Melody Anne (Série Surrender 01) - Surrender

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Disponibilização: Soryu

Traduzido: Lele Iunes


Revisão Inicial: Ale Campos
Revisão Final: Grasiele Santos
Leitura Final: Beth Beernardo
Leitura Final: Luciana Vaccaro
Formatação: Grasiele Santos e Lola
Verificação: Sisley, Silvia Helena
História incrível, divertida, com algum drama e
sinceramente tive vontade de dar uns bons tapas no
mocinho.
Adorei quando a mocinha o fez, cara arrogante, só
porque tem muito dinheiro acha que pode comprar a
mocinha.
Embora ele tenha os motivos dele para agir assim
... mesmo com todos os defeitos o amei e a ela também
...
Ter tudo a perder

pode fazer com que uma pessoa

faça coisas desesperadas.

Você se entregaria para ajudar

a quem mais ama?


Este livro é dedicado à minha avó Eileen.

Obrigada por acreditar sempre em mim, por me

acolher em sua casa quando preciso de um lugar

aonde ir e por se importar tanto comigo. E o

único arrependimento que sinto por esta

aventura que empreendi, é que não esteja aqui

comigo para a compartilhar. Amo você, vovó.

Agradeço muito que continue cuidando de mim

do céu. Sei que voltarei a vê-la algum dia.


Raffaello (Rafe) Palazzo toma o que quer sem

arrependimentos.

Arianna (Ari) Lynn Harlow levou uma vida

encantada até que a tragédia atingiu sua família.

Ele está à procura de uma amante sem emoções

envolvidas.

Ela está à procura de redenção.

Eles são um casal que nunca deveria funcionar, mas

a inegável atração e tragédias devastadoras, os

reuniram na cidade onde ele luta para manter seu

relacionamento apenas de uma maneira agradável para

satisfazer suas necessidades e ela luta para não se

perder nele.

Passar um tempo com Ari, começa a quebrar a

casca dura que Rafe construiu ao redor de seu coração,

mas ele nega o efeito que ela tem sobre ele até que é
tarde demais para impedir a conclusão inevitável para

a qual seu relacionamento está se encaminhando.

Rafe acreditava em felizes para sempre, pois vinha

de uma grande família italiana. Ele tem o toque de

Midas, pois tudo o que administra se transforma em

ouro. Isso termina quando sua mulher sai pela porta e o

deixa. Sua devastação rapidamente se transforma em

determinação quando decide que nenhuma mulher vai

enganá-lo novamente. Daquele ponto em diante, trata as

relações como se fosse nada mais do que transações

comerciais em que ambos saem beneficiados

mutuamente.

Quando Ari atinge o fundo do poço, ela encontra

um anúncio no jornal que divulga um trabalho que é

muito bom para ser verdade. Acontece que ela está

certa. Através das intensas rodadas de entrevistas, ela

descobre que o trabalho é para ser a amante do poderoso

Rafe Palazzo, proprietário da Palazzo Enterprises. Rafe

lhe dá um dia para pensar se quer a posição ou não

quando fica sabendo que a situação de sua mãe, que está

em estado terminal, piorou. A mãe dela estava no

hospital por culpa de Ari. Rafe é seu salvador ou a

levará com ele direto para as profundezas do inferno?


Divórcio.

Sua garganta se contrai ao pensar na palavra. Tinha


vinte e oito anos e havia conquistado o universo - ou
acreditava nisso.

Não! Fez isso. Então seu mundo de sonhos desmoronou


em uma só palavra.

Divórcio.

Ele era respeitável e respeitoso, sempre tratando as


mulheres com admiração. Não que corresse para se casar
com vinte e um anos de idade. Saiu com a mesma mulher
durante três anos, se importou e deu tudo a ela. Pensava ter
encontrado a perfeição, mas apenas encontrou desilusão.

Raffaello Palazzo se endireitou e estreitou os olhos. Não!


Ele não era este homem.

Embora tivesse se arrastado muitas vezes, jamais


voltaria a fazer isso e muito menos agora.

— Adeus.

Logo que levantou os olhos, Sharron passou na frente


dele, com sua bolsa de cinco mil dólares no ombro e o sorriso
ostentoso em seu rosto enquanto fechava a porta à tudo o
que foram. Ela foi embora e ele se sentia grato por isso.
Ela costumava reclamar que ele trabalhava muito e não
dava a atenção que merecia.

Quando na semana passada chegou em casa carregando


um grande buque de rosas, tentando dar a atenção que
exigiu, comprovou que a mulher não era muito exigente à
respeito de sua fonte de gentilezas. E a encontrou na cama
com seu sócio. Para piorar a situação, ela tentou tirar tudo o
que ele tinha.

Ela perdeu.

Rafe estreitou os olhos enquanto recordava daquela


fatídica tarde.

— Está me abandonando?

— É nosso aniversário. Consegui que a flor favorita de


minha esposa, a Flor do Hawaii, seja entregue pela
floricultura. Pegarei seu buquê e logo mais a levarei em uma
viagem surpresa à Paris. Onde comemoramos nossa lua de
mel.

— É o homem mais romântico que conheço, Rafe. —Seu


assistente, Mario Kinsor disse com um sorriso.

— Sou meio italiano. Meu pai aprendeu como são as


coisas no país de minha mãe e como homens galantes são.
Ensinou-me a valorizar uma mulher. — Rafe respondeu
jovialmente, sem se sentir ofendido. Esperava ter um
casamento tão forte como o de seus pais e que durasse o
mesmo tempo.
—Quando Ryan volta? Se estiver me abandonando,
precisarei de algum de nossos sócios para que faça seu
trabalho.

— Pegará um voo na sexta-feira. Falei com ele faz alguns


dias e me disse que conheceu alguém. Estou desejando
conhecê-la.

— Não posso suportar mais esta conversa brega. Saia


daqui antes que seu mal de amor se torne contagioso! Vejo
você na segunda-feira.

— Boa noite, Mario. Obrigado por todo o trabalho desta


semana.

Dirigindo-se para a porta, Rafe disse adeus com a mão a


seu fiel ajudante. A vida era incrível - a empresa estava
prosperando sem a ajuda de sua família e sua vida pessoal
não poderia estar melhor.

Em pouco tempo Rafe deixou a floricultura e logo


chegou em casa. Quando não viu Sharon embaixo, sorriu
com antecipação. Talvez estivesse estendida em sua cama,
com uma camisola sexy ...

Quando Rafe abriu a porta de seu quarto e a encontrou


na cama, de fato com pouca roupa - inferno, nada de roupa -
não estava sozinha. Rafe ficou imóvel, não podia acreditar no
que via diante de seus olhos.

— Ohhh, Ryan! — Gritou Sharon e as ilusões de Rafe de


ter um felizes para sempre com ela, desmoronaram por
completo.
Em silêncio, permaneceu de pé na penumbra enquanto
um de seus melhores amigos montava sua esposa. Ryan,
Shane e ele eram inseparáveis desde o ensino médio, sempre
compartilhando - sempre estando presente um para o outro.
Rafe acreditava que Ryan pensava que sua mulher estivesse
incluída e que estava disposto a compartilhar. Enganou-se.

Rafe limpou a garganta quando Sharon voltou a gritar


de prazer. Ambos ficaram quietos - entrelaçados em um
tórrido abraço - antes que suas cabeças se voltassem e o
olhassem com horror.

Rafe saiu do quarto e esperou lá embaixo. Quase


imediatamente, Ryan escapou da casa com a cabeça curvada.
Sharon correu para seu ainda marido e começou a rogar que
a perdoasse.

Rafe sacudiu essa lembrança desagradável de sua


mente enquanto olhava ao seu redor. Em questão de
segundos, toda sua vida veio abaixo. Sacrificou tanto por ela
– deu-lhe tudo o que sempre desejou - mas nada disso foi
suficiente. Ela queria tudo dele - quer dizer, todo seu
patrimônio. Não cometeria o mesmo erro duas vezes, nunca
mais.

Subiu a escada e parou na porta de seu quarto, olhando


com cautela o quarto onde dormiu com essa mulher noite
após noite. Balançando a cabeça, saiu e se dirigiu para a
luxuosa cozinha. Não havia ali nenhuma lembrança em
especial. Não era como se sua esposa se dedicasse muito a
cozinhar.
Tinha uma equipe completa de cozinheiros, que era boa.
Do contrário, sua casa seria um caos e nunca comeria
adequadamente. Sharon não era uma mulher minimamente
caseira. Ele nunca se preocupou com isso realmente - tudo o
que desejava era ter o mesmo tipo de família com ela como a
que teve enquanto crescia. Antes deste momento, era muito
iludido em acreditar que todos os casamentos poderiam ter
seu final feliz.

Um frio silêncio flutuava ao seu redor como uma


mortalha e Rafe se sentiu aliviado por ter dado o dia livre ao
seu pessoal. Não precisava que ninguém presenciasse seu
fracasso.

Fracasso. Pronunciou essa palavra em voz baixa. Não


soava nada bem. Como poderia? Era um conceito totalmente
desconhecido para ele. Nasceu com uma colher de prata na
boca. E sua mãe frequentemente se intrometia em sua vida,
dizendo que tinha uma alma velha em um corpo jovem.

Ela era a única a quem ele permitia comentários desse


tipo - a adorava. Bom, para ser justo, suas irmãs também
costumavam tirar sarro dele pelo mesmo motivo.

Rafe teve a repentina sensação de que todos os


membros de sua família se sentiriam aliviados quando
contasse sobre seu iminente divórcio, especialmente sua mãe,
embora nunca admitisse. Ela tentou se aproximar de sua já
quase ex-mulher, mas por mais que tentasse, nunca deu
certo. Sharon desejou alguma vez conhecer sua família?
Agora que pensava, não podia se lembrar de nenhuma
evidência a seu favor. Para falar a verdade, não percebeu isso
enquanto eram noivos, já que aconteceu durante os seis
meses do ano em que sua família costumava residir na Itália.
Quando seus pais e irmãs retornaram à Califórnia, ele e
Sharon já estavam casados.

E depois? Por fim, abriu os olhos. Desde o começo,


Sharon era uma perita em inventar desculpas para nunca os
visitar. Mas ele estava apaixonado e foi estúpido, então não
percebeu. Se tivesse percebido, nunca teria chegado tão longe
com ela. Enquanto crescia, seus pais o educaram na crença
de que a família vinha em primeiro lugar. Depois de seu
casamento, ele colocou sua esposa sempre em primeiro lugar,
como seu pai fez com sua mãe. Logo, ele também deixou de
visitar sua família. Ela sempre dizia que não podia ir e queria
agradá-la, ficando com ela! Fazia tudo o que estava em suas
mãos para fazê-la feliz.

Ao que parece, nada disso foi suficiente.

Com uma última olhada ao redor da cozinha, pegou seu


celular e discou um número. A ligação foi atendida antes do
segundo toque.

— Venda a casa. Não quero ter nada a ver com ela. —


Rafe disse a seu assistente em um tom cortante.

— Sim, senhor. — Não houve mais demora. Mario era


seu empregado desde o dia que Rafe começou sua corporação
multimilionária. O homem era leal, eficiente e de confiança.
Rafe não podia imaginar quanto mais difícil seria seu
trabalho sem seu empregado favorito.
Rafe aprendeu tudo com seu pai, Martin Palazzo, que
ganhou milhões de dólares no mercado de valores e mais
tarde, em inteligentes investimentos imobiliários. Martin
conheceu Rosabella, a mãe de Rafe, em uma viagem de
negócios na Itália. Os dois se tornaram inseparáveis após se
conhecerem, mas Rosabella não podia suportar estar longe de
sua terra natal durante mais de seis meses seguidos, por isso
Rafe passou a metade de sua infância na Itália e a outra
metade nos Estados Unidos.

Devido à sua educação multicultural, estava muito mais


preparado para assumir a estrutura global de negócios que
adotou. Era um feroz homem de negócios e leal até o final
com todos com quem se relacionava. À partir de hoje, a
confiança seria algo que não daria de presente tão
gratuitamente e a concederia apenas em pequenas doses e
com precaução.

Rafe decidiu desde muito jovem que precisava trilhar


seu próprio caminho na vida - não deixar que seus ricos pais
lhe dessem tudo. Mas não era estúpido. Aceitou os conselhos
de seu pai e fez negócios com ele, mas Rafe sonhava grande -
e fazer esse sonho se tornar realidade levou muito menos
tempo do que uma pessoa normalmente precisaria.

Cada vez que entrava em seu edifício de escritórios de


vinte e cinco andares em São Francisco, sentia um orgulho
justificado. Criou postos de trabalho para milhares de
pessoas em todo mundo, pagava bons salários, assegurava
que pudessem ir para cama cada noite com o estômago cheio
e a segurança de que teriam mais trabalho a fazer no dia
seguinte.

Ele lhes deu muito - essa era a diferença entre sua


quase ex esposa e seus empregados, pois estes eram
agradecidos e o viam como se fosse um rei. Sharon jogou
tudo o que lhe deu na cara. À exceção de seu dinheiro.

Rafe terminou com as mulheres. Bem, pensou com um


sorriso arrogante, iria deixar de ser bonzinho. Era sua vez de
fazer o que queria. Nunca mais voltaria a deixar que alguém o
usasse - nunca mais entregaria seu coração apenas para que
o pisassem. Parecia como se todas as mulheres tivessem um
propósito, um propósito impulsionado por sua avareza.
Quanto mais rico era o homem, melhor para elas. Queriam
que as atendesse ao máximo e todas elas tinham um preço.

Saindo pela porta principal, se negou inclusive a dar


uma volta para dar uma última olhada no que até esse
momento, foi seu lar. Quando terminava com algo, era para
sempre. E agora, terminou com esta casa.

Colocando sua mão no metal frio da maçaneta de seu


Bentley negro, ouviu o estalo familiar quando a porta do
veículo se abriu. E enquanto subia no assento, parecia alheio
ao fresco e picante aroma da tapeçaria de couro suave.

Afastando-se rapidamente da calçada, Rafe começou a


diminuir a distância que o separava da cidade, onde tinha
um apartamento a alguns quarteirões de seu escritório. Por
sorte, Sharon se negou a viver em São Francisco, o que fez
com que tivesse que dormir ali sozinho muitas noites quando
ficava trabalhando até tarde. O apartamento era dele -
apenas dele.

Se ela tivesse sequer tocado na porta do amplo


apartamento de cobertura, também teria vendido. Não queria
nada que lembrasse essa mulher, nada sobre ela que
permanecesse em sua vida. Queria um novo começo. Queria
que alguém devolvesse seus últimos oito anos - isto era o que
desejava acima de tudo, mas já que era impossível,
simplesmente teria que apagar por completo isso de sua vida
de agora em diante.

Algumas ligações telefônicas e estaria tudo feito.


Três anos depois
— Está muito magra.

Arianna Harlow tremia enquanto o homem passeava ao


seu redor, dando voltas na cadeira onde estava sentada.
Sentia-se como um animal enjaulado esperando que ele a
atacasse. Por que ainda estava sentada ali? Por que não
percebeu que este trabalho não era para ela, que tudo foi um
grande engano e o melhor a fazer era sair dali?

Ela sabia por que, a realidade alagou sua mente -


porque não podia dar-se ao luxo de ir - isso era óbvio, já que
estava ali pelo trabalho. Desse modo poderia sair do sufoco
de suas contas transbordantes. Sua mãe estava a ponto de
ser transferida do centro de reabilitação em que estava, para
uma clínica menor e Ari não tinha nem um mísero dólar em
sua conta bancária.

Apenas muito medo. Se sua mãe fosse enviada para


instalações de cuidados do estado, provavelmente murcharia
e acabaria em um nada em questão de dias. Não podia
permitir que isso acontecesse - não iria deixar.

Arianna abandonou a universidade em seu último


semestre, justo quando sua vida mudou para sempre por
causa de um breve momento no tempo, devido a um terrível
erro.

Se apenas ...

Essas duas palavras assombraram seus pensamentos


durante os últimos seis meses. Tinha vários finais diferentes,
mas as palavras que permaneciam eram: se apenas...

Se apenas não tivesse ligado para sua mãe quando o


pânico se apoderou dela naquela noite.

Se apenas não fosse à festa, em primeiro lugar.

Se apenas sua mãe saísse uns minutos mais tarde.

— Está me ouvindo ou não? —A voz de Raffaello Palazzo


retumbou no ar, fazendo com que Ari desse um pulo de sua
cadeira. Precisava tentar se lembrar por um momento da
última coisa que disse. Oh sim, estava muito magra.

— Sim, senhor Palazzo. Apenas não sei como responder


a isso.

— Hum! — Sua voz soou como um murmúrio, à deriva


através de suas terminações nervosas. Rafe era incrivelmente
intimidante enquanto caminhava de um lado a outro, a
apenas uns poucos centímetros por cima de sua cabeça. Se a
isso se acrescentasse seu cabelo negro e esses olhos
impressionantes... sentia-se como uma simples trabalhadora
de fábrica, totalmente fora de lugar nesse agradável
escritório.

Enquanto o homem continuava passeando pela sala e se


aproximando dela, Ari pensou na última semana - na
estranha semana que foi. Nunca antes precisou passar por
tantos obstáculos durante uma entrevista de trabalho.

Enviou seu currículo a mais de uma centena de


empresas no último mês e apenas três empresas entraram
em contato com ela. Um dos empregos era em um banco, o
diretor ligou uns dias mais tarde, dizendo que o deram a
outro candidato. O segundo era para uma companhia de
seguros e disseram que não possuía experiência suficiente.

O terceiro trabalho... bem, na realidade não sabia como


descrever. O anúncio apenas dizia: Precisa-se de pessoa com
tempo integral para a Corporação Palazzo. Precisa ter
disponibilidade para trabalhar sete dias por semana, durante
longas horas. Não pode ter outros compromissos - nem família,
nem outro emprego, nem tampouco ser estudante. Cem mil
dólares ao ano, mais despesas. Apenas currículos entregues
em mãos.

Ari pensou que tentar conseguir esse trabalho seria uma


aposta arriscada, mas não tinha nada à perder. Preparou
rapidamente seu currículo, que apenas incluía dois anos em
uma pizzaria local, quase quatro anos como secretária em
tempo parcial no departamento de história da Universidade
de Stanford e depois disso, nada - uma brecha de seis meses
desempregada enquanto cuidava de sua mãe e tentava lutar
com as consequências da desastrosa noite.

Faltando apenas um semestre para se formar, sua vida


mudou para sempre, devido ao erro mais estúpido que já
cometeu. Por que se descuidou tanto faltando apenas uns
meses para se formar? Agora, a lembrança daquela noite a
perseguiria para sempre, seria algo com o que teria que viver
durante o restante de sua vida.

Com um caderno de couro na mão, seu curriculum e a


solicitação de emprego dentro, entrou no grande edifício e se
aproximou do guarda da segurança no saguão, que a
encaminhou ao escritório do secretário no vigésimo quinto
andar. Caminhou até ali com o que esperava ser uma
confiança que emanava por cada um de seus poros e
entregou seu reluzente currículo.

— Obrigado, senhorita Harlow. Sente-se, o senhor


Kinsor a chamará em breve.

Curiosamente apenas havia candidatas mulheres na


sala quando entrou nela, não havia nenhum candidato
masculino à vista. A parte mais aterradora era que todas elas
pareciam muito mais qualificadas para qualquer que fosse o
trabalho nessa empresa que ela. Uma a uma, as mulheres
foram entrando na sala e fechando a porta atrás delas.
Depois de uns dez minutos mais ou menos, saíam com uma
expressão cheia de confiança e olhavam as candidatas
restantes com ar de grandeza. Este mundo dos negócios era
um mar de tubarões e Ari não sabia sequer se queria tomar
um banho.

— Senhorita Harlow?

— Aqui. —Disse ela. Ajustando seus óculos de tamanho


grande e a blusa, dois tamanhos maiores do que realmente
precisava, ficou de pé e se dirigiu resolutamente para o
pequeno homem que trajava um elegante terno apropriado
aos negócios e um suave sorriso em seu rosto.

— Por aqui, por favor.

Seguiu até um escritório onde havia uma tela azul


contra a parede. Havia uma mesa com um pedaço de papel e
um lápis sobre ela, nada mais.

— Por favor, sente-se. Vou tirar sua fotografia.

Ari não entendia por que era preciso uma foto dela.
Provavelmente para os cartões de identificação dos
empregados, mas normalmente isso acontecia depois que
fossem contratados. Talvez apenas quisessem comprovar que
não fosse nenhuma criminosa. Não se importava. Não iria
protestar por uma tolice assim.

Ela sentou e esperou que piscasse o flash, sabendo que


seu sorriso não era autêntico, mas suas expectativas eram
tão altas, que foi impossível oferecer algo melhor que um leve
sorriso.

— Por favor, preencha este formulário e se assegure que


sua informação de contato esteja correta. Se passar à
segunda parte de nosso processo de seleção, ligarei dentro de
três a cinco dias. — O senhor Mario Kinsor disse com o
mesmo suave sorriso.

Não perguntou se tinha alguma pergunta. Não disse


absolutamente nada sobre o trabalho. Em outras
circunstâncias, ela teria simplesmente preenchido a papelada
e teria se mantido em silêncio, mas sua crescente curiosidade
a empurrou com uma coragem que desconhecia para
perguntar no que consistia realmente o trabalho.

— Senhor Kinsor, o anúncio no jornal era um pouco


confuso. No que consiste exatamente o trabalho?

— Se você passar para a fase seguinte, terá mais


informações, senhorita Harlow. Sinto muito, mas o senhor
Palazzo é um homem muito privado e este posto é....
confidencial. — Respondeu com uma suave pausa.

— Entendo. — Respondeu ela com um sutil sorriso,


apesar de não entender nada.

Observou o papel sobre a mesa e a confusão apenas


aumentou.

Quais são seus hobbies?

Você está em uma relação séria? Se não, quando foi à


última?

Está disponível para viajar?

Que tipos de perguntas eram estas? A segunda delas era


sequer permitida? Entretanto, respondeu o melhor que pode
e finalmente leu uma pergunta que tinha sentido.

Quais são suas metas profissionais?

Essa frase provocou nela um sorriso genuíno. Antes do


acidente de carro de sua mãe, antes que sua vida mudasse
tão dramaticamente, era uma estudante com honras de
Stanford, dedicando-se dia e noite à sua licenciatura em
história. Pensou em fazer mestrado, logo um doutorado para
ser professora universitária.
Algum dia...

No fundo de seu coração, ainda mantinha a esperança


de reatar sua vida em algum momento - alcançar as metas
que fixou para si mesma. Mas a culpa imediatamente a
consumia cada vez que a esperança entrava em seu
pensamento consciente. Sua mãe também adoraria poder
recuperar sua vida, mas nunca mais o faria. Por isso, era
justo que Ari também se sacrificasse. Tinha que pagar por
seus pecados.

Sua mãe se sacrificou durante toda sua vida para que


ela pudesse ter tudo o que precisava. Pagou a educação de
Ari em uma pequena escola particular, guardou e economizou
tudo o que pode para que pudesse ir para a melhor
universidade. Ari ganhou uma bolsa, mas sua mãe sempre
pagou seu alojamento e comida, inclusive seu queridíssimo
carro.

Ela nunca percebeu o muito que sua mãe deu de si


mesma, até o dia em que a mulher foi para o hospital. As
circunstâncias agora exigiam que Ari crescesse rapidamente,
sem ter sua mãe para se apoiar. Agora era a responsável
pelos cuidados com sua mãe - e estava falhando em seu novo
papel.

Desde o dia do acidente, suas vidas se encheram de


temor e incerteza.

Felizmente, a Corporação Palazzo a chamou. Mas a


segunda entrevista era ainda mais estranha que a primeira.
Fez um exame para ver se estava em forma física. Precisou
correr em uma esteira durante meia hora, foi cronometrada
enquanto completava uma fileira de obstáculos e logo
testaram sua resistência.

Ela praticou muito esporte durante todo o ensino médio


e continuou na universidade, por isso sua forma física nunca
foi problema, mas com cada passo que dava no processo
desta estranha entrevista, se sentia cada vez mais
preocupada sobre o que consistiria o trabalho.

Tudo o que deram como resposta na segunda entrevista


era que se tratava de uma posição privada que tinha relação
com o diretor geral da corporação. Talvez tivesse que se
esquivar das balas dos países que estavam invadindo? Ouviu
rumores de que as empresas não tinham sempre boa
repercussão no estrangeiro - que alguns governos pensavam
estar ultrapassando os limites.

Na investigação que ela fez, as pessoas normalmente


eram bem acolhidas, e pagavam salários altos e ofereciam
excelentes pacotes de benefícios. Sobretudo parecia que eram
às outras empresas as que queriam manter longe, porque
quando entravam no país, conquistavam tudo,
independentemente do setor empresarial que estivessem
perseguindo. Ao menos ela sabia que se conseguisse o
trabalho, teria essa segurança que tanto precisava. As
pessoas raramente abandonavam seu trabalho quando
estavam na Corporação Palazzo.

O salário era alto o suficiente, e possibilitaria que sua


mãe recebesse uma boa atenção médica e ainda sobraria uma
generosa quantia que poderia economizar para retomar a
universidade em alguns anos. Com esse pensamento, sabia
que faria quase tudo para conseguir o trabalho.

— Senhorita Harlow, se não vai levar a sério a


entrevista, pode partir do mesmo modo que chegou. —Disse o
senhor Palazzo em um tom irritado, trazendo-a de novo ao
presente.

— Sinto muito. Realmente levo essa entrevista muito a


sério. —Respondeu rapidamente, esperando não ter perdido
nenhuma pergunta.

— Não vou repetir duas vezes. Entendeu? — Antes que


pudesse responder, acrescentou. — Perguntei se estaria
disponível para trabalhar a qualquer hora. Não quero dizer de
segunda-feira à sexta-feira. Este trabalho requer que esteja
disponível os sete dias da semana, dia e noite. Haverá vezes
nas quais não precisará estar disponível durante períodos
prolongados e outras vezes, nas quais precisará estar durante
vários dias seguidos. Isso poderia incluir viagens ocasionais.
A conclusão é que você não deve ter nenhum compromisso.
Se isso não estiver bem para você, esta entrevista terminou.

Ari sentiu um nó na parte trás de sua garganta


enquanto lutava por conter as lágrimas que ameaçavam
brotar de seus olhos. Finalmente olhou para os olhos de uma
cor incomum, notando-os realmente pela primeira vez.

Ouviu falar sobre esse tipo de olhos antes, algo que se


chamava heterocromia da íris, onde duas cores estavam
presentes. Os seus tinham um centro de cor castanho
avermelhado escuro ao redor da pupila, que se desvanecia em
um precioso azul de meia-noite. Eram impressionantes -
fascinantes - enquanto capturavam seu olhar, apesar de se
estreitar cada vez mais nesse preciso instante.

— Não tenho outros compromissos. Estou disponível —


Disse cruzando os dedos por dentro. Ela estava
comprometida com sua mãe, mas com esse dinheiro não teria
que se preocupar com seu cuidado. Iria vê-la quando tivesse
o tempo livre, dos quais ele estava falando. Se não pudesse
ver sua mãe em um mês, se sentiria devastada, mas sua mãe
estaria em boas mãos e o mais importante, ela não perceberia
já que estava em coma.

— O que tem sua mãe? — Perguntou como se pudesse


ler seu pensamento, seu olhar perfurando-a. Ela se
surpreendeu pela pergunta e permaneceu em silêncio
durante alguns segundos.

— Como sabe de minha mãe?

— Eu sei tudo o que preciso saber sobre você, Arianna,


— Respondeu com uma leve elevação da boca.

Sua expressão era muito confiante e Ari sentiu


imediatamente o impulso de fugir. Algo não estava bem, algo
lhe dizia que saísse dali enquanto pudesse. Isso não era
promissor - sentia. Todos os sinais indicavam que pulasse
dessa cadeira e saísse correndo pela porta. Mas não. A
lealdade para com sua mãe a mantinha sentada onde estava.

— Sim. É obvio. —Respondeu ela. — Minha mãe está em


boas mãos. Ela nem sequer sabe quem sou. Não acontecerá
nada se não puder ir vê-la durante um longo período de
tempo.

Ele a rodeou de novo, fazendo com que ela retorcesse os


dedos de seus pés. Quando estava nervosa, sempre fazia
essas coisas - ou sapateava, o que era muito irritante para
todos os que estavam ao seu redor, ou mordia a unha de seu
polegar. Sentiu o impulso de levantar a mão, de levar o dedo
à boca, mas com um grande esforço manteve as mãos
cruzadas em seu colo.

— Vejo como um obstáculo, mas dado que é a única


família que tem, deixarei passar no momento.

Este homem era de verdade? O que deixaria passar? Ari


estava tomando ar pelo nariz profundamente para manter
seu temperamento sob controle. Precisava do trabalho,
recordou a si mesma enquanto apertava os dedos com força e
fechava a boca para não dizer as palavras que estava
desejando cuspir na cara.

—Há alguma coisa errada, senhorita Harlow? —


Perguntou com uma voz suave como mel quando rodeou sua
cadeira, ficando diante dela e olhando em seus olhos. Ela
sentia como se estivesse sendo analisada, despedaçada em
caquinhos enquanto que ele tentava decidir se fazer negócios
com ela era uma perda de tempo ou não. Ari estava segura de
que era a forma como fazia todos seus negócios. Certeza de
que era por isso que estava onde estava na vida, no topo da
escada e por que ela estava no fundo.
Algumas pessoas emanavam pura confiança, a
capacidade de dominar e conquistar o universo, e o senhor
Palazzo tinha isso em excesso. Ari teria dado sua alma por
um pedaço de sua atitude vencedora e essa inquebrável fé em
si mesmo.

— Tudo está bem, senhor Palazzo. —Respondeu ela,


orgulhosa de quão calma soou o nível de sua voz, sobretudo
considerando que estava desequilibrada dos nervos neste
momento.

—Você me intriga senhorita Harlow. Vejo que tenta


esconder algo embaixo de suas roupas ridiculamente largas e
esses enormes óculos. Mas há algo em você que faz com que
me dê vontade de saber o que é, o que não quer que o mundo
veja. — Parou, fazendo com que ela apertasse a blusa de
novo. — Uma vez que tomo uma decisão, não duvido jamais
dela e decidi contratá-la... temporariamente. Posso ver que
seu temperamento pode causar problemas, mas por outro
lado, a submissão nunca foi meu estilo. Obediente... sim,
mas não totalmente.

Ari olhou boquiaberta enquanto tentava decifrar suas


palavras. Do que ele estava falando? O que teria haver a
submissão e ser obediente com o trabalho?

—Está consciente de que assinou um acordo de


confidencialidade antes de sequer colocar um pé em meu
escritório, certo? O que disser aqui é estritamente
confidencial... e esse acordo é legalmente obrigatório. Uma
ex-empregada tentou ir aos meios de comunicação - uma vez.
Digamos que... agora perdeu tudo... e os rumores não
duraram nem dois minutos. Gosto de jogar duro, senhorita
Harlow e não convém ser meu inimigo. — Disse em um tom
casual.

Ari engoliu saliva enquanto seus olhos o seguiam com


atenção. Falava da ruína de uma mulher como se estivesse
mencionando casualmente o que comeu no dia anterior. De
verdade queria trabalhar para este homem?

Mas sinceramente, que outra opção tinha?

— Estou ciente do que assinei senhor Palazzo. — Ari se


endireitou em sua cadeira, percebendo realmente pela
primeira vez que o trabalho era dela. Não tinha medo de
perder, porque não tinha nada a perder. E ela sabia como
manter as coisas privadas. De toda forma, não era como se
tivesse um grupo de amigas com quem compartilhar esse tipo
de fofocas. Ela sempre esteve muito ocupada na universidade
para conservar suas amizades. Poucos entraram e saíram de
sua vida, mas nenhum permaneceu tanto tempo para
ascender à categoria de amigos. Todos seus companheiros de
classe pensavam que era uma garota muito aborrecida.

Em sua única tentativa de atuar como uma estudante


universitária normal... o pensamento a fez estremecer. Essa
era a razão pela qual estava nessa entrevista para um
trabalho que temia saber seu título, em vez de estar sentada
na sala de aula ouvindo seus professores.

O olhar agudo de Rafe Palazzo a cravou no lugar. Ele


disse que nunca voltava atrás uma vez que tomava uma
decisão, mas o olhar avaliador em seus olhos desmentia suas
palavras. Podia ver que estava indeciso sobre se realmente
queria contratá-la.

Ela rezou mentalmente para não desperdiçar esta


oportunidade. É óbvio que os conselhos que sua mãe lhe deu
naquela primeira vez que a levou em seu carro até a
residência da Stanford, cruzaram sua mente. Sua mãe disse
que se a situação parecesse muito boa para ser verdade,
então provavelmente não era e deveria correr como o vento na
direção oposta. Talvez devesse começar a correr agora,
pensou Ari.

— Muito bem então, senhorita Harlow. O trabalho é


para ser uma amante... minha amante, para ser exato.
Rafe viu como os olhos de Arianna se arregalaram.
Sabia que deveria ter pedido para que partisse, mas no
primeiro momento em que a mulher colocou o pé em seu
edifício, havia algo tão desconcertante nela que seu interesse
despertou imediatamente.

Ela tinha algo especial em seus olhos, mas afastou esse


pensamento de sua mente. Não podia se permitir o luxo de
sentir nada mais que luxúria pelas mulheres de sua vida.

Respeitava algumas de suas amantes, minimamente.

Não desconfiava delas - simplesmente não as deixava


entrar em seu coração.

De todas suas amantes anteriores, tinha que dizer,


entretanto, que não o agradaram tanto como esperava. Elas
obedeciam, estavam ali quando queria e logo partiam
alegremente quando ele não requeria mais seus serviços. No
momento que alguma delas mostrava o mínimo sinal de
ciúmes, seu acordo terminava. Era melhor assim. Nenhuma
outra mulher voltaria a envolvê-lo nunca mais... nem à sua
carteira.

Era óbvio que Ari não era uma de suas típicas escolhas.
A primeira vez que viu sua foto, passou por cima, mas de
algum jeito, a fotografia permaneceu sobre a mesa depois de
sua rápida verificação e algo em seus belos olhos verdes o
chamou, apesar dela tentar escondê-los atrás desses enormes
óculos.

Precisava das mulheres para um fim específico - isso era


tudo. Elas satisfaziam suas necessidades e isso era
primordial, já que ele era um homem muito sexual. Também
o acompanhavam aos eventos onde se esperava que
aparecesse com uma mulher.

Normalmente não se importava com que o mundo


pensasse dele, mas desfrutava sentindo as suaves curvas de
uma mulher pressionadas contra seu corpo, enquanto seus
medíocres colegas de trabalho o olhavam com inveja.

A plenitude dos seios pálidos de uma mulher que o


olhasse maliciosamente usando um vestido de cetim escuro,
a forma como suas coxas se moviam quando caminhavam
para seu escritório - a visão de mechas de seu cabelo presos
por trás de seus ombros, pedindo que soltasse o nó na parte
de trás e assim permitir que seus fartos cabelos fluíssem.

A extrema feminilidade de uma mulher era sua parte


favorita dessas reuniões tão aborrecidas. Todas essas coisas,
eram as que despertavam seu interesse em ter uma amante.

Gostava que as mulheres estivessem perto dele, gostava


que fizessem suas vontades. Realmente adorava que
satisfizessem suas necessidades.

Desde seu divórcio, descobriu que tinha mais


necessidades do que acreditava.
Não encontrou uma mulher que pudesse manter seu
interesse durante mais de três meses desde o dia que Sharon
partiu. E não se importava mais.

Quando se aborrecia com uma amante, encontrava


outra candidata disposta.

A fila de mulheres dispostas a lhe servir era de um


quilômetro de comprimento - depois de tudo, ele era Rafe
Palazzo e o mundo era sua ostra, seu pátio de recreio.

Tanto as mulheres que ele se dignava a escolher e


aquelas que não eram seu tipo absolutamente - todas elas -
desejavam que uma aventura com ele se convertesse
eventualmente em algo um pouco mais permanente.
Infelizmente para elas, isso nunca aconteceria.

Suas amantes não eram mais que empregadas e era


assim precisamente como as tratava. Pagava muito bem,
oferecia um pacote de indenização, e fazia com que suas
necessidades mais básicas fossem satisfeitas. Era um trato
justo para ambas as partes. Por que não ser direto e oferecer
o dinheiro desde o começo? Isso era para o que queriam de
qualquer jeito.

A expressão congelada da Arianna Harlow o fez pensar


que não tomou a decisão correta e ficou surpreso pela leve
pontada de decepção que sentiu no peito.

Embora ninguém tivesse recusado nenhum de seus


trabalhos anteriormente, esperava que acontecesse algum
dia. Surpreendentemente, havia mulheres no mundo que se
sentiam... incomodadas com este tipo de acerto.
Honestamente, não podia entender por que. Depois de
tudo, ele não estava fazendo nada, salvo eliminar a parte
odiosa do sexo. Por que não ir diretamente ao ponto e dizer a
uma mulher exatamente o que queria e esperava dela? Isso
fazia com que tudo fosse muito mais simples.

Arianna parecia irritada e ainda assim, seu olhar estava


cheio de espírito, como se ele tivesse disparado no seu
querido cão e agora ela estivesse pensando em maneiras de
se vingar. Rafe começou a ficar irritado enquanto ela dirigia
seu olhar em todas as direções, menos para ele. Não gostava
dessa fraca emoção que lhe percorria.

Isto era um negócio - nada mais. Não havia lugar para


ira, aborrecimento... para nenhum sentimento. Emoções
como essas eram próprias de seres humanos inferiores a ele.

— Leve todo este material para casa e leia atentamente.


Deixarei que considere suas opções. Entretanto, espero uma
resposta amanhã pela tarde às cinco.

Rafe tinha muito trabalho a fazer e não podia perder


mais tempo. Entregou uma pilha de papéis e logo estendeu a
mão para ajudá-la a levantar. Ela olhou para sua mão com
cautela, como se tivesse medo que ele fosse bater nela. Sua
irritação disparou.

— Posso estar cometendo um engano ao lhe oferecer


este trabalho. Deveria simplesmente retirar a oferta, mas
sorte para você, decidi não fazer. Espero que aprecie quão
afortunada é porque estou dando tempo para pensar nisso.
Há uma fila de mulheres que literalmente matariam por estar
em sua pele neste momento.

Embora Rafe pudesse ver que ela estivesse tentando


assimilar suas palavras, percebeu que por sua vez, estava
claramente tentando ocultar o que verdadeiramente pensava
sobre todo este assunto. Quanto antes estivesse fora de seu
escritório, melhor para ele. Tinha que refletir um momento e
decidir se realmente era a candidata adequada.

Ari ficou congelada no assento. Deveria dizer que desse


o emprego a uma dessas muitas mulheres esperando nessa
asquerosa fila e sair com toda a dignidade do mundo da sala.
Não podia fazer isto - não importava o salário extraordinário
que oferecesse.

A culpa a consumiu - a culpa por sua mãe, que estava


indefesa em uma pequena cama, perdendo sua vida - uma
vida que sempre viveu ao máximo até que uma ligação a
despertou no meio da noite.

— Obrigada. — Respondeu Ari quando finalmente


aceitou a mão que Rafe estava oferecendo. No momento em
que sua pele entrou em contato com a dele, uma pequena
corrente elétrica passou através de seus dedos, fazendo com
que sua pele arrepiasse e que suas vísceras ardessem de uma
maneira estranhamente agradável.

Ela se separou dele rapidamente, incomodada ante essa


desagradável e desconhecida sensação. Sem dizer nada mais,
caminhou com muita pouca estabilidade até a porta e logo se
dirigiu para o elevador.

Ari podia sentir Rafe ao seu lado. Ele não a tocava, mas
ia a seu lado na mesma direção enquanto ela tentava fazer
uma saída digna. Por que não podia simplesmente ter ficado
em seu escritório em lugar de insistir em acompanhá-la até a
porta? Ari sentiu o ar empurrando contra as paredes de seus
pulmões e começou a lutar contra o desejo de ofegar
enquanto tentava absorver mais oxigênio. Sabia que o perigo
estava em sua cabeça - não havia nenhuma razão para se
alarmar.

O senhor Palazzo estendeu a mão, apertou o botão e


ficou de pé ao seu lado. Os olhos de Ari estavam
concentrados nas portas de aço diante dela, enquanto
contava os segundos mentalmente. Ouviu essa expressão
sobre a tensão sendo tão espessa que poderia cortar com
faca, mas até este momento, nunca experimentou tal
fenômeno. Tinha uma primeira vez para tudo e ela parecia ter
várias primeiras vezes para tudo com Rafe Palazzo.

Abre, abre, abre, cantava interiormente. O som do


alarme indicou que o elevador chegou. O ruído que fez o
alarme foi um pouco mais alto do que o normal e ela lutou
contra o impulso de dar um pulo. Entrou no elevador antes
que as portas estivessem completamente abertas e logo se
dirigiu imediatamente ao painel iluminado no interior e
apertou o botão do saguão e em seguida o botão para fechar
as portas.

Quando por fim começaram a fechar - céus, pareceu


uma eternidade!

Ari finalmente levantou os olhos, que se chocaram com


intenso olhar do senhor Palazzo. Tentou romper essa
conexão, mas não pode desviar o olhar. Quando as portas se
fecharam, deixou-se cair contra a parede atrás do enorme
elevador e esperou que descesse lentamente.

Depois que o elevador fez sua descida sem parar e uma


vez que as portas se abriram no saguão, Ari saiu e
rapidamente caminhou pelo chão de mármore, indo
diretamente pela porta da frente.

Ari não parou até que chegou ao quarteirão seguinte.


Por último, com uns desiludidos passos, foi desacelerando até
que encontrou um banco. Sentou nele tão elegantemente
como pode. Apenas nesse momento se permitiu respirar
profundamente pela primeira vez desde que saiu do escritório
do Rafe Palazzo.

Ficou ali sentada durante um bom tempo, fazendo todo


o possível para não hiperventilar. Sentia como se não
pudesse conseguir oxigênio suficiente, mas decididamente
tentou respirar lenta e profundamente.

Deveria ter dito: Obrigada pela oferta, mas não. Deveria


ter rido de sua ridícula oferta. Deveria ...
Com uma risada desdenhosa, Ari colocou fim a esses
pensamentos. Era uma perda de tempo pensar no que
deveria ter feito. Os “ses” do passado já eram bastante
dolorosos.

Mas... poderia fazer isso? Poderia se vender? O que ele


realmente estava pedindo era que fosse uma prostituta de
luxo, certo? Isso se resumia como uma cena diretamente
tirada do filme: Uma Proposta Indecente.

Ari se obrigou a ficar de pé e começou a caminhar os


quarteirões que a separavam da garagem da Corporação
Palazzo. Sem perceber o tempo que passou durante sua longa
caminhada, subiu a escada do terceiro andar do
estacionamento, viu seu carro e sentou ao volante. Ficou ali
por um momento.

Ao ligar o motor, começou a conduzir lentamente pela


rampa de saída, absorta em seus pensamentos. Tinha que
chegar em casa e revisar os documentos que recebeu e
convencer a si mesma que não poderia aceitar o trabalho.

Tomar uma decisão tão colossal requeria uma séria


consideração. Há uns meses, ela nunca teria considerado
sequer a possibilidade de fazer algo assim. Era
verdadeiramente ingênua sobre o mundo que a rodeava,
sempre protegida da dura realidade da vida. Entretanto, toda
sua inocência se quebrou no dia em que a polícia apareceu
naquela festa da faculdade.

Nos últimos momentos conscientes de sua mãe, sua


única preocupação foi com sua segurança. Sua mãe
conseguiu dizer aos funcionários que tinham que chegar à
sua filha, que estava em perigo. Apenas então foi que sua
mãe sucumbiu à gravidade de seus ferimentos.

No lugar de sua mãe, foi a polícia quem se apresentou


na casa da fraternidade onde Ari estava esperando e depois a
levou ao hospital. Esperou durante horas na sala,
recuperando a sobriedade rapidamente pelo medo que sentia.

Quando o médico finalmente saiu da sala de cirurgia, as


notícias não foram nada alentadoras. Sua mãe estava estável,
mas em coma. Fizeram todo o possível para salvá-la. Apenas
o tempo diria se despertaria.

Sandra Harlow tinha um severo edema cerebral e foi


operada de emergência. Além das lesões na cabeça, também
teve duas costelas quebradas, um quadril trincado e
ferimentos no rosto. Quando Ari entrou no quarto de sua
mãe, quase desmaiou ante a cena que viu. Essa imagem a
perseguia, inclusive agora.

Se o pessoal do hospital não tivesse garantido que a


pessoa deitada na cama era sua mãe, Ari jamais teria
adivinhado. Estava irreconhecível, com o rosto inchado e as
ataduras que a cobriam por toda parte. Ari começou a chorar
desconsoladamente quando apoiou a cabeça em sua cama e
começou a pedir perdão repetidamente. Se não fosse por ela,
sua mãe estaria em casa, dormindo sã e salva. Ela nunca
perdoaria a si mesma pelo que fez.

Lutando por afastar essas dilaceradoras lembranças de


sua mente, Ari se concentrou na estrada e parou na frente a
seu pequeno apartamento. Pouco a pouco subiu a escada da
entrada, arrastando os pés enquanto sua mente trabalhava a
toda velocidade. Os documentos de Rafe estavam pesando em
sua bolsa.

Chegou à porta e brincou com a chave durante uns


instantes. Se não fizesse o contato bem, não poderia girar o
fecho. Merda, pensou, provavelmente seria mais rápido
deslizar um cartão de crédito pelo batente da porta.

Assistiu a tantos filmes que provavelmente poderia


penetrar em muitos lugares se alguma vez precisasse. A ideia
lhe fez sorrir quando o contato finalmente fez clique e a porta
se abriu. Talvez pudesse encontrar um trabalho destravando
lugares. Seria uma profissão mais digna que a prostituição.

Embora o dia tivesse começado fazia apenas algumas


horas, o cansaço a consumia. Sentou-se no sofá e olhou sua
bolsa como se houvesse uma serpente dentro dela à espera
de uma oportunidade para atacar. Realmente queria ver o
que o senhor Palazzo planejou para ela?

Com grande relutância, por fim abriu o zíper e tirou


lentamente os papéis. Sua vista nublou quando olhou para
baixo. Lutou contra a urgência de se desfazer deles, mas a
realidade e uma leve curiosidade, acabaram ganhando.

Com apenas uma semana de prazo para pagar o aluguel


de seu apartamento e sem mais trabalhos à vista, Ari tinha
que analisar suas opções. O peso de saber que as condições
de vida de sua mãe piorariam sem apoio financeiro, fazia com
que o momento de tomar uma decisão firme sobre o trabalho
fosse ainda mais crucial.

Já tinha vendido a casa de sua mãe, o lugar no qual


cresceu. Partiu seu coração guardar em caixas as posses
mais valiosas de sua mãe e as deixar num depósito. Pagou o
aluguel do depósito adiantado por um ano, já que não queria
correr o risco de perder coisas que tanto significavam para
sua mãe.

Tudo que Ari possuía de valor decente foi leiloado. Ela já


fez tudo o que estava em suas mãos. Agora tinha que
encontrar um trabalho e parecia que ninguém queria
contratar alguém que deixou a universidade, inclusive sendo
uma estudante bolsista. Não significava nada se não
terminasse o curso.

Ao final, não tinha outra opção senão olhar o material


em frente a ela. Agarrando os papéis com determinação, os
abriu e começou a ler. Quando terminou não pode aguentar a
vontade de vomitar. Não podia fazer isto, de maneira
nenhuma.
Ari ficou sem fala. Não sabia o que pensar. Seus
brilhantes olhos passavam por aquelas palavras enquanto
sua boca se abria pouco a pouco. De maneira nenhuma faria
isto. Não faria. Não podia. Tinha que haver outra opção.

As palavras escritas em negro começaram a dançar em


círculos em sua cabeça, mostrando um lado da vida que
nunca imaginou existir. Ele pretendia ser dono de seu corpo?
Podia tomar o que quisesse dela, dia e noite?

Ari não acreditava. Seria ainda pior se não aceitasse


suas estúpidas regras. Ele a processaria por isso. Poderia
fazer isso? Se ela optasse por não satisfazer suas
necessidades como ele queria, poderia realmente processá-la?

Pouco a pouco voltou a ler os documentos e se sentiu


um pouco melhor. Não. Não era isso que diziam. Ele apenas
poderia processá-la se ela rompesse a cláusula de
confidencialidade.

O que queria dizer entretanto, com fazer “algo de forma


inconsciente”? Se ela não soubesse que fez algo, como seria
responsável? Enquanto continuava lendo os papéis, percebeu
o que isso significava. Se deixasse qualquer informação de
forma descuidada por aí e alguém a pegasse, - o que faria que
outras pessoas se inteirassem da situação, - então seria
culpada.

Bom, ela não seria sua empregada, nem sua amante ou


como quer que ele quisesse chamar a esse degradante
emprego. Assim não arriscaria que alguém topasse com essa
maldita papelada. Foi até cozinha e acendeu o fogo, logo
colocando os documentos em cima e sentiu uma
estarrecedora satisfação quando os papéis começaram a
desaparecer.

Ficou olhando durante vários segundos, se assegurando


que queimassem até a última palavra e logo jogou os restos
na pia vazia, onde o contrato horrível terminou de queimar e
se converteu em nada mais que cinzas.

O triturador de lixo acabou com todos os restos de papel


e fez com que ela relaxasse um pouco. Por fim, poderia fechar
esta porta de sua vida e seguir em frente. Era algo bom que
não tivesse detectores de fumaça em casa ou seu pequeno ato
desafiante teria feito com que acionasse cada um deles.

Depois de abrir uma janela para deixar sair a fumaça


antes que sufocasse, Ari pegou uns jornais que reuniu
durante toda a semana e começou a abanar a fumaça para
fora. Quando a fumaça se elevou para o céu, a consciência de
que estava rejeitando uma oportunidade de cem mil dólares
ao ano, começou a afundar e suas esperanças de que sua
mãe pudesse receber os cuidados necessários, estavam agora
caindo aos pedaços.
Ari deixou de abanar o ar e soltou os jornais sobre a
mesa, passando um dedo ao longo das dobras para esticá-las
e poder procurar na seção de anúncios de novo. Deve ter
deixado algo passar. Deve ter um trabalho por aí a
esperando, tinha que haver. Simplesmente não estava se
esforçando o suficiente para encontrá-lo.

Três horas de busca e vinte e cinco ligações mais tarde,


Ari sentou-se no sofá e começou a chorar. No início apenas
nublou sua visão, mas não passou muito tempo até que as
lágrimas começaram a rodar por suas bochechas e a gotejar
pelo queixo.

A situação parecia sem esperança.

O que faria?

Depois de se permitir desafogar durante meia hora, Ari


secou a última de suas lágrimas quando o telefone soou. Sua
cabeça girou enquanto contemplava o artefato como se fosse
um salva-vidas a ponto de salvá-la em meio de um mar onde
os tubarões estavam dando voltas lentamente cada vez mais
perto dela.

— Diga? — A voz de Ari estava cheia de esperança.


Tinha que ser alguém que ligasse da parte de algum dos
trabalhos que enviou seu currículo, alguém que dissesse que
sua empresa precisava dela imediatamente. Isso ou um dos
muitos cobradores que ligavam sem cessar para cobrar as
dívidas que contraiu.

— Poderia falar com a senhorita Harlow?


— Sou eu. — Possivelmente é um empregador, pensou
positivamente.

— Eu sou do Centro de atenção Clover. Sua mãe foi


transferida para o Hospital Geral de São Francisco. Poderia ir
para lá imediatamente?

— Está tudo bem com minha mãe?

— Senhorita Harlow, seria melhor se pudesse sair agora


mesmo e chegar ao hospital rapidamente. Eles responderão a
todas suas perguntas assim que chegar.

Ari permaneceu sentada em silêncio por um momento


enquanto se obrigava a respirar profundamente. Algo ia mal
com sua mãe. Estava sendo egoísta em não querer saber.
Depois do dia que teve, não podia suportar receber mais
notícias ruins.

— Sim, é obvio. — Respondeu de forma automática


antes de desligar.

Com os ombros caídos, pegou sua bolsa e saiu do


apartamento. Sua mãe sempre disse que não deixasse para
amanhã o que se podia fazer hoje. Era uma frase parecida
com as de Benjamin Franklin1, o homem era um de seus
heróis. Esse provérbio se aplicava para o bem e para o mal.
Inclusive agora, com essa notícia terrível, seria melhor passar
por isso o quanto antes.

Entrou em seu carro e fez o percurso de trinta minutos


ao hospital, reunindo toda coragem que pôde para o que
encontraria depois de sua chegada.
1. Foi um editor, jornalista, filantropo, autor, político, abolicionista, funcionário público,
cientista, diplomata, inventor e enxadrista americano. Tem muitas populares, está é uma delas.

Entraria apenas para que dissessem que sua mãe não


aguentou mais e faleceu?

Ela sabia que planejavam enviá-la a um centro do


estado e se isso ocorresse, nunca receberia o tratamento que
precisava. Ari já não sabia o que pensar. Não sabia se seria
capaz de suportar o que fosse que tivessem que lhe dizer.

Quando Ari saiu de seu carro, ouviu vozes cantando e se


perguntou o que estaria acontecendo. Quando se aproximou
da porta principal do hospital, havia uma multidão de
manifestantes que bloqueavam a entrada. Precisava passar
entre eles, mas odiava ter que fazê-lo enquanto eles agitavam
os cartazes com mau humor.

— Não apoie sua cobiça! Encontre outro hospital! —


Gritavam enquanto ela se aproximava. Com a cabeça curvada
passou entre eles, sentindo que algo a golpeava no braço. Não
se atreveu a olhar, temerosa que se fizesse contato visual com
alguém, pudessem atacá-la diretamente. — Traidora! — Foi a
última coisa que ouviu antes de chegar à segurança da
entrada do hospital.

— Senhorita Harlow, obrigada por vir tão rápido. Peço


desculpas pelo transtorno na entrada. O hospital teve cortes
e temo que haja vários funcionários que se incomodaram
bastante. Uma vez mais, sinto que tenha que suportar isso,
mas temos notícias sobre sua mãe e precisávamos que viesse
imediatamente. Ela... ela despertou.

Ari levou um momento assimilando as palavras da


enfermeira. Sua mãe estava acordada. Saiu do coma. Ari
sentiu a escuridão superar a visão enquanto olhava a mulher
diante dela em estado de choque. Não podia perder a
consciência. Ela lutou com tudo o que tinha.

Estava tão exausta, tanto física como mentalmente, que


a inesperada notícia era quase demais para digerir.
Acreditaria nisso até que realmente pudesse ver sua mãe,
mais que qualquer outra coisa, Ari precisava ouvir sua voz
querida. Ninguém mais poderia consolá-la como sua mãe,
precisava dessa mulher que esteve com ela nos bons e nos
maus momentos.

Ari finalmente entendeu perfeitamente por que parecia


não ter mais força para passar por isso. Ela tentou enfrentar
tudo isto sem sua mãe. Nunca antes percebeu o quanto
sempre se apoiou nela. Nunca antes a perdeu e voltou a
recuperar.

— Por favor. Onde está? — Perguntou sem fôlego, as


palavras logo que passaram de sua garganta.

— Por aqui.

A enfermeira se virou e começou a conduzir Ari por um


labirinto de corredores, para a unidade de cuidados
intensivos. Quando chegaram à porta do quarto de sua mãe,
teve medo de girar a maçaneta.
Por um momento, pensou que abriria a porta e que tudo
seria uma cruel brincadeira. Suas esperanças se
desvaneceriam e teria que lutar com a dor de perder a pessoa
mais importante de sua vida de novo.

— Espere uns minutos se precisar antes de entrar. —


Falou a enfermeira antes de deixar Ari sozinha para que
pudesse fazer frente a todas essas emoções tão fortes.

Com uma profunda respiração, Ari abriu a porta e


entrou. Encontrou sua mãe sentada na cama, com um
aspecto muito frágil, mas com seus belos olhos verdes
abertos. Ari piscou apenas para assegurar-se de que não
estava vendo coisas.

— Mamãe?

—Ari! Venha se sentar comigo. —Respondeu sua mãe


suavemente enquanto um pequeno sorriso iluminava seu
pálido rosto. Ari não precisou de mais nada. Correu até sua
cama e abaixou para sentir o calor envolvente dos braços de
sua mãe ao redor dela uma vez mais e se deleitou com a
satisfação do abraço que compartilharam.

— Senti tanto sua falta, mamãe. Sinto muito ter ligado


naquela noite. Sinto muito que sofreu um acidente. — Ari
soluçou enquanto sua mãe a acariciava confortavelmente.

— Oh, Ari. Não pode se culpar por isso. Coisas ruins


acontecem o tempo todo. Nada disto é sua culpa.

— Sim é. Se não tivesse ido a essa festa e não tivesse me


embebedado. Se não a tivesse chamado, então nunca teria
estado lá. — Soluçou.
— Os médicos dizem que estive em coma durante seis
meses. Isso é muito tempo para que esteja levando o peso da
culpa sobre seus ombros. Não importa o que aconteça
comigo, quero que viva sua vida ao máximo. Não é sua culpa
que tive o acidente.

— Diz isso porque é minha mãe, mamãe. Está no


manual dos pais terem sempre que dizer coisas a seus filhos
que façam com que se sintam melhor, mas tenho vinte e três
anos, não quinze. Deveria ser mais responsável.

— Não importa o que faça. Você sempre será minha


menina. Realmente teria ficado muita aborrecida se estivesse
com problemas e não me ligasse. Fiquei muito preocupada
com você essa noite, mas também fiquei feliz em ver que
estava se divertindo um pouco. A vida passa muito rápido
para não se permitir a ter alguns enganos. Não precisa fazer
sempre as coisas que tem previsto até o último detalhe.
Precisa viver.

— Não sei como. —Disse Ari, sem ainda estar consciente


que estava falando com sua mãe.

— Oh bebê, você sempre fez a coisa certa. Precisa


cometer enganos de vez em quando. Às vezes, em nossas
vidas, os melhores resultados se conseguem dos piores
enganos. Não sabemos por que acontecem as coisas. Não
pode culpar a si mesma porque tive este acidente. Pode ser
que na realidade tenha salvo minha vida. Nunca se sabe as
razões que há por trás das coisas. Talvez se estivesse em
casa, um ladrão entrasse e atirasse ou o que teria acontecido
se fosse ao supermercado de carro e um rapaz passasse sem
aviso na minha frente e eu o tivesse atropelado? Não
podemos sofrer pelo que aconteceu, apenas podemos dizer
obrigada por não ser pior do que foi.

— Precisei de você tanto nestes últimos meses, mamãe.


Ninguém pode me fazer sentir melhor. Por favor, não me
deixe nunca. Não importa o tempo que leve para se
recuperar, por favor, não vá. Amo você.

Ari se jogou nos braços frágeis de sua mãe e prometeu


que nunca a soltaria novamente. Podia passar por tudo,
sempre e quando tivesse sua mãe junto a ela.

— Senhorita Harlow, podemos falar com você um


momento?

Ari se sentou e virou para ver um médico de pé na porta.


Seu estômago se contraiu com ansiedade quando viu sua
expressão um tanto sombria. Ari não acreditava que fosse
gostar do que estava para lhe dizer. Enquanto olhava sua
mãe, encontrou a força adicional que precisava. Nada disso
era insuperável, sempre e quando tivessem uma à outra.

— Volto em seguida mamãe.

— Tome seu tempo, querida. Estive acordada durante


um momento e estes medicamentos para a dor estão me
dando sono. Acredito que dormirei um pouco.

Ari saiu do quarto, mas apenas ao pensar que sua mãe


dormisse de novo... oh, não. E se não voltasse a despertar até
dentro de outros seis meses? Teria que passar provavelmente
meses, talvez inclusive anos, antes que ela não sentisse medo
cada vez que sua mãe fosse dormir. Ari sabia que não podia
viver dessa maneira, mas seu coração irracional não entendia
as razões.

Dado que não tinha outra opção, Ari arrastou os pés


pelo corredor atrás do médico até que chegaram a uma
pequena sala de conferências, onde vários homens vestidos
de terno estavam sentados ao redor de uma mesa. Isto não
podia ser bom.

— Obrigado por reunir-se conosco, senhorita Harlow.


Estamos felizes por sua mãe acordar do coma. Como se
sente? Sabemos que este tipo de tragédia frequentemente
pode ser mais difícil para os entes queridos que para os
pacientes.

— Fui levando pouco a pouco. Tudo foi muito difícil. —


Respondeu Ari com cautela, desejando que o homem fosse
diretamente ao ponto. Não queria conversar. Precisava estar
com sua mãe.

— Lamento muito. Gostaria que pudéssemos atrasar


isto um pouco, mas dada a enfermidade de sua mãe, o tempo
é primordial.

— Atrasar o que?

— O último exame de sua mãe mostra que tem um


câncer terminal em seu útero. Temos que operá-la
imediatamente, se é que tem alguma possibilidade de
sobreviver, sinto muito dizer. Tendo chegado a este ponto,
suas possibilidades são insignificantes, menos de dez por
cento e isso seria com o tratamento mais agressivo.
O médico fez uma pausa, dando a Ari tempo para que
pudesse assimilar suas palavras. Estavam dizendo que era
melhor que a operassem ou não? Parecia dizer que perderia
sua mãe, não importasse o que. Por isso tinha tanto medo de
se iludir.

— Chamamos porque sua mãe não tem nenhum seguro


médico e esta operação é um procedimento caro. Dado que
não se trata de uma cirurgia de emergência, não se pode
programar até que os acertos do pagamento sejam feitos.
Estamos aqui para ajudar a conseguir o financiamento,
solicitar empréstimos, doações, o que seja necessário. Não
vamos deixá-la sozinha, mas precisamos contar com um
financiamento antes de operar.

