pouso sobre a sardinha
de um Myschocyttarus (Vespidae), quase todas as formigas abandonaram a isca, permitindo
que outras espécies a colonizasse.

Pachycondyla obscuricornis

Registrada 12 vezes em Águas Emendadas e 1 vez em Cajuru, nunca dominou a isca,


principalmente por apresentar um fluxo esparso de visitantes; geralmente chegavam sozinhas
à isca e praticamente “roubavam” um pedaço de sardinha; poucas vezes foi impedida de
atingir o alimento, sendo excluída apenas em duas oportunidades por Camponotus rufipes e
Solenopsis saevissima.
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