Ari terminou de se afundar por completo. Tudo se


reduzia ao dinheiro, o que não tinha. Os homens
continuaram falando, mas ela já não ouvia nada mais.
Acabava de cair em um poço fundo e escuro. A única forma
que tinha de escapar ao que parece, era aceitar o trabalho
como amante de Rafe Palazzo.
— Já tomou uma decisão, senhorita Harlow? — Rafe
disse que me daria até o dia seguinte para tomar minha
decisão. Mas não podia esperar mais tempo. Com a culpa do
que aconteceu com minha mãe vagando por minha mente,
tampouco podia me dar o luxo de prolongar mais.

— Sim, vou aceitar o.... trabalho. — Ari sussurrou no


telefone. Acabou de se sentar no sofá de casa quando soou o
telefone e ouviu Raffaello Palazzo do outro lado da linha.

— Fico muito feliz em ouvir isso. Enviarei um carro


agora mesmo até sua casa para que possamos discutir sobre
os pequenos detalhes. —Ele disse justo antes que ela
percebesse que desligou.

O homem não concedeu nenhum direito de replicar,


nem dizer que já tinha outros planos. Ari ficou olhando o
telefone antes de desligar lentamente. Sabia no que estava
entrando, certo? Uma vez que começasse a trabalhar para
ele, sempre seria assim. Daria uma ordem e esperaria que a
seguisse, fosse qual fosse.

Sim, disse que não bateria nela e nem infringiria a lei.


Honestamente esperava que com isso tivesse algum tipo de
conforto? Meu espírito seria quebrado, mas isso não me
importava.
O pálido rosto de sua mãe apareceu ante seus olhos.
Podia fazer isto. Podia fazer algo pela mulher que lhe deu
tanto.

Não se incomodou em tirar sua calça larga e a enorme


camiseta. Se não gostasse da roupa, poderia rescindir sua
oferta de trabalho. Assim, pelo menos não se sentiria culpada
por rejeitar o trabalho. Estaria fora de seu alcance. Justo
quando estava a ponto de entrar em pânico e mudar de
opinião, colocar um vestido e um salto alto, soou a
campainha

De repente, lembrou que nunca colocou seu endereço


em seu pedido de emprego, deu apenas uma caixa postal
antiga. Entretanto, não a surpreendia que ele soubesse onde
vivia. Estava segura de que o homem já fez uma investigação
completa sobre tudo relacionado a ela. Não parecia o tipo de
homem que se comprometia com algo às cegas. Chegando a
este ponto, provavelmente a conhecia melhor do que ela
mesma.

Abriu a porta para encontrar com o senhor Mario


Kinsor, a pessoa com quem teve sua primeira entrevista, de
pé na sua frente, impecavelmente com o mesmo sorriso em
seu rosto que antes.

— Fico feliz em vê-la novamente, senhorita Harlow. Se


estiver preparada, tenho um carro esperando.

Percebi que sabia do que se tratava o trabalho. O rosto


de Ari ficou levemente rosa enquanto o seguia pela escada até
a porta detrás do Bentley, que parecia tão fora de lugar no
seu miserável bairro. O homem devia pensar nela como uma
vagabunda ou uma mendiga. A ideia era mortificante.

Segurou a porta e entrou rapidamente, sem se atrever a


olhar nos olhos de seu acompanhante. Não tinha ideia de
como faria isto. Era degradante. Os muitos empregados do
senhor Palazzo tinham que saber que ele contratava suas
amantes da mesma maneira que contratava o restante de seu
pessoal.

Nunca seria capaz de olhar nenhum deles na cara.


Provavelmente seus colegas de trabalho também sabiam?
Estaria em um estado de infinita vergonha todo o tempo?
Zombariam dela?

O que aconteceria se ele a rejeitasse? Sempre teria essa


humilhante marca sobre ela. Inclusive se conseguisse voltar
para a universidade e se tornasse professora, as pessoas
saberiam. Seus próprios alunos poderiam estar a par que
uma vez foi uma prostituta de luxo. Não via como terminaria
alguma vez com sua vergonha, mas com sua mãe morrendo,
que outra opção tinha?

Trabalhou tão duro para fazer algo com sua vida, para
estar sempre na parte superior de sua classe, estudou duro,
renunciando a sair com rapazes, evitando ter uma vida social
diferente de muitos outros estudantes do ensino médio e
universitários. Trabalhou com todas suas forças para ficar
orgulhosa de si mesma e agora tudo se reduzia a se converter
na amante de um homem.
Não estava acostumada a sentir muita compaixão pelas
pessoas que não estavam de acordo com seus altos padrões.
Cada vez que tentava olhar além da imagem preconcebida
que fez das pessoas, nunca via complexidades nem
circunstâncias atenuantes. As pessoas que eram vítimas,
eram porque deixavam que se aproveitassem delas, não?
Estava descobrindo que o mundo não era tão branco nem tão
preto como sempre o viu de seu privilegiado ponto de vista.

Se sua mãe recebesse a atenção que precisava e se


curasse, tudo teria valido a pena, inclusive Ari não voltaria a
olhar nunca mais em um espelho. Por fim podia entender por
que as pessoas desesperadas tomavam decisões
surpreendentes.

— Já chegamos. — Disse o senhor Kinsor, tirando-a de


seus pensamentos.

— Obrigada. — Murmurou Ari enquanto saía do carro e


olhava para o vidro privado do exclusivo restaurante. Seu
estômago começou a revirar enquanto seguia o senhor Kinsor
para dentro, mais à frente do saguão e diretamente a uma
área isolada.

Sentado à mesa belamente preparada, estava Rafe,


muito bonito com um terno Armani preto e uma gravata
vermelha brilhante. Quando entrou pela porta, ele se
levantou e se dirigiu para sua cadeira. Provavelmente ser sua
amante não seria tão ruim como imaginou, tentou dizer a si
mesma. Não se importaria em sofrer para fazer sexo com ele,
não era como se tivesse algum desejo de encontrar alguém
em um período curto de tempo, por isso podia pensar nisso
como um ato para pegar prática para quando conhecesse seu
futuro marido.

— Por favor, sente-se, Arianna. Tomei a liberdade de


pedir.

— Obrigada. — Um sentimento de irritação cobriu seu


crescente pânico ao ouvir o tímido som de sua própria voz. Já
estava começando a não reconhecer a si mesma. Realmente
foi tão longe? Cometeu um grande engano, um! Até aquela
festa foi uma garota exemplar, tirou as melhores notas e era
sempre responsável em todos os aspectos de sua vida.
Jamais se esgueirou por uma janela por chegar tarde em
casa, nunca usou drogas, nem ficou grávida, como tantas
outras fizeram.

Inclusive na universidade, nunca mudou, colocando


sempre seus estudos em primeiro lugar, visitando sua mãe
frequentemente e se mantendo fiel à linha que esboçou para
ela quando tinha treze anos.

Sua mãe não gostaria que fizesse isto, não gostaria que
caísse ante o primeiro obstáculo.

— Leu toda a papelada e agora compreende bem no que


consiste o trabalho? Se for assim, posso encaminhá-la ao
Departamento de Recursos Humanos para que preencha toda
a papelada necessária e começará imediatamente.

Ari ficou ali enquanto tentava abrir a boca e dizer a


simples aceitação. Tudo o que tinha que fazer era dizer que
entendeu tudo e assim poder começar seu novo trabalho
imediatamente. Poderiam falar sobre os detalhes enquanto
compartilhavam uma boa comida.

— Não. — Ari ouviu a si mesma dizer a palavra, mas não


pôde acreditar. Assombrada, levantou-se de seu assento e
ficou ali, olhando. Tinha a intenção de dizer que sim, servir a
si mesmo em uma bandeja. Não podia acreditar que estava
rejeitando um homem que oferecia a ela e a sua mãe a
oportunidade de escapar de sua desesperada situação.

Ficou em silêncio, entorpecida, enquanto a perplexidade


cruzava as feições do senhor Palazzo. Olhou-a como se nunca
antes tivesse ouvido a palavra não. A imobilidade de ambos
era asfixiante quando um garçom entrou e colocou os pratos
sobre a mesa antes de sair rápido, do lugar onde imperava a
tensão.

— Disse que sim por telefone. Pensei que o assunto


estivesse resolvido. —Respondeu Rafe com calma. Pegou a
taça de vinho e pouco a pouco tomou um gole do líquido
vermelho escuro, enquanto ela permanecia sem jeito de pé a
uns metros de distância.

Ari finalmente moveu a cabeça, olhando ao seu redor,


tentando encontrar o senhor Kinsor, mas o homem foi
embora. Teria que encontrar outra forma de voltar para casa.
Estava muito longe para ir andando.

Ao observar como Rafe engolia, percebeu o nó que deve


ter se formado em sua garganta quando o liquido deslizou
brandamente para baixo. Como se pudesse ver através de
seus olhos, notou uma vez mais quão bonito e seguro de si
ele era. Por que contratava uma amante? Como disse em seu
edifício de escritórios, havia uma fila de mulheres
mendigando para ser a escolhida e ficar pendurada em seu
braço.

Ele deve ter percebido que ela não queria fazer isto,
inclusive antes da negação, então por que passar por tudo?
Entenderia um pouco mais se fosse um homem tirano e
desagradável, insuportável e horrível. Com sua pele
azeitonada e bonita, um leve sotaque italiano, essa incrível
confiança em si mesmo, ela não via nenhuma razão para ter
que fazê-lo. Em outras circunstâncias, em outro universo,
poderia inclusive se sentido decepcionada por não sair com
ele.

Era óbvio que ele não estava procurando namorada, não


queria sair com ninguém. Queria uma mulher que fizesse sua
vontade, que estivesse a sua inteira disposição, que caísse a
seus pés e realizasse todo tipo de perversão e retorcidos
favores sexuais. Definitivamente, ela não era o que estava
procurando.

Os próprios joelhos de Ari ficaram instáveis enquanto


ambos prolongavam seu enfrentamento, por isso pouco a
pouco se deixou cair novamente em sua cadeira. À medida
que o olhar de Rafe se fixava nela, Ari tomou ar, pegou a taça
de vinho tinto e tomou um gole, concedendo um minuto para
pensar. Não sabia por que era importante que dissesse algo,
mas precisava fazê-lo.
— Pensei que pudesse fazer isto, vender meu corpo pelo
bem de minha mãe, mas estava enganada. Planejei dizer que
sim, estava decidida a aceitar a posição e me acostumar a
ela. Não tinha nem ideia de que diria não até que a palavra
saiu de minha boca. Estou um pouco desesperada neste
momento, mas acho que na realidade ainda tenho um pouco
de orgulho.

Ari viu como seus olhos se estreitavam perigosamente.


Ela não estava tentando insultá-lo, mas parecia como se o
tivesse feito. Parecia ser o tipo de pessoa que seria melhor
não incomodar quando está caminhando perigosamente a
seu lado perto de um penhasco.

De repente, não se importou. Sentiu como a euforia se


extinguia de seu até então presente medo, enquanto tomava
outro gole e o olhava nos olhos dele. Poderia ter todo o
dinheiro do mundo e inclusive podia ter mais poder que o
Presidente dos Estados Unidos, mas continuava sendo um
homem. A conclusão era que não podia obrigá-la a nada -
não importava quem fosse.

Se estivessem em algum país estrangeiro, ele poderia


atirar nela ali mesmo sem se importar com as consequências,
mas estava ali, na terra da liberdade, onde se sentia salva.
Sentir como se na verdade tivesse uma escolha, lhe dava
esperança. Tomou a decisão correta.

Negava-se a ser alguém que não era. Nunca pensou em


sair com um homem tão surpreendente e sofisticado como
Rafe – nunca em sua vida. Se casaria com um contador ou
um bombeiro. Teria uma pequena casa com um jardim, com
grama que precisaria ser cortada, dois meninos brincando em
uma piscina e um cão. Não era uma garota que queria jogar
jogos sexuais com um magnata experiente e mundano.

Ela terminou seu vinho e se sentiu aliviada por seus


joelhos deixarem de tremer. Já era hora de ir embora, assim
se levantou novamente. Não havia nenhuma razão para que a
conversa continuasse. Disse que não. Não devia nenhuma
explicação. Ari pegou sua bolsa quando sua mão deslizou
para cima e segurou seu braço.

— Esta conversa não terminou Ari. Descobri com os


anos que cada mulher tem um preço. Será apenas questão de
tempo até descobrir exatamente qual é o seu. — O poder
tácito em sua voz e o movimento controlado de sua mão
enviou um arrepio por suas costas. No que se colocou por ter
ido a essa entrevista? Desejava não ter visto jamais o
anúncio.

Este infeliz e iludido homem pensava que sabia tudo


sobre o mundo, mas ainda tinha muito para aprender. Nem
todas as mulheres estavam à venda, nem por todo o dinheiro
que existia. Apesar de pensar que poderia fazer isso,
valorizava mais a si mesma do que percebeu. Deixaria que
pensasse o que quisesse, mas ela não seria comprada - por
mais dinheiro que oferecesse.
Rafe olhou com surpresa quando sua mão segurou o
delicado braço de Ari. Foi empurrado fora de sua indiferença,
e não estava disposto a deixá-la sair do restaurante. O que
mais o surpreendeu, foi que estava se divertindo com essa
situação. Ser rejeitado por esta complicada mulher o
intrigava.

O que deveria fazer era desejar que ela tivesse um bom


dia, comer em silêncio e voltar para casa. Seu assistente
simplesmente chamaria a seguinte mulher na lista. Era fácil -
não seria nenhuma complicação. Por que então segurava a
mulher pelo braço? Por que não a deixava simplesmente sair?

Provavelmente porque não se lembrava da última vez


que foi questionado - por uma mulher ou por qualquer outra
pessoa. Todo mundo praticamente se inclinava a seus pés.
Não foi até este momento que percebeu o quão entendido
estava com tudo isso. Parecia ter conseguido tudo o que
queria e agora apenas contemplava seus êxitos com o mínimo
de esforço.

Obviamente, precisava de mais desafios em sua vida se


a negativa de uma mulher causava mais emoção que uma
nova fusão multimilionária.
Entretanto, não havia nada que pudesse fazer se ela não
quisesse aceitar o emprego. Nunca forçaria uma mulher a
ficar com ele e não tinha nenhum desejo de desperdiçar seu
tempo cortejando uma amante.

Mas não era tão simples quando se tratava de Arianna


Harlow. Realmente podia se imaginar inclinando a garota por
cima do ombro, levando-a até seu carro, sua casa, onde a
colocaria em sua cama e a devoraria até o amanhecer.

Um sorriso de lobo se estendeu lentamente por seu rosto


ao pensar em fazer precisamente isso. Rafe tinha a sensação,
entretanto, de que uma noite não seria suficiente para saciar
seus desejos - não com esta mulher. Era possível que
simplesmente passou-se muito tempo desde sua última
amante. Seu desejo por Arianna não era provavelmente mais
que o resultado de sua frustração sexual.

— Sente-se. —Ordenou e viu como ela estremecia. Bom.


Não tinha nem ideia de quem era realmente. Tudo isto era
um jogo para ele, nada mais - e não podia perder. Não estava
em seu DNA.

Rafe observou enquanto as emoções cruzavam o rosto


de Ari e a garota olhava sua mão. Viu o tremor de seu corpo,
sabia que também estava afetada por ele. Talvez não gostasse
de suas regras, mas Ari o desejava. A pergunta era - o que
estava disposto a fazer para conseguir que ela admitisse?

Nada!

Não a perseguiria. Ele apenas queria terminar sua


refeição. Ao menos, isso foi o que disse a si mesmo. Tratava-
se simplesmente de um jogo que queria ganhar, não de um
sério desejo de estar com essa mulher.

— Acho que uma refeição grátis pela primeira vez em


minha vida não seria tão ruim. — Respondeu ela depois que a
pausa ficou incomodamente longa. Puxou a mão de seu braço
para lembrar que ainda a estava agarrando.

Rafe a soltou e percebeu que seus dedos deixaram um


leve tom vermelho na suave pele de cor marfim. A visão fez
com seu corpo respondesse, iniciando o desejo em seu ventre.
Normalmente, precisaria muito mais que a marca de seus
dedos em uma mulher para que seu pulso se acelerasse.

Ela o intrigava cada vez mais e mais, embora não


pudesse determinar exatamente por que. Sim, era linda, mas
a beleza não era uma raridade em seu mundo. Qualquer
mulher com quem cruzava era impressionante.

Enquanto Ari permanecia sentada com cautela à sua


frente, pegou a colher e começou a girá-la entre seus dedos
enquanto olhava sua sopa. Parecia bom, mas ...

O garçom demorou a aparecer com o segundo prato,


sushi artisticamente preparado. Rafe teve que reprimir um
sorriso quando ela enrugou o nariz ao ver as delicadas peças
de arroz, peixe cru e algas.

— Hum! Não, obrigada! — Disse Ari ao garçom e este


olhou para Rafe, como se não tivesse a mais remota ideia do
que fazer. Rafe tinha certeza que o jovem garçom nunca
devolveu a comida de seu luxuoso e exclusivo restaurante.
— Tudo bem, pode deixá-la. — Disse Rafe e o garçom
saiu. — Não rejeite até que tenha provado, dê uma
oportunidade. Isto aqui é um estranho manjar que dizem
acordar os... desejos de uma mulher. Ouviu falar alguma vez
do fugu1? — Quando ela negou com a cabeça, ele continuou.

— O fugu é mais conhecido nos Estados Unidos como


peixe globo. Se o chef não o preparar perfeitamente... pode
ser fatal. Essa é a emoção de comer.

— Por que comeria algo que pode me matar? —


Perguntou ela com exasperação, o olhando como se tivesse
perdido a cabeça.

Rafe pegou uma porção e o colocou na boca, sentindo a


delicada explosão de sabor arrastando-se por sua língua.
Estava acostumado à boa comida, mas ver o medo nos olhos
dela enquanto comia o sushi, fez com que o ato de comer
fosse quase erótico.

— Todos procuramos emoções, Ari. São poucos os chefs


que podem deixar somente um pequeno rastro do veneno
letal sobre os peixes, causando uma sensação de
formigamento nos lábios e na língua, o suficiente para
despertar os sentidos, embora não para matar. Essa pouca
emoção atrai às pessoas, faz com que queiram prová-lo e
tentar a sorte ...

1
Fugu, peixe que chega vivo ao preparo para não envenenar o cliente.
Cada palavra que dizia fazia com que ela fosse elevando
cada vez mais suas sobrancelhas e que franzisse cada vez
mais seus lábios. Seu expressivo rosto era encantador. Rafe
achava a mulher um pouco aborrecida, mas não podia negar
que sua inocência o fascinava. Gostava da forma como
colocava seus sentimentos sobre a mesa, a forma como tudo
o que pensava fosse como um livro aberto para ele.

Ela voltou a negar. — Não me importo. Não quero viver


no limite da emoção. Prefiro que meu corpo não sinta
nenhum formigamento.

Rafe não gostava de ser rejeitado uma vez, quanto mais


duas. Realmente deveria colocar fim a este jogo e afastar-se.
Entretanto, não estava disposto a reconhecer sua derrota no
momento. Por quê? Talvez fosse esse leve brilho em seus
olhos ou a forma como sutilmente ela estremeceu quando a
tocou, talvez fosse apenas porque queria que se submetesse a
ele.

Não sabia as respostas, mas por alguma razão, não


estava disposto a deixá-la ir. Não estava preparado para que
seu jogo terminasse. Ela se submeteria a ele primeiro. Uma
vez que estivesse disposta a fazer sua vontade, então se
aborreceria dela, como aconteceu com todas as demais.

— Jamais me rendo, Ari. Tudo seria muito mais fácil se


provasse a comida. Já viu que o fiz sem nenhum problema.
Ainda estou vivo. — A expressão no rosto dela parecia gritar
que isso não tinha porque ser necessariamente algo bom.
Quase o fez rir e teve que esforçar-se para ocultar sua
diversão.

Ele pegou a colher, jogou um pouco de molho sobre a


delicada iguaria e levou uma pequena porção até sua boca,
segurando o garfo para ela. — O molho ressalta seu sabor e
faz com que a carne fique muito agradável ao paladar.
Vamos... apenas prove uma vez. —Disse em um tom suave e
tentador.

Ela o olhou com receio, mas pode ver que estava


começando a ceder. Treiná-la poderia ser mais fácil do que
pensou a princípio. Ensinar poderia ser uma experiência
muito gratificante para os dois.

Duvidosamente, Ari abriu a boca, dando espaço


suficiente para colocar o garfo em seu interior. Colocou o
peixe transparente em sua língua, logo viu como seus lábios
se fechavam sobre ele enquanto tirava o talher lentamente.
Ari enrugou o nariz quando começou a dar voltas na boca,
mas logo seus olhos se abriram de prazer quando a explosão
de sabor dançou sobre sua língua. Terminou de mastigar
antes de pegar a taça de vinho e beber um gole.

— De acordo, não foi tão horrível, mas sem dúvida não


quero tentar novamente. Sentir medo de comer algo, é a
única advertência que preciso para não o fazer, embora o
sabor seja absolutamente indescritível. Provarei outros pratos
de sushi mais seguros. A ideia de comer peixe cru sempre me
assustou. — Disse voltando a enrugar o nariz, uma expressão
adorável que fez com que Rafe sorrisse.
— Bom, o fugu é o único peixe no prato que realmente
pode matá-la. Prove o rolo de Hamachi2 é feito com molho
amarelo3 na brasa e recheio de camarões. Acredito que o
achará refrescante.

Com um profundo suspiro, Ari comeu o delicado rolo e


sorriu. Ela não se queixou novamente enquanto terminava o
restante dos rolos. Uma vez que o prato ficou vazio, pegou
sua taça de vinho branco, desfrutando que a servisse uma
taça cada vez que o garçom trazia um novo prato.

— É o melhor vinho que provei em minha vida, não que


tenha muita experiência com o álcool. Minha mãe me
permitiu tomar uma taça em minha festa de formatura do
ensino médio e logo o provei algumas vezes mais quando saí
para jantar por aí, mas não sou uma perita em vinhos.
Depois de uma ruim experiência com a bebida, posso viver
perfeitamente sem ela. Entretanto, tenho amigos que
poderiam dizer o ano e o tipo de cada um destes vinhos. Esse,
sem dúvida, é muito melhor que aquela coisa horrível que me
deram na última vez que bebi.

Rafe encostou para trás enquanto ela balbuciava


nervosa durante vários minutos e descobriu que gostava do
som de sua voz, embora não entendesse a metade do que

Hamachi = Inada: — Olho de Boi de aproximadamente 40 cm.


2

3
O hamachi preparado na churrasqueira com molho amarelo.
estava dizendo. A conversa se concentrou em temas
mundanos, durante a meia hora seguinte, mas não se
aborreceu absolutamente. Em todo caso, estava mais
interessado nesta mulher que nunca.

Provaram outros pratos a mais e Rafe desfrutou da


emoção que invadia os olhos de Ari cada vez que serviam algo
novo e completamente desconhecido para ela. A garota parou
durante uns instantes enrugando o nariz para logo se
inundar naquelas criações artísticas e embora algumas delas
não fossem de seu agrado, provou cada uma ansiosamente.

— Obrigada, senhor Palazzo. Foi uma noite muito


agradável. Agora posso dizer que provei pratos que nunca
imaginei que provaria. Lamento que o.... o trabalho não tenha
funcionado, mas não posso dizer que a noite foi um fracasso
total. Na realidade, afastou minha mente das preocupações
durante um longo momento. Entretanto, o mundo real me
espera e tenho que voltar para ele.

Rafe sentiu uma pequena faísca de irritação porque ela


não o chamava por seu nome, inclusive depois de ter
compartilhado a comida com ele, mas engoliu seu mal-estar
enquanto se levantava e a ajudava colocar a jaqueta.

Enquanto suas mãos deslizavam por seus ombros,


sentiu uma agitação já muito conhecida em seu corpo.
Percebeu que queria explorar suas ocultas curvas, tocar sua
suave pele e descobrir se ela tinha um gosto tão bom como
seu cheiro.
— Também passei um bom tempo, Ari. Talvez quisesse
reconsiderar minha oferta de trabalho. —Sussurrou enquanto
se inclinava para que seu fôlego esquentasse sua nuca. O
homem se sentiu satisfeito ao ver sua pele reagir - seu corpo
era incapaz de ocultar o prazer que suscitavam suas carícias.
Rafe não pode resistir à tentação de inclinar-se e morder
levemente a delicada pele de seu pescoço antes de passar a
língua por ela, fazendo com que se apoiasse contra ele
momentaneamente.

Antes que pudesse envolver seus braços ao redor dela e


pressionar seu duro corpo contra seu suave traseiro, ela se
separou dele.

— Não. Isso não acontecerá. Obrigada novamente pelo


jantar, mas agora devo ir. —Insistiu enquanto saía do
restaurante.

Rafe lançou várias notas de cem dólares sobre a mesa e


logo se virou para seguir Ari. Ela saiu pela porta principal e
caminhou por um pequeno lance de escada na calçada, com
longos passos, quando ele a alcançou.

— Como voltará para casa, Ari? Meu assistente foi quem


a trouxe até aqui. Além disso, sempre acompanho minhas
entrevistadas até em casa. —Insistiu Rafe enquanto a
segurava pelo braço e a virava, desfrutando do olhar em seu
rosto.

— Isso não será necessário, Sr. Palazzo, já que não era


uma entrevista. Há um ponto de ônibus nesta mesma rua. —
Respondeu.
— Não é seguro que uma mulher ande sozinha durante
a noite. De maneira nenhuma permitirei que isso aconteça.

— Vivi nesta cidade durante toda minha vida e posso me


cuidar sozinha. Sei cuidar de mim mesma. —Disse enquanto
tentava se soltar de seu agarre.

— Tenho certeza de que sim Arianna, mas por que não


deixar que outra pessoa se encarregue de você por um
tempo? Sou muito bom com minhas mulheres. —Disse
enquanto a empurrava contra a parede de tijolo do
restaurante.

— Já tomei minha decisão. Precisa me deixar ir. — Sua


voz estremeceu quando seu olhar caiu sobre seus lábios.

Rafe tinha uma estrita norma de não beijar, mas


percebeu que queria devorar aqueles lábios rosados e
naturalmente grossos. Sentiu como se inclinava para ela à
medida que sua vontade se rompia em pedaços.

Exatamente antes de tomar seus lábios, um grupo de


adolescentes bêbados passou correndo e cambaleando e um
deles bateu em ambos, rompendo o momento. Ari conseguiu
se soltar dele e continuou caminhando pela calçada. Mas
Rafe se apoderou dela quando chegou ao ponto de ônibus.

— Estou começando a me cansar de persegui-la, Ari.


Disse que não vai pegar o ônibus e isso significa que não o
fará. Não tenho nenhum problema em fazer uma cena, mas já
que está falando em um volume incrivelmente baixo, suponho
que para você é um problema. Pode vir comigo de boa
vontade ou a agarrarei em meus braços, jogarei por cima do
meu ombro e a arrastarei de volta ao restaurante. Depende
de você. —Disse rispidamente.

Ari retrocedeu ante suas palavras. — Não se atreveria.


— Ofegou enquanto se afastava e olhava ao seu redor.

Algumas pessoas começaram a caminhar para eles. Rafe


viu o ônibus se aproximar a vários quarteirões de distância.
Ela não iria pegá-lo, não enquanto ele estivesse ali.

— Não apenas me atreveria, como apreciarei muito isso.


Contarei até três. Um... dois...

— Ok, ok, certo. Aceitarei sua estúpida ideia de me levar


para casa. —Ela cedeu quando as mãos dele começaram a se
aproximar. Ari se virou na direção do restaurante,
murmurando baixinho sobre os homens pomposos que
precisavam aprender a se controlar.

Um sorriso apareceu nos lábios do Rafe enquanto fingia


não ouvir. Ela não tinha nem ideia do autocontrole que na
realidade estava usando. Pensou em levá-la a seu
apartamento esta noite, devorá-la e abrir as portas de seu
mundo.

Rafe sabia uma coisa, no entanto, seus planos


mudaram. Não estava acostumado a ter que reconsiderar
suas decisões, mas podia fazer uma exceção de vez em
quando. E percebeu que se quisesse seguir com este assunto
com Ari, teria que fazê-lo. Poderia viver com isso.

Quando por fim ela aceitou entrar em seu carro, negou-


se a falar com ele. Não deu instruções e ele não se incomodou
em perguntar por elas. Ambos sabiam que era muito
consciente de onde vivia.

Viajaram em silêncio e ao chegar ao destino, Rafe


desacelerou para estacionar no escuro estacionamento. Ari
pulou fora do veículo, mas Rafe estava ao seu lado em
questão de segundos. De maneira nenhuma a deixaria
caminhar sozinha até sua porta. Viu que estava brigando
com suas chaves e logo lutando para abrir a porta. Fez umas
poucas tentativas, mas finalmente conseguiu entrar. Uma vez
que Rafe ouviu o som da fechadura, partiu.

Seria uma longa e dolorosa noite.

Uma mistura de irritação e emoção corria por ele


enquanto seguia para casa. Ari era diferente de qualquer
mulher que conheceu e decidiu nesse momento, que não a
deixaria escapar. Ele se arrependeria se a deixasse partir
tendo chegado a este ponto. Os dois poderiam experimentar
muitas explosões juntos - correção - os dois experimentariam
muitas explosões juntos.
Ari esperou que Rafe saísse com o carro e logo foi
rapidamente para seu carro. Precisava ir ao hospital ver sua
mãe. Estava grata pelo edifício ser a poucos quilômetros de
seu apartamento, já que seus joelhos tremiam e seu coração
pulsava com tanta força, que não seria apropriado estar ao
volante essa noite. Quando chegou ao estacionamento do
hospital, estremeceu.

— Fez o certo. Teve um jantar incrível com um homem e


não foi obrigada a vender meu corpo. Sim, ele te fez pensar
que sexo com ele poderia não ser tão ruim e o salário que
oferecia era a cereja do bolo, mas nada disso fez com que
aceitasse. Sim, fez o correto. Apenas se concentre nisso e
lembre-se que não está à venda. Certamente, não está
disposta a fazer o tipo de coisas que ele deve gostar de fazer.
— Ari falou durante um momento enquanto descansava a
cabeça contra o volante de seu carro.

Quando terminou de se repreender, desceu do carro e se


dirigiu através da escura garagem para o elevador,
agradecendo que não houvesse manifestantes na entrada.
Alguns eram francamente aterradores. Nunca antes se sentiu
incomodada por estar sozinha por aí durante a noite, mas as
advertências de Rafe despertaram nela uma sensação de mal-
estar que fazia com que ficasse ainda mais irritada com o
homem.

A porta abriu e ela entrou, tirando Rafe de sua mente


enquanto tentava ensaiar em silêncio o que diria a sua mãe.
Não se daria por vencida. Simplesmente teria que lutar ainda
mais para encontrar uma solução. De maneira nenhuma
deixaria que sua mãe se fosse, sem fazer tudo o que estivesse
em suas mãos. Precisava ter programas disponíveis que
ajudassem sua mãe a se curar. Os administradores do
hospital falaram de algo. Mas porra, ela dormiria em seu
carro se fosse necessário.

Com uma crescente determinação em cada um de seus


passos, caminhou pelo longo corredor até o quarto de sua
mãe e parou ante a porta para respirar profundamente. Não
podia permitir que sua mãe soubesse que havia algo para se
preocupar. Sua mãe a criou da melhor maneira que podia,
agora era sua vez de cuidar de sua mãe.

Abriu lentamente a porta, logo suspirou com alívio ao


ver que sua mãe estava dormindo. Isso daria mais tempo
para pensar antes de precisar conversar com ela. Sentou-se
na poltrona e esperou que sua mãe despertasse. Com as
luzes apagadas e as máquinas soando ritmicamente, Ari
rapidamente caiu num sono sem chegar mais perto das
respostas que estava procurando. Apenas se moveu quando
uma enfermeira entrou e a cobriu com uma manta.
— Ari?

Arianna despertou imediatamente ao ouvir a frágil voz


de sua mãe. Era preciosa, algo que pensou não ouvir
novamente. Não podia imaginar sua vida sem sua mãe sendo
parte dela.

Seu pai abandonou-as quando ela era muito pequena


para se lembrar e após isso, eram somente sua mãe e ela. Ela
não poderia sobreviver sem a mulher que a criou, ou ao
menos não queria fazer isso. Com quem compartilharia seus
triunfos e quem a abraçaria quando seu coração se partisse?

— Estou aqui, mamãe. — Ari se aproximou sua cadeira


junto à cama de sua mãe e apertou suavemente sua mão.

— Fico feliz, querida. Tenho certeza que a deixei muito


preocupada. Como a conheço e é obvio que sim, deve estar
comendo as unhas e se estressando com o acidente. Meu
trabalho é cuidar de você e não o fiz nestes últimos seis
meses.

— Mamãe, agora eu que tenho que me preocupar com


você, não o contrário. Sei que me disse que não deveria me
culpar, mas não posso evitar. Se não fosse àquela estúpida
festa e logo não tivesse ligado a altas horas da madrugada,
nada disto teria acontecido. Sei que me disse que deixasse de
me preocupar, mas isso está me comendo viva. Nunca
poderei expressar o quanto sinto. — Soluçou enquanto
inclinava sua cabeça e a apoiava sobre suas mãos unidas.

— Arianna Harlow, sabe quanto teria ficado zangada


com você se não tivesse ligado. Sou sua mãe e é minha
função protegê-la, velar por você e sua segurança. Pode ter
vinte e três anos, mas isso não significa que não é ainda
minha menina. Não sabe que morreria por você? Não há nada
que uma mãe não faria por sua filha.

— Mas eu estraguei tudo. — Ari soluçou.

— Ah querida, foi uma garota perfeita do momento em


que cheguei em casa do hospital com você em meus braços.
Raramente chorava, foi respeitosa, se esforçou tudo o que
pôde no colégio e sempre foi a filha que todos pais desejavam
ter. Somente estava vivendo sua vida, crescendo um pouco.
Não deixe que um pequeno engano cause tanto dano. Devo
voltar a dizer querida, que viva sua vida ao máximo e alcance
seus sonhos, sem se importar com o que me aconteça.

— Eu não sei fazer nada sem você. —Insistiu Ari.

— Isso não é verdade. Sei por que a criei e criei para que
fosse uma pessoa independente e tivesse êxito em tudo o que
se propusesse a alcançar. Você pode e fará tudo que seu
coração desejar. Se algo me acontecer, proíbo que chore
durante muito tempo. Isso me romperia o coração em mil
pedaços. Inclusive se tiver que ir deste mundo muito cedo,
sempre estarei com você, sempre cuidarei de você. Quero que
me prometa que não renunciará e se conformará com menos.
Viva a vida ao máximo, não indiferente como muita gente faz.

Ari olhou o pálido rosto de sua mãe, sem saber como


responder. Não podia prometer a sua mãe que seguiria com
sua vida - não poderia fazê-lo sem ela.

Era a primeira vez que sua mãe pedia algo que ela não
podia prometer.

— Falo sério, Arianna. Quero que viva sua vida por mim.
Chega de culpa. Chega de tristeza. Vamos falar de algo alegre.
— O rosto da mulher se iluminou quando perguntou. —
Como vai a universidade?

O sentido de culpa de Ari esteve a ponto de consumi-la.


Não queria dizer a sua mãe o quanto estava terrível sua
situação. O que aconteceria se soubesse de tudo? Talvez
entrasse em coma? Por outro lado, não podia mentir.

— Deixei a universidade por um tempo. Sabe que não


posso me graduar sem que esteja sentada na primeira fila me
animando. Não seria o mesmo.

— Oh, bebê. Sinto muito. Bom, agora já estou acordada


e estou muito bem, não importa o que digam os médicos.
Volte para a universidade e se forme. Você não é uma covarde
e já tinha escolhido a moldura para a foto da graduação.
Estou muito orgulhosa de tudo o que conseguiu.

— Oh, mamãe. — Ari começou a chorar quando subiu à


cama junto a ela. E sua mãe, embora ainda fraca, levantou o
braço e começou a acariciar seu cabelo, como sempre fizera
quando as coisas eram ruins. De algum jeito, isso fazia com
que tudo se sentisse melhor.

Aqui vai outra vez, Ari suspirou para si mesma. Depois


de todas suas boas palavras, estava se apoiando de novo em
sua mãe, como sempre e não ao contrário. Mas neste
momento não se importava. Neste momento, precisava que a
consolasse. Mas prometeu a si mesma que em poucos
minutos encontraria sua força interior e ajudaria sua mãe a
ter forças para fazer frente a sua terrível enfermidade.

Estar nos braços de sua mãe daria o que precisava para


seguir em frente durante as próximas semanas e meses. Ari
fez uma oração em silêncio enquanto as duas permaneciam
ali deitadas sem falarem nada.

Na tarde seguinte, Ari entrou em casa quando viu a luz


intermitente em sua secretária eletrônica. Jogou sua bolsa no
sofá e se obrigou a caminhar casualmente até a pia e pegou
um copo de água, permanecendo ali enquanto bebia
lentamente. Não podia afastar os olhos da luz vermelha de
alerta a apenas uns metros de distância enquanto a
impaciência se acumulava em seu interior.
— Não tenha ilusões. —Disse a si mesma. Muitas vezes,
recentemente, quando pressionou o botão, não ouviu a oferta
de trabalho que tanto esperava, a não ser as ameaças de
outro cobrador. A decepção sempre a deixava devastada.

Quando considerou que passou tempo suficiente,


aproximou-se da pequena caixa de cor negra com passos
deliberados, sem pressa. Sentou-se no sofá, pegou a caneta e
o bloco de papel e apenas então apertou o botão.

Para desgosto de Ari, o nervosismo trouxe a mesma


sensação de sempre e se apoderou de seu coração. Todas
suas reprimendas foram em vão e sabia que novamente
ficaria desolada. Sabia que o trabalho que estava esperando
não se materializaria para poder salvar sua mãe e evitar que
ela tivesse que viver embaixo de uma ponte.

— Senhorita Harlow, sou James Flander da Sunstream


Eletrônica. Revisamos sua solicitação e sentimos que é uma
forte candidata para nossa equipe. Por favor, nos ligue assim
que ouvir esta mensagem para que possamos marcar uma
entrevista quanto antes possível.

Ari logo que ouviu o restante da mensagem, precisou


repetir algumas vezes para poder anotar o número. Suas
mãos tremiam tanto que nem podia segurar o bloco de papel.

Esperando até que sua voz estivesse serena e firme, Ari


teclou o número do senhor Flander, pulsou a extensão e
respirou fundo várias vezes enquanto esperava que atendesse
o telefone.
Em questão de minutos, tinha uma entrevista marcada.
Um milhão de mariposas voavam em seu estômago enquanto
corria ao banheiro para tomar banho e se vestir. Seria seu dia
- podia sentir. Não se conformou em vender seu corpo. Tinha
que ter algum tipo de recompensa por isso.

Saiu do apartamento trinta minutos mais tarde e entrou


no carro, parando um momento para respirar profundamente
antes de dar partida já que suas mãos tremiam muito.

— Acalme-se. Não quer estragar esta entrevista. É


inteligente, segura de si mesma e feita para este trabalho.
Estava destinada a encontrá-lo. —Disse enquanto ligava o
motor e tirava o veículo do pequeno complexo.

Ao chegar ao centro de São Francisco, Ari encontrou o


estacionamento com assombrosa facilidade e se dirigiu para o
modesto edifício de cinco andares. Sunstream Eletrônica, era
responsável pela segurança de milhares de negócios e
residências na maior parte da Califórnia e todo o Estados
Unidos. Era uma empresa de êxito que oferecia grandes
benefícios e segurança trabalhista.

A vaga era para assistente, na realidade uma secretária


qualificada, mas não importava. Não importava ter que tomar
notas e escrever cartas o dia todo. Era um bom lugar para
trabalhar. Quando o elevador anunciou sua chegada, disse as
últimas palavras de um só fôlego: queixo para frente, ombros
retos, estômago para dentro. — Com isso, colocou um sorriso
em seu rosto e caminhou com confiança para a sala.
Com um passo decidido que esteve ausente durante
meses, Ari praticamente dançava pelo corredor do hospital.
Foi oficialmente contratada como assistente pessoal do vice-
presidente de Eletrônica Sunstream. Ganharia um bom
salário, o que traria a liberdade financeira que precisava para
pagar as faturas médicas de sua mãe. Podia sentir que sua
vida estava dando um giro de cento e oitenta graus. Poderia
inclusive voltar para a universidade e terminar seus estudos.

Com um grande sorriso em seu rosto, Ari virou uma


esquina e se chocou contra um corpo sólido com tanta força
que saltou e caiu disparada para trás, aterrissando com força
sobre sua bunda. A queda enviou uma aguda dor por todas
suas costas e seus óculos saíram voando. Antes que pudesse
se recuperar do impacto, apalpou por toda parte para poder
encontrar seus óculos até que sentiu quando alguém o
esmagava.

Ficou um pouco envergonhada quando o pegou e


observou de perto para ver se tinha conserto. Não era o caso.
Não que precisasse dele, na verdade, era apenas uma parte
da armadura que usava para se esconder, mas estava tão
acostumada a usar que se sentia nua sem eles.
— Sinto muito. —Ofegou enquanto tentava ficar de pé,
manobrando para evitar que as costas doessem mais ainda.

— Está bem?

O corpo do Ari congelou quando seus olhos viajaram


pelas deliciosas pernas de Rafe Palazzo. O que estava fazendo
no hospital onde sua mãe estava internada? Seguindo-a?
Quando encontrou com seus olhos, sua expressão de
preocupação fez com que se esquecesse de seu cóccix
machucado.

— O que está fazendo aqui? — Disse ela sem fôlego.

— Poderia perguntar a mesma coisa. —Respondeu


quando se virou para frente e passou as mãos por suas
pernas. — Pode se levantar?

Não se continuar me tocando dessa maneira, quase


disse antes de se segurar. — Estou bem.

— Tem certeza? Bateu com muita força. Não seria


melhor que visse um médico e fizesse uma radiografia? —
Afirmou Rafe, fazendo com que seu temperamento anulasse o
impacto que Ari sentiu ao vê-lo.

— Eu disse que estou bem. Apenas se afaste para que


possa ter espaço para me levantar. — Disse ela grunhindo.
Os lábios de Rafe se arquearam em um meio sorriso
enquanto permanecia ali parado e estendia a mão. Ela
pensou em ignorá-la, mas seu cóccix estava muito dolorido,
por isso a contragosto, colocou sua mão na dele e permitiu
que fizesse força para trás para levantá-la.
— Senhor Palazzo, está tudo bem, senhor? — Um
homem de terno perguntou quando chegou voando até eles.

Ari sentiu vontade de dizer, porra obrigada, estou bem,


mas conseguiu manter a boca fechada. Rafe não se chocou
com um peito tão duro como um muro e desabou no chão.
Era agradável ver o pessoal tão preocupado por ela! Supôs
que acontecia o mesmo sempre que alguém estava na
presença do Rafe Palazzo - todo mundo ficava invisível ante
sua grande presença.

— Não sou eu que acabou de cair ao chão. Talvez


devesse perguntar à senhorita Harlow. — Respondeu Rafe
com frieza.

Ari percebeu que estava derretendo levemente por este


homem de aço. Pelo menos, era humano o suficiente para
reconhecer que ela se machucou. Enquanto Ari permanecia
ali de pé sem jeito, olhando-o pela extremidade do olho, tinha
que admitir que era um homem realmente bonito. Não
deveria ter tão bom aspecto. Não queria ficar olhando para
ele.

— É obvio, senhor. Como se sente, senhorita Harlow?


Será melhor se déssemos uma olhada e nos assegurarmos
que não tenha quebrado nada na queda. —Disse o homem
enquanto se virava para ela com uma falsa simpatia
estampada no rosto. Ela teve que lutar contra o impulso de
revirar seus olhos diante dele.
— Estou bem, mas obrigada. Foi minha culpa. Não
estava olhando aonde ia. Ambos devem me desculpar. —
Disse enquanto se virava para seguir.

— Acho que não, Arianna. Você goste ou não, faremos


uma radiografia. Está mancando e deve ter machucado o
cóccix. —Disse Rafe enquanto se voltava para o pequeno
homem que estava junto a ele e exigia que trouxesse uma
cadeira de rodas.

Antes que Ari soubesse o que estava acontecendo, foi


sentada na cadeira e conduzida pelos corredores do hospital.
Não gostava em absoluto que decidissem por ela. Estava
segura de que não era mais que um grande hematoma que
acrescentaria uma cor à sua pessoa nos próximos dias.

— Senhor Palazzo, a cerimônia está a ponto de começar.


Posso me ocupar disto por você.

Para sua surpresa, Ari estirou o pescoço e virou a


cabeça para olhar Rafe, que empurrava a cadeira de rodas. O
olhar do homem estava fixo no funcionário do hospital, que
parecia suar muito.

— A cerimônia terá que começar sem mim. —Disse Rafe


como se não houvesse mais o que falar.

— Mas... você é o convidado de honra. Não podemos ter


uma cerimônia de abertura sem que o doador esteja presente.
— Disse o homenzinho com horror.

— Então suponho que terá que esperar. Penso em me


ocupar da senhorita Harlow. Nos deixe. —Rafe ordenou
enquanto empurrava Ari por uma porta e a fechava com
firmeza no rosto do homem. Ari quase sentiu pena por ele,
embora o tipo desse um pouco de medo.

— O que doou? — Perguntou Ari com curiosidade.

— Não é para tanto. —Respondeu ele em um tom


cortante.

— Se não é para tanto, por que não me diz o que é? —


Respondeu ela, cansada de não ter respostas com este
homem dominante.

— Alguma vez aceita que alguém diga não para você? —


Perguntou ele.

— Você é o que potencialmente me sequestrou. Apenas


estou tentando manter uma conversa educada. — Ari queria
que a deixasse em paz. Voltou a ser o homem de aço com
uma frieza tácita em seu rosto.

— Asseguro senhorita Harlow, que se a sequestrasse,


não seria para uma radiografia precisamente. — Parou e se
agachou diante dela para que os olhos de ambos estivessem
no mesmo nível.

Ari quase podia sentir o calor de seu corpo envolvendo-a


e odiava admitir, mas se sentia afetada por ele. Quase não se
importaria de diminuir a distância que os separava e
averiguar se seus lábios eram tão bons como parecia.

— Se continuar me olhando dessa maneira, encontrarei


um quarto privado e mostrarei exatamente do que estou
falando. — Arianna não sabia se suas palavras eram uma
ameaça ou uma promessa. Ela esqueceu de respirar
enquanto olhava profundamente aqueles olhos tão diferentes,
perdendo-se rapidamente neles.

Com um grunhido de irritação ou frustração – não sabia


qual – ele saiu da sala.

— Senhorita Harlow. Sinto muito que tenha caído.


Vamos nos assegurar que está tudo está bem.

Ari se virou para encontrar uma jovem alegre que


entrava pela mesma porta que Rafe saiu. À medida que seu
olhar caía na porta fechada, disse a si mesma que era um
verdadeiro alívio ele ter saído. Jamais teria que voltar a vê-lo.

Quando os resultados da radiografia chegaram,


mostravam que não tinha nada mais que um edema na área
do cóccix. Ari estava pronta para ir para casa e descansar.
Não teria a conversa com a mãe como previu inicialmente. A
médica disse que doeria ao se sentar durante uma semana,
mas que, depois disso, estaria bem.

Ari já esperava isso, mas imaginou que era melhor ter


certeza. Não podia culpar o senhor Palazzo nem ao pessoal do
hospital por quererem fazer exames. Eles não queriam que
alguém se contundisse em suas instalações para que logo
saíssem dali e apresentassem queixa contra o hospital - não
que ela fosse fazer uma coisa assim. Mas obviamente, eles
não a conheciam.

Ari deu graças a Deus quando a mulher saiu da sala e


teve um minuto a sós para se vestir. Esperava que Rafe não
estivesse ali quando saísse. Era um homem muito difícil,
sobretudo quando o que queria era manter distância dele.
Percebeu que provavelmente não se importaria em passar um
pouco de tempo com ele - bom, se não fosse tão incrivelmente
excêntrico.

Rafe estava esperando que Ari saísse da sala onde


estava. Sentia que era quase divertido passear pelos
corredores de um hospital, preocupado com uma mulher.
Honestamente, não podia se lembrar da última vez que
esperou por alguém.

Às vezes sentia vontade de estrangular Arianna Harlow,


mas no momento seguinte, queria encontrar a cama mais
próxima e ver se toda essa tensão sexual estava apenas em
sua cabeça ou se criariam vapor juntos. Culpava seu recente
estado de celibato, pelo incomum desejo por aquela mulher.
Além disso, o desafio sem dúvida o excitava mais. Não
planejou se encontrar com ela, mas não foi uma coincidência
desagradável.

Não deveria pensar em Ari como em nada mais que uma


conquista. Rejeitou-o e agora se propôs a não parar até
conseguir o que desejava, para assim poder devolver o favor -
e poder recuperar o controle.
Estava muito grato por suas irmãs não estarem perto.
Os membros de sua família eram os únicos no mundo que
podiam dominá-lo, que podiam fazê-lo agir como um ser
humano decente. E ele não queria ser um ser humano
decente neste momento, queria se afundar profundamente
dentro da senhorita Harlow até que ela gritasse seu nome.

Justo quando começava a dar outro passeio pelo longo


corredor, a porta da sala de exames se abriu e Ari saiu,
olhando com surpresa e temor ao perceber que ele ainda
estava ali. Bem... Sem dúvida, Rafe queria intimidá-la um
pouco com sua presença. Queria uma amante que o
respeitasse não uma namorada que o adorasse.

— Está tudo bem? — Perguntou quando parou alguns


metros na frente dela.

— Estou bem. Não era necessário que me esperasse.

— É obvio que esperaria você. Se machucou por minha


culpa. Está segura de que está tudo bem ou simplesmente
está me dizendo isso para que me conforme e vá?

— Meu cóccix está machucado. Fora isso, estou bem.


Agora tenho que ir. —Disse rispidamente enquanto se
afastava.

— Gosto da maneira como seus expressivos olhos e sua


incrível luz dizem muito mais sem esses absurdos óculos
enormes. Não volte a colocá-los. — Rafe ficou um pouco
surpreso por suas palavras, mas sentiu que valeu a pena
quando seu rosto ficou ruborizado e olhou para baixo.
Colocando a mão sob seu queixo, levantou a cabeça até
que seu olhar se encontrou com o dele.

—Estive imaginando como seria ter você, deitada sob


mim enquanto a faço gritar de prazer. Está consciente de que
isso acontecerá?

As palavras de Rafe a pararam abruptamente. Quando


ela não se virou, uma emoção começou a agitar dentro dele.
Aceitaria sua oferta? Não tinha certeza de que o faria ou não.
Se o fizesse, então seu jogo terminaria muito
prematuramente. E ele não estava preparado para que
acabasse.

Finalmente, ela esboçou um sincero e grande sorriso,


que quase o fez cambalear para trás. A garota tinha uma
beleza natural que brilhava de pura inocência. Era a primeira
vez que Rafe via uma expressão real de absoluta felicidade em
seu rosto.

— Não. Fico muito feliz em comunicar que ontem me


ofereceram um trabalho incrível em uma companhia
maravilhosa. — Ela deu um passo para ele e deu um
golpezinho em seu peito. Rafe estava tão surpreso por seu
aumento de confiança que não pensou em impedi-la.

— Assim, pode pegar seu trabalho de prostituição e


enfiar em seu...

— Já é suficiente. — Rafe a interrompeu enquanto


segurava sua mão e a obrigava a retroceder alguns passos.
Ele continuou falando em apenas um sussurro. — Pode ser
que eu goste desse fogo que há em você Ari, mas não tome
meu interesse, nem minha curiosidade como uma fraqueza.
Se alguma vez quiser ou quando quiser possui-la, tenha em
mente que acontecerá. Não tenha nenhuma dúvida à
respeito. Pode desfrutar agora de sua pequena vitória, mas
tenha muito cuidado com o que diz. Não há nada neste
planeta que eu goste mais do que um desafio. Apenas lembre-
se que quando jogar comigo, perderá.

Com essas palavras, o homem se virou e se afastou,


deixando-a de pé no corredor com a boca aberta. Ele tomou
sua pequena vitória entre suas mãos e a esmagou.
— Tenho uma reunião com a diretoria hoje, mamãe.
Estou emocionada. Acredito que as coisas por fim vão mudar
para nós. —Disse Ari com um grande sorriso.

— Isso está muito bem, querida e acredito que tem


razão. Sinto-me muito melhor, inclusive comi quase todo meu
café da manhã hoje. Como foi sua noite?

— Tenho trabalho, um grande trabalho, como assistente


do vice-presidente de uma companhia eletrônica de prestígio.
Inclusive pode ser que faça algumas viagens, mas mais
adiante. —Respondeu Ari com entusiasmo. A expressão de
preocupação de sua mãe a confundia.

— Pensei que fosse voltar para a universidade, Ari. Não


será feliz trabalhando como secretária de alguém. É muito
talentosa e inteligente para isso.

— Prometo que voltarei assim que tudo terminar.

— Ari, a maioria dos estudantes universitários que


abandonam seus estudos por uma razão ou outra acabam
não retomando. A vida se interpõe no caminho. Eu mesma
me encarregarei de meus assuntos médicos. Quero que volte
para a universidade e termine o que começou.
— Dou a minha palavra que voltarei. Mas agora, não
poderia assistir às aulas, nem fazer os trabalhos se souber
que precisa de mim. Pense nisso de meu ponto de vista,
mamãe. Seria capaz de simplesmente seguir vivendo sua vida
se a situação fosse ao contrário? Se fosse eu que estivesse
nessa cama esperando ser operada, poderia fingir que nada
disso está acontecendo? — Ari a desafiou.

Sua mãe a olhou durante uns minutos como se


estivesse tentando encontrar as palavras corretas e logo
olhou para baixo. Ari sabia que sua mãe não mentiria, assim
optou por não dizer nada.

— Virei vê-la muito em breve, mas agora tenho que ir


correndo. Vou encantar todos os membros da diretoria e
conseguiremos que a operem logo e assim poderá sair daqui
antes do que imagina. Tudo mudou agora que está acordada.
Não pode sentir o bom carma do quarto? — Disse Ari com um
grande sorriso. Ela se inclinou e beijou a sua mãe na
bochecha, logo saiu do quarto e se dirigiu ao elevador.

Admitiu apenas para si mesma que estava tremendo por


dentro. Sentia-se intimidada ante à ideia de ter que se reunir
com o grupo de membros da junta que iriam decidir sobre a
possibilidade de operar sua mãe. Mas não mostraria seu
nervosismo. Tinha a aparência de uma pessoa segura de si
mesma, então perceberiam que a única decisão correta era
proporcionar a sua mãe a operação que precisava e que
também merecia.
— Estou aqui para uma reunião com o senhor Coolidge
e os membros da junta. — Ari disse ao secretário da diretoria
executiva.

— Nome, por favor?

— Arianna Harlow.

— Estão lhes esperando. Passe pela porta da esquerda.

Ari colocou a bolsa no ombro e se dirigiu para lá. Parou


ao ver todos esses homens e mulheres excepcionalmente
vestidos sentados ao redor de uma grande mesa oval. Havia
uma cadeira disponível no final. Ela imaginou que seria para
ela, mas não queria sentar-se até ser convidada.

— Senhorita Harlow. Obrigado por reunir-se conosco.


Por favor, sente-se para que possamos começar.

— Agradeço por aceitarem a se reunir comigo. —


Murmurou enquanto se dirigia à cadeira vazia. Sabia que
deveria levantar a cabeça e fazer contato visual com cada um
deles, mas logo seus nervos estavam tirando o melhor dela.

Cada membro da junta era um médico, um médico


aposentado ou um membro importante da comunidade.
Tinham um trabalho de grande importância, poder e muito
dinheiro, Ari e sua mãe eram simplesmente ninguém para
eles. Pela primeira vez, Ari aceitou que talvez as coisas não
saíssem como ela esperava.

— Revisamos o caso de sua mãe e temos algumas


perguntas para você.
Ari olhou ao homem de aspecto severo sentado à
cabeceira da mesa. A placa em seu jaleco o identificava como
senhor Coolidge, presidente da junta. Se pudesse ter seu
apoio, as coisas iriam muito a seu favor. Ela fez alguma
investigação por sua conta.

— Estou disposta a responder tudo o que quiserem


saber, senhor Coolidge.

— Nosso orçamento está sobrecarregado este mês.


Temos muitos casos que os pacientes não têm um seguro
suficiente ou certos procedimentos que não estão segurados.
Estamos orgulhosos de oferecer cirurgias a um preço mais
reduzido que em outros lugares, mas temos que impor um
limite. Depois de tudo, temos um negócio e se todo mundo
obtivesse uma cirurgia gratuita, iríamos à falência.
Estudamos seu caso atentamente e pudemos ver que não
está trabalhando atualmente. Como espera contribuir com os
gastos médicos de sua mãe?

—Consegui ontem um trabalho na Eletrônica


Sunstream. Terei um salário excelente e poucos gastos neste
momento. Posso contribuir com setenta por cento de meus
ganhos mensais para os cuidados de minha mãe. —
Respondeu orgulhosa.

— É um bom passo na direção correta, mas ainda


assim, não será suficiente. Os gastos diários de uma estadia
no hospital se somam rapidamente. Sua mãe já esteve aqui
durante algumas semanas e sua fatura cresce... —Fez uma
pausa enquanto folheava os papéis. — Um pouco mais de
quinze mil dólares. Com a cirurgia que precisa, estamos
diante um projeto de duzentos mil dólares. Inclusive se o
hospital conseguisse contribuir com recursos, esperaria que
você pagasse um pouco mais de cem mil. Tem algum modo de
obter um empréstimo ou provavelmente vender alguma
propriedade particular?

A garganta de Ari se fechou. De maneira nenhuma um


banco iria emprestar essa quantia. Não tinha nada para
respaldar o crédito. Estava sem crédito e quase sem
experiência de trabalho. Ha seis meses atrás, apenas era uma
estudante universitária. Qualquer instituição financeira teria
que estar louca para emprestar o dinheiro.

— Preenchi todos os formulários que me deram. Não


recebi resposta ainda, mas espero que aconteça a qualquer
momento. —Disse forçando a voz para que saísse através de
sua garganta oprimida.

— Serei honesto com você, senhorita Harlow. Isto não


parece bem. Se não tivermos um plano sólido nos próximos
dias, teremos que dar alta à sua mãe.

— Não podem fazer isso! Não podem deixá-la de lado


quando sabem que ela morrerá. — Ari pediu.

— Como já disse, isto é um negócio, senhorita Harlow.


Nós não gostamos de negar o tratamento a ninguém, mas
como disse, não podemos nos dar ao luxo de oferecer
cirurgias a pacientes que não podem se garantir
economicamente.
O coração de Ari estava se rompendo em mil pedaços
enquanto tentava decidir o que dizer a seguir.

— Tem outra forma possível de conseguir os recursos.


Provavelmente um... amigo que possa emprestar o dinheiro?

Ari girou a cabeça ao reconhecer essa voz. Seu olhar de


assombro se encontrou com o de Rafe Palazzo, que também
estava sentado. Não tinha nem ideia de que o homem fazia
parte da junta diretora do hospital. Deveria ter imaginado,
considerando que era muito rico. O homem provavelmente
tinha influência em todos os assuntos na cidade.

— Não conheço ninguém que possa me ajudar. —


Respondeu ela.

— Tem certeza, senhorita Harlow? Não pode pensar em


alguém que possa estar disposto a ajudá-la, disposto talvez a
fazer uma troca?

Ari ficou surpresa com sua audácia. Sabia exatamente


sobre o que estava falando. Apenas esperava que os outros
membros do conselho não fossem conscientes de seu jogo.
Quando seu olhar voltou a encontrar com o seu, pensou
atentamente nisso. Poderia realmente dar o braço a torcer
para pagar a cirurgia de sua mãe? A sua integridade valia
mais que a vida de sua mãe?

Queria dizer que sim, que aceitaria. Mas não saíam as


palavras. Tudo no que podia pensar era no pânico e na
derrota que sentia neste momento, na sua mãe pedindo que
não se sacrificasse por ela. E se o fizesse sem que sua mãe
soubesse? Sua mãe seria capaz de perdoá-la algum dia?
Poderia alguma vez perdoar a si mesma?

Tudo estava ficando cada vez mais negro.

— Nos reuniremos com você novamente em poucos dias,


senhorita Harlow, para verificar se fez algum progresso no
assunto. —Disse o senhor Coolidge, salvando-a de ter que
responder a Rafe.

— Obrigada. —Murmurou enquanto os membros da


junta começavam a se levantar de seus assentos.

Ari ficou quieta, sabendo que suas pernas ainda não


estavam fortes o suficiente para sustentá-la. Não fez contato
visual com ninguém enquanto todos desfilavam diante dela e
saíam da sala. Quando estava segura de que todos saíram,
por fim levantou os olhos e se encontrou a sós com Rafe.
Deveria ter fugido com o restante da junta. Não queria ficar
sozinha com ele.

— Bom, senhorita Harlow, parece que tem que tomar


uma decisão. — Disse com um petulante sorriso. — Aceitará
minha generosa oferta?

Ari se manteve em silêncio enquanto ele permanecia ali,


à espera para atacar. Ele estava certo? Teriam todas as
mulheres seu preço? Acabou de descobrir o seu?

Ari rezou para que a terra se abrisse nesse momento e a


engolisse. Preferia estar em qualquer outro lugar do que onde
estava neste momento.
Arianna se mexeu na cama, inquieta, incapaz de se
sentir cômoda. Seu corpo estava ardendo, seu calor a
abrasava de dentro para fora. Uma dor enchia o centro de seu
ser - palpitando, inchando ansiosamente - embora não
soubesse por quê.

— Shh. Você vai gostar disso. —Sussurrou Rafe.

Seu tom de voz baixo e tranquilo a acalmou, embora a


temperatura de seu corpo continuasse subindo. Seus
sentidos se acenderam em um esplendor de erotismo ao
sentir suas mãos em seu estômago, seus dedos queimando
sua pele. Deslizou-os até seu abdômen e depois tocou seus
seios nus. Quando tirou sua blusa?

— Confie em mim. —Sussurrou enquanto a mordiscava


sua orelha. Deslizou as mãos por seus braços e os levantou a
altura de sua cabeça enquanto continuava acariciando sua
sensível pele. Juntando as mãos, ele rapidamente amarrou
um lenço de seda ao redor delas.

Apertado.

Antes que ela tivesse a oportunidade de resistir, foi


presa firmemente à cama, e agora era incapaz de mover os
braços, incapaz de evitar suas carícias. Ele beijou suas mãos
suavemente, deslizando a língua por seu pulso, para logo
percorrer seus braços até chegar aos ombros.

— Você gosta disto, Ari? Quer que pare?

— Não... por favor... — Suplicou. Ari queria mais. Abriu


os olhos, mas apenas viu negro e sentiu a doce presença de
uma venda sobre os olhos. Em lugar de inspirar temor, sua
incapacidade visual intensificou seu prazer enquanto que as
mãos e a boca continuavam acariciando seu corpo.

As mãos de Rafe acariciavam seus seios, seus dedos


levemente calejados circundaram seus sensíveis bicos, mas
sem tocá-la onde ela tanto ansiava, onde precisava ser
tocada.

— O que quer Ari?

— Você...

— Hum. E onde me quer?

— Quero sua boca em mim... em meus mamilos. —


Gemeu. A vergonha a invadiu, sabia que ele não iria tocá-la a
menos que ela pedisse. Recompensando-a, seus polegares
roçaram seus mamilos eretos simultaneamente, fazendo-a
gritar.

As pontas duras estavam doloridas enquanto ele as


girava e beliscava entre seus dedos, tirando outro grito dela.
Ari precisava de mais. Tinha as pernas abertas sobre a cama,
pedindo com seu corpo que a tocasse onde ela realmente
desejava, onde queria que pusesse fim à sua tortura.
Quando Ari estava pronta para gritar mais uma vez,
sentiu Rafe deslizando sua úmida língua por seu mamilo, ao
mesmo tempo que beliscava o outro, o que fez com que ela
arqueasse suas costas com intenso prazer.

— Mais! — Ela implorou, ansiando um contato mais


íntimo. Puxou as restrições, com vontade de tocá-lo,
precisando apertá-lo contra seu corpo. Não deveria fazer isto,
mas não importava. Todo seu corpo o desejava, tremia com
uma necessidade desesperada que apenas ele podia saciar.

— Ah, não fique ambiciosa Ari ou vou parar. Encherei


sua doce boca com meu pau duro e gozarei ali e a deixarei
sofrendo. —Disse enquanto se afastava de seus seios.

Ela gemeu de frustração, disposta a dar qualquer coisa


neste momento para que apenas continuasse o que estava
fazendo.

— Vai se comportar? — Exigiu.

— Sim. Sim, prometo. —Ofegou enquanto ele deixava


sua mão descansar em seu estômago.

— Bem, Ari. Isso é o que quero ouvir. Quero sua


obediência. Como recompensa, darei muito prazer e você
satisfará minhas necessidades.

— Sim, Rafe. Por favor, mais. — Ela concordou com a


aspereza de puro desejo em sua voz.

Seu quente fôlego soprou sobre seus úmidos mamilos,


endurecendo-os de novo e fazendo com que ela voltasse a
afastar as costas do colchão para chegar a sua boca. Seus
lábios se fecharam sobre seu inchado seio e o sentiu chupar,
formando redemoinhos com sua língua ao redor de seus
duros bicos.

Não era suficiente.

Sua mão começou a descer suave por seu estômago,


seus dedos dançando através de sua pele quando alcançou
sua coxa. O polegar roçou sua carne palpitante sobre o osso
da pélvis, tentando-a enquanto rodeava sua feminilidade sem
tocar seu centro, sem aliviar a ardente dor em seu interior.

Ela sabia que não deveria gritar, não deveria exigir mais,
não até que pedisse e implorasse. Se ele parasse, ela
morreria. Sem dúvida, uma pessoa não podia chegar à beira
de tanto prazer apenas para que a deixassem presa lá.
Preferia morrer a sentir um desejo tão palpitante não
satisfeito.

A boca de Rafe seguiu o caminho que fez sua mão,


beijando o vale entre seus seios para posteriormente deslizar
até seu estômago, onde rodeou o umbigo com sua língua
antes de morder sua pele suave. Ali onde a tocava, aliviava
sua dor momentaneamente, antes que o fogo retornasse com
mais chama que antes.

Rafe continuou descendo e acariciou com seus lábios o


interior de suas coxas, lambendo com a língua a carne que se
unia com seu centro. Apenas um pouco mais acima...
suplicou em silêncio.

Ela tentou se mover para que sua boca a tocasse onde


mais desejava. Ouviu um suave gemido escapar de seus
lábios ao sentir seu quente fôlego acariciando sua
feminilidade. O som de seu prazer aumentou o seu próprio,
sabendo que o excitava... que ele a desejava. Um
estremecimento em espiral percorreu sua espinha dorsal.

Sua boca se moveu sobre seu calor, torturando-a com


sua proximidade, mas sem chegar nos poucos centímetros
que o separavam de onde ela mais ansiava neste momento.
Ari tentou levantar os quadris, mas não podia, enquanto suas
mãos estivessem pressas contra a cama, mantendo-a em seu
lugar - sua cativa - justo onde ele queria tê-la.

Quando ela estava pronta para se dar por vencida, a


ponto de ficar louca, ele a tocou. Suas mãos se moveram para
seu interior e separaram suas doces dobras com seus
polegares, acariciando seu calor interno enquanto ele
inclinava sua boca e selava seus lábios sobre sua zona mais
sensível.

Ela gritou de prazer quando ele a chupou, passando sua


língua rapidamente por seu monte inchado. Quando colocou
seus dedos profundamente dentro dela ao mesmo tempo em
que desenhava círculos com sua língua, ela suspirou de
prazer triunfante.

Seu corpo se sacudiu contra sua hábil boca enquanto


ele a levava em direção ao orgasmo. Seu corpo ficou
satisfeito, e ela caiu sobre a cama. Seus ossos estavam fracos
e não conseguia se mover - não podia sequer respirar.

Ari sentiu quando a boca do Rafe a abandonava, para


logo notar seu corpo deslizando pelo seu - o calor de sua pele
a queimando. Queria afastar-se dele, dizer que não podia
aguentar mais, mas suas mãos ainda estavam presas e ele
ainda estava a segurando. Ela não podia se mover. Ela era
sua para fazer tudo o que quisesse.

— Não acredita que isto acabou, verdade? É uma


amante egoísta, Ari? — Rafe perguntou enquanto acomodava
seu peso contra o corpo dela e seus dentes mordiscavam o
lóbulo de sua doce orelha.

Ari podia sentir a ponta de seu grosso pênis


pressionando contra sua pequena e úmida abertura. Sem
energia para falar, limitou-se a negar com a cabeça.
Lentamente, Rafe se empurrou dentro dela, centímetro a
centímetro.

Muito grande!

Ele a partiria em duas. Empurrou com mais força e ela


gritou. Doeu. Isto não era agradável. Era muito grande. Não
se encaixavam.

— Por favor, pare. Está me machucando. —Gritou. Ele


começou a rir enquanto seus lábios reclamavam sua boca e a
silenciava no processo. Rafe colocou a língua em sua boca ao
mesmo tempo em que empurrava sua ereção dentro dela
completamente. Ari gritou quando se sentou de repente na
cama toda suada. Confusa, olhou ao seu redor e logo ficou
sem fôlego enquanto seu desejo a consumia.

— Foi apenas um sonho. Está tudo bem, era apenas um


sonho. — Disse em voz alta. Nem sequer suas palavras
podiam acalmá-la. De onde veio tudo isso? Por que estava
fantasiando com Rafe? Não o desejava. Não tinha sentido ter
um sonho erótico com ele.

Com certeza era devido ao encontro que tiveram nesse


mesmo dia. Sentiu-se como um cervo diante dos faróis de um
carro enquanto o homem esperava sua resposta. Ari
continuava tremendo pelo esforço que precisou fazer para
ficar de pé e sair da sala da diretoria no hospital.

Quando ele ficou na altura de seus olhos e aproximou


sua boca da dela, ela quase arqueou as costas para
aproximar-se mais dele. Percebeu que a autoridade brutal do
homem atuava nela como um afrodisíaco. Sua sedução era
difícil de resistir.

Ari tinha um grande trabalho e ainda tinha uns dias


para encontrar a ajuda que sua mãe precisava. Seria muito
mais fácil fugir de Rafe Palazzo se ele não fosse tão
magnético. Seu corpo parecia se sentir atraído por ele e ela
não podia permitir.

Ainda incapaz de acalmar seu acelerado coração, Ari se


levantou e entrou em seu pequeno banheiro. Acendeu a luz e
viu sua pele avermelhada no espelho. Tremia como se ele a
tivesse acariciado de verdade.

— Foi apenas um sonho. — Disse a si mesma


novamente, franzindo a testa para seu reflexo, como se não
pudesse acreditar em sua ousadia ao se excitar.

Sua única experiência sexual foi na universidade e foi


horrível. O rapaz apenas se preocupou com ele mesmo e não
deu tempo para que seu corpo estivesse preparado. A dor foi
insuportável quando empurrou rapidamente em seu interior.
Ela sabia que o sexo poderia ser bom, mas pensava que agora
talvez não quisesse voltar a experimentá-lo, que talvez fosse
frígida. Era por isso que não entendia seu sonho.

Podia entender o final, a parte dolorosa, mas o prazer


antes disso? Nunca antes em sua vida sentiu nada tão
intenso e como não tinha nada com que comparar, se sentia
cada vez mais confusa. Deus, nunca deveria ter lido aqueles
livros estúpidos que encheram sua mente com tais ideias.

Não queria que a amarrassem com lenços de seda.


Certamente não queria que ele se preocupasse unicamente
com seu prazer e a deixasse dolorida e com uma sensação de
vazio. Se fosse capaz de apagar isso de sua mente, o faria
completamente. Tornaria sua vida fosse muito mais fácil.
Apesar de ainda ser madrugada, Ari sabia que se passariam
horas antes que pudesse voltar a conciliar o sono.

Abrindo a água da ducha, entrou sob o jato quente e


tirou o suor produzido por seu sonho erótico. Ao passar os
dedos sobre suas dobras inchadas, estremeceu. Nunca
nenhum sonho a deixou tão necessitada.

Ao pressionar a mão com força contra seu calor, tentou


eliminar a tensão e a tortura que ainda pulsava em seu ser
até a sensível pele de suas coxas. Depois de quinze minutos
de banho, não estava nem perto de se sentir aliviada. Secou-
se e deitou na cama.

Ari rolou na cama durante o restante da noite, sabendo


que dormir novamente estava fora de questão. Tinha fome e
quando uma mulher deseja algo, não servia de nada tentar
lutar contra isso.
— Ari, você gostaria de vir conosco? Vamos ao Clube
Noturno Templo, dançar e comer um pouco de sushi.
Queremos comemorar uma noite das garotas antes de voltar
para casa para nossos maridos e filhos.

Ari sorriu para Miley, uma de suas colegas de trabalho e


pensou no muito que a mulher adorava seu trabalho. As
mulheres com quem trabalhava eram maravilhosas e
pacientes enquanto ela aprendia as novas tarefas e agora
inclusive a convidavam para sair.

— Adoraria. —Disse, sentindo-se realmente bem pela


primeira vez depois do acidente de sua mãe. Recebeu um
adiantamento no trabalho, por isso tinha um pouco de
dinheiro extra seu bolso, inclusive depois de pagar o aluguel,
tinha algo em sua conta. Mesmo tudo isso sendo pouco, tinha
algo para celebrar.

— Por que está tão contente? — Perguntou Miley.

— Acabo de receber a melhor notícia que podiam ter me


dado. O hospital encontrou os recursos para a operação da
minha mãe. Pensei que teria que me prostituir para poder
pagá-la, mas por fim, esperar foi a melhor opção. Estou
segura que minha mãe ficará muito bem e minha vida
finalmente voltará ao normal. — Ari respondeu com uma
piscadela.

Miley a olhou em estado de choque por um momento


antes de começar a rir. A mulher pensava que estivesse
brincando, mas sua colega de trabalho não tinha nem ideia
de quão perto que Ari chegou realmente de assinar as
perversas condições de trabalho de Rafe Palazzo. Se os
recursos não se materializassem, não teria outra opção.

Ari tirou um peso de cem quilos de cima dela, que ela


nem sequer percebeu que tinha. Era o momento de pintar a
cidade de vermelho e a melhor parte de tudo era que podia
fazer sem se sentir culpada.

Pegou sua bolsa e o casaco, e logo seguiu as três


mulheres para fora do edifício.

— Hoje recebi meu bônus por alcançar as metas do mês,


por isso a primeira rodada corre por minha conta. — Disse
Shelly.

— Eu também recebi o meu, assim me encarrego da


segunda. — Disse Amber com um grande sorriso.

— Quantos copos vão tomar? — Perguntou Ari com


inquietação. Sua única experiência com o consumo excessivo
de álcool não terminou nada bem - de fato, terminou mal.

— Todos os que sejam necessários para que quando


chegue em casa, veja meu fofo e calvo marido parecido com
um dos bailarinos eróticos do Chippendale4. —Disse Shelly,
fazendo com que o grupo de mulheres começasse a rir.

— Diria que ao menos vinte doses de tequila, se ele se


parecer com o meu. — Acrescentou Miley.

Ari ficou calada enquanto as outras mulheres


brincavam no caminho do elevador. Não queria as ofender
por não se unir à diversão, mas estava aterrorizada ante a
ideia de beber outra vez. Um pouco de vinho era diferente a
uma noite de bebidas com as garotas.

Entretanto, a necessidade de ter amigas anulava seu


medo do álcool, por isso supôs que teria que fazer das tripas
coração. Não tinha por que ser tão ruim como da última vez.
E não era como se pudesse fazer com que sua vida pudesse
ser ainda pior do que foi no ano passado.

— Veio de carro, Ari?

— Não. Estou tendo problemas com o motor. Vim de


ônibus.

— Bem. Iremos de ônibus e assim não teremos que nos


preocupar em designar uma condutora. Eu não gosto de tirar
palitos para ver quem pega o mais curto porque sempre tenho
a pior sorte.

Ari olhou Shelly um pouco surpresa. Ela sempre era a


mais eficiente, mas parecia que uma vez que chegava às cinco
da tarde, a garota apenas pensava em ir à festas. Ari tinha

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que admitir que gostava da ideia de sair por aí com suas
companheiras. Deixou suas preocupações para trás
rapidamente enquanto saíam do edifício e se dirigiam à
parada do ônibus mais próxima.

Não demoraram muito em chegar ao clube, onde viram


uma grande multidão fazendo fila na noite fria para entrar.

— Uau. Não esperava que houvesse tanta gente tão


cedo. — Comentou Ari.

— É sexta-feira. Todo mundo tem o mesmo plano, gastar


um pouco de seu salário antes de ter que encarar todo um
fim de semana com seus filhos. Embora meu marido e eu não
estejamos nadando em dívidas, nunca deixaria meu trabalho,
preciso pelo bem da minha saúde mental. — Comentou
Amber.

— Não acredito que vamos conseguir entrar.

— Não se preocupe Ari. Tenho meus contatos.

Ari viu quando Shelly se aproximou de um gorila


incrivelmente sexy, que a abraçou antes de assentir com a
cabeça. Shelly fez um gesto para que a seguissem e uma vez
lá dentro, Ari encontrou-se sentada em um banco de bar
circular cheio de gente enquanto olhava os chefs prepararem
rolos de sushi com a velocidade de um raio e uma arte
suprema.

As luzes eram praticamente inexistentes e havia muita


animação. Os garçons se moviam entre as pessoas enquanto
os grupos de amigos passavam um agradável momento. A
energia pulsante ajudou com que a última das preocupações
de Ari saísse voando pela janela. Com suas novas amigas a
seu lado, estava decidida a curtir uma noite incrível.

— Ari, eu disse a meu amigo Tony, que se nos deixasse


entrar, você iria com ele à sala dos fundos e deixaria chegar
pelo menos à terceira base. Sabia que não se importaria.

Ari engasgou com sua bebida e enviou um olhar


incrédulo a Amber. Não sabia se a mulher estava brincando
ou não. Realmente esperava que estivesse.

Felizmente, Amber não pode manter sua expressão séria


por muito tempo e finalmente começou a rir.

— Adoraria poder imortalizar este momento. — Deveria


ter visto a cara que fez. Acredite em mim querida, Tony não
tem nenhum problema em conseguir quantas mulheres
quiser. Basta ele olhar. Se não estivesse casada, estaria
arrancando a roupa dele com os dentes agora mesmo.
Diabos, para constar, se me derem alguns copos bem
carregados, poderia fazer isso de qualquer jeito.

— Tenho que admitir que estão me assustando um


pouco. — Respondeu Ari, fazendo com que as mulheres
tivessem um ataque de risadas.

— O que vão beber senhoritas?

Ari olhou para o garçom e se sentiu mais que agradecida


pela interrupção.

— Queremos uma rodada de tequilas seguida por


Martini de maçã. Apenas se assegure de que não passe muito
tempo entre uma coisa e outra. Não temos muito tempo para
conseguir nos embebedar antes de ter que voltar para casa.
— Miley disse ao jovem bonito, enquanto olhava batendo seus
cílios e ele anotava o pedido.

— Mmm, não se preocupe, sempre sou muito atento


com mulheres bonitas. — Paquerou de volta antes de piscar o
olho para Ari e se afastar do balcão.

— Uau. Aposto que o sexo com ele seria selvagem. Pena


que apenas estava olhando para você, Ari. Deve ter percebido
que é a única disponível. — Disse Shelly com um sorriso.

— Não estou disponível. Apenas porque estou solteira


não significa que tenha algum desejo de sair com alguém.
Tenho que cuidar de minha mãe, um trabalho e o mais
importante, a universidade. Voltarei e me graduarei.

— Sim, bem, já sabe o que dizem... muito trabalho e


nada de diversão...

— Eu gosto de trabalhar. — Suas três companheiras se


olharam e reviraram os olhos.

— Aqui senhoritas. Permitam-me trazer para vocês uma


rodada extra de doses de tequila, por conta da casa.

— Mmm, mmm. É um homem perfeito para o meu


coração. — Ronronou Miley enquanto piscava. — Nossa
amiga estava falando que você tem uma bela bunda.

Ari ficou horrorizada enquanto o garçom se aproximava


mais dela comendo-a com seus olhos negros.

— Meu nome é Chandler. E tem minha permissão para


olhar... tocar... fazer tudo o que quiser com a minha bunda...
ou qualquer outra parte de meu corpo. — Ari ficou sem fala
enquanto ele se aproximava mais, fazendo-a se sentir
incômoda quando roçou sua perna em seu quadril.

O homem se virou e se ela não estivesse enganada,


jurava ter notado que ele tentou pressionar sua ereção contra
ela. O pânico a invadiu quando olhou suas amigas. Nunca
conheceu um homem tão atrevido - bom, exceto Rafe, mas ele
não contava, já que apenas tentou convencê-la para que fosse
sua escrava sexual, enquanto estava segura de que Chandler,
o garçom, apenas queria uma noite.

— Seu nome é Ari. E sabemos que parece muito tímida.


Volta depois da terceira ou quarta rodada. — Disse Amber
enquanto dava um sorriso deslumbrante.

Chandler sorriu para Ari até que Shelly fizesse seu


pedido de sushi: Pacific Rim5, Samurai6 e rolos Firestarter7.

— Se ficarmos com fome, pediremos mais, mas de


momento está bem para começar.

— Vejo vocês em breve, belezas. — Disse Chandler se


virando para piscar os olhos para Ari, fazendo com que seu

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Comida frita feita com massa de feijão.
rosto esquentasse rapidamente enquanto abaixava o olhar
para sua bebida.

— Muito bem garotas, façamos com que esta noite


comece com estilo. — Disse Amber enquanto lambia sua mão
e sacudia um pouco de sal sobre sua pele úmida. Ari estava
perdida. As outras duas mulheres seguiram o exemplo de
Amber, mas Ari observava com cautela tentando averiguar o
que estavam fazendo.

— Você não gosta de doses de tequila?

— Não sei o que são.

— Oh, pobre menina mimada.

— Miley, não seja tão dura com ela. Teremos que


ensinar. — Shelly repreendeu sua amiga. — Tudo bem Ari,
lambe sua mão, isso, assim. Agora, agite um pouco de sal
nela. Bom trabalho. Por último, apenas lamba o sal e dê um
gole em sua tequila. Olhe e aprenda irmã.

As quatro o fizeram de uma vez e logo suas colegas de


trabalho começaram a rir ao ver a careta que Ari fez. A garota
sabia que tinha o cenho franzido, mas o líquido estava
queimando sua garganta e o sal parecia apenas intensificar
seu sabor.

— Bem, agora pegue o limão e morda desta maneira.

Ari não podia acreditar que as mulheres desfrutassem


dessa tortura. Sua garganta estava em chamas e seu paladar
ardia enquanto levava um copo de água à boca. Pelo menos o
limão suavizou um pouco o gosto abrasador da tequila.
— Após a segunda rodada estará pronta para dançar. —
Anunciou Amber. Com um suspiro reticente, Ari lambeu a
mão e pegou o saleiro. O triste era que a segunda rodada
desceu um pouco melhor.

Chandler se apressou em trazer mais doses junto com


os Martini de maçã e logo Ari perdeu a conta de tudo o que
bebeu. Mas o suficiente para que sua cabeça estivesse muito
nebulosa. Entre uma rodada e outra, as mulheres se dirigiam
à pista de dança para suar um pouco do álcool.

A princípio, Ari estava horrorizada pelos homens cuja


única intenção era se esfregar nelas, mas em sua quinta
rodada de tequila, logo nem podia perceber sequer que o
clube estava cheio - e estava rindo tanto que suas bochechas
doíam.

As mulheres continuaram bebendo, dançando e rindo,


assim passaram algumas horas. Ari estava começando a cair
de bêbada - de um jeito não tão divertido.

— Senhoritas foi um prazer servi-las esta noite, mas já


terminou meu turno. Tinha a esperança de roubar uma
dança, Ari. — Disse Chandler enquanto se sentava ao seu
lado no bar cheio de gente.

— Sim! — Shelly, Amber e Miley responderam ao


uníssono.

Ari se sentia tão atordoada que nem sequer pôde pensar


em resistir quando Chandler puxou sua mão e a estreitou
entre seus braços. Sua cabeça desceu enquanto fechava seus
lábios sobre os dela e suas mãos vagavam sobre seu traseiro.
Sabia que deveria afastar-se - sabia que isto estava indo
muito rápido, mas sua confusa cabeça lhe impedia de fazer
algo.

— Não têm por que ficar se quiserem ir. Eu me


assegurarei de que chegue em casa sã e salva. —Disse
Chandler. Para surpresa de Ari, as mulheres riram e
disseram adeus com a mão como se fosse perfeitamente
normal que seu garçom a arrastasse até quem sabe onde. Ari
quis negar, mas não foi capaz de pronunciar uma palavra.

Ele passou o braço por sua cintura e quase a levou nos


braços até a pista de dança, onde colocou os braços ao redor
dela e começou a roçar seus quadris contra sua pélvis.

— Um, não me sinto muito bem. Talvez devesse sair com


minhas amigas. —Disse Ari arrastando as palavras, surpresa
pelo quanto custava falar.

— Shh, está tudo bem, boneca. Dançaremos uma


canção ou duas e logo te levarei a algum lugar onde possa se
deitar. — Respondeu antes que seus lábios capturassem os
seus de novo, impedindo que voltasse a protestar. Com sua
última gota de energia, Ari tentou se afastar, mas era inútil.
O mundo começava a escurecer e ela desabou em seus
braços, perdendo a consciência.

— Isso, querida. Não resista... —Essas foram às últimas


palavras que a jovem ouviu.
Rafe entrou no clube, irritado por ter que estar ali, mas
era onde seu melhor amigo queria se reunir com ele. O
homem estava constantemente à caça de novas mulheres - de
uma só noite era sua melhor opção para satisfazer seus
desejos.

Rafe gostava mais das mulheres exclusivas - que


fizessem tudo o que ele quisesse até que se aborrecesse delas.
Apenas Shane, um homem que conhecia desde seus
primeiros anos no colégio, poderia lhe arrastar até um clube e
só porque era como um irmão para ele. Os dois se ajudavam
e se apoiavam mutuamente.

Com duas irmãs que o deixavam louco, Rafe apreciava a


forma que Shane tinha de manter sua sanidade. Suas irmãs
eram geniais, mas muito difíceis de controlar às vezes. Shane
conhecia Rafe muito melhor que qualquer outro ser humano.
Esteve ali quando Rafe passou por seu divórcio e permaneceu
a seu lado enquanto Rafe fazia tudo o que podia para
recuperar-se o quanto antes.

— Vejo pela expressão de sua cara que está encantado


de estar aqui.

Rafe se virou e lançou um olhar irritado na direção de


Shane. Ainda não entendia como podia aguentar às vezes,
pensou com amargura. Sua amizade não teria sobrevivido se
tivesse dado crédito a toda a merda que as pessoas diziam
sobre ele. Se Rafe tivesse a mínima dúvida de que Shane não
fosse um bom sujeito, teria quebrado todos os laços que
uniam a ele.

— Terminemos logo com isto. Tenho planos para o fim


de semana.

— Relaxe, irmão. Tem que parar e cheirar as rosas de


vez em quando. Somos dois homens solteiros em busca de
mulheres e neste clube só são permitidas a entrada das
mulheres mais bonitas de toda a cidade. Vamos passar um
bom momento e logo falaremos de negócios.

Rafe suspirou enquanto a garçonete os conduzia para


uma mesa, logo se inclinou para mostrar seu amplo decote,
enquanto perguntava o que queriam beber. Rafe
normalmente teria desfrutado da vista, mas ainda não foi
capaz de tirar Ari da cabeça.

Não se lembrava a última vez que esteve tão interessado


em uma mulher. Essa era a razão pela qual deveria resolver
tudo de uma vez ou esquecer-se dela. Ela disse não. O que
deveria pôr ponto final a sua relação, exceto que Rafe não
aceitava nada bem que o rejeitassem. Não conseguia se
lembrar da última vez que realmente foi rejeitado.

— Tomaremos algumas taças de Bourbon para começar.


— Disse Shane enquanto estendia sua mão e segurava a
bunda da garçonete.
— Parece muito bom, querido. Em seguida volto. — A
mulher ronronou.

— Porra, pode ser que não tenha que procurar mais.


Esta mulher é tão quente que vai fritar todos meus circuitos.
— Disse Shane com um interminável assobio enquanto a via
se afastar e balançar seus quadris hipnoticamente.

— Não sei como pode enrolar tantas mulheres e ainda


consegue que continuem pensando que é um maldito
príncipe encantado. — Grunhiu Rafe.

— Tudo está na atitude, cara. Faça com que acreditem


que era ideia delas passar apenas uma noite juntos. Então,
depois pensam que foi uma noite de sexo excepcional e
acabamos sendo bons amigos.

Rafe soltou um bufo enquanto olhava ao redor do clube.


Estava bastante cheio para ser dezenove horas de sexta-feira.
Esperou ter um pouco de paz durante algumas horas.
Quando começou a dirigir seu irritado olhar de novo ao seu
amigo, seus olhos se encontraram com uma mulher que
estava sendo arrastada pela pista de dança.

— Não. — Disse com incredulidade.

— O quê? — Perguntou Shane enquanto seguia o olhar


do Rafe e viu uma pequena mulher nos braços de um homem
na pista de dança. — Conhece?

Os dois homens viram quando o homem se agarrou à


mulher cujo corpo estava apoiado contra ele enquanto ele se
esfregava por toda parte. Os olhos de Rafe se estreitaram
ainda mais quando percebeu que ela estava praticamente
inconsciente.

— Filho da puta!

Rafe ficou de pé tão bruscamente quando deslizou da


cadeira uns metros atrás dele, golpeando as pessoas que
passavam por ali. Quando a cadeira golpeou um dos clientes,
este resmungou um pouco, mas logo continuou andando. Foi
a decisão correta do cliente não parar para brigar com Rafe,
porque seus olhos estavam injetados em sangue enquanto via
Ari ser arrastada para longe da pista de dança. Por um
momento, Rafe quis descarregar sua fúria no cliente de saco
cheio, que apenas estava no lugar errado na hora errada.

— O que está acontecendo? — Perguntou Shane


enquanto colocava sua mão sobre o ombro de Rafe. Esse
movimento quase o nocauteou.

— Ela está obviamente bêbada, praticamente desmaiada


e esse filho de puta está se aproveitando dela!

Com Shane ficou atrás dele, Rafe rapidamente cruzou o


clube e seguiu Ari e o estranho, aproximando-se bem a tempo
para ouvir o bastardo falar com seus amigos.

— Ouça Chandler. Parece que já caçou outra.

— Porra! Está muito bem.

— Sim, se você gostar do look drogado.

Os quatro homens começaram a rir quando Chandler


enviou um olhar de cumplicidade e logo se dirigiu à porta de
trás. Rafe estava justamente atrás dele. Seguiu até o
estacionamento e viu o tal Chandler começar a levar Ari para
uma espécie de casa caindo aos pedaços atrás do clube.

Por cima do meu cadáver.

— Chamei à polícia. Não acredito que esta seja a


primeira vez que esse cretino tenta algo assim.

Rafe se virou para ver Shane ao seu lado enquanto se


aproximavam de Chandler e Ari. Rafe assentiu e diminuiu o
espaço que o separava de sua presa.

— Que porra acha que está fazendo? — Gritou Rafe


enquanto agarrava o braço do homem.

— Não é seu assunto. — Disse Chandler enquanto


tentava continuar avançando.

— Pelo que ouvi você dizer a seus amigos, drogou esta


mulher e agora vai levar a seu refúgio para estuprá-la.

— Quem porra é você? Não tem nem ideia do que está


falando. Esta é minha namorada. Apenas aconteceu que
bebeu um pouco e estou a levando para casa para que
durma.

— Ouça imbecil, se fosse você, iria para sua casa sem


ela e esconderia ali seu patético cadáver porque meu amigo
está a ponto de chutar sua bunda por todo este
estacionamento. E estou mais que disposto a lhe dar uma
mão. —Disse Shane com um sorriso.

O homem olhou para todos os lados. Rafe podia ver que


estava tentando decidir se lutava para levar sua vítima ou a
deixava e saia voando. O medo se impôs ao ver a fúria nos
olhos de Rafe e a determinação de Shane. De repente,
Chandler empurrou Ari para os dois e logo começou a correr
para a casa caindo aos pedaços.

Rafe pegou Ari antes que caísse no chão. Pensou por um


momento em deixá-la sobre a calçada e sair correndo atrás
do drogado, mas quando ela gemeu em seus braços, soube
que não podia deixá-la.

Shane entendeu o dilema de seu amigo e o tranquilizou.

— Encarregarei de vigiar o lugar e assegurar de que não


saia. Cuida dela. Ligue se puder mais tarde e me diga como
ela está. — Disse antes de subir a escada caindo aos pedaços
da entrada da casa e apoiar-se no corrimão, olhando
fixamente para a porta.

— Ari? Ari está bem? — Perguntou Rafe enquanto a


levantava em seus braços e a sacudia brandamente. Pouco a
pouco, seus olhos se abriram e era óbvio que sua visão era
imprecisa quando ela entreabriu os olhos para ele. Levou
vários minutos para centrar-se em seu rosto.

— Rafe? Quando você veio?

Levantou a mão e acariciou sua bochecha, arranhando


com as unhas antes de sorrir.

— Mmm, cheira muito bem. — Disse arrastando as


palavras.

— O que está fazendo aqui? — Exigiu ele.


Ari franziu a testa, como se não tivesse nem ideia e fosse
uma pergunta muito difícil de responder. — Eu... não me
lembro.

— Vou levá-la para casa!

Rafe ficou furioso. O que ela estaria fazendo em um


clube numa sexta-feira à noite? E como permitiu a si mesma
chegar a esta situação? Se ele não tivesse chegado ali,
poderia estar sendo estuprada neste exato momento. Essa
era a razão pela qual deveria aceitar sua generosa oferta.
Estava claro que a garota não era capaz de cuidar de si
mesma.

Andou até seu carro e a colocou no assento da frente,


onde rapidamente voltou a desmaiar. Com um giro de sua
mão, Rafe tirou seu telefone e enviou uma mensagem de texto
para Shane, pedindo que informasse assim que o homem
fosse preso. Queria se assegurar de que prendessem esse lixo
durante um longo tempo e esperava que nunca voltasse a
tentar fazer nada semelhante a nenhuma outra mulher.

Rafe começou a dirigir para sua casa, mas mudou de


ideia. Nunca levou nenhuma mulher ali e não começaria
agora. Girando o volante, entrou em uma rua lateral e deu
marcha ré, em direção ao apartamento dela.

Quando parou em seu apartamento, estreitou os olhos,


aborrecido. Por que alguém escolheria viver em um lugar tão
horrível? Seu salário era bom. Deveria já ter se mudado dali.
Ele sabia que Ari tinha muitos gastos, mas encontrar um
lugar seguro para viver deveria estar no topo de suas
prioridades.

Por sorte, Ari levava uma bolsa com alça, que ainda
estava pendurada ao redor de seu pescoço. Procurou nela e
encontrou a chave, logo a levantou em seus braços e a levou
pela escada instável até o segundo andar, onde encontrou a
fechadura da porta apesar da escuridão que os rodeava. Fez
várias tentativas antes que pudesse abrir a porta.

Sua indignação cresceu ao ver sua pequena e velha sala


de estar com poucos móveis. Deitou-a no sofá até que pode
acender algumas luzes e encontrar a cama, então pegou seu
celular e chamou seu médico particular. O respeitado médico
disse que estaria ali logo que fosse possível, embora o homem
parou por um instante quando Rafe deu o endereço.

Rafe também parou. Enquanto esperava que o doutor


Malroy chegasse, ficou investigando seu apartamento, o qual
apenas levou uns poucos minutos. A geladeira estava
praticamente vazia, os armários nus e seus artigos eram
praticamente inexistentes. Não era à toa que a mulher
estivesse muito fraca. Era mais que evidente que Ari não
sabia como cuidar de si mesma. Se alguém poderia se
beneficiar de ser sua amante, essa era ela sem dúvida. Ela
teria muitos benefícios com seu acordo. Não podia
compreender sua recusa.

No instante em que ela estivesse de acordo, ele a


mudaria para um bonito apartamento, onde teria muito que
comer e não teria que se preocupar com o dinheiro - nem
sequer depois de que ele terminasse com ela. Rafe pagava
suas amantes uma boa pensão quando seus serviços já não
eram necessários, assegurando que continuassem sendo
cuidadas e que tivessem um futuro protegido.

A segunda ligação que Rafe fez foi para seu assistente, a


quem assegurou que teria sua geladeira e armários cheios em
questão de horas. Rafe queria que Ari fosse quem desse o
próximo passo para se aproximar dele, mas não iria
abandoná-la nestas circunstâncias enquanto esperava sua
inevitável submissão.

Rafe suspirou de alívio quando alguém bateu na porta.


Abriu-a e deixou que o médico entrasse, quando levantou as
sobrancelhas inquisitivamente. Rafe não se incomodou em
explicar nada, apenas o conduziu até a cama para que
pudesse examinar Ari. O doutor Malroy não levou muito
tempo para diagnosticar o problema.

—Não saberei com segurança até que receba o resultado


dos exames, mas parece que ingeriu uma dose da Droga de
Violação8. Que provavelmente jogaram em sua bebida,
provocando nela um cansaço e o estado hipnótico no qual
que se encontra. Frequentemente tem um efeito quase
amnésico, o que significa que a vítima não lembra nada no
dia seguinte.

8
GHB (Ácido Gama-Hidroxibutírico), também conhecido por Ecstasy líquido, Easy Lay, Scoop,
Somatomax, ...
A ira de Rafe aumentou a um nível perigoso. Esse
homem que a teve em seus braços a drogou e planejou fazer
quem sabe o que com ela antes de jogá-la em qualquer lugar.

Uma vez que Rafe se assegurasse por completo que Ari


estivesse bem, decidiu que faria uma visita ao seu atacante.
Tinha muitos amigos na delegacia de polícia e não teriam
nenhum problema em fazer vista grossa enquanto Rafe lhe
dava uma boa surra - talvez duas ou três.

— É necessário que a leve a um hospital?

— Não parece que tenha ingerido um nível


perigosamente alto de droga, qualquer que seja, mas seria
bom manter um olho nela durante o resto da noite. Se em
algum momento apresentar problemas para respirar, então
leve-a imediatamente à emergência, embora ali não poderão
fazer mais que dar os medicamentos que acabo de ministrar.
Algumas das vítimas chegam a morrer por causa de uma
reação alérgica à Droga da Violação que mencionei antes,
mas já teria mostrado algum de seus sintomas.

— Vou levá-la agora mesmo ao hospital.

—Não vejo nenhum sinal de efeito negativo.


Honestamente, acredito que ficará bem. Fui seu médico
durante muito tempo e acredito que nunca te aconselhei mal.
Se sentisse que existia a mínima necessidade dela precisar de
um hospital, não hesitaria em dizer isso Apenas precisa de
líquido e descansar o máximo possível.

— Se pensa que é o melhor... Mas se em algum


momento notar nela algo que me irrite, a levarei para a
emergência imediatamente. — A contragosto, Rafe aceitou o
conselho do médico e o acompanhou até a porta. Depois,
preparou-se para uma noite muito longa.
Ari despertou com um tamborilar incessante em sua
cabeça, como se tivesse uma equipe de percussão dentro
dela. Tentou olhar através das estreitas frestas de suas
pálpebras, mas a dor não permitiu. Seu corpo se contorceu
na cama e sentiu um intenso mal-estar que a percorreu da
cabeça até os dedos dos pés.

— Tome isto, Ari. Vai ajudar a se sentir melhor.

Ari congelou ante o som da voz de Rafe. O que estava


fazendo aqui? O que estava ela fazendo no mesmo quarto que
ele? Onde estava? Por um momento, sua mente ficou
completamente em branco, o que fez com que a dor e o
pânico aumentassem.

Tentou procurar em sua cabeça a última lembrança e foi


angustiante. Ainda assim, Ari tentou evocar alguma
lembrança da noite anterior. Pouco a pouco, através de um
espesso e nebuloso véu, algumas imagens mentais
começaram a aparecer aos poucos.

Ela esteve no clube com suas amigas. Sabia que estava


bebendo muito, mas estava se divertindo - rindo, paquerando
com o garçom e atuando como qualquer garota normal de
vinte e três anos sem preocupações em uma noite de sexta-
feira.
Entretanto, ela não era uma garota normal. Tinha uma
mãe a quem cuidar, contas para pagar e um estresse muito
grande para ser saudável. Ela apenas queria ter uma noite
livre de todas essas coisas. Parecia que não tinha direito nem
sequer a isso.

Não importava o muito que procurasse em sua memória,


não lembrava de ter encontrado Rafe no clube. A última
lembrança era de suas amigas animando-a a dançar com o
garçom. Nem sequer se lembrava de seu nome. Tudo estava
muito confuso.

— Vamos, Ari. Vou te ajudar a sentar. Sei que vai doer,


mas assim que tomar estes comprimidos começará se sentir
melhor. Apaguei as luzes para que possa abrir os olhos.

No minuto seguinte, Ari apenas podia sentir uma dor


insuportável enquanto Rafe a segurava por debaixo dos
braços e a ajudava a se levantar. Ela começou a sentir
vontade de vomitar quando sentiu como se seu corpo
estivesse se rasgando por dentro.

Sentiu a borda de um copo contra seu lábio inferior e


abriu automaticamente a boca, sentindo um pequeno alívio
quando o líquido frio como o gelo deslizou por sua garganta.
Sentiu os dedos calosos do Rafe em seu lábio e abriu a boca
uma vez mais, apenas para sentir como uma pastilha era
colocada sobre sua língua. Ela engoliu quando sentiu de novo
o copo contra seus lábios.
Ainda não tinha coragem suficiente para abrir os olhos.
Esperaria até que o martelar em sua cabeça diminuísse um
pouco.

Nos próximos minutos, concentrou-se em puxar e soltar


ar profundamente enquanto começava a sentir os efeitos dos
comprimidos mágicos. As batidas em sua cabeça e a dor
insuportável em todo seu corpo não desapareceram, mas
começaram a ceder a um nível suportável.

Finalmente, Ari tomou coragem e abriu os olhos pouco a


pouco. O quarto estava na escuridão, mas não demorou
muito para ver Rafe sentado junto à cama em uma das
cadeiras frágeis de sua cozinha.

Ela se surpreendeu ao encontrar o sofisticado homem


em seu apartamento. Nunca teria pensado que esse dia
chegaria. O homem tinha muito dinheiro para passar ao
menos um momento nos subúrbios de São Francisco.

Lutou para focar seu olhar, sem deixar de se


surpreender pelo que via. Rafe tinha uma barba por fazer de
alguns dias e olheiras que testemunhavam sua falta de sono.
A curiosidade de Ari disparou... que porra aconteceu?

— Fico feliz em vê-la acordada. Esteve inconsciente


durante as últimas horas, mas ainda assim, bebeu algum
líquido e também a levei algumas vezes ao banheiro. Estava
começando a achar que o médico estava errado. Dormiu
durante toda a noite e todo o dia. Estava completando já a
segunda noite quando você despertou.
— O que aconteceu? Um médico? Que médico? Por que
está aqui comigo? — Ari se surpreendeu uma vez mais pela
rouquidão de sua voz. Soava como se não tivesse falado em
anos.

— Foi drogada ontem à noite no clube. Eu estava ali e


pude impedir o homem antes que a levasse até seu refúgio e
fizesse coisas inimagináveis com você.

Ari esperou que continuasse. Quando ele não disse nada


mais, ela levantou a cabeça e viu seus olhos cheios de ira. Por
que estava tão irritado com ela quando quase a tinham
estuprado? Não fez isso de propósito. Não pediu para salvá-
la, nem para ser atendida por um médico.

Quando os dois desviaram seus respectivos olhares para


baixo, a realidade da situação a golpeou. Alguém esteve a
ponto de estuprá-la. Parecia irreal - como se estivesse
olhando através de uma janela e visse como essa mesma
história acontecia à outra pessoa.

Ter uma vida praticamente antissocial tinha seus


aspectos positivos e um deles era pensar que as coisas mais
horríveis que existiam nunca poderiam ocorrer com você. A
morte, o estupro, o suicídio - tudo isso acontecia, mas para
Ari pareciam desgraças tão longínquas dela, que nunca
pensou que pudesse ser vítima de alguma. Com sua cabeça
ainda palpitando, tentou engolir o pânico que ameaçava
apoderar-se dela. A realidade da situação voltaria a golpeá-la
logo, mas agora era melhor não pensar nisso.

— Uau. Acredito que você não faz rodeios.


— Não vejo nenhum sentido em fazer rodeios.

— Quanto tempo estive inconsciente?

— É sábado a noite, são oito horas. Deve estar faminta.

— Não. Pensar em comida me faz sentir doente. Estou


bem. Agradeço muito que esteja aqui comigo assegurando de
que eu estivesse bem, mas posso cuidar de mim mesma.

— Não está bem, absolutamente, Ari. A drogaram e


quase estupraram. Assim não vou a nenhuma parte. Farei
que nos tragam algo para comer.

Antes que Ari pudesse dizer nada mais nada, ele se


levantou, tirou seu telefone e graciosamente saiu do quarto
enquanto teclava um número. Ela ainda estava lutando com
a dor que invadia seu corpo, por isso se sentia muito fraca
para discutir com um homem tão teimoso. Não era como se
fosse abrir sua boca e forçar a comida por sua garganta. Ao
menos não pensava que fosse capaz de ir tão longe.

Com um gemido, Ari moveu suas pernas para um lado


da cama até que seus pés tocaram o chão. Lentamente ficou
de pé. Suas pernas estavam tremendo e segurou em um lado
da cama até que estava certa de que não iria cair de bruços.
Quando o enjoo passou, respirou fundo e com cautela, se
dirigiu ao banheiro, fechando firmemente a porta atrás dela.

Quando olhou no espelho, quase voltou a gemer –


parecia um cadáver. Seu cabelo parecia como se os ratos
tivessem escavado vários ninhos em seu interior, seu rosto
era fantasmagórico e tinha manchas de cor marrom
avermelhada debaixo de seus olhos que acentuavam suas
proeminentes maçãs do rosto.

Se tivesse topado com alguém com esse aspecto, teria


assumido que a pessoa estava morta ou a ponto de morrer.
Nem Hollywood poderia fazer um melhor trabalho de
maquiagem. Esgotando sua energia, lavou o rosto, escovou os
dentes, enxaguou a boca e passou um pente por seus
embaraçados cabelos. Não estava tentando impressionar
Rafe, apenas esperava que arrumar um pouco sua aparência
a faria se sentir um pouco melhor.

Quando abriu a porta do banheiro de novo, já não


restava nada da energia com a qual despertou, mas se sentia
um pouco mais humana.

Rafe estava sentado sob uma pequena luz em um canto,


onde instalou seu computador portátil em uma pequena
mesa que não era dela. Então percebeu a nova roupa de
cama que cobria o colchão. Agora que pensava nisso, suas
costas não pareciam estar tão prejudicadas como estaria se
tivesse permanecido em sua cama de sempre durante vinte
horas.

De maneira nenhuma podia ter dormido em seu móvel


de segunda mão durante tantas horas e não sentir cada
vértebra de suas costas. Pouco a pouco voltou para a cama,
levantou o lençol e viu um colchão novo.

Ari não sabia se devia estar agradecida ou se sentir


invadida. Comprar uma cama era algo muito íntimo para que
um estranho se encarregasse disso. E ela não queria estar
mais em dívida com Rafe do que já estava. Não podia permitir
o luxo de devolver tudo o que o homem gastou, mas tinha
que fazê-lo. Negava-se a ter esse remorso gravado a fogo em
sua consciência.

Deixaria por agora porque parecia muito grosseiro de


sua parte se zangar com um homem que proporcionou uma
boa cama para descansar enquanto estava doente. Não
obstante, devolver o dinheiro não seria nada fácil - ele
tomaria como um insulto a seu orgulho. Teria que colocar um
envelope anônimo por debaixo da porta ou algo assim. Não
tinha por que saber que esse dinheiro vinha dela - que ela
soubesse, era suficiente.

Quando Ari voltou para a cama e puxou as cobertas,


alguém bateu na porta de seu apartamento. O som ecoou em
sua cabeça, como se fosse um conjunto de grandes tambores
tocando um ritmo alegre. E Ari acreditava que já estava
passando a dor.

Com movimentos muito cautelosos, se deitou e cobriu a


cabeça com um dos travesseiros de suaves plumas, com a
esperança de bloquear o som do próximo ataque à porta de
madeira fina. Por sorte, não houve mais golpes. Logo,
entretanto, um delicioso aroma entrou por debaixo de seu
travesseiro, enchendo suas narinas.

Depois de ouvir alguns ruídos que provinham de sua


pequena cozinha, o aroma da comida quente ficou mais forte,
e Rafe se sentou junto a sua cama.
— Tente se sentar Ari, é hora de comer algo. Trouxe
sopa e pão fresco.

— Não tenho fome. — Disse ela, sem querer aceitar nada


mais dele. Toda esta situação estava começando a ser um
pouco ridícula. Apenas queria que ele fosse embora de sua
casa.

Seu estômago aproveitou a oportunidade para grunhir


em voz alta, como se quisesse assegurar de que Rafe
soubesse que estava mentindo - que sem dúvida tinha fome.
Ari não sabia o quanto estava faminta até que aqueles
aromas a assaltaram.

— Vamos, Ari. Sente-se e tome a sopa. — Disse Rafe


com um sorriso evidente em sua voz.

Não queria dar a satisfação de vê-la fazer o que ele


queria, mas seu estômago decidiu grunhir outra vez e ela
estava muito faminta para continuar fingindo. Com
frustração e grande esforço, jogou o travesseiro longe e foi
levantando lentamente.

Rafe colocou a bandeja em seu colo e ela praticamente


começou a babar quando viu o prato de sopa e o pão quente.
Sem mais hesitar, arrancou uma parte do suave pão e o
molhou na sopa antes de levar à boca e provar um bocado.

Seu paladar explodiu enquanto cuidadosamente engolia


em seco e logo devorou a sopa, a qual foi pouco a pouco
apaziguando sua fome. Quando ela terminou toda a comida
da bandeja, percebeu que o martelar em sua cabeça
desapareceu, embora o esgotamento a estivesse consumindo.
Não se importava. Podia dormir um pouco mais e quando
despertasse, seria um novo dia, com sorte sem dor e
definitivamente sem Rafe.

Com cuidado, se recostou e fechou os olhos. Quando


começou a adormecer, ouviu Rafe falando ao telefone.
Minutos mais tarde, escutou suas últimas palavras, sem
estar segura de já estar sonhando.

— Ari, será melhor irmos para minha casa. Tenho coisas


para fazer e não vou deixá-la aqui sozinha. Os comprimidos
que lhe dei são para dor, mas também vão dar muito sono,
por isso não quero que se surpreenda quando despertar em
uma cama que não é a sua... Ari... está me ouvindo?

Ari murmurou algo, embora não tivesse nem ideia do


que. Felizmente, o sono fez efeito e sua dor sumiu.
Ari despertou sentindo-se melhor, mas não cem por
cento. Esticou os braços sobre sua cabeça e arqueou as
costas, mas não percebeu que não estava em casa até que se
virou e sentiu o fresco cetim sob seus dedos.

Não estava em sua própria cama. Teria morrido? Era


isto que sentia quando ia para o céu? Os lençóis eram
incríveis e sentia como se estivesse flutuando em uma suave
nuvem de algodão, era uma cama realmente confortável.

Ao abrir os olhos, foi bombardeada com uma luz natural


enquanto olhava ao redor do enorme quarto e através das
cortinas abertas que pertenciam às janelas de pelo menos,
dois metros e meio de altura.

— Estava começando a pensar que fosse dormir todo o


dia.

Ari seguiu o som dessas palavras e virou a cabeça para


encontrar uma jovem de uns vinte e cinco anos de pé junto à
sua cama.

— Hum, onde estou?

— Na residência do senhor Palazzo. Disse que poderia


estar um pouco perdida quando despertasse, que a tinham
drogado. Sinto muito que tenha acontecido isso. O médico
passou para vê-la de novo esta manhã e disse que a febre
baixou e que já está quase totalmente bem, mas também
disse que precisava ser vigiada durante as próximas vinte e
quatro a quarenta e oito horas.

— Quarenta e oito horas? Que dia é hoje? — Perguntou


Ari a ponto de sofrer um ataque de pânico.

— É segunda-feira e são dez horas da manhã. Esteve


aqui duas noites seguidas, mas ontem subiu a febre e o
médico ministrou uma alta dose de analgésicos. Agora tem
uma cor muito melhor.

— Eu tenho que ir! Meu chefe vai me despedir. —


Exclamou Ari enquanto saltava da cama. O quarto começou a
girar levemente ao seu redor e ela foi para trás, aterrissando
por sorte no colchão fofo.

— Opa! Cuidado. O senhor Palazzo ligou para seu


trabalho e já sabem que não poderá ir por alguns dias.

— Não tinha direito de fazer isso. E certamente, não


tinha direito de sequestrar-me de minha casa!

A mulher olhou Ari como se ela estivesse ruim da


cabeça. Talvez estivesse percebendo o desastre em que se
colocou, mas estava zangada porque o homem mergulhou em
seus assuntos e tomou o controle sobre sua vida. Ela se
negava a estar mais em dívida com esse homem. Pensou nos
acontecimentos dos últimos dias e o incidente do hospital, e
negou com a cabeça - não parecia ser capaz de se afastar
dele. Mas não podia se permitir o luxo de dever nada mais.
— Está bem, Misty. Já me encarrego eu mesmo da
senhorita Harlow.

Ari virou a cabeça bruscamente e ficou sem respiração


ao ver o Rafe de pé na porta. Apesar de Ari não dar permissão
a seus olhos, eles beberam de sua espetacular figura. Não
entendia como podia desprezar tudo o que fez até então e
ainda assim, não podia deixar de se sentir atraída por ele.
Mas toda vez que o homem estava presente, tinha que lutar
cada vez mais para manter seus hormônios em um nível
respeitável, sobretudo depois daquele sonho memorável.

Tão rápido como pôde, Ari afastou o olhar de seus


fascinantes olhos e se concentrou em um botão de sua
camisa. Tinha que manter a calma, tinha que voltar para seu
apartamento e ao mundo real antes que começasse a pensar
que podia aceitar sua indecente proposta.

— Agradeço muito que tenha cuidado tanto de mim


estes dias, mas agora tenho que ir para casa. Tenho um
trabalho que gosto e uma vida me esperando. — Disse,
orgulhosa da falsa valentia em seu tom de voz. Em seu
interior, estava tremendo como uma folha em uma brisa de
outono.

— Não vai a nenhum lugar, Ari. — Disse antes de parar.


— Ordens do médico.

Como se uma ordem de seu médico fosse pará-la.

— Onde está minha roupa? — Ela sabia o suficiente


sobre o Rafe para saber que tentar discutir com ele era inútil.
Não perderia tempo em participar de uma batalha verbal que
sabia que iria perder. Simplesmente se vestiria e sairia pela
porta principal. Não pensava que ele fosse tão longe como
impedi-la fisicamente.

— Tem roupa limpa no banheiro, a porta da direita. Por


que não toma um banho e se reúne comigo lá embaixo para o
almoço? — Como se o assunto estivesse resolvido, Rafe se
virou e saiu do quarto.

Ari desejava ser mais rápida mentalmente para replicar


de forma sarcástica e adequada, mas era obvio que não pôde
pensar em nada engenhoso até que entrou no banheiro de
hóspedes.

Olhou a seu redor com assombro. Quando era mais


jovem e via filmes românticos, sonhava ter um banheiro tão
maravilhoso como este. Ela não foi pobre, mas na modesta
casa que compartilhou com sua mãe, tinha priorizado a
praticidade frente ao luxo que poderiam ter se permitido.

O banheiro em que se encontrava poderia ser


classificado como um SPA, com muito espaço e decorado. Ela
deslizou pelos ladrilhos e logo passou a mão pelo mármore
que rodeava a banheira Jacuzzi.

Não planejou tomar nenhum banho, disposta a não


seguir nenhuma das ordens de Rafe, mas a banheira estava
gritando seu nome. Dizendo que ela tomasse banho, por isso
o faria, não pelo que ele disse, mas porque precisava.

Os grifos dourados eram suaves, estavam muito bem


polidos e não requeriam nenhum esforço para ser movidos.
Ari deixou escapar uma risadinha quando a água começou a
fluir em cascata sobre a boca do grifo. Várias garrafas de
banho de espuma estavam agrupadas em uma cesta na
quina da banheira e a decisão mais difícil de Ari nesse
momento era que incrível aroma queria usar. Finalmente se
decidiu pelo de pêssego e mel e a seguir, inalou a essência
que a rodeava.

Ari entrou na banheira e se afundou nela de modo que


apenas sua cabeça se sobressaía acima do nível da água,
permitiu-se exalar um suspiro de satisfação. Com um amplo
sorriso, decidiu que podia ficar nesse exato lugar durante os
próximos cem anos. Rafe podia ter paciência enquanto
esperava por ela. Se a sorte estivesse do seu lado, talvez se
desesperaria tanto que acabaria saindo e assim ela poderia
escapar.

Quando apoiou a cabeça no suave travesseiro da


banheira e fechou os olhos, ignorou a pequena voz interior
que dizia estar louca por querer escapar de um refúgio
secreto como este. Mas não era do incrível SPA que queria
fugir, era das regras que Rafe a faria seguir estritamente se
finalmente aceitasse sua generosidade.

Ela não seria a amante de ninguém - nem por todo o


luxo nem toda a segurança do mundo. Uma parte dela
desejava poder dizer que sim simplesmente e tirar todo o peso
de seus ombros, mas uma parte maior ainda sabia que essa
não seria ela.

Sua mãe a educou para ser independente, para ganhar


o que quisesse na vida e para que nunca deixasse que
ninguém a mudasse. Estar com Rafe poderia consumir
lentamente sua alma - tudo o que ela era. Poderia se sentir
como no céu, mas na realidade, apenas estaria em um muito
bem disfarçado inferno.

Quando fechou o jato da água e começou a massagear


brandamente seu corpo, deixou a mente em branco e
começou a cochilar enquanto desfrutava plenamente do
mágico ambiente do banheiro de hóspedes de Rafe.

A irritação de Rafe crescia dramaticamente à medida


que passavam as horas sem que tivesse notícia de Ari. Sabia
que a mulher era teimosa e que faria justamente o contrário
do que pedisse, mas era excepcionalmente grosseiro que não
se dignasse a aparecer quando ele estava sendo tão generoso.

Nunca antes levou uma mulher para sua casa. Este era
um grande passo para ele e enquanto seu temperamento
explodia, começou a compreender exatamente por que não
convidava nenhuma mulher para vir em sua casa. Era a
razão pela qual não queria ter uma relação normal com
ninguém.

Ter um acordo de negócios com uma mulher, assegurar


que ela entendesse bem as condições e os termos era muito
mais inteligente que jogar e caminhar sobre alfinetes e
agulhas. Queria que suas mulheres fizessem o que dissesse
quando dissesse - não que brigassem com ele a cada passo
do caminho.

Deveria ter contratado uma enfermeira para Ari. Não


entendia por que sentiu a necessidade de cuidar dela ele
mesmo. Ainda não podia acreditar que passou tanto tempo
naquele horrível apartamento.

Tinha lhe oferecido um lugar agradável para viver, um


grande salário e muito luxo que com certeza que ela nunca
viu. Por que estava empenhada em dar as costas a tudo isso?

Depois que se passaram outros quinze minutos, Rafe


perdeu sua última grama de paciência. Sem permitir que sua
exasperação fosse evidente, levantou-se da mesa lentamente
e caminhou devagar pelos corredores até a grande escada de
sua enorme mansão.

Levou mais de dois minutos para chegar ao quarto de


hospedes no qual colocou Ari, mas não permitiu acelerar seu
passo, dado que queria chegar a ela logo que fosse possível,
em lugar disso, manteve um ritmo suave e tranquilo.

Nenhuma mulher controlava suas ações.

—S... senhor Palazzo. — Disse Misty enquanto pulava


da cadeira quando se surpreendeu ao vê-lo aparecer de
repente. — A senhorita Harlow não saiu do banho ainda.
Quer que diga que se apresse?

— Não. Pode se retirar. — Rafe não parou em seu


avanço. Tampouco se virou para assegurar que sua criada fez
o que pediu. Todos os que trabalhavam para ele acatavam
suas ordens sem as questionar. Seria melhor deixar de
insistir em contratar Ari. Com suas tendências rebeldes, sua
relação profissional não acabaria bem.

Agarrou o trinco da porta e pode comprovar que estava


fechada com chave. Um sorriso malicioso cruzou seu rosto.
De verdade acreditava que podia impedir seu acesso a algum
lugar de sua casa? Seu pulso se acelerou quando colocou a
mão no bolso e tirou sua chave mestra. Agora já não tinha
nenhuma dúvida. Desistir? Oh, não. Treinar Ari para que se
submetesse a ele seria mais divertido que qualquer outra
coisa em que pudesse pensar.

A fragrância sensual do banho de espuma o invadiu no


momento em que entrou no banheiro. Seu coração se
acelerou ainda mais, enquanto seus olhos se concentravam
no corpo de Ari no interior da banheira. A maioria da espuma
desapareceu, deixando toda sua figura perfeitamente exposta
para seu prazer.

A visão de Ari molhada e coberta em um fino véu de


sabonete seria a fonte de mais uma fantasia em um futuro
próximo. Rafe sentiu que começava a endurecer enquanto se
aproximava mais dela, sentou-se na borda da banheira e
deixou que sua mão se afundasse na água ainda quente.

Quando deslizou seus dedos ao longo de seu peito, ela


estremeceu e abriu os olhos lentamente, encontrando-se com
seu olhar. Era quente e faminto, enquanto as profundidades
de seus sonolentos olhos se enchiam rapidamente de desejo.
— Eu não gosto que me façam esperar, Ari. —
Sussurrou enquanto seus dedos dançavam por seu peito.

Ari abriu a boca para responder, mas não pode terminar


de pronunciar as palavras quando se viu envolta na estranha
química que compartilhavam.

Já era hora de que mostrasse a ela como seria


espetacular se estivessem juntos, se ela decidisse aceitar
suas condições. Era evidente que a paciência estava
abandonando-o e que não era capaz de tirá-la de sua mente.
Agora era o momento de persuadi-la.

Colocou a mão na água e tirou sua molhada figura da


banheira sem nenhum esforço, deixando seu corpo nu sobre
seu colo enquanto este encharcava seu terno.

Com um ofego sobressaltado, ela colocou suas mãos


contra seu peito, com a intenção de afastá-lo.

— O que acredita que está fazendo?

— O que ambos tanto desejamos.

Rafe baixou sua boca sobre a dela e rompeu sua regra


de sem beijos - devorando sua boca com uma fome
interminável que o rasgou por dentro.
Quando a boca de Rafe capturou a de Ari, ela ficou dura
durante alguns segundos, pensando que seria capaz de
resistir. Quando ele passou sua língua por seus dentes e
acariciou o contorno de seus lábios, a resistência se tornou
inútil.

A sensação de explosão no interior de seu corpo desfez


todo e qualquer pensamento de sua mente. O que era que
estava sentindo? Nunca experimentou algo desta magnitude.
Seu estômago se agitou e sentiu uma sensação de inchaço
em seu ser.

Ari apertou as pernas, tentando aliviar a pressão que


estava começando a se instalar ali. Quando tentou reunir a
força de vontade para empurrar Rafe, a boca deste se moveu
lentamente por sua garganta, depositando suaves beijos por
toda a longitude de seu esbelto pescoço. Sua língua percorreu
sua pele e seus dentes morderam seu ombro suavemente.

Ari estremeceu e se surpreendeu quando ele a levantou


sem esforço, com a agilidade única de fortes músculos e logo
entrou no quarto, depositando-a sobre o colchão e deixando
que seu corpo se afundasse confortavelmente.

— Normalmente não tenho sexo com uma mulher sem


que primeiro seja minha empregada, sem um acordo formal,
mas parece que não posso tirar você da cabeça. Tenho que a
possuir e estou cansado de resistir. Não vou parar até que
você me diga que faça, assim se tiver algo a dizer, diga agora.
— Rafe ordenou enquanto tirava o terno e começava a
desabotoar sua encharcada camisa.

Ari sabia que era o momento de dizer que isto não iria
acontecer. Tinha que pronunciar essas palavras além de sua
apertada garganta e exigir que a deixasse em paz. Mas à
medida que o homem expunha seu definido peito cor oliva
enquanto desabotoava o último botão da camisa, ela
esqueceu por completo o que estava pensando.

A visão de seus marcados músculos abdominais e sua


estreita cintura enviou mais sensações através de seu corpo.
Sentiu como um beliscão em seus seios e seus mamilos se
endureceram, gerando um doloroso e delicioso prazer. Ari
levou as mãos a seus seios e apertou sua rosada pele,
tentando aliviar a dor de seu desejo.

O toque de suas mãos enviou mais sensações por todo


seu corpo e involuntariamente abriu suas pernas. Seus olhos
não se separaram de Rafe enquanto este tirava o restante da
roupa e ficava de pé junto à cama, gloriosamente nu,
parecendo como uma estátua de Adônis.

Era a pura perfeição, desde seu cabelo escuro e


despenteado até a ponta de seus pés. Seu corpo estava
coberto por músculos e sua grande ereção saudava
orgulhosa, pronta para penetrá-la. Um medo a inundou, mas
a única coisa que sentia neste momento era necessidade.
— Sem remorsos, Ari. Já é muito tarde. — Murmurou
ele enquanto segurava suas mãos e as levantava sobre sua
cabeça. Antes que ela pudesse protestar, ele se inclinou e
capturou um de seus mamilos doloridos com a boca,
chupando-o.

Ari levantou os quadris da cama, os guiando em sua


direção, procurando o calor de seu corpo. Ele passou sua
perna sobre a dela, a prendendo, enquanto sua boca
devorava primeiro um mamilo e logo o outro.

Soltou as mãos e ela imediatamente as colocou sobre


sua cabeça e correu seus dedos por seus grossos cabelos,
puxando-os, tentando mantê-lo no lugar enquanto aliviava a
dor de seus seios, o que causou uma nova onda de prazer
que se estendeu pela metade de baixo de seu corpo.

Seu estômago estremeceu ao sentir o calor que irradiava


de seu centro. A umidade cobrindo seu interior, preparando-
se para sua entrada, enquanto a mão de Rafe subia por sua
coxa e seus dedos acariciavam sua escorregadia fenda. Ele
deslizou dois dedos dentro dela e o fogo que ardia no interior
de Ari se converteu em uma onda infernal.

Ela se apertou contra ele, sem compreender as


mudanças que a percorriam, mas seu corpo instintivamente
tomou o controle enquanto ela procurava alívio. Isto não era
nada parecido com aquela primeira experiência desastrosa
que teve com o colega sem jeito da universidade. Estava
ardendo e não tinha nenhuma dúvida de que Rafe poderia
saciar sua furiosa sede.
A boca de Rafe desceu por seu estômago, fazendo-a
gritar enquanto tocava cada centímetro de sua pele. Ari
estava chegando a algo que nunca pensou experimentar.
Podia algo tão incrível ser verdadeiramente possível? Por que
não tentou experimentar antes?

Não parecia capaz de conseguir oxigênio suficiente -


respirar estava cada vez mais complicado enquanto seu
coração disparava. A pressão em seu núcleo estava
começando a ser tão insuportável que Ari estava a ponto de
chorar e virou sua cabeça de um lado para o outro enquanto
Rafe tomava todo o tempo do mundo para devorar seu corpo.

— Por favor, Rafe, por favor, faça isso parar. —


Exclamou enquanto levantava seus quadris, fazendo com que
seus dedos se aprofundassem em suas molhadas dobras.

— Oh Ari, isto está apenas começando. —Murmurou


antes de obrigá-la a separar ainda mais suas pernas e de
formar redemoinhos com sua língua ao redor e no interior de
suas coxas. Ela gemeu de prazer enquanto seus dedos se
moviam com rapidez dentro e fora de seu inchado calor,
enquanto sua hábil língua desenhava círculos ao redor da
área.

Quando sua língua desceu sobre seu broto inchado, sua


pressão subiu perigosamente. Ari sentiu que um
formigamento começava a inundar todo seu corpo ao mesmo
tempo em que a tensão atingia seu ápice.
Ele chupou suas úmidas dobras enquanto movia seus
dedos dentro dela cada vez mais rápido, fazendo com que
alcançasse sua liberação.

Ela jogou a cabeça para trás se deixou ir, banindo os


pensamentos de seu cérebro, inclusive aqueles que
implicavam que estava fazendo algo ruim. Certamente não
sentia comose fosse algo ruim. Sentia como se fosse a melhor
coisa que fez em sua vida. Queria alcançar sua liberação
final, mas ao mesmo tempo, não queria que o momento
terminasse. Queria voltar a reviver esta experiência uma e
outra vez.

De repente, ele pressionou sua língua com força e ela


explodiu. Quando seus lábios a rodearam e seus dedos
entraram até o fundo de seu ser, Ari começou a tremer; sua
palpitante carne se contraía, pulsando uma e outra vez.

Ari começou a se sentir queimar como se fogo saísse


pelos poros de seu corpo, seus seios estavam pesados e a
todo seu corpo ardia. Rafe reduziu a velocidade do movimento
de sua língua e chupou suavemente seus sucos, fazendo
estremecer mais.

Quando o último de seus tremores começaram a cessar,


ele começou de novo bombear seus dedos nela e ela tentou
apertar as pernas. Não! Já acabou. Não podia suportar nada
mais.

— Isto não terminou Ari. Confie em mim. —Murmurou


Rafe. Ela queria protestar. Não podia fazê-lo novamente. Esse
prazer era diferente de qualquer outra coisa que pudesse
imaginar. Sem dúvida, essa sensação a faria sofrer uma
parada cardíaca se experimentasse duas vezes seguidas.

Surpreendentemente, enquanto seus dedos a


penetravam suavemente, ela sentiu quando um calor
começava a se agitar de novo em seu interior. Sensações
muito pequenas começaram a inundar seu núcleo, subindo
por suas pernas até seu estômago. Uma sensação de alegria a
percorreu, quando seus mamilos responderam a seus
movimentos, a dor prazerosa retornou, e seu corpo despertou
imediatamente ao toque.

Oh, poderia fazer isto todo o dia e a noite inteira!

Ouviu a risada sexy de Rafe antes que voltasse a colocar


sua boca nela e sua língua devorasse seus deliciosos sucos e
logo, nada mais que gemidos de prazer encheram o quarto.

Rafe se moveu por seu corpo, tomando seu tempo para


cobrir seu estômago com doces beijos antes que sua boca
chegasse aos seios e brandamente mordesse seus mamilos
eretos. Ela voltou a entrelaçar os dedos em seu cabelo, desta
vez puxando-o para cima, querendo sentir seus lábios nos
dela.

Aceitando rapidamente seu pedido silencioso, ele


deslizou mais para cima e reclamou sua boca, deslizando sua
língua profundamente em seu interior. Ela estremeceu ante o
sabor de seu sexo na língua de Rafe, mas ele continuou
beijando-a com paixão e pouco depois, esse sabor forte
passou a ser parte de sua excitação, fazendo-a arder ainda
mais.
— Está preparada. — Grunhiu enquanto abria a gaveta
da mesa de cabeceira e pegava um pequeno pacote de
alumínio. Eficientemente, deslizou o preservativo por sua
impressionante longitude, inclinou-se mais perto e logo abriu
suas pernas com os joelhos.

Os olhos de Ari se arregalaram enquanto ele apertava a


cabeça de sua grossa ereção contra sua abertura. Ela se
esticou quando ele começou a empurrar dentro dela e
percebeu que sua ereção logo entrava em seu calor.

Um pouco de dor anulou o prazer enquanto ele movia os


quadris e empurrava a si mesmo completamente em seu
interior. Ari se contorceu sob ele, sentindo-se de repente
assustada, pensando que cometeu um grande engano.

— É tão pequena. Apenas dê a seu corpo um tempo para


que se ajuste a meu tamanho. — Grunhiu ele. Justo quando
Ari pensava que o prazer desapareceu totalmente, ele se
moveu. Saiu um pouco dela, para logo voltar a entrar em seu
interior. Repetiu o movimento várias vezes, saindo uns
poucos centímetros dela para logo voltar a penetrá-la
suavemente.

A dor evaporou quando a pressão voltou a construir-se


dentro dela. À medida que seu corpo se acostumava ao dele,
começou a mover-se debaixo dele, em busca do topo de seu
prazer, de sua liberação.

Rafe abriu uma porta que permaneceu fechada muito


tempo e agora já não havia como voltar atrás.
— Isso Ari, apenas saboreie. — Ordenou Rafe em um
tom sedutor enquanto aumentava a velocidade de suas
investidas. Ela não podia separar-se de seu nublado olhar de
desejo enquanto seu corpo se movia em perfeita sintonia com
o dele. Ari nem sequer era consciente de que seus quadris
estavam se movendo, mas seu corpo tomou conta da
situação, sabendo exatamente o que tinha que fazer com o
fim de sentir esse prazer que nublou sua mente momentos
antes.

Suor percorria o sólido peito de Rafe e Ari não pode


deixar de correr suas mãos pelos tonificados músculos de
suas costas. Queria tocá-lo por toda parte, queria sentir cada
sulco de sua impressionante estrutura.

Um gemido encheu o quarto, Ari não sabia de qual dos


dois vinha e não se importava. Estava quase delirando
enquanto a pressão em seu centro começava a ficar
insuportável. Sentia cada centímetro de sua grossa ereção
penetrando suas dobras úmidas - era uma deliciosa
sensação.

— Oh! — Exclamou enquanto seu orgasmo a golpeava


com mais força que o anterior. Enquanto ele continuava
movendo-se dentro dela, ela começou a convulsionar e foi
levada a outro reino de satisfação.

— Sim Ari, não se contenha. Deixa ir. Sim... está tão


apertada, tão quente. Não posso aguentar... — Gemeu e se
moveu alguns segundos, sentindo logo sua ereção pulsar
dentro dela e se entregar ao orgasmo.
Uma névoa parecia estar envolvendo-a em seu delirante
prazer, deixando-a incapaz de processar qualquer
pensamento.

Gemidos cheios de desejo continuaram saindo do peito


de Rafe enquanto seus quadris continuavam empurrando
dentro dela de maneira constante, apesar do homem começar
a diminuir seu ritmo frenético. Ari sentiu uma incrível alegria
na profundidade de sua própria culminação e ao ser
consciente de que foi a causa pela qual Rafe perdeu o
controle. Era uma sensação deliciosa.

Quando o corpo de Rafe desabou contra o dela, a mente


de Ari não aguentou mais e se deixou arrastar por um sono
de descanso.
Um sorriso se desenhou no rosto de Rafe quando Ari se
aconchegou ao seu lado. Ele flexionou o braço e a atraiu para
seu corpo, sentindo o forte batimento do seu coração, as
costelas e a almofada suave de seus seios pressionados
contra sua pele.

Um sol de cor laranja suave projetava suas cores pelas


paredes do quarto e por um momento, Rafe não pode sentir
outra coisa senão felicidade.

À medida que sua adormecida mente despertava


completamente, ficou tenso. O que estava fazendo? Ele não se
permitia sentir confortável com as mulheres. Estava atuando
como um tolo e este caminho não levava a nada mais que
muitas dores de cabeça.

Olhou para a janela, surpreso por adormecer com Ari


depois de sua intensa tarde. E não só ter adormecido ao seu
lado. Não foi um sono leve. Deve ter dormido durante mais de
quatro horas se o sol estava tão baixo. Não dormia com uma
mulher desde o dia que colocou fim ao seu casamento, nem
sequer um cochilo breve. Era uma das regras que nunca
rompia.

A intimidade estava completamente fora de questão


quando se tratava de uma relação com uma mulher. Não
queria nada mais que sexo - puro prazer. Sem sentimentos,
sem emoções. Um ambiente controlado.

Com uma firme resolução, começou a se separar do


calor do corpo satisfeito de Ari. Logo que pôde impedir seu
gemido frustrado quando ela tentou agarrar-se a ele com
força enquanto seu exposto e adormecido corpo procurava o
seu.

Cavando mais fundo para encontrar sua inquebrável


fortaleza de ferro, Rafe tirou sua mão e se separou dela. Ari
protestou brandamente em seu sono enquanto se movia na
cama, procurando seu calor. Rafe não pôde separar seus
olhos de seu corpo parcialmente coberto quando ela se moveu
e começou a despertar.

Ele se levantou e vestiu a calça antes que ela terminasse


de abrir os olhos por completo, confusa, olhando ao seu redor
enquanto sorria. Antes que ele pudesse bloquear a emoção
que sentiu ao vê-la acordada, um desejo começou a crescer,
voltando uma vez mais a seu interior.

O lençol deslizou por suas suaves curvas e deixou


descobertos seus seios perfeitos. As evidências de que fizeram
amor - não - sexo, foi apenas sexo - cobria seu corpo. As
pequenas marcas vermelhas eram fáceis de ver em sua pele
de alabastro e seus mamilos rosados alcançaram
parcialmente seu ponto máximo, como se estivessem
preparados para que ele voltasse a passar a língua por sua
delicada superfície. Tanta feminilidade, tanta perfeição.
Rafe se virou para recuperar o resto de sua roupa.
Ouviu-a se sentar na cama e quando se virou novamente
enquanto fechava metodicamente os botões de sua camisa, a
encontrou olhando para ele com surpresa, enrolando os
lençóis com força ao redor de seu corpo.

— Não atue como uma puritana, Ari. Toquei e provei


cada centímetro seu. — Disse com um tom zombeteiro e logo
sorriu quando ela estreitou seus olhos.

— Saia. — Disse Ari com uma voz controlada, o que o


surpreendeu e estranhamente, gostou. Esperava que a garota
ficasse histérica ou que começasse a chorar
descontroladamente. Não esperava sua fria indiferença. Devia
sentir-se parcialmente insultado, mas sabia que poderia
reacender seu corpo em chamas com um simples toque de
sua mão. Não tinha nada a demonstrar.

— Encontre-se comigo na sala de jantar em vinte


minutos... a menos que queira que venha procurá-la de novo.
— Rafe sorriu até que saiu do quarto. Quase começou a rir
quando ouviu um repentino baque surdo contra a porta e se
perguntou o que Ari jogou contra ele.

Desde que conheceu Arianna Harlow, sua vida deixou de


ser aborrecida. O surpreendia constantemente, não apenas
por suas reações, mas também pelas reações que ela
provocava nele. A garota acendeu uma chama que
permaneceu adormecida em seu interior durante muito
tempo, uma chama que pensou que jamais voltaria à vida.
Ela seria sua quando e durante o tempo que ele
quisesse. Até o momento em que Ari se submetesse
completamente a ele, sem dúvida, desfrutaria da aventura
que ambos estavam vivendo. Quase temia o dia em que se
cansasse dela. Não via nenhuma outra mulher sendo capaz
de avivar sua alma ferida da mesma maneira.

Quando Rafe sentou-se à mesa e olhou o relógio, quase


esperava que ela tentasse o desafiar novamente. Não se
importaria em ir de novo até ela e ensinar a primeira
verdadeira lição do que acontecia a todos os que não
acatavam suas ordens.

Quando se passaram os primeiros dezenove minutos,


Rafe começou a mover os pés. Esperaria um minuto mais,
então ficaria de pé e começaria a sua lição.

— Estou aqui, Mestre.

— Mestre?

— Pensei que já que acredita que é o dono de tudo, você


gostaria de ser chamado com o nome apropriado para um
ditador. — Disse enquanto se sentava à frente dele.

— Senhor seria suficiente. — Zombou.

— E que tal a minha bunda? — Perguntou ela com um


ar inocente.

— Cuidado, Ari. Vá devagar. —Ameaçou.

—De verdade acredita, senhor Palazzo, que suas


ameaças me assustam? Que graça. Se colocar um só dedo em
mim, não duvidaria em me assegurar de que o prendesse.
Sairia rapidamente graças a sua imensa fortuna e estou
segura de que logo teria todo mundo de novo no bolso, mas
ainda assim adoraria desfrutar do momento em que o
algemassem e levassem preso. — Disse enquanto o olhava
diretamente nos olhos.

— Já coloquei um dedo em cima de você antes, Ari e


você gritou, mas não foi de desgosto, precisamente. Devo
demonstrar uma vez mais o quanto você gosta... dos meus
dedos em você, dentro de você? — Perguntou.

— Essa não foi a forma mais desagradável de passar


uma tarde aborrecida, mas já sabe que não me refiro a isso.
Li atentamente seus estúpidos documentos e embora não
seja a pessoa mais sábia do planeta quando se trata de sexo,
sei ler nas entrelinhas. Que você vai me controlar? Vai decidir
o que faço, quem eu vejo e aonde vou? É um fanático por
controle e não quero participar de nada assim. Jamais
permitiria que um homem me batesse!

— É isso o que pensa de mim? De verdade? Acredita que


preciso bater em uma mulher para que se submeta a mim? —
Rafe gritou enquanto ficava de pé com as mãos apoiadas na
mesa e o corpo inclinado para ela. Ele negou com fúria.

— Apenas estou verbalizando o que li. — Contra-atacou


ela.

— Em nenhuma parte coloquei que me excito batendo


em uma mulher!

— Então, por favor, me diga como você exerce seu


controle sobre elas!
Rafe sentou novamente. Jamais ficou tão furioso.
Respirou fundo várias vezes, enquanto mais uma vez pensava
em como seria afetada sua saúde mental caso se relacionasse
com essa mulher. Ela falava muitas coisas e era obvio que
não devia nenhuma explicação, mas estava tão de saco cheio
que queria deixar as coisas claras.

Em vez de responder, Rafe pressionou uma campainha,


fazendo com que o pessoal soubesse que estavam preparados
para comer o primeiro prato. Duas pessoas entraram em
silencio na sala com copos cheios de água e vinho e travessas
com comida.

Rafe levou a taça aos lábios e bebeu um gole do vinho


seco Chenin enquanto esperava que os garçons os deixassem
sozinhos. Seus olhos não se separaram de Ari. Ela olhou para
ele e logo olhou para outro lado, agradecendo em um
sussurro quando seu prato com a entrada foi colocado na
frente dela. Nervosa, ela tomou sua própria taça, bebeu um
longo gole e segundos mais tarde, esvaziou todo seu conteúdo
antes de deixar a taça sobre a mesa.

Seu pessoal retirou-se em silencio pela parte detrás da


sala e se preparou para preencher mais copos e preparar os
pratos seguintes. Eles já tinham demonstrado sua lealdade e
Rafe não se importava em falar na frente deles. Ele jamais
contratava alguém com quem não sentisse que podia estar à
vontade ao seu redor, ninguém que não demonstrasse uma
absoluta discrição.
— Por que não trabalha para mim e descobre por você
mesma? — Rafe falou por fim, depois de dez minutos de
silêncio que fizeram com que Ari sentisse que estava se
comportando mal.

Ela subiu o olhar, ao parecer surpresa de que ele ainda


estivesse na sala. Rafe não sabia se deveria ficar ofendido
porque sua presença foi esquecida tão facilmente. Sim, Ari
não era boa para seu ego.

— Agradeço muito que me salvou no clube e que tenha


cuidado de mim desde então, mas não me importa quantas
vezes me resgate nem quantas vezes venha me buscar em seu
cavalo branco, não serei parte desse estilo de vida que
escolheu. Minha mãe me criou para que esperasse algo mais
da vida do que ser simplesmente a amante de um homem.
Toda esta cena de sedução não tem sentido. Jamais serei
sua.

Por um momento, Rafe pensou ter visto um rastro de


súplica em seus olhos, como se estivesse rogando que a
deixasse ir. Se ele tivesse um pingo de humanidade, poderia
tê-lo feito, mas quando se tratava de mulheres, Rafe preferia
não ser humano. Preferia preocupar-se unicamente com seu
prazer.

— Diz que está agradecida, mas ainda não demonstrou


nada de gratidão. Posso pensar pelo menos em mais de uma
dúzia de formas nas quais poderia me recompensar, Ari. —
Respondeu ele com um sorriso. — Sabe como acabará isto, já
deveria ter percebido a esta altura. Por que continua
insistindo em lutar contra o inevitável?

Os olhos de Ari se arregalaram antes de se estreitar.

— Não sei quantas vezes nem de quantas maneiras


posso dizer que não, senhor Palazzo. Nunca serei sua
empregada, nem sua amante, nem sua puta. — Respondeu
antes de levar um pedaço de presunto enrolado em um
pedaço de pera à boca.

— Ah Ari, seria uma boa puta. Acredito que está


esperando que te ofereça mais dinheiro. De acordo. Aumento
o seu salário para duzentos mil. — Disse em um tom
zombeteiro, sabendo que seu comentário a faria refletir.

Ari ficou vermelha, olhou e mordeu a parte de uma


alcachofra, mastigando da mesma maneira que ele estava
seguro, gostaria de mastigar sua pele - e não de uma maneira
agradável.

Então, os lábios de Rafe se transformaram em um


sorriso e uma vez mais, o surpreendeu enquanto diminuía a
intensidade com que estava mastigando e ficava olhando
pensativamente. Rafe não podia esperar para ouvir o que
sairia daqueles sensuais lábios rosa.

— Sabe o que, senhor Palazzo? Acredito que tem razão.


Poderia desfrutar sendo uma puta. O sexo não é tão horrível
como me lembrava. — Disse com um olhar frio que fez com
que o coração de Rafe acelerasse. — Mas nunca serei sua. —
Terminou como se estivesse falando de algo tão banal como o
tempo.
Rafe sabia que ela estava apenas tentando provocar e
estava funcionando. Apenas pensar que ela podia estar com
outro homem fazia com que suas entranhas fervessem. Ela
era livre para dormir com quem quisesse uma vez que ele
terminasse com ela - mas nenhum homem tocaria o que era
dele e agora ela era, de fato, dele.

— Você gosta de me colocar sobre a corda bamba, não é


verdade, Ari? — Perguntou enquanto indicava a seu pessoal
que servissem o próximo prato. — Acredito que deveria me
chamar de Rafe de uma vez. Depois de tudo, minha língua
chupou seus mamilos enquanto me suplicava que lhe desse
mais.

Ele sorriu quando viu como seu rosto ardia e como não
pôde olhar o garçom quando sua sopa era servida, muito
envergonhada para encontrar com os olhos de seu
empregado. Ela tinha que saber que jamais ganharia uma
batalha contra ele. Ele não permitiria isso.

— O que acontece, Ari? Não tem nenhuma resposta


mais engenhosa?

— Oh, tenho muitas, senhor Palazzo. Apenas não sou


uma insolente bastarda como você. — Respondeu com os
dentes apertados.

De repente, ele caminhou ao redor da mesa e a levantou


da cadeira antes que ela tivesse oportunidade de piscar. Ari o
olhou assustada e ele sentiu como seu pulso acelerava sob
seu toque.
— Adverti que tomasse cuidado, Ari. Falo sério. Não me
insulte. Eu não sou tão vulgar com você e espero a mesma
cortesia de sua parte. — Disse enquanto a agarrava pelo
cabelo e jogava sua cabeça para trás, obrigando a olhar em
seus olhos.

— Que você não é tão vulgar? Há! Acaba de dizer diante


de todo seu pessoal o que estivemos fazendo no andar de
cima e que percorreu todo meu corpo com sua boca. Não
posso pensar em nada mais vulgar que isso! Agora, tire as
mãos de mim. Pensei que disse que não machucava
mulheres. — Disse.

Ari pretendia parecer valente, mas Rafe pode perceber


seu medo.

— Jamais machuquei uma mulher, Ari. Estou a


machucando agora?

Olhou-a nos olhos enquanto ela lutava contra ele. Ele a


mantinha firmemente contra ele, imobilizando sua cabeça,
mas sabia que não a estava machucando. Ela não poderia
dizer o contrário.

— Está me segurando contra minha vontade. —


Finalmente respondeu enquanto movia seus quadris contra
os seu em uma fracassada tentativa de livrar-se dele.

— Tudo o que está fazendo com esta resistência é


esfregar esse seu delicioso corpo contra o meu, o que está
fazendo com que esteja me dando vontade de jogá-la sobre
meu ombro e levá-la de novo a minha cama. É isso o que
quer?
— Se você gosta de abusar das mulheres!

— Nunca tive que forçar uma mulher, Ari e nunca o


farei. — Disse ele enquanto se inclinava e chupava seu
pescoço sentindo seu pulso. Rafe sentiu Ari lutar
internamente enquanto resistia contra ele.

Saber que poderia fazê-la render-se a ele em qualquer


momento o fazia se sentir vitorioso, e por isso a soltou.
Lentamente, voltou para seu assento com um olhar de
satisfação em seus olhos enquanto ela se sentava em sua
cadeira como se seus joelhos fossem incapazes de sustentá-
la.

— Acredita que obteve uma pequena vitória, mas não


ganhou nada. Obviamente, pode causar uma reação estranha
em meu corpo, mas não tem meu respeito. — Disse com uma
determinação que o deixou impressionado.

— Nunca quis seu respeito, Ari. Tudo o que quero é seu


corpo. — Respondeu rapidamente, fascinado pelo fogo que
veio à vida no interior de seus olhos.

— Bem, não terá isso tampouco. — Murmurou ela


enquanto pegava colher e girava em sua sopa.

Não houve nenhum outro confronto que interrompesse o


transcurso da refeição. Com um apetite voraz que apareceu
de repente, Rafe terminou todo seu jantar, enquanto Ari
apenas beliscou um pouco do seu. Ele não pode evitar notar
como ela olhava o relógio a todo o momento. Sabendo que Ari
não queria nada mais que fugir dele, Rafe prolongou o jantar
o quanto pôde, fazendo-a se retorcer na cadeira.
Depois de uma hora, eles estavam compartilhando um
café enquanto ele se questionava se deveria seduzi-la de
novo. Não se importaria tomá-la uma vez mais esta noite.
Embora não sabia se era o passo mais inteligente em seu
jogo.

— Senhor Palazzo, sua mãe na linha dois.

Bom, isso colocou fim ao seu debate. Sua família sempre


estava à frente de qualquer mulher e inclusive à frente de seu
próprio prazer.

— Obrigado. Acompanhe à senhorita Harlow ao seu


quarto, por favor.

— Sim, senhor.

— Não preciso ser acompanhada ao quarto. Estou mais


que pronta para ir para casa. — Disse Ari enquanto se
levantava.

— Já estou cansado de discutir com você. Ficará aqui,


tal como indicou o médico. Não se preocupe. Não penso em
incomodá-la esta noite. — Disse, fazendo saber que o assunto
estava encerrado.

Quando saiu da sala, ouviu seu suspiro de frustração,


mas sabia que seu pessoal se asseguraria de que subisse a
escada e não tentasse escapar.
Ari despertou na manhã seguinte e encontrou uma nota
na mesa de cabeceira. Um alívio a inundou quando leu as
palavras que a liberavam de sua luxuosa prisão. Rafe estava
permitindo que seu assistente a levasse para casa.

Não se atreveu a usar seu banheiro de novo, por temor


de querer se agarrar a sua luxuosa banheira. Sabia que tinha
que se afastar de Rafe tanto quanto fosse possível antes que
fizesse algo estúpido - como aceitar ser sua amante.

Com os sentimentos que o homem despertava nela,


tinha medo que fosse muito fácil dizer sim. Isso seria um
suicídio para ela. Tinha a sensação de que as mulheres que
estavam com Rafe, pelo tempo que fosse nunca voltavam a
ser as mesmas.

O homem inspirava muita emoção dentro dela - embora


Ari não soubesse se era luxúria ou ódio. Não podia imaginar
como uma mulher podia ser tão estúpida em se apaixonar
por ele. Uma coisa que percebeu, entretanto, era que o sexo
não era algo tão horrível.

Rafe a fez sentir coisas que definitivamente queria sentir


outra vez. Deveria sair com outros homens, porque agora que
essas portas foram abertas, não queria de jeito nenhum que
voltassem a se fechar. Realmente não queria fechá-las.
Pegou sua bolsa e desceu a escada, tomando seu tempo
para olhar ao redor da casa antes de sair. Sua curiosidade a
irritava, mas não podia evitar. Rafe tinha muito bom gosto
com a decoração e os móveis, usando cores brilhantes e
profundos tons de rica madeira.

Sem querer saber nada mais sobre esse homem, Ari se


obrigou a dirigir diretamente à porta principal, onde teve o
prazer de ver um carro que a estava esperando.

— Fico feliz de ver que se sente melhor, senhorita


Harlow.

— Obrigada, senhor Kinsor. Agradeço muito a todos que


cuidaram tão bem de mim. Nunca fui tão mimada. —
Respondeu. Ari gostava muito do homem de confiança de
Rafe. Era certo que o homem sabia exatamente no que
consistia o trabalho que Rafe lhe ofereceu, entretanto, não a
advertiu a respeito. Mas por outro lado, ela não podia esperar
que o homem fosse entregar seu patrão.

— Precisa que faça alguma parada antes de levá-la para


casa?

Ari pensou por um momento enquanto o homem


mantinha sua porta aberta. Ela não tinha vontade de sair de
casa durante o resto do dia e sua cabeça estava começando a
doer um pouco. Por que não aproveitar as vantagens de ter
um chofer pessoal por um momento?

— Se não tiver muita pressa e não for muito


inconveniente, poderíamos passar em uma farmácia?
— É óbvio. Sou todo seu durante todo o tempo que
precisar. O senhor Palazzo foi explícito em suas instruções e
me ordenou que proporcionasse tudo o que precisasse. —
Respondeu alegremente enquanto fechava a porta e
rapidamente rodeava o carro para o assento do motorista.

A confusão de Ari cresceu ante as palavras do senhor


Kinsor. Por que tinha Rafe que ser tão generoso e amável um
minuto e logo tão bruto no minuto seguinte? Por que não
podia ser um sujeito normal que conheceu na Universidade
de Stanford? Ela desejava poder apagá-lo de sua mente, mas
quanto mais topava com ele, mais queria saber à respeito
deste misterioso homem que oferecia muito, mas que exigia
mais em troca do que ela estava disposta a dar.

— A farmácia será suficiente, obrigada. Tenho que


chegar em casa e me cuidar para poder ir trabalhar amanhã.
— Disse ela quando percebeu que não respondeu ao seu
último comentário.

— De acordo. Se mudar de ideia, me avise. Quer ouvir


um pouco de música?

— Não, obrigada. Minha cabeça dói demais. Vou


descansar os olhos enquanto dirige. Me sentirei melhor
depois de tomar um ibuprofeno.

O senhor Kinsor ficou em silêncio enquanto dirigia o


carro. Ao menos estavam em um carro confortável que mal
fazia ruído. Não demoraram muito tempo ao passar pela
farmácia e logo chegaram à sua casa. Ari foi surpreendida
repentinamente pela ideia de que sentiria falta de ter outras
pessoas ao seu redor. Quando entrou em seu apartamento,
percebeu verdadeiramente como estava sozinha a maior parte
do tempo.
— Rafe!

Rafe se preparou para o impacto de receber sua irmã em


seus braços. Um estranho sorriso se desenhou em seu rosto
enquanto a abraçava com força.

— Como está, Rachel?

— Senti muito sua falta. Parece que se passaram anos


da última vez que te vi.

Rafe riu ante o entusiasmo de sua irmã pequena. Ela


era oito anos mais nova que ele e estava cheia de vida, e sem
dúvida, era a mulher mais vibrante que conhecia e também
uma das poucas mulheres que contavam com seu pleno
respeito. Adorava suas duas irmãs.

— Nos vimos faz dois meses. Não vai me soltar mais?

— Se insistir. — Disse ela fazendo beicinho enquanto o


soltava. — Dois meses, que pareceram dois anos. Mamãe é
uma tirana que não me deixa fazer nada.

— Vamos, permitem muito mais do que me permitiam


com sua idade. É muito preciosa para estar muito tempo em
público. — Disse meio de brincadeira. Ele massacraria com
suas mãos qualquer homem que se atrevesse sequer a olhar
à sua irmã de forma errada. Era incongruente, sabia ser tão
protetor com suas irmãs e entretanto, tão indiferente aos
sentimentos e a segurança das demais mulheres.

— Você senhorita, traz para seu pai e para mim muita


dor de cabeça. Logo, sou eu a tirana, ragazza— Disse sua
mãe, Rosabella, chamando Rachel de criança em italiano.
Aproximou-se de Rafe e plantou um beijo na sua bochecha.
— Como está, filho? Tem mais olheiras que a última vez que
te vi. — Repreendeu.

— Estou muito bem, mãe, inclusive melhor agora que


estão aqui. A que se deve esta visita surpresa?

— Tive a impressão de que estava sob muito mais


pressão do que o normal da última vez que falamos por
telefone, assim disse a seu pai que devíamos vir visitá-lo
imediatamente. Já era hora de retornarmos à Califórnia por
um tempo. Seu pai estava muito inquieto na Itália por ficar
ali muito tempo. Acredito que sente falta de trabalhar, apesar
de que me prometeu se aposentar.

— Já sou um homem, mãe. Já disse isso. Não tem que


se preocupar tanto comigo. Quanto ao papai, para falar a
verdade, acredito que escapa sem que você veja e vai
trabalhar quando estão nos Estados Unidos. Notei várias
conversas telefônicas secretas e não acredito que nenhuma
mulher seja tão estúpida para embarcar em uma relação
amorosa com o homem.

— Não, seu pai sabe que o mataria se alguma vez


tentasse algo tão tolo. E diz que não tenho que me preocupar
com você? Obviamente, não é seu pai, se fosse, nunca diria
nada tão ridículo. Uma mãe nunca deixa de se preocupar
com seu filho, não importa quão adulto seja. Se apenas
assentasse a cabeça e formasse uma família, meu filho. Todo
esse estresse desapareceria e poderia ver linhas de expressão
ao redor de seus bonitos olhos em lugar destas linhas de
preocupação em sua testa.

— Mãe. — Advertiu ele, embora seu tom não fosse duro.

— Não se atreva a tentar usar esse tom comigo. — Ela


repreendeu, antes de passar ao italiano e o chamar de alguns
nomes mais. Imediatamente, Rafe recuou por respeito. Não,
não iria brigar com sua mãe.

— Quando começar a perseguir nosso único filho, ele


mudará as fechaduras na próxima vez que tenha a mínima
suspeita de que vamos visitá-lo e irá tão longe quanto for
possível.

— Papai, fico muito feliz em te ver. — Rafe deu um


abraço em seu pai e se sentiu aliviado por ter sido resgatado.
Sua família se tornou numerosa desde o dia que Rachel
nasceu. Rafe esperava que fosse um irmão, mas foi escravo
de Rachel desde a primeira vez que a pequena lhe pegou o
dedo mindinho no berço. Rafe também adorava Lia, mas era
mais velha quando Rachel nasceu e por consequência, mais
protetor com ela.

— Não é que queira ficar do lado de sua mãe e suas


irmãs, mas não tem muito boa aparência, Rafe. Está tudo
bem?
— Não encha o saco dele. Acredito que Rafe está muito
bonito. — Disse Lia se unindo à conversa.

Rafe se virou com um sorriso de agradecimento para


sua irmã. Lia era uma mulher impressionante, só cinco anos
mais nova que ele. Começou a chamar a atenção no primeiro
momento que chegou à puberdade e ele deu mais murros por
sua culpa do que podia contar. Deixou muito claro a todos
seus amigos, que sua irmã era intocável.

Não passou nada bem quando seu amigo Shane voltou


da universidade com ele e passaram Ação de Graças em sua
casa. Lia decidiu que gostava do que via. O pobre Shane
estava entre a cruz e a espada porque sabia que não podia
aproximar-se da garota, mas ela estava empenhada em
consegui-lo. Lia tinha apenas quinze anos naquela época -
muito jovem para sair com Shane, mas velha o suficiente
para estar... desenvolvida.

Por sorte, Shane manteve as mãos quietas, portanto,


sua amizade com ele permaneceu intacta. Lia fez com que
Shane suasse algumas vezes quando saia da piscina de
biquíni. Rafe continuava expulsando fumaça pelas orelhas
cada vez que pensava nisso. Sua irmã era muito ingênua e
confiante com os homens. Não percebia a facilidade com que
poderiam se aproveitar dela.

— Já sabe que sempre foi minha favorita, Lia. — Disse


enquanto passava um braço ao redor de seu ombro.

— Isso foi muito cruel, Rafe. — Disse Rachel fazendo


beicinho, seus olhos cinzas brilhando enquanto dava a seu
irmão um tapa no braço. Rafe começou a rir e se virou para
ela.

— Você é minha outra favorita, Rachel. — Declarou, e


ela imediatamente, o perdoou.

— Vou ligar para o escritório e cancelar minhas reuniões


da tarde. Prefiro passar o dia com vocês. — Disse Rafe à sua
família antes de se virar para a porta.

— Não tem por que fazer isso, Rafe. Podemos nos


entreter enquanto termina de trabalhar. — Insistiu seu pai.

— O bom de ser o chefe é que posso fazer o que quiser.


— Disse Rafe com uma piscadela antes de sair da sala.

Sentou-se em sua mesa com um grande sorriso em seu


rosto. Sua família era como um tornado, causando todo tipo
de caos ao seu redor. Mas um caos alegre. Estar com eles era
o único momento em que parecia manter sua humanidade
intacta. Se não fosse por eles, sabia que teria o mesmo
sangue-frio de um réptil. Às vezes, tinha de qualquer forma,
sobretudo quando ficava muito tempo afastado de seu
passado mais feliz.

Tinha que lembrar a si mesmo que gostava de sua vida


tal como era. Simplesmente não queria a família que sua mãe
rogava que lhe desse. Sim, as mulheres o encantavam, mas
não dessa maneira.

Entretanto, Rafe nunca romperia os óculos cor rosa que


sua família usava - não permitiria que vissem que se
converteu em um homem que levava a sua vida amorosa
como se tratasse de uma transação comercial. Intimamente,
não queria partir o coração de sua mãe. Mas o casamento
como tinham seus pais não era comum. A maioria das
relações terminavam tragicamente - como seu casamento

Isso de: Felizes para sempre - era basicamente um mito


ou uma brincadeira de mau gosto.

— De acordo, tudo está resolvido. Venham comigo e


mostrarei meu novo bebê. — Disse Rafe enquanto entrava na
sala.

— Se de verdade tivesse um bebê para mostrar à sua


mãe, ela seria muito menos resmungona e me permitiria sair
de debaixo de sua saia um pouco mais frequentemente. —
Disse Rachel com um sagaz sorriso.

Rafe sentiu vontade de apagar o sorriso do rosto de sua


irmã. Sabia que agora sua mãe o faria se sentir culpado.

— Enquanto Rachel não é tão prisioneira como ela


acredita, tem razão em uma coisa. Adoraria que me desse
algum bambino9. —Declarou Rosabella enquanto enganchava
seu braço no de Rafe. — Apenas pense em mim, cada vez
mais velha e solitária, sem netinhos que possam me consolar
em meus últimos anos...

— Por muito que odeie decepcioná-la mamãe,


simplesmente não posso trazer filhos a este mundo. — Disse
Rafe. — Nunca poderia igualar seu maravilhoso exemplo.
Seria um pai miserável para essas pobres criaturas. —
Continuou enquanto conduzia a sua família para fora.

9
Menino – criança.
— Pobres criaturas? De acordo, talvez é melhor que não
seja pai. — Disse seu pai com um sorriso.

— Viram? Escutem o homem. — Disse Rafe aos outros.


— Claramente é o único com um pouco de sentido comum.

— Apenas é capaz de ouvir a quem está de acordo com


você. — Disse Lia enquanto se colocava diante dele, virando e
se aproximando lentamente, fazendo caretas por todo o
caminho.

Não importava que fossem adultas, pareciam como se


suas irmãs fossem se comportar sempre como duas eternas
adolescentes. O que mais surpreendia Rafe era que no fundo
esperava que fosse assim. Queria imaginá-las sempre com
tranças enquanto vinham até ele para contar sobre suas
últimas aventuras na escola. Entretanto, Lia tinha vinte e
seis anos e Rachel, vinte e três. O tempo passava voando.

— Bem, Rafe, qual é este novo brinquedo que adquiriu?

— Acredito que ficará encantado, papai. Temos que ir de


carro até à marina.

— Ah, comprou um iate novo. Não comprou um o ano


passado?

— Sim e sempre será muito valioso para mim, mas


agora tenho um novo amor. A última forma de entreter os
clientes nestes tempos são os iates particulares, por isso
decidi fazer um investimento. O banco foi um pouco
miserável, é obvio, com algumas das deduções, mas o novo
iate se pagará por si mesmo daqui a um curto prazo de
tempo. Mas em última instância, sim, trata-se simplesmente
de um brinquedo muito caro. — Admitiu.

— Oh, Rafe, quero vê-lo. Podemos ir hoje? — Perguntou


Lia enquanto seus olhos se iluminavam.

— Já organizei minha agenda e chamei a tripulação.


Poderíamos ir dar uma volta e jantar no mar.

— Já disse ultimamente que é o melhor irmão mais


velho que já existiu? — Disse Rachel enquanto se encolhia ao
seu lado.

— Sim, cada vez que quer algo de mim. — Respondeu


ele com um sorriso.

— Supõe-se que os irmãos mais velhos estão aí para


estragar suas irmãs pequenas. Está no manual.

— Sim, o manual que escreveu quando tinha cinco


anos.

A família entrou no Porsche Cayenne de Rafe e este o


conduziu o mais rápido que pôde através do tráfego, ansioso
por ver a reação de sua família quando vissem seu novo
orgulho e alegria.

— Por que está sempre comprando artigos tão caros? —


Perguntou sua mãe.

— Trabalho muito duro, por isso gosto de recompensar


a mim mesmo. Fazer-me feliz.

A ideia do que o fazia feliz trouxe Ari à sua mente.


Quanto mais tempo demorava para a garota perceber que
teriam um inevitável caso, mais irritado ele ficava.
— Sempre quis as coisas imediatamente, Rafe. Sabe que
isso que dizem de que quem tem mais brinquedos quando
morre ganha, não é certo, verdade?

— E me diz isso uma garota que tem ao menos cem


pares de sapatos Jimmy Choo, Rachel? — Rafe disse
enquanto olhava para frente.

— Uma garota nunca tem sapatos suficientes.

A viagem prosseguiu em silêncio enquanto Rafe


começava a pensar de novo em Ari. Passou-se uma semana
desde que Mario a levou para casa e Rafe não falou com ela
desde então. Deu um pouco de tempo para ver se encontrava
a razão ou se seu interesse por ela diminuía. Mas não
aconteceu nenhuma das duas coisas, o que significava que
era hora de ir atrás dela.

Pararam no exclusivo porto esportivo e foram para a


parte de trás, onde seu iate se encontrava atracado em um
grande píer. O iate branco e brilhante tinha setenta e cinco
metros de comprimento e fazia com que qualquer
transatlântico da área parecesse ridículo.

Rafe se orgulhava de possuir apenas o melhor. Sim,


havia outros iates por aí maiores e mais luxuosos que o seu,
mas este bebê era exatamente o que ele queria. Não era muito
grande para não poder acessar certos lugares perto de casa,
mas era grande o suficiente para oferecer todas as
comodidades nas maiores aventuras.

— É esse? — Perguntou Lia com assombro.


—Sim. Esse é meu menino. — Respondeu Rafe com
orgulho.

— Está seguro de que não poderia conseguir outro um


pouco maior? — Perguntou seu pai com sarcasmo, mas seu
sorriso eliminou todo a ironia de suas palavras.

— Sim papai, acredito que é o menos indicado para falar


sobre o tamanho do meu iate. Seu jato pessoal deixaria o
meu em estado ridículo. De quem acredita que aprendi a
gostar somente do melhor?

Seu pai piscou um olho antes de voltar sua atenção à


embarcação.

O pai de Rafe sempre foi um homem muito rico, mas


sua mãe sempre insistiu em não estragar muito os meninos.
Os meses que passavam na Itália, viviam em uma modesta
casa que era muito acolhedora, mas não era grande nem
chamativa. Nos Estados Unidos entretanto, tinham uma
mansão. Quando incendiou-se há uns anos, seu pai ficou
devastado. Agora, o homem a estava reconstruindo, mas até
mesmo com todo o dinheiro do mundo, não era nada fácil
recriar uma casa de cem anos de antiguidades.

Seu pai a herdou de seus pais antes de se casar e era a


única razão pela qual a mãe de Rafe permitiu que vivessem
rodeados de tanto luxo. Ela estava costumava dizer
frequentemente que os homens ricos eram muito vaidosos -
com exceção de Martin. Ele a amava, sobretudo por seu
generoso coração e sua incrível caridade para com os pobres.
Quando Rafe pensava na educação que recebeu, sabia
que não iria querer ver o olhar aflito no rosto de sua mãe se
descobrisse alguma das coisas que fez com sua vida. Mas
rapidamente afastou esse pensamento de sua mente. Seus
pais eram boas pessoas, mas sua mãe era muito ingênua
sobre a maneira como funcionava o mundo. Assim, ele
guardou muitas coisas para si depois de seu divórcio e
continuaria mantendo a maior parte de sua vida particular
oculta de sua família.

— Rafe, acredito que é hora de passar um pouco de


tempo em casa. Todo este dinheiro o está convertendo em um
homem muito egocêntrico. Acredito que precisa lembrar quais
são suas raízes. —Sua mãe falou, confirmando seus
pensamentos.

— Mamãe, sabe que sempre apreciarei nossa casa na


Itália. É aonde vou quando o mundo em que vivo começa a
me asfixiar. Entretanto, tampouco somos camponeses. Papai
chegou em sua vida e puxou-a em seus braços para te levar
ao redor do mundo. Eu não diria que cresci num ambiente
pobre, precisamente. — Respondeu enquanto se inclinava e
beijava sua mãe na bochecha.

— Cuidado com o que diz, Raffaello Palazzo. — Advertiu


sua mãe.

— Sinto muito, mamãe.

— Está perdoado, pequeno moleque. Agora, nos dê um


passeio com seu novo brinquedo.
— Isso é um helicóptero? — Perguntou Rachel enquanto
olhava na parte da frente da embarcação.

— Sim. Se estiver fora e surgir uma emergência, tenho


que ser capaz de voltar para o escritório o mais rápido
possível.

— Oh, poderíamos dar uma volta? — Perguntou Lia.


Adorava voar mais que ninguém.

— Da próxima vez, farei com que meu piloto venha


conosco e daremos uma volta. Apenas posso tirar o dia de
hoje livre, assim prefiro saber o que esteve fazendo
ultimamente antes que a envie às nuvens.

Embora Rafe ligasse para casa com muita frequência,


adorava que sua família viesse visitá-lo. Soubesse sua mãe
ou não, estar com eles o fazia se sentir mais humilde. Pena
que se esquecesse tão facilmente desses momentos quando
as visitas terminavam, pensou com tristeza. Seu melhor
amigo costumava lhe lembrar disso todo o tempo.

— Como estava dizendo sobre meu iate, mede setenta e


cinco metros de comprimento, tem dois motores, mais de três
mil cavalos de força e pode viajar até dezesseis nós por hora.

— Pare! Pare! Não quero ouvir nada mais! — Gritou Lia.

Rafe começou a rir.

— Sei, sei que tudo isto é muito chato, então não devem
preocupar suas pequenas e preciosas cabecinhas com isso. —
Riu de novo quando suas irmãs mostraram a língua juntas.
— Ficarão felizes em saber que tem seis confortáveis quartos,
cada uma com seu próprio banheiro privativo, uma sala de
jogos que a fará muito feliz, uma piscina, um terraço bar,
salas de conferências, embora isso não interesse muito e uma
sala de jantar formal.

— Não há SPA? — Perguntou Rachel zombando.

— Na realidade, incluí um pequeno SPA com pessoal em


tempo integral para que possam fazer as unhas das mãos e
dos pés e em seguida, fazer uma massagem completa.

— Oh Rafe, pode ser que nunca queira sair deste iate. —


Disse Lia enquanto corria na frente dele pela plataforma.

— Acredito que será melhor que o afaste de você o


quanto antes.

— Meu coração não poderia suportar, mãe. — Disse


enquanto apertava o peito.

— Não faria mal nenhum. — Acrescentou seu pai.

— Acredito que sempre fui um bom filho. — Disse Rafe


enquanto seguia suas irmãs.

— Sempre foi um menino maravilhoso. Agora,


entretanto, estou preocupada com o homem que está diante
de mim. Se você assentasse a cabeça, poderia deixar de me
preocupar. — Respondeu sua mãe.

— Mamãe, sou feliz tal como sou. Vamos deixar isso. —


Respondeu, esperando que sua mãe mudasse de assunto.

— Preocupa-me que esteja sozinho. Sei que sua ex-


mulher o fez muito mal, filho, mas não quero que tenha medo
de tentar de novo. Precisa de uma mulher em sua vida que
cuide de você.

— Vou muito bem por minha conta, mamãe. Saí com


várias garotas ao longo de todo este tempo. — Disse em
defesa própria.

— Nenhuma que gostaria de levar para casa. Não são


mais que manequins perfeitos que apenas pensam em te
agradar.

— Acaso pode haver algo mais perfeito que uma mulher


cujo único desejo é satisfazer todas minhas necessidades? —
Perguntou. Se sua mãe soubesse o que queria dizer
realmente com essa afirmação, tinha a sensação de que o
empurraria pela amurada.

— Rafe ...

— Estou vendo uma boa mulher, mãe. Seu nome é


Arianna. — Rafe ficou atônito quando essas palavras saíram
de sua boca. O que estava fazendo? Em primeiro lugar, Ari
não estava com ele e em segundo lugar, não queria incentivar
o interesse de sua mãe. Apenas queria que deixasse de uma
vez por todas de incomodar implacavelmente por estar
solteiro.

— Quanto tempo esteve vendo esta mulher e por que


não nos disse nada? — Perguntou ela desconfiada.

— Acabamos praticamente de começar a sair e eu não


quero assustá-la falando de casamento, nem de bebês. —
Rapidamente respondeu, esperando que ela o deixasse em
paz.
Rafe não perdeu o olhar entre suas irmãs, que agora
estavam em alerta imediato para averiguar quem era esta
misteriosa mulher. Rafe jamais deveria ter aberto a boca se
soubesse o caos que essas pequenas oito palavras lhe
causariam mais tarde.
— Decidimos ficar durante uma semana ou duas mais.
Sua mãe e eu não passamos muito tempo na Califórnia nos
últimos anos e suas irmãs querem dar outra volta no iate
novo. Estou começando a pensar que já é hora de passarmos
um pouco mais de tempo por aqui.

Rafe se virou quase com horror ante as palavras de seu


pai. Eram muito suspeitas. Sua família fez perguntas sobre
Ari na noite anterior. Queriam saber quem era e quanto
tempo estava saindo com ela, como era sua família. A lista de
perguntas era interminável. Rafe tinha o mau pressentimento
de que sua improvisada estadia prolongada tinha mais a ver
com Ari do que com seu novo iate.

Não importava quais fossem os motivos de sua família.


Se quisessem prolongar sua visita, Rafe não se importava
absolutamente. Apenas precisava ser cauteloso e se
assegurar de que não atrapalhassem.

Tinha muito trabalho a fazer ao longo da semana, então,


não estaria disponível para passar muito tempo com eles.
Avisou sua equipe de que seu iate estava à inteira disposição
de sua família, assim como qualquer de suas outras posses –
apesar de seu pessoal já saber de tudo isso.
— Gosto da ideia de passar mais tempo com vocês.
Aviso, entretanto, que estarei muito ocupado esta semana.
Entraremos numa fusão importante e o mais provável é que
tenha que trabalhar quatorze horas diárias. —Disse, com a
esperança de fazer com que sua família decidisse partir.

— Está tudo bem, filho. Lembra-me daqueles dias que


passava horas trabalhando sem parar. Por sorte, agora posso
passar meus dias com sua preciosa mãe. Depois desta visita,
iremos a Irlanda. Não estive lá em anos e esta época do ano é
um bom momento para ir. Ficaria feliz de beber um pouco de
cerveja decente.

— Bem, minha casa é sua, assim como meus carros.


Agora tenho que ir ao escritório, mas podem ligar para meu
assistente se precisar entrar em contato comigo. Por favor
papai, não diga que é uma emergência de novo apenas
porque não encontra certa garrafa de vinho. — Advertiu Rafe.

— Isso foi apenas uma vez, Rafe e era nosso aniversário.


Bebemos o mesmo vinho em nosso aniversário durante os
últimos vinte anos. Em meu manual, isso é sem dúvida uma
emergência. — Respondeu seu pai com total seriedade.

— Muito bem. Se não vier esta noite, tentarei chegar em


casa um pouco mais cedo amanhã.

Com essas palavras, Rafe saiu pela porta e respirou


fundo enquanto entrava no carro. Sua família era
maravilhosa, mas um pouco sufocante. Seria bom voltar para
o escritório onde tudo estava sob seu controle.
— Não posso acreditar como foi difícil encontrar essa
garota! — Disse Lia com frustração.

— Bom, mas finalmente encontramos assim relaxe,


irmã. Rafe obviamente a adora, assim quero saber por quê.
Tive que me sentar no colo de Shane para conseguir a
informação. Foi divertido vê-lo suar, especialmente quando
você entrou no quarto, justo quando eu estava com as mãos
na massa. Nunca vi Shane ficar tão vermelho antes. Foi
muito divertido. — Respondeu Rachel com uma risadinha.

— Não há nada entre Shane e eu. Mesmo que eu


gostasse dele, o que não é o caso, Rafe jamais permitiria que
acontecesse algo. Ainda me trata como se tivesse cinco anos
em lugar de vinte e seis. — Disse Lia.

— Acredito que simplesmente deveria entrar no quarto


de Shane um dia desses e saltar sobre ele. É óbvio que está
apaixonada por ele desde os quinze anos.

— Concentre-se Rachel. Temos que chegar à praia e


procurar Ari. Suas companheiras de escritório me garantiram
que desceriam hoje. Foi surpreendentemente fácil as
subornar. Disseram-me que a garota precisa que alguém a
leve para cama. É muito estranho que nosso irmão não a
tenha acorrentado à sua cama, se gosta tanto dela.
— Talvez ele esteja apaixonado por ela, mas ela não. —
Disse Lia antes que ambas as garotas explodissem em
gargalhadas.

— Sério, se houver alguma mulher aí fora inteligente o


suficiente para resistir aos encantos de Rafe, ela é
definitivamente única. Espero que esse seja o caso. Vamos
pegar nossas lupas de detetives.

— Não há nada que eu goste mais que um bom filme de


mistério.

As irmãs de Rafe saltaram dentro da Mercedes


conversível e imediatamente saíram dirigindo. Era um bonito
dia e fazia vinte graus, estavam ansiosas para chegar a
Stinson Beach e tinham muita vontade de conhecer a mulher
que parecia conseguir que seu irmão mais velho assentasse a
cabeça.

Nenhuma delas gostou de nenhuma de suas namoradas


anteriores e odiavam sua ex-mulher, mas uma mulher que
queria esconder-se delas despertava sua curiosidade. Seria
uma grande tarde.

— Elaboramos um plano já? — Perguntou Rachel


quando pararam em um semáforo. Era quase impossível
ouvir qualquer coisa com tanto vento.

— Não tenho nem ideia do que faremos. O primeiro


passo será encontrá-la. Teremos que ser rápidas e avaliar a
situação uma vez que estivermos lá

— Um desafio. Adoro.
— Sim, porque é uma pirralha intrometida, Rachel.

— E eu que pensava que você era a perita nisso. Teve


uma noite ruim? Ou está apenas um pouco irritada por ter
me visto sentada no colo do seu namorado? Sabe que não
gosto de Shane. Soube que era todo seu desde o dia que
entrei no quarto e quase escorreguei com seu poço de saliva.

— Não estou apaixonada por Shane!

— Oh meu Deus, Lia. Admite. E sei sobre o incidente do


hotel. — Disse Rachel com um malicioso sorriso.

— Como sabe isso?

—Você não é a única que sabe como conseguir


informação. Tenho os empregados espionando sempre para
mim. Sei algumas coisas também sobre nosso irmão mais
velho. Se alguma vez colocar muitos impedimentos para você
e Shane, então contarei. — Disse Rachel.

Lia olhou a sua irmã por um momento antes de voltar


seus olhos de novo à estrada. O restante da viagem para a
praia foi feito com Rachel se gabando de seus engenhosos
comentários e Lia fazendo beicinho. Lia morria de vontade de
saber o que sua irmã mais nova descobriu.
— Não posso acreditar que tenham me convencido a
isto. Tenho muito trabalho para fazer neste fim de semana.
Depois do incidente do bar, não deveria confiar que me
levassem a nenhum outro lugar. — Grunhiu Ari enquanto
subia na minivan de Amber.

—Deixa de ser tão resmungona. Está um dia


maravilhoso. E não seria ruim você pegar um pouco de cor
nesse branco ofuscante e que todas nos divertíssemos juntas.
— Disse Shelly.

— Terá que nos perdoar algum dia, Ari. Como


saberíamos que o garçom gostoso colocaria um comprimidos
na sua bebida? Simplesmente pensamos que ele estava
gostando de você. Se há alguém a quem cairia bem uma
ótima noite de sexo quente, essa seria você sem dúvida.
Nunca vi ninguém com um pescoço tão rígido. — Disse Miley.

— Está bem, está bem. Esquecerei tudo o que aconteceu


se não voltarem a falar no psicopata do Chandler de novo.
Não posso acreditar que ficou preso apenas alguns dias. O
que está acontecendo com o mundo em que vivemos? Terei
muito mais cuidado com o que beber a partir de agora. —
Grunhiu Ari quando sentiu que ficava vermelha.

Suas amigas não sabiam nada sobre a noite que passou


com Rafe - sua emocionante e excitante noite. Ainda ficava
com a pele arrepiada ao se lembrar de suas carícias. Ari sabia
que estava tensa. Parecia ter aberto a comporta de hormônios
dentro dela e era muito covarde para perseguir um homem,
apenas para que satisfizesse suas mais furiosas
necessidades.

Queria experimentar outra noite como a que teve com o


Rafe, mas não queria ter outra noite com ele. Bem, sim
queria, mas era inteligente o suficiente para não fazer isso.

— Oh, doze em ponto. Vamos ver um pouco de voleibol


de praia. — Disse Amber quase babando.

As outras três mulheres responderam em uníssono e


logo todas estavam de boca aberta. Havia vários homens
realmente sensuais vestidos com trajes de banho curtos e
molhados de suor, jogando uma partida rápida de voleibol.

— Vejo um espaço livre para nós perto da rede com uma


vista perfeita. — Assinalou Shelly enquanto começava a
avançar pela areia entre a multidão de banhistas. Depois de
uma pausa, as outras três mulheres correram atrás dela.

— Não seja tão puritana, Ari. Fique ereta e faça alarde


desses seios matadores. Quer que os rapazes bons olhem
para você, certo? — Perguntou Miley enquanto tirava o nó na
parte de trás do pescoço de Ari.

Antes que pudesse impedir sua amiga, Ari estava


sentada em sua toalha usando unicamente a parte de cima
do biquíni que Amber emprestou e um short curtíssimo.
Sentia-se nua enquanto olhava ao redor com timidez,
convencida de que todos estavam olhando horrorizados para
ela.

— Será melhor que coloque um pouco de protetor solar


antes que se transforme em uma lagosta. Precisa de um
pouco de cor, não uma queimadura de terceiro grau. —
Anunciou Shelly enquanto borrifava um pouco de líquido tão
frio como o gelo pelos ombros de Ari, fazendo com que
sentisse arrepios em suas costas.

— Obrigada por ter esquentado antes, Shelly. — Disse


Ari enquanto a mulher espalhava a loção por suas costas.

— Deixe de reclamar. Estou lhe salvando de muitos dias


de dor.

— Não teria que fazer se não tivesse tirado minha roupa


de proteção.

— Oh querida, às vezes é mais interessante não usar


essa proteção, — disse Miley com um sorriso maroto.

— Não posso acreditar que seus maridos as deixam sair


de casa. São terríveis.

— Nossos maridos sabem que os amamos mais que


tudo, por alguma razão que não entendo muito bem.
Podemos olhar tudo o que quisermos sempre, desde que não
toquemos. Acredite em mim querida, nossos homens não
deixam passar a oportunidade de olhar uma boa bunda firme
quando passa na frente deles. — Disse Amber enquanto se
inclinava para trás e fechava os olhos.

— Está perdendo o espetáculo. — Disse Miley enquanto


dava uma cotovelada em Amber.

— Sei, mas Sean ficou mal ontem à noite e não me


deixou dormir. Posso olhar os homens musculosos em
qualquer momento, mas raramente tenho o prazer de
desfrutar de uma boa soneca.

— Oh, eu gosto de sua forma de pensar. — Disse Shelly


enquanto se deitava ao seu lado.

Ari logo percebeu que era a única que permanecia


consciente enquanto o restante de suas amigas dormia e
tomava sol. Ela esteve sentada no escritório toda a semana e
tinha energia para queimar. Não queria ficar mais tempo ali
sem fazer nada.

E tendo em vista de como eram bonitos os homens que


passavam diante dela, a ideia de passar o dia todo somente
olhando tampouco a entusiasmava muito. Tentaria
mergulhar. A água com certeza estava gelada, mas depois que
se acostumasse com ela, poderia fazer algum exercício.

Ficou de pé e começou a caminhar em direção ao mar


quando duas mulheres a pararam.

— Ei, precisamos de outra pessoa para o voleibol. Você


joga?

Ari se virou para negar educadamente quando uma das


mulheres a puxou pela mão e começou a arrastá-la para a
quadra de esportes.

— Olá. Sou Lia e esta é minha irmã, Rachel. Obrigada


por jogar conosco.

— Um... não sou nada boa com voleibol. — Disse Ari


enquanto tentava se soltar.
— Não tem problema. Não precisa ser boa. Apenas
precisamos completar a equipe. Como se chama?

— Ari.

— Bonito nome. Um belo dia, certo?

— Sim. Estava pensando em dar um mergulho, fazer um


pouco de exercício depois de ficar presa no escritório toda a
semana. — Disse Ari tentando se livrar do jogo sem ferir os
sentimentos das garotas.

— Oh, a água está gelada. Além disso, algumas rodadas


de voleibol na areia e estará pedindo clemência. É um grande
exercício, especialmente para as coxas. Estará ardendo
quando terminarmos.

— Acredito que poderia tentar, mas quando perceberem


como sou ruim vão querer encontrar outra jogadora. — Ari
advertiu.

Ari não tinha nem ideia de que estava com as irmãs de


Rafe e que suas habilidades para o voleibol não importavam
absolutamente. Queriam toda informação possível.

— Encontramos outra jogadora. Estamos preparadas. —


Disse Lia enquanto dava um salto na quadra de esportes.

— Excelente. Prontas para perder, garotas?

— Eu não contaria com isso, sabe-tudo. Somos bastante


competitivas. — Respondeu Rachel enquanto se afastava.

Eram seis na equipe e Ari se sentiu melhor quando viu


os biquínis que usavam as outras mulheres. Suas roupas
faziam com que seu biquíni e short fossem francamente
modestos. Uma das garotas mal podia conter seus seios e Ari
suspeitava que seus grandes peitos sairiam do biquíni a
qualquer momento durante o jogo.

— Cuidado!

Ari se voltou, mas não rápido o suficiente para evitar


que a bola que girava diretamente para sua cabeça, a
golpeasse. Caindo no chão com a menor graça possível, Ari
gemeu ao mesmo tempo em que duas fortes panturrilhas
entravam em seu campo de visão.

— Sinto muito. Está bem?

— Estou bem. Acredito que meu orgulho é o único que


se feriu.

— Deixe que a ajude. — Antes que Ari pudesse negar, o


homem a pegou por debaixo dos braços e a levantou no ar,
deixando que seu corpo deslizasse até que seus pés tocassem
o chão de novo. — Terei certeza de ter mais cuidado daqui
para frente. — Disse com uma piscadela.

Ari ficou sem fala quando percebeu que o rapaz estava


a paquerando. Não sabia como responder. Era
impressionante, com seu cabelo loiro e bronzeado, mas não
saltaram faíscas entre eles.

A quem importava? - Pensou. Esteve se queixando sobre


sua frustração sexual e aqui havia um homem excelente com
sangue quente que praticamente estava tocando nela.

Antes que Ari pudesse decidir se paquerava de volta ou


não, Rachel se aproximou correndo.
— Oh, Ari. Está bem?

— Sim, sim, estou bem.

— Bom, vamos jogar. — Rachel a arrastou longe do


excessivamente bronzeado homem e Ari se esqueceu dele logo
que a partida começou.

Meia hora mais tarde, Ari estava indo muito bem. Sem
dúvida fazendo muito exercício e estava rindo tanto que doía
o estômago. Lia e Rachel tinham razão sobre as pernas
doloridas, já podia sentir um leve ardor em suas coxas.

— Precisamos de um descanso. — Disse Rachel


enquanto pegava a bola e corria para buscar água. Ari a
seguiu. Precisava de uma ou mais garrafas da bebida bem
gelada.

— Isso é muito divertido, não é verdade? — Disse Lia


enquanto entregava a Ari uma garrafa de água.

— Tenho que admitir que é. Faz tempo que não desfruto


tanto de uma tarde.

— Terá que voltar no próximo fim de semana e repetir.


— Respondeu ela com um deslumbrante sorriso.

— Nos encontraremos aqui então. É muito melhor do


que disse que era. — Interveio Rachel.

— Passou-se tanto tempo desde a última vez que joguei,


que pensei ter esquecido. — Admitiu Ari.

— O tempo de descanso terminou senhoritas. Bem, a


menos que queiram uma massagem em seus doloridos
músculos.
Ari se virou e se surpreendeu ao ver um dos outros
rapazes olhando-a diretamente. E se surpreendeu ainda mais
quando ele assentiu em sua direção. O que estava
acontecendo? Talvez fosse a parte de acima de seu biquíni cor
vermelha berrante que estava dando a impressão equivocada.
Antes que pudesse dizer uma palavra, Lia a puxou pela mão.

— Estamos muito bem, John. Deixe de tentar flertar


conosco apenas para nos deixar nervosas. Não somos tão
ingênuas. — Disse Lia, enquanto puxava Ari para a quadra
de esportes. Ari estava mortificada. Seria por isso que os
rapazes estavam paquerando? Isso fazia mais sentido -
certamente não podia ver a si mesma como um ímã sexual.

— Oh, isso não teve nada a ver com o jogo. Querem


tomar uma bebida depois da partida? — Ofereceu-se,
acalmando seu ego.

— Não podemos. Temos planos para o jantar, mas


obrigada de qualquer jeito. — Disse Rachel. Então se dirigiu à
Ari.

— Deveria vir conosco esta noite. Vamos jantar no iate


do meu irmão. É um paraíso com motor, têm inclusive um
pequeno SPA onde podemos ter uma massagem. Suas pernas
vão precisar.

Ari não sabia como responder. Estas mulheres eram


duas estranhas. Deveria recusar o convite amavelmente e
voltar para suas amigas, mas se sentia incapaz de dizer não.
Nunca esteve em um iate antes e soava realmente divertido.
Uma das coisas que Ari descobriu desde que começou a
trabalhar e se afastou do campus da universidade era que as
pessoas, em geral, eram muito mais amáveis do que
acreditava ser possível. E depois de tudo, tinha seu celular se
por acaso acontecesse algo. Não pareciam ser duas
assassinas em série.

— Prometo que não vamos te estripar e lançar ao mar. É


que não estamos em São Francisco com muita frequência,
assim tentamos fazer amigos rapidamente. —Disse Rachel
enquanto fazia o juramento de escoteiras.

Se fosse uma má ideia, Ari teria um mau


pressentimento, não? Além disso, estava cansada de fazer
sempre o que era seguro.

— De onde são?

— Passamos nossa infância entre os Estados Unidos e a


Itália. Nosso pai é americano e nossa mãe, italiana. Assim
passamos seis meses na Itália e seis nos EUA. Apesar de que,
nos últimos anos, temos passado muito mais tempo na Itália.
Eu já terminei a universidade, por isso agora tenho mais
liberdade. Acredito que meus pais têm intenção de nos deixar
com meu irmão e percorrer o mundo.

Ari estava desconcertada. As garotas pareciam ter mais


de vinte e um anos e sem dúvida mais de dezoito, então por
que precisariam que alguém cuidasse delas? Teriam algo
para que se preocupar como talvez um transtorno mental?
Não queria bisbilhotar, entretanto.
— Parece confusa, Ari. Está tudo bem. Quando conhecer
nosso pai, entenderá. Eu tenho vinte e seis anos e Rachel,
vinte e três, mas para nosso pai é como se ainda tivéssemos
doze. Nosso irmão mais velho se comporta da mesma maneira
conosco. Me escondi algumas vezes, mas meu pai fazia com
que seus empregados se assegurassem que meu traseiro
estivesse bem o tempo todo ou ele e minha mãe decidiam
tirar suas férias e viajar justo para onde eu estava morando.
Além disso, meu irmão se ocupou de espantar todos os
homens que pareciam se interessar por mim. Se não gostasse
tanto da minha família, acredito que os odiaria um pouco. A
conclusão é que se realmente quisesse fazer uma mudança
em minha vida, deixariam. Pode ser que não gostem, mas sei
que me amam o suficiente para me deixar ir. Mas
simplesmente encontraria um jeito de conseguir esconder um
dispositivo de rastreamento em minha bolsa. — Disse
enquanto começava a rir.

— Nossa. E eu que pensava que minha mãe era


superprotetora.

— Oh, Ari. Minha família é a que fez da superproteção


uma ciência. São geniais, realmente incríveis. Tem que vir
conosco e conhecer nossa mãe. Tentarei irritá-la e então
começará a falar em italiano. É um bom entretenimento.

Ari não pôde evitar. Gostava de estar com essas duas


borbulhantes garotas. Como não poderia ser assim quando
falavam à mil por hora e sorriam constantemente? Sentia-se
segura aceitando seu convite.
— Claro, jantarei com vocês. Parece que será muito
divertido. Direi às minhas amigas assim que acabar a
partida. — Disse Ari.

As garotas jogaram voleibol durante mais outra hora,


antes que Ari decidisse tomar um banho. Estava ardendo e
tinha o pressentimento de que já teria suado a maior parte de
seu protetor solar. Pior ainda, já podia sentir dor em seus
ombros. Teria que sofrer as consequências de sua visita
improvisada à praia. Mas em última instância, não se
importava - valeu a pena só com o que estava se divertindo.

Depois de ter apresentado as duas irmãs às suas amigas


e explicar exatamente aonde ia, Ari entrou no carro com as
duas garotas e desfrutou da brisa que soprava em seu cabelo
enquanto se dirigiam ao porto.

Quando chegaram ao porto e viu o iate, Ari ficou atônita.


Esperava um grande iate já que as garotas falaram de um
SPA onde davam massagens, mas não estava preparada para
o que viu flutuando na água diante dela. Parecia ocupar todo
o porto.

— Será melhor andarmos depressa. É muito tarde. Meu


irmão odeia quando o fazemos esperar. — Disse Lia.

— Não parece errado que leve uma estranha a bordo? —


Perguntou Ari, de repente nervosa. Não estava acostumada a
se relacionar com pessoas que tinham tanto dinheiro para ter
um iate como este.

— Não se importará absolutamente. — Disse Rachel


como se tivesse sua própria brincadeira interna.
As três subiram a bordo e logo Ari se virou e viu como a
equipe tirava o iate da plataforma e começava a se mover.

— Realmente somos as últimas a chegar. Rafe vai nos


matar. — Disse Rachel, embora não parecesse muito
preocupada.

Ari se virou de volta para garota e de repente seu corpo


ficou tenso enquanto entravam no mar. Ainda poderia chegar
a nado à margem se saltasse agora.

— Como se chama seu irmão? — Perguntou Ari, sua voz


mal audível por cima do ruído do motor.

— Rafe Palazzo. Conhece?


Ari começou a ficar tonta e se apoiou no corrimão, se
obrigando a respirar profundamente. Virou para ver como o
enorme iate se afastava cada vez mais e mais do píer. E Ari
tentou avaliar se ainda poderia chegar nadando à margem.
Deveria saltar? Pensou. Quase pulou, quando Rafe falou:

— Vejo que chegaram tarde, como sempre. Estamos há


uma hora esperando.

— Oh, Rafe. Estávamos jogando uma intensa partida de


voleibol. Além disso, fizemos uma amiga nova e a convidamos
a vir conosco. — Disse Rachel.

Ari não podia se mover. De maneira nenhuma podia


virar e ver seu rosto. Não o viu desde aquela noite, fazia duas
semanas. Se pudesse se mover, realmente pularia pela
amurada. No que se colocou?

— Bem-vinda a bordo... —Começou a dizer Rafe, mas de


repente parou. Ari percebeu que a reconheceu. Talvez
percebeu como estavam tensos seus ombros. Tudo dizia que
pulasse e acabasse com esse momento de uma vez por todas,
mas tentou fingir um sorriso e se virou para encontrar com o
olhar inexpressivo de Rafe.

Todos permaneceram em silêncio enquanto os olhos de


ambos se enfrentavam - os dele, estreitando-se e os dela,
abrindo-se. O tempo que passou desde seu último encontro
não fez nada para diminuir o incrível sex-appeal do homem.
Estava muito bonito em seu traje. Com uma camisa polo
apertada e short, estava devastador.

— Ari. Que casualidade que minhas irmãs se chocaram


com você. — Disse Rafe depois de um momento de tensão de
silêncio absoluto.

— Esta é sua Ari! — Ofegou Lia muito dramaticamente.


Rafe olhou para cada uma de suas irmãs sem deixar lugar a
dúvidas de que ele não se deixaria enganar.

— Eu não sou sua Ari! — Ela finalmente encontrou sua


voz e lançou um incrédulo olhar a Lia e Rachel antes de se
virar para Rafe.

— Isso não foi determinado ainda. — Disse Rafe


enquanto a puxava pelo braço. — Não protegeu sua pele.
Precisa passar uma pomada imediatamente ou não suportará
quando se deitar na cama esta noite.

Ele a levou, deixando para trás suas irmãs. Deram a


volta antes que Ari pudesse protestar e começou a agarrar
seu braço. A pressão de seu agarre causava uma intensa
sensação de ardor. Ela realmente tomou muito sol. Enquanto
olhava seu ardido braço, percebeu que estava caminhando
junto a ele em seu revelador biquíni e short. Deve ter deixado
cair sua bolsa no deck. Sentia-se muito exposta.

Então percebeu: as mulheres falaram de sua Ari. Isso


significava que Rafe falou dela com sua família antes que as
garotas topassem com ela. As peças do quebra-cabeça
começavam a se encaixar. Não era uma coincidência que se
conhecessem na praia. Por que tinha que ser tão ingênua? É
obvio que não iria conhecer do nada pessoas tão geniais que
a convidariam casualmente para jantar à luz da lua em um
enorme iate.

— Já pode me soltar. — Exclamou Ari enquanto puxava


o braço, ignorando a dor aguda e muito irritada pelo
movimento dos acontecimentos para manter um tom leve de
voz.

— Não acredito. Vi a cara que fez enquanto agarrava o


corrimão. Não a considerava tão estúpida para querer pular
pela amurada.

Ari sabia que estava muito longe da costa agora para


poder nadar de volta. Além disso, não era uma suicida.
Apenas estava desesperada para escapar de Rafe. Esperava
que suas intrometidas irmãs tivessem alguma roupa extra a
bordo.

— Não vou negar que esse pensamento passou pela


minha mente quando soube que este era seu iate. Entretanto,
sou consciente de que agora estamos muito longe. O que você
deveria fazer agora, sendo o cavalheiro que acredito, é fazer
com que o iate volte e me leve de novo ao píer. — Disse com
sua voz mais altiva.

Rafe a parou e a empurrou contra a parede. Dobrou os


joelhos, alinhando seus corpos até que seu peito se apertou
contra o dela enquanto seus olhos devoravam seu rosto.
— Quando afirmei ser um cavalheiro, Ari? — Perguntou
com um sorriso sedutor.

— Nego-me a seguir esse jogo, senhor Palazzo. — Ela fez


uma pausa enquanto pensava. E se não tivesse sido uma
simples intromissão de suas irmãs? E se na realidade o
homem planejou tudo isso?

— Enviou suas irmãs atrás de mim?

— Não. Preferiria que não estivesse tão perto da minha


família. Mas não posso dizer que esteja decepcionado ao vê-
la. Estive pensando na nossa noite juntos e gostaria de
repeti-la. Pela forma como está acelerada sua respiração e a
forma que seus mamilos endureceram contra meu peito, diria
que tampouco você se importaria. — Disse com sua máxima
confiança.

Ari odiava que tivesse razão. Esteve sonhando com Rafe


durante dois meses e os sonhos estavam cada vez mais
eróticos depois de ter compartilhado sua cama. Adoraria que
ele voltasse a afundar-se dentro dela, mas não estava
preparada para odiar a si mesma logo após, quando ele a
tratasse como uma prostituta.

— É certo que meu corpo responde a você, mas isso não


quer dizer que o deseje. Prefiro me deitar com qualquer
estranho da praia antes de deixar que volte a colocar as suas
mãos em cima de mim. — Disse ela.

— Mentirosa. — Sussurrou enquanto abaixava a cabeça


e passava a língua pela suave pele de seu pescoço. Ari logo
conseguiu conter um suspiro. Se ao menos não fosse tão
atraente!

— Estou com frio, senhor Palazzo. Poderia, por favor, me


permitir entrar na cabine para que possa tomar banho e me
trocar? Não tenho nada comigo e agradeceria muito se
pudesse pedir alguma roupa emprestada. — Disse com os
dentes apertados. Estava se concentrando tudo o que podia
para manter a compostura enquanto Rafe passava a língua
por sua pele avermelhada. A forma como estava tocando-a fez
com que se esquecesse de suas dolorosas queimaduras.

— Mmm, está salgada. Adoraria ajudar a limpar. —


Ofereceu quando se separou dela e começou a caminhar de
novo pelos corredores da embarcação.

— Posso me limpar muito bem sozinha. — Disse


enquanto se dirigiam para um conjunto de escadas. A risada
dele foi sua única resposta.

Em poucos minutos, Rafe abriu uma grande porta que


dava para uma espaçosa sala. Ari olhou por cima do sofá e
viu duas cadeiras ao redor de uma mesa de cerejeira
moderna. Várias pinturas originais decoravam as paredes,
com uma iluminação especial para ressaltar as cores e as
texturas das obras de arte. A sala no geral estava muito
decorada com uma mescla de luzes e sombras.

— Vá por essa porta à direita. Farei com que tragam


alguma roupa, a menos que mude sua opinião sobre minha
oferta para lhe ajudar.
— Não obrigada. — Disse Ari enquanto se afastava dele
e entrava no quarto. De repente, encontrou-se em uma sala
de um tamanho mais decente com um sofá, espelhos e
algumas mesas laterais. Havia uma porta no lado direito e se
dirigiu até ela sentindo-se muito feliz quando viu um
chuveiro.

No outro lado, havia uma grande banheira, mas Ari não


se atreveria a tomar um banho demorado. Tomaria um banho
o mais rápido possível e rezaria para que tivesse uma troca de
roupa esperando-a quando terminasse.

Quando o forte jato de água golpeou sua pele, Ari deu


um salto. Sim, definitivamente estava queimada pelo sol e a
água não ajudava. Diminuiu a pressão e ajustou a
temperatura da água deixando mais fria do que quente e
mesmo assim parecia estar fervendo, mas se ficasse mais fria,
seus músculos congelariam.

Ari sofreu durante o banho e lavou o corpo


cuidadosamente o melhor que pode, o que foi um alívio, pelo
menos sua pele estava agora livre da areia e da água salgada.
Assim que terminou, saiu, pegou uma toalha suave e a
envolveu ao redor de seu corpo antes de abrir a porta um
pouco e olhar para o quarto.

Sentiu-se aliviada quando viu um conjunto de roupa


esperando-a em um canto e nenhum sinal de Rafe. Se o
homem tentasse seduzi-la de novo, ela estava segura de que
cairia rendida aos seus pés em um tempo recorde. Seu corpo
ainda tremia de necessidade depois de seu breve encontro no
corredor e saber que não estava muito longe, fazia com que
seu desejo ardesse ainda mais.

Quando Ari pegou um vestido de seda azul e uma


pequena calcinha preta, sentiu o calor em seu rosto. O
vestido quase não cobriria mais do que seu traje de praia.
Rafe a estava atormentando intencionalmente. Quando
descobriu que não havia nenhum sutiã entre os objetos,
olhou para a porta fechada desejando que os pensamentos
pudessem matar. Se assim fossem, Rafe estaria agora mesmo
se afundando mais e mais nas profundezas do oceano.

Retornou ao banheiro e enxaguou a parte superior do


biquíni, logo voltou para o quarto, encontrou um secador de
cabelo e secou o biquíni antes de vestí-lo novamente. Com
uma exclamação de incredulidade, vestiu a calcinha - um
muito pequeno pedaço de tecido que cobria suas partes
femininas - e passou o vestido pela cabeça.

O suave tecido alcançava a metade de sua coxa, mas o


vestido era surpreendentemente confortável, o tecido fresco
sentindo-se maravilhosamente bem contra sua pele quente.
Quanto mais tempo ficou no sol, mais dolorosa ficou a
queimadura que cobria a maior parte de seu corpo. Os
próximos dias não seriam nada agradáveis.

Ari sorriu quando encontrou uma garrafa de loção de


aparência cara com Aloe Vera. Despindo-se rapidamente de
novo, começou a cobrir sua pele com ela. Estava no céu
enquanto aplicava a loção por seu pescoço, seus braços e
suas longas pernas. Não chegava as costas, mas conseguiu
cobrir o suficiente para que uma sensação de alívio a
percorresse.

Ao menos sobreviveria à incômoda cena que estava por


vir. Estava segura de que Rafe não perderia a oportunidade
de fazê-la se contorcer no assento. Tentaria não dar a
satisfação de ver que ela se sentia fora de lugar.

— Estava começando a pensar que não fosse sair.

Ari se sobressaltou ante o som da suave e culta voz de


Rafe. Ela não esperava que o homem estivesse ali, quando
sua família estava no iate.

— Não precisava me esperar. Estou segura que teria


encontrado a sala de jantar. — Disse enquanto se aproximava
dele.

— Não seria tão grosseiro em deixar minha convidada


sozinha.

— Eu não sou sua convidada, senhor Palazzo.


Simplesmente fui enganada para vir aqui. Mas passarei por
isso da melhor maneira possível, mas pode ter certeza que
passar a noite na sua presença será quase tão agradável para
mim quanto um tratamento de canal.

Rafe começou a avançar lentamente para ela com um ar


de predador. Ela queria fazer uma rápida retirada, mas se
negava a mostrar sinais de fraqueza. Isso seria como expor
seu pescoço a um leão.

— Já me cansei que me chame de senhor Palazzo, Ari.


Começa a me chamar por meu nome ou encontrarei várias
formas prazerosas de lhe torturar na frente da minha família.
A escolha é sua. —Disse quando parou na frente dela com
seu peito roçando seus mamilos eretos. O vestido que usava
não escondia nada e Rafe sorriu ao ver sua reação.

Ari gostaria de acusá-lo de estar blefando, mas e se


estivesse falando sério? Ela não pensava que fosse fazer algo
escandaloso, sobretudo com testemunhas, mas pelo que
sabia, toda sua família estava um pouco mal da cabeça.
Talvez gostasse de sacrificar mulheres jovens e depois lançar
seus corpos aos tubarões.

— O quê? Não tem nenhuma resposta sarcástica, Ari?


Decepciona-me. — Brincou Rafe enquanto acariciava os
cachos naturais de seu cabelo. O leve tremor que percorreu
suas costas era um claro indicativo do muito que a estava
afetando, mas não importava o quanto tentasse convencer a
si mesma, não podia controlar seus hormônios. Ari podia
odiá-lo pela maneira como a fazia se sentir, mas não podia
deixar de desejá-lo.

— Estou com fome, se não se importa de me levar à sala


de jantar. —Disse Ari com um sussurro, evitando chamá-lo
pelo nome.

— Não quero fazê-la esperar. —Respondeu enquanto


fazia com que entrelaçasse seu braço com o seu. Ari sabia
que resistir seria em vão. Por isso se obrigou a relaxar
enquanto caminhava a seu lado pela mesma porta que
entraram.
Pelo menos, quando estivessem rodeados de outras
pessoas, Ari não teria que lutar contra ele - e ela mesma. Se
pudesse entender como podia odiar o homem e o desejar ao
mesmo tempo, seria capaz de fazer milhões. Muitas mulheres
pagariam para saber seu segredo.

— Que tal o banho?

— Não muito bom. Tem um banheiro muito bonito, mas


tomei muito sol. Parecia como se milhares de agulhas
estivessem cortando minha pele. Entretanto, a loção sobre o
balcão fez maravilhas. Não sei que ingrediente mágico tem,
mas me sinto quase de volta ao normal.

— Depois do jantar, estaria mais que encantado em


esfregar isso por todo seu corpo. Irei me assegurar de chegar
aos lugares mais inacessíveis.

O suave ronronar de sua voz fez com que seu estômago


revirasse. Suas pernas não eram mais que gelatina e o fogo
do inferno parecia esquentar seu centro. Como pôde pensar
que estaria a salvo na presença dos outros? O homem podia
sussurrar uma palavra e derretê-la, tocá-la suavemente e
deixá-la como pudim em suas mãos.

Talvez fosse melhor que estivesse no mar com os


tubarões. Neste momento, um tubarão parecia uma criatura
muito menos perigosa.
Rafe deveria estar furioso com suas irmãs, mas estava
muito contente de ter o braço de Ari ao redor do dele e a
suave curva de seu peito pressionada contra seus bíceps.
Sabendo que seu desejo por ela aumentava a cada segundo
que passava - sabendo que o intrigava - continuou sua
perseguição. Ignorando sua intuição, optou por desfrutar de
Ari.

— Tem uma embarcação muito bonita.

O elogio de Ari o encheu de um calor que não queria


sentir. Pensou em responder de forma sarcástica, mas algo o
parou.

— Obrigado. Por aqui. — Disse enquanto abria uma


porta que dava à decorada sala de jantar. Uma grande mesa
estava no centro do salão com capacidade suficiente para
umas vinte pessoas. A outra área de descanso estava à
direita, onde sua família estava conversando de maneira
animada enquanto compartilhavam uma bebida antes de
jantar.

— Estávamos começando a pensar que não fossem


aparecer. — Disse seu pai enquanto se levantava. — Quem é
sua bonita companheira?
— Pai, esta é Ari. Parece que as garotas a conheceram
hoje na praia e a convidaram para vir à bordo. —Respondeu
Rafe enviando um olhar severo à suas duas irmãs. Elas
tiveram a decência de desviar o olhar, sabendo que foram
descobertas.

—Precisávamos de uma pessoa extra que jogasse


voleibol conosco e encontramos Ari. Não tínhamos nem ideia
de que se tratava da... amiga de Rafe. — Disse Rachel com
um inocente sorriso.

— Que feliz coincidência! — Respondeu Rafe zombando.

— É um prazer conhecê-la, Ari. Meu filho parece estar


muito afeiçoado a você. — Disse sua mãe em seu suave
sotaque italiano. Diminuiu muito nos últimos anos, já que
passava mais tempo com seu pai nos Estados Unidos.

Rosabella se adiantou, segurou as mãos de Ari e logo se


inclinou e a beijou na bochecha, fazendo com que ruborizasse
levemente ante a cálida recepção.

— Encantada por conhecê-la, senhora Palazzo.

— Oh querida, por favor, me chame de Rosabella. —


Insistiu a mãe de Rafe.

— Obrigada, Rosabella. Tem filhas maravilhosas. Tive


um dia muito agradável com elas. Jamais estive em um iate
tão grande como este e parece uma experiência única.

Rafe notou que Ari não tinha problemas em chamar sua


mãe por seu nome.
— Meu intratável filho não a trouxe a bordo ainda?
Bom, terei que conversar com ele a respeito de suas
maneiras. O iate é agradável. Acho que meu marido e eu
deveríamos comprar um para escapar durante uns meses.
Poderia me acostumar a navegar em alto mar. — Disse
Rosabella com uma encantadora risada.

— Eu me encarregarei de comprar um amanhã mesmo,


querida e a levarei por todos os cantos do mundo. — Disse
seu pai enquanto se inclinava e beijava sua esposa
suavemente.

Ver o evidente amor que existia entre seus pais, sempre


fazia Rafe se sentir muito bem. Se ao menos não tivesse visto
tanta devastação em outras relações...

Lia falou: — Mamãe, estão ficando muito melosos e


envergonhando a convidada de Rafe.

Outro rubor se apoderou das bochechas de Ari. — Não


me importa absolutamente. —Murmurou.

— Não sei vocês, mas estou morrendo de fome. A partida


de voleibol me deixou sem forças. — Disse Rachel, salvando a
todos da incômoda situação.

— Estou de acordo. —Interveio Lia

— Sim, Ari também estava dizendo que está com muita


fome. Devem ter jogado uma partida extenuante. Terei que
me unir da próxima vez. — Disse Rafe enquanto olhava Ari
nos olhos, que agora estavam abertos com um pouco de
pânico. Era linda quando estava... com a guarda baixa, disse
Rafe para si mesmo. Não, não linda, mas sexy como um
pecado. Estava lhe dando muito espaço.

— Alguns de nossos oponentes sem dúvida queriam


levar Ari ao alto mar. — Disse Rachel a Rafe com um ardiloso
sorriso. Ele olhou sua irmã mais nova antes de encarar Ari,
que estava olhando para Rachel com horror.

— Sério? Conte-me. — Pediu Rafe.

— Oh, acredito que foi o biquíni vermelho. Ari estava


quente com um Q maiúsculo. Os rapazes ficaram competindo
entre eles para ajudá-la a se levantar quando caia e logo,
óbvio que nos convidaram para tomar uma bebida e jantar.
Ficamos um pouco tentadas a aceitar apenas para ver o
espetáculo, mas o iate nos chamava. —Respondeu Lia.

Nenhuma de suas irmãs iria lhe enganar. Ele sabia


exatamente o que estavam fazendo. Mas isso era o de menos.
Pensar em como esses estranhos teriam paquerado Ari fez
com que suas vísceras ardessem. Precisava marcá-la - que o
mundo soubesse que não estava em circulação. E precisava
fazê-lo logo.

— Tenho que falar com o capitão. Por que não vão se


sentando à mesa? Pedirei que o jantar seja servido
imediatamente. —Soltou Rafe enquanto saía do salão.

Decidiu que todas passariam a noite a bordo. Sabia que


sua família não se importaria e queria manter Ari presa no
iate com ele o maior tempo possível - sem possibilidade de
escapar. Mostraria a quem pertencia.
Voltou rapidamente e o primeiro prato foi servido.
Quando Ari se sentou junto a ele, seu temperamento esfriou,
mas seu desejou ardeu ainda mais.

Muitas conversas encheram o salão enquanto todos os


membros de sua exuberante família falavam de uma vez. Não
havia nada que gostasse mais que sentar-se e ouvir sua
família conversando, sobretudo agora. Tal bagunça ajudava a
acalmar seu cada vez mais excitado estado de ânimo.

— Ari, Rafe não contou ainda o demônio que era quando


adolescente? — Perguntou Lia com um brilho em seus olhos.

— Lia... —Disse Rafe com um tom de advertência que


ela ignorou completamente.

—De forma alguma posso imaginar o senhor... hum...


ele como um adolescente. — Disse Ari. Rafe ficou um pouco
decepcionado por ela não ter falado o nome dele. Tinha
grandes ideias para castigos exóticos.

Rafe deslizou a mão por debaixo da mesa e a deixou cair


sobre a coxa nua de Ari, o que fez com que a garota se
sobressaltasse e quase derramasse sua taça de vinho.

— Está tudo bem, Ari? — A mãe de Rafe perguntou.

— Sim. Sinto muito. Estou um pouco desajeitada.


Acredito que tomei sol em excesso. —Disse Ari, enquanto
tentava tirar a mão de Rafe de sua coxa sem fazer nenhuma
cena. Mas ele apertou sua perna com um pouco mais de
força, mostrando que não tinha nenhuma intenção de deixá-
la ir.
Lançou um olhar desesperado antes de responder a
uma pergunta que fez seu pai. Enquanto os dedos de Rafe
dançavam por toda sua coxa, ela permanecia sentada junto a
ele tensa e com as pernas fortemente fechadas. Rafe não
tinha nenhuma dúvida de que a garota sucumbiria a suas
carícias. Ela se cansaria de permanecer tensa muito antes
dele perder o interesse de acariciá-la.

— Voltando para minha história, Ari. Rafe foi um


adolescente, embora entendo que seja difícil acreditar,
considerando que agora raramente tira seus ternos. Era um
monstro horrível, sempre pregando peças em Rachel e em
mim. A pior coisa que já fez foi quando cheguei em casa
esgotada depois de um uma noite de voluntariado em nossa
igreja e meu quarto estava escuro. Acendi meu abajur e tirei
a colcha da cama quando vi uma serpente de dois metros
deslizando-se por meus lençóis. Gritei tão alto que meu pai
entrou por minha porta dois segundos mais tarde com uma
escopeta. Sim, Rafe colocou a serpente em minha cama.
Fiquei muito feliz quando meus pais o castigaram durante
um mês. Até hoje, se vejo uma serpente, mesmo que seja
pequena, morro de medo. — Disse Lia.

— Como conseguiu essa grande serpente para colocar


em sua cama?

— Oh, era a mascote de um de seus amigos. Depois


desse incidente, mamãe não deixou ter uma, algo que estava
a ponto de conseguir. Fiquei muito feliz com essa
determinação.
— As serpentes também me dão arrepios.

— Quem pode gostar? São répteis. — Disse Lia


enquanto mostrava a língua para Rafe.

— Você também fez muitas brincadeiras, Lia. Por que


não explica o motivo que me levou a colocar a serpente em
sua cama? — Disse Rafe com um sorriso, sem se sentir
ofendido absolutamente pela provocação de sua irmã.

— Não foi nada comparado com o que você me fez!

— Nada! Está tirando sarro? Jogou pó de mico em meus


shorts de treino. Comecei a correr na aula de educação física
e tive que sair correndo para o chuveiro. Meus amigos não me
deixaram tranquilo durante o restante do ensino médio.

— Oh, isso é genial! — Disse Ari com um sorriso


enquanto olhava para ele com um deleite dançando em seus
olhos.

Parece que sua Ari tinha uma veia malvada.

As brincadeiras de sua família fizeram com que Ari


relaxasse e Rafe pôde ir subindo sua mão pouco a pouco por
sua perna enquanto seus dedos percorriam o interior de suas
coxas. Antes que ela percebesse que baixou a guarda, seus
dedos roçaram a minúscula calcinha que cobria sua deliciosa
feminilidade.

Suas pernas se esticaram imediatamente, mas a única


coisa que fez foi prender sua mão ao seu calor. Ele sentiu um
imenso prazer quando tocou a quente umidade de seu corpo
através do delicado tecido. Ela o desejava - estivesse disposta
a admitir ou não.

De repente, seu pequeno jogo virou-se contra ele, até o


ponto de ser doloroso. Saber que seu corpo estava preparado
para que ele a penetrasse causou uma palpitante ereção.
Lançando um olhar furioso, Ari abriu as pernas e Rafe retirou
a mão de muita má vontade. Nunca teria sobrevivido ao
restante da refeição se continuasse sentindo seu úmido calor
- além de ser muito complicado comer com uma só mão.

As bochechas de Ari estavam acesas e sua respiração


agitada, e ela se negava a olhar em seus olhos. Apesar de
fazer todo o possível para continuar conversando com sua
família, podia ver o esforço que fazia.

À medida que a refeição se aproximava de seu fim, Rafe


soltou um suspiro de alívio. Dentro de pouco tempo, poderia
ter Ari de novo apenas para ele. Certamente não demoraria
muito para convencê-la a se unir aos seus planos. Ele
poderia oferecer muito prazer e não tinha nenhuma dúvida de
que ela satisfaria todas suas necessidades.

Depois que todos terminassem a sobremesa, Rafe


decidiu que não queria continuar conversando com sua
família. Precisava colocar Ari em sua cama. Estava além do
desejo - era uma necessidade pura roendo o zíper de sua
calça. Realmente pensou uma coisa assim? - Reprovou-se.
Uma pura necessidade? Zíper? Calça? Uau! Isso tudo só para
não dizer que estava com tesão?
— Espero que não se importem com a surpresa que
preparei, mas disse ao capitão que nos mantenha no mar.
Acho que todos vocês gostariam de passar a noite a bordo do
iate. — Anunciou Rafe, percebendo pela extremidade do olho
que Ari virou a cabeça em sua direção.

— Eu... ah... não posso. Tenho que ir para casa. —


Gaguejou.

— Oh, trabalha amanhã, Ari? — Perguntou o pai de Rafe


inocentemente, sem perceber a tensão no ambiente.

— Não. — Respondeu ela com hesitação. — Não tenho


que trabalhar, mas tenho que lavar roupas e preparar as
coisas para a semana. —Terminou ela fracamente.

— Não se preocupe Ari. Levantaremos cedo. —Disse


Rafe, deixando claro por seu tom de voz que não havia mais o
que falar.

— Fico muito feliz pela surpresa, Rafe. —Disse seu pai.


— Isto me dará a oportunidade de saber como durmo em alto
mar. Deveria provar ao menos uma vez antes de comprar
meu próprio iate.

— Vamos descansar um pouco. —Disse sua mãe


enquanto se levantava da mesa e seu pai afastava a cadeira.
Ambos abandonaram a sala rindo. As duas irmãs levaram
alguns segundos para entender o olhar de Rafe, até que logo
apresentaram suas próprias desculpas e se retiraram,
seguindo seus pais.

— Bom, parece que ficamos sozinhos. — Disse Rafe


enquanto empurrava sua cadeira para trás e abraçava Ari
pela cintura. Moveu-se com rapidez e a fez montar em seu
colo antes que Ari soubesse o que estava acontecendo.

— Isto é um sequestro, sabia? — Advertiu Ari sem


fôlego.

— Tudo o que precisa fazer é dizer não, Ari. — Disse


Rafe enquanto apertava sua ereção contra ela, colocando fim
a qualquer protesto que Ari pudesse ter.
Ari sabia que deveria descer do colo de Rafe e correr tão
rápido quanto pudesse para a porta mais próxima e depois
fechá-la firmemente atrás dela. Sabia que lamentaria fazer
amor com o homem de novo. Também sabia que se ordenasse
que ele a soltasse, o faria.

Saber que ele a deixaria partir logo que pedisse, fazia


com que quisesse ficar sobre ele um pouco mais. Oh, por que
isto estava acontecendo? Quisesse ou não, estava
acontecendo e ele era muito difícil de resistir.

E o que? Ela poderia suportar voltar a compartilhar sua


cama ou a mesa de sua sala de jantar. Esqueceu-se dos
empregados de Rafe, que poderiam entrar a qualquer
momento, para não falar dos membros de sua família, que
estavam em algum lugar próximo. Ari se esqueceu de seu
próprio nome quando os lábios de Rafe roçaram os dela e sua
língua penetrou sua boca.

Rafe deslizou as mãos por seu cabelo e soltou o


prendedor de cabelo na base de seu pescoço, liberando suas
mechas escuras. Moveu as mãos suavemente sobre seus
ombros, segurando as alças de seu vestido de verão e
começou a deslizá-las por seus braços.
O tecido roçou suas queimaduras, fazendo-a ofegar, mas
o prazer que estava esquentando seu corpo superava tudo.

Ela sentiu o ar em seus seios, que seu biquíni mal


cobria. Quando Rafe soltou as alças do vestido de Ari
chegando a seus cotovelos, ela lutou contra ele. Ari queria
sair do vestido por completo, estava desesperada por liberar
seus braços e poder segurar sua cabeça para guiar justo onde
ela o queria, mas seus braços estavam presos contra seu
corpo, por isso era impossível movê-los.

— O que foi, Ari? Sente-se presa? — Sussurrou ele


enquanto sua boca se movia através de sua bochecha e
entrava em contato com sua orelha.

— O que está fazendo? — Ofegou ela enquanto ele


chupava o lóbulo dentro de sua boca.

— Dando prazer...

Suas mãos foram até à sua garganta e se abriram sobre


ela, antes que seus dedos deslizassem dentro do tecido do
biquini. Puxou um lado e depois o outro, fazendo com que
seus seios deslizassem livre do tecido e os segurou juntos.

À medida que o ar frio chegava aos seus mamilos, uma


sensação de arrepios se precipitou desde seus rosados bicos
até a medula e estes primeiros se esticaram ainda mais
quando ela abriu os olhos e viu a luxúria ardente na
expressão de Rafe enquanto contemplava os encantos de seu
corpo.
Ari se moveu em seu colo, arqueando as costas e
pedindo em silêncio que chupasse seus seios e aliviasse a dor
aguda em seu interior.

— Paciência, Ari. —Brincou ele enquanto seus dedos


rodeavam os escuros bicos, mas sem tocá-la onde ela
precisava.

Ari não gostava deste jogo. Queria satisfação e ele não


estava dando. Quase ofegando, Ari lutou para se aproximar
dele com uma necessidade ardente e uma evidente
impaciência em cada uma de suas ações.

— Não sabe que a antecipação do que está por vir


aumentará o prazer quando finalmente a tocar... assim?

Finalmente, Rafe inclinou a cabeça para frente e lambeu


seu mamilo, soltando-o rapidamente apenas para soprar seu
quente fôlego por toda a superfície molhada. Ela gritou ante o
delicioso prazer, mas ainda assim, Rafe demorou um tempo,
movendo lentamente a língua por seu seio e pescoço, girando
a úmida ponta ao redor de seu agitado pulso, para depois
arranhar suavemente sua pele com os dentes.

Cada lugar que a tocava fazia com que se acalmasse


durante uns segundos antes que o fogo que ardia em seu
interior se avivasse ainda mais, fazendo-a se contorcer em
seu colo, o que fez com que seu núcleo pressionasse contra
sua virilidade.

Saber o quanto Rafe a desejava, enviou sua paixão para


as nuvens. E Rafe não precisava tocá-la, apenas vê-la, para
ter essa incrível ereção, o que deixava Ari eufórica. Se
pudesse falar, teria exigido que a tomasse, mas não podia
pronunciar nenhuma palavra, apenas podia emitir ardentes
suspiros de prazer.

Rafe deixou suaves beijos ao longo de seu pescoço até a


parte de cima de seus inchados seios, fazendo círculos com a
língua ao redor de um de seus mamilos. Com uma leve
pressão, seus dentes morderam a sensível pele antes de se
mover para o outro, para oferecer a mesma atenção. Ela
curvou suas costas, tentando colocar seus apertados bicos
em sua boca, mas Rafe não tinha nenhuma pressa e nem
todos os gemidos dela, pareciam afetá-lo.

Quando Ari estava a ponto de gritar em absoluta agonia


sexual, Rafe segurou um de seus mamilos eretos e a
sensação que a percorreu, fez com que tudo valesse a pena. A
atenção em seu sensível bico fez com que Ari quase
alcançasse o topo.

Ela estremeceu em seus braços enquanto a língua de


Rafe lambia seu mamilo e logo o beliscou suavemente com
seus dentes. Ele se deliciava com seus seios, fazendo com que
sua cabeça rodasse ante o prazer que estava sentindo, antes
que subisse de novo por sua garganta e voltasse a unir suas
bocas.

— Tem um gosto tão bom, Ari. Poderia comê-la toda a


noite.

Ari gemeu na boca de Rafe enquanto sua língua a


acariciava. Ela sentiu quando sua garganta se fechou e
quando Rafe deslizou as mãos por sua lateral, acariciando
seus braços ainda presos, logo se moveu para as coxas nuas.
Tremendo de emoção, Ari abriu a boca de novo e tentou falar.

— Por favor, Rafe. Por favor, faça.

—Diga meu nome outra vez. —Ordenou. —Enquanto


bebia de seus lábios em recompensa.

— Rafe.... Rafe preciso de você...

Outro gemido escapou de seus lábios enquanto as mãos


dele deslizavam sob o tecido de seu vestido e acariciavam seu
traseiro antes que ele afundasse a língua em sua boca, que
pareceu chegar até sua alma.

—Estive imaginando seu doce e pequeno traseiro em


nada mais que esta sexy calcinha desde o momento que saiu
do meu banheiro.

O pouco fôlego que ainda tinha nos pulmões de Ari a


abandonou de repente ante as palavras de Rafe. Ari moveu
seus braços, tentando se liberar, ofegando quando deslizou
as tiras de seu vestido um pouco mais e fez com que o tecido
ficasse ao redor dela com mais força.

— Rafe, por favor...

— Sim, Ari. Adoraria te ouvir implorar. Tenho em mente


fazer com que o faça com muita frequência.

—Solte-me deste vestido! — Grunhiu ela com frustração.

—Não até que esteja pronto para fazer. Já sabe que


nunca faço nada sem estar preparado. Gosto de olhá-la
enquanto permanece presa. Acredito que a deixarei assim.
A frustração de Ari aumentou ante a negativa de Rafe.
Ela lutou contra a malha apertada, o que parecia excitar cada
vez mais Rafe.

Rafe se levantou de repente, agarrando-a pelo traseiro, o


que fez com que ela quase caísse para trás. Deixou-a sobre a
mesa, a madeira fria enviou um arrepio por suas pernas.
Antes que Ari pudesse dizer uma palavra, ele a empurrou
para trás e abriu suas pernas.

Ari se sentia aberta, vulnerável e muito exposta, mas


quando os dedos do Rafe deslizaram sob o tecido que cobria
seu núcleo, o calor se apoderou dela e sua ansiedade
desapareceu.

Rafe penetrou seu corpo com os dedos, fazendo com que


ela arqueasse as costas, separando-a da mesa e fazendo com
que um grito saísse de seus lábios. Ari estava mais que
pronta para ele e queria colocar fim a estes jogos de poder.

Rafe a puxou para frente e empurrou sua ainda coberta


ereção contra sua úmida e exposta abertura, movendo seus
quadris e fazendo com que o tecido de sua calça raspasse sua
carne molhada e a fizesse arder.

— Deveria castigá-la, Ari, pela tortura que tem me feito


passar. Deveria obriga-la a separar as pernas e deixar que o
ar golpeasse seu calor, avivando sua chama até que se
sentisse a ponto de explodir. Não deveria entrar
profundamente dentro de seu corpo e oferecer alívio. —
Grunhiu ele enquanto sua mão segurava os lados de sua
calcinha.
— Não... por favor, possua-me. Agora. — Soluçou ela
enquanto se contorcia na mesa. Seu corpo era dele - tentar
lutar contra ele não anularia sua vontade.

Quando Ari pensava que Rafe a deixaria ali naquela


terrível agonia, puxou o delicado tecido de seu corpo. A
emoção a invadiu quando ouviu um pacote de alumínio sendo
rasgado.

— Sim, por favor...

Com um movimento fluído, Rafe empurrou sua ereção


cheia de sangue em seu núcleo fazendo com que uma luz
explodisse atrás de seus olhos. Ele separou ainda mais suas
pernas, deixando descoberto seu corpo ante seus olhos
enquanto a penetrava até o fundo, uma e outra vez.

A mesa tremeu quando se enterrou até o fundo de suas


inchadas dobras. Empurrava muito rápido - muito duro - ela
deveria estar sentindo dor, mas ele podia sentir o êxtase se
aproximando.

— Não pare, por favor, não pare nunca...

— Não posso parar, nunca o farei. —Gritou ele enquanto


se movia mais rápido e os músculos de suas pernas tremiam
enquanto se balançava em seu interior. A completa neblina
da luxúria cobria os olhos de Rafe e a fez voar mais à frente
do reino da imprudência. Seu grosso membro a estava
rasgando por dentro, seu corpo estava tenso e cheio de desejo
- por ela, apenas por ela. Ari se sentia embriagada com a
onda de poder que corria por seu sangue.
— Oh Ari, adoro estar dentro de você. Sim bebê, me
aperte o tanto que puder... —Gritou Rafe enquanto golpeava
contra ela e sua pélvis se chocava contra sua pulsante
feminilidade, causando uma explosão. Ela explodiu em
pedaços, agarrando firmemente sua ereção com os espasmos
fortes da sua boceta inchada.

Rafe ficou imóvel enquanto seu corpo estremecia e


bombeava sua ereção repetidamente dentro dela enquanto
gemia de prazer. Ela sentia cada toque enquanto ele se movia
lentamente dentro e fora dela, estendendo o momento para os
dois.

Nenhum dos dois falou enquanto tentavam recuperar a


respiração, perdidos na euforia que acabavam de criar um
para o outro. Nesses escassos momentos de silêncio, Ari
podia fingir que eram como qualquer casal normal que
acabavam de entrar juntos em uma explosão de luz e cor.

—Trabalhe para mim, Ari. Funcionamos muito bem


juntos. Sabe que o deseja. Quanto vai custar?

A bolha de Ari explodiu ante essas palavras. Ela não


estava com qualquer homem. Estava com Rafe - fanático por
controle. Nunca poderia ter uma relação normal com ele.

— Isso não acontecerá nunca. É possível que me excite,


mas uma vez que tudo volta ao normal, lembro o monstro que
é. — Respondeu ela com calma enquanto ouvia Rafe tentando
recuperar o fôlego.

—Ainda estou enterrado profundamente dentro de você,


Ari. Sou realmente um monstro? — Perguntou zombando
enquanto continuava movendo seus quadris, voltando a
agitar o calor dentro dela contra sua vontade.

—Esteve com muitas mulheres. Evidentemente, sabe


como as agradar. O fato de que uma galinha saiba caminhar
sem a cabeça não significa que goste de ficar sem ela. Posso
sentir prazer ao mesmo tempo que o desprezo. Posso gozar
quando gostaria de estar em qualquer outro lugar, que não
sob você. Não pense muito, você apenas sabe tocar os lugares
corretos. —Disse com valentia, rezando para que não
percebesse que era um blefe.

Ari estava se apaixonando por ele - de uma maneira que


a aterrorizava. Caso se rendesse, ele se converteria em dono
de seu corpo, coração e alma. Nunca seria livre de novo. Seu
objetivo agora era fazer com que se irritasse o suficiente para
que a deixasse em paz antes que a destruísse.

— Algum dia vai cruzar o limite, Ari. —Advertiu


enquanto saía dela, deixando-a com uma sensação de vazio
quando ele a sentou e subiu as alças de seu vestido para que
pudesse voltar a mover os braços. Quando terminou, olhou-a
profundamente nos olhos.

Ela se encolheu quando o sangue correu por seus


braços, enviando uma sensação de ardor através da parte de
cima de seu tronco. À medida que seu corpo relaxava, a dor
das queimaduras e de seus braços presos, emergiram a
superfície. Entretanto, se negava a esfregar as áreas em sua
presença - não tinha nenhum desejo de dar esse tipo de
satisfação. Esperaria para reclamar quando estivesse
sozinha.

— Não me importa. Se não gosta do que tenho que dizer,


então deixe de me perseguir.

— Não estou a perseguindo, Ari. Foi você quem


apareceu em meu iate, lembra-se? Não importa quem veio a
quem esta noite, você será minha, como foi a apenas um
momento atrás. É apenas questão de tempo. Enquanto
continuar negando, apenas estará negando o prazer que
poderíamos sentir todas as noites. Não sou o monstro que
acredita. Apenas tenho certas regras. Por acaso todo mundo
não as quando inicia uma relação? O que acontece, é que
sou honesto comigo mesmo e espero o mesmo de meus
parceiros de negócios. —Disse como se fosse o homem mais
razoável sobre a face da terra.

— Se é tão honesto, sua família sabe sobre seus


assuntos?

Ele a olhou e ela soube que estava a ponto de


ultrapassar o limite. Ele levantou mão e Ari por um momento
pensou que bateria nela.

Rafe viu quando ela estremeceu. — Já disse que não me


excito com a dor, Ari. Aprenderá com o tempo. Tenho
maneiras muito mais prazerosas para castigar. — Ameaçou
enquanto dava um passo para trás.

Ari deslizou pouco a pouco fora da mesa, esperando que


suas fracas pernas a sustentassem quando levantasse. Não
sabia o que fazer. Estava presa em alto mar em um iate com
um homem que não sabia se queria beijar ou matar.

— Acompanharei você ao seu quarto. Já sabe onde está


o meu, caso mude de opinião. — Disse ele rispidamente
enquanto se virava e começava a caminhar para a porta. Ela
precisou correr para manter seu ritmo enquanto avançavam
pelo corredor.

Rafe não disse nada mais quando a levou para uma


porta e a abriu. Ela entrou no quarto e fechou a porta em sua
cara, logo se apoiou na sólida madeira e lutou contra o
impulso de chorar. Ele estava tocando-a profundamente.
Caminhou lentamente para a cama e sentou-se, mas sem
nenhuma expectativa de poder dormir.

Estava equivocada. O vaivém da embarcação


balançando suavemente sobre as ondas a ajudou a conciliar
o sono em questão de minutos - a limpar sua mente de suas
estressantes decisões e dar ao seu corpo tempo para se curar.

A ira consumia Rafe enquanto se afastava. Seu rosto era


tão inexpressivo como uma pedra, sem um só sentimento
aparente, mas suas entranhas estavam fervendo.
Queria que ela ficasse com ele. Precisava que o fizesse
de boa vontade.

A dúvida o abocanhou pela primeira vez e uma estranha


emoção beirava o pânico. Rafe não gostava que nenhuma
fraca sensação penetrasse em sua grossa pele. Era muito
forte para a fraqueza - era muito bom para isso.

Rafe seguiu no corredor e se dirigiu ao seu quarto,


fechando a porta sem fazer ruído, sem permitir que sua fúria
tomasse o controle sobre ele. Não bateria a porta, não daria
um murro na parede. Simplesmente tomaria uma bebida e
pensaria em qual seria seu próximo movimento.

Conseguiria o que queria - sempre conseguia. Era


apenas uma questão de tempo.
Um sentimento de culpa consumiu Ari enquanto abria
lentamente a porta do quarto de sua mãe. Não foi vê-la por
duas semanas, pois esteve doente com um resfriado que
demorou a curar. Ainda assim, Ari pôde ir ao trabalho, mas o
pessoal do hospital disse que era melhor que não visitasse
sua mãe, cujo sistema imunológico estava ainda muito fraco
desde sua última cirurgia.

As colegas de trabalho de Ari a convidaram para ir


jantar com elas, já que era sexta-feira, mas recusou a oferta.
Ver sua mãe era muito mais importante.

Ela saiu correndo diretamente do trabalho, nem sequer


ligou como sempre fazia. Falou com sua mãe por telefone,
várias vezes durante as últimas semanas, mas Ari queria
estar com ela pessoalmente.

Sua necessidade de passar um tempo com sua mãe era


outra das razões pelas quais nem sequer podia pensar em
aceitar o trabalho de Rafe. Ele deixou claro que estar com ele
seria a única prioridade que ela teria.

Se fosse sua amante, não poderia ver sua mãe quando


quisesse. Isso nunca funcionaria para ela. E além de tudo
isso, o homem a faria seguir tantas regras, que jamais
voltaria a decidir o que era bom e o que era ruim. Como
poderia viver dessa maneira?

Fazia duas semanas, desde que Ari despertou no iate e


percebeu que já estavam no píer, e não pensou em outra
coisa além de escapar. Abandonou o iate sem tropeçar com
Rafe nem qualquer um dos membros de sua família e deu
graças aos céus por isso. Afastou-se tanto quanto pôde e não
olhou para trás.

Ok. Ok. Sim, olhou para trás, mas com desgosto. Estava
irritada consigo mesma por estar decepcionada, por não ter
notícias dele. Isso era o que queria, não? Ela sabia muito bem
que ele se cansaria de persegui-la com o tempo e deveria
gritar de alegria aos quatro ventos por voltar a ser livre. Já
não teria que se preocupar em ser fraca ao seu redor se não
voltasse a vê-lo. Olhando por qualquer ângulo, saía
ganhando. Era óbvio.

— Ari! Fico muito feliz em vê-la, querida.

Ari se sobressaltou ante o som da voz de sua mãe.


Esteve tão absorta em seus pensamentos que não percebeu
que abriu a porta.

— Sinto muito não ter vindo antes, mamãe. Sinto muito


por isso, mas os médicos disseram que eu poderia causar-lhe
uma infecção. — Falou enquanto corria à cama de sua mãe.

— Oh, princesa. Você tem uma vida, querida ou ao


menos, espero que tenha. As mulheres jovens têm coisas
muito mais importantes a fazer do que passar o dia e noite ao
lado da cama de uma velha, esteja doente ou não.
— Não há nada em minha vida que seja mais importante
que você, mamãe. O doutor Morgan me disse que teve
algumas complicações em sua operação. Disse que tinha uma
infecção que se tornou séptica e que teria que ser monitorada
ou poderia sofrer uma falência de órgãos. Por que não pára
de acontecer coisas ruim uma atrás da outra? — Soluçou Ari.

Ari queria levar sua mãe para casa, embora ainda não
tivesse contado que precisou vendê-la. Não sabia como
reagiria depois de todas as coisas que já passou. Seria um dia
muito ruim, ela pressentia.

— Tinha esperança que o médico não lhe dissesse nada


disso. — Disse Sandra com certa irritação.

— Não sou estúpida, mamãe. Deveria ter alta há


semanas. Sabia que algo estava acontecendo. O que acha que
deveria fazer o médico, dizer que se apaixonou por você e que
se negava a deixá-la sair?

— Hum, é muito bonito, não acha?

— Mamãe, isto é sério! — Repreendeu Ari.

— Oh Ari, não deve se preocupar tanto. Não há nada


que possamos fazer frente a isso e estou cansada de falar
sobre este assunto constantemente. Por favor, vamos mudar
de assunto para que possa deixar de pensar nisso. Me
deixaria muito feliz se simplesmente falasse do tempo ou do
que comeu hoje.

Ari olhou sua mãe durante vários segundos, observando


sua palidez e a quantidade de peso que perdeu. Ari estava
mais que preocupada, mas sua mãe tinha razão - falar disso
sem parar não faria com que se curasse. A única coisa que
podia fazer nestes momentos era agradá-la.

— Conheci três maravilhosas mulheres no trabalho. São


muito extrovertidas, me fazem sorrir sempre, mesmo quando
acredito que não tenho motivo para isso. Elas são um pouco
loucas e acredito que você as adoraria. Shelly, Amber e Miley.
São completamente seu tipo de mulher e sempre me incitam
para que me relacione com homens sem cérebro, mas
também me fazem rir. Pensei que não o faria mais depois de
seu acidente.

— Oh Ari, me alegro tanto de saber sobre suas novas


amigas. Sempre foi muito séria. Sempre estudou durante sua
fase escolar e nunca teve vida social, logo fez o mesmo
durante a universidade. Estou orgulhosa de você, como
sempre estive e sempre estarei, mas quero que pare para
cheirar as rosas de vez em quando. Quero que se divirta.
Tirar boas notas é importante, mas acredito que poderia fazer
isso com um olho fechado e a metade de seu cérebro
apagado. Se divertir de vez em quando é igualmente
importante para uma boa saúde mental.

Ari sorriu com o carinho e a familiar voz de sua mãe.


Ouviu dizer essas mesmas palavras muitas vezes durante sua
adolescência, quando preferia ficar em casa estudando nos
fins de semana, do que sair por aí. Não era que não quisesse
fazer amigos. Era apenas que não encontrou alguém que se
fosse mais importante para ela que suas obrigações.
Se encontrasse algo mais interessante para fazer do que
se perder em seus livros favoritos, então de boa vontade teria
guardado seus óculos de leitura e saído por aí. Mas seu
passado mais recente não a ajudava absolutamente a ter
uma atitude favorável à ideia de desfrutar mais de sua vida
social. Pensar naquela fatídica festa e no que aconteceu à sua
mãe, era muito pior para sua saúde mental do que não ter
nada de diversão... e logo havia...

Rafe.

Sim, Rafe a fazia querer guardar seus livros. Fazia com


que quisesse ser protagonista de seu filme romântico com ele
atuando como seu par masculino. Fazia ansiar pela ideia de
arrancar sua roupa e pedir que a tomasse. Tinha muito
medo, porque a fazia ter vontade de mudar tudo de si mesma.

A palavra perigoso não começava nem mesmo a


descrevê-lo.

Ari precisava se lembrar disso e se manter afastada.

— Você ainda está aqui, querida?

— Sinto muito, mamãe. Não dormi o suficiente esta


semana, assim estou um pouco dispersa. Fale-me
honestamente como se sente.

— Sinto-me maravilhosamente bem. Pensava em te ligar


esta noite. Os últimos exames do doutor Shepp mostram que
a maior parte do câncer foi eliminado. Ele acha que será
capaz de acabar com o restante com a quimioterapia, embora
não poderei começar com o tratamento até que a infecção
desapareça. Ainda falta uma cirurgia a ser feita, mas pode
deixar de franzir as sobrancelhas porque não será tão ruim
como a última.

— Pensei que o dinheiro que tínhamos cobria a primeira


cirurgia. Conseguimos mais dinheiro?

— Não sei. O médico me disse que não me preocupasse


absolutamente com os assuntos burocráticos, que tudo
estava acertado, assim não vou olhar os dentes do cavalo10.
Sei que preenchi muitos papeis. Há várias organizações que
intervêm para ajudar em casos como o meu. Assim acho que
alguma delas deve ter dado seu aval.

— Isso é maravilhoso, mamãe. Ligarei para meu chefe e


pedirei a segunda-feira livre. Ficarei aqui com você o fim de
semana para me assegurar de que tudo ocorra bem.

— Isso nem pensar, pequena. Ficará louca sentada


neste quarto durante todo o dia e noite. E fará com que eu
também perca a cabeça.

— Está muito fraca para me impedir, assim acredito que


seremos você, eu e um baralho. Irei para casa para pegar
algumas coisas e voltarei em uma hora. Será como nos velhos
tempos, quando passávamos as noites acordadas. Costumava
a ficar irritada com você por me fazer deixar os livros em meu
quarto, mas agora, essas são minhas lembranças favoritas.

— Como poderia negar quando está fazendo com que me


emocione? De acordo. Pode ficar com esta velha se quiser,

10
Ditado popular: Cavalo dado não se olha os dentes, obs. É pelos dentes que se sabe a idade de um
cavalo.
mas saiba que não pouparei esforços para ganhar, mesmo
roubando.

— Se roubar, chutarei sua bunda. Eu te amo muito,


mamãe. Fico muito feliz que se sinta melhor. Além disso, tem
razão, eu também tenho a sensação de que tudo ficará bem.

Ari se inclinou e abraçou sua mãe. Embora o terror


apertasse seu coração - poderia ser este o último fim de
semana que passaria com sua mãe? Engoliu com força,
tentando não pensar nisso.

Odiava o fato de ter ficado doente com o miserável


resfriado. E se algo acontecesse com sua mãe enquanto
estava doente? Isso a teria devastado para sempre.

Não! Ari afastou esses pensamentos carregados de


culpa. Não permitiria que seu medo arruinasse o tempo que
passaria com a mulher que lhe deu vida - quem sempre
esteve com ela - que era sua melhor amiga. Ari não podia
mudar o passado, mas podia assegurar-se de que o presente
fosse tão perfeito como fosse possível.

Rapidamente, correu ao seu apartamento e pegou


algumas roupas limpas. Parou em uma loja local e comprou
alguns jogos de tabuleiro. Obvio, também pegou alguns
livros, apenas no caso de sua mãe estar muito cansada e
adormecesse. Ari não se separaria dela durante todo o fim de
semana.

Se essas fossem suas últimas noites juntas, queria


enchê-las de lembranças. A perda de sua mãe seria pior que
qualquer outra coisa que pudesse imaginar. O mundo
deixaria de girar para ela. Que motivo teria para seguir em
frente? Sorria para sua mãe e mentia, dizendo que tudo
ficaria bem, mas Ari sabia que se sua mãe morresse, nada
ficaria bem. Nada ficaria bem outra vez.
— Se vir uma luz brilhante no final de um túnel longo e
escuro, então corra como se o diabo estivesse a perseguindo
na outra direção. Ouviu-me?

— A cirurgia dará certo, Ari. Tem que deixar de se


preocupar comigo, de acordo? Quantas vezes tenho que falar
isso, sou sua mãe e é meu trabalho me preocupar com você.
Você se limite a cuidar de si mesma. O médico disse que a
cirurgia demorará várias horas. Queria que saísse um pouco
e aproveitasse esse bonito dia de sol, mas sei como é
obstinada e sou consciente de que não deixará este hospital.
Ainda assim, preciso que faça o maior esforço para manter a
calma e estarei como nova em umas poucas horas.

— Amo muito você, mamãe. Não se atreva a me deixar.


Falo sério.

— Prometo que não farei.

— Senhorita Harlow, é hora de ir.

Ari franziu os lábios. Saber que a enfermeira apenas


estava fazendo seu trabalho não ajudava absolutamente,
porque Ari tinha uma sensação horrível em suas vísceras e
não queria se separar de sua mãe. Tudo o que queria fazer
era continuar segurando sua mão. Se houvesse alguma
maneira de poder estar com ela durante a cirurgia, o faria.
Ari não estava preparada para isto - nem todo o tempo que
ficasse poderia prepará-la para a possível morte de sua mãe.

— Deixa de tentar intimidar estes médicos tão


agradáveis, Ari. Você é muito pequena para assustar alguém.

Ari nem sequer percebeu que grunhiu à enfermeira


quando a mulher se aproximou da cama.

— Você me criou mamãe. Sou mais forte do que pareço.


— Brincou Ari quando se inclinou e beijou sua mãe com
ternura na bochecha.

Umas pessoas estranhas levaram sua mãe em uma


cadeira de rodas e Ari se afundou lentamente em sua
poltrona, permitindo finalmente derramar as lágrimas que
esteve contendo. Sua mãe era muito forte - sobreviveria à
cirurgia. Que sentido tinha ser pessimista sem razão?

Depois de aproximadamente uma hora, Ari se cansou de


ficar angustiada e sentada no quarto, decidiu que precisava
se levantar e caminhar. Com muitos pensamentos na cabeça
enquanto permanecia ali sentada, apenas estava alimentando
seu pessimismo. Saiu do quarto e se encontrou no lugar onde
chocou com Rafe há muitos meses.

Parecia séculos. Ela cresceu muito nos últimos nove


meses – abandonou a universidade, perdeu sua casa,
encontrou um trabalho finalmente – conheceu Rafe. Quase
desejava ter aceitado sua oferta para poder apoiar-se em seu
ombro neste momento.

Imediatamente, tentou apagar esses pensamentos de


sua mente. Até mesmo por que se tivesse aceitado sua oferta,
não era como se ele estivesse ali com ela. A questão principal
de seu pervertido acordo era ter suas mulheres à sua inteira
disposição. Ele não seria seu namorado e certamente não era
o tipo de pessoa que seguraria sua mão enquanto ela se
preocupava com sua mãe.

Ari caminhou até o final do corredor e começou a ver as


bonitas imagens que cobriam as paredes, o que fez com que
seus pensamentos adquirissem uma direção totalmente
diferente. Ela admirava a obra do fotógrafo enquanto via as
preciosas ilustrações de casas históricas, rosas florescendo e
membros importantes da comunidade em uma variedade de
diversas roupas, a maioria deles voluntários em várias
funções.

Quando chegou ao final, encontrou um quadro de Rafe


usando um capacete, um martelo na mão e um grande
sorriso em seu rosto. Ela se surpreendeu com o quanto ele
parecia humano sem seu terno sob medida.

Leu as palavras abaixo: Nossos mais profundos


agradecimentos a Raffaello Palazzo, que doou os recursos para
que esta ala fosse construída. Um membro dedicado da
comunidade com quem sempre se pode contar para que nos dê
uma mão.

Ari revirou seus olhos ante essas palavras. Estava


segura de que a foto não era mais que um truque
publicitário. O mais provável era que vestiu uma calça jeans,
saiu correndo de casa para tirar a foto e logo entrou em sua
limusine com ar condicionado o mais rápido possível.
— Nunca gostei muito dessa foto. Meu lado bom é o
esquerdo. Meu assistente insiste em que é sua imagem
favorita e aprendi com os anos que é uma batalha perdida
tentar discutir com ele.

Ari saltou ante o som da voz de Rafe. Por seu tom de voz
zombeteiro, Ari soube que o homem estava tentando irritá-la
mais uma vez e ela se negava a seguir.

— Olá, senhor Palazzo. Que desafortunada coincidência


que tenhamos nos encontrando aqui. Espero que desta vez
não acabe precisando de uma radiografia. — Disse Ari
quando se virou bem a tempo de ver como Rafe estreitava
seus olhos.

— Ari, Ari, Ari. Não me ouviu da última vez que falamos?


Avisei que a castigaria da próxima vez que me desafiasse.

— Dado que estamos em um edifício público, não


acredito que possa me fazer nada. — Disse ela, com a certeza
de que não apenas estavam rodeados por pacientes e
visitantes, mas também pela segurança de todo o edifício.

— Bem por isso acha que está a salvo, mas não deveria
me subestimar tanto, Ari. Uma vez que decido empreender
uma ação, nada... nem ninguém pode me impedir. —
Ameaçou ele, enquanto segurava seu rosto entre suas mãos e
a empurrava contra a parede.

— Normalmente, adoraria demonstrar como está errado,


mas hoje não é o melhor dia para isso. Tenho que voltar logo.

Rafe avaliou seu rosto e embora tentasse manter uma


expressão de indiferença, sabia que ele podia ver através
dela. Tinha olheiras e os olhos vermelhos pelas lágrimas que
derramou antes, perdeu alguns quilos nos últimos dias. Não
tinha um bom aspecto absolutamente e ela sabia.

— O que aconteceu?

— Não é seu assunto.

—Pensei que disse que não queria jogar. Então responda


a minha pergunta. — Disse com firmeza.

— Está bem. Não é como se eu pudesse esconder isso de


todo jeito. Não precisa nem abrir a boca, e as pessoas ao seu
redor contam qualquer informação que queira. Minha mãe
está em cirurgia neste momento. E simplesmente estou
preocupada. Surgiram complicações na última intervenção e
tiveram que operá-la de novo. Deveria ter saído daqui há
semanas, mas seu corpo está lutando a cada passo do
caminho. Sei que ficará bem, mas não posso deixar de me
preocupar.

— Não tinha certeza de que fosse compartilhar isso


comigo. Obrigado por fazer. Ajudarei a tirar de sua mente a
cirurgia de sua mãe, enquanto esperamos que o médico saía.

Rafe afastou suas mãos dela e a pegou pelo braço,


deslizando-o pelo seu. Começou a puxá-la, o que fez com que
Ari quase caísse enquanto tentava fazer força no sentido
contrário. Dado que poderia cair no chão ou ir para ele, ela
finalmente começou a se mover. Que outra coisa podia fazer?
Não queria fazer uma cena com todo mundo olhando.

— Não preciso de sua compaixão. Nem de sua atenção.


Estava muito bem aqui sozinha pela manhã.
— Obviamente, não estava tão bem. Perdeu mais peso
do que poderia se dar ao luxo de perder, suas bochechas
estão fundas e parece como se não dormisse por mil anos.
Não conheço nenhuma outra mulher que precise trabalhar
para mim mais que você. Obviamente, precisa de alguém que
cuide de você.

Ari quase agradeceu por suas palavras. Por um breve


momento, deixou de lado sua preocupação por sua mãe até
que a irritação pelo que Rafe estava dizendo saltou para o
primeiro plano. Que arrogante e tirano...

— Sei muito bem cuidar de mim mesma. De maneira


nenhuma preciso de um cuidador. Para falar a verdade, tomei
um café da manhã maravilhoso hoje.

— Mentirosa. Aposto que não fez nada mais que beliscar


entre as refeições qualquer bobagem nos últimos dias e que
não comeu absolutamente nada hoje. Está preocupada com
sua mãe e posso entender perfeitamente. Mas está sendo
egoísta, Ari. Como acredita que sua mãe se sentirá quando
perceber que sua filha não pode sequer cuidar de si mesma?
Sua mãe terá que se concentrar em se recuperar quando sair
da cirurgia, não passar seu tempo preocupando-se com você.

Ari respirou forte ante suas palavras. Era tão arrogante


e grosseiro! Mas o que realmente a enfurecia era saber que no
fundo, Rafe tinha razão. Pensar em comida fazia com que seu
estômago revirasse. Como comeria quando provavelmente
sua mãe poderia morrer? Não parecia correto.
— Aonde vamos? — Perguntou finalmente quando ele
virou uma esquina.

— Comer alguma coisa.

— Não tenho fome. Acabo de dizer que já comi.

—E eu acabo de chamá-la de mentirosa. Quantas


discussões ganhou comigo, Ari? Nenhuma. Pode ser que
ainda não seja minha para que possa controlar, mas isso é
apenas uma formalidade. Meu plano é possuí-la, por isso sua
saúde é muito importante para mim. Pode sentar aqui, nesta
cafeteria e comer de forma decente ou não terei nenhum
problema em jogá-la por cima de meu ombro, levar à minha
casa e forçar a comida por sua garganta. Você escolhe.

Ari parou frente à porta da lanchonete e o olhou sem


acreditar. As coisas revoltantes que dizia todos os dias, da
maneira mais normal do mundo, nunca deixavam de
surpreendê-la. Realmente queria dizer que estava blefando,
mas pelo seu olhar, Ari não tinha nenhuma dúvida de que
Rafe seguiria adiante com sua ameaça.

Apesar do edifício estar cheio de seguranças, Rafe era


um importante doador do hospital. Ela estava começando a
duvidar de que fossem detê-lo se tentasse sequestrá-la,
inclusive se gritasse a plenos pulmões. Ari não podia correr o
risco dele levá-la longe e sua mãe sair da cirurgia e ela não
estar ali.

Com um grunhido de frustração, Ari deu as costas e se


dirigiu à tranquila cafeteria. Felizmente, não havia muitas
pessoas. Não queria ouvir suas conversas, nem ficar em um
local abarrotado de gente. Iria se concentrar para não sufocar
com a horrível comida do hospital, já que seu estômago já
estava agitado ante a simples ideia de comer algo.

— Ah, Ari. Estou um pouco decepcionado que não tenha


escolhido a opção dois. Adoraria a ideia de lhe jogar sobre
meu ombro e ter sua bunda perto do meu rosto. Não poderia
resistir a morder suas deliciosas curvas.

Um arrepio percorreu as costas de Ari ante a imagem


que estava formando em sua mente. Também não se
importaria se a tivesse mordido. A culpa se apoderou dela por
ter tais pensamentos enquanto sua mãe estava na sala de
cirurgia. Uma razão a mais para odiar Rafe.

Ari ignorou seu comentário enquanto olhava as


diferentes opções disponíveis de comida. Nada parecia
remotamente bom, por isso finalmente terminou pegando
uma só coisa. Isto não pareceu agradar a Rafe, já que ele
colocou várias outras coisas mais em sua bandeja e logo
caminharam juntos até o caixa.

Ela nem sequer fez um gesto para tirar o dinheiro de


sua bolsa. Não queria comer nada, assim não pagaria pelo o
que estava sendo obrigada a comer. Rafe pagou e
acompanhou Ari a uma mesa no final da lanchonete.

Ari não queria compartilhar outro momento privado com


ele. Havia umas dez pessoas ao redor, mas não estavam perto
o suficiente para ouvir qualquer conversa.
Depois que ambos permaneceram sentados em silêncio
durante vários minutos, de repente, Rafe suspirou enquanto
a olhava e via seu prato intacto.

— Por favor, coma. — Seu tom mais doce a


sobressaltou.

Ari não entendia sua fascinação repentina com sua


alimentação. Qual era o problema? Isto não fazia sentido.

— Por que se importa tanto? — Perguntou ela,


completamente desconcertada.

— Normalmente não me importaria se come ou quantas


horas dorme. É uma mulher adulta e deve ser perfeitamente
capaz de tomar decisões básicas relativas à sua saúde. Mas
quando vejo que está literalmente morrendo de fome e a
ponto de desmaiar por esgotamento, sinto que é hora de
intervir. Pode ser que ainda não tenha assinado meus papéis,
mas embora não acredite Ari, seria igualmente duro com
qualquer das minhas irmãs. Meu pai me ensinou desde
pequeno que quando uma mulher precisa ser atendida, os
homens devem estar sempre dispostos a dar um passo à
frente. Concederei uma trégua durante algumas horas,
enquanto sua mãe sai da cirurgia. Quando tudo terminar e
estiver se recuperando, colocarei as luvas de novo. —
Respondeu com um sorriso e uma piscadela.

Ari podia ver a verdade em seus olhos. Seu estômago se


contraiu quando ele abaixou sua onipresente guarda e pôde
ver o homem atrás da máscara. Automaticamente, ela se
afastou - o poder de sua atração era muito intenso nesse
momento. O Dr. Jekyll e Dr. Hyde não teriam nada a fazer ao
seu lado. Ele era a versão moderna do clássico do século XIX.

As defesas de Ari subiram ao perceber o quão fácil seria


apaixonar-se pelo amável e carinhoso Rafe. Ela podia lutar
contra o Rafe valentão, mas seus sentimentos pelo Rafe em
cavalo branco eram muito difíceis de controlar. Estava
tentada a correr diretamente para seus braços.

— Coma um pouco, Ari. — Ordenou Rafe depois que


ficou imóvel durante vários minutos.

— Certo. — Disse ela enquanto pegava um sanduíche de


peru. Ela mordeu e mastigou o suave pão algumas vezes com
a esperança de poder engolir.

— Boa garota.

Ari quase agradeceu por seu tom zombeteiro voltar.


Assim poderia continuar.

— Não sou a boa garota de ninguém. — Disse


bruscamente, sentindo alívio quando uma onda de irritação
começou a invadi-la uma vez mais.

Depois de vários minutos, Ari se surpreendeu ao ver que


o sanduíche desapareceu. Com seu desgosto por Rafe, não
percebeu que mastigou e engoliu sem parar.

— Se a irritar faz com que coma, então vale a pena. —


Disse ele em resposta.

— Então engordarei muito, porque sempre me deixa


furiosa.
— Hum, posso imaginá-la com uns quilos a mais. Tem
curvas impressionantes, não me interprete mal, mas uns
poucos quilos a mais a deixariam ainda mais deliciosa. Já
desfrutei vendo como seus seios se derramam em minhas
mãos.

Ari ofegou e olhou ao seu redor enquanto rezava para


que ninguém ouvisse seu vulgar comentário.

Rafe inclinou para frente, a centímetros de seu rosto. —


Está envergonhada, Ari? Todo mundo tem relações sexuais.
Não tem por que ser uma experiência vergonhosa.

— Pensei que tivesse dito que me daria uma trégua. —


Ela lembrou. — Além disso, o sexo com você é muito mais
que vergonhoso e me faz sentir suja. — Terminou enquanto
cravava seu garfo em uma parte do melão e o mordeu com
tanta força que fez que seu suco saísse disparado e corresse a
jatos pelo rosto de Rafe.

A visão dele com suco de melão pelas bochechas fez com


que tivesse um ataque de risada. Não sabia se era o estresse,
a depressão ou o que, mas Ari começou a rir e não parecia
ser capaz de parar.

Várias pessoas se viraram para ela quando a expressão


de Rafe escureceu e o homem colocou a mão em seu bolso
para pegar o lenço gravado com suas iniciais, que apenas fez
com que a risada de Ari se intensificasse. Seu estômago
começou a doer quando a risada se mantinha borbulhando
em seu interior. Estava sofrendo um colapso? Não importava
o quanto tentasse, não podia parar. Cada vez ria mais e mais
forte. Muito em breve, as lágrimas começaram a escorrer por
suas bochechas.

—Parece que nossa trégua durou muito pouco.


Entretanto, alegra-me muito ver que ao menos sirvo de
entretenimento. — Grunhiu Rafe enquanto limpava o suco de
seu rosto, o que fez com que ela voltasse a explodir em
gargalhadas.

Ari não estava segura se continuaria rindo até que o


pessoal do hospital tivesse piedade dela e administrassem um
sedativo, mas um som de estilhaço que ecoou através da sala,
fez que parasse de repente.

Várias fortes explosões encheram o ar, seguidas pelo


som de pessoas gritando. Rafe ficou de pé em questão de
segundos e puxou Ari com ele.

— O que foi isso?

— Alguém tem uma arma! — Gritou uma mulher


quando entrou na sala, e logo caiu para frente quando uma
bala a alcançou à altura do ombro.

Quando Rafe estava levantando Ari em seus braços, um


homem muito alto com uma arma semiautomática entrou
pelas portas da cafeteria. Assustados, os olhos de Ari se
encontraram com os seus justamente antes que ele
apontasse com a arma em sua direção. Apertou o gatilho.
Rafe amaldiçoou e tentou proteger seu corpo, mas já era
muito tarde.

Ari sentiu como se tivesse levado um murro no peito,


pensando que talvez Rafe a tivesse deixado cair no chão.
Olhou para seu corpo e ficou fascinada ao ver como seu
sangue vermelho começava a se estender por toda a parte da
frente de sua camiseta.

— Que pena. Esta era minha camiseta favorita. — Disse


com os dentes apertados antes que o mundo ficasse negro.
Um sentimento de fúria envolveu Rafe enquanto o
sangue de Ari escorria e molhava sua camiseta de algodão.
Deixando-a lentamente no chão, Rafe voou através da
cafeteria. Sentiu um golpe no braço, mas nada impediria sua
pretensão de matar o homem que se atreveu a disparar em
Ari.

O homem apertou o gatilho de novo enquanto Rafe


corria para ele, mas ficou sem balas ou a arma emperrou. De
qualquer forma, passaram-se dois segundos antes que Rafe
lhe derrubasse.

Os olhos do homem se abriram quando Rafe saltou pelo


ar em sua direção. Tentou tirar outra arma de sua cintura,
mas não teve tempo de se mover quando o corpo do Rafe
entrou em contato com o seu.

O homem ficou sem fôlego quando o punho de Rafe


deslocou a mandíbula de um só golpe. O segundo soco fez
com que o sangue começasse a jorrar de seu nariz ao mesmo
tempo em que um satisfatório rangido ecoou pelos ouvidos de
Rafe, inclusive através dos gritos dos ali presentes.

Rafe golpeou novamente com a intenção de terminar


com essa imprestável escória. Quem se atreveria a dizer que
esse homem merecia viver depois de ter disparado em várias
pessoas a sangue frio? -Pensou Rafe.

— Senhor Palazzo, já o temos. Senhor Palazzo, já pode


parar. Pare agora ou o matará!

— Isso é o que pretendo. — Gritou Rafe enquanto fazia


voar seu punho de novo.

De repente, alguns homens o agarraram e o puxaram


para trás. Rafe se virou, disposto a lutar contra quem teve o
descaramento de intervir, mas logo sentiu um beliscão no
braço e tudo ficou impreciso.

— Não... —Gritou antes de desmaiar.

Quando Rafe voltou a si, levou um momento para


lembrar o que aconteceu. Ouviu os monitores começarem a
soar quando seu coração se acelerou.

— Ari. — Disse.

— Senhor Palazzo, sou o doutor Bruce. Tudo ficará bem.


Atiraram no seu ombro esquerdo, mas retiramos a bala com
êxito e se recuperará rapidamente.

— Importa-me uma merda quem é você. Onde está Ari?

— Ari?

— Sim, a mulher com quem eu estava e que recebeu um


tiro na cafeteria!

— É parente dela, senhor Palazzo? — Rafe era o único


que podia fazer perguntas, seu medo e temperamento se
intensificaram quando o médico não disse nada mais.
— Nós dois sabemos que não estou casado e sabe quem
são minhas irmãs, por isso é bastante óbvio que não somos
parentes. Entretanto, me dirá como está neste mesmo
instante.

— Senhor Palazzo, não estou autorizado a revelar esse


tipo de...

— Não me faça lembrar quanto dinheiro doei a este


hospital! Quero a informação agora mesmo. Se não pode me
dar isso, então acredito que terei que desviar meus donativos
a alguma outra causa.

Rafe não estava de humor para jogar com as regras do


hospital. Queria ver Ari e precisava se assegurar que
estivesse bem. A última coisa de que lembrava era de tê-la em
seus braços enquanto sangrava. Olhou o médico e viu a luta
interna do homem enquanto tentava decidir o que fazer.

— Ari recebeu um tiro no peito. Estava perigosamente


perto do coração e a cirurgia foi crucial, mas sobreviveu. As
próximas quarenta e oito horas são críticas. Tem uma
probabilidade de cinquenta por cento de sair desta.

Rafe se sentou na cama e começou a arrancar os cabos


conectados a seus braços. De maneira nenhuma
permaneceria na fria cama desse hospital, enquanto Ari
estava em algum outro lugar lutando por sua vida.

— Senhor Palazzo, aconselho que pare. Ainda há uma


possibilidade de que contraia uma infecção se deixar de ser
monitorado.
— Importa-me uma merda a infecção. Leve-me à
Arianna Harlow agora mesmo ou asseguro que não voltará a
trabalhar nem um dia mais como médico nesta cidade nem
em qualquer outro lugar! — Gritou Rafe.

O médico o olhou por um momento, logo encolheu os


ombros como dizendo: Este será seu funeral, amigo.

— Está bem. Siga-me.

Rafe se levantou da cama e teve que fazer uma pausa


por um momento, já que o quarto começou a dar voltas. O
médico não se atreveu a lembrá-lo como estava debilitado,
mas ficou na porta esperando que Rafe se orientasse.

Quando seu mundo parou de novo, Rafe começou a


caminhar lentamente. Não estava contente com a bata do
hospital que vestia - ele era um homem que valorizava sua
dignidade e o frouxo e revelador nó na parte de trás fazia com
que a dignidade nestes momentos fosse de um inalcançável
valor.

— Uma vez que chegarmos a ela, faça com que uma


enfermeira procure minha roupa. —Ordenou. O médico se
limitou a assentir.

Caminharam pelo corredor e chegaram aos elevadores.


Uma vez dentro, o médico apertou o botão do quinto andar e
o elevador começou a subir, o que fez com que Rafe sentisse
vontade de vomitar. Tentou engolir, mas somente sentiu
alívio quando parou e foi capaz de pisar em chão firme de
novo.
Seguiu o médico passando pelas portas de vai e vem e
logo sentiu que seu coração quase parou quando com
impotência viu Ari deitada em uma pequena cama, com todo
tipo de cabos saindo de sua pálida pele.

— No momento está estável. — Disse o médico enquanto


olhava seus gráficos. — Pedirei que tragam sua roupa
imediatamente.

Rafe nem sequer se incomodou em responder ao médico


quando desabou em uma cadeira próxima à cama e se
apoderou de sua mão. Tentou dizer a si mesmo que estava
apenas preocupado porque foi ele quem a levou a cafeteria,
mas sabia que era mentira.

Em algum momento com o passar do tempo,


desenvolveu sentimentos por esta mulher. Uma vez que a
situação terminasse, empurraria essas emoções e as
prenderia para sempre. Não havia lugar para nenhum tipo de
emoção em sua vida. Isto estaria sob controle. Precisava
possuí-la para poder ter o controle de novo em sua vida. Isso
era tudo o que era. Nada mais.

Apoiou a cabeça em sua cama e adormeceu enquanto


continuava segurando sua mão. Sem o fluxo de analgésicos
entrando em seu corpo por via endovenosa, seu braço
latejava e parecia como se um operário da construção
estivesse remodelando seu cérebro. Mas devido à quantidade
extrema de tensão a que esteve submetido ultimamente, o
cansaço estava fazendo estragos nele - dormir um pouco seria
um alívio muito bem-vindo.
— Rafe. Onde estou? O que aconteceu?

Rafe despertou com o som chiado da temerosa voz de


Ari.

— Ari. Como se sente? — Perguntou enquanto tentava


eliminar a nevoa de seu cérebro.

— Como se tivesse sido atropelada por um trem. O que


aconteceu? Por que estou ligada a estes monitores? Por que
me dói tanto o peito? — Perguntou ela com olhos assustados.

— Atiraram em você. Ainda não sei os detalhes, porque


não saí de seu quarto, mas vou descobrir quem foi e por que
porra o hospital não impediu que pudesse chegar até você.

— E minha mãe? — Perguntou ela enquanto seus olhos


se enchiam de lágrimas.

— Ela está bem, Ari. A enfermeira entrou faz umas


horas e me disse que sobreviveu à cirurgia. Não queriam
assustá-la justo depois de sua cirurgia, por isso não disseram
nada, disseram que precisava descansar um pouco e foi para
casa. Irei vê-la pessoalmente em breve. Apenas queria me
assegurar primeiro de que estava bem.

— Obrigada, mas não precisava ter ficado aqui comigo,


sei quanto é ocupado. Quando poderei vê-la?

— Terá que esperar um pouco porque está na UTI neste


momento e não sairá daqui durante um dia ou mais. Recebeu
um tiro no peito e passou por uma cirurgia de alto risco. É
incrível como está progredindo bem.

— Por favor, preciso vê-la. — Suplicou Ari.


— Ari, não fará nenhum bem se for vê-la e cair diante
dela. Precisa descansar e cuidar de você antes que possa
cuidar dela.

— Então, por favor, vá vê-la. Por favor, diga que estou


bem e que estarei com ela assim que deixarem.

— De acordo, agora mesmo. — Rafe se inclinou e a


beijou suavemente nos lábios antes de levantar-se e sair do
quarto.

Não demorou muito para encontrar a quarto da mãe de


Ari. Estava deitada na cama com os olhos abertos quando
entrou pela porta. Ao menos Rafe já estava com sua roupa e
não entrou no quarto da mulher com uma ridícula,
extremamente fina e reveladora bata.

— Senhora Sandra Harlow?

— Sim, sou eu. Posso ajudar? — Era quase sobrenatural


o quanto a mulher se parecia com Arianna. Ambas tinham os
mesmos ossos à altura de suas bochechas, o mesmo nariz
reto e corpo pequeno. Inclusive tinham os mesmos olhos cor
de avelã. Mas Ari tinha longos cachos castanhos e Sandra
tinha o cabelo loiro e curto com um toque de cinza. Ainda
assim, ainda era uma mulher impressionante.

— Lamento ter que dizer isto, mas sua filha teve um


acidente. Queria assegurar que está bem, mas que não
poderá vê-la por alguns dias. — Disse, assegurando manter
um tom tranquilo.
— Minha Ari? O que aconteceu? Quero vê-la agora
mesmo! — Disse Sandra enquanto seus monitores indicavam
o aumento de seu ritmo cardíaco.

— Senhora Harlow, Ari está bem, mas as duas acabam


de sair de uma complicada cirurgia e nenhuma pode se
mover neste momento. Precisa se concentrar em sua
recuperação porque Ari precisará que você seja forte. — Disse
Rafe enquanto se sentava e segurava sua mão.

Os assustados olhos da mulher se encontraram com os


dele e Rafe se sentiu aliviado quando os monitores indicaram
que sua frequência cardíaca começou a se estabilizar.

— Quem é você?

— Sou um amigo de Ari. — Mentiu. Não podia contar


exatamente à mãe de Ari a verdade - que planejava usar a
sua filha e logo deixá-la quando se aborrecesse dela. Isso não
seria muito bom...

— Como se chama? — Perguntou ela com o mesmo tom


de mistério que usava sua filha. Era tão igual que isso o fez
sorrir.

— Raffaello Palazzo. É um prazer conhecê-la, senhora


Harlow.

O olhou correu confuso por uns momentos e logo seus


olhos se arregalaram.

— Ouvi esse nome antes. Algumas das enfermeiras


falavam de você. É você o mesmo cavalheiro que faz tanto por
este hospital?
—Nada disso importa agora, senhora Harlow. O
importante é que você e Ari se recuperem.

— Vejo que quer evitar perguntas sobre você. — Rafe


voltou a sorrir ante seu tom direto. Tinha a sensação de que
sua mãe e Sandra se dariam maravilhosamente bem. Teria
que assegurar que as duas mulheres não se conhecessem
jamais. Tê-las no mesmo cômodo faria com que sofresse
muitas dores de cabeça.

Ele apenas queria que Ari satisfizesse suas


necessidades. Não precisava que a família de ninguém
tentasse fazer disso algo mais. Rafe não precisava que ambas
as famílias se conhecessem.

— Apenas queria que soubesse o que aconteceu com


Ari, mas agora tenho que voltar para ela. —Disse Rafe,
incomodado.

— Não disse o que aconteceu com ela. Apenas me disse


que sobreviveu a uma cirurgia. — Assinalou Sandra. Rafe não
queria ser ele a comunicar à mulher que Ari recebeu um tiro,
mas não via nenhuma maneira de escapar disso.

Rafe respirou fundo e explicou o incidente do tiroteio na


cafeteria. Os olhos de Sandra se arregalaram e sua pele
pálida ficou ainda mais branca, mas a mulher conseguiu se
manter sob controle enquanto ele contava sobre os
acontecimentos do dia anterior.

— Graças a Deus que estava ali. — Disse ela finalmente


depois de uma longa pausa.
— Fui eu quem insistiu em levá-la ali em primeiro lugar.
— Respondeu ele com ar de culpa. A auto recriminação o
estava comendo vivo.

— Eu diria que isso também foi algo bom, senhor


Palazzo. Minha filha não esteve se cuidando nada bem
ultimamente. Estou agradecida que ambos estivessem ali,
estou surpresa que conseguiu fazê-la comer algo. Estive
tentando convencê-la a fazer exatamente isso durante todo o
fim de semana. Se conhece Ari, saberá como consegue ser
teimosa.

Rafe sorriu para a mulher. Estava plenamente de acordo


com ela nisso - sua filha era mais que teimosa, era uma dor
no traseiro em mais de uma ocasião, francamente.
Infelizmente ele desfrutava tanto dessa peculiaridade quanto
de sua personalidade.

— É sem dúvida, mas às vezes consigo que faça o que


eu quero. — Disse com uma piscadela.

— Hum! Interessante, senhor Palazzo. Mantenha-me


informada sobre como evolui seu estado de saúde até que o
médico me deixe vê-la?

Rafe se moveu em seu assento. Queria passar o menor


tempo possível com Sandra. Era fácil de entender, sabia que
estava desfrutando de sua companhia e isso não era bom. Por
outro lado, seria muito mais difícil para ele ter o tipo de
relação que queria com Ari se sua mãe estivesse envolvida.

Aprendeu a respeitar a família e se conhecesse Sandra,


e logo depois convencesse sua filha de que fosse sua amante,
o sentimento de culpa não o deixaria viver tranquilo. A
situação se complicava cada vez mais a cada dia que passava.
Desejou poder cortar todos os laços - mas não estava
preparado para fazer isso ainda.

— Posso me assegurar que as enfermeiras a mantenham


informada.

— Oh, eu gostaria muito que fosse você pessoalmente, já


que ficará com minha filha. — Disse, enquanto o olhava
tristemente.

Porra!

— Eu a manterei informada, senhora Harlow. —


Concordou.

— Obrigada querido e pode me chamar de Sandra.


Vamos nos ver com muita frequência nos próximos dias.

Rafe a olhou com surpresa. Havia uma coluna de aço


debaixo do debilitado corpo da mulher. Estava deixando claro
que esperava que a informasse com mais frequência do que
ele planejava.

— Bom, então descanse um pouco Sandra e por favor,


me chame de Rafe. — Disse antes de ficar de pé e sair pela
porta.

Em vez de voltar ao quarto de Ari, Rafe saiu do hospital


e deixou que a fresca brisa golpeasse seu rosto. Que porra
estava fazendo? Estava começando a se envolver muito.

O que deveria fazer era chamar seu motorista e sair dali


agora mesmo. Já era hora de cortar os laços com Ari e sua
mãe. Era o momento de contratar uma nova amante - uma
sem família - e fazer com que sua vida voltasse ao normal.
Ele negou com a cabeça enquanto permanecia ali, indeciso.

— Raffaello Palazzo, está em uma boa confusão.

Rafe gemeu e se virou para sua irmã, que estava dando


batidas com o pé e o olhava com fogo nos olhos.

— Olá, Lia. Como está? — Disse com resignação.

— Estou de saco cheio. Assim é como estou. Não posso


acreditar que tenham atirado em você e não se incomodou em
nos chamar!

— Mamãe vai te cortar a cabeça, sabia? — Interveio


Rachel que se aproximava dele e jogava os braços ao redor de
sua cintura. — Ficamos muito preocupados.

— Estou bem. —Disse, sentindo que a culpa o


consumia.

— Bem, será melhor voltarmos para mamãe. Está


furiosa com você. — Advertiu Rachel.

— Onde está?

— No quarto de Ari com papai. Ali é onde o pessoal nos


disse que esteve toda a noite. Quando não o encontramos ali,
Lia e eu saímos para procurar, mas mamãe estava segura
que voltaria, por isso decidiu esperar lá com papai. Acredito
que apenas queria estar com Ari. Parece que gosta muito
dela. — Rafe não gostava da implicação das palavras de sua
irmã. De maneira nenhuma queria que sua família tentasse
converter este acerto que planejava ter com Ari, em algo mais
do que era.

O coração de Rafe acelerou quando se virou para a


porta. Realmente não queria que sua mãe e seu pai
passassem mais tempo com Ari. Tudo isto estava saindo fora
do controle e sentia como se tivesse sido lançado em queda
livre de um alto edifício.
— Oh Arianna, pobrezinha.

Ari virou a cabeça para encontrar a mãe e o pai de Rafe


entrando em seu quarto. O que estavam fazendo aqui?

— Estou bem. — Respondeu ela automaticamente.

— Está muito longe de estar bem, querida. Não posso


acreditar que tenha passado por algo assim. Estou furiosa
com meu filho por não nos ter chamado assim que aconteceu.
Atiraram no pobre Rafe, dispararam em você e nem sequer se
incomodou em ligar para sua própria mãe. — Disse enquanto
sentava-se na cadeira junto à cama de Ari e pegava sua mão.

— Atiraram em Rafe? — Ari ficou sem fôlego.

— Não sabia?

— Não. Não me disse nada. Realmente não sei muito. A


última coisa que lembro é que senti como se tivessem
golpeado meu peito e logo vi o sangue estender-se por toda
minha camiseta. Tudo ficou negro depois disso. O médico me
disse que tive muita sorte, que se a bala impactasse um
centímetro a mais pela esquerda, teria morrido. Fiquei muito
feliz de que se alguém teve que atirar em mim, ao menos foi
em um hospital, onde puderam me socorrer imediatamente.
— Oh, querida. Eu estaria muito mais alegre se
ninguém tivesse atirado em primeiro lugar. Que terrivelmente
trágico é tudo isto. Uma mãe que acabava de ter um parto foi
assassinada - seu bebê ficou neste mundo sem sua mãe.
Outras duas pessoas também foram levadas deste mundo
muito cedo. Sei que é egoísta por minha parte, mas fiquei
muito preocupada. A ideia de perder meu Rafe parte meu
coração. Seria inimaginável. Também fiquei muito
preocupada com você. Sei que não nos conhecemos muito
bem ainda, mas é uma coisinha tão doce e saber que alguém
fez mal a você, parte meu coração.

Os olhos de Ari encheram de lágrimas ante as amáveis


palavras de Rosabella. Como poderia a maçã ter caído tão
longe da árvore? Rosabella era amável, carinhosa,
compassiva - todas as coisas que Rafe não era. Mas isso não
era completamente verdade. Rafe tinha seus momentos de
incrível bondade, mas rapidamente se separava desses
sentimentos e se escondia atrás de sua máscara de frieza.

— Onde atiraram em Rafe? — Ari precisava saber.

— Ele foi atrás do homem armado e esse louco


conseguiu atirar no braço antes que Rafe o derrubasse.

— Rafe correu para o homem? — Ari ficou sem fôlego.

— Bom, é obvio que sim, querida. O homem atirou em


você. — Disse o pai de Rafe como se fosse a coisa mais
natural do mundo que Rafe tivesse atacado um homem que
estava apontando uma arma para sua cabeça.
— Eu... não sabia. — Ari começou a se sentir muito mal
pelo fato de ser egoísta. Tudo o que esteve fazendo era se
preocupar com sua mãe. Nem sequer percebeu que Rafe
tinha um curativo. Talvez realmente fosse uma pessoa
egocêntrica.

— Mamãe. Papai. O que estão fazendo aqui?

Ari virou a cabeça para ver Rafe entrando pela porta,


com um semblante não muito feliz. Ela se encolheu
involuntariamente.

— Raffaello Palazzo, não se atreva a usar esse tom


comigo. Está em uma boa confusão. Não posso acreditar que
tenha que me inteirar pelos médicos de que meu único filho
quase morreu. Deveria nos ter chamado imediatamente. —
Explodiu Rosabella.

Ela apertou a mão de Ari antes de se levantar da cadeira


e ir até Rafe, lançando seus braços ao redor dele. Apesar de
dar uma bronca, o amor em suas ações brilhava. Tão próprio
de uma mãe - o terror a fez gritar ao sentir que queria chorar.

— Estou bem, mamãe. Não estive a ponto de morrer. O


desgraçado mal não me tocou. — Disse enquanto a abraçava
com seu braço bom.

— Está mentindo. Pensei ter ensinado melhor que isso,


Rafe. O médico nos disse que tiveram que extrair a bala. Não
me importa se for apenas uma ferida superficial. Atiraram em
você, então deveria avisar sua mãe. — Ela repreendeu.
— Estive um pouco ocupado, mamãe. — Disse, embora
sua voz adquirisse um tom mais suave quando viu as
lágrimas escorrendo pelo rosto de sua mãe.

— É obvio que sim, filho. Pobre Ari. Não posso acreditar


que alguém pode atirar com uma arma nesta doce menina. —
Disse em um sussurro.

— Pagará por isso. — A ameaça era evidente no tom de


Rafe.

— É obvio que o fará, filho. Agora mesmo está preso em


outro andar. — Disse Martin enquanto se aproximava de Rafe
e dava tapinhas nas costas.

— Sim, o pessoal foi muito reservado à respeito de sua


localização. — Grunhiu Rafe.

— Filho, precisa deixar que a lei se ocupe dele. Você já o


pegou e agora irá para a cadeia, onde esperamos que
executem essa escória sem valor. Antes que cometesse o
engano de entrar na sala onde vocês estavam, ele matou
várias pessoas.

— Pobres famílias. — Ari ficou sem fôlego.

— Sim, embora o dinheiro não faça com que uma


criança recupere sua mãe, Rafe está assegurando que as
famílias das vítimas sejam bem atendidas. — Disse Rosabella
com orgulho enquanto se virava para Ari.

Ari se virou rapidamente e encontrou com os olhos de


Rafe. Ele não era o responsável por esses disparos. Por que
sentia a necessidade de cuidar das vítimas e seus seres
queridos? Sua curiosidade despertou ante uma nova faceta
de Rafe. Não era tão unidimensional como ela pensou no
princípio.

— Mamãe. — Disse Rafe em tom de advertência.

— Oh, Rafe. Sempre foi tão modesto com relação ao que


faz por esta comunidade. Não me interprete mal, pode ser
bastante arrogante às vezes, mas no fundo é muito suave.
Não sei por que se preocupa tanto que o mundo descubra
isso.

— Já está bem, mamãe. — Disse em um tom muito


tranquilo que enviou um arrepio pelas costas de Ari.

— Rosabella, está envergonhando-o. — Advertiu Martin.

— Oh, quieto. — Disse Rosabella, mas a mulher parou.

— Será melhor sairmos e deixarmos que Ari descanse.


— Disse Rafe olhando seus pais.

— Sinto muito, querida. Não paramos de falar, quando o


que você precisa é dormir. Voltarei amanhã para vê-la.
Deixarei o restante da família em casa para evitar todo este
alvoroço. — Disse Rosabella enquanto deixava de lado Rafe e
se dirigia de novo até Ari.

Ari se surpreendeu quando a mulher se inclinou e a


abraçou com muita suavidade. Sentiu um nó na garganta
ante o gesto tão maternal. A mulher mal a conhecia,
entretanto, estava muito preocupada com ela. Ari não pode
evitar comparar Rosabella com sua própria mãe, ambas eram
muito compassivas e tinham uma habilidade natural para
atrair outros para elas.

O que aconteceu na vida de Rafe para que se


convertesse em um fanático por controle? Em sua defesa,
parecia que apenas era assim quando se tratava de relações -
ou negócios. Ao que parece, era um santo quando se tratava
de todo o restante. Ari percebeu que tinha vontade saber
mais sobre ele.

Mas ela era inteligente o suficiente para perceber que


esse era um caminho que era melhor não tomar.

— Voltarei mais tarde. — Disse Rafe. O olhar em seu


semblante não deixava nenhuma dúvida de que discutir com
ele a respeito disso não serviria de nada. O medo se apoderou
dela quando percebeu mais uma vez, que na realidade podia
acabar se apaixonando por esse homem. Sob nenhuma
circunstância poderia permitir que isso acontecesse. Era
completamente inaceitável.
Rafe ficou em silêncio quando saiu do quarto de Ari e se
reuniu com sua família. Pela primeira vez em sua vida, até
mesmo suas irmãs estavam em silêncio enquanto todos
avançavam pelo corredor. A situação saiu de suas mãos a
níveis estratosféricos.

Rafe não sabia se era orgulho ou obsessão, mas sabia


que não deixaria de perseguir Ari, sem se importar com as
dificuldades que isso fosse para ele e sua sedentária vida.
Assim, parecia que a única opção para suavizar as águas era
convencer sua família que retornassem para casa e voltar a
endireitar as coisas.

— Vamos jantar. — Disse Rafe quando entraram no


estacionamento.

— Essa é uma boa ideia, filho. — Disse seu pai com


uma voz grave. — Então poderá nos explicar por que não nos
chamou imediatamente depois de receber um disparo.
Também gostaria de saber o que realmente está acontecendo
com Ari. A qual parece estar tão afeiçoado.

Rafe preciso conter a resposta que estava lutando por


sair de sua boca. Jamais faltou com respeito a seus pais e
não iria começar a fazê-lo agora.
— Não é óbvio, papai? Rafe está apaixonado. — Disse
Rachel com voz cantarolando.

— Rachel, por uma vez em sua vida, será melhor que


feche a boca. Ari é.... é apenas uma potencial empregada.

— Ah tá! — Murmurou Lia.

Rafe olhou suas duas irmãs.

— Bom, bom, se não é o homem do momento, o herói de


São Francisco, que entra em ação e derruba um homem
armado, enquanto salva a princesa de uma morte segura.

Rafe se virou para ver quando seu melhor amigo se


aproximava deles. Não gostou de ver o sorriso no rosto de
Shane e se preparou para uma noite ainda mais longa. Rafe
gostava muito de seu amigo, mas sabia que não havia nada
que Shane gostasse mais do que encontrar os pontos fracos
de seu amigo e apertá-los.

— Pensei que estivesse fora do país, Shane.

— Voei toda a noite apenas para me assegurar que sua


bunda estivesse fora de perigo. Obrigado por ligar, por sinal.

— Todos estão exagerando muito. Estou bem, obrigado.


Volte para a América do Sul ou onde quer que esteja salvando
o mundo.

— Raffaello, está sendo muito grosseiro. — Rosabella o


repreendeu enquanto se aproximava de Shane e dava-lhe um
abraço de boas-vindas.

— Sim, amigo, muito grosseiro. — Disse Shane com um


olhar ferido, mas piscou um olho assim que Rosabella o
soltou. Seu amigo sabia como fazer com que Rafe parecesse
um cretino e adorava isso.

— Você gostaria de jantar conosco? Já estávamos indo.


— Perguntou Martin.

— É obvio. Não vejo minha família favorita há mais de


seis meses. Como está, preciosa? — Disse enquanto esfregava
a cabeça de Rachel.

— Já não tenho dez anos, Shane. Já não precisa fazer


isso. — Disse.

— Sinto muito, pirralha, sempre terá doze anos para


mim.

— E Lia? Ela também será sempre uma pirralha para


você? — Incitou Rachel, fazendo tanto Lia quanto Shane se
moverem inquietos.

Os olhos de Rafe se estreitaram ao ver a tensão entre


seu melhor amigo e sua irmã. Que porra estava acontecendo?

— Shane? — Questionou Rafe. Sabia que havia um


problema quando Shane não olhou para Lia - e agora para
ele-nos olhos.

— Ouça. Pensei que íamos comer algo. Acabo de voar do


outro lado do planeta e estou morrendo de fome. — Disse
Shane com uma gargalhada.

Rafe percebeu que Shane ainda não estava fazendo


contato visual com Lia. Não havia dúvida - teria uma
conversa com seu melhor amigo antes que terminasse a
noite.
— Sim, com todo o estresse dos últimos acontecimentos,
não fui capaz de comer nada. Saber que está bem me
devolveu o apetite. Vamos encontrar um restaurante com
uma vista linda. — Disse Rosabella enquanto se
aproximavam do veículo de Rafe.

A família subiu na parte detrás da limusine e Rafe


percebeu como Lia se afastou tanto quanto pode, enquanto
Shane fazia o mesmo indo ao outro extremo do assento.
Simplesmente esperava não explodir antes que tivesse um
momento a sós com Shane.

— Onde esteve e o que estava fazendo? — Perguntou


Rosabella.

— Oh, não muito. Acabo de voltar da América do Sul. —


Respondeu ele, se contorcendo um pouco.

— Não muito! Está construindo casas para famílias que


de outro modo, dormiriam em lonas, com sorte e com seu
próprio dinheiro. Não apenas isso, mas sim conseguiu reunir
um grupo de outros investidores para que intervenham e
doem não apenas seus recursos, mas também seu tempo. Eu
diria que isso é muito. — Disse Lia.

— Por que você e meu filho são tão desconfiados quando


se trata de negócios e não gostam de reconhecer o trabalho
que fazem como voluntários e as coisas belas que fazem pelas
pessoas? Essas são as coisas que deveriam estar gritando aos
quatro ventos.

— Em primeiro lugar, não é para tanto. Passei muitos


anos da minha adolescência e da década de meus vinte,
sendo um egoísta, tomando tudo o que queria e nem sequer
pensando em devolver nada. Além disso, se alguém estiver
fazendo um serviço comunitário por tapinha nas costas, está
perdendo tempo. Dar a si mesmo ou doar dinheiro não tem
sentido se apenas o fizer porque quer ser reconhecido ou ficar
se gabando. A razão pela qual gosto de fazer projetos de
voluntariado fora do país é porque não tenho câmaras me
perturbando a cada cinco segundos. Se ninguém souber onde
estou, tenho um pouco de paz. Seu filho esteve em alguns
projetos comigo. Diz que é para escapar, mas trabalha como
ninguém. — Respondeu Shane, assentindo para Rafe com
respeito.

— Falando de meu reservado filho, sabe o que está


acontecendo entre ele e essa formosa Ari?

A cabeça de Shane se virou e finalmente encontrou com


os olhos de seu amigo. Rafe fez o mais leve movimento de
cabeça, como se estivesse pedindo a seu amigo que não lhe
interrogasse diante de seus pais. Quando viu o brilho que
cruzou os olhos de Shane, soube que estava perdido.

— Bom, não ouvi falar de Ari com antecedência, o que


me diz que Rafe pode estar de verdade interessado nela.

— Se não ouviu falar dela, então não pode ser tão sério.
— Disse Martin, com certa confusão.

— Ah, mas aí é onde está equivocado. Sabe, Rafe e eu


compartilhamos tudo. Sei tudo sobre suas conquistas. Se
está ocultando esta garota, então é porque ele mesmo não
sabe o que está fazendo. Rafe sempre sabe o que está
fazendo, por isso parece que é possível que tenha aparecido
uma mulher que esteja sendo capaz de tirá-lo de sua
organizada vida. — Respondeu Shane com um sorriso.

Já era suficiente!

—Não mencionei Ari porque ainda estamos nos


conhecendo. Sim, estou saindo com ela ou ao menos
considerando. É um pouco atrevida, para meu gosto habitual,
mas tem outras qualidades. —Começou Rafe quando ouviu
sua mãe ofegar em choque ante sua má educação.

— Mas. — Continuou. — Minha vida amorosa não é sua


incumbência, Shane. Mamãe, se em algum momento fosse ter
algo sério com esta mulher, diria isso a vocês. A verdade é
que nenhuma mulher realmente me fez me interessar por ela
por muito tempo, incluindo Ari. —Concluiu.

— Isso que acaba de dizer é horrível, Rafe. —


Repreendeu Rosabella.

— Acredito que será melhor deixarmos o assunto. Além


disso, estou muito mais interessado em saber por que Shane
e Lia não são capazes sequer de se olharem.

Todas as cabeças se voltaram primeiro para Lia cujo


rosto estava em chamas e logo à Shane, que começou a suar.

— Não há nada para falar. —Disse Shane sem jeito


enquanto brincava com seus punhos.

— Nada que falar! Como se faz alguns meses que


passaram a noite juntos? — Interveio Rachel com um
malicioso sorriso.
— O quê? — Gritou Rafe enquanto olhava para seu
melhor amigo.

— Antes que tente me matar, deixe explicar. Não


passamos exatamente à noite juntos... — Shane tentou dizer.

— Tem cinco segundos para explicar antes que o jogue


do carro em movimento e faça com que o motorista passe por
cima.

— Olha, Lia e eu, estivemos na mesma arrecadação de


fundos faz uns meses e jantamos juntos. Ambos acabamos
bebendo muitos copos de um delicioso vinho e logo decidimos
saborear mais alguns copos em meu quarto antes de dar à
noite por acabada. Não aconteceu nada. — Quando um
silêncio sepulcral encheu o carro, acrescentou. — Juro!

— Papai, abre a porta, acho que jogarei Shane de


qualquer forma. — Gritou Rafe.

— É um maldito hipócrita. Nem sequer toquei sua irmã.


Tratei-a com todo o respeito do mundo. Gosto demais da sua
família para abusar de Lia. Você, entretanto, trata às
mulheres como se não fossem nada mais que um chiclete na
sola de um sapato e vai ficar aí e me julgar? Eu te amo Rafe,
mas quando se trata de mulheres, é um completo idiota. —
Disse Shane mantendo o olhar.

— Há! Fala sobre a palha no olho alheio. Quando foi a


última vez que você passou duas noites seguidas com a
mesma mulher? Pelo menos eu sou responsável por meus
assuntos. Costumo ficar com a mesma pessoa pelo menos
três meses. — Rebateu Rafe.
— Acredita que é um santo porque trata as relações
como se fosse outra fusão de negócios?

— Não há nada de mal em ter normas restritas.

— Acredito que deveríamos deixar o assunto, Rafe.

— Provavelmente tem razão. Prefiro não ter que dizer


algo que possa lamentar mais tarde.

Rafe olhou a seu redor - esqueceu-se por um momento


de que seus pais estavam sentados de frente a ele. Não
gostava da censura que viu nos olhos de sua mãe, nem a
expressão pensativa no rosto de suas irmãs.

Rafe ficou meditando durante o resto do trajeto até o


restaurante. Seus problemas com Ari continuavam
aumentando e desejou estar sozinho para poder pensar
atentamente em tudo o que passou ultimamente. Estaria
acima de seu entendimento? Certamente não.

Quando a limusine parou, Rafe quase suspirou de alívio.


Muita tensão. Não ajudava que suas irmãs parecessem estar
comunicando-se em silêncio entre elas. A duas eram peritas
nisso desde que eram pequenas e quase sempre, isso o
colocou em muitos problemas.

Quando sua família se sentou à mesa do restaurante,


Rafe percebeu a contínua tensão entre Shane e Lia. Precisava
falar com seu amigo a sós logo que fosse possível e saber
exatamente o que estava acontecendo. Ele e Shane eram
moldados pelo mesmo padrão - os dois eram um desastre
quando se tratava de mulheres. Rafe não queria que Lia se
metesse nisso. Não acreditava que sua amizade com Shane
pudesse sobreviver se isso ocorresse.

— Agora tampouco vai me olhar nos olhos?

Shane se viu preso na porta do banheiro masculino. Não


pensou que Lia fosse segui-lo até ali. Rafe suspeitaria cada
vez mais dele e Shane sabia que teriam uma confrontação
particular. Se Rafe soubesse dos sonhos vívidos que estava
tendo com sua irmã, seria um homem morto...

Depois de vários incômodos segundos, Shane finalmente


a olhou. A expressão preocupada e postura defensiva da
garota não melhorou sua perspectiva da situação.

— Lia, isto é um engano. Não deveria ter lhe beijado


naquela noite, Rafe é meu melhor amigo. Não sei como pude
deixar acontecer.

— Eu não sou uma menininha, Shane. Posso beijar os


homens tanto quanto queira sem a permissão de meu irmão
mais velho. Para falar a verdade, posso inclusive ter relações
sexuais com eles se quiser. — Disse ela com audácia.
Shane queria golpear a parede. A última coisa que
queria era pensar em Lia tendo sexo - a menos que fosse com
ele.

— Se está tentando me fazer reagir, está fazendo um


bom trabalho e não vai gostar dos resultados. — Ameaçou.

— Reagir? Oh, não acredito que isso possa acontecer.


Não se pode obter nada mais que uma rígida formalidade e
uma completa indiferença do valente Shane. Sabe o quê? Não
me importa. Acho que vou ao bar e escolherei alguém que
não se envergonhe de me olhar. — Disse ela enquanto se
afastava.

Uma merda que o faria!

A frustração se encarregou de seu sentido comum e


Shane pegou Lia pelo braço e a fez virar de novo para ele. A
surpresa em seus olhos rapidamente deu lugar ao desejo
quando ele a atraiu para ele. Sabendo que era um erro, mas
incapaz de parar, Shane se apoderou de sua cabeça enquanto
capturava seus lábios.

Todos seus pensamentos fugiram ao provar o doce mel


de seu beijo. Não houve nenhuma exploração lenta. Sentia-se
como um homem faminto procurando alimento. Empurrando
Lia contra a parede e segurando seu corpo com o dele, desceu
sua mão pelo pescoço e logo pela frente de sua blusa
enquanto a beijava.

Ela gemeu quando sua mão roçou um seio, seu corpo se


endureceu e ele pressionou sua ereção contra ela, tentando
procurar alívio.
Ela aceitou com avidez tudo o que estava oferecendo, o
que fez com que ele se encorajasse a tomá-la ali mesmo.
Deslizou sua mão por debaixo de sua blusa enquanto
alcançava seu sutiã. Precisava sentir sua pele nua.

— Bom, que interessante. Já vejo que não há nada entre


vocês.

Shane congelou ante o som da voz de Rachel. Ele se


afastou de uma Lia muito avermelhada, horrorizado pela
forma como quase tomou a garota em público.

— Sinto muito. — Disse antes de dar a volta e fazer uma


rápida escapada pela sala atrás do restaurante.

— Isso sim que foi uma grande escapada ao banheiro. —


Foi a última coisa que Shane ouviu Rachel dizer antes de sair
diretamente do restaurante. Ligaria para Rafe depois de
inventar uma desculpa para sua antecipada retirada. Se Rafe
o olhasse um segundo no rosto não teria nenhuma dúvida do
que estava fazendo.

A culpa o devorava enquanto chamou um táxi e fugia. E


quando seu telefone soou cinco minutos mais tarde, ignorou-
o. Shane sabia que teria que confrontar as consequências de
suas ações cedo ou tarde, mas não estava disposto a fazer
isso ainda. Rafe era seu melhor amigo, sua família. Se
perdesse sua amizade, não saberia o que fazer.

A situação era desesperadora. Inclusive fugir para um


país do Terceiro Mundo não fez com que pudesse tirar sua
mente de Lia. Estava apaixonado por ela, mas essa relação
seria impossível.
Sabia que apenas a faria mal, porque era incapaz de
manter uma relação a longo prazo. Uma aventura com ela
não valeria a pena, porque no final faria algo errado e
perderia seu melhor amigo. Agora, se conseguisse convencer
certa parte de sua anatomia, se sentiria melhor.
— Se não me trouxer uma cadeira de rodas e me levar
para ver minha filha neste momento, juro que encontrarei um
objeto agudo e apunhalarei a primeira pessoa que me tocar
no olho.

— Está bem, Sandra, a levarei para ver Ari.

Rafe não pôde ocultar seu sorriso de diversão ao ver a


diminuta mãe de Ari ameaçar o enfermeiro de quase cem
quilos. O que era ainda mais cômico era que o homem
parecia estar verdadeiramente intimidado.

— Finalmente alguém está dizendo o que quero ouvir. —


Disse ela enquanto passava as pernas por um lado da cama.

— Deixa que te ajude para que possa poupar energia


para que passe o maior tempo possível com Ari. Ela também
ameaçou o pessoal do hospital nos últimos dias. Posso ver de
onde herdou seu gênio.

— Fico feliz que me levará para ver minha filha, mas não
pressione sua sorte. Dói-me todo o corpo, atiraram na minha
menina e estes médicos imbecis dizem que tenho que
permanecer na cama para meu próprio bem. Não quero que
mais ninguém fale algo. Quero ver minha filha e quero ver já!
— Falou Sandra enquanto sustentava o olhar de Rafe.
Rafe admirava Sandra - e isso era um problema. Não
tinha a menor dúvida de que seguiria em frente com sua
ameaça se não conseguisse o que queria, igual sua mãe faria
a qualquer pessoa que se interpusesse entre ela e seus filhos.
As duas mulheres eram desconcertantemente parecidas.

— Tem alguma ascendência italiana, senhora Harlow?


— Perguntou Rafe enquanto a ajudava a sentar-se na cadeira
de rodas.

— Não tenho nem ideia. Por que pergunta?

Rafe prendeu seus pés com as correias de cada estribo,


logo pegou uma manta e colocou sobre seu colo.

— Há muita paixão dentro de você. Isso quer dizer que


tem uma herança forte. — Disse enquanto começava a
conduzi-la pelos corredores. Rafe sabia que ninguém se
atreveria a pará-lo, mesmo que os médicos considerassem
que Sandra deveria esperar um pouco mais antes de se
levantar da cama. Se Rafe dizia que estava bem, então neste
hospital, estava bem.

— Ah Rafe, a paixão está em todos nós, é apenas que


algumas vezes sentimos a necessidade de expressá-la.
Normalmente sou uma pessoa muito feliz e tranquila, mas o
pessoal deste hospital deveria saber que não se deve tentar
separar uma mãe de sua filha. Eu a criei em meu interior,
protegi seu frágil corpo até que se formou, depois dei à luz a
um perfeito bebê. Não serei sempre capaz de mantê-la a salvo
neste mundo, mas não ficarei na cama de braços cruzados
enquanto ela está ferida. Com câncer ou sem ele, minha filha
sempre estará em primeiro lugar. Um pouco de mal-estar não
me matará. Merda estou começando a pensar que nada o
fará.

— Estou de acordo com você nisso. Passou por mais do


que a maioria das pessoas poderia aguentar e ainda tem
forças para lutar. Continue lutando e nunca perca uma briga.
— Aconselhou Rafe quando chegaram ao andar onde estava
Ari.

— Sabe uma coisa, Rafe? Adoro nossas conversas. Você


se esconde atrás dessa máscara inexpressiva a maior parte
do tempo, mas posso ver fogo debaixo da superfície. Não sei
se sabe ou não, mas é um bom homem.

Rafe quase parou ante suas palavras. Se a mulher


soubesse o que planejava para sua filha, não sentiria isso da
mesma maneira. As mães como ela, tendiam a afastar suas
filhas de homens como ele. Por isso mesmo, ele nunca
contratava mulheres com mães como a de Ari. Uma educação
assim poderia se revelar como tolas e idealistas ideias sobre o
amor.

Um sorriso irônico caiu sobre seus lábios quando


entraram no quarto de Ari. Ela se esticou até que viu sua
mãe e sorriu pela primeira vez após o tiroteio. Talvez Rafe não
tivesse que preocupar-se com Ari se apaixonando por ele.
Continuava mostrando-se tão receosa em sua companhia
como fez desde o princípio.
Assim não tinha nada sobre o que se sentir culpado.
Quando ela aceitasse ser dele, saberia exatamente com que
tipo de homem estava tratando.

Rafe levou Sandra até a cama e logo saiu do quarto em


silêncio. Mãe e filha precisavam ter um pouco de tempo a sós
e certamente não queria ser testemunha de seu feliz
reencontro. Tinha que endurecer seu coração para preparar-
se para a próxima batalha de astúcia com Ari.

— Fico feliz de que esteja aqui, mamãe. Estive


preocupadíssima com você.

— A preocupação foi em dobro no meu caso. Como se


sente?

— Estou muito melhor. Ainda dói o peito, mas não é


uma dor com a qual não possa viver. O mais importante
agora mesmo é como você se sente. O médico disse que a
cirurgia foi um sucesso, mas quero saber como se sente, não
todas as coisas técnicas que estive ouvindo ultimamente.

— Não há muito que contar. Disseram-me que foram


capazes de parar a infecção e que o câncer não se expandiu.
Estarei um pouco mais fraca do que o normal durante um
mês mais ou menos, mas o pessoal pensa que poderei ir para
casa antes do que pensávamos. Não pode nem imaginar a
vontade que tenho de voltar a dormir em minha cama. Tenho
certeza de que todas as plantas morreram já, mas plantar
novas me dará algo que fazer até que possa voltar para a loja
de flores e possa começar a trabalhar de novo.

O coração de Ari acelerou enquanto sua mãe falava.


Deveria dizer agora mesmo que a casa e a loja já não
existiam. Esteve protegendo sua mãe desde que despertou do
coma, mas, não era pior deixar que a mulher tivesse
esperanças? Ari abriu a boca, mas não pode emitir nenhum
som. Não podia partir o coração de sua mãe.

— Fico feliz em ouvir você falar de uma forma tão


positiva, mamãe. —Sussurrou finalmente um pouco sufocada
pelas lágrimas.

— Oh querida, sinto muito. Não páro de falar sobre


meus planos como uma louca enquanto você está aqui
deitada sentindo-se miserável. Sou uma mãe terrível. —Disse
enquanto passava a mão pelo cabelo, tal como fazia desde
que Ari era criança. O gesto fez com que as lágrimas se
transbordassem de seus olhos.

— Não, mamãe. Adoro ouvir falar sobre o futuro. Estava


tão assustada, pensando que não teríamos um, foi a pior
sensação do mundo. Não posso estar neste mundo sem você!
—Exclamou.

— Arianna Lynn Harlow, não quero voltar a ouvir você


dizer isso de novo. Você é um precioso presente que me foi
dado para cuidar. É a razão pela qual amo tanto a vida. O
resto do mundo pode desmoronar ao nosso redor, e mesmo
que me leve com ele, não me importará, sempre e quando
souber que você está bem. Os pais nunca devem durar mais
que seus filhos. Não é o certo. Quando chegar minha hora,
me prometa que seguirá em frente. — Exigiu Sandra.

— Não posso...

— É obvio que sim! Eu a criei para que fosse uma


pessoa forte e não importa o que a vida coloque em nosso
caminho, poderemos nos squivar e seguir avançando. Nunca
estive mais assustada em minha vida do que quando soube
que atiraram em você. Não posso acreditar que alguém tenha
a coragem de machucá-la. Você é minha vida. Agradeci a
Deus todos os dias pela dádiva de estar grávida de você.

— Mamãe, se continuar dizendo essas coisas não serei


capaz de parar nunca de chorar. Eu também te amo, mais do
que pode imaginar. Foi um ano difícil, mas tudo está
mudando para melhor.

Este seria o momento perfeito para que Ari dissesse a


sua mãe que teve que vender a casa e a loja de flores. Sabia
que sua mãe ficaria muito triste, mas também entenderia que
sua filha não teve escolha. Ari voltou a abrir a boca para falar
e uma vez mais, as palavras não saíram. Enquanto fervia de
frustração, alguém bateu na porta.

— Este é um momento ruim?

Ari e Sandra se voltaram para a porta para ver


Rosabella, Lia e Rachel ali de pé com flores e uma gigante
caixa de bombons.
— Qualquer pessoa que traga bombons é bem-vinda em
meu quarto, dia e noite. — Respondeu Ari com um choroso
sorriso.

— Assim como ao meu. Como se sente hoje, Ari? —


Perguntou Rosabella enquanto deixava os bombons sobre a
mesa de Ari.

— Sinto-me muito mais forte. O médico disse que meus


níveis de ferro estão muito baixos e minha pressão arterial
precisa subir, mas acredito que apenas está querendo me
atormentar. Uma boa dose de chocolate é tudo o que preciso.
— Respondeu ela quando abriu a caixa e tirou um bombom,
fazendo-o estalar em sua boca e suspirando enquanto o
cremoso doce se derretia em sua língua.

— Estou sendo muito grosseira. Peço desculpas, mas é


apenas ver chocolate que o resto do mundo se torna turvo.
Mamãe, quero que conheça Rosabella, Rachel e Lia, a família
de Rafe. Esta é minha mãe, Sandra. — Disse Ari timidamente
enquanto terminava de mastigar e engolir o bombom.

— Prazer em conhecer todas. Agradeço muito o quão


amáveis foram com minha filha.

— Para nós também é um prazer conhecer você. Tem


uma filha preciosa. — Respondeu Rosabella enquanto
apertava a mão de Sandra.

Depois que todos se saudaram e conversaram por um


momento, Sandra se voltou para Ari com um sorriso antes de
inclinar-se para ela.
— Poderia ser mais educada e compartilhar. — Disse
Sandra dando um tapa na mão de sua filha e pegando o
bombom que Ari iria pegar. Quando Sandra mordeu a
delicadeza, seu rosto tinha a mesma expressão de alegria que
o de sua filha minutos antes.

— Trouxemos uma caixa grande para que possa


compartilhá-la com todos nós. — Disse Rachel enquanto se
sentava na borda da cama e pegava um doce.

— Rachel, isso não é para você. — Rosabella repreendeu


sua filha.

— Não posso comer tudo isso. —Interrompeu Ari. —


Terão que me deitar em uma cama maior. Obrigada por tudo.
Por favor, peguem todos os bombons que queiram e
desfrutemos todas juntas.

— Bom, se insiste. — Disse Lia sentando-se aos pés da


cama e se inclinando para frente para pegar um chocolate. —
Tem uma cor melhor hoje. Estou segura de que te darão alta
muito em breve.

— Assim espero. Acredito que seu irmão vai subornar o


hospital para que me retenham aqui contra minha vontade
como castigo por não o obedecer. —Disse Ari
despreocupadamente, sem pensar em suas palavras.

— Por não obedecer? O que ele queria que fizesse? —


Perguntou Rachel com um sorriso.

— Oh, aposto que é algo um pouco pervertido. —


Acrescentou Lia com uma gargalhada.
— Garotas são terríveis. — Rosabella repreendeu.

O rosto de Ari ficou cada vez mais vermelho enquanto


olhava de sua mãe para a mãe de Rafe e posteriormente suas
irmãs. De maneira nenhuma revelaria suas retorcidas
atividades aos seus familiares.

— Este hospital não pega muitos canais de televisão,


assim, por favor, alguém me diga que assiste Supernatural e
me relate sobre o que Sam e Dean estiveram fazendo
ultimamente. Eu mesma me converteria em uma malvada
vampira a fim de me envolver com ambos. Adoro!

A tática de Ari funcionou. Sua inesperada reação


surpreendeu aos presentes e fez com que se esquecessem do
que disse sobre Rafe.

— Bom, Dean se colocou em outra confusão...

Ari permaneceu sentada enquanto que Lia colocava-a


em dia sobre as últimas aventuras dos meninos Winchester.
Essa série era sua única fraqueza. Ela tinha certa atração
inata para os sensuais irmãos e quem poderia culpá-la?
— Quatro reis! Olhe e chore! — Gritou Ari enquanto
fazia sua dança da vitória na cama e agitava os braços.

O corpo de Rafe endureceu imediatamente quando os


seios de Ari balançaram e o rosto da jovem se acendeu em
chamas. Passou-se um mês desde que o sentiu e tocou
enquanto estava enterrado profundamente dentro dela. Não
podia aguentar mais e parecia inclusive que uma pequena
corrente fazia com que ficasse duro como uma pedra nos dias
de hoje.

— Oh, não seja tão mal perdedor. Não está se


concentrando e eu não posso evitar ganhar. — Disse Ari com
regozijo.

O comentário foi responsável por distrai-lo de sua


frustração sexual. Quando Rafe exigiu que deveriam apostar
algo em seu jogo de cartas, ela insistiu em jogar por moedas
de cinco centavos. A parte realmente divertida foi o momento
em que Ari se emocionou quando ganhou a pouca quantidade
de... dois dólares! Inclusive mais cômica foi a reação de Rafe
quando ele ganhou. De alguma maneira, estar na presença
de Ari despertava o menino que havia em seu interior.

Ari estava brincando com sua sanidade e ele estava


ainda mais assustado porque realmente estava se divertindo
jogando um simples jogo de cartas com ela. Nunca tirou uma
tarde livre no trabalho para jogar pôquer. Tinha que colocar
fim nisso e a única maneira de fazê-lo era tirá-la do hospital e
colocá-la em sua cama.

— Ficará choramingando durante o resto do dia por ter


perdido ou vai apostar outra vez?

— Alguma vez lhe disseram que a paciência é uma


virtude?

— Uma ou duas vezes. Agora, aposte. Estou com sorte.


— Ordenou ela enquanto esfregava as mãos.

Rafe encontrou-se rindo enquanto embaralhava as


cartas, não uma risada falsa, mas uma verdadeiramente
profunda. Ari tinha uma maneira de lhe fazer tirar os pés fora
do chão.

Quando Rafe levantou o olhar, ela estava encarando-o


com assombro e neste instante abaixou os olhos dilatados
para seus lábios. Justo quando seu corpo começou a
comportar-se, ela tinha que olhar assim para ele. Sua ereção
voltou com toda sua força e mais dolorosa que nunca.

— Se for me olhar com essa expressão, vou esquecer


que está machucada e a tomarei neste preciso instante. —
Advertiu Rafe e logo começou a empurrar a mesa para o lado.

Ari abriu a boca com um grito de surpresa, mas não


disse não. Rafe se levantou e fechou a porta com chave. Teria
muito cuidado com ela, assegurou-se enquanto levava a mão
ao zíper.
— Toc, toc. É hora de tomar seus sinais vitais.

Rafe abriu a porta de novo rapidamente, mas quase


grunhiu quando a enfermeira entrou no quarto. Esteve a
ponto de ordenar que saísse, mas se conteve. E sem olhar
para Ari, fugiu. Seu corpo estava em chamas e parecia que
não iria encontrar alívio em um curto prazo de tempo. Sabia
que o momento passou e Ari teria companhia quando
retornasse.

Uma bebida ou dez, era tudo o que ajudaria até que


pudesse tê-la apenas para ele. Rafe saiu do hospital e pouco
depois decidiu que seria melhor que não voltasse naquela
noite.

— Hoje está muito melhor. O médico disse que se seus


sinais vitais se mantiverem estáveis, então poderá voltar para
casa.

Ari olhou Rafe quando este se convidou a entrar em seu


quarto. Ari estava há duas semanas no hospital e Rafe esteve
ali todo dia. Foi amável, ajudou a matar o tempo jogando
divertidos jogos com ela, levava uma comida incrível e em
geral, tratava-a como se fosse parte da realeza.
Suas mãos a tocavam constantemente, esfregando seus
pés, acariciando seus braços ou tirando as mechas de cabelo
de seu rosto. Os nervos de Ari estavam destroçados e esta era
uma das melhores notícias que ouviu em muito tempo.
Precisava afastar-se dele antes que fizesse algo estúpido,
como aceitar trabalhar para ele.

— Bem. Estou preparada para ir embora. Não posso


acreditar que ainda tenha trabalho depois de ter faltado todos
estes dias, mas não deixo de dar graças aos céus por isso.
Apenas quero que minha vida volte para ao normal.

— É obvio que ainda tem trabalho, Ari. Realmente


acredita que seu chefe despediria a mulher que saiu em todos
os jornais por ajudar a pegar um assassino?

Rafe se sentou na borda da cama e ela se afastou dele


automaticamente. Cada vez que seus corpos se roçavam, um
calor se apoderava dela e fazia com que cada vez ficasse mais
difícil resistir a ele.

— Eu não ajudei a pegar o assassino. Tomei um tiro e


desmaiei. A mídia adora dar um toque sensacionalista às
coisas para que possam vender mais jornais. Sabe quantas
revistas ligaram querendo saber sobre as últimas fofocas?
Quando disser o que realmente aconteceu, ficarão entediados
e rapidamente passarão para a história seguinte.

— Ah, isso é apenas porque não a conhecem como eu.


Se tomassem um pouco de tempo para afundar em sua
cabeça, estariam babando enquanto ouviam sua história. —
Disse ele enquanto segurava sua mão e a levava a seus
lábios.

— Por que continua me perseguindo? Não tem nada o


que fazer comigo. Nunca serei obediente. Nunca farei as
coisas que me pede. E por que é tão humano um minuto e no
seguinte se comporta como um completo idiota? Não percebe
que se desativasse essas teclas em seu cérebro, na realidade
seria o namorado perfeito? — Perguntou.

Imediatamente, as pálpebras de Rafe se voltaram com a


fria expressão pela qual era conhecido. Ari não entendia como
o homem podia ser tão quente e frio ao mesmo tempo. Em
um momento, era um cavalheiro, correndo para resgatar
donzelas assustadas e no segundo seguinte, era o pior vilão
de todos os super-heróis.

Depois conhecer seus pais um pouco mais, Ari não


podia entendê-lo. Rafe foi criado num lar cheio de amor, será
que sua esposa o traiu e feriu seu orgulho? As pessoas
normais costumavam superar essas coisas.

— Eu a levarei para casa. Estarei de volta em algumas


horas. — Disse em um tom cortante e se foi.

Ari revirou os olhos e em silêncio desejou-lhe boa


viagem. Ainda assim, resignou-se ao feito de que disse que
iria levá-la para casa - Rafe estava decidido e ela não se
livraria disso.

Assim que estivesse fora do hospital, sua vida


regressaria ao normal e poderia voltar a ser simplesmente a
velha e aborrecida Ari. Gostava de ser assim. Com suas novas
amigas, permitiria que seu lado aventureiro aparecesse mais
frequentemente, mas sua vida cotidiana era aborrecida e
estava feliz com isso.

Claro, não tinha amor e nem emoções, mas o bom era


que isso não causava nenhuma angústia ou dor. Estar com
Rafe era uma grande montanha russa emocional e a maioria
das vezes era contraditório. Não precisava de nada assim em
sua vida.

Rafe falou com o médico antes de retornar ao quarto de


Ari. Ela estava pronta para ir. E ele estava preparado para
deixar de visitá-la no hospital. Tinha desejos que deveriam
ser atendidos e jogar uma partida de cartas com ela, não era
realmente o que precisava.

Rafe fez planos para o capítulo seguinte de sua


aventura. Hoje foi um bom dia, porque adquiriu o que
precisava para selar o trato com Ari. Apenas teria que esperar
o momento adequado para colocar as cartas sobre a mesa.
Todo bom jogador sabia que a sutileza era parte fundamental
no jogo. — Vejo que já está vestida. Como se sente?
— Estou bem, senhor Palazzo. Obrigada por sua
gentileza. — Disse ela, emocionada por estar a ponto de
escapar dele.

— Ari, temos que passar por isso outra vez? Ouvi você
dizer Rafe, então sei que é capaz de falar meu nome. Cada vez
que me chamar de senhor Palazzo daqui em diante, lembrarei
que estou no comando. Entendeu? Quando me responder,
diga meu nome.

Ele estava sorrindo, mas pode ver na expressão dela que


Ari sabia que não estava blefando. Rafe esperava que o
desafiasse porque estava mais que preparado para ensinar-
lhe novos jogos. Pensou em satisfazer suas necessidades com
outra mulher, mas a ideia não lhe atraía muito. Era um
problema que seria capaz de resolver uma vez que rompesse
a sua pequena Arianna.

— Seu tempo se acabou. — Advertiu Rafe com a


mandíbula tensa.

— Sim. Entendi... Rafe. — Disse ela com os dentes


apertados.

O som de seu nome em seus lábios fez seu pulso se


acelerar. Ela era uma fera, uma verdadeira joia que iria
adorar... durante um curto período de tempo.

— Tenho que admitir que estou um pouco


decepcionado, Ari, mas não estou muito preocupado. Sei que
não pode deixar de me desafiar. Estou desejando que volte a
fazer isso. — Disse com um malicioso sorriso.
Ela o olhou com toda a frieza que conseguiu reunir. Rafe
não tinha nenhuma dúvida de que o desejava, mas também o
desprezava. Isso era bom. Tinha que lembrar quem era e o
que queria.

Todas as mulheres tinham um plano. Algumas


admitiam, outras não, mas todas queriam algo - não, uma
longa lista de coisas - de um homem, como riqueza, fama,
segurança, qualquer coisa. Os homens eram simples
criaturas que queriam uma só coisa de suas mulheres: que
preenchesse suas necessidades e as satisfizessem. Por que
deveria se envergonhar por ter apenas uma coisa em sua
mente? Era natural isso, o amor não.

Ele não era do tipo mau - absolutamente. Era bom e


honesto com as mulheres, elas sabiam com antecedência
como se sentia e o que esperava delas. Uma pequena voz em
sua cabeça dizia que era um tolo, mas rapidamente tirou-a de
sua consciência e acompanhou Ari para fora do quarto.
Tinham algumas paradas a fazer no caminho de seu
apartamento. Se pudesse evitar, ela não ficaria naquela
pocilga por muito mais tempo.
— Onde estamos? — Perguntou Ari a Rafe quando ele
estacionou o carro em uma garagem subterrânea. Teve que
usar um cartão para entrar e havia câmaras por toda parte.
Rafe podia ser muitas coisas, mas Ari não pensou realmente
que ele fosse um sequestrador.

Talvez se cansou de esperá-la e decidiu prendê-la até


que finalmente aceitasse o que ele queria. O estômago de Ari
se contraiu quando ele saiu do carro e o rodeou para abrir
sua porta.

Ela desceu do veículo com cautela e esperou uma


explicação. Simplesmente sorriu como se tudo estivesse sob
controle, e logo estendeu o braço.

Ela estava muito esgotada para lutar contra ele,


especialmente quando sabia que perderia de qualquer modo,
assim se permitiu ser levada até os elevadores.

Ele não disse nenhuma palavra.

Rafe passou um cartão na frente de um quadro negro e


as portas do elevador se abriram imediatamente. Ari lançou
um olhar inquisitivo quando entrou, mas ele ignorou e
apertou o botão. O elevador começou a subir andar, mas que
lhe pareceu interminável. Por fim, uma pequena campainha
anunciou sua chegada. Aliviada, Ari deu uma olhada ao
número ressaltado nos botões do elevador e se inteirou de
que estavam no décimo sexto piso.

— Por aqui, por favor.

Agora não era o momento de que Ari o desafiasse,


quando estavam no que parecia ser um complexo de
apartamentos. Apesar de que sempre prometeu que tudo o
que tinha que fazer era dizer não e ele pararia, ela tinha
medo, não dele, mas sim de sua reação a seu toque.

Não acreditava que fosse ser capaz de dizer não e quase


odiava a si mesma por cada vez que se abandonou em seus
braços. Ari não se sentia como a mulher que sua mãe
desejava que fosse.

Rafe tirou outro cartão e o colocou onde a fechadura da


porta deveria estar e a porta abriu facilmente. Onde ficavam
as chaves e trancas? Isso era, sem dúvida, muito banal para
que Rafe entrasse em um edifício com antigas trancas
ultrapassadas. Ari não se surpreenderia em descobrir que o
lugar dispunha de raios laser para nocautear aos intrusos.

— Vai me dizer em algum momento onde estamos? —


Ela falou enquanto entrava no apartamento e encontrava
uma enorme sala de estar.

— Esta poderia ser sua casa. Faz meses que a tenho. —


Respondeu quando ela se voltou para lhe olhar. Ari estava
consternada por Rafe estar tão convencido de que cedo ou
tarde sucumbiria a seus encantos.
— Está perdendo tanto seu dinheiro como meu tempo.
Não quero seu apartamento. Por favor, me leve para minha
casa. — Disse e se voltou de novo para a porta.

— Olhe ao seu redor, Ari. O que tem a perder? — Apesar


de que falava em voz baixa, o tom de sua voz dizia que não
estava fazendo um pedido. Era uma ordem.

— Bom, aqui é onde acorrenta suas putas para fazer


coisas com elas. É um ambiente muito acolhedor. Esperava
um calabouço com chicotes e correntes penduradas nas
paredes. É obvio, não vi o restante do lugar, por isso ainda
pode haver uma passagem secreta. —Disse enquanto
começava a andar para o corredor.

— Não preciso de chicotes nem de correntes, Ari. Sou


bastante convincente. — Sussurrou ao seu ouvido fazendo
com que sobressaltasse. Não percebeu que estava justo atrás
dela.

— Sim, é um Deus macho ao qual todos devemos temer


e ante o qual devemos nos inclinar. No que está pensando? —
Disse enquanto voltava a olhá-lo.

Rafe devolveu o olhar. — Um dia destes, essa língua que


tem vai te colocar em mais problemas do que acredita.

— Isso é uma ameaça, Rafe? Para um homem que não


castiga suas mulheres, sabe muito bem como as intimidar.

Rafe a empurrou com força contra a parede e a


bloqueou com seu corpo enquanto a olhava com uns olhos de
cor púrpura. O ritmo cardíaco de Ari acelerou e sua
respiração se aprofundou quando a fome se mesclou com a
raiva que brilhava através de suas escuras profundidades.

— Nunca disse que não iria castigá-la, Ari. Castigarei e


me regozijarei nisso até que aprenda a obedecer. O que disse
é que não te causaria nenhuma dor. —Grunhiu ele antes que
inclinasse a cabeça e tomasse o controle de seus lábios.

Ela se encostou contra seu peito, sabendo que dentro de


alguns minutos não poderia resistir se ele continuasse a
deixando em êxtase com sua boca. No momento que seus
joelhos começaram a debilitar-se, Rafe inclinou-se para trás,
com a respiração entrecortada.

— Termine de ver o apartamento. — Ele ordenou e logo


deu a volta e se afastou. Ari se apoiou contra a parede
durante uns segundos mais e o ouviu abrir um armário.
Quando ela estava segura de que suas pernas não falhariam
e de que não cairia de bruços contra o chão, avançou pelo
corredor e caminhou através de uma porta aberta.

Seus olhos se abriram ante a impressionante cama com


dossel no centro do quarto. Suas colunas eram grossas e
esculpidas, um amplo colchão com colcha violeta capturou
sua atenção. Haveria alguma maneira de que Rafe tivesse
descoberto que a cor violeta era sua favorita? Não, sem
dúvida era coincidência. Queria correr seus dedos sobre o
tecido brilhante e ver se era tão suave como parecia, mas ela
nunca dormiria nessa cama, não tinha sentido se torturar
dessa maneira. Nunca teria uma vida de luxo.
Isso não é verdade, pensou. Quando por fim terminasse
a universidade e conseguisse o trabalho de seus sonhos,
ganharia um excelente salário. Compraria todas essas coisas
que fariam com que sua vida fosse mais fácil e também
mimaria a sua mãe, compensaria todos os anos de sacrifício.

Ari se virou para sair, sem se atrever a olhar para o


banheiro, onde sabia que haveria uma grande banheira
chamando por ela e foi então quando algo lhe chamou
poderosamente a atenção. Virou-se para a cama e olhou para
cima.

Seus olhos se arregalaram ao perceber o que era. Elevou


a mão e tampou a boca com ela, logo deu um passo mais
perto. Sim, realmente a inquietou, mas não foi horror o que
sentiu - foram os primeiros indícios da emoção.

— Posso ver pela maneira como seu corpo se esticou,


que não se opõe a meu estilo de vida e me fez acreditar nisso
com veemência. Apenas a ideia das coisas que eu gostaria de
fazer com você parece excitá-la e tem muito medo de admitir,
a mim e a você mesma.

O som da sedutora voz de Rafe sussurrou em seu ouvido


enquanto ela olhava para as correias de escravidão flutuando
diante dela e fez com que seus joelhos se debilitassem. Rafe
passou suas mãos ao redor de seu abdômen e as deslizou no
interior de sua blusa.

Começou a subir seus dedos lentamente sobre seus


seios, roçando ligeiramente seus mamilos através do fino
algodão enquanto seu fôlego tocava seu pescoço. Quando
Rafe deslizou sua língua sobre sua pele, o calor se apoderou
dela, exigindo que seu corpo correspondesse e assim o fez,
seu núcleo se umedeceu e estava preparada para lhe receber
imediatamente.

— Sim, Ari. Sabe que quer isto. Deseja-me tanto que


está tremendo. Quer jogar todo tipo de jogos comigo. Admita.
Deixe de lutar consigo mesma e deixe que eu tome as
decisões. Nenhuma mulher que esteve comigo jamais se
arrependeu.

Todo o corpo de Ari se esticou quando sua paixão se


evaporou. Era como se Rafe tivesse dado uma bofetada na
sua cara. Quantas outras mulheres estiveram presa nessa
mesma cama? Quantas outras mulheres ele acariciou dessa
mesma maneira, apenas para lhes dar um chute depois como
se fossem o lixo do dia anterior?

— Já estou pronta para ir embora. — Disse enquanto se


afastava e caminhava para a porta.

Não parou até que estava fora do apartamento e de pé


diante do elevador. Estava agradecida por ele não a impedir.
Pelo menos estava mantendo sua palavra de aceitar um não
como resposta.
O silêncio absoluto marcou o caminho até o
apartamento de Ari. A que se devia sua repentina mudança
de opinião? Perguntou-se Rafe. Escolheu este apartamento e
cada artigo que estava nele para ela.

Ele sempre tratava muito bem suas amantes. Mas com


Ari, foi além do que normalmente fazia e levou mais tempo
para chegar a conhecê-la. Sabia quais eram seus aromas
favoritos, sabia que preferia um banheiro luxuoso à um colar
de diamantes e o mais importante, sabia que estava em uma
prisão, e que esperava libertá-la.

Ela podia pensar que ganhou nossa batalha de


vontades, mas apenas estava atrasando o inevitável. Rafe
estava muito cansado para continuar discutindo no
momento. Além disso, não seria uma batalha justa - ela
ainda estava se recuperando de sua cirurgia. Assim se ele a
pressionasse e ela cedesse, como valorizaria sua rendição? O
atraso era para o bem. Teria mais valor a vitória quando sua
oponente se rendesse em plenas condições.

Parou em frente ao apartamento em ruínas e saiu do


veículo. Ficou irritado quando ela abriu a porta do carro e
saiu antes que tivesse tempo de ajudá-la, mas não disse
nada, apenas a seguiu pela escada malconservada.
Teria que colocar em sua lista de coisas para fazer,
condenar o complexo de apartamentos? Não estava do jeito
como deveria ser, e estaria fazendo um favor aos inquilinos.
Rafe detestava os donos dessa favela, aqueles sem valor que
se aproveitavam dos fracos e indefesos. Talvez devesse
comprar a propriedade e arrumá-la. Fez uma nota mental
para considerar isso mais tarde.

— Obrigada pelo passeio. — Disse Ari enquanto


introduzia a chave na fechadura e destrancava a porta e a
abria, enquanto Rafe permanecia em silêncio. Quando por
fim abriu, a porta chiou, Ari deixou escapar um suspiro de
alívio quando entrou.

— Vejo você em breve, Ari.

— Não se incomode. Acredito que chegamos ao final de


nossa breve viagem juntos. Espero nos respeitarmos
mutuamente e que aceite que isto acabou. — Respondeu ela,
olhando para seus pés.

Rafe a obrigou a entrar no apartamento, com uma séria


determinação enquanto avançava, até que Ari encostou na
parede. Ele colocou seus dedos sob seu queixo e puxou até
que finalmente encontrou com seu olhar.

— Se tudo o que visse fosse indiferença em seu rosto,


então iria, Ari. Infelizmente para nós, está muito mais
interessada do que diz. Há fogo em seus olhos, quer você
goste ou não, seu corpo responde a mim como um violino ao
seu arco. Quando deixar de lutar, estarei ali para ajudar a
liberar essas inibições que te obstinam com tanta força e
desfrutará do passeio, porque acredite, será selvagem.

A respiração de Ari ficou mais profunda e Rafe soube


que poderia tomá-la ali onde estavam. Ele sabia que ela não
resistiria -— não faria mais que gritar seu nome quando
chegasse ao clímax.

— Tem meu número. — Foram suas palavras de


despedida enquanto saía pela porta.

Precisando queimar energia, Rafe dirigiu diretamente ao


ginásio, mudou de roupa, e logo se dirigiu ao ringue de boxe.
Quando começou a fazer suas atividades de aquecimento, a
adrenalina começou a bombear através de seu corpo.
Sentiria-se muito melhor depois de uma boa briga.

— Rafe, passou-se muito tempo. Está com sorte. Sam


está aqui.

Rafe se virou para se encontrar com seu treinador


favorito, Mickey, apoiado na parede com um sorriso de
satisfação em seu rosto. Rafe se limitou a assentir com a
cabeça. O homem sempre tinha muito entusiasmo frente à
possibilidade de que houvesse derramamento de sangue e
ambos sabiam que isso era justamente o que estava a ponto
de acontecer. Sam era um campeão de boxe de peso médio e
companheiro de luta favorito de Rafe.

As coisas sempre ficavam muito feias cada vez que


lutavam e por fim, os dois chegavam a machucar muito um
ao outro, mas era uma dor boa. O boxe era uma saída
perfeita para Rafe, fazia com que drenasse sua energia e todo
seu estresse logo acalmava. Estava preparado.

Uma multidão começou a se juntar assim que Rafe


subiu ao ringue. Todos gostavam de ver uma boa briga.
Então Sam se aproximou e seus olhos se encontraram.

— Não pensei que fosse chutar sua bunda hoje. —Disse


Sam com um sorriso. — Passou muito tempo desde a última
vez que veio. Está seguro que quer me enfrentar, maricas?

— Acho que é muito frango para lutar comigo. Deixou a


calça de menino grande em casa? — Respondeu Rafe.

— Não, deixei isso na casa de sua mãe quando pulei


pela janela de seu quarto esta manhã.

Rafe começou a rir quando Sam entrou no ringue e se


aproximou para dar um meio abraço. Voltaram-se quando
Mickey se uniu a eles e entregou o capacete.

— Não. — Rafe empurrou o capacete. Queria sentir um


pouco de dor, que ajudasse a aliviar sua ira.

— É seu funeral. — Disse Sam com um malicioso


sorriso.

— Muito bem, rapazes. Já conhecem as regras. Nada de


bloquear e nem dar chutes na virilha. Se tiver que separá-los,
ficarei muito irritado. Lutem justo e com tudo o que puderem.
— Disse o treinador movendo os ombros.

Rafe e Sam golpearam suas luvas entre si e foram aos


seus lugares correspondentes. O sino soou e iniciaram a
luta...
— Rafe! O que aconteceu? — Exclamou sua mãe quando
entrou em casa. Acreditava que sua família já teria ido, mas
atrasaram sua saída. Por muito que os amasse, estava mais
que preparado para que sua visita intrometida acabasse.

— Estou bem, mamãe. Estive lutando boxe no ginásio.

— Tem um olho roxo e o lábio inchado! —Exclamou ela.

— Sim, é o que normalmente acontece quando treino


com Sam. — Disse com um sorriso.

— Deveria ver como ele ficou. Nunca foi muito bonito,


mas agora está muito pior.

— Isso é terrível. Não sabia que ainda praticava esse


boxe horrível. Se pudesse, mataria seu pai porque o
introduziu nesse esporte.

— Sim, é o que tem que me dizer porque é minha mãe,


mas tudo parece muito pior do que realmente é. Para falar a
verdade, não me sentia tão bem há muito tempo. —
Respondeu enquanto caminhava para sua sala de estar e até
o bar.

Pegou uma garrafa fria de cerveja e tomou um longo


gole. Jamais admitiria, mas doía muito mais do que devia.
Passou muito tempo realmente desde a última vez que lutou.

— Estávamos planejando sair amanhã pela manhã, mas


podemos ficar até que esteja melhor.

— Não! Quer dizer, obrigado pela oferta, mas vou


trabalhar dia e noite durante as próximas semanas, por isso
estariam perdendo seu tempo dando voltas por aqui. —
Acrescentou rapidamente, esperando não ter ferido seus
sentimentos.

— Está bem, entendo. Quer recuperar seu espaço.


Iremos, mas será melhor que nos chame se precisar de algo.
Entendeu?

— Sim, é obvio, mamãe. Vou para cama. Avise-me


quando chegarem em casa, de acordo?

Deu um abraço em sua mãe e logo conseguiu subir a


escada sem pestanejar. Quando tirou a camisa, estremeceu.
Seu ombro estava como se estivesse em chamas. Sam não
sabia que recebeu um tiro fazia algumas semanas e deu um
golpe no lugar errado. Rafe viu estrelas por um momento e
Mickey deu por finalizada a luta, apenas para chamá-lo de
imbecil depois.

Rafe não permitia que muitas pessoas o insultassem,


mas fez uma exceção com Mickey. Conhecia-o desde que
estavam na pré-escola.

Depois de um banho de água quente, sentiu-se muito


mais humano e decidiu que sobreviveria. Também recuperou
o apetite, por isso voltou a descer para comer um sanduíche.
Quando terminou, a campainha soou. Seus empregados já
haviam saído e não queria que seus pais despertassem,
assim correu para a porta para averiguar quem poderia ser
tão grosseiro para se apresentar em sua casa quase à meia-
noite.
Rafe se enfureceu assim que descobriu quem era seu
visitante indesejado.

— Boa noite, amor. Parece que cheguei bem a tempo.


Parece que precisa de carinho.
— Que porra está fazendo aqui, Sharon?

— Que forma é essa de falar com sua esposa?

—Não é minha esposa há anos. Saia da minha


propriedade antes que a prendam.

— Mas amor, senti tanto a sua falta. — Ela deixou cair


seu casaco, revelando um escasso baby doll vermelho e nada
mais. Antes que pudesse fechar a porta em seu rosto, ela o
pegou.

Rafe pegou rapidamente seus braços e a separou com


desgosto.

Quando ela percebeu que a sedução não estava


funcionando, começou a chorar.

— Oh Rafe, preciso de você. Pensei que queria algo


diferente em minha vida, mas agora sei que não posso viver
sem você. Por favor, não seja tão cruel. — Disse entre soluços
enquanto se aproximava dele de novo.

— Então durante os últimos três anos não fez nada


exceto chorar por nosso casamento rompido? Isso foi antes
ou depois do meu melhor ex-amigo deixá-la? — Zombou.

— Não, é obvio que não. Tentei viver minha vida, festas,


sorrir para as câmeras, mas tudo isso não foi mais que um
show. Uma vez que uma mulher esteve com um homem como
você, não pode seguir em frente. Preciso de você, Rafe. Por
favor. Você me amava muito. Sei que ainda me ama. —
Choramingou.

Ela era muito boa atriz. Realmente perdeu sua vocação


na vida. Rafe não sabia se era vingança ou o fato de que teve
um dia tão ruim, mas a convidou a entrar, abrindo a porta.

— Oh obrigada, querido. Sabia que você também sentiu


minha falta. — Disse enquanto se lançava em seus braços
uma vez mais. Ele a tirou de cima e começou a andar pelo
corredor.

— Siga-me.

Seus saltos de quinze centímetros faziam clique no piso


enquanto ela praticamente corria para alcançá-lo. Rafe
pensou que seus seios estariam a ponto de transbordar de
sua roupa intima. Nada sobre seu corpo plastificado o atraía
mais. Quando ele a conheceu, era uma mulher real, não uma
Barbie de plástico.

Rafe deveria ter percebido desde o começo. Não é que ela


tentou dissimular sua cobiça, recordou. Mas assumiu que
simplesmente apreciava as coisas boas da vida - não havia
nada de mal nisso - mas não percebeu que as coisas boas
eram as únicas coisas que apreciava nele.

— Sente-se. — Ordenou.

Ela caminhou para a poltrona de seu escritório e se


sentou da maneira mais atraente que pode. Ele a olhou, se
perguntando se não haveria uma mínima faísca em seu
interior. Depois de tudo, sentia-se incrivelmente frustrado
sexualmente.

Conforme seu olhar vagava sobre seu rosto de mentira,


seus seios e logo pela parte de cima dos músculos, percebeu
que nada do que via o importava - não sentia nada, nem
sequer a mais elementar pontada.

Interessante.

— Por que não se senta comigo, Rafe? Melhor ainda, por


que não me leva a seu quarto? Aprendi algumas coisas com
os anos que acredito que o fará um homem muito feliz. —
Prometeu.

— Tenho uma ideia melhor. —Disse Rafe enquanto


pegava o arquivo que estava procurando e se aproximava
lentamente dela. Ela parecia triunfante quando ele se
inclinou sobre a mesa, deixando os papéis sobre ela. Sharon
pensava que o enganou.

— O que é isso, amor?

— Por que não falamos de você? — Disse ele.

— Mmm, o que quer saber? Sou um livro aberto. —


Respondeu ela sedutoramente.

— Bom... —Fez uma pausa, com vontade de desfrutar


plenamente da devastação em seu rosto quando ouvisse o
que estava a ponto de dizer.

— Por que não falamos sobre o fato de que não tem


dinheiro, está a ponto de perder sua casa e foi banida dos
círculos da alta sociedade daqui até Nova Iorque?
Levou um momento, mas finalmente assimilou suas
palavras. Sharon ficou rígida, seu sorriso de satisfação sumiu
e o ódio brilhou em seus olhos antes que conseguisse
controlá-lo. Modelou uma devastada expressão em seu lugar.

Rafe não se sentia vitorioso. Para sua surpresa, quase


se compadeceu da mulher - quase. Colhia o que semeou. Rafe
acabou com seu pequeno jogo. Quando caminhou para o
telefone e chamou a segurança, ela voou fora do sofá para ele.

— O que está fazendo? Por favor! Deixe-me explicar.


Tentei ser feliz quando me mandou embora de nossa casa.
Perdi toda a alegria na vida e perambulei por aí como uma
casca vazia. Então conheci Antônio. Pensei que fosse um bom
homem. Era muito bom a princípio. É por isso que tenho o
nariz e os seios novos, apenas queria agradá-lo. Mas logo
resultou ser um verdadeiro imbecil. Pensei que cuidaria de
mim, assim não li seu acordo pré-matrimonial e logo, do
nada, me mandou embora de sua casa, nem sequer me
deixou que pegasse as joias que comprou para mim. Não fiz
nada para merecer isso. Agora não tenho nada, nem dinheiro,
nem casa, nada. Não pode me deixar assim, Rafe! Você me
ama.

Rafe ouviu seu discurso sem sentir nenhuma emoção.

— Segundo minhas fontes, ele mandou embora porque a


encontrou na cama com o salva vidas da piscina. Que clichê,
não é verdade Sharon? O salva vidas da piscina, sério?

— Isso é mentira. Nunca faria isso.


— Diga isso a alguém que se importe. Sinceramente, a
mim já não importa. Pensei que gostaria de desfrutar vendo-a
assim, mas não importa e já me aborreci desta conversa.

— Nunca foi tão frio. Que merda aconteceu? — Gritou


ela.

— Sou quem sempre deveria ter sido.

— Mas o que acha que devo fazer? — Gemeu.

— Parece que terá que descobrir sozinha. Quero que


saia de minha casa, Sharon. Não volte mais aqui.

Com isso, Rafe levantou o telefone e chamou a


segurança. Em questão de segundos, os seguranças estavam
ali e arrastaram Sharon para fora do escritório, enquanto não
parava de gritar. Se ela voltasse, Rafe não hesitaria em
mandar prendê-la.
— Ficamos felizes em te ver, Ari!

Ari se preparou para o impacto quando suas três amigas


a envolveram em um abraço grupal. O abraço lhe provocou
um pouco de dor em sua ferida, que ainda estava
melhorando, mas valeu a pena o mal-estar por estar se
sentindo tão querida.

— Também senti falta de vocês, garotas. Que aventuras


loucas fizeram em minha ausência?

— Já a colocamos a par de tudo quando fomos te visitar


no hospital. Agora é sua vez de nos colocar em dia. Quem
porra era aquele cara bonito que estava em seu quarto a
última vez que estivemos lá? Ficamos ansiosas todo o fim de
semana esperando para saber.

— Oh, não é nada, realmente. — Disse Ari, pouco


disposta a falar de Rafe. Desde que recebeu mensagens dele,
estava em brasas. Sabia que voltaria para ele, mas não sabia
quando. Se ele deixasse de jogar, talvez então soubesse quais
seriam seus planos seguintes. Tal como estavam as coisas,
ela se sobressaltava cada vez que via uma sombra ou ouvia
algo através das finas paredes de seu apartamento cada vez
que uma porta se abria ou fechava.
Ari estava agradecida por ter voltado para o trabalho, ele
não apareceria ali. Tinha muita classe para aparecer no
edifício e levá-la.

Porra! Simplesmente pensar nele fazendo isso desabou


uma emoção dentro dela. Arrepios, sim, mas não de medo...

No que estava pensando? O homem estava jogando com


sua saúde mental, estivesse perto ou não. Todo este estresse
não podia ser bom para a saúde.

— É uma mentirosa e uma muito ruim, realmente. A


partir do segundo em que entrou em seu quarto, a
temperatura se elevou rápido e furiosamente. O calor em
seus olhos foi suficiente para derreter a pele de meus ossos.
Depois de sair do hospital, fui para casa e pulei sobre meu
marido. Estava tão agradecido, que me disse para voltar a
fazer o que fiz antes de voltar para casa. — Disse Amber
enquanto abanava o rosto.

— Amber! — Gritou Ari que estava morta de vergonha


enquanto olhava ao seu redor.

— Oh vamos, Ari. Todas fazemos essas sujeiras. Apenas


preciso de uma foto de seu homem pendurada em cima de
minha cama para poder ter sexo vermelho vivo com meu
marido enquanto fantasio à respeito do seu Deus do sexo.

— Ele é bonito sim. Mas de verdade, a está


envergonhando. — Disse Miley com uma gargalhada.

— Vamos. Conhecemos Ari há meses. Sabemos que se


ruboriza ante a simples menção da palavra S-E-X-O. — Disse
Shelly.
—São terríveis, monstruosas amigas. Não posso
acreditar que ainda esteja aqui de pé suportando tudo isto. —
Disse Ari com um sorriso.

— Sim, somos horríveis. Estou esperando que um carro


de bombeiros venha e me leve até as portas do inferno a
qualquer momento. Mas por agora, continuo aqui e já pode
começar nos informar antes que a torturemos. — Ameaçou
Amber.

— Sinto muito por seus maridos. Viver com alguma de


vocês deve ser como estar casado com um agente do FBI, com
todo este interrogatório constante. Por Deus!!

— Sim, sim. Agora, diga. — Disse Shelly dando golpes


com o dedo do pé com impaciência no chão.

— Ele é.... apenas um amigo. Recuso-me a dizer mais


alguma coisa. Estive fora do trabalho durante algumas
semanas e não quero dar nenhuma desculpa para que me
despeçam. Se prometerem que me deixarão em paz o resto do
dia, talvez, apenas talvez, compartilharei algo com vocês
depois do trabalho. — Disse Ari, olhando cada uma delas nos
olhos.

— Está bem, mas quero que saiba que isto não tem
nenhuma graça. — Disse Miley enquanto fazia uma careta.

— Deixem de reclamar e vamos trabalhar.

— De acordo. Isso fará com que me sinta um pouco


melhor. — Disse Shelly com um sorriso indulgente.
— Sentimos sua falta, Ari. Ninguém conseguiu entrar
neste círculo de amizade antes que você chegasse. Converteu
o grupo de três em quatro mosqueteiras.

— As quatro mosqueteiras? Isso não existe. — Disse Ari


com uma gargalhada.

— Sim, bom, soa bem em minha cabeça. — Respondeu


Amber.

— O que acham senhoritas, de ir trabalhar agora ou por


acaso ficar de fofoca ao lado do bebedouro é parte do
trabalho?

— Já vamos. Obrigada por nos deixar dar a boas-vindas


a Ari como se deve. — Disse Miley enquanto voltava para seu
escritório.

— Miley. — Disse Ari e logo pediu desculpas ao seu


chefe. — Sinto muito, senhor. Já vou.

— É bom tê-la de volta, Ari. — Respondeu antes de


sorrir e de retornar a seu escritório.

Amber a abraçou de novo e todas retornaram a seus


respectivos escritórios. Quando Ari sentou, deu um suspiro
de alívio. O trabalho não era emocionante absolutamente,
mas suas amigas faziam com que valesse à pena estar ali.
Esperava que nunca se distanciassem, pois lembrou como
era bom se divertir com pessoas legais e não queria se
esquecer disso de novo.
Ari conseguiu evitar dizer a suas amigas quase tudo a
respeito de Rafe, mas não sabia por que elas não insistiram
mais em arrancar informação.

Elas roubaram seu celular enquanto ela estava no


banheiro e encontraram várias mensagens de texto que
pertenciam à semana anterior. Apesar das palavras de
despedida de Rafe que a fez acreditar que esperaria que ela
entrasse em contato com ele, isso não durou muito. As coisas
que Rafe dizia eram inaceitáveis, faziam com que o desejasse
de uma forma que não queria aceitar.

Dado que as garotas estavam decididas a combiná-la


com alguém, e achando que precisava, decidiram aproveitar
essa oportunidade para se fazerem de casamenteiras. As
mensagens que leram eram todas à respeito do que ele queria
fazer com ela... toda a noite, mas as respostas de Ari não
eram entusiasmadas.

Suas amigas queriam ver um espetáculo e estavam a


ponto de fazer com que o dinheiro que gastou ao responder
as mensagens, valesse a pena.
— Não vou aceitar um não como resposta, entendeu?

Ari congelou, como se estivesse sendo pega, sabendo


que não haveria forma de se livrar. Ou dizia que sim e optava
pelo caminho mais fácil, ou dizia que não e se arriscava que a
sequestrassem e infligissem todo tipo de tortura nela. Queria
começar a correr, mas sabia que não tinha escapatória.

— Está bem, sim. Quero que saiba que não vou de boa
vontade e que estou muito irritada com você

— Poderei viver com isso.

Ari viu como Amber se afastava obviamente contente de


ter se saído bem com a sua ameaça. Ari aceitou ir dançar
com as garotas. Ao menos Amber prometeu que iriam a um
clube latino com aulas, onde seu irmão trabalhava como
guarda costas. Ari disse que sua vida correria perigo se
voltasse a sofrer algum tipo de incidente.

— Vamos. Miley e Shelly já estão no carro. Meu marido


levou os meninos para assistir um filme, assim nos
trocaremos em minha casa. Tenho o vestido perfeito para
você.

— De maneira nenhuma, pois parecerei como uma puta,


Amber. — Gritou Ari enquanto perseguia sua amiga. Tinha
que protestar, embora soubesse que a batalha estava
perdida. Parecia ser a história de sua vida.

Durante o trajeto de meia hora até casa de Amber, as


garotas conversaram sobre como o clube era incrível. Ari
tinha que admitir, embora fosse apenas para si mesma, que
parecia bastante divertido. Ignorou as mensagens de Rafe
toda a semana e esta noite era um bom momento para ver se
podia encontrar um homem que avivasse sua faísca como ele
fazia.

Merda, ficaria satisfeita se pudesse encontrar um


homem que despertasse a metade de seu interesse. Se negava
a acreditar que fosse o único homem sobre a face da terra
que pudesse transformar seus joelhos em gelatina.

— Eu me encarregarei do cabelo. — Disse Miley


enquanto entrava no banheiro e agarrava o frisador de
cabelo, a prancha e vários tubos de spray. Ari se encolheu,
sabendo o tempo que levaria para fazer com que seu cabelo
voltasse ao normal.

— Genial. Eu me encarregarei da maquiagem. — Disse


Shelly enquanto pegava seu estojo.

— Isso me deixa encarregada de escolher o vestido. —


Disse Amber com muito entusiasmo.

— Sente-se. —Ordenou Miley enquanto conduzia Ari a


penteadeira. Em questão de segundos, estava torcendo o
cabelo de Ari em uma série de cachos e fixando-os em sua
cabeça. Assim que o cabelo ficou pronto, Shelly começou a
aplicar a maquiagem.
— Não me pinte como se fosse uma prostituta. —Insistiu
Ari.

— Apenas estamos colocando-a em circulação. Não seja


tão ingrata. —Disse Miley enquanto puxava uma mecha de
seu cabelo.

— Não preciso de ajuda. —Reclamou Ari.

— Aí é onde se engana. Não conheço ninguém que tenha


um pau metido na bunda mais longo que o seu. Relaxe, nos
divertiremos esta noite.

— Por que parecem estar em uma missão para que


encontre um par?

— Não é óbvio? Nós já desfrutamos de nossa própria


felicidade conjugal e queremos difundir essa alegria. —Disse
Amber. As três mulheres começaram a rir.

— É porque estamos presas nos subúrbios e queremos


sair à cidade de vez em quando através de você. — Admitiu
Miley.

— Seus casamentos são tão ruins? — Perguntou Ari


com preocupação.

— Oh querida, já sabe que estamos apenas brincando.


Todas nós amamos nossos maridos e nossos filhos, mas
sinceramente, todas nos casamos quando éramos muito
jovens e não tivemos oportunidade de fazer tudo o que
queríamos, assim é divertido ter uma amiga e poder arrumá-
la. Nenhuma de nós seria capaz de enganar nossos maridos.
Juro. —Disse Amber com solenidade.
— De acordo, está bem. Vocês ganharam. Façam o que
quiserem, mas advirto que tenho dois pés esquerdos. Não
importa o quanto fique bonita não acredito que alguém irá
gostar que pise em seus pés.

— Ari, está linda, ninguém vai se importar que parte do


corpo pise, desde que a possam tocar. — Disse Amber com
um assobio.

Quando saíram de casa, Ari se sentia muito


envergonhada por estar em público. O vestido que usava
abraçava suas curvas como uma segunda pele, o decote do
vestido ia até os quadris. Ali, o tecido de cor vermelha
brilhava ainda mais e acabava na metade da coxa. Como se
isso não fosse suficientemente ruim, tinha uma fenda em um
dos lados que mostraria ao mundo muito de seus encantos se
não tivesse cuidado.

— Deixe de caminhar como um zumbi. Arruína o efeito


sereia. — Exclamou Miley.

Ari se sentia sexy, tinha que admitir. Nunca vestiu nada


tão atrevido. Seus atrativos femininos se encontravam em
exibição, mas dado que as demais mulheres eram quase tão
sexys como ela, não se sentia deslocada. Além disso, tinham
conexões no clube, um guarda-costas pessoal, e assim, o que
poderia sair errado? Nada. Nada poderia dar errado. A menos
que suas amigas convencessem o feliz guarda-costas a ter um
pouco de ação com ela na pista de dança.
— Bom, chegamos a tempo suficiente para a aula de
dança. Espero que seja interessante. — Anunciou Shelly
enquanto saía do veículo.

— Ninguém me disse nada sobre aulas de dança. Temo


que nem sequer posso me mover dentro deste vestido e muito
menos balançar. — Ofegou Ari com horror.

— Ari, você prometeu se comportar. Hesite, e não a


deixaremos em paz durante meses. Se você se divertir esta
noite, a deixaremos em paz. — Disse Amber com os dedos
cruzados atrás de suas costas.

— Jura?

— É óbvio. Apenas quero acrescentar que me ofende o


fato de que tenha perguntado. — Disse Amber quando se
virou e se afastou.

— Sinto muito. Deixarei de reclamar e tentarei me


divertir. — Exclamou Ari enquanto alcançava suas três
amigas.

— Bem. Isso é o que queremos ouvir. —Disse Shelly


enquanto alguém segurava a porta do clube aberta para elas.

Ari suspeitou um pouco do perdão instantâneo das


garotas, mas as baixas e fumegantes luzes do clube
chamaram sua atenção e esqueceu por completo sua
pequena discussão.

— Queridas, chegaram bem a tempo. Pierre está a ponto


de começar a aula, assim vão depressa. Já sabem que ele
odeia que o façam esperar. Esta noite vai tocar o chá-chá-
chá.

Ari se virou e viu um homem baixinho que usava calça


muito apertada e parecia as levar para o fundo da sala.

— Donnie, há quanto tempo. Sentimos falta de você. —


Disse Miley quando o beijava na bochecha.

— Isso é porque sou único, preciosa. Agora vão para lá.


— Ordenou ao mesmo tempo em que dava tapinha nas
costas. Ari as seguiu rapidamente, não querendo ficar atrás.

— Depressa. Depressa. Vocês quatro estão me


atrasando. Se Donnie não tivesse insistido que suas amigas
estavam a caminho, já estaríamos na metade da aula.

Ari ficou imóvel ao ver o impressionante instrutor de


dança. Sua calça também era muito apertada, mas isso era
uma bênção para todas as mulheres no salão.

— Ficará aí embevecida toda a noite, princesa ou está


aqui para aprender?

Ari ficou mortificada quando suas amigas riram


enquanto moviam-se para a frente da sala.

— Não se preocupe, Ari. A primeira vez que vi Pierre tive


um pequeno orgasmo só de olhar. Quando tocou minha
bunda durante uma de suas aulas, tive um grande. Não se
emocione muito, porque ele e Donnie são um casal. É
provavelmente algo bom, porque não acredito que poderia
lembrar sequer o nome de meu marido se esse homem
quisesse esquentar os lençóis comigo alguma noite. — Disse
Amber com uma risadinha.

— O chá-chá-chá é dança sensual, sexy e divertida.


Precisa avançar para seu par e logo o seduzir para que volte
para vocês. Quanto mais utilizar a bunda, melhor. Deus lhes
deu esses bonitos e deliciosos traseiros, assim não tenham
medo de sacudi-los. Se não forem capazes de balançar o
traseiro, então saiam do meu clube, porque as danças latinas
sem um bom movimento de Derrière11 são inúteis.

Ari se surpreendeu ao ver que Pierre falava com total


seriedade. Poderia ser expulsa do clube seriamente. Ela
nunca moveu seu traseiro. Não sabia como fazer. O suor
brotou em sua testa e ela olhou com medo enquanto ele
mostrava os passos que iriam aprender. Jamais aprenderia
em meia hora.

— Você venha aqui.

Ari olhou Pierre em completo terror. Ele a estava


chutando antes que tivessem começado? Poderia saber
apenas olhando para ela que seria péssima dançarina?

— Olhe. Não faça Pierre esperar. —Insistiu Miley


enquanto empurrava Ari.

— Segure minhas mãos. —Ordenou. Por sorte, seu


cérebro parecia estar trabalhando porquê de algum jeito, seus
braços se estenderam e ela pegou as mãos do impressionante
homem.

11
Significa um movimento de batida.
— Há dois passos básicos no Chá-chá-chá. O primeiro é
um passo de oscilação. Basicamente, tem que trocar seu peso
de um pé para o outro à medida que lentamente se move para
trás e para frente. Lembre-se que deve mover a bunda,
usando-a sempre. Não fique aí parada. Mova-se!

Ari olhou suas pernas e imitou seus movimentos. Não


era tão difícil, apenas tinha que trocar o peso do corpo de um
lado para o outro. Ela ganhou um pouco de confiança quando
os dois começaram a se mover de uma vez.

— Bom trabalho, Ari. Bom movimento de bunda. —


Gritou Amber.

Ari iria matá-la.

— Agora, acrescente um pouco de Chá-chá-chá. —


Disse Pierre quando fez uma espécie de manobra com os
joelhos enquanto seus quadris se sacudiam para trás e para
frente. Ari cambaleou algumas vezes ao tentar imitá-lo e justo
quando pensava que iria levá-la diretamente à porta, seu
corpo pareceu absorver a informação.

— Bem. Está fazendo muito bem por ser uma


principiante. — Disse Pierre.

— Como sabe que é minha primeira vez? — Perguntou,


sentindo-se mais confiante.

— Ah! Que graciosa. Se não for sua primeira vez, então,


se dê por vencida agora mesmo. — Disse com um sorriso de
acabar com o assunto. O homem não era tão assustador
como pareceu a princípio.
Pierre deixou Ari de novo entre suas amigas e se moveu
através do grupo, ajudando cada pessoa até que captassem
os movimentos básicos.

— Agora, juntem-se em casais. Sim, a maioria são


mulheres, não fiquem tão envergonhadas. Não estou pedindo
que tirem a roupa. Precisam saber dançar como um casal. A
dança é um prelúdio do sexo. Se desejam fazer com que um
homem sue na pista da dança senhoras, então o seduzam
com seus corpos. A dança deve ser uma perseguição e não
permitam que as pegue até que estejam preparadas.
Entenderam?

— Sim! — Gritaram várias mulheres excitadas.

— Bem. Isso está muito bom.

O tempo passou voando e logo a aula de dança


terminou. Sentia-se bem enquanto caminhava pelo clube. Ela
poderia não ser capaz de girar seu traseiro como algumas
dessas mulheres, mas certamente podia dançar Chá-chá-chá.

— Vamos pedir uma bebida e logo sairemos para a pista


de dança. — Disse Amber enquanto as quatro iam para uma
mesa que Donnie reservou para elas.

As próximas horas passaram voando e Ari dançou com


tantos homens que perdeu a conta. Se soubesse o que suas
amigas estavam fazendo enquanto estava na pista de dança,
estaria a caminho da cadeia por homicídio.
O telefone de Rafe soou, mas decidiu ignorá-lo, estava
muito cansado, irritado, e não estava com humor para
aguentar quem quer que estivesse do outro lado da linha.
Mas quando a maldita coisa soou de novo, suspirou e o
puxou de seu bolso. Olharia rapidamente e logo o desligaria.
Era hora de dormir, ou pelo menos tentar.

Quando viu que era uma mensagem de Ari, seu pulso se


acelerou. Ela esteve ignorando suas mensagens de texto
durante toda a semana. Seu primeiro pensamento foi que
deveria estar com problemas. Enquanto clicava no botão para
abrir a mensagem, seu coração parou.

Quando olhou as duas fotografias que estavam


carregando, qualquer pensamento de dormir se evaporou.
Quem porra estava enviando as fotos? Claramente não era
Ari. Na parte inferior das imagens aparecia o nome do clube.
Sabia exatamente onde era.

Rafe pegou a jaqueta e as chaves de seu carro. Parecia


que Ari não aprendeu a lição. Estava na cidade de novo,
tentando conseguir que a sequestrassem pela segunda vez. A
fúria fervia em seu interior.
Ela continuava se negando quando tudo o que ele queria
fazer era oferecer sua segurança. Bem, isso e tê-la à sua
inteira disposição.

Rafe chegou ao grande clube latino em um tempo


recorde e abriu caminho pela fila de pessoas que esperava
para entrar. Puxou um grande maço de dinheiro de seu
bolso, e aproximou-se do segurança.

— Bem-vindo. —Foi tudo que o homem disse enquanto


abria a corda para que Rafe passasse, o que fez com que as
pessoas que estava esperando reclamassem.

— Quietos ou não entrarão nunca. — Rafe ouviu antes


que a música a todo volume abafasse o mundo exterior.

Dirigiu-se à pista de dança e viu Ari quase que


imediatamente. Estava agarrada firmemente nos braços de
algum desgraçado, enquanto o bastardo apertava sua bunda.
Rafe começou a soltar fumaça pelas orelhas enquanto
caminhava para frente.

— Permita-me? — Gritou.

O homem se virou com uma atitude desafiante, até que


viu o rosto do Rafe, e então se afastou imediatamente.

— Rafe. O que está fazendo aqui? — Perguntou Ari


enquanto sorria com olhos de bêbada.

— Ao que parece, a salvando de novo. — Grunhiu


quando a pegou pelo braço. —Vamos sair do clube agora
mesmo. Vamos!
— Não quero ir. Vamos dançar. Aprendi os passos de
Chá-chá-chá esta noite e me dei muito bem. John, Paul e
Tiger... não... Trevor. Oh porra, não me lembro de seu nome,
todos me disseram que movo a minha bunda
maravilhosamente. — Falou feliz.

Rafe a olhou com incredulidade. De que porra ela estava


falando?

— Ari, vamos. — Repetiu.

— Mas quero dançar. — Ela fez uma careta. Logo


levantou os braços no ar e começou a fazer os passos do Chá-
chá-chá. Quando começou a dar voltas a seu redor e a
sacudir sua parte traseira, com a fenda de seu vestido
expondo um lado de sua calcinha preta, Rafe esqueceu de
sair.

Ele a atraiu para seus braços enquanto a música


mudava a um ritmo mais sensual. Deslizou as mãos por suas
costas para puxar seu corpo contra o seu e Rafe começou a
mover seus pés, deslizando uma perna entre as dela, fazendo
com que ela arqueasse seu corpo contra o seu sem que
tivesse outra opção.

— Não sei esta dança. — Murmurou com voz rouca.

— Apenas tem que imitar meus passos. — Disse à ela


enquanto começavam a dar voltas ao redor da pista de dança.

— Hum, acho que também gosto dessa dança. —


Sussurrou ele quando ela apoiou a cabeça em seu ombro e
inalou seu doce aroma.
Rafe não a tinha há muito tempo. Sim, não ficava bem
seduzir uma mulher em estado de embriaguez, mas por acaso
o álcool não era um lubrificante social? Por acaso uns poucos
copos de coragem não faziam com que uma pessoa fizesse o
que realmente queria fazer? E não era como se ele e Ari não
fizeram sexo anteriormente.

— Eu te levarei para casa e arrancarei este vestido, se


isso pode se chamar assim, do seu corpo.

— Eu gosto deste vestido. Fiquei um pouco mortificada


por usá-lo no começo, mas Amber insistiu. E quando ela
coloca algo na cabeça, não há maneira de se livrar disso.
Acredito que trabalha secretamente para o governo como
torturadora mestre. — Ari riu ante à ideia.

— Amber? É uma das mulheres que foram te ver no


hospital? — As peças do quebra-cabeças não terminavam de
encaixar.

— Sim. Vim com Amber, Shelly e Miley. Insistiram em


me deixar sexy tanto quanto possível porque estão decididas
a que alguém me leve para cama. Disseram que sou muito
reprimida e que tenho que me soltar mais. Uma vez que o
sexo é tão incrivelmente quente com você, pensei, por que
não?

Rafe não sabia se agradecia às intrometidas de suas


amigas ou se colocava uma corrente em Ari. Agora sabia
quem enviou essas fotos. Suas amigas devem ter pego seu
telefone, viram suas mensagens e decidiram avivar o fogo. Ele
pensou em retrospectiva, tentando lembrar explicitamente o
que colocou em suas mensagens. Não devia ser nada muito
ruim. Ao inferno, nesse momento, realmente não se
importava.

— Então, está me dizendo que quer sair por aí e ter sexo


com estranhos, mas não vai assinar meu acordo para ser
minha amante?

Ele sabia que era o álcool que estava falando, mas ainda
assim, tinha que ter algo de verdade em suas palavras. Acaso
a interpretou mal todo este tempo? Será que não o desejava
mais do que desejaria qualquer outro homem? Não era
próprio dele ter dúvidas, mas não sabia o que pensar neste
momento.

— Não sabia que gostava de sexo até dormimos juntos e


foi bom, muito bom, por isso decidi fazer uma e outra vez.
Mas não posso voltar a fazê-lo com você, porque é um
fanático por controle e quer dominar minha vida.

— Não Ari, quero que se renda à mim.

Olhou com o cenho franzido por um minuto enquanto


seu cérebro cheio de álcool processava suas palavras. Rafe
aproveitou a oportunidade para acariciar seu pescoço com a
boca e sentiu o gemido que evocou percorrer seu corpo até os
pés. Sua virilidade saltou dolorosamente à vida quando ela
apertou seus quadris contra ele.

— Não é o mesmo? — Ofegou ela.

— Não, absolutamente. Vamos para casa e mostrarei a


diferença.
Olhou como se estivesse tentando resolver um difícil
problema matemático. O corpo de Rafe palpitava enquanto
esperava sua resposta. Se dissesse que não, ficaria no clube
até que suas amigas partissem, mas esperava que dissesse
que sim.

— De acordo. Será melhor dizer isso para minhas


amigas.

Rafe levou quase um minuto completo para que suas


palavras se afundassem em seu cérebro. Quando por fim as
registrou, não demorou nem um segundo e a puxou pela
pista de dança.

— Onde estão suas amigas?

— Por aí. — Disse ela com um gesto de bêbada.

Rafe viu a mulher que conheceu no quarto do hospital e


foi direito para sua mesa. As três mulheres ali sentadas o
olharam como se fosse sua próxima comida. Teve que admitir
que o assustavam um pouco. Teria que comprovar se alguém
colocou um feitiço embaixo de sua cama.

— Aqui vem o misterioso Rafe. Lembro vagamente de ver


você no hospital. — Disse uma delas.

— Sim, de algum jeito recebi uma mensagem do telefone


de Ari com uma foto e sua localização. Levarei ela para casa
agora.

— Está de acordo com isso, Ari? — Perguntou uma das


mulheres.
— Oh, sim. Rafe mostrará a diferença entre o controle e
a submissão.

Rafe quase gemeu ao ver como os olhos das três


mulheres praticamente saíram das órbitas ante as palavras
de Ari. Ele e Ari teriam uma conversa à respeito de
privacidade. Suas amigas de repente pareciam inseguras se
deveriam deixar que Ari fosse com ele ou não.

Não se importava que tentassem impedir.

— Adeus. — Disse com firmeza enquanto envolvia seu


braço ao redor da cintura de Ari e agarrava sua bolsa. Antes
que as mulheres pudessem sequer ficar em pé, Rafe estava
arrastando Ari pelo clube. Colocou-a no carro e pisou no
acelerador com força.

Quando estacionaram na frente à sua casa, Rafe a


olhou, ardendo com antecipação e deixou escapou um
gemido. Ari estava totalmente inconsciente no assento do
passageiro. Podia gostar de mulheres submissas, mas
certamente não faria isso com um cadáver.

Perguntou se um homem poderia morrer de frustração


sexual. Estava começando a pensar que sim. Depois que
levou Ari para dentro de sua casa e a deitou em sua cama,
decidiu que era o momento de tomar uma longa bebida e um
banho gelado.
Ari se virou e sentiu uma leve dor na têmpora, nada
muito insuportável, mas o suficiente para que percebesse que
bebeu muito na noite anterior.

A escuridão que a rodeava fez com que soubesse que


estava ainda no meio da noite. Com a boca ressecada, estava
desesperada por um copo de água. Enquanto começava a
tirar os lençóis de cima, seu braço se chocou contra algo
sólido.

Tentou mover os dedos e percebeu que havia um homem


ao seu lado. Ficou imóvel e tentou avaliar a situação.

Primeiro tinha que averiguar com quem foi para casa.


Com muito cuidado, levantou o lençol e olhou, estava vestida!
Isso era bom sinal! Ari deixou escapar um suspiro de alívio.

Agora, precisava averiguar quem estava ao seu lado.


Teve uma aventura na noite anterior e nem sequer se
lembrava com quem. A ideia a horrorizava. Sim, gostava de
jogar conversa fora e inclusive pensou que seria capaz de ter
amantes ocasionais, mas a realidade era muito mais
mortificante. Como respeitaria a si mesma quando tratava o
sexo como se fosse nada mais que um jogo? Já era bastante
ruim derreter-se cada vez que Rafe a olhava.
Logo que seus pensamentos se voltaram para Rafe, as
lembranças de Ari vieram de repente. Recordou ter dançado
até que os pés doerem. Flertou com muitos homens, mas não
foi nada mais que uma paquera inocente e muita ação de
quadril. Chá-chá-chá.

Em um momento estava dançando com um estranho e


no seguinte, estava nos braços de Rafe, onde imaginou estar
toda a noite. Ele se moveu pela pista de dança, excitando seu
corpo de uma maneira que nenhum dos outros homens
conseguiram.

Oh, as coisas que disse! Eram ruins, muito más.


Praticamente implorou que fizessem amor. Ari sentiu que
suas bochechas ardiam pela vergonha que a percorreu. Bom,
se conseguir escapulir daqui sem que percebesse, não
voltaria a beber em toda sua vida, prometeu.

Com muito cuidado, saiu debaixo do lençol e começou a


levantar-se. Sorriu quando seus pés tocaram o chão. Estava
quase conseguindo.

Justo quando estava começando a ficar de pé, a voz de


Rafe a parou.

— Onde acredita que vai, Ari? Estive esperando durante


horas que despertasse.

Oh, merda! Ao diabo com a água. Preciso de uma


bebida agora mesmo, pensou.

— Tenho que ir ao banheiro. — Respondeu enquanto


ficava de pé e corria pelo quarto. Felizmente, entrou pela
porta correta e encontrou seu grande banheiro. Sentindo-se
presa, levou um tempo para lavar o rosto, beber água e usar
as instalações.

Quando levou a mão ao cabelo não pode evitar gemer.


Era um ninho de rato gigante e demoraria uma eternidade
para desembaraçar. Passou vinte minutos lutando uma
batalha perdida até que se rendeu. A única coisa que a
salvaria seria aplicar um pote inteiro de condicionador umas
três ou quatro vezes.

Quando percebeu que já havia ficado muito tempo, saiu


do banheiro. Embora soubesse que as possibilidades eram
escassas, esperava que Rafe estivesse dormindo enquanto
virava o trinco. Os milagres existiam. Abriu a porta
lentamente... e o abajur de noite estava aceso. Porra.

— Demorou muitíssimo tempo. Espero que tudo esteja


bem.

Que grosseiro era isso. Agora também cronometrava o


tempo? Não importava. Iria se comportar racionalmente, não
iria participar de nenhum outro combate inútil.

— Um... bom, obrigada pela viagem, mas agora tenho


que ir. Estava um pouco bêbada ontem à noite e disse
algumas coisas que realmente não queria. Já sabe como é.
Logo nos veremos. —Murmurou enquanto realizava sua
primeira tentativa de chegar até a porta do quarto. Ele se
posicionou diante dela para impedir que atingisse seu
objetivo depois de ter dado três passos.

— Por que tem tanta pressa? Fizemos alguns planos


antes que desmaiasse.
— Olhe, acabo de dizer que nada disso era sério. Não
quero ficar, assim vou embora. — Disse com falsa valentia.
Ari estava mentindo e ambos sabiam. Sim queria ficar.
Estava muito cansada de lutar contra ele.

Não importava, entretanto. Podiam se ver em situações


iguais milhares de vezes, mas o resultado final era que nunca
poderia ser a mulher que ele queria que fosse. Decidiu que a
única maneira de se livrar desta situação para sempre seria
encher seu saco tanto que ele não quisesse ver seu rosto
nunca mais.

— Falava a sério, Ari. Até a última palavra que


pronunciou naquela pista de dança.

— Sabe o quê, senhor Palazzo? Direi isso. Acredito que é


um porco. Acredito que o que deseja é tudo o que não pode
ter. Dado que já disse que não pode me ter, sua missão é me
transformar em qualquer uma de suas outras posses. Não
estou à venda. Não sou nenhum brinquedo novo e
resplandecente, e acredito que você na realidade, é bastante
patético. Aceite de uma vez por todas que este é um jogo que
não vai ganhar.

Ari estava orgulhosa da força em sua voz. Estava


enfrentando um gigante e parecia ganhar. Hah, Golias seria o
próximo! A leve dilatação dos olhos de Rafe enquanto ela
voltava falar seu sobrenome, fez com que estremecesse de
medo, mas reprimiu o sentimento.

— Quer saber por que sempre ganho? Sempre ganho


porque tenho todas as cartas. Nunca faço nada sem um
resultado garantido. Deixei que pensasse que tinha escolha
em tudo isto, mas nunca teve escolha. A única coisa que pode
escolher é o limite de tempo. Inclusive isso é relativo. Agora,
minha paciência se esgotou. É hora de aceitar que é minha.

— Está tão acostumado que todo mundo faça o que você


quer que não percebe o absoluto tirano que é. Acredita que
essa forma de se dirigir aos outros motiva às pessoas? De
verdade acredita que inspira respeito? O medo e o respeito
são duas coisas muito diferentes, pode inspirar medo aos que
o rodeiam, mas ninguém te respeita.

— Poderia dizer por que estou em desacordo com você,


mas não me importo em fazer isso. Cansei que tente impor
sua própria justiça, Ari. Por que não assume simplesmente
sua derrota e mostra a gratidão que mereço? Salvei sua vida
em mais de uma ocasião. Deveria mostrar seu
agradecimento. Um bom começo seria que ficasse de joelhos e
me mostrasse sua lealdade. — Disse com um sorriso.

O fogo rugia no estômago de Ari. Nunca antes sentiu


tanta vontade de golpear alguém. Deu um passo, mais perto
dele, disposta a mostrar exatamente o que pensava sobre sua
ideia de controlá-la.

— Desabotoe a calça. — Ordenou Rafe. Ela congelou


ante a arrogância que emanava dele. Honestamente pensava
que a única coisa na mente de Ari era satisfazê-lo? Talvez
estivesse louco realmente. Ari levantou seu braço
involuntariamente, e o único som que se ouviu no quarto
escuro foi o marcado tom de carne contra carne enquanto
sua mão entrava em contato com sua mandíbula esculpida.

Os olhos de Rafe se abriram com incredulidade e ele


levantou sua mão e passou os dedos onde ela bateu.

— Devo dizer que não esperava isso. Você é cheia de


surpresas, Arianna. — Murmurou flexionando sua
mandíbula.

Ari ainda estava atordoada por sua própria reação.

— Vou embora. — Disse finalmente sem fôlego quando


se virou para fugir.

— Oh, não vai a nenhuma parte, Ari. Perguntou-me


sobre castigos anteriormente. Bom, agora saberá do que se
trata.

Ari gritou quando ele a pegou em seus braços e a jogou


no ombro. O medo e uma estranha excitação se apoderaram
de seu corpo assim que Rafe bateu em seu traseiro.

— Deixe de resistir. Quanto mais lutar contra mim, mais


intenso será seu castigo. —Disse Rafe com uma grande
expectativa correndo pela sua voz. Quando parou para
agarrar algumas gravatas de seda, os olhos de Ari se abriram
como pratos. O que estava planejando fazer com ela?
O estômago de Ari se contraiu quando Rafe a deixou
sobre o frio chão de ladrilhos. Ela imediatamente tentou sair
de seu alcance, mas não conseguiria ir a nenhuma parte.

— Rafe, pare. Isto é uma loucura. Nós dois dissemos e


fizemos muitas coisas. Tudo está perdoado. Vamos fingir que
isto nunca aconteceu. — Suplicou enquanto ele girava a
manopla da ducha e um jato violento da água começou a
fluir.

— Muito tarde, Ari. Se equivocou algumas vezes.


Chamar-me por meu nome agora não vai te ajudar.

— Tudo bem. Que tal se te chamar de moleque estúpido,


ou menino mimado?

— Não está ajudando. — Disse, com um sorriso evidente


em sua voz. Estava se divertindo.

Ele a pegou nos braços novamente e embora ela lutasse


contra, não serviu de nada e sim apenas para ficar sem
forças. Em um movimento muito rápido, Rafe pegou suas
mãos e logo o suave tecido de sua gravata a converteu em sua
prisioneira e a impeliu contra a parede da ducha. Rafe a
tinha presa ao que parecia ser uma barra na coluna de sua
ducha.
A água caía em cascata sobre seu corpo ainda vestido
enquanto ele dava um passo atrás e tirava sua própria roupa.
Ari não pôde desviar seu olhar enquanto Rafe entrava na
grande superfície e sua crescente ereção roçava seu quadril.

— Não parou de lutar todo este tempo, mas seu corpo


não mente Ari. Isso é puro desejo ardente em seus olhos. O
endurecimento de seus mamilos significa que estão vindo até
mim para que os tome em minha boca. O calor úmido que
goteja de seu corpo significa que está se preparando para que
eu afunde meu corpo profundamente em seu interior. Está
pronta para isto, para mim. Deixe-se levar. —Sussurrou
enquanto seu grosso eixo balançava contra seu quadril.

Ela negou com a cabeça, negando-se a ceder. Não podia


dar-lhe todo o poder. Nunca voltaria a recuperá-lo se o
fizesse.

— É hora de aprender porque não é uma boa ideia me


desafiar. —Sussurrou junto ao seu ouvido antes de colocar o
lóbulo entre os dentes e mordê-lo suavemente.

Arrepios se acumularam em seu corpo enquanto a boca


de Rafe viajava por seu corpo. Até agora, Ari não viu
nenhuma desvantagem em desafiá-lo. Se sempre terminava
assim, talvez o desafiasse com mais frequência. Por outra
parte, saberia que as lamentações viriam mais tarde, assim
havia um lado negativo.

De repente, sua boca a deixou e ela ouviu um ruído


dilacerante quando ele começou a arrancar a camisa que
usava. Jogou o material encharcado na parte de trás da
ducha, e depois arrancou sua calcinha, deixando-a nua
diante dele.

Ari se moveu para frente, afastando-se rapidamente da


parede enquanto as mãos de Rafe alcançavam seus
tornozelos. Logo, seus pés foram separados e seguros, o que
deixou seu corpo eficazmente preso e aberto para ele.

— Acredita que a dor se pode infligir apenas de um só


modo, Ari?

— Sim. — Disse ela tremendo.

— Poderia estar enganada. Sabe? Aprendi a conseguir o


que quero sem golpear uma mulher. Aprendi a ter controle
sem ser, do que foi que me chamou? Um menino mimado?
Sei que poderia lhe machucar se quisesse. Obviamente sou
maior, mais forte. Existem muitas formas de tortura neste
mundo.

— O que vai fazer? — Perguntou enquanto ele dava


voltas a seu redor. Desejou que acabasse com tudo isto de
uma vez. Seu medo do desconhecido era sem dúvida, o pior
de tudo.

— Você gosta de como seu corpo sente enquanto o


orgasmo se acumula dentro dele? O que tem essa sensação
que experimenta enquanto cruza a linha da doce felicidade?
Isso te faz tremer, Ari? Pode sentir seu corpo cada vez mais
quente... úmido... mais tenso? — Perguntou enquanto
acariciava com a mão a curva de seu quadril e logo à frente
até deslizar dentro dela.

— Rafe... —Disse ela.


— O que, Ari?

— Por favor. Estava enganada. Quero dormir com você.


— Suplicou.

— Fará isso, Ari, mas não terá a oportunidade de gozar.

— O quê? — Ofegou ela enquanto os dedos dele se


moviam dentro e fora dela. Ari não podia entender o que
estava dizendo. Esforçou-se por apertar seus dedos mais
profundamente em seu interior, mas ele os retirou, deixando-
a ofegante.

Rafe pegou a mangueira da ducha e começou a passá-la


por todo seu corpo, fazendo com que a corrente a
massageasse e alimentasse seu desejo. Passou o jato por seus
mamilos eretos, fazendo com que a sensação fosse mais
intensa que se estivesse chupando-os.

— Oh, por favor. — Implorou ela enquanto ele passava o


forte jato por seu peito e sobre seu inchado núcleo. À medida
que a água acariciava sua zona mais sensível, Ari sentiu que
seu orgasmo crescia cada vez mais, chegando quase ao ponto
de sua liberação. Esforçou-se por guardar silêncio com a
intenção de que ele não soubesse quão perto estava.

— Acredita que isso vai funcionar, Ari? Posso ler seu


corpo. Posso sentir tudo através de seus músculos tensos. —
Sussurrou tirando o jato e movendo-o para suas costas.

Continuou massageando seu corpo com a água,


deixando que o fluxo corresse sobre cada zona sensível até o
ponto de fazer com que ficasse com vontade de chorar. A
agonia de não gozar era pior que qualquer outra coisa que
pudesse imaginar.

— Por favor, Rafe. Farei o que quiser! — Exclamou.


Precisava gozar.

Ele deixou o chuveirinho da ducha sobre eles enquanto


apertava seu corpo contra as costas dela, apoiando seu
grosso e palpitante eixo contra sua bunda. Quando apertou
seus quadris contra ela, Ari tentou se inclinar para frente
para fazer com que Rafe deslizasse seu membro dentro de seu
núcleo.

— Ainda não, Ari. Não se trata de seu prazer, mas sim


do meu. Disse que não queria isto. Continuou dizendo que
não. Pois bem, não sentirá o ponto alto de sua satisfação.
Quando disser que sim, a farei gritar de prazer. —Prometeu
enquanto a cabeça de sua ereção deslizava uns poucos
centímetros dentro dela.

— Eu já disse que sim! — Exclamou.

— Não sim agora Ari, sim para sempre.

— Não. — Gemeu. Não estava disposta a conceder tal


coisa, embora morresse de frustração.

— Sinto por você. — Disse ele enquanto se afundava


dentro dela. Oh, isso era justo o que ela queria. Sim! Sentia-
se tão bem, tão perfeitamente cheia. Poderia dançar com ele
assim durante horas. Deslizou-se dentro e fora de seu corpo
várias vezes e uma vez mais, levando-a para o limite do
esquecimento, mas antes que pudesse chegar ao topo,
retirou-se.
— Não. — Gritou ela. A decepção estava dando ares
neste jogo. Rafe ficou de frente a ela enquanto a água
continuava caindo sobre suas cabeças e soltou suas mãos.
Apoiou-as na parede, puxou-a para frente e inclinou a cabeça
de Ari em sua ereção.

Sem pensar muito, Ari fez o que ele estava mandando.


Silenciosamente o chupou, para saborear seu prazer. Ela
nunca antes desejou lamber um homem, nunca pensou que
pudesse desfrutar desse intenso sabor, mas à medida que
seu corpo ardia de necessidade não satisfeita, ela o devorou,
levando-o mais profundamente dentro de sua boca com cada
sacudida de sua cabeça.

— Sim Ari, assim, sim! — Gritou Rafe enquanto


entrelaçava os dedos em seu cabelo e a mantinha em seu
lugar ao mesmo tempo em que empurrava o quadril para
frente. Ela não podia tomá-lo completamente, mas sua
avareza a fez dar o melhor de si. Queria que tocasse o fundo
de sua garganta, queria sentir seu quente prazer deslizando-
se dentro dela, saber que o enviou ao limite.

Ari estava muito perto de seu próprio orgasmo. O ardor


dentro de seu corpo acelerou seus movimentos enquanto
percorria seu eixo acima e abaixo.

— Isso. Sim! — Gritou Rafe uma vez que ela sentiu


quando o líquido quente golpeava sua garganta. O membro
de Rafe pulsava em sua boca enquanto vertia seu doce néctar
sobre sua língua. Ela aspirou com avidez à cabeça de sua
ereção, não queria deixá-lo ir. Os gemidos de prazer ecoaram
através da ducha.

O corpo de Ari pulsava enquanto Rafe retirava seu


membro de sua boca e começava a soltar suas pernas. Enfim,
colocaria fim à sua tortura. Agora era sua vez. Estendeu a
mão para ele enquanto desfazia suas amarras.

— Por favor, Rafe, por favor. — Implorou enquanto ele


dava um passo atrás.

— Não, Ari. Este é seu castigo. Ficará ardendo toda a


noite. Não sentirá o prazer da liberação.

Quando Ari percebeu que ele falava sério, olhou-o nos


olhos enquanto sua própria mão se movia por seu corpo até o
ponto onde estava pulsando de desejo. Algumas carícias e ela
mesma aliviaria sua dor. De maneira nenhuma permitiria que
seu corpo permanecesse com essa dor por mais tempo.

— Ah, ah, ah. — Repreendeu Rafe enquanto agarrava


sua mão. — Eu não seria um bom monstro. Lembra-se? Se
permitisse que desse prazer a si mesma. — Zombou enquanto
a levava para fora do banheiro.

— Vamos ver o que podemos fazer a respeito. — Rafe


depositou seu corpo molhado e nu sobre a cama, logo
prendeu rapidamente suas mãos de novo e as amarrou à
cabeceira.

— Não pode fazer isto. Isto é um sequestro. — Gritou ela


enquanto que ele se movia pelo quarto.

— Disse que sim na ducha, Ari. — Lembrou ele.


— Mudei de opinião. Quero ir agora.

— É uma pena. Não volte a me desobedecer e não


voltará a passar por isso.

— Não terá que se preocupar com isso já que não


voltaremos a nos ver depois desta noite. — Apesar de Ari
saber que era inútil lutar contra suas amarras.

Rafe saiu do quarto e a respiração dela ficou ofegante.


Quando não retornou depois de vários minutos, começou a
entrar em pânico. Realmente tinha a intenção de deixá-la
assim durante o resto da noite?

Não sabia quanto tempo permaneceu ali, lutando contra


as restrições, com seu corpo em chamas, quando a porta se
abriu novamente. Olhou-o enquanto que ele entrava. Não
voltaria a lhe implorar mais esta noite.

Rafe não disse nada enquanto se aproximava dela e a


cobria com os lençóis, logo apagou a luz do abajur e saiu do
quarto de novo. Logo uma doce perda de consciência se
apoderou dela. Seu último pensamento foi a doce vingança
que prepararia contra Rafe.
Pouco depois de Ari adormecer, Rafe voltou a entrar em
seu quarto e encontrou-a dando voltas intranquilas na cama,
tentando encontrar conforto. Deixou-a ali apenas durante
uma hora, com intenção de castigá-la, com a necessidade de
repreendê-la por seu comportamento.

Saber que estava tão perto, que ela daria boas-vindas à


investida de seu duro membro contra seu calor, tornou-se
impossível manter-se afastado por mais tempo. Poderia
obviamente, uma vez mais ter seu próprio prazer sem dar
satisfação, mas não desfrutaria de seu orgasmo da mesma
maneira.

Tirou seu roupão enquanto se aproximava da cama e


puxava o lençol para baixo para poder admirar a suavidade
de seus belos seios cheios.

Deslizou seus dedos sobre seus mamilos, os quais se


endureceram imediatamente sob seu toque. Com apenas essa
leve carícia, seu membro se levantou completamente, pronto
para mergulhar profundamente em seu interior. Abriu a mesa
de cabeceira e colocou o preservativo antes de tirar por
completo o lençol de seu glorioso corpo nu.
Abrindo suas coxas, abaixou a cabeça entre suas pernas
e a despertou quando sua boca começou a rodear sua carne
quente.

— Oh, sim! — Gritou ela enquanto seu corpo despertava


imediatamente e procurava o orgasmo que ele reteve antes. —
Por favor, não pare. — Soluçou. — Por favor...

Ari lutou contra as amarras quando a língua de Rafe


formou redemoinhos ao redor de sua protuberância. Quando
ele a conduziu diretamente para o topo, retornou, fazendo-a
gritar de frustração.

Deslizou por seu corpo e segurou sua cabeça entre as


mãos enquanto seu quadril investia para frente e ele se
enterrava dentro de suas quentes dobras com um preciso
impulso.

Seu grito de prazer ecoou em sua boca enquanto uma


mão ia até seu quadril e se apoderava dela, segurando-a em
seu lugar para que ele pudesse mergulhar em seu corpo e
sair rapidamente dele.

Rafe sentiu as paredes de Ari convulsionando ao seu


redor quando alcançou seu orgasmo e seu grito de prazer
encheu o quarto. Com uma profunda estocada, Rafe se
enterrou tão profundamente em seu interior que parecia
como se nenhuma parte de seus respectivos corpos
estivessem desconectados um do outro.

O corpo de Ari se apoderou de seu membro, pulsando e


arrebatando cada fresta de prazer enquanto ele gritava. Por
um segundo breve, Rafe acariciou a ruborizada bochecha de
Ari e os olhos de ambos se encontraram. Os de Ari estavam
cheios de sono e satisfação, sendo como um ímã para o olhar
de Rafe. Ele começou a inclinar-se para frente para beijar
suavemente seus lábios quando parou.

Quando Ari fechou os olhos e voltou a dormir, Rafe


pulou fora da cama. Estava se apegando muito, convertendo
o sexo em algo que não era. Ele não acreditava em fazer
amor. Era sexo, apenas sexo.

Deu voltas durante vários minutos antes de tomar uma


decisão. Nunca permitia que suas amantes ficassem com ele.
Era uma regra sólida. E dado que não queria romper essa
regra com Ari, se obrigou a chamar seu motorista.

— Ari, é hora de ir embora.

À deriva entre a vigília e o sono, Ari se esforçou em abrir


os olhos. Rafe? Soava como ele.

— Ari, precisa acordar. O carro está aqui.

Ari finalmente conseguiu separar suas pálpebras.


Estirou seu corpo e percebeu quão dolorido estava. À medida
que seu nebuloso cérebro processava o que estava ocorrendo,
a lembrança dessa noite a alagou de novo com a força de um
tornado - o clube, a ducha, e logo a cama.

— Carro? — Perguntou ela sem entender ainda.

— Sim, já terminamos por esta noite, assim um carro a


levará para casa.

Ari finalmente registrou seu frio tom de voz, junto com


suas palavras. Rafe conseguiu o que queria, por isso já era
hora que fosse embora. Sentiu-se ferida instantaneamente,
mas logo suprimiu esse sentimento. Não tinha nenhum
direito de sentir-se assim, Rafe nunca mentiu sobre o que
esperava dela.

Desde o começo esteve claro que apenas queria sexo,


nada mais. Seu contrato declarava especificamente que suas
amantes não dormiam em sua casa. Estava tudo muito claro,
não tinha nenhum motivo para ficar surpresa.

Certo que ela não era sua empregada, mas isso não
mudava as regras na mente de Rafe. Ela pode ter sido
testemunha de alguns momentos muito breves nos últimos
meses nos quais Rafe atuou como um ser humano, mas a
questão era que isto era o que ele era. Jamais atuava, não
fingia querer outra coisa que não fosse sexo e controle.

— Dê-me uns minutos para que possa me vestir. —


Disse ela finalmente e se levantou agradecida de que ele
tivesse soltado suas amarras.

Nenhum dos dois disse uma só palavra enquanto ela


recuperava a roupa da noite anterior que estava jogada aos
pés da cama. Não se incomodou em se cobrir enquanto se
vestia. Que sentido teria? Ele já a viu nua, completamente
nua, conseguiu o que queria e já terminou com ela.

Tinha que sair dali antes que começasse a chorar.

— Ainda tenho seu contrato de trabalho disponível se


estiver disposta a trabalhar para mim. Inclusive subi o
salário a duzentos e cinquenta mil.

Ari não permitiu que seu corpo se esticasse, não se


permitiu mostrar nenhuma emoção ante suas palavras. A
raiva e a dor estavam dançando dentro dela, tentando
dominá-la, mas assegurou que seu rosto permanecesse
impassível enquanto calçava seu sapato.

Não disse nada mais enquanto dirigia-se à saída. Ouviu


o som de seus pés em movimento atrás dela, provavelmente
queria assegurar que fosse embora de verdade, que não
tentasse se esconder em alguma parte para logo o apunhalar
sigilosamente no coração.

Na realidade, era uma possibilidade muito real.

— Pense. — Foram suas palavras de despedida quando


ela saiu pela porta principal e se sentou no carro. A
humilhação de Ari impediu-a de olhar Mario nos olhos.
Quantas vezes teria levado as amantes de Rafe a suas
respectivas casas? A quantas delas teria dado sua última
viagem? Ari era apenas mais uma numa longa lista de
mulheres.

Não tinha razões para sentir a tristeza que se apoderou


dela, mas não podia escapar disso. A tortura de Rafe foi
eficaz. Se estivesse em uma relação com ele, não iria querer
desafiá-lo, não teria experimentado essa acumulação de
prazer por nada.

Quando Mario saiu com o carro, Ari lutou contra suas


lágrimas. Não iria chorar diante de nenhum empregado de
Rafe. Mario era obviamente um trabalhador leal e falaria que
ela desmoronou. Estaria em casa logo e poderia chorar até
não poder mais... embora não soubesse que bem isso faria.

Felizmente, Mario permaneceu em silêncio, mostrando


respeito o suficiente para não a olhar sequer pelo espelho
retrovisor. Ari gostava do motorista de Rafe e normalmente
teria tentado quebrar o silêncio, perguntar como foi seu dia,
mas nesta ocasião não podia falar. Sabia que se pronunciasse
uma só palavra, verteria um mar de lágrimas.

Manteve-se firme durante todo o caminho para casa sem


desabar e lutar contra a insistência de Mario em acompanhá-
la até a porta. Introduziu a chave na fechadura sem muito
problema e então caminhou tranquilamente para sua cama.
Apenas quando soube que era seguro, permitiu que seus
joelhos se dobrassem e seu coração se rompesse.

Em algum momento ao longo do caminho, desenvolveu


certos sentimentos por Rafe. Não queria dizer que estava
apaixonada por ele, mas sempre antecipava o momento em
que voltaria a vê-lo, esperava com ilusão suas trocas verbais
e o desejo que suscitavam suas carícias. Foi tão estúpida por
começar a apaixonar-se por um homem que deixou claro que
não estava disponível para nenhuma outra coisa que não
fosse o que ele queria.
Isso não era suficiente para ela. Perderia a cabeça se
continuasse vendo-o. Se permitiria chorar durante aquela
manhã pensando em Raffaello Palazzo e o evitaria de agora
em diante, não importava quanto custasse. Se o visse,
terminaria tendo sexo com ele. Se o fizesse novamente,
jamais se recuperaria.

O sono finalmente a afastou de sua miséria e quando Ari


despertou já era tarde, adotou a firme resolução de ouvir a si
mesma e não voltar a cair no retorcido mundo de Rafe. Não
importava as artimanhas que o homem empregasse para
persegui-la, não sucumbiria nem a ele, nem a seus próprios
desejos. Teria que ir avançando passo a passo para sua
missão.
Rafe desligou. Ari desligou seu telefone. Deu a ela uma
semana para esfriar a cabeça antes de começar a ligar
novamente. Ela ignorou suas ligações, mensagens e correios
eletrônicos.

Já era suficiente. Já estava cansado de dar tempo. Ari


podia fazer isto por bem ou por mal, mas a conclusão era que
seria dele. Rafe decidiu não dar mais tempo.

— Cancele minhas reuniões. — Pediu Rafe a sua


atordoada assistente, e logo caminhou junto a ela e
diretamente através do escritório para os elevadores.

Deveria se encontrar com um congressista em uma


hora, mas não se importava. Não havia nada mais importante
em sua agenda que colocar sua vida em ordem. Tinha algum
problema? É obvio que não. Por alguma estranha razão,
Arianna Harlow fez seu caminho sob sua pele, mas era algo
temporário, nada mais. Não havia nenhum sentimento para
mulheres em seu coração, disse para si mesmo. Tratava-se de
sexo e apenas sexo. Que outra coisa poderia ser?

Desejava-a o tempo todo, dia e noite, mas o que mais o


enfurecia era que sentia falta de suas interações diárias. O
tempo que passou com ela no hospital foi...
surpreendentemente agradável. Ele cuidou dela com muito
interesse enquanto ouvia o som de sua risada, via seu
vitorioso sorriso quando ganhava uma partida de pôquer ou
sendo testemunha da forma como ela sempre tinha uma
palavra amável para o pessoal que a estava tratando.

Ari oferecia muito mais do que viu em qualquer outra


mulher com que esteve em uma relação de prazer. Empurrou
de lado esse sentimento. Desejava-a, isso era tudo o que
precisavam para que este arranjo entre eles funcionasse.

Rafe chamou seu motorista enquanto caminhava para o


elevador, e logo olhou o relógio. Parecia que teria que
encontrar com Ari em seu trabalho. Riu apenas de pensar
nisso. Ela não iria brigar com ele, porque não gostava de
fazer nenhuma cena em público.

A viagem não foi muito longa e logo estava frente às


portas do edifício. Rafe não duvidou enquanto entrava.

— Senhor Palazzo, fico feliz em vê-lo. — Disse o guarda


enquanto pulava de sua mesa.

— Obrigado, Dean. Não anuncie minha chegada. Trata-


se de uma visita pessoal.

— Sim, senhor. —Respondeu o homem com o cenho


franzido em confusão. Rafe não era conhecido simplesmente
por passear pelas empresas de sua propriedade. Não gostava
que o fizessem esperar, assim era muito mais inteligente de
sua parte deixar o pessoal administrativo saber quais eram
seus planos para que os trabalhadores pudessem antecipar
sua chegada e estar ali para dar boas-vindas.
Dirigiu-se para o elevador e apertou o botão do andar de
Ari. Começou a ficar nervoso quando o elevador subiu.
Quando as portas se abriram, saiu e olhou ao seu redor,
notando como seu pessoal trabalhava duramente. O gerente
parecia estar levando o leme de um grande navio e Rafe
estava muito contente com isso.

Virou o corredor, viu Ari em sua mesa, e seu estômago


se contraiu imediatamente. Passou um pouco mais de uma
semana desde seu último encontro. Não estava muito
entusiasmado pelo fato de ter sentido sua ausência. Estava
acostumado a estar semanas, inclusive meses, sem ver
alguma de suas amantes quando viajava. Nunca se
incomodou. Mas agora...

Devia ser por que sua relação não era oficial, era como
se estivesse suspenso no ar. Não gostava da espera, a
incerteza.

— Ari. — Não disse nada mais enquanto ela ficava rígida


e lentamente levantava a cabeça. Podia ver que preferiria
estar em qualquer outro lugar nesse momento do que pega
em uma conversa com ele com seus colegas de trabalho por
perto para ouvir.

— Senhor Palazzo, o que está fazendo aqui? —


Perguntou ela com os dentes apertados.

— Temos um assunto pendente. Como se nega a


responder minhas ligações, não me deixou outra opção a não
ser vir te buscar.
— Não há nenhum assunto pendente. Já dissemos tudo
o que tínhamos que dizer. Agora estou no trabalho, assim vou
pedir que vá embora. Isto é muito pouco profissional. —
Repreendeu.

Maldição, Rafe realmente gostava de seu fogo, adorava o


fato de que não tivesse medo. Isso não queria dizer que ele
não fosse se cansar dela, apenas que precisaria muito mais
tempo para se aborrecer com essa relação.

Ele a pegou pelo braço e a tirou da cadeira, sem dizer


nada enquanto a conduzia a uma sala de conferências vazia.
Não tinha nenhuma dúvida de que a única razão pela qual
ela não tentaria lutar com ele, era pela vergonha de armar
uma cena em público. Mas a única coisa que importava era
que seu plano estava funcionando.

Assim que a porta foi fechada, Ari se virou para ele com
fogo em seus olhos.

— Sério, quem porra acredita que é? Aqui é onde


trabalho. Se acredita que irei de boa vontade com você
independente se vão me despedir ou não, está muito
enganado.

— Tenho uma viagem programada para amanhã e quero


que venha comigo, assim não tenho tempo para esperar que
entenda as coisas. Vim acelerar a situação.

— Então não o prenderei aqui com o que tenho para


falar a você. Acabou. Chega de jogos, chega de noites de
bebedeira, de sexo. Nada. Entendeu?

— Ainda se nega?
— Isso é o que acabo de dizer!

— Então não me deixa outra opção. — Rafe se afastou.


Deixaria que pensasse o que quisesse. Amanhã seria dele.

Ari viu Rafe sair. Ficou onde estava como um animal


enjaulado. Tratava-se de um truque? Retornaria em qualquer
momento e pularia sobre ela? Ari não sabia o que pensar
nesse momento. Esperou vários minutos dentro da sala de
conferências e seu corpo se esticou quando viu que a
maçaneta da porta começava a girar.

Rafe estava de volta?

— Ari, que porra foi tudo isso? Aquele homem lindo


passou ao lado da minha mesa soltando fumaça pelas
orelhas.

— Honestamente, não tenho nem ideia, Amber. — Disse


Ari, ainda sacudida, mas aliviada de que não fosse Rafe quem
acabava de entrar pela porta. — Quer que tenhamos uma
relação, mas já disse várias vezes que isso não vai acontecer.
Basicamente me disse que esta era minha última
oportunidade e quando voltei a negar, foi embora. Não é
próprio dele. Tenho um pouco de medo de qual seja seu
próximo movimento.
— Sei que não o conheço, mas está muito bem, tem um
corpo e uma bunda dignos de babar. Por que não quer sair
com ele?

— É complicado e só quero voltar para o trabalho.


Prometo que contarei isso tudo quando não estiver tão
cansada. — Disse Ari, com a esperança de apaziguar sua
amiga.

— Respeitarei sua privacidade, mas espero que saiba


que está me tirando anos de vida. Morro por saber por que
tanto mistério.

Quando Ari não disse nada mais, Amber a deixou,


sozinha. Ari saiu da sala e foi direto ao banheiro para
refrescar o rosto com água fria e arrumar a maquiagem.
Estava em meio de sua jornada de trabalho e não tinha
tempo para desmoronar.

Se Rafe tinha outros planos, não havia absolutamente


nada que pudesse fazer a respeito, por isso se preocupar não
serviria de nada. Esteve fora de seu escritório durante quinze
minutos e era o momento de voltar para o trabalho.

Quando nada aconteceu ao final do dia, decidiu que


talvez Rafe tenha se dado por vencido. O que Ari não entendia
era a pequena decepção que sentia. Com todo o estresse que
passou nos últimos meses, não a surpreenderia estar tendo
um ataque de ansiedade.

Sua mãe sairia do hospital a qualquer momento e Ari


ainda não teve coragem de contar sobre a casa e seu negócio.
A perseguição de Rafe foi um selvagem passeio atrás do
outro. Não tinha trabalho e posteriormente lhe deram um
grande posto.

— Apenas tem que colocar um pé diante do outro e


lembrar que manhã é um novo dia. — Isso era o que Ari dizia
a si mesma, ao menos, duas vezes ao dia. Hoje repetiu isso
umas vinte vezes. Estar com Rafe era como encontrar a si
mesma dentro de um tornado em rápido movimento. Ari não
estava segura de que sequer algum dia voltaria a entender
como era uma vida tranquila e normal.
— Posso vê-la em meu escritório?

— Sim. Permita que mande essa mensagem e estarei aí


em um minuto. — Disse Ari enquanto apertava o alto-falante
do intercomunicador e respondia ao seu chefe. Com uns
poucos toques mais do teclado, acabou seu trabalho e enviou
o documento.

Levantando-se de seu assento, esticou os braços e


sorriu. Embora seu trabalho fosse aborrecido, a fazia querer
voltar correndo à universidade para acabar de estudar,
gostava de onde trabalhava.

Tinha incríveis benefícios, trabalhava com gente boa e


ganhava dinheiro suficiente para cuidar de sua mãe e ainda
assim economizar um pouco. Pensou que inclusive poderia
ser capaz de voltar para a escola esse ano. Tinha grandes
vantagens.

Caminhou pelo longo corredor e bateu na porta aberta


de seu chefe.

— Entre Ari. Em quanto tempo pode estar em casa e


preparar uma mala?

— Desculpe? — Quando aceitou o trabalho,


comunicaram que podia fazer alguma viagem, mas esperava
que o fizessem saber com mais antecipação do que um
simples preparar uma mala. Não se importava ter que ir a
algum lugar — justamente o contrário, de fato. Pensou que
seria bom sair da cidade, ir a qualquer lugar que não fosse a
área da Baía. Logo teria que enfrentar o momento de ir
buscar sua mãe no hospital e dizer à pobre mulher o quanto
que sua amada filha arruinou tudo e logo, com sorte, poder
recolher os pedaços do coração partido de sua mãe.

— O diretor geral quer que o acompanhe para uma


viagem de negócios em Nova Iorque. O avião sai em duas
horas. Um carro está te esperando na entrada para levá-la
em casa e depois ao aeroporto. Terá tempo suficiente?

— Sim, é obvio, mas não entendo. — Disse ela. —


Quanto tempo estarei ausente? Por que o diretor geral me
solicitou? Não acredito que esteja qualificada para... —Sua
voz sumiu quando viu o sorriso no rosto de seu chefe.

— Não fique tão assustada, Ari. Isto é algo bom.


Significa que faz um trabalho excelente e que os diretores da
empresa perceberam isso. Isto pode chegar a ser uma grande
promoção para você. Não quero perdê-la, mas jamais a
impediria. Se o avanço estiver no horizonte, então tem que
estender a mão e agarrá-lo. — Disse com sinceridade. — Os
diretores não me comunicaram quanto tempo estará fora,
mas imagino que será uma viagem rápida. Normalmente,
avisam com mais antecedência que duas horas se tratando
de uma viagem de alguns dias.
— Então acredito que poderei ir, mas não sei o que
dizer. — Respondeu ela, hesitante, sem poder sair de sua
confusão. Não estava segura de querer evoluir na empresa. O
que acontecia no trabalho terminava sendo maravilhoso e
então se decidisse não voltar mais para a escola? Não queria
conformar-se com um trabalho só porque pagavam bem.
Queria terminar sua faculdade e fazer o que sempre quis
fazer.

— Apenas expresse seu mais sincero agradecimento e


corra logo para casa. — Respondeu o homem com um sorriso.

— Obrigada, senhor Avery. Agradeço sua confiança em


mim. — Respondeu ela automaticamente.

Ele se despediu com a mão e ela se virou e retornou à


sua mesa, onde pegou seu casaco e sua bolsa e logo dirigiu-
se ao elevador. Não passou muito tempo quando alcançou o
vestíbulo e logo deu um passo fora de seu lugar de trabalho.

Um bonito Bentley estava estacionado junto à calçada e


um motorista estava de pé esperando na porta.
Imediatamente, abriu-a para ela assim que a viu e Ari entrou
sem dizer uma palavra. Esperava que fosse o veículo da
empresa e não um sequestrador - não que ela fosse digna de
ser sequestrada. Não tinha uma família rica que pudesse
pagar um resgate. Certamente não tinha nenhum tipo de
influência com os ricos e famosos. Era simplesmente Ari.

— Boa tarde, senhora. Tenho seu endereço aqui. Precisa


fazer alguma parada antes de chegar a seu apartamento?

— Não, mas obrigada.


A conversa cessou durante a viagem para casa. Era
agradável não ter que suportar o tráfego da cidade, nem ter
que pegar o transporte público. Ari poderia se acostumar
realmente a ter um motorista que a levasse aonde quisesse.

Chegaram a seu apartamento em uns quinze minutos e


ela correu escada acima para pegar algumas coisas. Não
tinham explicado nada sobre a viagem então não sabia o que
levar. Não tinha nenhum vestido de jantar elegante, por isso
estava fora de questão. Esperava não ter que assistir a nada
muito formal. Mas no caso de que fosse assim, teria que
comprar algo.

Não queria abrir mão de suas economias, mas estaria


em Nova Iorque e quase seria uma vergonha não fazer
algumas compras. Seu otimismo cresceu quando permitiu
um momento para pensar nisso.

Essa poderia ser uma grande viagem. Provavelmente


assistiria reuniões durante todo o dia, tomando notas e as
passando depois ao computador. Certamente era muito boa
nisso. E seguramente, as noites seriam livres para fazer o que
quisesse. Se ficasse vários dias ali, talvez inclusive assistisse
algum espetáculo na Broadway. A melhor parte de tudo é que
estaria do outro lado do país - longe de Rafe. Ainda não
entendia sua visita surpresa na empresa.

Ari se assegurou de ter pego tudo e algumas peças de


roupa. Comprovou que suas janelas estavam fechadas
corretamente. Sua tarefa seguinte seria ligar para o hospital.
Seus temores se acalmaram quando o médico a assegurou de
que não dariam alta à sua mãe até na terça-feira. Teria tempo
de sobra para estar de volta. Por sorte, não tinha nenhum
animal de estimação para se preocupar, por isso voltou ao
carro em uns vinte minutos.

— Isso foi muito mais rápido do que estou acostumado.


— Disse o motorista com um sorriso enquanto voltava a abrir
a porta.

— Eu não gosto de desperdiçar tempo. Não tinha muitas


coisas que guardar. — Disse enquanto entregava sua mala e
logo voltava a entrar na parte de trás do carro. O homem
guardou sua bagagem no porta-malas e voltou para seu
assento, arrancando com o veículo.

Ari queria encher o incômodo silêncio de algum jeito,


mas não sabia o que falar, então apenas permaneceu sentada
e desfrutou do passeio. Era um dia bonito e ensolarado,
perfeito para ver a vista das janelas quando o jato saísse.

Quando o motorista se esquivou da saída do aeroporto


principal, Ari se preocupou. Muitos pensamentos sombrios
começaram a atravessar em sua mente, quando o motorista
desviou por um atalho e se aproximou de uma pista de
decolagem privada.

— Por que estamos aqui?

— Aqui é onde guardam os jatos corporativos. Eles


usam uma pista separada.

— Oh, isso faz sentido.


— Por aqui, por favor. —Disse ele enquanto a ajudava a
sair do carro e logo a conduzia ao edifício, diretamente
através da porta traseira.

Ari ficou sem fôlego ante o tamanho do jato à sua frente.


Era do tamanho de um avião comercial. Deveria ser um
engano. Os jatos privativos costumavam ser pequenos e
elegantes.

— Tem alguma coisa errada? — Perguntou o motorista

— Viajarei nisto?

— Sim, é um pouco grande. Sempre quis voar nele.


Trata-se de um 747, comprado direto na fábrica e convertido
em um bonito jato privado. Conta com um amplo dormitório
principal, outros dois dormitórios, uma sala de conferências,
uma sala de estar, uma cozinha e dois banheiros. Se for
viajar, esta é a maneira de fazer isso.

— Uau. Não tinha nem ideia de que a companhia para a


qual trabalho tinha este tipo de riqueza. Os escritórios estão
muito bem, mas não são tão bonitos. — Disse ela com um
assobio enquanto começava a avançar de novo para frente.

Ari perdeu o olhar de incredulidade que o motorista lhe


deu. Se tivesse escutado o homem durante alguns segundos
mais, nunca teria entrado no jato para depois mergulhar na
decisão mais difícil de toda sua vida.
Rafe ficou onde estava como uma pantera pronta para
saltar. O que mais o surpreendia era o nervosismo que
atravessava seu corpo. Não sucumbiria a tal fraqueza - era
Rafe Palazzo e nada podia afetá-lo.

Recostou-se em sua confortável poltrona e observou a


sombra de Ari que dizia que estava subindo as escadas do
jato.

Rafe esperou.

Tomando um gole de Bourbon, inclinou-se mais para


trás em seu assento, colocando casualmente um pé na parte
de cima do joelho oposto. Era a imagem da fresca confiança,
embora o fogo ardente em seus olhos sem dúvida sufocaria os
rumores de que era um homem de gelo.

Finalmente, Ari entrou. Os olhos de Rafe não


abandonaram seu rosto enquanto a garota olhava ao seu
redor com certa consternação, ao parecer intimidada por todo
o luxo. Não era de estranhar que Ari, depois de ter crescido
em um bairro de classe média-baixa, pudesse ter dificuldades
para adaptar-se ao seu mundo. Ele nem sequer piscava
quando perdia milhões de dólares no mercado de valores,
mas isso não era nada para ele, não quando tinha milhares
de milhões mais para assegurar seu futuro. Obviamente,
ambos não reagiam igualmente quando se tratava de
dinheiro.

Os olhos de Ari se acostumaram à luz e foi então


quando se virou, que o viu ali sentado. O primeiro impulso de
Rafe foi se levantar e arrastá-la para a parte de trás do avião,
até a suíte de luxo, onde poderia devorá-la. Entretanto, não
permitiu que nenhum de seus músculos se contraísse
nervosamente.

Isto era um jogo e sua vitória final viria quando ela se


rendesse totalmente a ele. Rafe a deixaria falar primeiro, se é
que diria algo. Pelo olhar aterrorizado em seus olhos, era
óbvio que não esperava vê-lo. Pensou honestamente que se
daria por vencido tão facilmente? Estava a ponto de
descobrir.

Ari ficou congelada onde estava enquanto olhava nos


olhos gelados e de cor púrpura de Rafe. Como não foi capaz
de unir as peças do quebra-cabeça? É obvio que não teve
tanta sorte para conseguir esse grande trabalho por sua
conta. No momento em que recebeu aquela ligação, deveria
ter investigado a empresa, se inteirar de tudo o que precisava
saber.
Não faria nenhum bem se reprovar agora. Sentia como
se fosse atropelada por uma manada de elefantes. Estava
colada contra o chão e os mamíferos passavam sobre ela,
enquanto a dor irradiava em cada centímetro de seu corpo.

— É o dono da Sunstream Eletrônica. — Ari não estava


perguntando, estava simplesmente fazendo uma declaração.
Negava se fazer de vítima ou fazer perguntas sem sentido.

— Obviamente. — Ele não faria com que nada disto


fosse fácil para ela. Mas para falar a verdade, quando deixou
que as coisas fossem fáceis? Sim, teve alguns momentos.
Alguns breves brilhos no tempo quando se comportou como
um ser humano, mas esses momentos foram sumindo
rapidamente à luz de sua atitude manipuladora, que era a
que sempre tinha desde que Ari o conheceu.

Para ser honesto, Rafe disse que sempre jogava para


ganhar. Deixou seus termos muito claros que para ele, ela
não era mais que um brinquedo, um troféu a mais para sua
estante. Ari pensava que já jogaram todos os jogos possíveis e
que ela sempre perdeu todas as batalhas, mas ao que parece,
ainda faltava um último jogo para jogar.

Parecia que estava a ponto de perder seu trabalho.

Rafe estava jogando sua última mão neste momento e a


única coisa que ela se perguntava era que dano causaria e
quais seriam suas repercussões. Se Rafe havia se sentido
suficientemente confiante para revelar que era seu verdadeiro
chefe, então aconteceu uma das duas coisas: Ou estava
aborrecido e preparado para não voltar a vê-la ou tinha uma
oferta muito boa para que ela rejeitasse. Se fosse esta última,
Rafe a subestimou. Uma das coisas que Ari aprendeu nos
últimos meses, era que era mais do que capaz de sobreviver
por sua conta.

Mas nem sempre era fácil e sabia que encontraria


muitos obstáculos ao longo do caminho, mas sua confiança
aumentou. Foi capaz de cuidar dela e de sua mãe. Poderia
estar trabalhando para Rafe todo este tempo, mas era uma
enorme vitória não ter aceito ser a mulher cujo único objetivo
era satisfazer seus mais perversos desejos.

Com uma onda de confiança, Ari jogou os ombros para


trás e deu um passo a mais no avião, caminhando para ele e
olhando impassivelmente de novo em seus ardentes olhos.

— Senhor Palazzo, a saída já foi limpa. Quer que


fechemos as portas? — Antes que Rafe pudesse responder
para sua assistente, Ari falou sem desviar os olhos de Rafe,
assegurando-se de que soubesse que não tinha medo.

— Não. Descerei do avião em apenas um momento.

Ela quase cambaleou para trás, para longe das chamas


saltando dos profundos olhos de Rafe. Se um olhar matasse,
agora mesmo não seria mais que cinzas. Mas em lugar de
revelar seu leve momento de debilidade, decidiu apertar um
pouco mais e sorriu.

— Mantenha as portas abertas por um momento e nos


deixe a sós. — Ordenou Rafe. A assistente quase saiu
correndo.
— Parece que por fim chegamos onde eu soube todo o
tempo que chegaríamos. Apenas se empenhou em prolongar
algo que poderia ter se resolvido no dia do restaurante.

— Disse então que não seria sua puta, senhor Palazzo.


Isso continua o mesmo. Enganou-me para que igualmente
fosse sua empregada, mas isso não significa que me possui.
Encontrarei outro trabalho.

Rafe a olhou com um ar de cumplicidade em seu rosto.


O estômago de Ari se agitou enquanto esperava ser golpeada
com o que fosse que ele tivesse a dizer. Nada poderia fazê-la
mudar de opinião...

Quanto mais esperava, mais crescia sua agitação, o que


obviamente podia ser lido em seus olhos, enquanto o rosto de
Rafe apenas refletia a confiança da vitória.

—Sua mãe terá alta na terça-feira, Ari. E por


casualidade, sou agora o dono da casa em que cresceu. É sua
decisão dizer à sua mãe que vendeu tudo o que tinham e que
agora não tem nenhum lugar para onde ir ou permitir que a
mulher possa terminar de se curar na comodidade de sua
casa. Também possuo agora sua loja de flores. Vai devolver-
lhe sua vida, ou vai continuar sendo tão egoísta como foi
quando se desfez de tudo o que possuía a mulher que a
criou?

Ari ficou congelada. A única coisa que a estava comendo


viva, era cada vez que sua mãe falava do momento de
retornar à casa e ao trabalho. Isso era o que Rafe tinha
contra ela. Ari subestimou seu desejo de ganhar.
A ira a alagou enquanto continuava olhando os olhos
ardentes de Rafe. Nem sequer era humano. Como se atrevia a
colocá-la nessa posição?! Como podia viver consigo mesmo?
Sua mãe morreria quando descobrisse que não sobrou nada
do que tinham. Isso depois de sobreviver a um acidente de
carro que por pouco não lhe tirou a vida, e de ter que vencer
todos os obstáculos e sobreviver ao câncer que tentou acabar
com ela.

— Parece que tem que tomar uma decisão, Ari. Escolha


o amor ou isso que chama de respeito por si mesma.

— É um filho de puta, Rafe. Acaso se importa com


alguém que não você mesmo?

— Oh, espero que você escolha o amor, porque amarei


romper seu espírito e não tenha nenhuma dúvida, Ari.
Romperei.

O estômago revirou quando Ari percebeu que estava


olhando nos olhos de um estranho. Este não era o mesmo
homem que a resgatou, que riu com ela e que adorava sua
família. Era um monstro, um que não se conformaria até que
tivesse tudo dela - seu orgulho, sua autoestima, sua alma.

— Se escolher a autocompaixão, é livre para ir, sem


ninguém por quem se preocupar além de si mesma. Pode
sentir pena de si à respeito da situação em que está e tentar
unir de novo os pedaços quebrados de sua vida ou pode optar
pelo amor - o amor por uma mãe que te criou. Eu não quero,
nem preciso de seu amor, assim não faça ideia de que isto
alguma vez será algo que não é. Será minha amante e nada
mais. Já provei o amor uma vez e todos meus esforços foram
em vão. Tome sua decisão o mais rápido possível, porque
tenho um longo voo daqui para frente e trabalho a fazer.

— Preciso de tempo...

— Seu tempo acabou. Pode sair por onde veio. Ou pode


se dirigir ao meu quarto e se despir. Seu treinamento
começará imediatamente.

Ari conteve as lágrimas de raiva enquanto se afastava


dele. Estava enfrentando uma decisão impossível de tomar.
Não podia submeter sua vida a ele, mas não podia deixar que
sua mãe morresse de tristeza.

Talvez Rafe estivesse blefando. Poderia sair pela porta e


descobrir. Retrocedeu um passo enquanto continuava
procurando algo em seus olhos. Rafe não demonstrava
absolutamente nenhuma emoção enquanto ela lutava para
tomar a decisão mais difícil de toda sua vida. Realmente não
parecia se preocupar com o que fosse decidir.

Com uma firme resolução, Ari virou as costas e deu um


passo para a porta aberta do avião...

Continua ...
Tenho que admitir que tive um grande momento

escrevendo este livro. Eu adoro personagens de caráter

que tomam conta de tudo. Esta personalidade é

frequentemente encontrada em todos os meus livros, mas

fiz com que o caráter de Rafe desse um passo à frente.

Esta história me surpreendeu, entretanto, devido ao

forte elemento familiar que incluí nela, algo que não

estava planejado. Originalmente, não havia quase cenas

familiares. Mas não pude resistir. Em minha vida real, a

família vem em primeiro lugar e isso é muito evidente

em meus livros. Parece que não posso deixar a família de

lado.

Minha vida mudou muito nos últimos dois anos e

me sinto incrivelmente agradecida de ter conseguido

tudo o que tenho. Quando escrevi meu primeiro livro,

apenas esperava que algumas pessoas ficariam

interessadas. Nunca esperei a resposta que obtive e o

amor de tantos leitores pelos Andersons, a família


protagonista de minha série, Os Multimilionários.

Deixou-me mais humilde. Falo frequentemente e nunca

vou me cansar de repetir: tenho os melhores fãs do

mundo. A muitos deles considero amigos. Fazem-me

sorrir, rir e chorar lágrimas de alegria. Adoro falar com

vocês. Adoro todas as coisas maravilhosas que

compartilham comigo.

Um agradecimento especial vai para Denise Bush e

Jane Bowen, que faz os mais incríveis anúncios para

meu mural do Facebook e por muito mais. Obrigada pela

qualidade de seu trabalho e o tempo que dedica. Graças a

minha equipe de ruas, as Musas de Melody. Cada uma

de vocês me inspira muitíssimo. Obrigada por

compartilhar meus livros, por me animar em tudo o que

faço e por ser um sistema de apoio tão magnífico. Há

muitos nomes que deveriam estar aqui e não quero ferir

os sentimentos de ninguém, mas há algumas pessoas no

bonito Reino Unido, às que sempre levarei em meu

coração. Não posso sempre comentar tudo o que vejo no

Facebook, mas Leo, eu adoro todos seus comentários de

apoio. Um de meus fãs ainda me deve uma foto de um

policial sexy. São incríveis!

Este livro conta com um personagem muito especial

a quem os fãs me ajudaram a criar. Seria um


personagem comum no primeiro projeto, até que fui dar

com um concurso na página Web da equipe de ruas da

autora Ruth Cardello. Quero agradecer a Jane Bowen,

Julie Brewer, Ginny LaMere e Natalie Townson por suas

sugestões. Vocês criaram Shane Grayson, a quem

conheceremos neste livro e chegaremos a conhecer muito

melhor no seguinte.

Obrigada, Nikki - não poderia fazer este trabalho

sem você. Sempre está aí para me ajudar com meus

"ataques de pânico," quando os livros não vão bem.

Dirige-me para a direção correta quando realmente

deixo (o que é frequentemente) e cria as mais

impressionantes capas de livros do mercado. Adoro seu

trabalho! Odeio você um pouco quando tenho que revisar

a metade do livro, mas logo te amo de novo quando o

livro fica muito melhor graças a isso. Obrigada por

continuar sendo minha melhor amiga. Sem você e sem

Stephy em minha vida, eu sozinha seria um terço de

pessoa.

Como sempre, obrigada a minha família por não se

incomodar muito quando me fecho em meu escritório a

tarde até altas horas da madrugada, por entender meu

desejo de escrever estes livros e por estar ao meu lado em

cada passado do caminho. A família sempre vem


primeiro lugar. Sempre! Eu não podia fazer nada disto

sem minha preciosa filha, meu incrível filho, e meu

marido. Tenho muitos outros membros da família que

me ajudam de muitas outras maneiras, mas poderia

escrever um livro inteiro apenas com isso. Obrigada a

todos os que me rodeiam e dão luz a minha vida.

Uma nota final para alguns outros autores. Tenho

lido livros desde que estava no jardim de infância (não

vamos dizer o tempo que passou após) e sinto um amor e

um respeito sem limites pelos autores que me têm aberto

os olhos a tantas aventuras. Devido à viagem literária

que tomei, conheci a várias mulheres incríveis e a alguns

homens, que me inspiraram, me ajudaram a me esforçar

mais cada dia. Ruth Cardello me tomou sob suas asas

mágicas e me fez sentir como se realmente pudesse tocar

o céu. Kathleen Brooks está cheia de energia, me faz rir

muitíssimo e chega a meu coração com sua humanidade.

Terri Enjoe e Randy Mixter estiveram ali no começo de

minha viagem e eu adoro os ver alcançarem um êxito

tão grande.

Também pude visitar algumas de minhas heroínas:

Sandra Marton, que conta com mais de 80 livros

publicados, é tão amável e serviçal, como é Lynn Raie

Harris, cujo talento é uma força incomparável. Cada


uma de vocês me ajudaram, me inspiram e têm me feito

querer ser melhor. Obrigada. São muitos mais, mas não

tenho espaço para todos os nomes, embora espere chegar

a ser como Sandra algum dia, com perto de uma centena

de livros no mercado. Então sim, terei lugar para

agradecer a todos vocês.

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